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2012 – Raphaela Paola Potter
Raphaela Paola Potter
Jornalista formada pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul no ano de 2011. É repórter na TV Morena, onde entrou como estagiária e foi efetivada. Trabalhou na afiliada em Corumbá, voltou para Campo Grande como repórter esportiva, onde ficou 8 meses e no final de 2014, retorna para a Cidade Branca.
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Como que foi aquela época dos quatro anos
Foto: Arquivo Pessoal “ da faculdade? Eu lembro que no primeiro dia de aula não tivemos aula. Foi mais ou menos uma semana sem aula porque não tinha sala, não tinha um dia certinho que podíamos usar tal sala porque dependíamos muito do curso de Letras. A primeira aula foi no chamado Aquário, que eu acho que é a redação para vocês. Lá não era aquilo cheio de computador, era uma sala que chamava de aquário porque chovia e alagava e porque tinha paredes de vidro. Esse primeiro ano foi legal, eu achei um ano muito importante para parte teórica. Tínhamos Teoria de Comunicação de Massa, que são disciplinas que ainda estão na grade. Comunicação Comparada com a Márcia, tinha Antropologia, Sociologia, Psicologia da Comunicação, Filosofia. Então eram matérias densas, muito livro, muita teoria. Não fomos direto para prática para entender o que era o Jornalismo de rua no primeiro ano. No segundo ano, já tivemos uma vivência maior, já teve umas aulas de Redação com o Gerson, uma matéria que era com o Licerre, uma espécie de Planejamento Gráfico. Nos perguntávamos “para quê essa aula, meu Deus”? Então começamos a entender um pouquinho melhor de escrever texto, de estrutura. No terceiro ano, teve prática mesmo, porque daí separou de vez, separou a turma só da tarde e a turma só da noite. O que mais me marcou nesse ano foi Rádio e Telejornalismo. Foram as coisas que eu mais gostei. Também o Projétil me marcou por causa do Ramires, que infelizmente não está mais conosco, foi um professor que me marcou muito. Trabalhávamos bastante para conseguir
fechar o Projétil, era como uma redação mesmo, como se estivéssemos ganhando para fazer aquilo. O terceiro ano foi o ano da prática mesmo, quando descobrimos o que era o Jornalismo. Então cada um se identificava com alguma coisa, muita gente já trabalhava na época. E no quarto ano, a gente entrou com clima de TCC. Já entramos pensando, fazendo dupla, trio ou sozinha. Escolhendo o que ia fazer, escolhendo orientador. Era uma disputa por orientador. Eu fiz com a Cláudia Camargo uma dupla. Queríamos muito o Cancio e no fim, conseguimos. A partir do terceiro e quarto ano, a estrutura do curso começou a mudar. Antigamente, não tínhamos sala, aquela coisa de sempre ter aula no mesmo lugar. O aquário virou redação, até fechamos alguns jornais do Projétil lá. Eram computadores novos. Eu peguei uma redação onde é o Núcleo. Ali que tinha aula de Planejamento Gráfico com o Licerre, naqueles computadores de tubo branco. Nesse período, eu peguei a fase de transição. De um curso antigo, que não tinha redação, os computadores eram todos velhos e funcionavam três, que não tinha sala. Depois já começou a mudar, chegar investimento. Só que não aproveitamos muito, porque já tinha feito três anos desse jeito. Então foram quatro anos que aproveitamos o máximo até as mudanças que tiveram. Eu não sei desde quando estava o curso como quando eu entrei, acredito que muito tempo.
E dos professores, quem você lembra?
Ah! lembro da Márcia Gomes, do Cancio, do Ramires, que são os que mais me marcaram e que eu gosto muito. Mas eu também lembro da Greicy que está aí até hoje. Tínhamos aula com o professor Éser Cáceres que saiu, acho que hoje em dia ele trabalha no Midiamax. Tive aula com o professor Orlando, de Filosofia, que largou no meio do curso, aí veio o professor Djalma que pegou o bonde andando e muitos alunos reprovaram e deu o maior rolo. Tinha a professora Lívia, de Psicologia da Comunicação, Silvino, de Antropologia, a Dani Ota de rádio. O Gerson deu aula para a gente, de redação, no segundo ano e o Ramires depois no terceiro. Não eram muitos, dava para contar no dedo. Era sempre essa dificuldade de ter professor, muitos eram temporários ou voluntários.
O que te motivou a fazer Jornalismo?
Desde que eu estava na sétima serie, queira fazer Jornalismo. Eu coloquei isso na minha cabeça, e como na época era vestibular e minha mãe sempre falou “você tem que passar na Federal”, eu estudei para isso. Sempre gostei de ler, de escrever, de revista e de jornal. Mas quando você entra
no mercado de trabalho, você se decepciona com muitas coisas, daí fica pensando “porque eu não mudei de curso?”, mas eu não me arrependo porque ainda acho que Jornalismo combina comigo. Eu gostei das pessoas que conheci na faculdade, gostei das matérias que fiz, gostei do meu TCC, dos professores. Eu acho que, se tivesse feito outra coisa, não seria feliz. Problemas têm, mas já vira uma outra questão, não com Jornalismo, uma questão de empresa, de emprego. Me motivou achar que combinava comigo e ainda acho que combina. Porque às vezes quando eu estou estressada e falo “quero largar tudo”, eu penso “mas se eu largar tudo, vou fazer o quê?”, daí não penso em mais nada. Por isso que eu acredito que Jornalismo era minha primeira opção e vai continuar sendo.
Teve algum fato inusitado ou legal que te deixou marcada durante seu período na Universidade?
Teve. No segundo ano de faculdade caiu o diploma, e todo mundo ficou muito revoltado. Então eu, a Keyciane Pedrosa, o Flávio Brito e o Rafael de Abreu, fomos junto com um pessoal da Uniderp lá no Palácio Popular da Cultura, porque o Gilmar Mendes veio para cá logo depois que caiu o diploma. Fizemos protesto, batemos panela, usaram nariz de palhaço, fez um monte de coisa. Só que o Gilmar não nos viu, ele entrou pelos fundos e ficamos lá fora. O pessoal foi embora, e eu falei “a gente tem que ficar aqui, tem que falar com ele”. Conseguimos entrar onde ele estava dando a palestra. Na hora que entramos, a palestra acabou. Eu fiquei louca, peguei uma câmera pequena, uma Sony Cybershot. E enlouquecidamente me juntei aos os jornalistas e ficava gritando “por que você vai depor o diploma do curso de jornalismo, por quê?”. Uma jornalista disse “pode deixar que eu vou perguntar”. Ela viu que eu não era jornalista de nenhum veículo, eu era acadêmica. Mas aí ele respondeu e eu gravei tudo. A Keyciane, o Flavio e o Rafael ficaram olhando com aquela cara de “como você fez isso?” Fizemos um texto e postamos lá no blog a resposta dele. Isso ficou marcado e até lembramos o episódio na formatura.
Como a sua vida que foi acontecendo, por exemplo, com o telejornalismo e o Jornalismo em si?
O que eu vejo hoje é que vocês têm mais dificuldade de fazer estágio do que tivemos. Os professores estão viabilizando pouco. Eu acho muito importante essa vivência na redação, porque é lá que vai ver como realmente funciona, o deadline, a hora que você tem que entregar tudo. Eu era muito curiosa quanto a isso. Comecei a fazer estágio no segundo ano, na Plaenge,
no atendimento online, atendendo pessoas que queriam comprar apartamento pela internet. Tinha nada a ver com Jornalismo. Mas depois de um tempo, a TV Morena abriu seleção para estagiário. Tinha uma prova, depois uma entrevista e depois da entrevista tinha três dias na redação para eles avaliarem como você trabalhava. O Fernando da Mata, que é um colega meu de turma, fez a prova e passou, começou a trabalhar lá. Como eu era curiosa porque eu só vendia apartamento e queria saber como funcionava, perguntei para o Fernando e ele falou “olha, Rapha, tem mais estagiário saindo de lá e vai abrir outro processo seletivo”. Ele me passou o email da Andréia, que na época era secretária lá e eu mandei um email, “olha meu currículo, estou sabendo que tem seleção”. Ela me respondeu “tem seleção tal dia. Se quiser, vem cá fazer a prova”. Todo mundo da turma já estava sabendo, umas dez, quinze pessoas foram fazer essa seleção para o estágio. Eu fiz, passei na nota de corte. Era uma prova de português, conhecimentos gerais, e algumas coisas como “escreva uma nota pelada, escreva uma nota coberta” e eu não fazia a menor idéia do que era isso, mas eu fiz. Eu passei nessa nota, fui para entrevista com os chefes e depois me chamaram para fazer o período de acompanhamento. Me chamaram para estagiar. Logo que comecei, me encantei, falei “nossa, aqui é minha segunda casa”. Não ligava de passar horas e horas lá. Aprendi bastante. Mas desde que eu entrei, na entrevista, antes de eu fazer o período de estágio, eles perguntaram “você gosta do quê?”. Eu falei “gosto de esporte”. Todo mundo assim, olhou aquela menina muito loira, parecia que não sabia de nada falando que gosta de futebol. A gente tinha um blog. Eu acordava domingo oito horas da manhã para vir para o Morenão, pegava dois ônibus da minha casa até lá para assistir jogo da série B do estadual. E isso já chamou a atenção deles, por que é muito difícil alguém gostar de esporte aqui no Estado. Tenho certeza que foi por isso que eles me contrataram. Eu fiquei dois anos lá. Nesse tempo, eu produzia. Depois tive a experiência de fazer vídeo, que era fazer o mapa tempo. Quando apresentei meu TCC, em 2011, falei que gostaria de continuar trabalhando na empresa, porque foi lá que aprendi tudo que eu sabia de Telejornalismo. E tele não era uma coisa que eu queria muito, para deixar claro. Eu queria ser jornalista, gostava de escrever, e gostava de todas as possibilidades. Na faculdade, o que eu mais gostei de fazer foi rádio. Gostava até mais do que tele, bem mais. Só que aqui no Estado não tem muita área para trabalhar. Quando eu saí, não tinha vaga para trabalhar lá e eu fiquei espe-
rando. Comecei a pedir emprego em outros lugares. Fui procurar em assessoria, fui procurar em TV. Consegui um trabalho em janeiro, na TV Campo Grande cobrindo férias. Vinte dias depois, o Alfredo, que é o gerente de Jornalismo da TV Morena me chamou, perguntou se eu queria trabalhar em Corumbá. Aí eu falei “quero demais!”. Porque era a TV Morena. Porque a Vivian de Castro, que era a editora regional lá, tinha trabalhado comigo quando eu era estagiária. Ela gostava de mim e eu gostava muito dela. Falei “é agora que eu vou”. Sabe quando você não pensa? Falei “tchau TV Campo Grande” e fui. Lá em Corumbá, foram 2 anos e 15 dias, mas eu aprendi muito mais ainda do que no estágio. Porque no estágio eu produzia, mas não é a mesma coisa que entrevistar e escrever um texto. Quando cheguei lá, eu tinha dificuldade de escrever texto, demorava muito, os offs eram muito longos e na TV não dá. Tive que aprender objetividade. Aprendi a fazer ao vivo. Porque lá a equipe é reduzida e o mesmo jornal que tem aqui, o MS 1°edição, tem lá, só que de Corumbá e região. E a gente que fecha. São duas pessoas de manhã e duas à tarde. Um dos repórteres da manhã apresenta o jornal, não tem como ele fazer muita coisa. Eu chegava na redação, não tinha produtor. Ligava para a polícia e para o bombeiro para ver o que estava acontecendo. Fazia o VT, entrevistava, voltava, escrevia o texto, gravava o off e ia editar a matéria, imprimia os links e ia para o link do jornal. Fazia tudo isso sozinha. A Vivian olhava meu texto, me liberava, fazia meu link, marcava o entrevistado. Como são 40 minutos e a equipe é pequena, às vezes eu tinha três entradas de links com quatro minutos cada de baixo do sol quente. Então você aprende, não tem para onde você fugir. Eu fui para lá e me propus esse desafio. Não dá para desistir na primeira dificuldade. Nesse primeiro ano, eu só ralei. No segundo ano, o Bruno Grubert, que era o apresentador, saiu. Eu tive a oportunidade de apresentar. Eu ficava lá no estúdio, no ar condicionado, tranquila e feliz e os outros iam para o link, os novos que chegavam. Então já foi um crescimento. Eu comecei a aparecer mais, e tive a oportunidade de vir para cá esse ano. Criaram um novo programa de esporte, o Morena Esporte. Antes só tinha o Globo Esporte, aquele programinha de 6 a 8 minutos que passa depois do MS 1° edição e antes do Globo Esporte nacional. Esse programa tem 35 minutos e precisava de alguém para produzir e não tinha aqui na equipe. Como sempre souberam que eu gostava de esporte, me chamaram para cá. As duas partes foram boas, e apesar dos problemas que acontecem em toda empresa, eu me sinto feliz com o que estou fazendo hoje. É como
você crescer na faculdade até o TCC. Depois você cresce no seu estágio até ser contratada e depois cresce até ter outro desafio.
Você manteve contato com seus colegas que trabalham em outros veículos de comunicação? Queria saber o que vocês pensam sobre o atual cenário jornalístico do Estado?
Eu mantive contato por um tempo, porque muita gente se mudou. Teve gente que foi para outro Estado, que voltou para sua terra natal. Teve gente que começou a fazer outro curso. O cenário não é muito animador, em termos de salário e oportunidades. É muito difícil encontrar alguém no nosso grupo que esteja completamente feliz tanto no trabalho quanto no salário. As pessoas começaram a se adaptar ao que elas gostam de fazer. Acho que as pessoas que fizeram concurso estão melhores, ou quem foi para as mídias sociais, que é uma área que cresceu muito. Você tem pouca estabilidade no cenário. Não é como antigamente, quando você ficava lá aguentando chatice do chefe.
Mesmo depois de formada você ainda tem contato com o curso e com a universidade?
Eu gosto de saber, fico no grupo do Facebook, acompanhando os calouros, pergunto. Eu não venho aqui com frequência. Eu gosto de ver TCC dos calouros, mas não dava porque estava lá em Corumbá. Não sou daquelas pessoas “ah, saiu da UFMS, nunca mais”. Nunca vou negar nada se for alguma coisa da UFMS, sempre vou fazer com o maior prazer. Tenho muito amor e carinho pelo curso.
Você se arrependeu de alguma coisa que fez no curso?
Acho que não. Acho que talvez eu me arrependo de não ter lutado um pouco mais pelo curso. Me arrependo de quando entrei no estágio eu ter deixado a UFMS em segundo plano, de ter dado mais prioridade para o estágio. Primeiro a UFMS era minha segunda casa e depois o estágio virou minha segunda casa. Eu poderia ter aproveitado muito mais da Universidade. Não acho que estágio seja uma coisa ruim. Foi uma escolha minha. Acho que todo mundo tem que fazer estágio, mas fazer se lembrando da universidade.
E o Projétil, foi seu único contato com o impresso?
Sim. Nunca tive outro contato com impresso fora daqui. Eu gostei muito. O Ramires fazia a gente discutir, questionar. Era muito legal a discussão da pauta, se ela valia ou não, qual era o interesse. Teve a primeira
vez no curso que ameaçaram a não ter um segundo Projétil. Foi a minha turma. Teve briga, teve gente que não quis fazer a matéria. Ficamos eu, a Samyra Galvão e o Fernando da Mata vindo até quando não tinha mais aula. O jornal saiu depois das férias para terminar de diagramar e fazer matéria. Eu e a Samyra fizemos mais uma matéria para preencher o espaço em branco. O espaço vazio foi preenchido com uma entrevista realizada com o Ariano Suassuna. Naquele dia, foi só para preencher um espaço em branco. Hoje eu vejo que foi épico. São coisas que compensam muito, não só de você ter essas oportunidades que são únicas, mas também por ter o poder de questionar.
E o que você levou das suas experiências daqui da UFMS?
Acho que a UFMS foi o que me levou à carreira inicial que eu tenho hoje. Eu não acredito que foi pelo estágio e pelas coisas que eu fiz fora, porque se eu não tivesse entrado aqui, não teria tomado todos esses rumos. Eu tinha uma idéia do que era o Jornalismo. Aqui eu aprendi o que era o Jornalismo e na redação eu vivi o jornalismo. Eu tenho certeza de que a UFMS é o principal de tudo que consegui, do trabalho que tenho hoje. Claro que vem o esforço e tudo mais, mas foi daqui que eu decidi o que queria fazer.
E você tem planos ligados ao jornalismo?
Eu tenho pensado muito em estudar, voltar para a Universidade, fazer mestrado e doutorado. Pensando em longo prazo, desejo voltar para estudar. Não quero demorar muito para isso, porque já vou fazer 24 anos. É ” diferente você pegar o ritmo de estudo depois de muito tempo. Não sei se aqui ou se fora, mas eu quero estudar Jornalismo. A TV vai me acompanhando, é o que eu tenho, é minha experiência, meu ganha pão.