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2011 – Aline Cristina Maziero
Aline Cristina Maziero
Jornalista e mestre em Estudos de Linguagens pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Atualmente é acadêmica do curso de Letras - Português/ Espanhol também pela UFMS.
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Foto: Arquivo Pessoal “ O que te motivou a fazer Jornalismo? Posso dizer simplesmente que o que me motivou a fazer Jornalismo foi a identificação com a profissão, porque eu sempre tive um lado meu meio inconformado, que queria lidar com as injustiças do mundo e achava que podia fazer isso escrevendo. Sim, porque o Jornalismo para mim sempre foi escrever. Pode perguntar aos meus professores de rádio e telejornalismo, Marcelo Cancio e Daniela Ota, mas eu sempre fui uma negação falando. E mesmo assim, adorava aquilo. Acho que a razão principal de eu ter feito Jornalismo foi eu querer me mudar da cidade do interior onde eu morava, Nova Andradina. Então, em 2006, quando os vestibulares ainda eram de somatória e guardavam vaga para o início do ano seguinte, eu escolhi Jornalismo por ser um curso que não tinha na minha cidade. Passei. Daí, tive de me mudar para Campo Grande no ano seguinte, trazendo papai e mamãe. Em uma cadeira de rodas, porque eu tenho paralisia cerebral e certa dificuldade para andar, enfim, dificuldades com a coordenação motora. Cheguei a Campo Grande, adorei a cidade e criei uma identificação muito forte com a UFMS. Eu adoro aquele lugar, tanto que continuo lá até hoje. Estou cursando Letras, depois de ter feito o mestrado em Estudos de Linguagens, orientada pela professora Márcia Gomes. A professora Márcia, aliás, foi minha primeira referência. As disciplinas que ela ministrava eram as que mais tinham a ver com Comunicação. Eu adorava os exemplos que ela dava, quase sempre tirados da ficção seriada. Aprendi muito, e sofri bastante para aprender também, mas valeu a pena. Teoria é das coisas que você só valoriza depois que tem mesmo, acho.
Que outras referências você tem do tempo de estudante de Jornalismo?
No segundo ano, minha grande referência foi o professor Edson. Na época, ele estava precisando de um monitor para o site Caminhos, cujas pautas se relacionavam com Direitos Humanos e eu gostei da ideia. Naquele ano, nas pesquisas jornalísticas eu e o meu grupo falamos de “acessibilidade” e discutimos o tema dentro e fora da UFMS. Engraçado que depois disso acabo sempre falando em acessibilidade, já em várias ocasiões para alunos do curso mesmo. Fiquei três anos como bolsista, convivendo bastante com o professor Edson e ele se tornou meu orientador de TCC. Eu, assim como você, trabalhei com histórias de vida e memórias. No meu caso, de passageiros do trem da ferrovia Noroeste do Brasil, em um livro-reportagem intitulado “Sobre os trilhos dessa terra”. Foram com o professor Edson as minhas primeiras experiências jornalísticas mesmo, de pesquisa, apuração, essas coisas. No segundo ano, ainda, chegou à UFMS o professor Gerson Martins, que ministrava a disciplina de Redação Jornalística já com recursos do ciberjornalismo, mas ainda na grade antiga. Essas matérias tinha de fazer a cada semana e foi uma experiência muito enriquecedora. Eu sempre fui uma aluna daquelas muito certinhas, que faziam tudo no prazo, e faziam tudo mais ou menos bem. No terceiro ano, pela antiga grade, tínhamos tudo que era bom: rádio, Projétil e TV. E era tudo em grupo, o que complicava um pouco as coisas para mim que precisava ajustar ao meu horário, o da minha mãe – que me levava – e o do restante do grupo e se fosse TV, por exemplo, ainda o horário do cinegrafista. Era meio complicado, mas foi também a fase da minha vida que mais me senti inclinada ao Jornalismo. Isso por causa, talvez, dos professores fantásticos que eu tive: tinha a Daniela Ota, para quem fazíamos vários roteiros de “Rádio Corredor”, segmentados, radiodocumentários. Era um ritmo intenso - pelo menos para mim - e um pouco sofrido, porque eu às vezes falava rápido demais e ficava sem ar. Tinha o Marcelo Cancio, que me pediu para refazer uma passagem até que eu ficasse de olhos abertos diante da câmera, um dos momentos mais marcantes da graduação para mim. Mostrou para mim que ele nunca ia desistir de um aluno, por menos apto que ele fosse. E teve os professores do Projétil - Mario Luiz, Mario Ramires e Márcio Licerre - que foram três das pessoas mais incríveis que eu conheci na UFMS. O Mario Ramires estava nesse curso desde a fundação como o professor Edson e era absolutamente fantástico. Acho que cada professor com o qual eu tive contato me modificou um pouco, mas eu pre-
cisava citar o Ramires. Daqueles que nos fazem pôr em dúvida todas as certezas, para escrever melhor, ser melhor.
E a estrutura do curso e da UFMS com relação à acessibilidade?
Quando eu cheguei à UFMS, não havia muitas rampas e as que haviam eram bem íngremes. Alguns lugares, como o Anfiteatro do LAC, não permitiam o meu acesso. Não havia banheiro para que a minha cadeira pudesse entrar, nem a rampa principal, nem rampa no Anfiteatro do CCHS, que aliás, no dia em que fomos estrear, eu e meu amigo Flávio caímos. De modo geral, vejo que a Universidade tem tentado melhorar, mas isso não se prova eficaz. Digo isso, porque, por exemplo, eu tenho um pouco de mobilidade, posso descer as escadas do laboratório de TV, mas e quem não consegue? Esse é só um exemplo, acredito que as pessoas, a UFMS, e talvez até o próprio curso, têm de se conscientizar que o que se precisa mesmo no campo da acessibilidade é uma política de longo prazo. Não é você resolver o problema imediato, de um acadêmico. É perceber que assim como no passado houve alguém que precisou de estrutura e não teve possibilidades de usufruir dela, no futuro outras pessoas vão precisar. Só digo que isso envolve antes de tudo uma mudança de mentalidade, o que é um pouco mais complicado que uma série de medidas paliativas.
E como foi seu contato com o mestrado logo depois da graduação?
No quarto ano, eu já estava com dor no coração por deixar a UFMS e foi aí que eu tive a ideia de fazer Mestrado - em Estudos de Linguagens - e voltei a ter mais contato com a professora Márcia Gomes. Resolvi fazer um projeto sobre adaptação de obras literárias na ficção seriada, estava fazendo o TCC, mas estudava à noite e de madrugada e assim, passei na prova escrita. No dia da fase final - entrevista - nem tinha defendido o TCC ainda. Foi um fim de ano muito diferente, muito bom, porque não sinto como se tivesse me dedicado pouco para fazer o TCC. Foi um trabalho exaustivo, exasperante e emocionante como quase tudo, e ainda assim, tinha passado no Mestrado, tinha perspectiva de futuro, tinha possibilidade de bolsa CAPES e tal. Foi um momento excelente da minha vida, recompensador e assustador. Eu estava na UFMS, mas em um departamento que me era estranho, minha orientadora estava na Espanha e eu tinha muito o que aprender sobre cinema e literatura. Por outro lado, no ano seguinte, fiz algumas disciplinas do Mestrado de Comunicação, já que a preocupação maior da minha dissertação era com os meios de comunicação, a relação emissor/receptor.
Acho que esse intercâmbio que a professora Márcia faz, dando aula nos dois Mestrados e fazendo os acadêmicos conhecerem os dois lados, é muito produtivo.
E quais são seus próximos passos? Algum no Jornalismo?
”Não trabalhei com Jornalismo, decidi me dedicar à vida acadêmica, estou na segunda graduação e espero em breve iniciar um doutorado na área de Letras.