VAMOS FALAR DE HIV?
Novembro/Dezembro 2 0 2 2 N.º 15 D ISTRIBUIÇÃO GRATUITA P U B LIC A ÇÃO DIGITAL BIMESTRAL
O Dia Mundial da Luta contra a SIDA foi criado para sensibilizar o mundo para o VIH e a SIDA, mostrar apoio a quem vive com este vírus e homenagear aqueles que morreram de doenças relacionadas com a SIDA. A sua criação partiu da iniciativa de James Bunn e Thomas Netter, dois oficiais do Programa Mundial da Luta contra a SIDA da Organização Mundial de Saúde (OMS). A sua implementação foi reconhecida através da Resolução 43/15 da Assembleia Geral da ONU, em 1988, e a data foi assinalada, pela primeira vez, nesse ano.
Cerca de 40 anos depois do primeiro caso de SIDA ter sido reportado, a doença ainda afecta e assusta o mundo. Embora, nos últimos dois anos e meio, o VIH possa ter perdido o seu “protagonismo” para a Covid-19, ainda representa um elevado fardo global, tendo ceifado cerca de 650 mil vidas, só no ano passado. De acordo com estimativas do ONUSIDA, 84 milhões de pessoas ficaram infectadas com o vírus desde o início da epidemia e 40 milhões morreram de doenças relacionadas com a SIDA.
Nos últimos anos, as perspectivas para os infectados com o VIH tornaram-se significativamente melhores, graças à terapia antiretroviral. Mas ao, mesmo tempo, subsistem o estigma, muito provocado pela iliteracia em saúde, e as desigualdades, bem como as disparidades económicas e sociais, que comprometem a criação de soluções para a prevenção e tratamento. A sociedade é, assim, chamada a intervir e a assegurar que o problema permaneça na agenda política.
Este ano, o tema do Dia Mundial da Luta Contra a SIDA, foi “Equalize”. Um apelo à acção de todos os cidadãos, sem excepção, para que se envolvam activamente no combate às desigualdades que estão na origem e dificultam o progresso no combate a esta epidemia. As metas da ONUSIDA preconizam acabar com a SIDA, enquanto problema de saúde pública, até 2030. O seu cumprimento está nas mãos de todos nós.
2 SAÚDE
Dra. Nádia Noronha Directora Executiva da Tecnosaúde
C M Y CM MY CY CMY K
QUEIMEI-ME! E AGORA?
AS QUEIMADURAS SÃO CAUSADAS POR AGENTES TÉRMICOS, QUÍMICOS OU ELÉCTRICOS E, MUITAS VEZES, OCORREM POR FALTA DE ATENÇÃO OU ORIENTAÇÕES ADEQUADAS. O MÊS DE DEZEMBRO É O PERÍODO EM QUE ACONTECE O NATAL E AS FESTAS DE FIM DE ANO, AUMENTANDO OS RISCOS DE ACIDENTES RESULTANDO EM QUEIMADURAS EM CRIANÇAS E ADULTOS, DAÍ A IMPORTÂNCIA DE CONHECERMOS ALGUMAS NOÇÕES DE PRIMEIROS SOCORROS.
Os primeiros socorros são intervenções que devem ser feitas de maneira rápida, de forma a evitar o agravamento do problema, até que um serviço especializado de atendimento chegue ao local. Mas, então, como devemos proceder se acontecer um acidente resultando em queimadura?
Na maioria das queimaduras, o passo mais importante é arrefecer rapidamente a pele, para que as camadas mais profundas não continuem a queimar, provocando lesões. Além disso, podem ser utilizadas pomadas, de acordo com orientação médica, para aliviar a dor e auxiliar o processo de cicatrização.
No entanto, dependendo do grau da queimadura, os cuidados podem ser diferentes, especialmente, nas de terceiro grau, que devem ser avaliadas o mais rápido possível por um médico, no hospital, para evitar complicações graves, como a destruição de nervos ou músculos.
Em todos os casos de queimadura, não é indicado passar pó de café ou pasta de dentes, por exemplo, pois podem causar ainda mais irritação, aumentar o risco de infecção e dificultar o processo de cicatrização. Também não é recomendado tocar na queimadura com as mãos, furar bolhas, descolar os tecidos que tenham ficado colados na pele queimada, nem retirar corpos estranhos ou graxa do local queimado.
4 SAÚDE
ENTREVISTA BANCO DE URGÊNCIA
O que fazer na queimadura de 1.º grau?
A queimadura de primeiro grau afecta apenas a camada superficial da pele, causando sinais como dor e vermelhidão na região afectada. Nesses casos, é recomendado:
• Colocar a região queimada debaixo de água fria por, pelo menos, 15 minutos;
• Manter um pano limpo e humedecido em água fria na região afectada, durante as primeiras 24 horas, trocando sempre que a água aquecer;
• Não aplicar qualquer produto, como óleo ou manteiga na queimadura;
• Passar uma pomada hidratante ou cicatrizante para queimaduras.
Prevenção
Mais do que conhecer os primeiros socorros a prestar num acidente resultante em queimadura, é melhor prevenir. Por isso,
reunimos algumas dicas de prevenção:
• Ao acender um fósforo, manter o palito longe do rosto. Assim, se escapar alguma chama, não irá atingir o cabelo ou a sobrancelha;
• Ao acender uma vela, observar se está longe de produtos inflamáveis, como botijões de gás, solventes ou tecidos;
• Manter as crianças longe da cozinha, durante a preparação dos alimentos, e direccionar sempre o cabo das panelas para a área do fogão;
• Não manipular álcool, querosene, gasolina ou outros líquidos inflamáveis perto do fogo. Esses produtos devem ser guardados longe do alcance das crianças.
Nota: Somente médicos e cirurgiões-dentistas devidamente habilitados podem diagnosticar doenças, indicar tratamentos e receitar medicamentos.
OMS APELA
COMUNIDADE GLOBAL
IGUALDADE
RESPOSTA AO VIH NOTÍCIA
À
PARA SE ALCANÇAR
NA
EM 1 DE DEZEMBRO, DIA MUNDIAL DA LUTA CONTRA A SIDA, A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (OMS) APELOU AOS LÍDERES E CIDADÃOS DE TODO O MUNDO PARA QUE RECONHEÇAM E COMBATAM CORAJOSAMENTE AS DESIGUALDADES QUE IMPEDEM O PROGRESSO NO SENTIDO DO FIM DA SIDA, ATÉ 2030.
AOMS juntou-se a parceiros e comunidades de todo o mundo na comemoração do Dia Mundial da Luta contra a SIDA 2022, sob o tema “Igualdade Agora!”, uma mensagem que realça a necessidade de garantir que os serviços essenciais chegam aos que estão em maior risco e necessitados, em particular, as crianças que vivem com VIH, populações chave afectadas por este vírus e seus parceiros.
“Com solidariedade global e liderança arrojada, podemos dar a todas as pessoas os cuidados de que precisam”, disse o Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, Director Geral da OMS. “O Dia Mundial da Luta contra a SIDA oferece uma oportunidade para reafirmar e reorientar o nosso compromisso comum de acabar com a SIDA como uma ameaça à saúde pública, até 2030”
Problema de saúde pública
O VIH continua a ser um grande problema de saúde pública que afecta milhões de pessoas em todo o mundo, mas a resposta corre o risco de ficar aquém. Dos 38 milhões de pessoas que vivem com VIH, 5,9 milhões sabem que são portadores do vírus, mas não estão a receber tratamento. Outros quatro milhões de pessoas com VIH ainda não foram diagnosticadas.
Enquanto 76% dos adultos receberam tratamento anti-retroviral, que lhes permitiu levar uma vida normal e saudável, apenas 52% das crianças que vivem com VIH tiveram acesso a este tratamento, em 2021. 70% das novas infecções por VIH ocorrem entre pessoas marginalizadas e cujo comportamento é frequentemente criminalizado.
Embora a transmissão tenha diminuído em África, não houve um declínio notável entre os homossexuais, um grupo populacional chave nos últimos 10 anos.
Sobreposição de epidemias
Os dados da OMS mostram que, entre pessoas com varíola dos macacos confirmada, um número elevado (52%) era de pacientes com VIH. Dados globais reportados à OMS sugerem que pessoas com a infecção por Monkeypox e VIH não tratadas parecem estar em risco para uma forma mais grave da doença do que pessoas sem VIH. A resposta actual à varíola dos macacos mostra que a transmissão pode ser rápida nas redes sexuais e dentro de grupos populacionais marginalizados, mas também que pode ser prevenida com respostas lideradas pela comunidade e atitudes abertas para combater o estigma. Faltando apenas oito anos para 2030, data para o objectivo de acabar com a SIDA como uma ameaça à saúde global, a OMS apela à solidariedade global e à liderança ousada de todos os sectores para que voltem ao caminho certo para acabar com a Síndroma da Imunodeficiência Humana Adquirida e, assim, acabar com novas sindemias, como o recente surto global de varíola dos macacos.
7 SAÚDE
ANÁLISE DESIGUALDADES ESTÃO A IMPEDIR O FIM DA EPIDEMIA DE SIDA
DE ACORDO COM A ANÁLISE ELABORADA PELA ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU) PARA ASSINALAR O DIA MUNDIAL DA LUTA CONTRA A SIDA, SÃO AS DESIGUALDADES QUE IMPEDEM O FIM DA DOENÇA. COM A TENDÊNCIA ACTUAL, O MUNDO NÃO PODERÁ CUMPRIR OS OBJECTIVOS GLOBAIS ACORDADOS PARA A SÍNDROME DA IMUNODEFICIÊNCIA HUMANA ADQUIRIDA (SIDA). A ESTE RESPEITO, O NOVO RELATÓRIO DA ONUSIDA, “DESIGUALDADES PERIGOSAS”, APELA A UMA SÉRIE DE ACÇÕES URGENTES PARA COMBATER AS DISPARIDADES E QUE POSSAM DAR INÍCIO A UMA RESPOSTA EFICAZ À SIDA.
No início de 2022, a ONUSIDA, o programa das Nações Unidas, criado em 1996, que tem a função de criar soluções e ajudar as nações no combate à SIDA, alertou que a resposta a esta epidemia está em risco, devido ao aumento do número de novas infecções e de mortes em muitas partes do mundo. Agora, um novo relatório traz à luz a razão subjacente: as desigualdades. Intitulado “Desigualdades Perigosas”, o relatório revela o impacto das desigualdades de género, das enfrentadas pelas populações chave e entre crianças e adultos na resposta à Síndrome da Imunodeficiência Humana Adquirida, assim como salienta que o agravamento dos constrangimentos financeiros dificulta a resolução destas mesmas desigualdades.
Para a Directora Executiva da ONUSIDA, Winnie Byanyima, “o mundo nunca vencerá a SIDA se continuarmos a fortalecer o patriarcado. Temos de enfrentar todas as desigualdades de que as mulheres são vítimas. Em regiões com um elevado fardo de VIH, as mulheres que sofrem da violência de parceiros íntimos enfrentam uma probabilidade 50% maior de contrair o vírus da imunodeficiência humana. Em 33 países, entre 2015 e 2021, apenas 41% das mulheres casadas com idades entre os 15 e os 24 anos podia tomar as suas próprias decisões de saúde sexual. Neste contexto, o único roteiro eficaz para acabar com a SIDA, alcançar os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável e garantir a saúde, direitos e prosperidade partilhados é um roteiro feminista”
Avanços na igualdade de género O impacto das desigualdades de género nos riscos de contrair o vírus da imunodeficiência humana (VIH) é particularmente pronunciado na África Subsariana, onde as mulheres foram responsáveis por 63% de todas as novas infecções registas em 2021. Nesta região, as raparigas adolescentes e as jovens dos 15 aos 24 anos têm três vezes mais probabilidades de contrair o VIH do que as adolescentes e jovens da mesma faixa etária de outras partes do mundo. Os estudos indicam que permitir que as meninas permaneçam na escola até completarem o ensino secundário reduz a sua vulnerabilidade à infecção pelo VIH em até 50%. Quando isto é reforçado com um pacote de apoio à formação, os riscos para as raparigas são ainda mais reduzidos. Assim, de acordo com a ONUSIDA, os líderes devem garantir que todas as raparigas possam frequentar a escola e estejam a salvo da violência, muitas vezes normalizada, incluindo através de casamentos com menores, e que seja aberto um caminho económico para que possam usufruir de um percurso esperançoso. Ao interromper a dinâmica de poder, as políticas podem reduzir a vulnerabilidade das meninas ao VIH.
Por outro lado, a masculinidade nociva desencoraja os homens de procurarem cuidados
médicos. Em 2021, enquanto 80% das mulheres que viviam com VIH acedia ao tratamento, apenas 70% dos homens estava nessa mesma situação. É precisamente por isso que, para travar o avanço da SIDA, é essencial aumentar os programas transformadores de género, indica o programa das Nações Unidas. O avanço da igualdade de género beneficiará a todos.
O relatório mostra também que a resposta à SIDA está a ser retida pelas desigualdades no acesso ao tratamento entre adultos e crianças. Enquanto mais de três quartos dos adultos que vivem com VIH estão em tratamento anti-retroviral, pouco
Estratégia Global para a SIDA
A estratégia coloca as pessoas no centro e visa unir todos os países, comunidades e parceiros em todos os países, para tomar medidas prioritárias de modo a transformar os resultados em termos de saúde e a vida das pessoas que vivem e são afectadas pelo vírus da imunodeficiência humana. As três prioridades estratégicas são maximizar o acesso equitativo aos serviços, quebrar os obstáculos jurídicos e sociais à obtenção dos resultados e dotar de recursos e sustentar plenamente as respostas ao VIH e integrálas em sistemas de saúde, protecção social e ambientes humanitários.
Se as metas e compromissos da estratégia forem cumpridos, o número de pessoas que vivem com VIH diminuirá, pela primeira vez, de 1,7 milhões em 2019 para menos de 370 mil em 2025, e o número de pessoas que morrem de doenças relacionadas com a SIDA reduzirá de 690 mil em 2019 para menos de 250 mil em 2025. O objectivo de eliminar novas infecções entre crianças reduzirá o número de novas infecções por VIH de 150 mil em 2019 para menos de 22 mil em 2025.
O cumprimento dos objectivos e metas da nova estratégia exigirá que os investimentos anuais em países de baixo e médio rendimento aumentem para um pico de 29 mil milhões de dólares, até 2025.
9 SAÚDE
mais de metade das crianças está na mesma situação, com todas as consequências que isso acarreta.
Estigma
A discriminação, o estigma e a criminalização de populações chave estão também a custar vidas e a impedir o mundo de atingir os objectivos acordados. As novas análises não mostram uma diminuição significativa de novas infecções entre os homossexuais nas regiões da África Ocidental e Central e nas regiões leste e sul de África. Face a um vírus infeccioso, a incapacidade de alcançar progressos nas populações chave mina toda a resposta à SIDA e ajuda a explicar o abrandamento em curso.
Em todo o mundo, mais de 68 países ainda criminalizam as relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo. Uma outra análise ecoada pelo relatório sublinha que os homossexuais que vivem em países africanos com leis mais repressivas são mais do que três vezes menos propensos a conhecerem o seu estatuto de portadores do VIH do que os seus pares que vivem em países com leis menos repressivas, onde o progresso avança muito mais rápido.
De igual modo, os trabalhadores do sexo que vivem em países onde o trabalho sexual é criminalizado têm sete vezes mais probabilidades de viver com VIH do que em países onde o trabalho sexual é legal ou parcialmente legalizado. “Sabemos o que temos de fazer para acabar com as desigualdades. Temos de garantir que todas as nossas meninas podem ir para a escola, estão seguras e fortes. Temos de abordar questões relacionadas com a violência baseada no género. Precisamos de apoiar as organizações femininas. Incentivar masculinidades saudáveis: substituir comportamentos nocivos que exacerbam riscos para todos. Garantir que os serviços para as crianças que vivem com VIH as alcancem e atendam às suas necessidades, de modo a colmatar a lacuna de tratamento, para que possamos acabar com a SIDA infantil de vez. Descriminalizar as pessoas em relações do mesmo sexo, trabalhadores do sexo e toxicodependentes e investir em serviços liderados pela comunidade que permitam a sua inclusão, pois isso ajudará a quebrar as barreiras de acesso aos serviços e cuidados a milhões de pessoas”, defendeu Winnie Byanyima.
Últimas estatísticas sobre o estado da epidemia da SIDA
38,4 milhões [33,9 milhões - 43,8 milhões] de pessoas viviam com VIH em todo o mundo, em 2021
1,5 milhões [1,1 milhões - 2,0 milhões] de pessoas contraiu a infecção por VIH, em 2021 650 mil [510 mil – 860 mil] pessoas morreram de doenças relacionadas com a SIDA, em 2021 28,7 milhões de pessoas tiveram acesso à terapia anti-retroviral, em 2021. 84,2 milhões de pessoas [64,0 milhões - 113,0 milhões] de pessoas foram infectadas com VIH desde o início da epidemia 40,1 milhões [33,6 milhões - 48,6 milhões] de pessoas morreram de doenças relacionadas com a SIDA, desde o início da epidemia.
Acabar com a SIDA Em 2021, o financiamento disponível para programas relacionados com o VIH em países de baixo e médio rendimento foi reduzido em oito mil milhões de dólares. O aumento do apoio dos doadores é, assim, vital para que a resposta à SIDA volte ao normal, alerta a ONUSIDA.
Os orçamentos devem dar prioridade à saúde e ao bem-estar de todas as pessoas, especialmente das populações vulneráveis mais afectadas pelas desigualdades relacionadas com o VIH. É necessário alargar o espaço fiscal para os investimentos em saúde em países de baixo e médio rendimento, incluindo através da anulação substancial da dívida e da tributação progressiva. Acabar com a SIDA é muito menos dispendioso do que não acabar com a SIDA, alerta o programa das Nações Unidas. Em 2021, 650 mil pessoas perderam a vida para a SIDA e foram registados 1,5 milhões de novas infecções por VIH. Na mensagem com que assinalou o Dia Mundial da Luta contra a SIDA, a 1 de Dezembro, a Directora Executiva do programa das Nações Unidas considerou que se deve fazer uma homenagem aos mais de 40 milhões de vidas perdidas para a SIDA, sublinhando que o mundo se está a afastar do caminho que permite alcançar a meta de acabar com a doença como ameaça para a saúde pública em 2030, conforme preconizado na Estratégia Global para a SIDA 20212026.
“É claro o que os líderes mundiais têm de fazer, não há dúvida sobre isso”, disse Winnie Byanyima. “Numa palavra: igualar. Igualar o acesso aos direitos, igualar o acesso aos serviços, igualar o acesso à melhor ciência e medicina. Ao igualar, não estaremos apenas a ajudar os marginalizados. Vamos ajudar toda a gente”
10 SAÚDE
MAIOR FLEXIBILIDADE E LIBERDADE DE MOVIMENTOS A SUA A JUDA NA S C AMINHADA S DO DIA A DIA advancisp Advancis® Jointrix Ultra, Advancis® Jointrix Plus e Advancis® Jointrix SOS são suplementos alimentares Não substituem um regime alimentar variado e equilibrado e um modo de vida saudável A vitamina C contribui para a normal formação de colagénio para funcionamento normal dos ossos e das car tilagens O manganês contribui para a manutenção de ossos normais e também para a normal formação de tecidos conjuntivos Uma dose diária de Advancis® Jointrix Advancis® Jointrix Active Gel é um Dispositivo Médico Antes de utilizar leia cuidadosamente a rotulagem e as instruções de utilização Não deve ser usado em crianças com idade inferior a 6 anos em grávidas ou a amamentar Não deve DISPOSI T I VO MÉDI CO MF22/AD V JT/3/1 03/22 BE M- E S TA R DOS OSSOS E DA S A R T IC U L AÇÕE S
MAIS DE 300 CRIANÇAS MORREM POR DIA COM SIDA
ESTIMA-SE QUE 110 MIL CRIANÇAS (DOS 0 AOS 19 ANOS) MORRERAM, EM 2021, POR CAUSAS RELACIONADAS COM A SÍNDROME DA IMUNODEFICIÊNCIA HUMANA ADQUIRIDA (SIDA), DE ACORDO COM O ÚLTIMO RELATÓRIO GLOBAL DA UNICEF SOBRE CRIANÇAS E VIH/SIDA. NO MESMO ANO, FORAM REGISTADAS 310 MIL NOVAS INFECÇÕES, ELEVANDO PARA 2,7 MILHÕES O NÚMERO TOTAL DE JOVENS QUE VIVEM COM O VÍRUS DA IMUNODEFICIÊNCIA HUMANA (VIH).
Em vésperas do Dia Mundial da Luta contra a SIDA, assinalado a 1 de Dezembro, a UNICEF lançou o alerta de que os progressos na prevenção e tratamento do VIH em crianças, adolescentes e mulheres grávidas praticamente estagnaram, nos últimos três anos, e que muitas regiões ainda não atingiram a cobertura de serviço que tinham antes da pandemia de Covid-19, o que aumenta o fosso crescente entre crianças e adultos no acesso ao tratamento.
“Embora as crianças tenham ficado muito para trás dos adultos na resposta à SIDA, a estagnação nos últimos três anos é sem precedentes e coloca demasiados jovens em risco de padecer da doença e de morte”, disse a Dra. Anurita Bains, Directora Associada da UNICEF para o VIH/SIDA. “As crianças estão a ficar desprotegidas, porque não conseguimos localizá-las, testálas e prescrever tratamentos que salvam vidas. Todos os dias que passam sem haver progressos, mais de 300 crianças e adolescentes perdem a sua luta contra a SIDA”
Embora constituam apenas 7% de todas as pessoas que vivem com VIH, as crianças e adolescentes foram responsáveis por 17% de todas as
12 SAÚDE
NOTÍCIA
mortes relacionadas com SIDA e 21% das novas infecções por VIH, em 2021. Como alerta a UNICEF, se as causas do acesso desigual ao tratamento não forem abordadas, a erradicação da SIDA em crianças e adolescentes continuará a ser um sonho distante.
Tendências a longo prazo
Ainda assim, as tendências a longo prazo continuam positivas, de acordo com o relatório da UNICEF. Entre 2010 e 2021, as novas
infecções por VIH diminuíram 52% entre as crianças mais novas (0 a 14 anos), bem como entre os adolescentes (15 a 19 anos), onde caíram 40%. Da mesma forma, a cobertura de tratamento anti-retroviral para mulheres grávidas que vivem com VIH aumentou de 46% para 81%, numa única década.
Mas ao mesmo tempo que o número total de crianças que vivem com VIH está a diminuir, o fosso de tratamento entre crianças e adultos continua a aumentar. Nos países prioritários da UNICEF na resposta ao VIH, a cobertura do tratamento anti-retroviral infantil foi de 56% em 2020, mas diminuiu para 54% em 2021. Este declínio deve-se a uma série de factores, como a pandemia de Covid-19 e outras crises globais, que acentuaram a marginalização e a pobreza, mas é também um reflexo da fraca vontade política e da resposta tépida à SIDA entre as crianças. Globalmente, a percentagem de crianças que vivem com VIH e acedem ao tratamento foi ainda menor – 52% -, número que mal aumentou nos últimos anos. Entretanto, a cobertura entre todos os adultos que vivem com VIH (76%) ultrapassou a das crianças em mais de 20 pontos percentuais. O fosso é ainda maior entre crianças e mulheres grávidas que vivem com VIH (81%).
A percentagem de crianças entre os 0 e os 4 anos que vivem com VIH, que não estão a receber tratamento anti-retroviral, aumentou preocupantemente nos últimos sete anos. Em 2021, atingiu os 72%, um valor semelhante ao de 2012.
Transmissão vertical
Em muitas regiões, incluindo a África Ocidental e Central, a África Oriental e Austral, a América Latina e as Caraíbas, a Ásia e Pacífico, o Médio Oriente e o Norte de África, a cobertura de tratamento também diminuiu entre as mulheres grávidas e a amamentar, em 2020. Em 2021, registaram-se novos declínios na Ásia e no Pacífico e no Médio Oriente e Norte de África. Com excepção da África Ocidental e Central, que continua a ter a maior incidência de transmissão mãe-filho, nenhuma das regiões voltou aos níveis de cobertura atingidos em 2019. Estas perturbações colocam a vida dos recémnascidos em maior risco. Em 2021, houve mais de 75 mil novas infecções em crianças, porque as grávidas não foram diagnosticadas ou tratadas.
“Com um renovado compromisso político para alcançar as parcerias estratégicas e recursos para escalar os programas, podemos erradicar a SIDA em crianças, adolescentes e mulheres”, defendeu a Dra. Anurita Bains.
13 SAÚDE
SOBRE A EPIDEMIA DO VIH EM ANGOLA
COMEÇO POR DIFERENCIAR VIH DE SIDA. VIVE COM VIH TODA A PESSOA QUE FOI INFECTADA PELO VÍRUS DA IMUNODEFICIÊNCIA HUMANA (VIH). SIDA É UM CONJUNTO DE SINAIS E SINTOMAS QUE DEFINEM A SÍNDROME DA IMUNODEFICIÊNCIA HUMANA ADQUIRIDA, A DOENÇA CAUSADA PELA INFECÇÃO CRÓNICA PELO VIH.
Dra. Lúcia Furtado Médica especialista em Saúde Pública. Licenciatura em Medicina de Clínica Geral na Universidade de Medicina de Bogomolets - Kiev, na Ucrânia. Mestrado em Gestão de Saúde na Universidade Privada de Angola (UPRA), em Luanda. Especialista em Saúde Pública na Escola Nacional de Saúde Pública de Angola (ENSPA), em Luanda.
14 SAÚDE TEMA DE CAPA PERSPECTIVA
Na história natural da doença, o VIH infecta uma pessoa e, depois de sintomas iniciais, que podem ser confundidos com várias outras viroses, esta pode permanecer sem apresentar sinais ou sintomas durante cerca de seis anos, em média (varia para cada pessoa). Neste período, a pessoa está a transmitir o vírus, mesmo que nem saiba que o tem. Por isso, é tão importante que se faça o que chamamos de diagnóstico precoce, que é fazer o teste e saber o estado serológico antes de adoecer. Assim se quebra a cadeia de transmissão. O VIH, desde que entra no organismo de uma pessoa, luta pela sua sobrevivência. Sem a ajuda das nossas células, rapidamente
morreria. Mas, ao entrar num corpo humano, ligase a uma célula das nossas defesas, chamada de linfócito T CD4, e usa o seu material genético para se reproduzir.
Após se reproduzir, o VIH deixa a nossa célula CD4 destruída. Isso acontece milhões de vezes ao dia e, durante anos, vai destruindo as células de defesa, ao ponto do organismo já não conseguir repor o que perde. Com a contagem de células de defesa CD4 em baixa, começam a acontecer as Infecções Oportunistas. Infecções oportunistas são doenças causadas por microrganismos que, para uma pessoa com defesa normal, seriam inócuos ou pouco sentidos. Contudo, com a defesa comprometida, tornam-se graves e podem levar à morte. Quando a CD4 está abaixo de 300, ou quando apresenta infecção oportunista, consideramos que a pessoa tem SIDA.
Com os tratamentos disponíveis hoje, podemos evitar que toda pessoa que tenha VIH evolua para SIDA. Os anti-retrovirais (ARV), infelizmente, não eliminam todo o VIH do organismo, pois o vírus é muito adaptável e esconde-se nos tecidos (como a nossa defesa ou o Sistema Nervoso Central), mas actuam impedindo a sua replicação. Sem replicação, o VIH não consegue continuar o seu caminho de destruição das nossas células CD4 e, assim, a pessoa não apresenta infecções oportunistas.
Doença das relações Além das questões biológicas, a SIDA é a “doença das relações”. Não das relações sexuais, mas das relações humanas. Diferente da diabetes ou do cancro, que vêm sempre acompanhados de compaixão pelos pacientes, a SIDA está carregada de estigma e de preconceito. O estigma é tamanho que se estende às crianças nascidas de mãe seropositiva, sendo somente poupados deste julgamento os que foram infectados através de transfusão sanguínea (motivo pelo qual muitos até “fingem” ter sido desta forma que adquiriram o vírus).
A manutenção da transmissão e o fracasso nas coberturas de testagem e de tratamento e na adesão ao tratamento estão sustentados em pilares como o estigma e a discriminação, a ignorância e a pobreza. Quantos mais tabus e dificuldade em discutir questões de género e sexualidade, quanto menos informação correcta e educação sexual abrangente nas escolas e quanto mais exclusão social e de grupos mais vulneráveis, maior é o poder do VIH de se manter numa população. Onde as populações sofrem com o preconceito por serem “discordantes” do que está estabelecido como “normal” na sociedade, onde a prevenção não se aprofunda em temas considerados tabu e onde há forte influência de crenças nas políticas públicas, é difícil que se avance na luta contra o VIH. Isto é considerado
15 SAÚDE
determinante para que não tenhamos vencido o VIH e representa um sério risco para que avancemos no futuro.
O que é a prevalência?
Angola tem uma epidemia considerada generalizada. Significa isto que temos uma prevalência maior que 1% na população geral.
O que é prevalência? É uma medida utilizada em epidemiologia para avaliar o impacto de uma determinada doença numa determinada população, num determinado período de
Prevalência do VIH 15-49 anos (IIMS 2016):
a diferença e diminuir ou estabilizar a prevalência é que, com mais pessoas diagnosticadas e em tratamento, diminuirá a transmissão e os casos novos.
Por isso, deve-se ter cuidado ao divulgar dados e analisar sem conhecimento. Como Angola (e a maioria dos países de África) ainda não tem um sistema de notificação obrigatória e individual
tempo. Para o cálculo da prevalência, o nosso numerador são todos os casos de determinada doença numa população. Por exemplo, todos os casos de infecção pelo VIH, em Angola, em 2021. O denominador é a dimensão desta população.
Em doenças crónicas, quando falamos de prevalência, estamos a falar de casos novos e os que estão a viver com a doença no local determinado, independentemente de quando adquiriram a doença em questão. Portanto, quando alguma intervenção de saúde ou tratamento mais eficaz são aplicados, podese ter um aumento da prevalência (mais pessoas vivem mais tempo com a doença), não significando um aumento da transmissão. Por exemplo, se mais pessoas se tratarem com anti-retrovirais, e inicialmente não se diminuir a transmissão do VIH, teremos uma prevalência aumentada nos primeiros anos. Só passaremos a ver uma redução da prevalência quando a transmissão do VIH diminuir em consequência do tratamento. O que vai fazer
de casos (está a ser implantado), a prevalência é calculada através de estudos em populações específicas e na população geral, com estudos controlados e com amostra calculada para poder representar a população específica ou local.
A prevalência que divulgamos em Angola foi obtida com o Inquérito de Indicadores Múltiplos de Saúde (IIMS) 2015-16, que mediu a prevalência do país e de cada província, por faixa etária e sexo, na população dos 15 aos 49 anos. Não há nenhum inquérito ou estudo que tenha sido feito em Angola para medir a prevalência de um município isoladamente.
Com a prevalência medida entre a população dos 15 aos 49 anos, que concentra a maior parte dos casos de uma doença por transmissão sexual, utilizamos o software que a ONUSIDA fornece aos países (Spectrum) para estimarem a prevalência nas outras faixas etárias. Mas o Instituto Nacional de Luta contra a SIDA (INLS) divulga a prevalência encontrada no IIMS (2015-16).
16 SAÚDE
O que é a incidência?
É uma medida utilizada em epidemiologia para avaliar o impacto de uma determinada doença numa determinada população, num determinado período de tempo, mas só leva no numerador os casos novos diagnosticados no período.
Portanto, esta taxa é útil para medir o impacto de medidas de prevenção, já que, de ano para ano, pode-se comparar a incidência e avaliar se o que se está a fazer tem impacto.
Tal como na prevalência, como Angola (e a maioria dos países de África) ainda não tem um sistema de notificação obrigatória e individual de casos, não se pode obter a taxa de incidência.
Quando falamos em sistema de notificação, estamos a falar de contabilizar casos individuais e não deixar que duplicidades e erros sejam contabilizados. Como o nosso sistema de notificação ainda não está consolidado, utilizamos o software que a ONUSIDA fornece aos países para estimarem a incidência, a partir de vários pressupostos. Mas é uma estimativa para o país e não é calculada por província.
Assim se explica porque é incorreto falar-se de números absolutos de casos e de testes positivos e, inclusive, fazer “análises” de aumento da epidemia.
Tendência da taxa de incidência estimada pelo Spectrum (2016 a 2021)
Tendência da taxa de mortalidade por SIDA calculada pelo Spectrum (2016-2021)
Nunca se avalia a tendência de uma doença crónica sem ser por taxas. Não se comparam lugares diferentes, com tamanhos de população diferentes, sem se usarem taxas para corrigir as diferenças. Por isso, as taxas de prevalência, de incidência e de mortalidade são calculadas, utilizando no numerador o número de casos e no denominador a população. Exemplo hipotético, feito em 2018: se eu afirmar que Luanda tem 64 mil pessoas de 15 a 49 anos a viver com VIH e Cunene tem 30 mil na mesma faixa etária, as pessoas, em geral, dizem que a epidemia em Luanda é pior. Mas isto está errado, já que a prevalência do VIH em Luanda (que tem mais de 3,5 milhões de pessoas nesta faixa etária) é muito menor do que a do Cunene (que tem somente 500 mil pessoas nesta faixa etária). A prevalência em Luanda é de 1,9% e no Cunene de 6,1%. Ou seja, o impacto da doença no Cunene é cerca de três vezes maior do que em Luanda.
Também não tem nenhuma utilidade, do ponto de vista epidemiológico de uma doença crónica, avaliar períodos curtos, como um mês. Nem números isolados, como “o local X diagnosticou Y casos de VIH neste mês”. Este tipo de notícia só diz respeito a uma acção isolada, que pode ser uma campanha, por exemplo, e não reflecte o que de facto acontece com a doença no local. Para analisar se uma doença crónica aumenta ou diminui, é preciso comparar ano a ano e, então, traçar a linha de tendência ao longo de anos. Nem mesmo comparar apenas dois anos nos dá uma informação fidedigna sobre a tendência da doença crónica.
Outras informações Angola contabiliza o número de testes realizados, mas isto não significa o número de pessoas que realizaram testes, pois, por vários motivos, muitas realizam mais de um. Assim, a positividade de testes não significa prevalência. A taxa de transmissão do VIH de mãe para filho é estimada, porque não há notificação individual de casos de gestantes com VIH e dos seus bebés, de forma consistente, para podermos calcular, correctamente, a taxa de transmissão de mãe para filho. A taxa de transmissão do VIH de mãe para filho é calculada através da divisão do número de crianças infectadas (numerador) pelo número de crianças nascidas vivas de mães positivas (denominador), num ano.
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No nosso caso, é calculada por estimativa, numa complexa equação que tem em conta o número de gestantes com VIH estimadas num ano, a cobertura anti-retroviral para as gestantes com VIH, partos institucionais, a taxa de perda de seguimento de PVVIH em tratamento, o momento em que a gestante foi diagnosticada seropositiva, a amamentação e a estimativa de crianças que nascem positivas. É um cálculo, por vezes, questionado, talvez superestime a taxa, mas, infelizmente, é o único aceite quando não se tem como calcular com casos individuais, enquanto o sistema de notificação individual não estiver consolidado. Com o actual sistema de informação, não se podem registar casos novos sem duplicidade, nem saber quantos estão em acompanhamento e tratamento correctamente. Isto depende de nomes e de confirmação de exclusão de duplicidades. Muitas pessoas mudam com frequência o local onde são atendidas e são contabilizadas novamente. Somente um sistema único e informatizado tiraria estas duplicidades. O MINSA e o INLS estão a investir nisso.
O país não tem ainda um sistema de registo de mortalidade que também nos possa fornecer o número exacto de óbitos por consequência da SIDA e, por isso, a taxa de mortalidade pela doença é estimada, com o registo de casos em unidades de saúde.
As estimativas da ONUSIDA (Spectrum) são utilizadas por todos os países que não têm sistemas de notificação individual de casos.
Estes países também utilizam estudos, como o IIMS, patrocinados pela USAID e outros parceiros. A diferença é que nos países de África em que os parceiros estão em todo o território, normalmente, existe um sistema paralelo e os implementadores produzem dados de diagnóstico, acompanhamento e tratamento. Em Angola, estes parceiros estão somente em 22 unidades de saúde de quatro províncias e o país não quer sistemas paralelos, está a investir num sistema único e integrado de informação em saúde do MINSA para todos os programas, para não duplicar e para garantir a sustentabilidade e a soberania com sua informação.
especialmente numa doença que é crônica, pode passar anos sem diagnóstico e num local onde pouco mais da metade das pessoas que vivem com VIH sabem seu estado serológico, pois muitos factores os afastam do diagnóstico.
PRINCIPAIS INDICADORES 2021
(estimativas do Spectrum ONUSIDA e dados DHIS2) Indicador Estimativas
Pessoas vivendo com VIH 320.000 Crianças (0-14) anos que Vivem com VIH 36.000 Mulheres que Vivem com VIH 190.000 Gestantes que vivem com VIH 25.000 Novas Infecções 17.000 Mortes relacionadas a SIDA no ano 15.000 PVVIH que sabem seu estado serológico 57% Cobertura de TARV adulto 43% Cobertura de TARV criança 19% Cobertura PTV 75%
Taxa de Transmissão vertical VIH 15%
PRINCIPAIS INDICADORES DE PROCESSO, ANGOLA 2021
ACUMULADO DE PESSOAS EM TARV* 128 292
COBERTURA TARV ADULTO 43% COBERTURA TARV CRIANÇA 19% COBERTURA PTV 75%
TRANSMISSÃO VERTICAL 15% Fonte: SPECTRUM/DHIS2/*relatório INLS
Fonte: SPECTRUM/DHIS2/*relatório INLS
Sobre os compromissos internacionais:
-90/90/90: são metas globais intermediárias, que foram propostas pela ONUSIDA para serem atingidas até 2020.
Significam ter diagnosticadas 90% das pessoas que vivem com VIH; ter em tratamento antirretroviral (TARV) 90% das pessoas diagnosticadas e ter em supressão viral (carga viral indetectável) 90% das pessoas em TARV.
Baseiam-se em cálculos matemáticos e na evidência científica de que se diminuirmos a carga viral circulante numa população, reduziremos drasticamente as novas transmissões, e em 2030 poderíamos declarar o fim da SIDA como um problema de saúde pública.
Como o mundo não cumpriu as metas 90/90/90 em 2020, inclusive pelo impacto da Covid-19 nos outros programas, foi estabelecido um novo desafio, que é chegar a 95/95/95 das mesmas metas, em 2025.
-Testar e Tratar: tem a finalidade de, coletivamente, reduzir a transmissão e , individualmente, evitar a progressão para doença. Está de acordo com o 90/90/90. Recomendado pela OMS à partir de 2015.
Antes de 2015, as recomendações da OMS orientavam que esperássemos a queda do CD4 para iniciar o TARV, porque o tratamento é caro para os países, porque as drogas tinham graves efeitos colaterais e porque havia risco de resistência do VIH aos remédios
Hoje, as drogas tem menos efeitos colaterais, sabe -se que utilizando TARV precocemente evita-se a progressão para doença e o efeito que o VIH tem em diversos orgãos; mas o que impulsiona mesmo o Testar e Tratar é que não se conseguiu avançar com a redução da transmissão e consequente número de novos casos somente com a prevenção; então se adoptou medidas biomédicas, como o tratamento como prevenção, profilaxias pós e pré exposição, circuncisão, entre outros
Estudos realizados recentemente levaram o CDC, a ONUSIDA e a OMS a declararem que uma pessoa com VIH em TARV e com carga viral indetectável de forma
Veracidade dos dados Então, diferentemente de se dizer que Angola não tem dados, o país está na mesma situação de outros da região que utilizam as estimativas do Spectrum. É preciso cuidado com as publicações, muito comuns, onde as pessoas entrevistadas não citam as suas fontes e apenas fazem relatos das suas experiências pessoais. Na era da pós-verdade e de fake news, muitas vezes, não se procura apurar a veracidade de um dado; porém, existem consequências para a população quando não somos rigorosos com as informações prestadas. Angola não nega os desafios que tem a vencer no sistema de informação, mas todas as informações sobre epidemiologia devem ser baseadas na ciência, que une métodos de observação e matemática. Quando uma pessoa divulga apenas a sua experiência, está a induzir em erro os demais. Por exemplo, se trabalho num hospital de grande dimensão, o meu banco de urgência é procurado por pessoas com doença mais avançada. Então, nas estatísticas do meu hospital, terei muitos casos e, provavelmente, muitas mortes por SIDA, que não acontecem na mesma proporção para toda a população. Se divulgar estes números como representativos de todo o município, província ou, até, do país, estarei a cometer um grave erro. Como o VIH pode ficar durante anos na pessoa sem manifestar sintomas importantes, no mesmo período que citei o hospital, se for medir os casos na comunidade onde estão as
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representativos de uma população específica ou de toda a população ,
pessoas que não adoeceram, encontrarei menor prevalência.
Por isso, os estudos seguem critérios rigorosos de amostragem, para serem representativos de uma população específica ou de toda a população, especialmente numa doença que é crónica, pode passar anos sem diagnóstico e num local onde pouco mais de metade das pessoas que vivem com VIH sabe seu estado serológico, pois muitos factores as afastam do diagnóstico.
Sobre os compromissos internacionais 90/90/90 são metas globais intermédias que foram propostas pela ONUSIDA para serem atingidas até 2020. Significam ter diagnosticadas 90% das pessoas que vivem com VIH, ter em tratamento antiretroviral (TARV) 90% das pessoas diagnosticadas e ter em supressão viral (carga viral indetectável) 90% das pessoas em TARV. Baseiam-se em cálculos matemáticos e na evidência científica de que, se diminuirmos a carga viral circulante numa população, reduziremos drasticamente as novas transmissões e, em 2030, poderíamos declarar o fim da SIDA como um problema de saúde pública. Como o mundo não cumpriu as metas 90/90/90 em 2020, inclusive pelo impacto da Covid-19 nos outros programas, foi estabelecido um novo desafio, que é chegar a 95/95/95 das mesmas metas, em 2025. Testar e Tratar tem a finalidade de, colectivamente, reduzir a transmissão e, individualmente, evitar a progressão para doença. Está de acordo com o
90/90/90. Recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) a partir de 2015, antes dessa data, as recomendações orientavam que esperássemos a queda da CD4 para iniciar o TARV, porque o tratamento é caro, os medicamentos tinham graves efeitos colaterais e havia risco de resistência do VIH aos remédios. Hoje, os medicamentos têm menos efeitos colaterais e sabe-se que, utilizando TARV precocemente, evita-se a progressão para doença e o efeito que o VIH tem em diversos órgãos. Mas o que impulsiona mesmo o compromisso Testar e Tratar é que não se conseguiu avançar com a redução da transmissão, e consequente número de novos, casos somente com a prevenção. Então, adoptaram-se medidas biomédicas, como o tratamento como prevenção, profilaxia pós e pré exposição, circuncisão, entre outras.
Estudos realizados recentemente levaram o CDC, a ONUSIDA e a OMS a declararem que uma pessoa com VIH em TARV e com carga viral indetectável de forma sustentada não transmite o VIH sexualmente, mesmo sem uso do preservativo nas suas relações.
Com o novo esquema anti-retroviral introduzido no país em 2021, que tanto simplifica a vida do utente (que toma apenas um comprimido por dia) como também melhora os processos de aquisição e distribuição de medicamentos, tivemos ganhos na cobertura do tratamento, ainda que de forma mais lenta para as crianças.
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Infelizmente, por não termos dados fiáveis do número de pessoas que estão em tratamento regular por província, não se pode fazer a mesma análise por província, apenas nacional.
Fonte: Spectrum/DHIS2
Carga viral É a carga viral que determina o maior ou menor risco de transmissão, seja por via sanguínea, sexual ou vertical (de mãe para o filho). Por isso, o tratamento correcto é a melhor medida para evitar a transmissão. Carga viral é o número de vírus que uma pessoa tem em cada milímetro cúbico de sangue. Quando nos referimos à carga viral, normalmente, estamos a falar de valores que são medidos através do exame de carga viral, um exame específico realizado com técnica de biologia molecular e que nos permite saber a quantidade de vírus que a pessoa tem no sangue. O objectivo do tratamento é ter um resultado de exame de carga viral indetectável, ou seja, a quantidade de vírus é tão baixa que não se consegue medir nos equipamentos. O VIH continua na pessoa, mas de forma latente (“escondido”) e, estando indetectável no sangue, não provoca destruição da CD4 e não está disponível para ser transmitido. Ter carga viral indetectável não significa que a pessoa está curada, pois se parar de tomar o seu anti-retroviral correctamente o VIH voltará a multiplicar-se no sangue e a pessoa voltará a transmitir e a sofrer danos no seu sistema de defesa. Por isso, a adesão é essencial para o sucesso do tratamento e para evitar a transmissão.
A adesão é um grande desafio e a nossa taxa de abandono é estimada por alguns estudos em mais de 30%, não sendo igual para todas as províncias. Os utentes abandonam, principalmente, por problemas sociais.
Programa de Prevenção da Transmissão do VIH de Mãe para o Filho (PTMF, antigamente chamado de PTV - Prevenção da Transmissão Vertical)
Antes mesmo do conhecimento, que temos hoje, de que a supressão viral evita a transmissão, e ainda quando o tratamento não era indicado para todos, estudos sobre o uso de AZT (antiretroviral) para tratamento da gestante durante o parto e para o bebé recém-nascido foram feitos, publicados e aceites como evidência científica da redução da transmissão vertical do VIH. Era o ano de 1994 e, em 1996, grande parte dos países adoptou este protocolo de prevenção da transmissão vertical, inclusive Angola. Recomendava-se ainda a suspensão da amamentação, o que era um grave problema para países com alto índice de pobreza e de fome e onde factores culturais eram barreira para a não amamentação. Este protocolo era exclusivo para redução da transmissão vertical e não tinha foco na mãe. Depois do parto, só continuavam em tratamento as mulheres que tinham CD4 abaixo de 350 cel/mm3. Somente em 2012, a OMS passou a recomendar o que chamou de opção B+, que significa que toda gestante com VIH deve iniciar imediatamente o TARV com três drogas (igual ao tratamento para qualquer adulto), independente do valor do CD4, e manter o tratamento após o parto, reduzindo risco de doença para a mãe e risco de transmissão para o bebé durante a amamentação. Mantém-se ainda o AZT durante o trabalho de parto. Para o bebé, recomenda o uso, durante seis semanas,
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de Nevirapina e de Nevirapina e AZT combinados, quando não se sabe a carga viral da mãe.
Histórico do PTV em Angola:
• 2004: Programa de PTV em três unidades saúde como projecto-piloto na capital do país;
• 2005-2006: Extensão às 18 capitais de província;
• 2007: Estratégia de integração do PTV nos programas de Saúde Reprodutiva, permitindo maior acesso das grávidas ao diagnóstico e tratamento;
• 2011: Despacho n.º 08 GM/MINSA/2011, que orienta a transferência das competências aos profissionais não médicos;
• 2012: Plano da Eliminação Transmissão Vertical e Diagnóstico Precoce Infantil;
• 2013: Estratégia B+ da OMS;
• 2014: Plano de Aceleração;
• 2018: Novo Plano de Aceleração, Campanha Nascer Livre para Brilhar;
• 2019-2022: implantação do Plano Operacional da Campanha Nascer Livre para Brilhar, com ganhos notáveis e redução da transmissão do VIH de mãe para o filho. A Campanha Nascer Livre para Brilhar é uma iniciativa das Primeiras Damas africanas e, em Angola, é liderada por Sua Excelência Primeira Dama da República, Dra. Ana Dias Lourenço. O apoio de Sua Excelência Primeira Dama foi determinante para os avanços no âmbito da campanha.
Principais resultados obtidos no período de implantação do Plano Operacional da Campanha Nascer Livre para Brilhar 2019-2022:
• Comparando 2018 com 2021, houve um aumento de 86% no número de testes realizados em gestantes a cada ano, de 165% no número de gestantes que entraram no Programa de PTMF ao ano, de mais de 300% de exames de Diagnóstico Precoce Infantil realizados em crianças expostas a cada ano;
• Aumento da cobertura do tratamento para gestantes estimadas a viver com VIH (de 34% em 2018, para 75% em 2021);
• Redução da Taxa estimada de Transmissão do VIH de Mãe para o Filho de 26% em 2018, para 15% em 2021;
• Redução no número de novas infecções por VIH em crianças (relacionada com transmissão de mãe para filho) de 7.400 em 2018, para 3.800 em 2021.
Fonte: Spectrum/DHIS2
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Como é a transmissão do VIH de mãe para filho?
Na história natural da doença, o risco de transmissão do VIH de mãe para filho é de 25% a 45% e pode ocorrer no período intrauterino (cerca de 35% dos casos), no peri parto (cerca de 65% dos casos) e na amamentação (cerca de 30%). No intrauterino e peri parto, a carga viral da mãe é determinante para maior risco. Por isso, o tratamento da mãe com anti-retrovirais é importante. Na amamentação, o maior risco dá-se quando a mãe adquire o VIH durante o período em que está a amamentar ou abandona o tratamento depois do parto (duas situações onde a carga viral atinge níveis altíssimos). A estratégia de PTMF permite reduzir a transmissão da infecção em crianças expostas para menos de 5%.
Os factores sociais são determinantes para a cobertura de TARV e, olhando para alguns indicadores, conseguimos explicar porque, apesar de ter a mais baixa prevalência da região, Angola tem uma taxa de transmissão do VIH de mãe para o filho alta. Se se analisar os indicadores do IIMS, veremos quantos determinantes concorrem para a taxa de transmissão do VIH de mãe
para filho, como as questões de género (maior analfabetismo, baixa escolaridade, baixo poder de decisão entre as mulheres), as questões culturais/ sociais, como alta taxa de fecundidade e os baixos valores de cobertura do planeamento familiar, do pré-natal (com, pelo menos, quatro consultas), do parto institucional e das consultas do recémnascido pós-parto.
Para o sucesso do PTV, não basta ter testes e ARV disponíveis. O diagnóstico e o tratamento são os pilares para que possa haver redução da transmissão, mas, para tal, precisamos de actuar para diminuir as barreiras que impedem as gestantes de terem acesso. Sem um sistema de saúde fortalecido (recursos humanos, cadeia de abastecimento, acesso aos serviços, vigilância epidemiológica), não se pode ter sucesso num programa. Por isso, é tão importante o compromisso político de gestores a todos os níveis.
Toda a luta contra a SIDA é multissectorial, pois os factores sociais são determinantes tanto para o sucesso da prevenção, quanto do diagnóstico e do tratamento do VIH/SIDA.
22 SAÚDE C
M Y CM MY CY CMY K
M-AO-00000107, NOV 2022
MAIS
Hemlibra é o primeiro anticorpo monoclonal aprovado que restaura o processo de hemóstase1-3. Com uma toma semanal, a cada duas semanas ou a cada quatro semanas, Hemlibra está indicado para a Hemofilia A com ou sem inibidores de FVIII.1
Este medicamento está sujeito a monitorização adicional. Isto irá permitir a rápida identificação de nova informação de segurança. Pede-se aos profissionais de saúde que notifiquem quaisquer suspeitas de reações adversas. As suspeitas de reações adversas poderão ser notificadas à Roche (telefone: 214257000; email: amadora.farmacovigilancia@roche.com). Medicamento de receita médica restrita.
1. RCM Hemlibra (link: https://rcm.roche.pt/hemlibra). 2. Mahlangu J, et al. Emicizumab prophylaxis in patients who have hemophilia A without inhibitors. N Engl J Med. 2018;379:811-822. 3. Pipe SW, et al. Efficacy, safety, and pharmacokinetics of emicizumab prophylaxis given every 4 weeks in people with haemophilia A (HAVEN 4): a multicentre, open-label, non-randomised phase 3 study. Lancet Haematol. Supplementary Appendix. 2019;6:e295-305. 4. Callaghan MU, et al. Long-term outcomes with emicizumab prophylaxis for hemophilia A with/without FVIII inhibitors from the HAVEN 1-4 studies. Blood 2020; blood.2020009217. doi: https://doi.org/10.1182/blood.2020009217 5. Young G, et al. Blood. 2019;134(24):2127-2138
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NOVA TERAPÊUTICA PARA A HEMOFILIA
.
ZERO hemorragias tratadas
de redução de hemorragia vs FVIII em profilaxia prévia2
dos doentes
com zero hemorragias espontâneas5
PROTECÇÃO, MAIS LIBERDADE
79,2% Doentes com
4 68%
96,9%
pediátricos
DIA MUNDIAL DO DOADOR DE SANGUE
TODOS OS ANOS, A 14 DE JUNHO, É COMEMORADO O DIA MUNDIAL DO DOADOR DE SANGUE. O OBJECTIVO DESTA DATA É AUMENTAR A CONSCIENCIALIZAÇÃO SOBRE A IMPORTÂNCIA DA DOAÇÃO DE SANGUE DE FORMA VOLUNTÁRIA E SEGURA.
24 SAÚDE
ENTREVISTA PERSPECTIVA
Dra. Jussara Lopes
Licenciada em Medicina Geral pela Universidade Privada de Angola (UPRA). Médica na Vidamed.
O sangue é um tecido líquido que circula pelo corpo, transportando oxigénio e outros nutrientes a todos os órgãos e sistemas. É composto por glóbulos vermelhos, glóbulos brancos, plaquetas e plasma, sendo que o plasma corresponde a 60% do volume de sangue. É a parte líquida onde ficam suspensos os glóbulos vermelhos, brancos e as plaquetas. A quantidade de cada componente pode variar de acordo com o sexo e idade da pessoa.
Tipos de sangue
Para a espécie humana, os tipos sanguíneos mais importantes são o sistema ABO e o factor Rh. No sistema ABO, há quatro tipos sanguíneos: A, B, AB e O.
Os tipos possíveis de doação compatíveis são:
• Tipo A: recebe de A e de O. Doa para A e AB.
• Tipo B: recebe de B e de O. Doa para B e AB.
• Tipo AB: recebe de A, B, AB e de O. Doa para AB.
• Tipo O: recebe de O. Doa para A, B, AB e O.
Por sua vez, o factor Rh é um grupo de antígenos que determina se o sangue possui o Rh positivo ou negativo.
A doação de sangue e a sua importância
Doar sangue é um acto voluntário de solidariedade e cidadania que pode ajudar a salvar vidas. Até os dias de hoje, não existe nenhum substituto para o sangue, portanto, a doação é a única fonte para quem necessita dos seus hemocomponentes ou hemoderivados.
São várias as situações em que a transfusão sanguínea é vital, como em pacientes vítimas de acidentes de viação, pacientes com grandes queimaduras, pacientes hemofílicos, pacientes anémicos, em cirurgias de grande porte, pacientes com distúrbios de coagulação sanguínea e outras situações de emergência.
Em cada doação, uma pessoa doa no máximo 450 mililitros de sangue e essa única doação pode salvar a vida de até quatro pessoas.
De realçar que, em cerca de apenas um dia, o organismo repõe a mesma quantidade de sangue que foi retirada na doação.
Requisitos para doar sangue:
• Ter entre 18 e 65 anos;
• Pesar mais de 50 quilogramas;
• Ter dormido, pelo menos, seis horas nas últimas 24 horas;
• Estar bem alimentado, mas, se a doação for feita após o almoço, aguardar duas horas.
Quem não pode doar sangue:
• Pessoas portadoras de doenças infectocontagiosas, como HIV, hepatite B e C e tuberculose;
• Pacientes imunodeprimidos;
• Toxicodependentes;
• Gestantes;
• Amamentação (até 12 meses após o parto).
Procedimentos após a doação de sangue:
• Alimentar-se após a doação;
• Não realizar exercícios físicos, pelo menos, nas 12 horas seguintes à doação;
• Aumentar a ingestão de líquidos e evitar bebidas alcoólicas por um período de 12 horas;
• Manter o curativo no local da punção durante, pelo menos, quatro horas.
Mitos sobre a doação de sangue:
A mulher menstruada não pode doar sangue: mito! O período menstrual não é impedimento para a doação de sangue.
Quem tem tatuagens não pode doar sangue: mito! Pode-se doar sangue um ano após a tatuagem ter sido realizada. Fumadores não podem doar sangue: mito! Pessoas que fumam podem doar sangue, mas o Ministério da Saúde recomenda um intervalo sem fumar de, pelo menos, duas horas antes da doação.
A quantidade de sangue doada pode causar danos à saúde: mito! A quantidade de sangue retirada numa doação é pequena e o organismo repõe este volume de sangue em 24 horas.
Apelo a sociedade
A demanda de pacientes com necessidades de transfusão sanguínea continua a ser superior às doações. A doação de sangue é um gesto de amor e de empatia, que deve ser realizado independentemente de existir um grau de parentesco ou de amizade com quem receberá o sangue.
Apela-se a todos os indivíduos que estejam em condições de doar sangue que o façam sem medo e sem tabus, pois várias vidas podem ser salvas com este simples gesto.
25 SAÚDE
VISÃO E OS PREMATUROS
A VISÃO É O ÓRGÃO DOS SENTIDOS QUE NOS DÁ ACESSO À MAIORIA DAS INFORMAÇÕES SOBRE O MUNDO À NOSSA VOLTA. POR ISSO, PRESERVAR A SAÚDE DOS OLHOS É EXTREMAMENTE IMPORTANTE. INFELIZMENTE, EXISTEM LESÕES E DOENÇAS QUE PODEM ACOMETER O NOSSO SISTEMA VISUAL E COMPROMETER, POR UM DETERMINADO TEMPO OU DE FORMA DEFINITIVA, A NOSSA CAPACIDADE DE COMUNICAÇÃO ATRAVÉS DA VISÃO.
Dr. Djalme Fonseca
Licenciado em Optometria e Ciências da Visão pela Universidade do Minho, Portugal. Pósgraduado em Avaliação Optométrica Pré e Pós Cirúrgica pela Universidade de Valência, Espanha. Founder & CEO da Óptica Optioptika
Muitas pessoas por todo o mundo enfrentam grandes dificuldades por serem cegas. Infelizmente, várias delas poderiam ter evitado esta situação simplesmente conhecendo as doenças, sintomas e situações que podem levar à cegueira. Em cada fase da vida, os cuidados com a saúde ocular e o atendimento pelo profissional de saúde ocular são importantes como forma de proteger a visão. E esse acompanhamento e informação inicia
ainda antes do nascimento. O acompanhamento pré-natal é capaz de evitar o comprometimento da visão do bebé que irá nascer. Algumas doenças, como a rubéola e a toxoplasmose, podem causar cegueira e problemas neurológicos na criança. Contudo, o nascimento da criança também vai exigir atenção e cuidados extremos no que concerne à visão. Ao nascer, a criança enxerga pouco e a visão vai-se desenvolvendo com o passar dos anos. Qualquer doença ocular ao nascimento, como a catarata congénita e o glaucoma congénito, pode prejudicar totalmente este desenvolvimento. O teste do reflexo vermelho, também chamado de “teste do olhinho”, deve ser realizado ainda na maternidade. É capaz de detectar estas e outras doenças, às vezes gravíssimas, como o retinoblastoma (tipo de cancro ocular), precocemente. A oftalmia neonatal é uma conjuntivite que afecta crianças menores de 28 dias. É causada pela infecção durante o parto, em virtude do contacto da criança com as secreções genitais da mãe, combinada com a falta de cuidados no momento
26 SAÚDE
ENTREVISTA PERSPECTIVA
do nascimento. Para evitar a contaminação, ainda na sala de parto, os profissionais de saúde aplicam gotas de nitrato nos olhos da criança. O bebé, nos seus primeiros dias de vida, também pode apresentar olhos muito vermelhos e lacrimejantes, causados pela obstrução do canal lacrimal (dacriocistite). Se isso ocorrer, deve ser examinado por um oftalmologista, que poderá indicar o tratamento correcto.
Também deve ser levado com urgência ao médico oftalmologista o bebé que, ao nascer, tiver mancha branca na menina dos olhos (pupila), olhos anormalmente grandes ou ainda que não suportem claridade.
Por isso, é crucial que todos nós, desde pais, educadores, pediatras e profissionais de saúde ocular, entre outros, estejamos a par de qual o desenvolvimento normal da visão até ao primeiro ano de vida.
Recém-nascidos: ajustando-se à luz e começando a focar Ao nascer, uma criança é muito sensível à luz brilhante. Podemos notar como as suas pupilas parecem pequenas, limitando a quantidade de luz que entra nos olhos. Um bebé recém-nascido pode ver algo próximo com a visão periférica (lateral), mas a visão central ainda se está a desenvolver.
Dentro de algumas semanas, à medida que as
retinas se desenvolvem, as pupilas de um bebé dilatam. Pode ver faixas e padrões claros e escuros. Formas grandes e cores vivas podem começar a atrair a sua atenção. Um bebé também pode começar a concentrar-se num objecto bem na sua frente.
Por volta de um mês, o bebé pode-se concentrar brevemente numa pessoa, mas ainda pode preferir objectos coloridos até um metro de distância. Os bebés são capazes de enxergar através de uma sala, mesmo ao nascer, mas estão mais interessados em objectos muito próximos de si.
De 2 a 4 meses: focando e acompanhando objectos em movimento Nos primeiros dois meses, os olhos dos bebés geralmente não funcionam muito bem. Podemos notar que os olhos do bebé parecem estar vesgos ou podem parecer vaguear para os lados. Na maioria dos casos, isso é normal e acabarão por corrigir. Mas se um dos olhos do bebé virar constantemente em direcção ao nariz ou se afastar do nariz, é crucial o pediatra identificar e encaminhar para o oftalmologista, que pode efectuar um diagnóstico correcto do problema.
Por volta dos dois meses de idade, os bebés geralmente são capazes de seguir com os olhos um objecto em movimento, à medida que a sua coordenação visual melhora. Na verdade, por
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volta dos três meses de idade, o bebé pode ter coordenação visual e de braço suficiente para bater num objecto próximo em movimento. Aos três meses de idade, os olhos do bebé devem trabalhar juntos para focar e rastrear objectos. Caso isto não esteja a acontecer, o ideal será informar o pediatra ou procurar um profissional de saúde ocular.
Dos 5 aos 8 meses: alcançar, reconhecer e recordar
Por volta dos cinco meses de idade, a capacidade do bebé de ver a que distância um objecto está (chamada percepção de profundidade) desenvolve-se plenamente.
Vê o mundo em três dimensões (3D) de forma mais completa. Fica melhor em alcançar objectos próximos e distantes.
Também tem uma boa visão de cores, embora não esteja totalmente desenvolvida quanto a de um adulto. Nesse estágio, um bebé pode reconhecer os seus pais do outro lado da sala e sorrir para eles. Pode ver objectos do lado de fora, ao olhar por uma janela. Pode até se lembrar do que é um objecto, mesmo que veja apenas parte dele.
Os bebés geralmente começam a gatinhar por volta dos oito meses de idade, o que melhora ainda mais a sua coordenação olho-mão.
Dos 9 aos 12 meses: agarrar em movimento
Por volta dos nove meses de idade, os bebés geralmente podem julgar muito bem a distância. É mais ou menos quando se começam a levantar para ficar de pé. Os olhos do bebé têm agora a cor final. No entanto, não é incomum ver algumas pequenas alterações, posteriormente.
Por volta dos 10 meses de idade, os bebés geralmente podem ver e avaliar a distância bem o suficiente para segurar algo entre o polegar e o indicador.
Aos 12 meses de idade, a maioria dos bebés está a gatinhar e a tentar andar.
Contudo, nem sempre as gestações ocorrem segundo a normalidade, podendo haver o caso de nascimento antes do tempo, o bebé prematuro. Nestes casos específicos, podemos ter muitos desafios a nível ocular. Prematuros são mais propensos a terem problemas de saúde, incluindo condições oculares. Por isso, devemos conhecer
o risco de problemas de visão e o que se pode fazer para ajudar a prevenir a perda de visão.
Retinopatia da Prematuridade (ROP)
Esta condição tende a ocorrer apenas em bebés prematuros. Geralmente, afecta os dois olhos (mas pode afectar um pior do que o outro) e é a principal razão pela qual as crianças têm perda de visão. Bebés que pesam cerca de 1,2 quilogramas e nascem antes das 31 semanas têm maior probabilidade de desenvolver retinopatia de prematuridade. Dos 28 mil bebés nascidos nos Estados Unidos pesando tanto ou menos, até 16 mil desenvolverão alguma forma de retinopatia de prematuro. Felizmente, a maioria terá um caso leve e não precisará de tratamento. Formas mais graves podem causar perda de visão e até cegueira se não cuidarmos correcta e atempadamente.
Desenvolvimento: Os olhos do bebé começam a crescer por volta das 16 semanas. O crescimento mais rápido ocorre nas últimas 12 semanas da gravidez. Os especialistas consideram que o nascimento prematuro interrompe esse crescimento posterior, levando à retinopatia do prematuro. Outros factores de risco incluem anemia, problemas respiratórios, transfusões de sangue e problemas de saúde. A retinopatia do prematuro faz com que os vasos sanguíneos no olho cresçam anormalmente e se espalhem pela retina. Esses novos vasos sanguíneos são frágeis e vazam sangue para o olho. O tecido cicatricial pode formar-se e afastar a retina da parte posterior do olho, causando perda de visão
Diagnóstico: Um exame oftalmológico é a única maneira de diagnosticar. Se o bebé for prematuro, devemos perguntar ao médico se precisa de ser testado. Bebés nascidos com 30 semanas ou menos, e aqueles que pesam menos de três quilogramas, precisam de ser rastreados. Se algum familiar ou conhecido nosso precisar de um exame, devemos perguntar ao médico quando é o melhor momento. Quatro a nove semanas após o nascimento é normal, mas depende de quando o bebé nasceu. Se o médico não encontrar nenhum sinal, não deve precisar de exames de
28 SAÚDE
acompanhamento.
Tratamento: A doença tem cinco estágios. Um especialista em retina que examina um bebé com retinopatia do prematuro saberá quando observar a condição e quando tratá-la, com base nas directrizes.
O tratamento pode incluir:
• Crioterapia (congelamento) ou fotocoagulação (terapia a laser) para interromper o crescimento dos vasos sanguíneos e manter a retina presa à parte posterior do olho;
• Flambagem escleral, onde o médico coloca uma faixa ao redor do olho do bebé. Isso empurra-o para dentro, o que ajuda a manter a retina no lugar contra as paredes do olho. A banda será removida em alguns meses ou anos;
• Vitrectomia, uma cirurgia mais complicada. O médico substitui o líquido vítreo dentro do olho do bebé por uma solução salina. Em seguida, remove qualquer tecido cicatricial de dentro do olho. Isso permite que a retina relaxe no lugar contra a parede do olho;
• Medicamentos colocados dentro do olho. Estão em curso estudos para verificar se os medicamentos que tratam a degeneração macular relacionada à idade em adultos podem ser usados neste caso.
O tratamento precoce pode ajudar a preservar a visão central, o que permite que o bebé veja correctamente, leia e veja cores. Alguns desses procedimentos podem levar à perda da visão lateral.
Complicações: As crianças que tiveram retinopatia do prematuro são mais propensas a ter outros problemas mais tarde:
• Miopia;
• Estrabismo (desalinhamento dos olhos);
• Ambliopia (olho preguiçoso);
• Glaucoma;
• Descolamento da retina.
O bebé irá precisar de exames oftalmológicos regulares por um especialista com a frequência recomendada. Se o médico detectá-las no início, pode tratar a maioria dessas condições sem qualquer perda de visão.
Estrabismo
Um pequeno número de crianças terá estrabismoolhos que não se alinham como deveriam. A esotropia infantil (um olho voltado para dentro) é um tipo que afecta bebés prematuros. Quando os músculos que envolvem e controlam o olho não trabalham juntos, os olhos do bebé apontarão em direcções diferentes. Os médicos pensam que isso acontece com prematuros porque o cérebro do bebé não se desenvolveu o suficiente para controlar os músculos oculares.
Outros factores também influenciam:
• Problemas cerebrais ou nervosos, como água no cérebro, sangramento no cérebro, distúrbios convulsivos, paralisia cerebral e outras condições;
• Danos na retina por retinopatia do prematuro;
• Um acumular de vasos sanguíneos sob a pele perto
do olho;
• Tumores cerebrais ou oculares;
• Uma catarata ou lesão ocular;
• Atraso no desenvolvimento;
• Distúrbios genéticos. Se o bebé tiver alguma dessas condições, precisa de consultar um oftalmologista pediátrico, especializado em cirurgia ocular e em trabalhar com crianças.
Complicações: Como os olhos focam em duas áreas diferentes, o cérebro recebe duas imagens diferentes. Para compensar isso, o cérebro do bebé ignora a imagem do olho vesgo e processa apenas a imagem do olho mais forte. Isso pode afectar a sua percepção de profundidade. Também pode levar à ambliopia ou olho preguiçoso. Isso acontece quando o olho vesgo não desenvolve boa visão ou até perde a visão. Cerca de um terço das crianças com estrabismo desenvolve ambliopia.
Tratamento: Se o bebé tiver ambliopia, o médico precisará tratá-lo primeiro. Bloqueará o olho mais forte, para que seu cérebro veja apenas imagens do olho mais fraco. Pode usar um penso oclusor ou gotas que embaçam a visão. Isso fortalecerá o olho vesgo e ajudará a enxergar melhor. O bebé pode não gostar do adesivo, mas precisa usá-lo. A ambliopia pode tornar-se permanente se não for tratada precocemente. Assim que a visão estiver estável, o médico pode fazer uma cirurgia para reparar os músculos ao redor do olho. É nesta altura que muitos pais se mostram contra este procedimento, devido à idade da criança. Mas os olhos ficarão melhores, a longo prazo, se receber tratamento antes dos dois anos de idade. Mesmo após a cirurgia, ainda pode precisar de óculos. Como o estrabismo pode retornar, deve-se seguir o cronograma regular de exames oftalmológicos recomendados pelo médico. Como podemos deduzir após esta pequena análise, é extremamente importante a divulgação da informação junto de todas as comunidades, de forma a prevenirmos que a saúde ocular saia prejudicada nestes casos. Estabelecer pontes entre os diversos profissionais de saúde, das diferentes valências, bem como a interacção posterior dos mesmos com a população em geral, vão permitir ganhos significativos na redução da taxa de cegueira por todo o país. É essencial um maior envolvimento de todos nós para contribuirmos para um futuro com melhor saúde ocular e, consequentemente, um futuro mais feliz.
29 SAÚDE
PASSOS PARA A PREPARAÇÃO CORRECTA DO LEITE PARTE I
ENTREVISTA SAÚDE DA CRIANÇA
A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (OMS) ORGANIZOU UM DOCUMENTO COM AS RECOMENDAÇÕES QUE OS PAIS DEVEM TER EM CONSIDERAÇÃO AO PREPARAR O BIBERÃO COM LEITE ARTIFICIAL, INDICANDO QUE AS FÓRMULAS DESIDRATADAS PARA LACTENTES (FDL) NÃO SÃO UM PRODUTO ESTÉRIL E PODEM ESTAR CONTAMINADAS COM MICRORGANISMOS PATOGÉNICOS SUSCEPTÍVEIS DE PROVOCAR DOENÇA GRAVE. A CORRECTA PREPARAÇÃO E MANIPULAÇÃO REDUZEM O RISCO DE DOENÇA.
Para lactentes mais vulneráveis, devem ser utilizadas as fórmulas para lactentes líquidas comercialmente estéreis prontas a beber, quando disponíveis.
As recomendações que se apresentam a seguir descrevem as boas práticas para a preparação, conservação e manipulação de FDL em ambiente doméstico, de modo a reduzir o risco de infecção. Recomenda-se que os profissionais de saúde garantam que os pais e outras pessoas envolvidas no cuidado dos lactentes recebam instruções sobre as boas práticas de preparação, conservação e manipulação de FDL.
• Lavagem e esterilização dos utensílios de preparação e de alimentação
É muito importante que todos os utensílios utilizados para a alimentação dos lactentes e preparação dos biberões/porções tenham sido cuidadosamente limpos e esterilizados, antes da utilização. As mãos devem ser sempre lavadas cuidadosamente com água e sabão, antes da limpeza e esterilização dos utensílios utilizados na preparação e na alimentação.
1. Lavagem: lavar cuidadosamente os utensílios de preparação e de alimentação (por exemplo, biberões, copos de alimentação, tetinas e colheres) em água quente com detergente. Quando são utilizados biberões, estes e as tetinas devem ser esfregados com escovilhões no interior e exterior para garantir que todos os resíduos de alimentos remanescentes são removidos. Após lavar os utensílios de preparação e de alimentação, enxaguar cuidadosamente em água potável.
2. Esterilização: se se utilizar um esterilizador comercial doméstico (por exemplo, esterilizador a vapor, eléctrico ou de microondas ou esterilizador químico), devem seguir-se as instruções do fabricante. Os utensílios de preparação e de alimentação podem também ser esterilizados pela fervura: a) encher uma panela grande com água
e submergir completamente todos os utensílios de preparação e de alimentação previamente lavados, certificando-se que não há bolhas de ar presas no interior dos utensílios; b) cobrir a panela com uma tampa e levar à fervura, garantindo que a panela não fica sem água; c) manter a panela tapada até à utilização dos utensílios.
As mãos devem ser lavadas cuidadosamente com água e sabão, antes de retirar os utensílios do esterilizador ou da panela. Recomenda-se o uso de pinças esterilizadas para manipular os utensílios de alimentação e de preparação esterilizados.
Para prevenir uma recontaminação, é preferível retirar os utensílios de alimentação e de preparação imediatamente antes de ser requerido o seu uso. Se os utensílios forem retirados do esterilizador e não forem utilizados imediatamente, devem ser tapados e guardados num local limpo. Os biberões podem ser totalmente montados para prevenir a contaminação do interior do recipiente esterilizado e do interior e exterior da tetina.
• Preparação de biberões/porções utilizando FDL
A prática mais conveniente é, de cada vez que se vai alimentar o lactente, preparar imediatamente antes o biberão/porção, uma vez que as FDL reconstituídas fornecem as condições ideais para o desenvolvimento de bactérias perigosas.
As recomendações seguintes estabelecem a forma mais segura para preparar tomas individuais de FDL, em biberões ou em copos de alimentação, para consumo imediato:
1. Limpar e desinfectar a superfície da bancada onde vai ser preparado o biberão/ porção.
2. Lavar as mãos com água e sabão e secar com papel ou com um pano limpo de uso único.
3. Ferver um volume suficiente de água
31 SAÚDE
potável. Se se utilizar uma chaleira automática, aguardar até que a chaleira se desligue; caso contrário, certificar-se que a água atingiu o ponto de fervura.
Nota: a água engarrafada não é estéril e deve ser fervida antes de ser utilizada. Os fornos microondas não devem nunca ser utilizados na preparação de FDL, porque o aquecimento pode originar “pontos quentes” que podem queimar a boca do lactente.
4. Tendo o cuidado para não se queimar, verter a quantidade adequada de água fervida, que foi deixada arrefecer ligeiramente, mas não abaixo de 70°C, para um biberão ou para um copo de alimentação lavado e esterilizado. Para atingir esta temperatura, a água não deve ser deixada a arrefecer mais do que 30 minutos após a fervura.
5. Acrescentar à água a quantidade exacta de FDL, de acordo com as instruções indicadas no rótulo. Adicionar mais ou menos pó do que o recomendado pode causar doença nos lactentes.
a) Se se utilizar biberões, encaixar o biberão e a tetina, limpos e esterilizados, de acordo com as instruções do fabricante. Agitar ou mexer suavemente até os conteúdos estarem bem misturados, tendo cuidado para não se queimar.
b) Se se utilizar copos de alimentação, misturar cuidadosamente por agitação com uma colher limpa e esterilizada, tendo cuidado para não se queimar.
6. Imediatamente após a preparação, arrefecer rapidamente os biberões/ porções até à temperatura de alimentação, mantendo-os debaixo de água corrente ou colocando-os num recipiente com água fria ou gelada. Certificar-se que o nível da água de arrefecimento está abaixo da tampa do biberão ou do bordo do copo de alimentação.
7. Secar o exterior do biberão ou do copo de alimentação com um pano limpo ou descartável.
8. Dado que foi utilizada água muito quente para preparar o biberão/porção, é essencial confirmar que a temperatura de alimentação é verificada antes da toma, de modo a evitar queimar a boca do lactente. Se necessário repetir o procedimento de arrefecimento descrito no ponto 6.
9. Eliminar quaisquer sobras de tomas que não tenham sido consumidas no intervalo de duas horas.
• Preparação de biberões/porções com antecedência
É sempre melhor preparar FDL frescas para cada toma e consumir imediatamente, uma vez que as FDL reconstituídas possuem condições ideais para o desenvolvimento de bactérias perigosas.
Por razões práticas, pode ser necessário preparar biberões/porções com antecedência.
As etapas a seguir indicadas descrevem a prática mais segura para preparar com antecedência biberões/porções a conservar para utilização posterior. Na ausência de meios de refrigeração, os biberões/porções devem ser preparados e consumidos de imediato, em vez de serem preparados com antecedência para utilização posterior.
1. Seguir as etapas 1 a 7. Se se utilizar copos de alimentação, deve ser preparado um lote de fórmula num jarro ou recipiente adequado, limpo e esterilizado, de capacidade máxima não superior a um litro e com tampa. A FDL preparada pode, então, ser refrigerada no recipiente com tampa e distribuída em copos à medida do necessário.
2. Colocar os biberões/porções arrefecidos num frigorífico. A temperatura do frigorífico não deve exceder os 5°C.
3. Os biberões/porções preparados podem ser conservados no frigorífico até 24 horas.
• Reaquecimento de biberões/porções após conservação
1. Retirar o biberão/porção do frigorífico imediatamente antes de ser necessário.
2. O tempo de reaquecimento não deve exceder 15 minutos. Para garantir um aquecimento homogéneo do biberão/porção, agitar ou mexer regularmente o biberão/porção fechado.
3. Os microondas não devem nunca ser utilizados para o reaquecimento de um biberão/porção, uma vez que um aquecimento não uniforme pode originar “pontos quentes” e provocar queimaduras na boca do lactente.
4. Verificar a temperatura de alimentação, de modo a evitar queimar a boca do lactente.
5. Eliminar quaisquer sobras de tomas reaquecidas que não tenham sido consumidas no intervalo de duas horas.
32 SAÚDE
Dê ao seu bebé o melhor
OTC, DERMOCOSMÉTICA E PUERICULTURA
NESTA ÚLTIMA EDIÇÃO DE 2022, ANALISAMOS AS VENDAS NAS FARMÁCIAS DE TRÊS GRANDES CATEGORIAS DE PRODUTOS, AO LONGO DESTE ANO: MEDICAMENTOS NÃO SUJEITOS A RECEITA MÉDICA, PRODUTOS DE DERMOCOSMÉTICA E PUERICULTURA.
ENTREVISTA ANÁLISE
Asigla OTC (Over-the-Counter) é utilizada em todo o mundo para designar medicamentos não sujeitos a receita médica, ou seja, que podem ser vendidos directamente ao consumidor sem receita médica. Entre eles estão os analgésicos, vitaminas, antiácidos, descongestionantes nasais, entre outros.
Estimamos que esta categoria represente cerca de 4,2% do volume total de vendas das farmácias. São produtos muito procurados, uma vez que são usados para tratar doenças leves de forma rápida e económica. Na nossa análise, os produtos foram classificados de acordo com o sistema em que actuam:
• Sistema respiratório;
• Sistema nervoso;
• Sistema digestivo;
• Sistema músculo-esquelético;
• Dermatologia;
• Antiparasitários;
• Sistema cardiovascular.
Verificamos que o volume de vendas desta categoria concentrou-se, principalmente, nas seguintes subcategorias: sistema respiratório (31,7%), sistema nervoso (26,1%), sistema digestivo (17,9%) e sistema músculoesquelético (12,4%).
Em quantidade de produtos vendidos, as subcategorias mais vendidas foram sistema digestivo (30%), sistema nervoso (25,7%), sistema respiratório (25,2%) e sistema músculo-esquelético (12,4%).
Entre os consumidores destes produtos, 58% referem-se a mulheres, que representaram, em 2022, 40% do volume de vendas, enquanto os homens (42%) representaram 60% das vendas. Ou seja, os homens fizeram maior consumo destes produtos em relação às mulheres.
Para os dois géneros, as vendas concentraram-se em duas faixas etárias: dos 35 aos 44 anos (53%) e dos 25 aos 34 anos (38%).
Dermocosméticos
Dermocosméticos são produtos utilizados para o cuidado da pele, pois possuem substâncias que podem ser usadas em diferentes tratamentos dermatológicos, como anti idade, redução de flacidez, manchas na pele e cicatrizes de acne. São produtos com acção cosmética e dermatológica, contendo substâncias activas com foco na beleza e saúde da derme. São produtos que não contêm corantes nem fragrâncias na sua composição. Além disso, passam por testes e pesquisas para a comprovação científica da sua segurança e eficácia.
Estimamos que os produtos desta categoria representem cerca de 3,8% do volume total
35 SAÚDE
Figura 1. Volume de vendas de OTCs em 2022
Sistema respiratório 31,7% Sistema nervoso 26,1% Sistema músculo-esquelético 12,4% Sistema digestivo 17,9% Sistema cardiovascular 1,7% Dermatologia 6,5% Antiparasitários 3,8% Sistema respiratório 25,2% Sistema nervoso 25,7% Antiparasitários 3,1% Sistema cardiovascular 1,2% Sistema digestivo 30% Sistema músculo-esquelético 12,4% Dermatologia 2,4%
Figura 2. Quantidade de OTCS vendidos em 2022
das vendas das farmácias. Classificamos os produtos nas seguintes subcategorias:
• Higiene do corpo;
• Higiene do rosto;
• Cuidados do corpo;
• Cuidados do rosto;
• Cuidados de mãos e pés;
• Protectores solares.
As subcategorias que apresentaram o maior volume de vendas foram cuidados do corpo (41%), cuidados do rosto (22%) e higiene do corpo (18%).
do corpo (35%) e cuidados do rosto (11%).
A maioria dos clientes que compraram dermocosméticos foi mulheres (70%). No entanto, o volume de compras é bastante equilibrado: 51% das compras foi feito por mulheres, contra 49% por homens.
Em quantidade de produtos vendidos, as subcategorias mais vendidas foram as mesmas: higiene do corpo (40%), cuidados
O motivo deste equilíbrio está na diferença do preço dos produtos, já que, em média, os homens compraram produtos mais caros dos que as mulheres. Os homens que compraram dermocosméticos têm quase
36 SAÚDE
Figura 3. Volume de vendas de dermocosméticos em 2022 Figura
Quantidade
dermocosméticos vendidos em 2022 Higiene do corpo 18% Cuidados do rosto 22% Cuidados do corpo 41% Cuidados de mãos e pés 1% Higiene do rosto 11% Protectores solares 7% Cuidados do rosto 11% Cuidados do corpo 35% Cuidados de mãos e pés 3% Protectores solares 3% Higiene do rosto
Higiene do corpo 40%
4.
de
8%
exclusivamente a mesma faixa etária: dos 25 aos 34 anos, que representaram 96% do total das vendas feitas a homens. No caso das mulheres, a distribuição é mais equilibrada, conforme mostra o gráfico.
• Chupetas e acessórios;
• Equipamentos e acessórios.
Os produtos com maior volume de vendas foram fraldas e acessórios (35%), hidratação (24%), higiene (14%) e muda da fralda (14%).
Em relação à quantidade de produtos vendidos, a distribuição foi parecida: fraldas e acessórios (31%), hidratação (22%), higiene (18%) e muda da fralda (18%).
Podemos perceber que mulheres de várias idades compraram dermocosméticos, havendo uma procura maior nas faixas dos 35 aos 44 anos (39%) e dos 25 aos 34 anos (33%).
Produtos de puericultura
Produtos de puericultura são aqueles utilizados para facilitar o conforto e desenvolvimento dos bebés, durante os primeiros anos de vida. Estes produtos podem ser de uso pessoal e único (como biberões, esterilizadores, fraldas, chupetas e toalhitas), bem como produtos que promovam a segurança e conforto, como berços, carrinhos, cadeiras, entre outros. Estimamos que esta categoria represente cerca de 7,1% do volume total de vendas das farmácias. Classificamos os produtos nas seguintes subcategorias:
• Fraldas e acessórios;
• Hidratação;
• Higiene;
• Muda da fralda;
• Biberões e acessórios;
Entre os consumidores destes produtos, 68% refere-se a mulheres, que representaram 57% do volume de vendas, enquanto os homens (32%) representaram 43%. Para os dois géneros, as vendas concentraram-se em duas faixas etárias: dos 25 aos 34 anos (58%) e dos 35 aos 44 anos (40%).
21% 33% 39% 7% 18-24 25-34 35-44 45-54 Higiene 14% Hidratação 24% Muda da fralda 14% Fraldas e acessórios 35% Equipamentos e acessórios 4% Chupetas e acessórios 2% Biberões e acessórios 6% Muda da fralda 18% Higiene 18% Hidratação 22% Fraldas e acessórios 31% Equipamentos e acessórios 2% Chupetas e acessórios 3% Biberões e acessórios 5%
DE
MALIGNO COM MAIOR TAXA DE MORTALIDADE NO SEXO MASCULINO”
ENTREVISTA ENTREVISTA
“O CANCRO DA PRÓSTATA CONSTITUI UMA DAS FORMAS
TUMOR
NESTA ÚLTIMA EDIÇÃO DO ANO, ESTIVEMOS À CONVERSA COM O URO-ONCOLOGISTA APOLÍNEO PAXI, ACTUALMENTE MÉDICO NO INSTITUTO ANGOLANO DE CONTROLO DE CÂNCER, QUE NOS FALOU SOBRE SINAIS, BEM COMO DA IMPORTÂNCIA DA PREVENÇÃO E DETECÇÃO PRECOCE DO CANCRO DA PRÓSTATA.
Como se caracteriza o cancro da próstata? O cancro da próstata é uma patologia maligna, digo, um tumor maligno que acomete um órgão do aparelho urinário e reprodutor masculino, denominado próstata. O cancro da próstata constitui actualmente uma das formas de tumor maligno com maior taxa de mortalidade no sexo masculino.
O cancro da próstata acomete muitos homens?
Acredita-se que um em cada seis homens poderá desenvolver um cancro da próstata durante a sua vida e que, a partir dos 80 anos, quase 70 % dos homens terá um cancro da próstata, só que nem sempre diagnosticado.
Esta patologia é mais comum em que faixa etária? Começamos a diagnosticar mais a partir dos 50 a 55 anos de idade. O que não significa que em idades mais jovens não exista. Na verdade, a partir dos 40 a 45 anos de idade já começa a existir um risco, ainda que menor, de desenvolver cancro da próstata.
Quais são os sintomas mais frequentes do cancro da próstata? Devemos sempre realçar que não existem sintomas específicos para o cancro da próstata. Os sintomas são comuns a todas as patologias da próstata, desde as benignas até às malignas: redução do jacto urinário, aumento da frequência urinária, sendo principalmente durante a noite, dor ao urinar ou logo após, dor ou desconforto ao ejacular, dor na coluna, sensação de caibras na coxa, sangue na urina, disfunção eréctil, entre outros. Na presença de sintomas, deve-se sempre procurar ajuda médica.
Os urologistas recomendam que todos os homens acima de 45 anos façam anualmente o exame de PSA e o toque rectal. De que forma a combinação desses dois exames pode ajudar na prevenção do cancro da próstata?
Ao fazermos o toque rectal e o PSA, melhoramos a nossa capacidade de indicar uma biopsia de próstata e, consequentemente,
um paciente com cancro. A maior parte dos casos é diagnosticada pela alteração do valor
diagnosticar
Dr. Apolíneo Felizardo P. Paxi
Especialista em Urologia e Uro-oncologia pela Faculdade de Medicina do ABC, no Brasil. Cirurgião geral e do trauma. MBA em Gestão Executiva de Hospitais e Sistemas de Saúde pela mesma faculdade. Fellowship em Andrologia e Infertilidade Masculina pelo Projecto Alfa de Fertilidade de São Paulo – Brasil.
do PSA, em torno de 75%. Já outros 25% poderá ter um PSA normal e só o toque rectal alterado ajudará nestes casos. Nenhum deles anula o outro, pelo menos por enquanto.
Quais são as principais opções de tratamento para este tipo de cancro?
Dependendo do momento em que se faça o diagnóstico, temos desde vigilância activa, uma modalidade de tratamento em que, simplesmente, se vigia o paciente com exames periódicos de PSA e toque rectal até a doença apresentar algum ligeiro sinal de evolução. Aí, prossegue-se para tratamento com intenção de cura. Esta modalidade de tratamento aplica-se a pacientes diagnosticados em etapas muito precoces.
Ainda temos a radioterapia, que consiste em irradiar a próstata de forma a queimar as células do cancro. Este tratamento também pode ser feito com intenção de cura.
A cirurgia, denominada prostatectomia radical, consiste em retirar a próstata e vesículas seminais. Constitui actualmente o tratamento padrão ouro e tem também intenção de cura.
Temos ainda a hormonoterapia e quimioterapia, que são aplicadas a pacientes com doença avançada.
Qual é a relação entre a obesidade e o cancro da próstata?
Relatos na literatura médica indicam que, em obesos, normalmente, o cancro da próstata acaba por ser mais agressivo e de mais difícil tratamento.
Sabemos que a incidência do cancro da próstata está a aumentar a cada ano em Angola. Quais as principais acções em relação a estes números?
Temos melhorado a sensibilização, acima de tudo. Não temos como intenção reduzir a incidência de cancro da próstata, porque muitos dos factores envolvidos no seu desenvolvimento são imutáveis e alguns de difícil controlo. A nossa intenção é, acima de tudo, que se faça um diagnóstico precoce e tratamento atempado, de forma a evitarmos perder vidas ou incapacitar homens por uma patologia que pode ser curável.
Na sua opinião, quais são as principais barreiras que impedem os homens de cuidarem da sua saúde, em geral, e da saúde da próstata, em particular? Uma noção errada de sexo forte e preconceito.
Qual é a importância da informação, sabendo que a maioria dos homens não se preocupa com sua saúde?
Sensibilização e consciencialização. Um homem com saúde serve melhor a sociedade e a sua família.
A realidade do país e a dimensão de Angola mostram grandes diferenças culturais entre as diferentes províncias. Acredita que a educação para a saúde da próstata deve ser adaptada a cada uma das províncias?
Claro que sim. Em si, o processo de educação deve sempre estar aliado à cultura. Devemos sempre encontrar um
meio termo, de forma a não violar ou desonrar hábitos culturais, e passarmos a informação necessária.
Existe no território angolano alguma planta medicinal que é usada para o tratamento do cancro da próstata?
Certas correntes de terapeutas prometem isso, mas ao certo nada se verifica. Todos os dias, temos pacientes que foram enganados por estas promessas e acabam por procurar os serviços de saúde convencional já numa etapa muito avançada da doença, depois de perderem muito tempo e dinheiro. Sou médico e homem da ciência, devo dizer que, até ao momento, em parte alguma do mundo, existe a comprovação de alguma planta que cure o cancro da próstata.
Qual é a utilidade do toque rectal?
Pelo toque rectal, sentimos a consistência e superfície da próstata, além de também termos uma ideia do seu tamanho. São informações que um aparelho não consegue fornecer.
Porque ainda há tanto preconceito e medo da realização do toque rectal?
Sou muito contra a forma como se aborda a questão do toque rectal, sobretudo, durante o Novembro Azul. Fazer piadas com este exame aumenta o nível de resistência e rejeição. Devemos falar deste exame com a seriedade que exige.
Até à data, quantos casos de cancro da próstata foram registados em Angola?
Até ao momento, não temos um registo confiável e unificado do cancro para Angola. Temos, na verdade, muito subdiagnóstico e subnotificação. Acredito que os dados que temos ao nível do Instituto do Câncer estão muito abaixo da realidade, razão pela qual prefiro não passar números.
Considerando todas as tipologias de cancro registadas em Angola, qual é a taxa do cancro da próstata?
No sexo masculino, tem demonstrado ser o mais frequente.
Que alimentos poderão estar associados à prevenção do cancro da proposta?
Nada tem evidência forte, porém, hoje sabemos que alimentos o mais naturais possível e tomate maduro têm grandes benefícios. Assim como sementes oleaginosas e castanhas.
A profissão exercida por alguns homens poderá torná-los mais propensos a contrair cancro da próstata?
Não temos evidências que possam sustentar isso. Por isso, diria que não.
40 SAÚDE
41 SAÚDE
FERTILIDADE MASCULINA E ALIMENTAÇÃO–PARTE II
DA MESMA FORMA QUE HÁ ALIMENTOS QUE FAVORECEM A FERTILIDADE MASCULINA, OUTROS PREJUDICAM-NA. CONHEÇA OS ESTILOS DE VIDA E ALIMENTOS ANTI-FERTLIDADE. UMA ALIMENTAÇÃO POBRE EM NUTRIENTES, A OBESIDADE OU O BAIXO PESO SÃO FACTORES QUE PODEM INFLUENCIAR A PRODUÇÃO E A QUALIDADE DO ESPERMA. OS PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS DEVEM SER EVITADOS, DANDO-SE SEMPRE PREFERÊNCIA A ALIMENTOS FRESCOS E ORGÂNICOS, PORQUE OS AGROTÓXICOS E OS CONSERVANTES PODEM ACTUAR NEGATIVAMENTE SOBRE O SISTEMA HORMONAL MASCULINO.
ENTREVISTA PERSPECTIVA
Dr. Abednego Chivinda
Licenciado em Nutrição pela Universidade Sul Africana de Medicina e Saúde Natural Cidade do Cabo -África do Sul. Exerce actualmente a função de Consultor Nacional de Nutrição na Unicef
Aqui vão algumas dicas:
• Café em excesso: o consumo de café não é proibido, mas deve ser ingerido com cautela. A cafeína prejudica a capacidade do organismo absorver ferro e cálcio, nutrientes importantes para a fertilidade. Além disso, o excesso de café aumenta o número de radicais livres, dificultando a concepção. É indicada a ingestão de 300 miligramas de cafeína por dia, o que corresponde a cerca de três expressos. É importante lembrar que não somente o café contém cafeína, mas também outras bebidas, como refrigerantes, chás e energéticas. Existem fortes evidências de que a ingestão em excesso de bebidas ricas em cafeína, especialmente o café, mas também as colas, o chocolate ou o chá preto, pode afectar os níveis de fertilidade masculina.
• Gordura trans: a gordura trans pode levar à obesidade e a outras doenças metabólicas, como diabetes e hipertensão, que podem prejudicar a fertilidade. Esses quadros podem causar dificuldades circulatórias. A gordura trans está presente nas margarinas, batatas fritas e semelhantes, aperitivos salgados, doces industrializados, alimentos processados ou fast-food.
• Hidratos de carbono refinados: são exemplo o pão, massa branca, bolos e bolachas. Prefira sempre as versões integrais destes tipos de alimentos.
• Excesso de sal
• Produtos lácteos não pasteurizados
• Alimentos modificados e processados industrialmente: onde são usados conservantes, corantes e emulsionantes ou outros produtos químicos, ao longo do processo de produção e/ou transformação.
• Doces e biscoitos, bolos e afins: açúcar e alimentos ricos em açúcar (que fatigam o sistema imunitário), de elevado teor calórico, mas com valor nutricional nulo, e que fornecem apenas lípidos prejudiciais ao organismo (ácidos gordos saturados e trans) combinando-se, muitas vezes, com elevados níveis de sal.
• Ovos e carnes cruas: alimentos que aumentam o risco de exposição ao parasita da toxoplasmose (protozoário Toxoplasma gondii), doença que pode causar graves complicações no desenvolvimento dos espermatozoides.
• Álcool: as bebidas alcoólicas afectam os níveis de fertilidade masculina e a diminuem o número, saúde e mobilidade dos espermatozoides, afectando a fertilidade masculina.
Conheça, agora, alguns estilos de vida que podem afectar a fertilidade masculina:
• Stresse crónico
• Tabagismo
• Consumo de álcool
• Obesidade
• Desnutrição
• Sedentarismo
• Prática excessiva de atividade física
• Uso de entorpecentes
• Consumo excessivo de chá preto
• Anabolizantes
• Quimioterapia e radioterapia
Neste grande leque de causas, tudo aquilo que ingerimos e absorvemos desempenha um papel importante, principalmente, quando se trata de restaurar a fertilidade masculina. Todo detalhe conta e muito. Para que o corpo produza espermatozoides de qualidade, com formato apropriado, que consigam movimentar-se bem e fertilizar o óvulo, é necessário um adequado equilíbrio nutricional. O meu conselho é que os homens tenham uma dieta equilibrada, que deve incluir produtos lácteos e vegetais frescos, combinada com sono e exercícios adequados.
Alimentação saudável, vida saudável
Bibliografia: “Fertilidade e Alimentação” (Ed. LaVidapress), do médico Arnaldo Cambiaghi e da nutricionista Débora Rosa, São Paulo
43 SAÚDE
SUMO DE TOMATE: UMA BEBIDA NUTRITIVA
Para fazer a versão mais simples, basta bater o tomate (sem as sementes) com um pouco de gelo e água e, quem sabe, umas gotas de limão. Mesmo assim, também pode incrementar a receita com folhas de manjericão e outros temperos.
Ingredientes
• 3 tomates bem maduros
• 50 ml de água filtrada
• 1 pitada de sal
• Gelo a gosto
• 1 colher de sobremesa de sumo de limão (opcional)
Primeiro, corte os tomates e tire as sementes. Depois, coloque o miolo (junto com a pele) no liquidificador, adicione a água, a pitada de sal, o sumo de limão (opcional) e bata até que a mistura fique homogénea. Se desejar, pode peneirar a bebida e servir com pedras de gelo a gosto.
Benefícios do sumo de tomate • Faz bem à saúde do coração O sumo de tomate também funciona como grande aliado da saúde do coração, uma vez que tem alto teor de licopeno, um antioxidante que melhora a circulação sanguínea e previne doenças cardíacas, e também fornece fibras alimentares, vitaminas B3 e B6, que ajudam directamente no controlo do colesterol e previnem possíveis problemas mais graves, como hipertensão ou derrame.
• Ajuda a fortalecer os ossos e músculos O sumo de tomate também é muito indicado para a dieta de quem pratica muito exercício físico, uma vez que tem um alto teor de vitaminas e minerais que contribuem para o fortalecimento dos ossos e músculos e melhoram o funcionamento de defesa do corpo. Também é rico em potássio e outros minerais, como cálcio e fósforo, fundamentais para o fortalecimento dos ossos.
• Previne o envelhecimento precoce e ajuda a hidratar o organismo Por ter um alto teor de antioxidantes, em especial o licopeno, que traz vários benefícios ao organismo, o sumo de tomate é óptimo para a saúde da pele, pois ajuda a evitar o envelhecimento precoce (previne o surgimento de rugas) e também mantém o cabelo fortalecido. Outro facto interessante do sumo de tomate é que ajuda a hidratar o organismo, funcionando como bom remédio caseiro para tratar ressacas e diarreias. Indica-se a toma pela manhã, para iniciar o dia com o organismo devidamente limpo e hidratado.
EM VEZ DE PREPARAR SUMOS MAIS TRADICIONAIS, COMO DE LIMÃO, LARANJA, ABACAXI OU MANGA, QUE TAL EXPERIMENTAR O SUMO DE TOMATE? ALÉM DE SER UMA ALTERNATIVA BEM NUTRITIVA, RICA EM ANTIOXIDANTES E POTÁSSIO, TEM UM EFEITO DETOX E AJUDA A FORTALECER A IMUNIDADE.
RECEITA
45 SAÚDE
DIABETES MELLITUS X ATENDIMENTO ODONTOLÓGICO
DURANTE O ATENDIMENTO ODONTOLÓGICO, UMA CRITERIOSA ANAMNESE É INDISPENSÁVEL PARA A DECISÃO DAS CONDUTAS TERAPÊUTICAS E REALIZAÇÃO CORRECTA DOS PROCEDIMENTOS EM PACIENTES COM DIABETES MELLITUS. TODOS OS PROCEDIMENTOS DEVEM SER REALIZADOS DE ACORDO COM AS PARTICULARIDADES DO CASO A SER TRATADO, PROPORCIONANDO TRANQUILIDADE E BEM-ESTAR AOS PACIENTES DURANTE O ATENDIMENTO.
PERSPECTIVA
Na primeira consulta odontológica, o médico dentista deve obter informações a respeito do tipo de Diabetes Mellitus (DM), tratamentos prévios e medicações utilizadas pelo paciente, bem como classificá-lo de acordo com o grau de risco para os procedimentos clínicos. É importante ressaltar que pacientes submetidos à insulinoterapia apresentam susceptibilidade aumentada à hipoglicemia durante o procedimento odontológico. Adicionalmente, os hipoglicemiantes orais podem sofrer interacções medicamentosas com fármacos prescritos pelo cirurgiãodentista.
Também devem ser investigados quadros infecciosos, o uso de antibióticos e de outros medicamentos para complicações relacionadas à referida doença. O médico dentista deve estar atento a possíveis sinais e sintomas, como perda de peso e polifagia, que são sugestivos de diabetes tipo I, ou ainda hipertensão e obesidade, os quais sugerem diabetes tipo II. No exame intraoral, devem ser avaliados diversos parâmetros periodontais, a exemplo da presença de biofilme e/ou cálculo dentário, sangramento gengival, profundidade de sondagem, recessão gengival, mobilidade dentária, lesões de furca, bem como a presença de cáries, restaurações defeituosas, infecções e hálito cetónico. Torna-se necessário, portanto, incluir na conduta clínica uma criteriosa avaliação da saúde do periodonto, além de profilaxias frequentes, em associação a orientações de higiene oral. Essas condutas
preventivas em pacientes com DM são essenciais, principalmente, tendo em vista o aumento do risco de doença periodontal em pacientes diabéticos, quando comparado com o indivíduo saudável, apresentando, assim, maior reabsorção óssea alveolar, inflamação gengival e abscessos do periodonto.
Consultas
Considerando que as consultas devem ser realizadas com o metabolismo do paciente compensado, sob acompanhamento médico regular e com boa resposta terapêutica. Se o paciente estiver a precisar de um tratamento de emergência, no caso da diabetes estar descompensada, será atendido, mas tendem a ocorrer complicações e as sessões a ser adiadas. Não podemos esquecer que os pacientes com DM, com medo e ansiedade, entram em alerta por conta da libertação de adrenalina, tendo, por conseguinte, um aumento da glicemia. Prevendo-se todos os cuidados necessários para esses pacientes, o horário das consultas deve ser preferencialmente de manhã, quando a insulina atinge o seu nível máximo de secreção . Adicionalmente, durante a manhã, os níveis endógenos de corticosteroides estão mais elevados, permitindo uma maior tolerância do paciente ao aumento da adrenalina e da glicemia, que resulta de situações de stresse.
As consultas longas devem ser evitadas, mas, caso se necessite de um tempo maior
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Dra.Carla Bertaglia Soares Santana
Directora da Clínica Raizes Dentistas, Cirurgiã Dentista (UMESP), Especialista em Cirurgia e Prótese sobre Implantes (UNIP)
e o paciente apresentar sinais de hipoglicemia, o médico dentista deverá interromper o procedimento clínico e oferecer ao paciente algum alimento leve, no intuito de reverter a situação.
Além disso, o paciente deve alimentar-se normalmente, antes das consultas. O médico dentista deverá esclarecê-lo sobre a adequada dieta e higiene bucal, bem como aferir a pressão arterial antes e após a consulta.
Anestésicos
Nos procedimentos que são realizados em consultório, devem ser administrados anestésicos. A anestesia local define-se como um bloqueio reversível da condução nervosa, que determina a perda das sensações sem alteração do nível de consciência. Um bom anestésico deve possuir baixa toxicidade sistémica, não irritar os tecidos e não causar lesão permanente às estruturas nervosas.
O tempo para início do efeito anestésico deve ser o mais curto possível e a sua acção reversível, com duração suficiente para a realização do procedimento realizado.
O anestésico mepivacaína a 3% sem vasoconstritor, bem como a prilocaína associada à felipressina podem ser administrados em pacientes diabéticos.
A felipressina pode ser utilizada com estabilidade em pacientes compensados através de dieta, em pacientes insulinodependentes ou que fazem uso de medicamentos hipoglicemiantes orais. Para uma escolha certa, prefira sempre o anestésico mepivacaína .
Em relação à dor leve a moderada no pósoperatório, pode-se prescrever a dipirona e o paracetamol nas mesmas dosagens e posologias utilizadas em pacientes que se encontram em condições normais.
Em situações de edema e dor intensa, as opções mais recomendáveis são os corticosteroides de acção prolongada, tais como a betametasona e a dexametasona, administrados no máximo em duas doses, visto que tais fármacos tendem a aumentar a glicemia.
Conduta terapêutica: urgência/ emergência em pacientes com choque insulínico (hipoglicemia) no consultório odontológico
A hipoglicemia é a queda súbita dos níveis séricos de glicose, podendo ser de origem orgânica ou funcional. Podemos constatar a hipoglicemia quando o valor sanguíneo de glicose estiver abaixo de 40 miligramas por decilitro de sangue, acompanhado de sinais e sintomas como palidez, tremores, taquicardia, sudorese, tontura, sonolência, confusão mental, fraqueza, cefaleia e visão turva. Na presença de alguma dessas manifestações, o médico dentista deverá suspender o procedimento e oferecer ao paciente um alimento rico em carboidratos, tal como sumo de frutas ou mel. Em seguida, deverá monitorizar a glicemia capilar a cada 15 minutos, até que haja a sua normalização. Caso não haja recuperação, deve-se accionar o socorro médico, prosseguindo com a monitorização dos sinais vitais. Diante de quadros de hipoglicemia, em que o paciente esteja inconsciente, não se deverá utilizar medicação por via oral, mas sim medicação intravenosa.
Além do nosso protocolo para atendimento aos pacientes com DM, tudo o descrito até aqui, existe sempre a comunicação entre o endocrinologista responsável por aquele paciente com o médico dentista responsável em qualquer uma das nossas unidades das clínicas Raizes Dentistas. As medicações são prescritas com autorização e as escolhas dos fármacos são feitas de maneira que não atrapalhem a terapêutica já estabelecida ao paciente.
A Diabetes Mellitus é um problema de saúde pública, necessitando de grandes cuidados, não apenas por parte do cirurgiãodentista, como também por uma equipa multiprofissional. Tais profissionais devem estar envolvidos na prática preventiva da doença. Durante o atendimento odontológico, uma criteriosa anamnese é indispensável para a decisão das condutas terapêuticas e realização correcta dos procedimentos. Recomenda-se especial atenção aos tipos e posologia dos medicamentos utilizados pelo paciente, bem como à escolha dos anestésicos locais. Por fim, ressalta-se que todos os procedimentos devem ser realizados de acordo com as particularidades do caso a ser tratado, proporcionando tranquilidade e bemestar aos pacientes durante o atendimento.
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49 SAÚDE PUB RIGOR E CON F O RT O N A MED I Ç Ã O D A G LICEM I A Sistema de auto-codificação Amostra de 0,3 µg/L Leitura em 3 segundos Memória para 365 testes D IA GN O S TI C A R C O NHE C E R C O NT R O L A R V IV E R C O M D IA B E TE S Para mais informações contacte: geral@australpharma.net ou visite www.australpharma.net MKT01128 www.elementdiabetes.com
DEZEMBRITE: SÍNDROME DO FIM DE ANO
MUITAS VEZES, ASSOCIA-SE O NATAL À FAMÍLIA E AO REENCONTRO, MAS ISSO TAMBÉM TRAZ MEMÓRIAS NEGATIVAS, MÁGOAS E REMORSOS, QUE INIBEM QUE AS PESSOAS DESFRUTEM EM PLENO DESTE PERÍODO. O MÊS DE DEZEMBRO É MARCADO POR UMA “EPIDEMIA” MAIS CONHECIDA COMO “DEZEMBRITE”, QUE, APESAR DE PASSAR DESAPERCEBIDA, É REAL E ACONTECE JUSTAMENTE NESTA FASE, QUANDO AS PESSOAS ESTÃO ATAREFADAS COM TANTAS COISAS PARA FAZER.
Compromissos sociais, organização das festas em família, comprar presentes, enfrentar filas, concluir a pendência do trabalho, planear o Réveillon, projectar o novo ano. A extensa lista para os 31 dias de dezembro e a falta de tempo são motivo para ansiedade, irritabilidade e stresse que, somados, podem influenciar a saúde física e mental.
Aliado a isso, existe ainda a pressão da check-list pessoal. É hora de colocar na balança tudo que foi planeado para o ano e analisar se as metas foram
cumpridas. Se houver pendências, é possível que alguns sintam tristeza, depressão e angústia.
Causas da Síndrome do Fim de Ano
Os factores que explicam a chegada de emoções tão pesadas e o aumento da dificuldade em lidar com as adversidades são vários, mas é possível mapear alguns, com base nas demandas adicionais que não existem nos outros meses do ano, tais como:
• Excesso de trabalho e dificuldade em gerir bem o tempo;
• Falta de dinheiro e cobrança por presentes;
• Conflitos em reuniões familiares e comparações com os outros;
50 SAÚDE
ENTREVISTA SAÚDE MENTAL
• Saudade de pessoas que já faleceram;
• Pressão por felicidade e gratidão;
• Culpa por coisas que não realizamos.
Evitar a Síndrome do Fim de Ano Apesar de ser quase inevitável não ter algum tipo de ansiedade nesta época, existem algumas dicas que podem ajudar a lidar de forma mais tranquila. Culparse por tudo o que aconteceu durante o ano, por exemplo, prejudica ainda mais a saúde mental, gerando um enorme gasto de energia emocional. Consequentemente, isso afecta as actividades quotidianas, os relacionamentos e o bem-estar no geral.
Por isso, é necessário ser-se grato e ter o hábito de sempre destacar as conquistas diárias e as qualidades. A gratidão é um sentimento de reconhecimento por algo bom que trouxe benefícios. Geralmente, quando as pessoas agradecem, as situações fluem de uma maneira melhor. Adoptar práticas que visam o bem-estar e o relaxamento também são óptimas alternativas, como a meditação e o ioga. Através dos exercícios de respiração, o nível de stresse e os sintomas da ansiedade e da depressão podem ser reduzidos.
51 SAÚDE
OS BENEFÍCIOS DA ARTEMÍSIA
A ARTEMÍSIA É UMA PLANTA MEDICINAL, DA ESPÉCIE ARTEMISIA VULGARIS, RICA EM FLAVONÓIDES, SESQUITERPENOS E ÁCIDOS FENÓLICOS, COM PROPRIEDADES ANTI-INFLAMATÓRIAS, ANTIOXIDANTES, ANTIESPASMÓDICAS E ANTISSÉPTICAS. POR ISSO, ESTA PLANTA É POPULARMENTE UTILIZADA POR MULHERES PARA TRATAR PROBLEMAS COMO A MENSTRUAÇÃO IRREGULAR, CÓLICAS MENSTRUAIS E PARA ACALMAR A ANSIEDADE, POR EXEMPLO.
As partes normalmente utilizadas da artemísia, que também é popularmente conhecida como camomila-do-campo, erva-de-fogo ou rainha-das-ervas, são as folhas e as flores, para o preparo do chá ou compressas.
A artemísia possui propriedades anti-inflamatórias, antioxidantes, antiespasmódicas, antissépticas, antimaláricas, vermífugas, anti-hipertensivas e protectoras do fígado, sendo popularmente utilizada para tratar da febre, asma, má digestão, dor de estômago, cólicas intestinais, doenças do
fígado ou da vesícula biliar, eliminar vermes intestinais, melhorar o humor, reumatismo, dor muscular, dor de cabeça ou enxaqueca, irritabilidade, depressão ou ansiedade, stresse, entre outros problemas.
Além disso, a artemísia possui propriedades estimulantes do útero, o que pode ajudar a estimular o fluxo menstrual, regular a menstruação ou aliviar cólicas.
Alguns estudos mostram que a artemísia possui substâncias com acção antiinflamatória, como a artemisinina e a
52 SAÚDE
ENTREVISTA NATUREZA
cardamonina, que ajudam a reduzir a inflamação causada pela doença de Crohn, o que pode ajudar a melhorar o humor e a qualidade de vida de pessoas com esta patologia. No entanto, ainda são necessários mais estudos que comprovem este benefício.
Embora tenha muitos benefícios, esta planta medicinal não deve substituir o tratamento médico, nem ser utilizada sem orientação pelo médico ou profissional de saúde com experiência com o uso de plantas medicinais.
Os extractos de origem vegetal têm sido cada vez mais utilizados nas indústrias farmacêutica e cosmética, originando os tão desejados produtos naturais com actividades terapêuticas. Porém, na obtenção destes extractos, aplicam-se grandes
selectiva, a qual leva à obtenção de extractos com composição química diferenciada. A padronização de extractos vegetais tem papel fundamental na obtenção de produtos com qualidade.
Como usar a artemísia?
As partes normalmente utilizadas da artemísia são as flores ou as folhas, de onde são extraídas as substâncias activas com propriedades medicinais.
• Chá de artemísia: pode ser preparado com as flores ou as folhas desta planta, para auxiliar no tratamento da má digestão, febre, cólica menstrual ou intestinal, dor de cabeça, ou ansiedade, por exemplo.
• Compressa de artemísia: pode ser usada para aplicar sobre a pele com ferida ou irritação, mas não deve ser usada sobre feridas abertas ou sangrando.
volumes de solventes tóxicos, de difícil remoção da matéria-prima, resultando na sua contaminação e consequentes manifestações alérgicas quando aplicados sobre a pele.
A tendência global da busca por tecnologias ecologicamente correctas ou sustentáveis tem impulsionado estudos e aplicações industriais de tecnologias envolvendo fluidos supercríticos. Este facto decorre das diversas vantagens em relação aos métodos convencionais de extracção, especialmente por ser uma tecnologia limpa e
Quem não deve usar?
A artemísia não deve ser usada por grávidas, uma vez que pode provocar contracções uterinas e causar o aborto. Esta planta também não deve ser usada por mulheres em amamentação.
Além disso, a artemísia não deve ser usada por pessoas que tenham alergia à artemísia ou ambrósia, crisântemo, malmequer, margarida, girassol, bétula, aipo, cenoura, mostarda branca, mel, geleia real, avelã, azeitona, látex, pêssego, maçã, kiwi, sálvia, salsão ou tabaco.
53 SAÚDE
A FELICIDADE EM SALDOS: SER OU SER FELIZ?
POR CENTENAS DE ANOS, MANTIVEMO-NOS ACORRENTADOS ÀS EXPECTATIVAS SOCIAIS NO QUE TOCA AOS NOSSOS RELACIONAMENTOS E REALIZAÇÕES; VIVEMOS OBSTINADOS POR ESTARMOS NA NORMA, PELA BUSCA DOS PRÍNCIPES E PRINCESAS IDEAIS E PELOS FINAIS FELIZES E PERFEITOS PRECONIZADOS PELA INDÚSTRIA DA FICÇÃO LITERÁRIA, TELEVISIVA E CINEMATOGRÁFICA. PORÉM, A CONTEMPORANEIDADE “MILLENNIAL” TROUXE-NOS UMA NOVA OBSESSÃO – A IMPOSIÇÃO DE SERMOS GRATOS, DE SERMOS EMPÁTICOS, RESILIENTES, DE ENCONTRARMOS O NOSSO EU AUTÊNTICO E A OBRIGATORIEDADE DE TRAZERMOS SIGNIFICADO À NOSSA EXISTÊNCIA. PRECONIZAMOS QUE EVOLUÍMOS E QUE ESTE “NOVO VÍCIO” É MAIS SAUDÁVEL, MAIS HUMANISTA E MAIS SUSTENTÁVEL. SERÁ? A QUE CUSTO (FINANCEIRO, FÍSICO, EMOCIONAL E RELACIONAL) NOS CHEGA ESTA NOVA FELICIDADE?
ENTREVISTA RUBRICA DA FELICIDADE
Co-founder & Head of Experience Design da empresa OKU HUMAN. Licenciado em Psicologia Aplicada e Mestre em Psicologia Social e das Organizações pelo Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida. Chief Hapiness Officer pela Hapiness Business School.
O“eu” moderno, nesta nova economia de experiências, é insaciável de vivências plenas, da vulnerabilidade emocional e do bem-estar individual. O nosso storytelling de felicidade passa inevitavelmente pela superação pessoal, pela positividade e pela crença absoluta de que a persistência e o compromisso compulsivo no ultrapassar de objectivos constantes são a única forma de sermos genuínos e de respeitarmos a nossa individualidade. No entanto, esta nova construção do ser social acaba por resultar numa existência extremamente egoica e solitária, numa parca resistência à frustração (sobretudo, a tudo aquilo que contrarie a ausência de sofrimento), numa instrumentalização dos relacionamentos interpessoais na busca pela experimentação do prazer próprio imediato e numa hipocrisia alimentada pela intolerância extrema a tudo o que seja encarado como socialmente negativo. As diversas redes sociais transformaramse numa global montra digital para mostrar o quanto estamos felizes. Na realidade, não se trata de sermos verdadeiramente felizes, mas sobre parecermos sê-lo através de fotos, reels, posts, gifs, etc. Ensaiamos diariamente um papel principal numa comédia romântica a que chamamos de “felicidade”, sem nos questionarmos o que é de facto e como defini-la para nós mesmos e para os que nos rodeiam. Estas plataformas geraram uma visão distorcida do bem-estar, do prazer, da satisfação pessoal e do autoconceito. Vivemos actualmente numa sociedade obcecada pela felicidade; ansiamos por isso, mas sentimo-nos incapazes de alcançá-la.
A felicidade tornou-se num produto comercial vendido em shots de autoajuda, de coaching diverso, mindfulness, palestras motivacionais e multimédia de positividade inebriante. Este novo modelo de negócio não é inovador, sustentase na eterna insegurança e na insatisfação humana e procura uma audiência que deseja aperfeiçoar-se, comprometendo-se às famosas listas “como ser ou tornar-se mais...”, sem nunca, ou parcas vezes, se ter reflectido e autoquestionado.
O ciclo vicioso a que estamos presos, entre estarmos satisfeitos e insatisfeitos, felizes e infelizes, é explicado pela Adaptação Hedónica. Esta é a tendência observada nos seres humanos de retornar rapidamente a um nível relativamente estável de felicidade, após grandes eventos positivos, negativos ou mudanças de vida. Sempre que alcançamos algo que pensámos que nos faria felizes, aquele sentimento de realização com que fantasiávamos há tanto tempo, afinal, não dura assim tanto. Aconteça o que acontecer, retornamos sempre ao nosso nível base de felicidade. O prazer é subjectivo e é naturalmente transitório. Quando o prazer é tratado como um objectivo a ser alcançado, ele torna-se uma ilusão cada vez mais distante. Este não é, e nunca poderia ser, um artigo contra a felicidade. É, sim, uma reflexão para cada um de nós e, em especial, para os agentes promotores de desenvolvimento humano. O extremismo da felicidade (e qualquer outro) não é a solução para o sentimento de insegurança emocional, para a insatisfação pessoal constante e para a ansiedade moderna. Devemo-nos questionar (ou fazer questionar) sobre os pressupostos que nos são apresentados e descobrirmos a liberdade de decidirmos que é bom para nós, não como seres solitários, mas como um conjunto social. A demanda pela felicidade não substitui o pensamento crítico e analítico sobre nós mesmos e sobre o que nos rodeia. (Auto) Conhecimento, respeito pelos nossos valores e o comportamento ético e justo serão sempre um propósito melhor.
55 SAÚDE
Dr. Cláudio Osório
REPÚBLICA DE ANGOLA MINISTÉRIO DA SAÚDE
REPÚBLICA DE ANGOLA MINISTÉRIO DA SAÚDE
KASSAI: A IMPORTÂNCIA DO FEEDBACK DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE
EM 2021, O MINISTÉRIO DA SAÚDE FEZ O LANÇAMENTO OFICIAL DA PLATAFORMA KASSAI, RECONHECENDO-A E INDICANDO-A PARA USO, A NÍVEL NACIONAL, COMO PARTE DA FORMAÇÃO CONTÍNUA DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE. O DESENVOLVIMENTO DESTA PLATAFORMA FOI POSSÍVEL COM O FINANCIAMENTO DA AGÊNCIA DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA PARA O DESENVOLVIMENTO INTERNACIONAL (USAID)/ INICIATIVA PRESIDENCIAL CONTRA A MALÁRIA (PMI) E COM A EXECUÇÃO DA PSI ANGOLA, EM PARCERIA COM A APPY PEOPLE. O BALANÇO FALA POR SI. EM POUCO MAIS DE UM ANO, MAIS DE 6.540 PROFISSIONAIS DE SAÚDE FIZERAM CURSOS NO KASSAI E SÃO MAIS 12.952 CERTIFICADOS DE APROVAÇÃO EMITIDOS NOS DIVERSOS CURSOS DISPONÍVEIS NO KASSAI.
PARA ACEDER AO KASSAI, VÁ A WWW.KASSAI.AO NO SEU COMPUTADOR OU TELEFONE DIGITAL/TABLET, E SIGA AS INSTRUÇÕES. O ACESSO É GRATUITO
56 SAÚDE
ENTREVISTA REPORTAGEM
Ototal de horas de formação investidas pelos formandos no Kassai ultrapassa já as 18 mil, ou seja, o equivalente a 756 dias completos. Embora os cursos na área de malária sejam, até agora, os que contam com maior número de inscritos, é já notória a busca por formação nas áreas da saúde reprodutiva, da saúde materno-infantil e da Covid-19.
O feedback dos formandos é bastante positivo. “Já completei quatro cursos sobre malária, na plataforma Kassai, e aprendi muito mais sobre a rapidez com que a malária se pode complicar para as crianças e para as mulheres grávidas.
É importante promover estas novas oportunidades de aprendizagem, para que os profissionais de saúde estejam motivados a melhorar o tratamento dos casos de paludismo das nossas mulheres e crianças”. É desta forma que Margarida Costa Belsa, Enfermeira no Hospital Pediárico do Saurimo, na Lunda Sul, relata a sua experiência no Kassai.
Baltazar Cangolo, Chefe de Enfermagem no mesmo hospital, acrescenta: “a minha percepção dos cuidados e os meus conhecimentos sobre a administração terapêutica melhoraram muito com estas formações. E nesta instituição, o nível de cuidados também melhorou depois de eu e os meus colegas termos recebido formação. É importante que isto funcione como uma formação permanente no local de trabalho no nosso estabelecimento de saúde”.
A Dra. Milagre Gambowa, Médica no Centro de Saúde Txizainga, em Lunda Sul, mostra o seu certificado do curso Malária - Visão Geral, um dos quatro cursos que já completou no Kassai. “Pude melhorar os meus conhecimentos no tratamento de casos de malária. Os
cursos são online e de fácil acesso e adoro o facto de se poder aceder-lhes a partir de qualquer lugar e em qualquer altura. Médicos e enfermeiros devem aceder a estes cursos para estarem mais bem equipados para combater a malária”.
Estes três testemunhos ilustram a forma como a plataforma e a experiência formativa são olhadas pelos profissionais de saúde. Sendo uma plataforma dinâmica, o Kassai acompanha de perto o feedback dos utilizadores para poder desenvolverse e crescer de forma responsiva aos interesses e necessidades dos profissionais de saúde.
Com o apoio da UNITEL, toda a plataforma é acessível a custo zero. Basta ir a www.kassai.ao e, mesmo sem saldo de dados, o formando consegue aceder à plataforma e realizar a sua formação.
A oferta de cursos continua a crescer, com vários novos cursos em fase de finalização e que estarão disponíveis, a custo zero, para os profissionais de saúde já no início de 2023.
Já conhece o Kassai? Vá a www.kassai.ao e inicie a sua viagem nesta corrente de conhecimento.
57 SAÚDE
Enfermeira Margarida
Costa Belsa
Dra. Milagre Gambowa
Enfermeiro Baltazar Cangolo
TUBARÕES EM ANGOLA: GENERALIDADES, AMEAÇAS E CONSERVAÇÃO
REGISTOS FÓSSEIS DEMONSTRAM QUE OS TUBARÕES VIVEM HÁ 420 MILHÕES DE ANOS NO OCEANO (INOUE ET AL., 2010), TENDO SOBREVIVIDO AOS DINOSSAUROS E A MUITAS OUTRAS FORMAS DE VIDA (WWF, SEM DATA), SENDO ASSIM CONSIDERADOS VERDADEIROS ANCIÃOS DOS OCEANOS. EMBORA FREQUENTEMENTE RETRATADOS COMO VILÕES, OS TUBARÕES SÃO SERES MUITO MAIS FASCINANTES E COMPLEXOS DO QUE APARENTAM. MAS, AFINAL, QUEM SÃO ESTES MISTERIOSOS E, MUITAS VEZES, TEMIDOS ANIMAIS QUE FAZEM DO OCEANO O SEU LAR?
58 SAÚDE
ENTREVISTA RUBRICA AMBIENTAL
Classificação Taxonómica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Chondrichthyes
Os tubarões pertencem ao mais antigo grupo vivo de vertebrados com mandíbulas, os Chondrichthyes (Inoue et al., 2010), e a ordem a que pertencem varia consoante a espécie em questão. Existem oito ordens de tubarões: Carcharhiniformes, Heterodontiformes, Hexanchiformes, Lamniformes, Orectolobiformes, Pristiophoriformes, Squaliformes, e Squatiniformes (Nair & Zacharia, 2015).
Generalidades sobre os tubarões No mundo, foram identificadas 510 espécies de tubarões. Mas, considerando que mais de 80% dos oceanos permanece não mapeado, não observado e inexplorado, os cientistas acreditam que ainda existem mais espécies por descobrir (NOAA, 2021).
Todas as espécies de tubarão pertencem à subclasse Elasmobranchii, tendo em comum o
facto de serem peixes cartilaginosos, isto é, com o esqueleto formado por cartilagem (Zangerl, 1981), carnívoros (alimentando-se maioritariamente de plâncton, peixes, tartarugas marinhas, moluscos e mamíferos marinhos), com respiração branquial (obtendo oxigénio quando a água do mar passa pelas guelras) e frequentemente habitam em mar aberto (Hickman et al., 2001; Nair & Zacharia, 2015; WWF, sem data), podendo ser encontrados a impressionantes profundidades de mil metros, como as espécies descobertas, em 2020, na Nova Zelândia, de grande profundidade, que brilham no escuro, fenómeno da bioluminescência (Mallefet et al., 2021).
No entanto, características morfológicas, desde padrões de coloração, distribuição de habitats, formato e tamanho da cabeça, do corpo e das barbatanas e até mesmo alguns caracteres fisiológicos e comportamentais estabelecem diferenças drásticas entre as diversas espécies. A reprodução dos tubarões é um exemplo interessante das diferenças fisiológicas, pois, de acordo com o tipo de espécie, os tubarões podem ser vivíparos, ovíparos ou ovovivíparos (Hickman et al., 2001).
Os tubarões são considerados espécies chave e reguladoras dos ecossistemas, por serem predadores essenciais à ordem natural dos ecossistemas marinhos, promovendo o equilíbrio na cadeia trófica, auxiliando no controlo das populações das espécies que são as suas presas (Motivarash & Fofandi, 2020).
Tubarões de Angola Segundo relatórios da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, 2016), em Angola, existem diversas espécies de tubarões, entre as quais espécies consideradas globalmente ameaçadas.
Com base na Lista Vermelha e critérios de espécies ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, 2021), estima-se que mais de um quarto dos peixes Chondrichthyes (tubarões, raias e quimeras) está ameaçado de extinção (Dulvy et al., 2014). A maior ameaça que os tubarões encontram, a nível global, é a pesca excessiva, que consequentemente contribui para o declínio acentuado da biodiversidade e abundância das populações, sendo que, actualmente, muitas espécies estão ameaçadas de extinção.
59 SAÚDE
Daniela
Pereira e Ana Lúcia Soares
Legislação sobre a protecção das espécies de tubarão
Embora os tubarões e raias representem um recurso insubstituível para as comunidades costeiras, em desenvolvimento durante séculos, esse equilíbrio único corre o risco de se perder para sempre. Em Angola, no Decreto Executivo n.º 109/05 de 25 de Novembro, que regula as espécies dos recursos biológicos aquáticos cuja pesca
situação que os tubarões enfrentam em águas angolanas.
A falta de informação e sensibilização junto das comunidades pesqueiras e populações que consomem este tipo de produtos, relativas à importância destas espécies e consequências do seu declínio, é praticamente nula, o que faz com que episódios de captura em massa, como os descritos no final de 2020 pela EcoAngola, aconteçam.
Com os nossos oceanos degradados, restaurar as populações de tubarões é a chave para melhorar a resiliência dos ecossistemas marinhos e evitar danos irreparáveis devido às mudanças climáticas.
Enquanto a diversidade de espécies de tubarões adiciona complexidade aos nossos esforços de conservação, devido à pesca excessiva e à demanda de barbatanas e carne, o seu rápido declínio aumenta a urgência da tarefa.
Como ajudar?
é permitida e a quantidade autorizada, não consta nenhuma espécie de tubarão e tal facto remete-nos para a ausência de legislação referente a estas espécies, de extrema importância para os ecossistemas marinhos angolanos.
Estudos recentes confirmam que, desde 1970, a abundância global de tubarões e raias oceânicas diminuiu 71%, devido a um aumento de 18 vezes na pressão relativa da pesca, levando três quartos dessas espécies a serem ameaçadas de extinção (Pacoureau et al., 2021). É, de facto, alarmante esta lacuna em requisitos legais referentes à pesca destas espécies em águas angolanas. A falta de leis relativas à protecção destas espécies está associada também à pouca pesquisa e conhecimento acerca desses animais e os seus habitats associados, em Angola.
A falta de legislação, em conjunto com a rápida e crescente procura de tubarões e derivados para consumo interno, devido à falta de outras alternativas de peixe e proteína para consumo das populações, ou possível exportação para o mercado asiático, revela a fragilidade da
Não existem, actualmente, em Angola informações sobre os volumes de captura, desembarques, composição de espécies e dados sobre o impacto das pescarias relativamente às populações de tubarões. De maneira a entender o estado das espécies de tubarões e raias que têm interacção directa com a pesca em Angola, o Angola Elasmo Project foi lançado, em Outubro de 2016, por Ana Lúcia Furtado Soares, visando, assim, avaliar os impactos da pesca em elasmobrânquios em Angola. Devido à falta de apoios, apenas em 2021 esta iniciativa conseguiu arrancar a 100% na forma de um projecto de doutoramento da mesma. Os seus principais objectivos são identificar e caracterizar a pesca artesanal e semi-industrial que opera ao longo da costa, recolhendo informações sobre as formas de pesca, locais de captura e principais alvos, assim como realizar o levantamento de informações biológicas de espécies e avaliar a diversidade e abundância relativa de tubarões e raias pescados. Este projecto de pesquisa tem como fim aumentar o conhecimento, fornecendo informações e dados científicos de longo prazo, para preencher a lacuna de dados específicos referentes a espécies de elasmobrânquios e, assim, compreender a sua biodiversidade em Angola. Outra componente
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Um tubarão Cação-Liso (Mustelus mustelus) e uma raia dos olhos (Raja miraletus) fotografados após uma pescaria de tipo de barco chata.
Fonte: Angola Elasmo Project
deste projecto será a conservação destas espécies, envolvendo o público em workshops, campanhas educacionais e de sensibilização em escolas, comunidades pesqueiras e comunidade académica. O foco destas actividades deve, não só, ser nos princípios da conservação dos tubarões e raias, mas também nos princípios básicos da biodiversidade marinha, conservação e pesca sustentável, tópicos com grande urgência a serem discutidos entre a população angolana.
Conclusão
É extremamente importante levantar preocupações sobre a situação dos ecossistemas marinhos da África Ocidental, especialmente em países como Angola, onde não há dados marinhos suficientes, há falta de sensibilização relativamente à conservação ambiental, falta de políticas relativas à conservação e pescas e quase nenhum indicador de que esta situação dramática será abordada em breve.
Apesar de não existirem ainda dados concretos para a situação actual dos tubarões em Angola, relatos fotográficos, associações voltadas ao ambiente, como a EcoAngola, e projectos de pesquisa como o Angola Elasmo Project sugerem que existe uma situação de rápido declínio dos mesmos e, como tal, medidas governamentais, mais iniciativas de pesquisa destas espécies e sensibilização são recomendadas para tentar reverter esta situação.
Um oceano sem tubarões não é um oceano saudável e, sem eles, danos irreparáveis serão causados, que terão consequências directas em nós, humanos.
Referências:
Saiba mais sobre o Angola Elasmo Project em: http://www.elasmoproject.com/angola-project.html https://www.instagram.com/angola.elasmoproject/
Food and Agriculture Organization of United Nations. (2016). Carpenter K. E. & De Angelis, N. FAO Species Identification Guide for Fishery Purposes: The Living Marine Resources of the Eastern Central Atlantic. Volume 2 Bivalves, gastropods, hagfishes, sharks, batoid fishes and chimaeras, Reproduced with permission. Hickman, C., Roberts, L., & Larson, A. (2001). Integrated Principles of Zoology. New York: McGraw-Hil. Inoue, J. G.; Miya, M.; Lam, K.; Tay, B.; Danks, J.A. et al. 2010.v Evolutionary Origin and Phylogeny of the Modern Holocephalans (Chondrichthyes: Chimaeriformes): A Mitogenomic Perspective. Molecular Biology and Evolution: 27(11), pp. 2576-2586.
IUCN. (2021). Obtido de The IUCN Red List of Threatened Species. Version 2020-3: https://www.iucnredlist.org Mallefet, J.; Stevens, D. W.; Duchatelet, L. (2021): Bioluminescence of the Largest Luminous Vertebrate, the Kitefin Shark, Dalatias licha: First Insights and Comparative Aspects. Front. Mar. Sci. Motivarash, Y. & Fofandi, D. (2020): Importance of sharks in ocean ecosystem. Journal of Entomology and Zoology Studies 8(1):611-613 Nair, R. J. & Zacharia, P. U. (2015): An introduction to the classification of elasmobranchs. Central Marine Fisheries Research Institute, Kochi-682 018.
NOAA – National Ocean Service: How much of the ocean have we explored? Disponível em: https://oceanservice.noaa.gov/facts/exploration.html Consultado em Maio de 2021.
Pacoureau, N., Rigby, C.L., Kyne, P.M. et al. Half a century of global decline in oceanic sharks and rays. Nature 589, 567–571 (2021). https://doi.org/10.1038/s41586-020-03173-9
WWF - World Wildlife Fund: Sharks. Disponível em: https://www.worldwildlife.org/species/shark Consultado a Maio de 2021.
Zangerl, R. (1981): Handbook of Paleoichthyology, Vol. 3A: Chondrichthyes I. Gustav Fischer Verlag, Stuttgart 1981.
Figuras
Figura 1: Tubarão. Imagem ilustrativa. Retirada de: The Nature Conservancy. Disponível em: https://www.natureaustralia.org.au/what-we-do/our-priorities/wildlife/wildlife-stories/sharks/ Tubarão-baleia –Disponível em: https://www.worldwildlife.org/species/whale-shark
Tubarão azul – Disponível em: https://www.marinebio.org/species/blue-sharks/prionace-glauca/
Tubarão tigre – Disponível em: https://www.scubadiving.com/keywords/marine-conservation/divers-guide-marine-life-tiger-shark-galeocerdo-cuvier
Tubarão seda - https://www.guillenphoto.com/en/silky-shark-carcharhinus-falciformis-red-sea-red-sea.html
Figura 2: https://expansao.co.ao/artigo/138694/autoridades-estao-a-investigar-den-ncia-da-ecoangola-relacionada-com-o-exterminio-de-tubaroes?seccao=5
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A PALAVRA SATURAÇÃO É USADA PARA DESIGNAR QUANDO ALGO SE ENCONTRA EM EXCESSO. É COMUM HAVER EXPRESSÕES COMO “ISSO JÁ ESTÁ SATURADO”, QUE SIGNIFICA QUE ALGO É FEITO OU USADO DE FORMA EXCESSIVA. JÁ CONFORTO É O ACTO OU EFEITO DE CONFORTAR(-SE). É O ESTADO DE QUEM É OU SE SENTE CONFORTADO. HOJE EM DIA, O MERCADO DE TRABALHO FARMACÊUTICO ENCONTRA-SE SATURADO, APESAR DA AMPLIAÇÃO DA ACTUAÇÃO DOS FARMACÊUTICOS. TEMOS 131 ÁREAS PERMITIDAS E POUCO OU QUASE NADA SE EXPLORA, ASSIM COMO MUITO POUCO SE FALA DELAS.
SATURAÇÃO FARMACÊUTICA: COMO SAIR DA ZONA DE CONFORTO?
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PERSPECTIVA ENTREVISTA RUBRICA REGULAMENTAR
Zola Mayamputo João
Técnica Média de Farmácia pelo IMS de Luanda. Licenciada pela Universidade Jean Piaget de Angola/Ciências Farmacêuticas. Agente de Segurança Higiene e Saúde no Trabalho. Directora Técnica da Australpharma.
uma vez que nos deparamos com muitos farmacêuticos imobilizados diante das suas frustrações, sem reagir ou reflectir sobre os factores que os estão a impedir de atingir a sua realização profissional.
Sair da zona de conforto Diante desses factores, para mudarmos o cenário actual, é necessário sair da zona de conforto e começar a reflectir sobre o valor do farmacêutico, sobre a importância deste profissional para a população em geral e sobre o que o motiva a ir todos os dias para o trabalho.
O desequilíbrio entre os interesses de saúde e os económicos pode levar a empresa à falência ou a “quebrar” a saúde. Pode-se afirmar que ambos os lados devem ter o mesmo peso para que o sucesso aconteça.
O farmacêutico deve questionar a si próprio qual é o seu diferencial e que outros talentos tem além do conhecimento como responsável técnico. A preocupação do farmacêutico é qual a solução para se resolver este problema? De que forma pode contribuir para o crescimento da empresa e aumentar a sua remuneração?
Há cinco anos, a associação dos técnicos de farmácia tinha por volta de quatro mil a cinco mil técnicos inscritos. Esse número multiplicou e, em 2022, são por volta de 12 mil técnicos, mais de 50% activos. De igual modo, há uns anos, a Ordem dos Farmacêuticos tinha por volta de 500 ou pouco mais técnicos superiores inscritos. Hoje, são mais de mil membros activos, onde 70% está na farmácia comunitária.
Além dos novos profissionais no mercado, não podemos deixar de falar dos avanços da tecnologia, com farmácias altamente equipadas, substituindo as pessoas por robôs.
Na ampliação da actuação dos farmacêuticos nas diversas áreas permitidas, não atingimos os objectivos se não houver divulgação e oportunidades para se desafiar os técnicos a abraçarem ou sentirem-se atraídos a fazer diferente, porque 70% dos recém-formados são recebidos pelas farmácias. Daí a zona de conforto.
Antigamente, bastava o farmacêutico ter registo na associação para ter emprego garantido. Infelizmente, essa situação trouxe a estagnação do profissional de farmácia, pois sem experiência e/ou qualificação, após a sua formação, já tinha um emprego garantido. Não podemos esquecer a ameaça que constitui esta estagnação,
Estamos a terminar mais um ano e o que mudou na minha vida profissional? Quais dos objectivos traçados no início do ano foram alcançados? O que é que queremos ser quando as pessoas olham para nós?
O que é que tenho de inovar para mudar a organização? Qual é a minha semente?
Se, ao analisar as questões acima, perceber que ainda não alcançou os objectivos, nem realizou os seus desejos, reavalie o seu modo de pensar. Seja responsável técnico e amplie sua actuação, para obter melhores resultados, garantindo a valorização profissional do farmacêutico. O mundo está numa crise de referências. Que, em 2023, possamos mudar as nossas atitudes e usar o nosso conhecimento e talento para explorar as outras áreas de actuação que nos aguardam. Desenvolver é diferente de crescer.
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Dra.
OMS RECOMENDA NOVO NOME PARA A VARÍOLA DOS MACACOS
recolher opiniões de vários especialistas, bem como de países e do público em geral, que foram convidados a apresentar sugestões para novos nomes. Com base nestas consultas, e em discussões posteriores com o Director Geral da OMS, Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, recomenda-se a adopção do novo sinónimo mpox em inglês para a doença.
Mpox
Mpox tornar-se-á no termo preferencial, substituindo monkeypox, após um período de transição de um ano, de modo a atenuar as preocupações levantadas pelos peritos sobre a confusão causada por uma mudança de nome no meio de um surto global.Também dá tempo para completar o processo de actualização do ICD e actualizar publicações da OMS.
APÓS UMA SÉRIE DE CONSULTAS COM ESPECIALISTAS GLOBAIS, A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (OMS) COMEÇARÁ A USAR O NOVO TERMO PREFERIDO “MPOX” COMO SINÓNIMO DA MONKEYPOX (VARÍOLA DOS MACACOS). AMBOS OS NOMES SERÃO USADOS SIMULTANEAMENTE DURANTE UM ANO, À MEDIDA QUE “MONKEYPOX” SEJA ELIMINADO GRADUALMENTE.
Quando o surto de varíola dos macacos se expandiu no início deste ano, foram reportados à OMS casos de utilização, nos meios online, de linguagem racista e estigmatizante, em algumas comunidades. Em várias reuniões públicas e privadas, vários indivíduos e países levantaram preocupações e pediram à OMS que propusesse uma forma de mudar o nome da doença.
Atribuir nomes a novas doenças e, muito excepcionalmente, às existentes é da responsabilidade da OMS, no âmbito da Classificação Internacional das Doenças (ICD, pela sua sigla em inglês), através de um processo consultivo que inclui os Estados-membros da organização. A OMS, de acordo com o processo de atualização do ICD, realizou consultas para
O sinónimo mpox fará parte da divulgação oficial do ICD11, para 2023, que é a actual norma global para os dados de saúde, documentação clínica e agregação estatística. O termo “monkeypox” continuará a ser pesquisável no ICD, para combinar informações históricas.
As considerações para as recomendações incluem racionalidade, adequação científica, extensão da utilização actual, pronunciabilidade, usabilidade em diferentes línguas, ausência de referências geográficas ou zoológicas e facilidade de recuperação de informações científicas históricas.
Normalmente, o processo de actualização do ICD pode demorar vários anos. Neste caso, foi acelerado, embora seguindo os passos padrão.
Durante o processo de consulta, foram ouvidos vários órgãos consultivos, incluindo peritos dos comités consultivos médicos e científicos e de classificação e estatísticas, que constituíam representantes de autoridades governamentais de 45 países diferentes. A questão da utilização do novo nome em diferentes idiomas foi amplamente discutida. O termo preferido mpox pode ser usado noutras línguas. Se surgirem questões adicionais de nomeação, estas serão abordadas através do mesmo mecanismo. As traduções são geralmente discutidas em colaboração formal com as autoridades governamentais relevantes e as sociedades científicas conexas. A OMS adoptará o termo mpox nas suas comunicações e incentiva outros a seguirem estas recomendações.
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NOTÍCIA
Mais do que celebrarmos um ano, estamos a preparar-nos para o próximo.
Os nossos votos de Boas Festas e Feliz Ano Novo
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