Nº 08
Setembro/Outubro 2021
DISTRIBUIÇÃO GRÁTIS
PUBLICAÇÃO DIGITAL BIMESTRAL
CANCRO DA MAMA: UMA DOENÇA MALIGNA
ÍNDICE SAÚDE PARA SI
02 04 06 10 Dra. Nádia Noronha Directora Executiva da Tecnosaúde
O número total de pessoas diagnosticadas com cancro quase duplicou, nas últimas décadas, passando de cerca de 10 milhões, em 2000, para 19,3 milhões, em 2020, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Actualmente, a expectativa é que uma em cada cinco pessoas no mundo desenvolverá cancro durante a vida, mas a OMS reconhece que a pandemia de Covid-19 exacerbou os problemas no diagnóstico em estado avançado e a falta de acesso ao tratamento. Uma pesquisa da OMS, realizada em 2020, indica que, durante a pandemia, o tratamento do cancro foi interrompido em mais de 40% dos países analisados. Os atrasos no diagnóstico são comuns e as interrupções e abandono da terapia aumentaram significativamente. Em contrapartida, as inscrições em ensaios clínicos e a produção de investigação diminuíram. O número de mortes por cancro também aumentou, de 6,2 milhões, em 2000, para 10 milhões, em 2020. Mais de uma em cada seis mortes no mundo deve-se ao cancro. Esta é uma realidade mundial que se encontra agravada em países com acentuados problemas socio-económicos, pois os cuidados de saúde, já de si precários, na maioria dos casos, sofreram interrupções a nível de serviços e abastecimento durante o período de pandemia que atrasaram processos de diagnóstico e tratamentos em curso. É importante, por isso, reforçar a consciencialização sobre a importância do diagnóstico precoce, não só durante o mês de Outubro, mas durante todo o ano, pois, em Angola, o facto de a maioria da população ser essencialmente jovem (mais de 60%), em que as doenças infecciosas como HIV, tuberculose e malária, bem como as doenças peri-natais assumem um peso elevado, tem contribuído para que as estruturas governamentais adiem o investimento em políticas e infra-estruturas para o diagnóstico e controlo do cancro no país. Nesta edição da + Saúde para si, vestimos a nossa capa, mais uma vez, de rosa e damos destaque a este tema, passando pela importância da nutrição aos avanços dos meios de detecção, aliando-nos à sensibilização sobre esta problemática e reforço na necessidade de investimento na prevenção e no controlo do cancro.
2 SAÚDE
26
A importância do diagnóstico precoce
REPORTAGEM Psoaríse, mais do que uma doença da pele
Dra. Isabel Sales Cândido, directora clínica do instituto angolano de Controle de Câncer aborda a temática do cancro da mama Cancro da Mama: intervenção em medicina física e reabilitação
14 18 22
EDITORIAL
REPORTAGEM Dr. Edvandro Borges aborda a evolução dos meios de detecção e tratamento do cancro da mama
A nutrição e a sua importância no tratamento do cancro LACC: uma referência no controlo da doença Menopausa Dra. Judith Ferreira explica como a menopausa afecta a saúde da mulher
28
REPORTAGEM Tratamento da dor em pediatria
34 36 46
Enquadramento regulamentar pela Dra. Zola João
50
A importância da visão na perspectiva do Dr. Djalme Fonseca
Dois dias com o pediatra
Mercado global de bem-estar em crescimento, segundo a consultora McKinsey
Propriedade e Editor: Tecnosaúde, Formação e Consultoria Nacionalidade: Angolana Edifício Presidente Business Center Largo 17 de Setembro, N.º 3 - 2.º Andar, Sala 224, Luanda, Angola Directora: Nádia Noronha E-mail: nadia.noronha@tecnosaude.net Sede de Redacção: Edifício Presidente Business Center Largo 17 de Setembro, n.º3 - 2.º andar, sala 224, Luanda, Angola Periodicidade: Bimestral Suporte: Digital http://www.tecnosaude.net/pt-pt/
3 SAÚDE
PORTAGEM ENTREVISTARE-
PSORÍASE: MAIS DO QUE UMA DOENÇA DE PELE 4 SAÚDE
A PSORÍASE É MAIS DO QUE UMA DOENÇA DE PELE. É UMA CONDIÇÃO DE SAÚDE QUE PODE MESMO LIMITAR O DIA-A-DIA DA PESSOA PORTADORA. CONSIDERADA UMA DOENÇA CRÓNICA, PARA A QUAL AINDA NÃO HÁ TRATAMENTO, E COM FORTES REPERCUSSÕES A NÍVEL FÍSICO E EMOCIONAL, TEM UM FORTE IMPACTO NA QUALIDADE DE VIDA DE QUEM DELA PADECE. ESTIMA-SE QUE EXISTAM NO MUNDO CERCA DE 125 MILHÕES DE PESSOAS PORTADORAS DE PSORÍASE, NO ENTANTO, MUITAS AINDA ESTÃO SUBDIAGNOSTICADAS.
A
psoríase é uma doença de pele inflamatória crónica, sem cura e de natureza autoimune. No entanto, não é uma doença contagiosa. Existem vários tipos de psoríase, no entanto, a mais comum é a psoríase em placas, isto é, aquela que forma pequenas placas avermelhadas e cobertas por uma área esbranquiçada que se acumula na nossa pele. Isto acontece uma vez que as células da pele – queratinócitos - têm uma frequência de renovação a cada 28 dias. Um doente psoriático faz esta renovação a cada cinco a sete dias, daí a formação destas placas. As áreas mais afectadas tendem a ser os cotovelos, os joelhos e o couro cabeludo. Outros tipos de psoríase são: • Psoríase ungueal: afecta as unhas das mãos e pés. Este tipo de psoríase torna-se, por vezes, difícil de diagnosticar, sendo confundida pelo próprio utente com um fungo; • Psoríase gutata: geralmente desencadeada por infecções bacterianas, caracteriza-se por pequenas feridas em forma de gota, especialmente no tronco;
Ao falar das manifestações desta patologia, classificam-se em ligeiras, moderadas ou graves, dependendo da extensão de pele afectada. As formas ligeiras correspondem a um compromisso inferior a 3%, as moderadas entre 3% a 10% e as graves referem-se a áreas da pele com mais de 10% afectado. Quando a psoríase afecta as articulações – a artrite psoriática causa dor e deformação nas articulações das mãos e pés, membros ou coluna - pode tornar-se bastante incapacitante. Actualmente, existem várias opções terapêuticas para ajudar a prevenir a progressão da psoríase. Porém, estas actuam apenas no alívio dos sintomas e na melhoria da qualidade de vida dos doentes. É preciso ter em conta que a nossa pele apresenta diversas características, dependendo do local do corpo, pelo que o tratamento tem de ser sempre distinto e personalizado: o tratamento do couro cabeludo é diferente do tratamento dos joelhos, por exemplo. O recurso a cremes hidratantes, diariamente, pomadas e champôs adequados é fundamental para controlar a doença. A fototerapia (exposição a raios ultravioleta A ou B) é um tratamento muito utilizado em áreas afectadas limitadas. Quando o impacto na qualidade de vida é importante para o doente, habitualmente, recorre-se ao uso de medicamentos orais ou injectáveis. Actualmente, já estão disponíveis os medicamentos biossimilares, também conhecidos por biológicos, indicados quando esta patologia não está controlada, que têm tido resultados muito promissores no seu controlo e um impacto muito positivo na qualidade de vida destes doentes.
• Psoríase inversa: atinge áreas húmidas do corpo, como axilas, virilhas e debaixo do peito, e caracteriza-se por manchas vermelhas e inflamadas;
Devido ao impacto psicológico que a psoríase tem, o acompanhamento psicológico por profissionais de saúde deve ser considerado.
• Psoríase pustulosa/pustular: caracteriza-se pelo aparecimento de manchas, bolhas e pústulas no corpo;
Sendo uma doença crónica, com forte carga genética, não existe forma de a prevenir. No entanto, é possível reduzir o número de crises. É fundamental manter sempre a pele hidratada e evitar crises de stress e ansiedade. O consumo de álcool e tabaco também deve ser controlado, uma vez que pode aumentar a gravidade das crises. Um estilo de vida saudável e o recurso a exercício físico irão ajudar a melhorar o controlo da patologia.
• Psoríase eritrodérmica: é o tipo menos comum de psoríase, mas o mais grave, pois pode levar a manifestações sistémicas. Este tipo de psoríase assemelha-se a uma queimadura grave, causa dor e aceleração do ritmo cardíaco, exigindo observação médica urgente.
5 SAÚDE
ENTREVISTA
CANCRO DA MAMA: A IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO PRECOCE O CANCRO DA MAMA É O TUMOR MAIS FREQUENTE E TAMBÉM UM DOS MAIS MALIGNOS NA MULHER. A DRA. ISABEL SALES CÂNDIDO, DIRECTORA CLÍNICA DO INSTITUTO ANGOLANO DE CONTROLE DE CÂNCER, FALA-NOS DESTA NEOPLASIA QUE SE COMPORTA DE MODO HETEROGÉNEO, DOS SEUS PRINCIPAIS FACTORES DE RISCO E DA IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO PRECOCE PARA UM BOM PROGNÓSTICO DESTA DOENÇA, QUE AINDA É DESVALORIZADA E NEGLIGENCIADA PELA POPULAÇÃO NAS SUAS FASES INICIAIS. TOME NOTA: A CADA ANO, SÃO DETECTADOS, EM MÉDIA, 239 NOVOS CASOS DE CANCRO DA MAMA, EM ANGOLA.
6 SAÚDE
Dra. Isabel Sales Cândido Licenciada em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade Agostinho Neto. Especialista em Oncologia Clínica pelo INCA – Rio de Janeiro. Directora clínica do Instituto Angolano de Controlo do Câncer
lobular (5% a 20% dos casos). Estes dois tipos são os mais frequentes. No entanto, existem outras histologias, nomeadamente, misto, micropapilar, metaplásico (com os seus subtipos raros de carcinoma adenoescamoso de baixo grau e carcinoma semelhante a fibromatose de baixo grau, considerados favoráveis, mesmo sem terapia adjuvante sistémica), bem como outras muito mais favoráveis, como tubular puro, mucinoso puro, cribiforme puro, papilar sólido, adenoide cístico e outros. Portanto, o cancro da mama comporta-se como uma doença heterogénea. O carcinoma lobular, geralmente, é diagnosticado em mulheres mais idosas, em estádios mais avançados e apresenta-se com grandes dimensões. Tende a manifestar-se de forma única, multifocal (com vários focos na mesma mama) e/ ou bilateral (acomete as duas mamas). Expressa, mais frequentemente, receptores hormonais, em geral negativo para HER2, podendo expressá-lo em até 15% dos casos, principalmente, na variante pleomórfica. Tem menor índice de metástases para linfonodos regionais. Apresenta um padrão de disseminação metastática em sítios incomuns, como o trato gastrintestinal, o útero, as meninges, o ovário e superfícies serosas. Quais os principais factores de risco para o cancro da mama? São vários os factores de risco desta doença, como, por exemplo, a idade avançada (é mais frequente acima dos 50 anos), uma menarca precoce, uma menopausa tardia, o primeiro filho após os 35 anos, não amamentar, o consumo de tabaco ou de álcool, a obesidade, uma dieta rica em gorduras, o uso de terapia hormonal, assim como a história familiar de cancro de mama, de ovário ou de próstata e a história pessoal de cancro de mama.
S
abemos que a glândula mamária é formada por sacos (lóbulos) e por canais (ductos) e, quando as células destes se transformam em malignas, surgem o carcinoma ductal ou o lobular, que são os dois tipos mais frequentes de cancro da mama. Como é que se distinguem estas duas neoplasias? E em termos de sintomatologia? Os lóbulos têm o formato de pequenos sacos e são o local onde o leite é produzido. Os ductos, por sua vez, são os canais que transportam o leite para os mamilos. Assim, as alterações malignas que se verificam nos ductos constituem o carcinoma ductal, que representa 70% a 75% dos casos, e, quando nos lóbulos, o carcinoma
O diagnóstico precoce do cancro da mama é muito importante para um bom prognóstico da doença. Para tal, a educação deve começar em casa, com o auto-teste, e com rastreios frequentes. Na sua opinião, a população angolana está consciente disso? De uma forma geral, ainda é muito débil a educação para saúde no seio da população. Mesmo em pessoas com elevado nível académico, ainda se verifica essa lacuna. Por outro lado, também estão associados factores culturais: mesmo diagnosticado precocemente, muitos tendem a recorrer, inicialmente, à medicina tradicional e só quando não encontram solução se voltam para os hospitais. Na fase inicial, o cancro de mama não se expressa com dor e, mesmo perante um nódulo ou alteração na mama, a mulher tende a desvalorizar, negligenciando-o. Só quando verdadeiramente a incomoda é que recorre aos
7 SAÚDE
de cancro de mama, deve-se procurar atendimento por um profissional de saúde, se possível, um especialista, para avaliar convenientemente as mamas e descartar, com o auxílio de exames complementares, essa suspeita. Confirmado o diagnóstico de cancro, o seu tratamento deve ser feito da forma o mais célere possível, pois essa doença tem um grande e rápido poder de disseminação para outros órgãos, nomeadamente, fígado, pulmões, ossos e cérebro. Que tipo de tratamentos existem disponíveis em Angola? O tratamento do cancro de mama é multidisciplinar e, no país, estão disponíveis a cirurgia (geralmente, o tratamento inicial, quando as lesões são pequenas) e a quimioterapia (agentes químicos diluídos em soros e libertados por via intravenosa). No entanto, também existem alguns em comprimidos, radioterapia (radiações ionizantes), hormonoterapia e drogas-alvo.
“MESMO DIAGNOSTICADO PRECOCEMENTE, MUITOS TENDEM A RECORRER, INICIALMENTE, À MEDICINA TRADICIONAL E SÓ QUANDO NÃO ENCONTRAM SOLUÇÃO SE VOLTAM PARA OS HOSPITAIS. NA FASE INICIAL, O CANCRO DE MAMA NÃO SE EXPRESSA COM DOR E, MESMO PERANTE UM NÓDULO OU ALTERAÇÃO NA MAMA, A MULHER TENDE A DESVALORIZAR, NEGLIGENCIANDO-O” serviços de saúde, muitas vezes, em estádios já bastante avançados da doença. Uma outra particularidade prende-se com a celeridade no atendimento nos hospitais. Leva-se muito tempo, desde a marcação de uma consulta até à sua realização, e no dia marcado espera-se muito tempo até se ser atendido, aguardando-se em condições nem sempre confortáveis. Isso desmotiva quem, aparentemente, “não está sentindo nada” ou tenha um desconforto menor. Qual é o procedimento a adoptar quando há suspeita de cancro da mama? Perante suspeita de qualquer doença e, no caso,
8 SAÚDE
Uma das grandes preocupações do cancro da mama é que as células cancerígenas não respeitam as fronteiras deste órgão, podendo invadir os tecidos circundantes e disseminar a outras partes do organismo. Quais os principais riscos, prognóstico e a que se deve estar mais atento para evitar que isso aconteça? Essas situações são muito frequentes? O risco de disseminação para outros órgãos é grande quando a mulher com cancro não inicia imediatamente o tratamento. Quanto mais avançada a doença, pior o prognóstico e, por isso, perante uma lesão ou qualquer alteração presente na mama, o mais acertado é procurar ajuda médica, para o diagnóstico preciso e tratamento atempado e correcto, individualizado para as necessidades e particularidades de cada paciente. Infelizmente, essas situações que relata são muito frequentes, pois a maior parte das pacientes apresenta-se com lesões grotescas, exuberantes, em estádios bastante avançados e, muitas vezes, já em condição metastática, com doença já disseminada a outros órgãos. Falando em números, qual a prevalência desta neoplasia em Angola? A prevalência do cancro de mama, a nível do Instituto Angolano de Controlo do Câncer, de 2007 a 2020, é de 3.350 casos, com uma média de 239 casos ao ano.
9 SAÚDE
REPORTAGEM ENTREVISTA
CANCRO DA MAMA: INTERVENÇÃO EM MEDICINA FÍSICA E REABILITAÇÃO O CANCRO DA MAMA É A NEOPLASIA MAIS COMUM ENTRE AS MULHERES E DEIXA SEQUELAS INCAPACITANTES. MAS ESTAS PODEM SER RECUPERADAS, GRAÇAS À REABILITAÇÃO, DE MODO A SE MANTER UMA FUNCIONALIDADE SEMELHANTE À DE ANTES DO SURGIMENTO DA PATOLOGIA, FORNECENDO RECURSOS QUE PERMITEM PREVENIR E MINIMIZAR A INCAPACIDADE.
Dra. Marisa Sousa Licenciada em Medicina/Clínica Geral pela UAN (Universidade Agostinho Neto – Angola). Especialista em Medicina Física e Reabilitação/Fisiatria pela USP (Universidade de São Paulo – Brasil). Especialista em Terapia da Dor e Acupuntura pela USP – Brasil. Membro do Colégio de Especialidade de Medicina Física e Reabilitação. Membro do grupo de treinamento da OMS em Serviços para Cadeira de Rodas pela USP – Rede Lucy Montoro – Brasil. Pós-graduada em Medicina do Trabalho pela faculdade BWS São Paulo - Brasil
10 SAÚDE
O
cancro de mama é a neoplasia mais comum entre mulheres, com estimativa de 1,4 milhões de novos casos por ano, e é responsável por, aproximadamente, 460 mil óbitos, anualmente, em todo o mundo. É menos frequente em homens, porém, também pode acontecer, apesar da incidência ser inferior a 1%. O tratamento é diversificado e inclui, sobretudo, cirurgias, como a mastectomia, conservadoras ou radicais, associadas ao esvaziamento de linfonodos axilares, à biópsia do linfonodo sentinela, à radioterapia, à quimioterapia adjuvante e/ ou neoadjuvante e à hormonoterapia, com resultados bastante positivos na melhoria da sobrevida da população atingida. Há particularidades no seguimento da reabilitação, na dependência da apresentação clínica, do tipo de tratamento e cirurgia realizados (Ewertz M, Jensen AB. Late effects of breast cancer treatment and potentials for rehabilitation. Acta Oncol. 2011;50(2):187-93).
• Maternidade: mulheres que nunca tiveram filhos ou tiveram o primeiro depois dos 30 anos têm um risco acrescido;
O cancro da mama é um tumor maligno, formado pelo crescimento de células de maneira desordenada e pelo desenvolvimento de um ou mais nódulos na mama, onde as causas estão interligadas aos diferentes factores de risco que podem predispor ao surgimento da doença, os quais passo a descrever os mais frequentes:
• Etnia: mulheres caucasianas têm maior predisposição; • Densidade mamária: há um risco acrescido nos padrões densos pela possibilidade de ocultar um cancro;
• Sexo: pode manifestar-se em homens, mas é um tipo de tumor que afecta quase exclusivamente mulheres; • Idade: à medida que os anos avançam, maior é o risco; • Hereditariedade: a influência é entre os 5% e os 10%; • Histórico familiar: é uma forma de saber se existe maior predisposição para ter cancro; • Lesões benignas da mama: algumas aumentam o risco deste cancro; •
Hormonas: mulheres que tiveram a primeira menstruação antes dos 12 anos ou menopausas mais tardias (após os 55 anos) têm maior predisposição, devido à exposição mais prolongada às hormonas femininas;
• Pílula: o seu uso contínuo também pode aumentar o risco de cancro da mama. É importante que as mulheres façam o autoexame da mama com regularidade, durante o seu auto-cuidado, observar se tem assimetrias, alteração na coloração ou características da pele. Sentadas ou deitadas com a elevação do braço do lado da mama a ser examinada, palpando-a cuidadosamente em todos os seus quadrantes, devem pressionar suavemente a mama para identificar se sentem a presença de nódulos. O exame de mamografia deve ser realizado pelas mulheres partir dos 40 anos, se tiverem antecedentes familiares de cancro da mama, e a partir dos 50 anos, para as restantes mulheres. São as formas iniciais mais importantes para rastrear e diagnosticar o cancro da mama.
11 SAÚDE
A IMPORTÂNCIA DA REABILITAÇÃO FICA MUITO CLARA FRENTE À ALTA PREVALÊNCIA DE POTENCIAIS COMPLICAÇÕES DECORRENTES DA MASTECTOMIA, LINFADENECTOMIA, QUIMIOTERAPIA E RADIOTERAPIA: ATÉ 67% DAS PACIENTES TERÃO RESTRIÇÃO DA ARTICULAÇÃO DO OMBRO NO SEGUIMENTO DO TRATAMENTO, DAS QUAIS ATÉ 68% DESENVOLVERÃO QUADRO DE DOR, TANTO NO OMBRO QUANTO NO MEMBRO SUPERIOR, E ATÉ 34% DAS MULHERES APRESENTARÃO LINFEDEMA
“Tive cancro da mama, fiz o tratamento com ou sem cirurgia, quimioterapia, radioterapia. E, depois, o que fazer?” A reabilitação destaca-se nesse processo, pois o cancro de mama deixa sequelas incapacitantes que podem ser recuperadas, mantendo uma funcionalidade semelhante à que se tem antes do surgimento da patologia, uma vez que oferece recursos que visam prevenir e minimizar a incapacidade, bem como promover a maior funcionalidade possível e desenvolver o potencial psicossocial. A sua importância fica muito clara frente à alta prevalência de potenciais complicações decorrentes da mastectomia, linfadenectomia, quimioterapia e radioterapia: até 67% das pacientes terão restrição da articulação do ombro no seguimento do tratamento, das quais até 68% desenvolverão quadro de dor, tanto no ombro quanto no membro superior, e até 34% das mulheres apresentarão linfedema (Lee TS, Kilbreath SL, Refshauge KM, Herbert RD, Beith JM. Prognosis of the upper limb following surgery and radiation for breast cancer. Breast Cancer Res Treat. 2008;110(1):19-37). As pacientes são avaliadas pelas equipas interdisciplinares, compostas por médicos fisiatras, psicólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, educadores físicos e com apoio pelo serviço social, que instituem a terapia medicamentosa, caso seja necessário, com relaxantes musculares, analgésicos, opióides, entre outros, dependendo da sintomatologia; tratamento com acupuntura/medicina tradicional chinesa no alívio da dor, melhoria da tonificação muscular e redução do efeito psicológico das
12 SAÚDE
sequelas da patologia; a introdução de exercícios terapêuticos com alongamentos, ganho e manutenção da amplitude de movimento; analgesia com electroterapia; fortalecimento muscular; exercícios para melhoria e manutenção da coordenação motora; actividades de vida diária e prática; cuidados com a nutrição, para manutenção do peso e melhoria nutricional; apoio com sessões de psicoterapia; condicionamento físico para manutenção das actividades e identificação da condição social da paciente, para melhor participação no tratamento reabilitador. Algumas dicas para mulheres que tiveram cancro de mama Façam actividade física leve a moderada, como caminhadas, corrida, ginásio, natação, dança, entre outras. Usem maquilhagem, acessórios, perucas e lenços como indumentária para compor o seu outfit. Tenham cuidado ao cortar as unhas, para não fazerem cortes, principalmente, no membro em que foi submetida a retirada dos vasos linfáticos. Mantenham, diariamente, os alongamentos ensinados durante o tratamento de reabilitação. Tenham cuidado na cozinha, para não fazer queimaduras, principalmente, no membro em que foi submetida a retirada dos vasos linfáticos. Tirem tempo para cuidar de si e relaxar, vão ao SPA ou ao salão de beleza. Organizem a arrumação da casa por dias, em função das prioridades Façam meditação, yoga ou pilates.
13 SAÚDE
ENTREVISTA
“FELIZMENTE, HÁ UM AVANÇO CONSIDERÁVEL NO TRATAMENTO DO CANCRO DE MAMA, A NÍVEL MUNDIAL” 14 SAÚDE
Dr. Edvandro José Borges Médico. Doutor em Medicina pela Universidade Latino-Americana de Medicina. Consultor médico Roche para os PALOP. H.E. Farmacêutica
OUTUBRO É UM MÊS DE CONSCIENCIALIZAÇÃO PARA O CANCRO DA MAMA, UMA NEOPLASIA TÃO ELEVADA NA POPULAÇÃO. A EFICÁCIA DO SEU TRATAMENTO DEPENDE, EM GRANDE MEDIDA, DO ESTADIO EM QUE A DOENÇA É DETECTADA E DA PRECOCIDADE DO DIAGNÓSTICO. EM ANGOLA, SÃO CADA VEZ MAIS OS MEIOS DISPONÍVEIS PARA A DETECÇÃO E TRATAMENTO DESTA NEOPLASIA, MUITO POR FRUTO DO TRABALHO QUE TEM VINDO A SER DESENVOLVIDO PELO LABORATÓRIO ROCHE, COMO NOS CONTA O DR. EDVANDRO BORGES.
O
s estudos preveem que uma em cada nove mulheres que viva até aos 80 anos terá cancro da mama. Qual a sua opinião, em termos de epidemiologia desta neoplasia no mundo e, em especial, em Angola? O cancro de mama é, sem dúvida, o processo cancerígeno de maior incidência e prevalência nas mulheres, em todo mundo, e Angola, em particular, não está isenta disso. Devido aos numerosos factores de risco atrelados a esta patologia, a incidência tende a aumentar. Só nos últimos cinco anos, em média, foram diagnosticados aproximadamente 350 casos de cancro de mama anualmente, no Instituto Angolano de Controlo do Câncer (IACC), o que acaba por ser um número muito expressivo, se tivermos em conta que nem todos os casos, como, por exemplo, nas demais províncias, chegam à capital, onde há melhores meios diagnósticos e terapêuticos para esta patologia.
Consegue identificar factores de risco da doença e a importância de estar alerta para estes? Esta patologia deve-se a múltiplos factores envolvidos na sua etiologia, como, por exemplo, alterações ou mutações genéticas, hereditariedade familiar, obesidade, excesso de consumo de álcool, tabagismo, idade (sobretudo, depois dos 50 anos), mulheres nulíparas e/ou nuligestas, história de menarca precoce (idade da primeira menstruação menor que 12 anos), menopausa tardia (após os 55 anos), primeira gravidez após os 30 anos, terapia de reposição hormonal pós-menopausa (estrogénio-progesterona), mulheres que nunca amamentaram e, também, até certo ponto, o uso prolongado de pílulas anticonceptivas. Devido a estes factores, de forma geral, prevê-se o aumento da incidência e prevalência do cancro de mama. Por isso, é de extrema importância o alerta da população, pois muitos destes factores de risco podem ser controlados ou até eliminados em alguns casos. E, mesmo no caso de um diagnóstico precoce, as possibilidades de cura são muito mais elevadas. O Laboratório Roche é um dos laboratórios que mais esforços tem realizado para a solução do cancro da mama. Em termos de tratamento, o que está a ser realizado no mundo? E Angola, como é que se encontra perante os novos tratamentos? Felizmente, há um avanço considerável no tratamento do cancro de mama, a nível mundial. Os tratamentos são muito mais eficazes, atempados e personalizados, com terapias-alvo, de modo que o tempo de sobrevivência e a cura total, em muitos casos, aumentaram significativamente em relação há alguns anos. A Roche tem sido um parceiro das instituições de saúde, no sentido de sensibilizar e apoiar a detecção precoce do cancro de mama, bem como disponibilizar os meios para um correcto diagnóstico da doença e dos seus subtipos, nomeadamente, pela doação ao IACC de um equipamento de imunohistoquímica. No caso do nosso país, apesar das dificuldades inerentes ao sistema de saúde, novos tratamentos têm sido já disponibilizados paulatinamente, tanto na rede privada
15 SAÚDE
“OS TRATAMENTOS SÃO MUITO MAIS EFICAZES, ATEMPADOS E PERSONALIZADOS, COM TERAPIASALVO, DE MODO QUE O TEMPO DE SOBREVIVÊNCIA E A CURA TOTAL, EM MUITOS CASOS, AUMENTARAM SIGNIFICATIVAMENTE EM RELAÇÃO HÁ ALGUNS ANOS. A ROCHE TEM SIDO UM PARCEIRO DAS INSTITUIÇÕES DE SAÚDE, NO SENTIDO DE SENSIBILIZAR E APOIAR A DETECÇÃO PRECOCE DO CANCRO DE MAMA, BEM COMO DISPONIBILIZAR OS MEIOS PARA UM CORRECTO DIAGNÓSTICO DA DOENÇA E DOS SEUS SUBTIPOS”
como também, e sobretudo, na rede pública, como, por exemplo, as terapias-alvo, tais como o Trastuzumab (Herceptin) e o Pertuzumab (Perjeta), entre outros. A eficácia do tratamento do cancro da mama depende muito do estadio em que a doença é detectada. Em termos de diagnóstico, como é que é realizado? Angola possui capacidade para realizar o diagnóstico completo desta patologia? Com certeza, quanto mais cedo for detectado o cancro, melhores são as probabilidades de ter um desfecho positivo. Por isso, o diagnóstico precoce é de extrema importância. O diagnóstico do cancro de mama repousa sobre quatro pilares fundamentais, que são o exame físico ou auto-exame da mama, os exames de imagem, com especial importância para a mamografia, a biópsia para análise do tipo histológico e a imunohistoquímica, para detectar os marcadores moleculares. Em Angola, até há bem pouco tempo, não era possível realizar o exame fundamental de imunohistoquímica. Entretanto, com a parceria entre o IACC e a Roche, hoje, já é possível realizar este exame, o que é um grande avanço no diagnóstico desta patologia para o nosso país. Sabemos que a glândula mamária é formada por sacos (lóbulos) e por canais (ductos) e, quando as células destes se transformam em malignas, surgem o carcinoma ductal ou o lobular, que são os dois tipos mais frequentes de cancro da mama? Em termos de tratamento, existe diferença nestes dois tipos de neoplasia? Qual a mais frequente em Angola? Sim, o cancro de mama pode ter origem em diferentes estruturas da mama, sendo o mais
16 SAÚDE
comum ou mais frequente o carcinoma ductal, que, por sua vez, pode dividir-se em luminal A e luminal B. Entretanto, a abordagem terapêutica não depende propriamente do tipo histológico, mas sim das características biomoleculares de cada subtipo de cancro. Na prática, não existe um cancro de mama, mas vários subtipos. Os mais frequentes são, geralmente, os hormono positivos (estrogénios e/ou progesterona), o que significa que são estimulados e crescem com as hormonas. Por isso, para além da quimioterapia convencional, são tratados com medicamentos como o Tamoxifeno e o Letrozol, que suprimem o efeito das hormonas nas células cancerígenas, limitando o seu crescimento e facilitando a sua destruição. Um outro subtipo de cancro de mama é o cancro HER2 positivo, cujas células possuem receptores HER2, sendo este um dos cancros de mama mais agressivos. Por via das terapêuticas direccionadas a este receptor, é, hoje, um dos tipos de cancro com melhor prognóstico terapêutico. Adicionalmente, o cancro de mama triplo-negativo caracteriza, como o nome indica, todos os cancros de mama sem alvos terapêuticos/receptores específicos, sendo, por isto, o cancro de mama com pior prognóstico e foco de estudo, culminando com uma nova abordagem conhecida como imunoterapia. Entretanto, é importante realçar a necessidade de uma abordagem multidisciplinar no tratamento do cancro, que inclui não só a quimioterapia convencional e as aqui referidas terapêuticas-alvo, mas também a cirurgia e a radioterapia, entre outras especialidades médicas e profissionais de saúde. O Laboratório Roche tem disponibilizando várias terapêuticas para o tratamento do cancro da mama HER2 positivo. Quais são as vantagens deste tratamento? Já temos estes tratamentos disponíveis em Angola? Tal como referi anteriormente, a par da quimioterapia convencional, as vantagens destas terapêuticas direccionadas, nomeadamente, para os receptores HER2 são muito claras e contundentes, pois actuam especificamente nas células cancerígenas com estes receptores, destruindo-as, sem afectar as células saudáveis ou afectando-as minimamente (o que não acontece com a quimioterapia e com os seus efeitos adversos pronunciados). Como resultado, verifica-se um aumento da resposta objectiva ao tratamento, rápida melhoria dos sintomas, diminuição da progressão da doença e,
fundamentalmente, aumento da sobrevivência global das pacientes. A Roche disponibiliza, hoje, vários medicamentos para este subtipo de cancro de mama, nomeadamente, o Trastuzumab (Herceptin), o Pertuzumab (Perjeta), Transtuzumab + Perjeta (Phesgo) e o Transtuzumab+Entasina (Kadcyla) Estes medicamentos estão disponíveis em Angola, a maioria, por enquanto, apenas no sector privado, com esforços a decorrer para que possam estar também totalmente disponíveis no sistema público, permitindo que todas as pacientes, independentemente da sua condição económica, possam ter acesso a estes tratamentos “standard of care”. Que resultados se têm obtido com as novas abordagens terapêuticas, como é o caso da imunoterapia? Em que estadio se pode recorrer a esta e quais as vantagens? A imunoterapia é uma abordagem mais recente, não só para o cancro de mama, mas todos os tipos de cancro. A Roche disponibiliza, hoje, o Atezolizumab (Tecentriq) que, em combinação com a quimioterapia, tem mostrado resultados promissores em vários tipos de cancro, nomeadamente, no subtipo tumoral de cancro de mama triplo-negativo que, não tendo alvos terapêuticos direccionados, infelizmente não responde aos tratamentos alvos anti-hormonais e HER2. A imunoterapia actua ao nível do sistema imunológico, potenciando-o a reconhecer a célula cancerígena e, consequentemente, destruí-la, pelo que é tanto mais eficaz quanto
mais precocemente for administrada. O cancro da mama é uma doença que tem um impacto psicológico enorme, especialmente nas mulheres, pelo receio de terem a mesma e, também, pelas consequências. A mastectomia faz sentido, sem ser diagnosticado o cancro da mama? Em que situações? A mastectomia é uma abordagem cirúrgica em que é realizada a remoção completa da mama e tecidos adjacentes afectados pelo cancro. Este procedimento é realizado em pacientes com diagnóstico claro e inequívoco de cancro de mama, com o objectivo de impedir que o cancro se espalhe a outras partes do corpo, como os pulmões, o cérebro, o fígado e os ossos, aumentando, assim, a possibilidade de cura. A realização da mastectomia em pacientes que não têm um diagnóstico de cancro de mama, nem apresentem quaisquer sinais inequívocos da doença, não faz sentido. A prioridade é o diagnóstico correcto da patologia e seu correspondente estadio, para, desta forma, tomar a decisão terapêutica mais adequada. Entretanto, é importante mencionar que, hoje em dia, é possível realizar testes genéticos em mulheres que têm histórico familiar de cancro de mama ou de ovários, para saber se possuem mutações genéticas (BRCA 1 e 2) que possam indicar probabilidade de contrair cancro no futuro. Para estas mulheres pode-se optar pela mastectomia bilateral profiláctica e oforectomia bilateral, removendo os dois seios e os ovários para evitar um cancro futuro. Esta prática tem sido cada vez mais comum nos países desenvolvidos e podemos citar o exemplo conhecido da actriz norteamericana Angelina Jolie, que escolheu realizar este procedimento. De referir que a Roche, para além dos tratamentos aqui referidos, investe fortemente na área do diagnóstico oncológico, tentando encontrar formas de detectar o cancro e as suas particularidades de forma inequívoca e o mais cedo possível. Disponibilizamos, assim, para além dos equipamentos para detecção dos diversos receptores tumorais, sistemas de mapeamento genético preditivos, de identificação e/ ou de confirmação de diagnóstico de diversos tipos de cancro, sendo indicadores da abordagem terapêutica mais adequada.
17 SAÚDE
REPORTAGEM
A NUTRIÇÃO E A SUA IMPORTÂNCIA
Dra. Olga Carvalho Presidente da Associação Angolana de Nutrição
É SABIDO QUE PACIENTES COM CANCRO PRECISAM DE UMA ALIMENTAÇÃO ADEQUADA, DURANTE E APÓS O TRATAMENTO. DURANTE A QUIMIOTERAPIA, RADIOTERAPIA, IMUNOTERAPIA OU CIRURGIA, O PACIENTE ACABA POR APRESENTAR ALGUMAS ALTERAÇÕES QUANTO À RECEPÇÃO DOS ALIMENTOS, PELO QUE É NECESSÁRIO QUE SE FAÇA A OFERTA ALIMENTAR QUE SE ADEQUA ÀS SUAS NECESSIDADES. A DRA. OLGA CARVALHO ABORDA ALGUNS ASPECTOS IMPORTANTES A TER EM CONTA POR ESTES PACIENTES.
18 SAÚDE
A
nutrição é relevante, porque é através dela que conhecemos a importância dos alimentos, o seu valor nutritivo, as quantidades que podemos consumir e que nos ajudam a suprir as nossas necessidades, evitando, assim, doenças do foro alimentar. Os alimentos são um conjunto de nutrientes necessários ao funcionamento fisiológico do organismo. Quando não os há, pode resultar em doenças, como, por exemplo, desnutrição. Quando os há por excesso, obesidade. A má alimentação pode levar ao aparecimento de doenças crónicas não transmissíveis, como diabetes, hipertensão, anemias e cancro, entre outras. Por isso, é necessária uma alimentação com qualidade e balanceada. Alimentar-se bem é um direito de todo ser humano e a promoção da alimentação saudável um marco que deve existir em todas as comunidades e povos. Para a promoção de uma alimentação saudável, apenas se precisa de apresentar às pessoas todos os grupos de alimentos, como os carboidratos, proteínas, fontes de gorduras saudáveis, frutas, verduras e legumes, que são fontes de fibra, vitaminas e minerais. Durante o desenvolvimento dos sectores da nutrição, foram determinadas as necessidades nutricionais para ingestão, prevenindo, assim, deficiências. Mas existem as particularidades para cada indivíduo e povos, que são influenciados pela cultura, e também essas devem ser respeitadas. No nosso país, Angola, temos estas diferenças. Por exemplo, no Norte de Angola e no Leste, a maior fonte de carboidrato é a mandioca, da qual é feito funge, kikuanga, farinha e mandioca cozida. Já no Centro Sul, a maior fonte de carboidrato é o milho, do qual é feito o pirão, o matete e as papas. Ambos os alimentos são boas fontes de carboidratos, mas, na hora de comer, é necessário haver combinação, para que nenhum nutriente fique fora do compasso. É importante que a refeição contenha todos os grupos de alimentos. Grupos de alimentos existentes Existem vários grupos de alimentos que fazem a sincronia na sua ingestão,
19 SAÚDE
respondendo cada um à sua função no nosso organismo: •2 Proteínas, nutrientes chamados de construtores, encontradas no peixe, ovo, almondegas, frango, carne, leite, iogurtes, muteta, muamba de ginguba, feijões, ervilha, grão-de-bico e wanguila. São conhecidas também como macronutrientes de origem animal e vegetal. São os maiores fornecedores de compostos chamados de aminoácidos essenciais, que o corpo não produz, mas que têm a função de ajudar na formação e
renovação dos tecidos. As suas principais fontes são leguminosas, carne, peixe e aves. Devem ser consumidas numa quantidade de 15% da dieta total. •2 Carboidratos ou hidratos de carbono, chamados de energéticos, porque são responsáveis por dar força ao corpo. São macronutrientes provenientes de plantas, raízes, sementes, frutos e folhas. Têm como função fornecer energia e são a maior fonte de açúcar, dando ao organismo a energia necessária para que possa exercer as actividades diárias. Devem ser consumidos numa quantidade de 55% a 60% da dieta total. As suas fontes principais são funge, arroz, pão, mandioca, batata-doce, batata rena, bolacha, banana, batata inhame, abóbora, papas de cereais e banana verde.
20 SAÚDE
•2 Hortaliças e legumes, fontes de fibras e vitaminas, conhecidas como reguladores. Por exemplo, quizaca, maxanana, jimboa, couve, repolho, quiabo, cenoura, brócolos, espinafres, pepino, beringela, alcachofra, pimento, vagem, couve-flor, alface, alho e cebola. •2 Frutas, fontes de fibras, vitaminas e minerais. Por exemplo, múcua, maboque, manga, banana, maçã, mamão, pêra, maracujá, morango, mangustão, abacaxi, gajaja, abacate, melão, melancia, kiwi, laranja, uva, martilho, limão, tomate, fruta-pinha, carambola, ameixa, goiaba, loengo, tangerina e nêspera. • Vitaminas e minerais têm a função de modular o sistema imunológico do organismo, evitando que doenças de baixa imunidade atinjam os indivíduos, aumentando, assim, a capacidade de melhoria no organismo. • Fibras ajudam na produção de vários componentes, que levam à formação de elementos que melhoram os sistemas gástrico e imunológico, como o aumento do bolo fecal nos movimentos peristálticos, a prevenção de canceres de cólon, a produção de aminoácidos de cadeia curta, que ajudam no sistema e regulação do organismo, fortalecendo as bactérias do intestino grosso para absorverem os nutrientes com alta potencialidade. O cancro O cancro é um termo utilizado para diferentes tipos de doenças malignas, que têm em comum o crescimento desordenado de células, que podem invadir tecidos perto ou órgãos à distância, dividindo-se rapidamente. Estas células tendem a ser muito agressivas e incontroláveis, determinando a formação de tumores que podem espalhar-se para outras regiões do corpo. Segundo o Instituto do Câncer do Brasil (IC), existem diferentes tipos de cancro que correspondem aos vários tipos de células do corpo. Quando começam em tecidos epiteliais, como pele ou mucosas, são denominados carcinomas. Se o ponto de partida são os tecidos conjuntivos, como osso, músculo ou cartilagem, são chamados sarcomas.
Outras características que diferenciam os diversos tipos de cancro entre si são a velocidade de multiplicação das células e a capacidade de invadir tecidos e órgãos vizinhos ou distantes, conhecida como metástase. A alimentação e o cancro A alimentação está muito relacionada com o cancro. É sabido que pacientes em tratamento de cancro precisam de uma alimentação adequada, durante e após o tratamento. Durante a quimioterapia, radioterapia, imunoterapia ou cirurgia, o paciente acaba por apresentar algumas alterações quanto à recepção dos alimentos. Então, é necessário que se faça a oferta alimentar que se adequa às suas necessidades. Muitos desses pacientes acabam por apresentar desnutrição por inadequação de nutrientes. Existe a particularidade inerente a cada paciente, mas é necessária uma dieta balanceada, que o ajude na recuperação durante o tratamento. A desnutrição pode fazer com que o paciente se sinta fraco, cansado e se torne incapaz de combater as infecções e, em alguns casos, de realizar e concluir o tratamento do cancro. A desnutrição pode contribuir para a projecção da doença. Comer determinados tipos de alimentos antes, durante e depois do tratamento do cancro ajuda a fortalecer o organismo, fazendo com que o paciente se sinta melhor e mais disposto. Uma dieta saudável significa comer e beber alimentos que contenham nutrientes importantes de que o corpo precisa para seu funcionamento, como vitaminas, minerais, proteínas, carboidratos, gorduras e água. Se a pessoa não sabe como fazer uma alimentação balanceada, o melhor é procurar um nutricionista para a orientar. O objectivo da nutrição num paciente com o cancro é dar um tratamento adequado ao paciente em causa. Alguns aspectos importantes quando o paciente apresenta anorexia: •2 Deve comer alimentos ricos em proteínas, como carnes brancas, peixe, ovos, feijões, muamba de ginguba, muteta, wanguila, catato, cogumelos e leite integral. •2 Deve comer pão, bolachas, mandioca cozida em pequenas quantidades, banana verde cozida temperada, batata-doce em pequenas quantidades com abacate, funge, arroz e papas, se tolerado. •2 Deve comer verduras e legumes. Se não conseguir mastigar, deve pedir para triturar
com uma varinha mágica ou no liquidificador. •2 Deve ter sempre frutas fatiadas, numa pequena tigela, e comer aos poucos. •2 Se tiver alguma dificuldade em comer, durante as refeições, deve beber sumos, batidos de abacate, banana, sopas, sumos de fruta naturais. •2 Deve preparar pequenos lanches para quando lhe apetecer comer. •2 A comida deve ter um aroma agradável. •2 Deve procurar comer alimentos novos e, nas principais refeições, comer à vontade. •2 Deve beber água ao longo do dia. •2 Deve fazer exercícios físicos e explicar sempre ao médico como se está a sentir casa. •2 Se estiver com náusea, deve procurar comer comida de que goste, alimentos macios e fáceis de mastigar, caldos e sopas e comer devagar. Deve evitar comidas pesadas que provoquem mal-estar e não deve pular as refeições. •2 Deve escovar sempre os dentes, depois de comer, e procurar anotar tudo que comer. •2 Pode usar canudos para chupar os batidos. •2 Deve fazer, pelo menos, cinco a seis refeições por dia. •2 Deve evitar bebidas alcoólicas, jindungo, bebidas gaseificadas, embutidos, alimentos industrializados com conservantes.
DURANTE A QUIMIOTERAPIA, RADIOTERAPIA, IMUNOTERAPIA OU CIRURGIA, O PACIENTE ACABA POR APRESENTAR ALGUMAS ALTERAÇÕES QUANTO À RECEPÇÃO DOS ALIMENTOS. ENTÃO, É NECESSÁRIO QUE SE FAÇA A OFERTA ALIMENTAR QUE SE ADEQUA ÀS SUAS NECESSIDADES. MUITOS DESSES PACIENTES ACABAM POR APRESENTAR DESNUTRIÇÃO POR INADEQUAÇÃO DE NUTRIENTES
21 SAÚDE
REPORTAGEM
A AMBIÇÃO DE SER REFERÊNCIA EM ÁFRICA NO CONTROLO DO CANCRO
22 SAÚDE
ANUALMENTE, SÃO REGISTADOS EM ANGOLA CERCA DE 15 MIL CASOS DE CANCRO, COM PROBABILIDADE PARA 10 MIL MORTES, INDICA A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (OMS). COM O ENVELHECIMENTO DA POPULAÇÃO E A EXPOSIÇÃO CRESCENTE A FACTORES DE RISCO, AUMENTAM AS TAXAS DE INCIDÊNCIA DE CANCRO NO PAÍS, AO PONTO DA OMS ESTIMAR QUE O NÚMERO DE CASOS POSSA CRESCER CERCA DE 134%, ATÉ 2040. INFELIZMENTE, O DIAGNÓSTICO EM ANGOLA É TARDIO, NA MAIOR PARTE DAS SITUAÇÕES, MAS UMA GRANDE PARTE DAS DOENÇAS ONCOLÓGICAS É PREVENÍVEL. É PRECISAMENTE NESTA ÁREA, A DA PREVENÇÃO, QUE SE INSCREVE A MERITÓRIA ACTUAÇÃO DA LACC – LIGA ANGOLANA CONTRA O CANCRO, QUE AMBICIONA SER UMA REFERÊNCIA EM ÁFRICA NO CONTROLO DESTAS DOENÇAS.
A
LACC é uma organização não governamental sem fins lucrativos, destinada exclusivamente à prevenção do cancro e à promoção da melhoria da qualidade de vida dos portadores de doenças oncológicas. No âmbito da sua actuação, insere-se também a cooperação multidisciplinar para o desenvolvimento de actividades de interesse comum, destinadas a contribuir para a melhoria de vida das populações, de Angola e não só, já que a sua maior ambição é ser referência em África no controlo do cancro. É nessa medida que a LACC se assume como parceira do Estado e de todas as instituições, sejam elas estatais ou privadas, que tenham como objectivo a luta contra o cancro. Projectos Dada a importância da prevenção na abordagem às doenças oncológicas, a LACC está activamente envolvida em acções de prevenção primária, através da sensibilização para a sua importância via a educação para a saúde preventiva, palestras, entrevistas nos meios de comunicação social e distribuição de peças informativas, mas também de prevenção secundária, com o auxílio ao diagnóstico precoce, com campanhas de rastreio, e terciária, através do apoio psicossocial e material e da assistência aos pacientes hospitalizados. A sua actuação manifesta-se, também, através dos vários projectos que a LACC tem em curso. Um bom exemplo é o Projecto Carecas, que consiste na criação de um banco de perucas,
chapéus e lenços para mulheres diagnosticadas com cancro da mama ou do colo do útero, ou a Cozinha Oncológica, através da recolha de alimentos que permitem continuar a assegurar a alimentação saudável dos doentes internados em tratamento no Instituto Angolano de Controlo do Câncer (IACC). Aliás, porque a qualidade da alimentação é fundamental no tratamento do cancro, outro dos projectos da Liga Angolana Contra o Cancro é o Nutrir para Viver, consistindo na promoção de consultas e no acompanhamento nutricional aos pacientes oncológicos, bem como na partilha de cartazes com receitas nutricionais. Em curso, a LACC tem também os projectos de contas solidárias, de modo a recolher donativos que permitam apoiar as iniciativas por si desenvolvidas, como, por exemplo, a criação de uma casa de apoio no IACC para acolher os doentes oncológicos vindos, de outras províncias de Angola, para ali efectuarem o seu tratamento. Desafios A criação desta casa de apoio, para os pacientes e as suas famílias, é de facto um dos grandes desafios da LACC, na sua busca incessante pela melhoria da qualidade de vida dos doentes oncológicos. Mas não é o único. Outro dos desafios é a descentralização das suas actividades, chegando às demais províncias
23 SAÚDE
“Arte ao Peito” ajuda na luta contra o cancro em Angola O Outubro Rosa vai, este ano, ser também celebrado através da exposição “Arte ao Peito”. Esta é uma iniciativa da Liga Angolana Contra o Cancro (LACC), em parceria com a farmacêutica Roche (Roche PALOP), desenvolvida no âmbito dos seus projectos de responsabilidade social. As obras artísticas estiveram em exposição, de 1 a 15 de Outubro, nas galerias do 1.º piso do Shopping Avennida, no Morro Bento, e entre os dias 29 de Outubro e 13 de Novembro estarão no Memorial António Agostinho Neto. As suas vendas reverterão para apoiar a actividade da LACC. A “Arte ao Peito” tem como principal objectivo ajudar as doentes com cancro da mama e as suas famílias, em Angola, através da angariação de fundos e do donativo de sutiãs para mulheres mastectomizadas. As verbas angariadas vão apoiar a LACC em acções preventivas e também na assistência às mulheres vítimas de cancro. Foi também feito um donativo de sutiãs novos para mulheres mastectomizadas em Luanda, uma vez que, em Angola, há carência da produção de sutiãs com este propósito específico. A instalação de arte em Luanda, feita com os sutiãs transformados, vai permitir angariar fundos para ajudar a LACC, apoiando os doentes nas suas deslocações e estadias durante o tratamento no Instituto Angolano Contra o Câncer, único centro de tratamento de cancro no país. Os sutiãs recolhidos foram transformados por doentes, antigos doentes, familiares, profissionais de saúde e artistas de referência que desenvolvem o seu trabalho em Angola: Fineza Teta, Mumpasi Meso, Cristiano Mangovo, Joana Taya, Ricardo Kapuka e marcas como Sakocuia, As Marias e Lovekhaos design. Esta é a primeira edição da campanha “Arte ao Peito”, uma iniciativa que se prevê crescer nos anos vindouros.
24 SAÚDE
de Angola, de modo a poder apoiar o maior número possível de pessoas Numa óptica de cooperação, tão necessária para lidar com o flagelo desta doença, é também objectivo da Liga colaborar com o Governo angolano e com as instituições ligadas à oncologia na diminuição e controlo das fases avançadas da doença, apostando naquele que é, efectivamente, o seu maior foco: a prevenção primária. Um propósito que nem a pandemia de Covid-19 e todas as restrições a si associadas vieram diminuir. Em 2020/2021, e apesar do difícil contexto pandémico, a LACC continuou a desenvolver palestras (20 no total, com 228 palestrantes) e consultas de rastreio (204 no total) e espalhar a sua mensagem através da comunicação social, com a sua presença em 21 entrevistas e 35 lives. Também manteve as visitas aos pacientes internados e as campanhas de recolha de alimentos e materiais de biossegurança. Destaque ainda para a exposição fotográfica, com a participação de 31 mulheres que vivem alguma das fases da doença (31 guerreiras), oriundas de sete países, com a finalidade de elevar e resgatar a sua auto-estima e a auto-imagem, brutalmente afectada durante o tratamento contra o cancro, e alertar para a importância do diagnóstico precoce. Ou para os quatro Chás de Rosa com guerreiras de Angola, Portugal, Moçambique, Brasil, Cabo Verde e Guiné.
25 SAÚDE
ENTREVISTA
“A MENOPAUSA NÃO É DOENÇA”
Dra. Judith Ferreira Médica Gineco-Obstetra da Clínica Junic. Autora do livro “Atlas de Rastreio de Patologias do Colo e do Útero”
26 SAÚDE
A SAÚDE DA MULHER É MUITO IMPORTANTE E DEVE SER DE VIGILÂNCIA EXTREMA. SEGUNDO A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, AS DOENÇAS CARDIOVASCULARES SÃO RESPONSÁVEIS POR UM TERÇO DAS MORTES DAS MULHERES NO MUNDO, CHEGANDO MESMO A ULTRAPASSAR O CANCRO DA MAMA. NUMA ALTURA EM QUE SE COMEMOROU O DIA MUNDIAL DO CORAÇÃO (29 DE SETEMBRO), MAS TAMBÉM O DIA MUNDIAL DA MENOPAUSA (18 DE OUTUBRO) E, ESPECIALMENTE, O OUTUBRO ROSA, DEDICAMOS A NOSSA ATENÇÃO À SAÚDE DA MULHER E DE QUE MODO A MENOPAUSA A AFECTA, COM O CONTRIBUTO DA DRA. JUDITH FERREIRA.
Como é que as mulheres angolanas encaram a sua saúde ginecológica? A assistência médica à mulher necessita de programas sobre planeamento familiar, fertilização e adopção.
Os riscos cardiovasculares aumentam conforme a idade, no entanto, para as mulheres, estes sintomas tornam-se mais evidentes após o início da menopausa, tecnicamente chamada de climatério. Enquanto gineco-obstetra, no seu entender, qual a importância da vigilância e acompanhamento médico? A idade da menopausa ou climatério vai dos 45 aos 60 anos, teoricamente. Esta época coincide com o envelhecimento cardiovascular do ser humano. A menopausa e andropausa não fogem à regra do envelhecimento e, só por si, não são uma doença. São estádios da vida. Dieta e exercícios são saudáveis. Os check-ups cardiovascular e ginecológico são importantes. No mês do Outubro Rosa, não se esqueça de fazer a colposcopia para rastreio do cancro do colo do útero. Na sua opinião, a auto-observação da saúde ginecológica deve manter-se? A mama é uma glândula externa de fácil acesso, até o parceiro pode “salvar” a sua mulher se, um dia, perceber que a palpação da mama não está normal. Faça o seu auto-exame regularmente, todos os meses, após a menstruação. Existem exames específicos a realizar na menopausa? Sim, existem alguns exames a realizar, como a densitometria óssea, a mamografia, a colposcopia, a análise da glicémia, cálcio e magnésio, o electrocardigrama e outros exames complementares relacionados com as doenças preexistentes. Sem esquecer os check-ups específicos ou relacionados com a profissão. Como é que a saúde cardiovascular fica implicada nesta época da vida feminina? Se a paciente chega à menopausa já com patologia cardíaca específica, deve continuar o seguimento conforme recomendação do seu médico assistente.
Quais as principais implicações na saúde da mulher? Alguns estudos clínicos referem que, durante o período de transição da menopausa, surgem vários distúrbios metabólicos lipídicos, devido às alterações hormonais, como a diminuição dos níveis de estrogénios e o aumento dos níveis de androgénios. As alterações não se instalam subitamente. A mulher deve conseguir vencer esta adaptação, assim como as anteriores na menarca, casamento e maternidade. Esta é, para mim, uma época de ouro. A vida já resolvida, viajar, passear, fazer exercícios e colher o que foi semeado. A menopausa não é doença.
Alertar para as patologias do colo do útero O Atlas de Rastreio de Patologias do Colo e do Útero vem reforçar a necessidade de todos tomarmos consciência do problema que afecta várias mulheres, famílias e a sociedade angolana, em especial, ao trazer à luz imagens reais de vários casos atendidos ao longo de mais de 20 anos. A obra ilustra o problema e o perigo que advém se não nos esforçarmos para reverter este quadro. A autora, a Dra. Judith Ferreira, é especializada em ginecologia e obstetrícia e possui uma pós-graduação em Ciências Médicas. Exerceu as suas actividades médico-cirúrgicas relacionadas com a especialidade nas maternidades Augusto Ngangula, Lucrécia Paim, Saurimo e Kilamba Kiaxi. Trabalhou, igualmente, nas clínicas privadas Sagrada Esperança, Privada do Alvalade, Chevron, na Medigoup ou da Mutamba. Foi directora adjunta dos Centros Médicos de Luanda, há mais de cinco anos, e foi responsável pelo primeiro Centro de Planeamento Familiar e Saúde Materno-infantil, pelo FNUAP. Foi directora geral da Maternidade Lucrécia Paim e directora clínica da Maternidade Augusto Ngangula e, ainda nesta, foi chefe do serviço de Colposcopia. Mantém-se activa até ao momento, na Clínica Junic.
27 SAÚDE
REPORTAGEM ENTREVISTA
TRATAMENTO DA DOR EM PEDIATRIA
UM MOTIVO FREQUENTE DE CONSULTA EM PEDIATRIA É A DOR, MESMO QUE TENHA SIDO ESCASSAMENTE VALORIZADA E POUCAS VEZES TRATADA. A QUEIXA DE DOR É UMA DAS RAZÕES MAIS COMUNS DE ATENDIMENTO MÉDICO NOS SERVIÇOS DE EMERGÊNCIA, COM PREVALÊNCIA EM TORNO DE 52,2% A 61,2% EM ALGUNS ESTUDOS (2), ESCASSOS CONHECIMENTOS CIENTÍFICOS POR PARTE DOS MÉDICOS, AO QUE SE UNE A AUSÊNCIA DE ESTUDOS FARMACOLÓGICOS, DADA A ESCASSEZ DE ENSAIOS CLÍNICOS NESTA IDADE.
28 SAÚDE
e a escala visual analógica – EVA, escalas do tipo FLAAC (FACE, LEGS, ACTIVITY, CRY, CONSOLABILITY). Cabe ao profissional de saúde decidir qual dos medicamentos utilizar, levando em consideração alguns aspectos, nomeadamente, a idade da criança, a intensidade da dor e o fármaco que melhor conhece.
Dr. Manuel Leite Cruzeiro Pediatra e neurologista. Director clínico do Consultório Peandra, Luanda
A
dor em crianças, sobretudo nas mais pequenas, é difícil avaliar e tem, por isso, sido negligenciada (1). Por outro lado, os preconceitos relativamente ao uso de analgésicos opióides nos mais pequenos tem-nos realmente privado deste valioso recurso, para o caso de dores intensas, como no cancro, na anemia de células falciformes e no pós-operatório (1). As experiências prévias e as diferenças culturais entre os membros da equipe de saúde também interferem na apreciação da intensidade da dor e podem induzir a uma avaliação inadequada do sintoma. Há várias escalas de avaliação da dor, nomeadamente, a escala discriminativa simples, a escala numérica, a escala de avaliação facial de Wong Baker, a escala de avaliação de copos, a escala de Oucher
Dor A dor é definida como uma sensação ou experiência emocional desagradável, associada a um dano tecidual real ou potencial ou descrita em termos deste dano. As causas mais frequentes de dor são secundárias a trauma, seguido de infecções (apendicite e faringite estreptocócica) e inflamações. Também é frequente encontrar-se na doença falciforme, cefaleias, cólicas renais, neoplasias e de causas odontológicas. É necessário prevenir a dor provocada por procedimentos dolorosos, tratar precocemente a dor da criança que é atendida no serviço de emergência e identificar a dor no pós-operatório (2). Para tratar a dor, tem de notar-se a sua presença e avaliar-se o seu grau e isso torna-se difícil nas crianças mais pequenas. Recorre-se, então, a “escalas da dor”, que podem ser auto-avaliativas (analógicas), a partir dos três a quatro anos, enquanto no recém-nascido e criança até aos três anos se recorre a heteroavaliação das manifestações corporais da dor (1). As escalas auto-avaliativas são o indicador mais simples e confiável da intensidade da dor, sendo restritas às crianças que têm alguma possibilidade de comunicação verbal. As crianças de um a três anos também podem ser avaliadas de forma indirecta e, em geral, respondem à dor com movimentos e choro, ficam agressivas, costumam localizar a dor com a mão, agridem com palavras e buscam os pais. As medidas de resposta biológica à dor, como frequência cardíaca, medida da saturação de oxigénio e da pressão arterial são mais úteis na mensuração da dor aguda de curta duração e devem ser distinguidas das situações de risco de
Escala facial Wong Baker
29 SAÚDE
vida, tais como hipoxia, retenção de CO2 ou hipoglicemia. Podemos classificar a dor em aguda (imediata), crónica (com até três meses de duração) ou recorrente (com ocorrência, no mínimo, mensal, por um mínimo de três meses). Na prática, podemos considerar que a dor aguda está associada a alterações orgânicas ou funcionais, a dor crónica a intervenções médicas ou doenças crónicas. Tratamento da dor O tratamento com analgésicos e sedativos tem o objectivo de aliviar a dor, de obter estabilidade fisiológica, de diminuir a ansiedade e de minimizar as consequências fisiológicas negativas. A dor deve ser tratada profilacticamente, tanto no pós-operatório quanto nos procedimentos médicos. Isto porque alguns autores relataram que a analgesia preventiva reduz a necessidade de analgésicos. A administração de analgésicos não deve ser dolorosa, devendo-se evitar a via intramuscular, a subcutânea, a endovenosa, a rectal ou a intranasal, quando outras possibilidades estiverem disponíveis ou quando a intensidade da dor não justificar o
30 SAÚDE
seu uso. A maior vantagem da via oral é a facilidade de administração, porque é indolor e de baixo custo, mas a eficácia deste método depende de diversas variáveis, como a absorção gastrointestinal, o metabolismo hepático, o pH gástrico, entre outras. A via rectal é bem tolerada, mas pode ocorrer uma variação na absorção. A via intramuscular é dolorosa e pode haver grande variação nos níveis sanguíneos terapêuticos dos fármacos. A via endovenosa promove rápido alívio da dor, mas tem a desvantagem de necessitar de um acesso venoso. Não é infrequente a criança ocultar o desconforto temendo que a sua queixa resulte em administração de medicação parenteral. As estratégias para o controle da dor incluem o uso simultâneo de medidas farmacológicas e não farmacológicas. As abordagens não farmacológicas são de importância fundamental na dor crónica, mas não podem ser esquecidas na dor aguda, quando é possível utilizar várias formas de distracção, como música, vídeo, jogos e histórias. Tais medidas possibilitam que as crianças se concentrem em pensamentos agradáveis e não na dor.
Os perigos de uso dos opiáceos A relutância no recurso aos opiáceos baseia-se no receio de criar viciação e também nos seus efeitos depressores da respiração. Na verdade, os opióides têm uma acção analgésica que não deve confundir-se com a depressão provocada pelos anestésicos gerais, provocando apenas sedação, alguma depressão respiratória, náuseas e obstipação. Devem distinguir-se as situações de tolerância (menos efectividade com a continuação do uso), dependência física (sintomas de abstinência) e adição ou viciação. Estes observam-se raramente no tratamento da dor por períodos curtos. Quando um recém-nascido necessita de suporte ventilatório, o uso métodos, devem ser de depressão eutéctica de anestésicos locais (EMLA) de morfinaentretanto, ou fentanil énão usual, sem receio respiratória (1).
Estes usados em detrimento do uso de analgésicos combina lidocaína e prilocaína e está indicada, Conclusão apropriados. Uma equipe multidisciplinar tem principalmente, em punções venosas e Controlar a dor em crianças é uma parte fundamental da boa prática médica e um maior oportunidade de alcançar melhores arteriais, punção lombar, punção de medula atendimento de alta qualidade. Para isso, deve-se eliminar qualquer erro, sobre o qual seja resultados no controle da dor e, sem dúvida, óssea, imunização, injecções, circuncisões, necessário insistir, com base em alguns dados epidemiológicos e fisiopatológicos, que visam a equipeprevenir, de enfermagem umfor papel tratamentos laser e pacientes em procedimentos curar ou, se tem isso não possível, aliviar o sofrimento dos apequenos (3). importante a desempenhar. de otorrinolaringologia (miringotomia). Referências Os anestésicos tópicos são, de certa forma, Recomenda-se também sua aplicação em Luís, fármacos B., Dor, Introdução ao diagnóstico e tratamento doenças mais comuns em intacta esquecidos1)como para a prevenção, forma de das curativo oclusivo na pele crianças. Editor Luís B; Luanda 2015. bem como 2) para o tratamento da dor em durante, aproximadamente, 60 minutos, Durval, K.; Suedy, W., Dor na criança – Avaliação e terapêutica, Editora Cristália, Brasil pediatria. São 2013. usados mais frequentemente na para promover anestesia local até uma otite média,3)externa, furunculose, de dois a quatro milímetros. Verónica, R., Manejo delestomatites, dolor en pediatria Iprofundidade – Pediatras Andalucia, 2019. 4) Guidelines on the management in children, Organization, aftas, hemorroidas e fissuras. Devem serof chronic pain O tempo de World início HeaIth de acção é citado como a 978-92-4-001787-0 (electronic ISBN 978-92-4-001788-7 (print version), utilizados paraSBN todos os procedimentos que version),maior desvantagem para o uso de EMLA nos 2020. envolvam o uso de agulhas. Uma mistura serviços de emergência. Se usado em áreas 5) Roger C., Jesse W., Azrah A., et al, Treatments for Acute Pain: A Systematic Review, editora: AHRO (Agency for Healthcare Research and Quality), 2020.
Lista de verificação da dor em crianças que não comunicam Gemidos, lamentos, soluços, choros, gritos/berros. Som ou vocalizações específicas, “palavras”, choro, tipo de “riso” Alimentação/sono Come menos, não interessado em alimentos Dorme mais ou menos Social/personalidade Não coopera, mal-humorado, irritável, infeliz Menos interacção, retraído Procura conforto ou proximidade física Difícil de distrair, impossível de satisfazer ou acalmar Expressão facial da dor Encolhe-se, faz caretas, testa franzida Alteração nos olhos, franze as sobrancelhas, olhos muito abertos ou franzidos Cantos da boca voltados para baixo, ausência de sorriso Lábios contraídos e apertados, fazendo “beiço”, ou trémulos Cerra e range os dentes, mastiga, põe a língua para fora Actividade Imóvel, menos activo, quieto Pula para todo o lado, agitado, inquieto Voz
Corpo e membros
Fisiológicos
(Adaptada de Mcgrath et al., 2000)
Moles, espásticos, tensos, rígidos Faz gestos em direcção à parte do corpo que dói ou a toca, protege, vigia ou defende a parte dolorida ou sensível ao toque Movimenta o corpo de maneira específica para indicar dor (como encolher os braços ou jogar a cabeça para trás) Mudança na cor, palidez Suor, transpiração, tremores Lágrimas Forte ingestão de ar, prende a respiração
Tabela 2 Dor Leve (1-3) Moderada (4-6)
Tratamento da dor Não inflamatória Paracetamol, Salicilatos, Dipiroma Metamizol opióides fracos: Codeína,Tramadol, Pentazocina, Nalbufina,
Inflamatória Ibuprofeno AINEs: Ibuprofeno, Naxopreno, Ketoprofeno, Diclofenac
31 SAÚDE
extensas ou mucosas, pode induzir metahemoglobinemia. Em menores de seis meses, este risco está aumentado. Os perigos de uso dos opiáceos A relutância no recurso aos opiáceos baseiase no receio de criar viciação e também Corpo e depressores membros nos seus efeitos da respiração. Na verdade, os opióides têm uma acção analgésica que não deve confundir-se com a depressão provocada pelos anestésicos gerais, provocando apenas sedação, alguma depressão respiratória, náuseas e obstipação. Fisiológicos Devem distinguir-se as situações de tolerância (menos efectividade com a continuação do uso), dependência física (sintomas de (Adaptada de Mcgrath et al., 2000) abstinência) e adição ou viciação. Estas
observam-se raramente no tratamento da dor por períodos curtos. Quando um recémnascido necessita de suporte ventilatório, o uso de morfina ou fentanil é usual, sem receio de depressão respiratória (1). Conclusão
Moles, espásticos, rígidos é uma parte Controlar a dortensos, em crianças Faz gestos em direcção à parte do corpo que fundamental da boa prática médica e um dói ou a toca, protege, vigia ou defende a atendimento alta qualidade. parte dolorida oude sensível ao toque Para isso, deve-se eliminar erro, sobre o qual Movimenta o corpo dequalquer maneira específica para dor (como encolher os braços sejaindicar necessário insistir, com base em alguns ou jogar aepidemiológicos cabeça para trás) e fisiopatológicos, dados Mudança na cor, palidez que visam prevenir, curar ou, se isso não for Suor, transpiração, tremores possível, aliviar o sofrimento dos pequenos Lágrimas pacientes Forte ingestão(3). de ar, prende a respiração
Tabela 2 Dor Leve (1-3) Moderada (4-6)
Severa (7-10)
Tratamento da dor Não inflamatória Paracetamol, Salicilatos, Dipiroma Metamizol opióides fracos: Codeína,Tramadol, Pentazocina, Nalbufina, Oxicodona Opióides fortes: Morfina, Fentanil, Petidina
Inflamatória Ibuprofeno AINEs: Ibuprofeno, Naxopreno, Ketoprofeno, Diclofenac Opióides fortes ±AINE
Referências Bibliográficas: 1 - Luís, B., Dor, Introdução ao diagnóstico e tratamento das doenças mais comuns em crianças. Editor Luís B; Luanda 2015. 2 - Durval, K.; Suedy, W., Dor na criança – Avaliação e terapêutica, Editora Cristália, Brasil 2013. 3 - Verónica, R., Manejo del dolor en pediatria I – Pediatras Andalucia, 2019. 4 - Guidelines on the management of chronic pain in children, World HeaIth Organization, SBN 978-92-4-001787-0 (electronic version), ISBN 978-92-4-001788-7 (print version), 2020. 5 - Roger C., Jesse W., Azrah A., et al, Treatments for Acute Pain: A Systematic Review, editora: AHRO (Agency for Healthcare Research and Quality), 2020.
32 SAÚDE
33 SAÚDE
REPORTAGEM ENTREVISTA
DOIS DIAS COM O PEDIATRA
O NOS PASSADOS DIAS 10 E 11 DE SETEMBRO, O CONSULTÓRIO PEANDRA, COM A ORGANIZAÇÃO DA TECNOSAÚDE, REALIZOU UM EVENTO PRESENCIAL COM TRANSMISSÃO ONLINE COM O TEMA “DOIS DIAS COM O PEDIATRA”. CONSIDERANDO A REALIDADE DO PAÍS E AS NECESSIDADES INFORMATIVAS DA POPULAÇÃO, E EM ESPECIAL DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE, ESTE EVENTO CONTOU COM A PRESENÇA DE UM PAINEL NACIONAL E INTERNACIONAL DE ORADORES E MODERADORES QUE PARTILHARAM AS SUAS EXPERIÊNCIAS. VÁRIOS FORAM OS TEMAS ABORDADOS, NUNCA SE AFASTANDO DO FOCO PRINCIPAL: OS MAIS NOVOS.
34 SAÚDE
Dr. Manuel Leite Cruzeiro, director clínico do Consultório Peandra, foi o grande promotor deste evento e responsável pela criação deste painel de excelência que contou com a presença de oradores do Brasil, Portugal e Angola. “A responsabilidade de realizar um evento agradável e de excelente cunho científico foi e continua a ser grande. Foi possível ter momentos de reflexão e debate sobre as questões mais prementes e os novos desafios com que, actualmente, se depara a pediatria mundial”, afirmou. Objectivos atingidos Desde o tema da “A dor em pediatria” até ao “Autismo: do diagnóstico ao seguimento”, vários profissionais participaram num evento que nem em contexto pandémico permitiu que não se realizasse, tendo sido cumpridas todas as medidas de segurança. Vários foram os parceiros que marcaram também a sua presença, acompanhando todos os profissionais nos dias presenciais. “Começo por endereçar uma palavra de apreço a todos
os participantes, tanto presenciais como à distância, a quem agradeço nos terem dado a honra de dispensarem o seu precioso tempo para poderem estar connosco, nestes dois dias; aos excelentes oradores que aqui nos trouxeram a sua experiência e conhecimento; um agradecimento aos moderadores, os quais muito contribuíram para o sucesso do funcionamento dos vários painéis; um agradecimento muito especial aos nossos patrocinadores, que nos acompanham há muitos anos e que, novamente, responderam com grande aceitação ao nosso repto; a toda a minha equipa, que em todos os momentos esteve ao meu lado e fez com que este maravilhoso evento fosse um sucesso, e à Tecnosaúde, pelo brilhante profissionalismo e disponibilidade tecnológica para que fosse possível este sonho passar a realidade. Ciente de que todos nós saímos muito mais informados e capazes de atender com maior qualidade os nossos pequenos, ficam atingidos os nossos objectivos gerais. Brevemente estaremos de volta”, prometeu. Visualizações Apenas após 24 horas do evento, o mesmo já contava com mais de 500 visualizações e o interesse continua a ser enorme. Caso pretenda assistir, veja o programa abaixo e assista a estes dois grandes dias. PUB
35 SAÚDE
REPORTAGEM
O ENQUADRAMENTO REGULAMENTAR
Dra. Zola Mayamputo João Técnica Média de Farmácia pelo IMS de Luanda. Licenciada pela Universidade Jean Piaget de Angola/Ciências Farmacêuticas. Agente de Segurança, Higiene e Saúde no trabalho. Directora técnica da Australpharma
36 SAÚDE
A ÁREA REGULAMENTAR COMPREENDE AS EXIGÊNCIAS DOS PADRÕES DE SEGURANÇA QUE AS AUTORIDADES IMPÕEM NO DOMÍNIO DA SAÚDE E, MUITO ESPECIALMENTE, NO SECTOR FARMACÊUTICO. O REGULAMENTO DO EXERCÍCIO DA ACTIVIDADE FARMACÊUTICA, NOMEADAMENTE, OS ARTIGOS 1.º E 2.º, DO DECRETO PRESIDENCIAL N.º 191/10, DE 1 DE SETEMBRO, DEVE SER CONSULTADO POR TODOS OS PROFISSIONAIS. A ACTIVIDADE DO MINISTÉRIO DA SAÚDE É ENQUADRADA E ESTRUTURADA DE ACORDO COM DIPLOMAS LEGAIS.
D
e 1975 a 1992, o Sistema Nacional de Saúde (SNS) angolano baseava-se nos princípios da universalidade e gratuidade dos cuidados de saúde primários. Já a partir de 1992, com aprovação da Lei 21-b/92, lei de bases do SNS, o Estado angolano deixou de ter a exclusividade na prestação dos serviços de saúde e admitiu a comparticipação dos utentes, com o pagamento de taxa moderada. Actualmente, os cuidados de saúde são prestados pelos sectores público e privado, sendo que a protecção da saúde constitui um direito dos indivíduos e a responsabilidade conjunta dos cidadãos e do Estado em liberdade de procura e de prestação de cuidados de saúde. O estado de saúde da população angolana é caracterizado pela baixa esperança de vida ao nascer, altas taxas de mortalidade materna e infantil, um pesado fardo de doenças transmissíveis e crescentes doenças crónicas e degenerativas, bem como mortalidade prematura evitável. Há evidências que apontam para o aumento do uso de estupefacientes e este já é notório nos meios urbanos. De acordo com o exposto, verifica-se que precisamos ser urgentes e mais práticos nas nossas responsabilidades, no campo de actuação onde nos encontramos, e vemos isto nos artigos 21.º e 23.º da Secção III da I Série n.º 166, de 1 de Setembro de 2010, sobre o regulamento do exercício da actividade farmacêutica. Após ter-me tornado directora técnica activa, os resultados ganharam uma importância acrescida para mim. Comecei a estar mais próxima destes, das mudanças e dos desafios e a entender melhor o circuito dos medicamentos, a sua importação e as etapas antes e depois de chegarem ao país, o
seu percurso até ao consumidor final. Assim como a entender que não nos devemos focar nos problemas, mas sim nos resultados, e que os problemas nos ajudam a sair do comodismo e a amadurecer-nos cada vez mais. Nisto, a busca pela gestão da qualidade dos serviços prestados foi ficando mais evidente e abrangente e entender os procedimentos, processos, recursos e actividades na permanência no circuito legal, com a análise e avaliação da eficiência no tratamento dos serviços farmacêuticos prestados à população. Por que razão aconteceu? Quais foram as causas de não conformidade? Faça uma descrição, analise. Identificar a causa e os cinco porquês é algo positivo para melhorar. Aumenta a satisfação de ser um farmacêutico de alta performance e a notoriedade junto daqueles que recorre aos nossos serviços. O regulamento proporciona o desafio de colocar-se sempre no lugar do outro e é uma proposta para ter uma visão de sucesso. A melhoria contínua da qualidade dos produtos e serviços, com os procedimentos para atingir a eficiência neste sector de actividade farmacêutica, marca toda a diferença num mercado cada vez mais competitivo e informado. Sugiro o uso de comunicação eficaz: questionar, escutar e reformular. Esclarecer, informar e aconselhar de forma precisa aos que acorrem aos nossos serviços ou a quem nos prestamos a servir com zelo. O uso racional de medicamentos é uma dimensão da problemática, pois continuam a revelar-se práticas comuns de uso irracional, fruto do pouco trabalho de divulgação dos prestadores de serviços e da inclusão de valores como a parceria, eficiência, inovação, serviço, simplicidade, qualidade dentro de uma visão e missão de acesso à saúde. Estamos todos no novo desafio de saber quem é, como, quando e porquê da ARMED? É necessário conhecer as exigências e o que é que esse novo órgão, a ARMED, vai trazer, o que as autoridades impõem como padrões de segurança no sector da saúde e, muito especialmente, no sector farmacêutico, público ou privado. A minha visão é não sermos repetidores, mas sim promotores de inovação. Eu não tenho a capacidade de impedir a morte, mas, entre o nascimento e a morte, estou neste intervalo para fazer toda a diferença e proporcionar a qualidade naquilo que sou chamada a fazer ou a servir aos outros.
37 SAÚDE
REPORTAGEM ENTREVISTA
“PARA MIM, SER FARMACÊUTICO É…” O DIA DO FARMACÊUTICO COMEMOROU-SE A 25 DE SETEMBRO. SENDO CONSIDERADO O ESPECIALISTA DO MEDICAMENTO, E MUITAS VEZES O ELEMENTO MAIS PRÓXIMO DA POPULAÇÃO, A TECNOSAÚDE QUESTIONOU VÁRIOS FARMACÊUTICOS DO NOSSO PAÍS, QUE TRABALHAM EM VÁRIAS ÁREAS DO SECTOR FARMACÊUTICO, E QUE ILUSTRARAM O QUE SIGNIFICA SER FARMACÊUTICO.
Na sociedade, o farmacêutico tem o papel de educador. Ele não dispensa apenas os medicamentos, mais informa sobre o uso racional dos mesmos ZOLA JOÃO directora técnica da Australpharma
38 SAÚDE
Para mim, os farmacêuticos, mais do que fornecedores de medicamento, são prestadores de cuidados que se esforçam para melhorar a qualidade de vida dos pacientes
FREDERICO CHANDALA estudante do curso de Ciências Farmacêuticas na Universidade Jean Piaget
ELINETH DIAS comercial na Australpharma
É o guardião, por excelência, do medicamento, o engenheiro da saúde, com a capacidade de pesquisar e produzir tudo quanto necessário na área da saúde
O farmacêutico é todo o indivíduo que termina uma licenciatura em Ciências Farmacêuticas, um agente de saúde pública, o profissional que tem o conhecimento em química, física e biologia, sobre as propriedades organolépticas dos medicamentos. Um elemento forte, por excelência, o guardião do medicamento, com uma grande capacidade de orientar o uso racional do mesmo e fazer com que sua toma seja segura e eficaz, de modo a manter a qualidade da saúde dos pacientes WILSON ANILBA docente na Universidade Jean Piaget e presidente do conselho fiscal da OFA
É ser parte importante na vida de outrem ÂNGELA CARVALHO farmacêutica na Farmácia Popular
39 SAÚDE
REPORTAGEM
O CONTEXTO DE PANDEMIA GLOBAL TEVE UM IMPACTO EVIDENTE NO PROCESSO DE DIGITALIZAÇÃO DE TODOS OS SECTORES E O DA SAÚDE NÃO É UMA EXCEPÇÃO, PELO CONTRÁRIO. OS CANAIS DIGITAIS DE PROVEDORES DE SERVIÇOS DE SAÚDE TÊM CRESCIDO E EVOLUÍDO BASTANTE, TENDO COMO BASE UM IMPORTANTE INVESTIMENTO NOS SEUS CANAIS E SERVIÇOS DIGITAIS. ESTE CRESCIMENTO DO DIGITAL É UMA RESPOSTA À MUDANÇA DE PADRÕES DE CONSUMO QUE SE TEM OBSERVADO A NÍVEL GLOBAL E NACIONAL.
DIGITALIZAR O SECTOR FARMACÊUTICO 40 SAÚDE
E
m Angola, o processo de digitalização do sector da saúde tem sido mais lento e com algumas limitações. A pandemia veio agravar a crise económica que vivemos, desde 2014, reduzindo o poder de compra dos cidadãos e tendo um impacto negativo no sector farmacêutico. Estes indicadores tornam-se visíveis quando se observa a mudança do padrão de compra dos utilizadores. Por exemplo, temos observado que existe maior procura de produtos farmacêuticos a partir da última semana de cada mês e durante um período de 10 dias. Os desafios do sector são enormes e difíceis de superar. Contudo, trazemos neste artigo algumas propostas de soluções que poderão ajudar a minimizar o impacto sentido.
• Aumento de serviços complementares: o aumento de serviços complementares, tais como as entregas, é uma excelente maneira de fazer crescer as fontes de rendimento das farmácias. Num momento em que os utilizadores procuram, cada vez mais, a comodidade e evitar deslocações desnecessárias, a possibilidade de entregas é um serviço importante para as farmácias. A grande limitação: a legislação vigente em Angola, que proíbe a entrega de medicamentos ao domicílio. Os medicamentos representam cerca de 50% dos produtos pesquisados pelos utilizadores nas farmácias. É importantíssimo que o regulador possa adaptar estas limitações, permitindo, de maneira controlada, que os medicamentos possam ser entregues ao nível nacional.
Como podem as farmácias ultrapassar este período de mais difícil?
• Presença em canais digitais: os canais digitais têm crescido bastante e são a melhor maneira de trazer
visibilidade a um custo controlado. • Maior foco nos dados: num momento de escassez e de redução de poder de compra dos utilizadores, torna-se extremamente importante ser assertivo na gestão de stock. É importante saber os produtos que são mais procurados e poder aumentar as quantidades em stock dos mesmos, diminuindo os menos solicitados. Mais uma vez, as ferramentas digitais podem ser preciosas na definição do stock “ideal”, baseado nas pesquisas dos utilizadores e em outros importantes factores. A Appy Saúde apoia farmácias e outros operadores do sector farmacêutico a darem passos certos e seguros no seu processo de transformação digital. No contexto actual, as parcerias estratégicas são fundamentais e permitem reduzir a “learning curve” que existe ao desenvolver processos e sistemas digitais.
41 SAÚDE
REPORTAGEM REPORTAGEM ENTREVISTA
PARTILHA PARTILHA DO DO CONHECIMENTO CONHECIMENTO É A MELHOR ARMA É A MELHOR ARMA NA LUTA CONTRA NA LUTA CONTRA A MALÁRIA
A MALÁRIA kassai.ao kassai.ao
Vocêpossuium aconta?
Telemóvel / emai Você possui uma conta? Senha Telemóvel / email Lemb Senha rar dent i ificação de usuário Lembrar identificação Acess arde usuário
Acessara Novacont Esqueceu oseu us uário conta ou senha? Nova Esqueceu seuies usuário ou senha? O uso deoCook devese rper mitido no seu navegador O uso de Cookies deve ser permitido no U
seu navegador
Autenticarusando suacontaem: OU
A MALÁRIA É UM DOS PRINCIPAIS PROBLEMAS DE SAÚDE PÚBLICA A DOS PRINCIPAIS PROBLEMAS SAÚDENO PÚBLICA EMMALÁRIA ANGOLAÉEUM UMA DAS PRINCIPAIS CAUSAS DEDE MORTE PAÍS. EM ANGOLA E UMA DAS PRINCIPAIS CAUSAS DE MORTE NO PAÍS. REPRESENTA CERCA DE 35% DA DEMANDA DE CUIDADOS CURATIVOS, REPRESENTA CERCA DE 35%HOSPITALARES DA DEMANDA DE CUIDADOS CURATIVOS, 20% DOS INTERNAMENTOS E 20% DE MORTALIDADE 20% DOS INTERNAMENTOS HOSPITALARES E 20% DE MORTALIDADE MATERNA, INDICADORES QUE TORNAM AINDA MAIS FUNDAMENTAL MATERNA, INDICADORES TORNAM AINDAPARCEIROS MAIS FUNDAMENTAL O DESENVOLVIMENTO DEQUE ESFORÇOS ENTRE PARA QUE O DESENVOLVIMENTO DE ESFORÇOS ENTRE PARCEIROS PARA QUE SE SE ALCANCE A DESCIDA DESTAS PERCENTAGENS E A MELHORIA DO ALCANCE A DESCIDA DESTAS PERCENTAGENS E A MELHORIA DO ESTADO ESTADO DE SAÚDE DA POPULAÇÃO. É NESTE ÂMBITO QUE SOBRESSAI DE SAÚDE DA POPULAÇÃO. É NESTE ÂMBITO QUEKASSAI, SOBRESSAI A MAIS-VALIA DA PLATAFORMA DE E-LEARNING POSICIONADA A MAIS-VALIA DA PLATAFORMA DE E-LEARNING KASSAI, POSICIONADA NA LINHA DA FRENTE DA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA E PROJECTADA PARA NA LINHA DA FRENTE DA INOVAÇÃO E PROJECTADA PARA DESENVOLVER, DE FORMA EFICIENTETECNOLÓGICA E CONVENIENTE, A CAPACIDADE DESENVOLVER, DE FORMA EFICIENTE CONVENIENTE,OFICIAL A CAPACIDADE DOS DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE. O SEUE LANÇAMENTO PROFISSIONAIS DE SAÚDE. O SEU LANÇAMENTO OFICIAL ASSINALOU-SE NO PASSADO DIA 30 DE JULHO, NO HOTELASSINALOU-SE EPIC SANA, NA NO PASSADO DIA 30 DE JULHO, NO HOTEL EPIC SANA, NA CIDADE CIDADE DE LUANDA. DE LUANDA.
Autenticar usando sua conta em:
Google Facebook Micros oft Google Microsoft
PARA ACEDER AO KASSAI, VÁ A WWW.KASSAI.AO NO SEU PARA ACEDER OU AO TELEFONE KASSAI, VÁDIGITAL/TABLET, A WWW.KASSAI.AO NO SEU COMPUTADOR E SIGA AS INSTRUÇÕES. COMPUTADOR OU TELEFONE DIGITAL / TABLET, E SIGA AS INSTRUÇÕES. O ACESSO É GRATUITO. O ACESSO É GRATUITO.
REPÚBLICA DE ANGOLA MINISTÉRIO DA SAÚDE
42 SAÚDE
K KK
assai é uma plataforma de e-learning lançada pelo Programa Nacional de Controlo da Malária, com o apoio da Agência dos Estados Unidos da América para o Desenvolvimento assai é uma assaiplataforma é uma plataforma de e-learning de e-learning lançada lançada Internacional (USAID)/Iniciativa Presidenpelo Programa pelo Programa NacionalNacional de Controlo de Controlo da Ma-da Macial Contra a Malária (PMI). lária, comlária, o apoio comda o apoio Agência da Agência dos Estados dos Estados A fácil acessibilidade é, de facto, uma Unidos daUnidos América da América para o Desenvolvimento para o Desenvolvimento das grandes mais-valias da plataforInternacional Internacional (USAID)/Iniciativa (USAID)/Iniciativa PresidenPresidenma Kassai. Com o apoio da Unitel, cial Contracial a Malária Contra a(PMI). Malária (PMI). está acessível a todos os profissioA fácil acessibilidade A fácil acessibilidade é, de facto, é, deuma facto, uma nais de saúde de Angola, a custo das grandes das mais-valias grandes mais-valias da plataforda plataforzero. E, assim, também o conhema Kassai. maCom Kassai. o apoio Com odaapoio Unitel, da Unitel, cimento se torna acessível em está acessível está acessível a todos os a todos profissioos profissioqualquer momento, em qualquer nais de saúde nais de desaúde Angola, de a Angola, custo a custo lugar, à simples distância de um zero. E, assim, zero. E, também assim, também o conheo conheclique. cimento se cimento tornaseacessível torna acessível em em A plataforma Kassai foi concebiqualquer momento, qualquer momento, em qualquer em qualquer da com o propósito de melhorar lugar, à simples lugar, à distância simples distância de um de um a qualidade da formação e faciliclique. clique. tar o acesso dos profissionais de A plataforma A plataforma Kassai foiKassai concebifoi concebisaúde à informação sobre a gestão da com oda propósito com o propósito de melhorar de melhorar de casos de malária, especialmena qualidade a qualidade da formação da formação e facili-e facilite de crianças com menos de cinco tar o acesso tar odos acesso profissionais dos profissionais de de anos de idade e de mulheres grávidas. saúde à informação saúde à informação sobre a sobre gestão a gestão Através da Iniciativa Presidencial contra de casos de decasos malária, de malária, especialmenespecialmena Malária, o Governo dos Estados Unidos te de crianças te de crianças com menos com menos de cinco de cinco da América está a ajudar Angola na luta contra anos de idade anos de e de idade mulheres e de mulheres grávidas. grávidas. esta doença. Através da Através Iniciativa da Iniciativa Presidencial Presidencial contra contra a Malária,a oMalária, Governo o Governo dos Estados dos Estados UnidosUnidos da América da está América a ajudar está aAngola ajudar Angola na lutana contra luta contra esta doença. esta doença.
43 SAÚDE
Esforço conjunto Uma luta que a todos mobiliza e que só consegue ser travada através da conjugação de esforços, como ficou bem patente no evento de apresentação oficial do Kassai, decorrido no passado dia 30 de Julho, no Hotel Epic Sana, em Luanda. Numa sessão presidida pelo Excelentíssimo Secretário de Estado para a Saúde Pública, Dr. Franco Mufinda, em representação de Sua Excelência a Ministra da Saúde, Dra. Silvia Lutucuta, pretendeu dar-se a conhecer a visão das diferentes instituições que colaboraram para o desenvolvimento e implementação da plataforma Kassai em Angola, nomeadamente, o Ministério da Saúde, a Embaixada dos Estados Unidos da América, através da USAID/PMI, a Associação de Ginecologistas e Obstetras de Angola — AGOA, bem como a Unitel e as organizações envolvidas no desenvolvimento da plataforma: a PSI Angola e a start-up Appy.
Na abertura da sessão, a Dra. Helga Freitas, Directora Nacional de Saúde Pública, destacou o valor da plataforma Kassai na melhoria dos indicadores da malária, rumo ao alcance da cobertura universal, na erradicação da pobreza e no desenvolvimento sustentável do país. Em representação do Ministério da Saúde, o Dr. Franco Mufinda parabenizou a iniciativa que tanto está, e irá ainda mais, contribuir para a melhoria da saúde em Angola.
44 SAÚDE
A sessão contou também com a presença da Embaixadora dos Estados Unidos da América em Angola, Nina Maria Fite, que manifestou a sua satisfação face a esta estreita colaboração. A Associação de Ginecologistas e Obstetras de Angola — AGOA foi representada pelo Dr. Mário Bundo, seu presidente, para quem o Kassai representa um passo gigante na estratégia geral de formação e qualificação contínua destes profissionais. Funcionalidades A plataforma, que já teve a sua implementação piloto em seis das 18 províncias de Angola, com o suporte da PSI, através do projecto Saúde para Todos, financiado pela USAID, permite que todos os profissionais obtenham os mesmos conhecimentos fidedignos e credíveis, independentemente da zona do país onde se encontram. Tem, assim, o enorme potencial de modificar as unidades sanitárias do país, melhorando a qualidade do aconselhamento prestado pelos profissionais de saúde. No evento de lançamento, esta vantagem pode, inclusivamente, ser comprovada através dos testemunhos em vídeo de alguns profissionais que trabalham em províncias distantes da capital e para quem, por vezes, o acesso à Internet e à informação é mais desafiante. São estas barreiras que o Kassai se propõe a quebrar. Para realizar as formações, o profissional de saúde terá, primeiramente, de fazer um teste que avaliará o seu grau de conhecimento. Posteriormente, frequentará o curso que tem a particularidade de ser muito interactivo, com recurso a imagens, vídeos e sons reais, que permitem ao profissional aprender da forma o mais aproximada possível do ambiente de consulta. No final, será novamente submetido a um teste de avaliação, para obtenção de certificado de participação e conclusão É importante referir que, num contexto marcado pela pandemia de COVID-19, graças ao Kassai, mais de 1.500 profissionais de saúde tiveram já a oportunidade de aprimorar os seus conhecimentos, tendo 73% destes demonstrado um aumento e melhoria das suas capacidades. Como tal, a missão e desafios futuros passam pela divulgação desta plataforma junto de todos os profissionais de saúde de Angola e consequente partilha de conhecimento. Já conhece o Kassai? Vá a www.kassai.ao e inicie a sua viagem nesta corrente de conhecimento.
Distribuidora:
, S.A
NEWSLETTER Setembro de 2021 / Nº2
Comércio Geral e Prestação de Serviços
A Suavinex contém uma vasta gama de produtos como chupetas, pequenos aparelhos domésticos, biberões e cosméticos pediátricos com designs inovadores que possibilitam aos pais uma escolha alargada para os seus lhos.
A Interapothek contém uma vasta gama de produtos de hidratação corporal e capilar, oftalmologia, higiene oral para todas as idades adultos e crianças.
COSMÉTICOS SUAVINEX CHUPETAS SUAVINEX
BIBERÕES SUAVINEX
Chupetas fisiológicas e anatómicas com diferentes materiais, tamanhos e designs adaptados a idade.
Biberões com diferentes tamanhos, materiais, funções e designs originais para atender às necessidades e preferências de cada bebê.
Projectados para respeitar o desenvolvimento oral do bebê.
Incorporam válvulas anti-cólicas e mamilos homologados para garantir o cuidado dos mais pequenos.
ALIMENTAÇÃO SUAVINEX
A pele do bebê requer cuidados especiais desde os primeiros dias de vida.
A alimentação do bebê é um dos pontos essenciais para o crescimento saudável dos mais pequenos.
A Suavinex, aprimora fórmulas para oferecer uma linha de cosméticos infantis de alta qualidade, onde prevalecem os ingredientes de origem natural.
Ensiná-los a comer sozinhos será mais fácil do que nunca com produtos alimentares adaptados às suas mãozinhas e com um peso leve.
Cosméticos clinicamente testados sob controle pediátrico e dermatológico, com aroma sutil e textura agradável para estimular os sentidos.
APARELHOS SUAVINEX
Pratos, tigelas, xícaras, copos e biberões, entre outros acessórios, além de esterilizadores ou produtos de limpeza.
CONTACTOS
A Suavinex oferece aparelhos domésticos como processador de alimentos, esterilizadores, aquecedores de biberões, bomba tira leite que buscam oferecer às mães o máximo de conforto, qualidade e garantia.
Luanda Distribuição a Grosso Tel.935 590 059 / 915 555 156 E-mail: encomendas@mosellda.com
Fabricado com materiais e componentes de alta qualidade para ajudar as mamães no seu dia a dia.
Benguela - Lobito Tel.993 051 175 / 925 690 096 E-mail: moselbenguela@mosellda.com
NOSSAS MARCAS
LOCALIZAÇÃO
bene farmacêutica
Luanda
A marca da Familia
Benguela
45 Huambo
SAÚDE
REPORTAGEM ACTUALMENTE, OS CONSUMIDORES ENTENDEM O BEM-ESTAR COMO UM CONCEITO ABRANGENTE, INCLUINDO NÃO SÓ O BEM-ESTAR FÍSICO E A NUTRIÇÃO, MAS TAMBÉM A SAÚDE MENTAL E A APARÊNCIA. COM A RECUPERAÇÃO DOS NÍVEIS DE CONSUMO APÓS A PANDEMIA, O INTERESSE NA INDÚSTRIA DO BEMESTAR TEM VINDO A AUMENTAR, VERIFICANDO-SE UM AUMENTO DA OFERTA DE PRODUTOS E SERVIÇOS, ASSIM COMO DA COMPETITIVIDADE DO SECTOR. ESTA É UMA DAS PRINCIPAIS CONCLUSÕES DO ESTUDO “FEELING GOOD: THE FUTURE OF THE $1.5 TRILLION WELLNESS MARKET”, DESENVOLVIDO PELA CONSULTORA MCKINSEY & COMPANY.
MERCADO GLOBAL DO BEM-ESTAR REGISTA CRESCIMENTO CONTÍNUO
N
um universo de cerca de 7.500 consumidores em seis países, 79% dos inquiridos revela acreditar que o bem-estar é importante e 42% considera-o uma prioridade. O mercado global do bem-estar está avaliado em cerca de 1,5 biliões de dólares, registando um crescimento anual de 5% a 10%. Considerando a evolução contínua das visões no que diz respeito ao bem-estar, o estudo da McKinsey identificou seis dimensões a partir das quais os consumidores entendem o conceito: saúde, fitness, nutrição, aparência, sono e “mindfulness”. Os consumidores procuram cada vez mais agir em prol da sua saúde, sendo possível observar
46 SAÚDE
melatonina, existe agora uma panóplia de apps e outros produtos que prometem melhorar o sono. “Mindfulness” é uma categoria que ganhou popularidade recentemente, na forma de apps e de outras ofertas focadas na meditação e no relaxamento. Durante a pandemia, houve um aumento significativo dos problemas de saúde mental – mais de metade dos consumidores nos países envolvidos no estudo afirma que pretende priorizar o “mindfulness”. Metade dos consumidores afirma também desejar uma maior oferta de produtos e serviços nesta área, o que pode indicar uma oportunidade de negócio para as empresas.
um aumento de aplicações que os ajudam a marcar consultas e a obter receitas médicas ou de dispositivos que monitorizam a sua saúde e sintomas. No que diz respeito ao fitness, verifica-se um aumento exponencial de ofertas criativas, que dão resposta às necessidades dos consumidores na sua própria casa. A nutrição sempre fez parte do conceito de bemestar, contudo, os consumidores esperam agora que a sua comida, além de saborosa, os ajude a alcançar os seus objectivos, com mais de um terço a afirmar que, provável ou definitivamente, pretende gastar mais em apps de nutrição, em programas de dietas ou na subscrição de serviços de alimentação, no próximo ano. A saúde parece ser a dimensão mais importante para os consumidores e aquela que envolve mais gastos em todos os mercados incluídos no estudo. Ainda assim, assiste-se ao aumento das preocupações com outras categorias do bemestar. A aparência envolve maioritariamente vestuário orientado ao exercício físico e ao conforto e produtos de beleza, tais como cuidados da pele e suplementos de colagénio, tendo vindo a verificarse um aumento da procura por procedimentos estéticos não cirúrgicos. Considerando a ansiedade e stress provocados pela pandemia, o sono tornou-se também uma dimensão do bem-estar importante para os consumidores. Além de medicamentos como a
Perfil dos consumidores Os resultados do estudo da consultora demonstram que os consumidores tendem a enquadrar-se em grupos com comportamentos distintos. Os entusiastas do bem-estar são consumidores com altos rendimentos e que acompanham activamente as marcas e os seus lançamentos nas redes sociais. Os socialmente responsáveis preferem marcas sustentáveis e estão dispostos a pagar mais por essas características. Os consumidores conscientes do preço acreditam que os produtos de bem-estar são importantes, mas tendem a comparar características e benefícios antes da compra, para conseguir a melhor oferta. Os consumidores fiéis mantêm as suas rotinas com marcas que conhecem, enquanto os participantes passivos não seguem activamente marcas ou novos produtos. A McKinsey descobriu que os entusiastas do bem-estar e os socialmente responsáveis são aqueles que mais gastam em produtos e serviços desta índole, por oposição aos fiéis e participantes passivos, que gastam menos em relação aos outros grupos. Tendências de consumo e estratégias O relatório desenvolvido pela consultora revela seis tendências que têm vindo a ganhar tracção, assim como potenciais estratégias que permitirão às empresas acompanhar o crescimento da indústria. Os consumidores revelam uma preferência crescente por produtos naturais numa variedade de áreas: cuidados da pele, cosméticos, vitaminas, alimentação, entre outros. Uma percentagem significativa, em todo o mundo, afirmou que escolheria produtos naturais ao invés de produtos mais eficazes, no que diz respeito aos suplementos dietéticos e cuidados da pele. Face a esta tendência, as empresas devem avaliar a possibilidade de introduzir mais produtos ou linhas de produtos naturais. Apesar da privacidade ainda constituir uma preocupação, uma grande parte dos inquiridos
47 SAÚDE
sente-se confortável em trocar a mesma por uma maior personalização. Uma potencial estratégia para as empresas assenta no desenvolvimento de esforços de marketing direccionados aos segmentos de consumidores que são mais propensos a estar interessados
nos seus produtos, apostando em mensagens e “storytelling” adequados a estes consumidores. Por outro lado, também podem considerar introduzir ofertas personalizadas ou semipersonalizadas ao seu rol de produtos. O estudo da consultora revela, ainda, que a mudança para o digital veio para ficar, projectando-se um crescimento contínuo do e-commerce em relação a outros canais, nos próximos anos. Ainda assim, os canais tradicionais manter-se-ão relevantes em determinadas categorias, tais como multivitaminas ou cuidados da pele. As empresas devem apostar na criação de uma experiência omnicanal e ofertas digitais que lhes permitam chegar aos consumidores onde eles estão. Nos Estados Unidos, Europa e Japão, 10% a 15% dos respondentes manifestam que seguem influenciadores e que já fizeram uma compra com base nas recomendações de um influenciador. As empresas devem considerar como podem usar os influenciadores para criar uma conexão autêntica com os consumidores, procurando associar-se a agências que permitam identificar aqueles que têm um perfil alinhado com as suas marcas. Em todos os mercados estudados, mais de 60%
48 SAÚDE
dos consumidores revela que irá, definitiva ou provavelmente, considerar uma marca ou produto promovida pelo seu influenciador preferido. Embora os produtos constituam ainda uma parte significativa da indústria do bem-estar, o estudo da McKinsey revela que a relevância dos serviços tem vindo a aumentar. Esta tendência reflecte-se em todos os países estudados: os consumidores são cada vez mais propensos a usufruir de serviços que satisfaçam as suas necessidades físicas e de saúde mental, tais como personal trainers, nutricionistas ou serviços de aconselhamento. De modo geral, as empresas podem considerar apostar em ofertas complementares aos seus produtos e serviços, de modo a promover uma maior conexão com o consumidor. Finalmente, a maioria dos consumidores revela que não pretende uma única solução ou marca para ajudá-los com todas as facetas do bem-estar, pelo que uma abordagem assente em extensões direccionadas pode ser uma opção mais eficaz. As empresas devem avaliar oportunidades de fusões e aquisições para se introduzirem em mais categorias do ecossistema do bem-estar, garantindo que qualquer aquisição tenha um racional estratégico claro. Evolução O mercado global do bem-estar está a crescer. Os consumidores pretendem aumentar os seus gastos nos produtos e serviços desta indústria, especialmente em categorias como intensificadores de memória/cérebro, produtos anti-envelhecimento, suplementos de beleza, procedimentos cosméticos não invasivos, nutrição e ofertas de meditação e “mindfulness”. Ao mesmo tempo, o sector está a tornarse cada vez mais competitivo, o que leva a uma necessidade das empresas pensarem criticamente sobre estratégias para envolverem os consumidores. A preocupação com o bemestar veio para ficar, mantendo-se uma prioridade para milhões de pessoas, em todo o mundo.
FORMAÇÃO ONLINE Calendário Novembro’21 3 de Novembro | 10h00 - 12h00
Vacinas e Imunoglobulinas Valor inscrição: 15,000,00 Kz
10 de Novembro | 14h00 - 16h00
Marketing Farmacêutico Valor inscrição: 15,000,00 Kz
TECNOSAUDE.NET
A FAÇ SUA I A ÃO! U Q A CRIÇ INS
49
APRENDA SEM SAIR DE CASA! SAÚDE
REPORTAGEM
A IMPORTÂNCIA DA VISÃO O DIA MUNDIAL DA VISÃO COMEMORA-SE, ANUALMENTE, NA SEGUNDA QUINTA-FEIRA DO MÊS DE OUTUBRO (TENDO SIDO, EM 2021, COMEMORADO A 14 DE OUTUBRO) E É UM EVENTO GLOBAL COM O OBJECTIVO DE CHAMAR A ATENÇÃO PARA A CEGUEIRA E A DEFICIÊNCIA VISUAL. FOI CRIADO ORIGINALMENTE PELA SIGHTFIRTSCAMPAIGN DA FUNDAÇÃO LIONS CLUB INTERNATIONAL E É ACTUALMENTE COORDENADO EM COOPERAÇÃO COM A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (OMS). DECIDIMOS ABORDAR A TEMÁTICA DESTE DIA EFECTUANDO UMA ANÁLISE À IMPORTÂNCIA DA VISÃO E AOS DADOS REVELADOS NO ÚLTIMO RELATÓRIO MUNDIAL SOBRE A VISÃO DA OMS SOBRE A SAÚDE OCULAR MUNDIAL.
Dr. Djalme Fonseca Licenciado em Optometria e Ciências da Visão pela Universidade do Minho, Portugal. Pósgraduado em Avaliação Optométrica Pré e Pós Cirúrgica pela Universidade de Valência, Espanha. Founder & CEO da Óptica Optioptika
50 SAÚDE
N
um mundo construído sobre a capacidade de ver, a visão, o mais dominante dos nossos sentidos, é vital em todos os momentos das nossas vidas. O recém-nascido depende da visão para reconhecer e relacionar-se com a mãe, a criança para dominar o equilíbrio e aprender a andar, o estudante para ir à escola, ler e aprender, o jovem para participar da vida activa e os adultos para manterem a sua independência. No entanto, como mostra o referido relatório, as doenças oculares e as deficiências visuais são generalizadas e, com muita frequência, não são tratadas. Globalmente, pelo menos, 2,2 mil milhões de pessoas têm uma deficiência visual e, dessas, pelo menos um milhar de milhões de pessoas têm uma deficiência visual que poderia ter sido evitada ou que ainda não recebeu qualquer assistência. Como sempre, esse encargo não é suportado de forma equitativa. Pesa mais nos países de rendimento médio ou baixo, nas pessoas idosas e nas comunidades rurais. O mais preocupante é que as projecções mostram que a procura global por cuidados de saúde ocular deve aumentar, nos próximos anos, devido ao crescimento populacional, envelhecimento e mudanças no estilo de vida. Claramente, não temos escolha a não ser aceitar este desafio. É chegado o momento de garantir que o maior número possível de pessoas em todo o nosso país, Angola, possa ver tão bem e beneficiar
das tecnologias e sistemas de saúde actualmente disponíveis. O nosso objectivo final deve ser proporcionar intervenções de alta qualidade, sem sacrifícios financeiros, às pessoas que precisam de cuidados oftalmológicos. A inclusão de cuidados oftalmológicos nos planos nacionais de saúde e nos pacotes essenciais de cuidados é uma parte importante da jornada de Angola em direcção à cobertura universal da saúde. Contudo, esta tarefa não se efectua de forma isolada ou pontual. As organizações internacionais, doadores e sectores público e privado devem trabalhar juntos para fornecer investimentos e capacidade de gestão de longo prazo, para ampliar o atendimento oftalmológico integrado e centrado nas pessoas. Acesso e barreiras aos serviços de saúde ocular O recurso aos serviços de atendimento de saúde ocular é desigual e é determinado pela disponibilidade, acessibilidade, capacidade financeira e aceitabilidade desses serviços. A prevalência de doenças oculares e de deficiência visual é influenciada pelo recurso a serviços de atendimento de saúde ocular que previnem a deficiência visual, mantêm ou restauram a visão. As variações significativas existentes no recurso ao atendimento entre as populações contribuem para as variações na distribuição das doenças oculares e da deficiência visual. Várias pesquisas nacionais e regionais relataram que o recurso aos serviços de oftalmologia é, geralmente, mais comum em países de rendimento alto do que em países de rendimento médio ou baixo. As taxas de cobertura da cirurgia da catarata (um indicador da prestação de serviços de atendimento oftalmológico nas populações) também mostram variações acentuadas por nível de rendimento. Normalmente, quanto mais baixo o nível de rendimento menor é a taxa de cobertura. Infelizmente, Angola encontra-se nesta classificação com uma taxa de cobertura muito reduzida, o que impacta directamente na qualidade de vida das populações e na respectiva economia do país. Mas mais importante do que identificar dificuldades, barreiras ou outros entraves ao avanço e melhoramento da saúde ocular, são necessárias soluções eficazes. Dentro dessas alterações podemos abordar as seguintes: Integrar o atendimento oftalmológico na cobertura universal de saúde Para eliminar as desigualdades no acesso e na prestação de serviços de atendimento oftalmológico em toda a população, é essencial planear esses serviços com cuidado e de acordo com as melhores informações disponíveis sobre as necessidades da população, garantindo a qualidade.
51 SAÚDE
As acções recomendadas seriam do seguinte domínio: • Recolher e relatar informações sobre as necessidades atendidas e não atendidas da população nacional; • Desenvolver um pacote de intervenções oftalmológicas para responder às necessidades da população de inclusão estratégica no orçamento do Ministério da Saúde; • Melhorar o acesso com protecção contra riscos financeiros para intervenções prioritárias de atendimento oftalmológico, especialmente para grupos de baixo rendimento e outros grupos desfavorecidos; • Definir os resultados desejados das intervenções oftalmológicas, para garantir a qualidade, e informar a cobertura efectiva; • Definir indicadores de entrada e de resultados para monitorizar a qualidade do tratamento oftalmológico, a nível nacional, e fazer comparações entre países; • Garantir que indivíduos com deficiências visuais ou cegueira que não possam ser tratadas tenham acesso a reabilitação visual de alta qualidade, para optimizar o seu funcionamento. Implementar um plano de saúde ocular em sistemas de saúde O plano de saúde ocular pode ajudar a superar os desafios da disponibilização de serviços prioritários de oftalmologia (como a falta de pessoal de saúde capacitado, serviços fragmentados e, por vezes, resultados de qualidade abaixo do ideal), assim como garantir o acesso equitativo a todas as pessoas. É necessária uma perspectiva dos sistemas de
52 SAÚDE
saúde e o reconhecimento da necessidade de integrar os serviços e responder às necessidades e preferências das pessoas. As acções recomendadas são: • Integrar o tratamento oftalmológico nos planos estratégicos nacionais de saúde; • Fortalecer o atendimento oftalmológico nos cuidados de saúde primários para melhorar o acesso, adaptar-se e responder às mudanças rápidas das necessidades da população, incluindo o crescimento projectado do número de pessoas com doenças oculares não transmissíveis; • Aumentar a cobertura efectiva da correcção do erro refractivo e da cirurgia da catarata, as principais causas tratáveis de comprometimento da visão e de cegueira; • Gestão e prestação de serviços de oftalmologia para que as pessoas recebam um continuum de intervenções voltadas para promoção, prevenção, tratamento e reabilitação nos diversos níveis e locais de prestação de serviços; • Reforçar a coordenação dos serviços de atendimento oftalmológico em programas (por exemplo, diabetes, saúde materna e infantil, envelhecimento) e sectores (por exemplo, social, educação e trabalho) relevantes; • Garantir que o planeamento da força de trabalho oftalmológica seja parte integrante do planeamento da força de trabalho em saúde; • Garantir que os sistemas de informação em saúde incluam informações abrangentes sobre cuidados oftalmológicos para identificar necessidades, planear a prestação de serviços e monitorizar o progresso na implementação do AOICP e o seu impacto ao nível da população.
Promover pesquisas de alta qualidade É necessária uma implementação de alta qualidade e pesquisa em sistemas de saúde. Isto irá complementar os dados existentes, possibilitando intervenções eficazes no tratamento oftalmológico. Além disso, serão necessários estudos que analisem os custos e benefícios da implementação do pacote de intervenções oftalmológicas aos níveis individual e social. O tratamento oftalmológico tem um alto potencial de beneficiar dos avanços tecnológicos. São necessárias pesquisas para garantir que esses avanços tenham impacto nos cuidados clínicos e na vida das pessoas. As acções recomendadas são: • Apoiar a criação de uma agenda global de pesquisa que inclua sistemas de saúde e pesquisa de políticas e inovação tecnológica, para atendimento oftalmológico que facilite o desenvolvimento de uma agenda nacional de pesquisa; • Promover a colaboração entre pesquisadores e Ministério da Saúde para garantir que a pesquisa seja relevante para o cenário nacional e para a implementação do plano de saúde ocular; • Criar ou aprimorar esquemas de financiamento existentes para implementação e pesquisa de sistemas de saúde com tratamento oftalmológico; • Promover estudos sobre o retorno do investimento para demonstrar como o investimento em cuidados oftalmológicos assegura melhorias não só na saúde, mas também sociais e económicas; • Fortalecer a pesquisa de implementação para aumentar os avanços tecnológicos e a partilha de tarefas para garantir que beneficiem rapidamente as pessoas com doenças oculares e deficiência visual; • Incentivar fundações governamentais e privadas a apoiar a pesquisa de tratamentos e diagnósticos inovadores para eliminar a cegueira e as doenças oculares. Monitorizar tendências e avaliar o progresso É importante monitorizar o progresso feito na implementação do Plano de Saúde Ocular e o seu impacto ao nível da população. Isso requer informações abrangentes dos sistemas de informações de saúde sobre cuidados oftalmológicos e dados epidemiológicos sobre doenças oculares e deficiência visual. Indicadores e benchmarking são também necessários para avaliar o progresso para a implementação. As acções recomendadas são: • Fortalecer a capacidade nacional de recolher, analisar e usar dados sobre o encargo e as tendências das doenças oculares e da deficiência visual; • A realização de pesquisas populacionais periódicas que incluem a medição das deficiências visuais e variáveis relevantes para o atendimento oftalmológico nos inquéritos gerais de saúde, garantindo que seja possível relatar uma cobertura eficaz da cirurgia de catarata e correcção dos erros de refractivos;
• Apoiar a criação de um menu de indicadores globais para doenças oculares e deficiência visual que facilite a selecção de indicadores nacionais e promova comparações entre países; • Definir e conduzir periodicamente avaliações dos progressos realizados na implementação do Plano de Saúde Ocular. Aumentar a consciencialização, envolver e capacitar pessoas e comunidades As comunidades públicas e individuais (populações especificamente mal atendidas, como mulheres, migrantes e pessoas com certos tipos de deficiência) precisam ser consciencializadas da importância da identificação precoce das doenças oculares, a necessidade de prevenir e resolver problemas de visão e como podem ser capacitados para obter acesso aos serviços de oftalmologia. As acções recomendadas são: • Aumentar a consciencialização sobre a disponibilidade de intervenções eficazes que respondam a todas as necessidades de cuidados oftalmológicos ao longo da vida; • Realizar campanhas de saúde pública que enfatizam a importância do tratamento oftalmológico; • Envolver e capacitar o público, especificamente as populações carenciadas, para estarem cientes das suas necessidades e procurar serviços de atendimento oftalmológico; • Envolver os sectores da educação e do trabalho como parceiros para a sensibilização entre estudantes e funcionários sobre a importância de identificar doenças oculares e aceder a serviços de atendimento oftalmológico; • Sensibilizar para a obrigação social de cumprir os direitos das pessoas com deficiência visual e cegueira que não podem ser tratadas de participar da sociedade em igualdade de condições com os outros. Conforme esta extensa análise, Angola ainda tem um longo caminho a percorrer para atingir os objectivos mínimos de saúde ocular que a população necessita. Porém, com o esforço de todos, caminhando na mesma direcção, podemos chegar à excelência na prestação de cuidados de saúde ocular.
A INCLUSÃO DE CUIDADOS OFTALMOLÓGICOS NOS PLANOS NACIONAIS DE SAÚDE E NOS PACOTES ESSENCIAIS DE CUIDADOS É UMA PARTE IMPORTANTE DA JORNADA DE ANGOLA EM DIRECÇÃO À COBERTURA UNIVERSAL DA SAÚDE
53 SAÚDE
ANOS YEARS
CUIDAR DA SAÚDE E BEM-ESTAR DAS PESSOAS É O NOSSO PROPÓSITO DIÁRIO!
Da capacidade logística (reforçada com um novo armazém de 2400m2) à implementação de boas práticas de distribuição. Do portefólio alargado ao marketing do produto. Da formação de recursos humanos ao programa de responsabilidade social. Na Australpharma, desenvolvemos competências específicas que promovem a otimização dos processos e o aumento da eficiência em todas as frentes. Dia após dia, trabalhamos para estar sempre na vanguarda.
54 SAÚDE
SEMPRE À FRENTE. EM TODAS AS FRENTES.