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Alopécia de Tracção: um problema que nos deixa pelos cabelos

A ALOPÉCIA DE TRACÇÃO É UM TIPO DE QUEDA DE CABELO CARACTERÍSTICO DE PENTEADOS QUE PRODUZEM UMA TRACÇÃO CONTÍNUA NA RAIZ DO CABELO, COMUM NAS MULHERES AFRICANAS, DEVIDO AOS CABELOS EM ESPIRAL E ENCARACOLADOS. A BOA NOTÍCIA? A ALOPÉCIA DE TRACÇÃO É EVITÁVEL E, COM A EDUCAÇÃO APROPRIADA, ATEMPADAMENTE, PODEMOS ELIMINÁ-LA TOTALMENTE.

Dra. Ana Pacheco

Consultora Farmacêutica na Tecnosaúde

O cabelo forma-se ao nível da raiz e é constituído, essencialmente, por uma proteína, a queratina, que lhe garante a sua protecção. O fio de cabelo divide-se em três partes: a cutícula, o córtex e a medula, tendo cada uma a sua acção e função.

O nosso cabelo cresce ciclicamente, passando por três fases:

• Fase anagénica: fase de intenso crescimento celular

• Fase catagénica: fase de transição

• Fase telogénica: Fase de eliminação.

As características estruturais e bioquímicas dos cabelos variam entre grupos étnicos. A composição química da haste capilar, especificamente, as configurações de queratina e aminoácidos, é semelhante entre as etnias africanas, asiáticas e caucasianas (1). Os cabelos africanos e caucasianos também são bastante semelhantes em relação à espessura da cutícula, forma e tamanho da escama e células corticais (1). No que diz respeito ao padrão do cabelo (por exemplo, helicoidal, espiral, liso e ondulado), o cabelo encaracolado é mais comum na raça africana, o que dificulta o penteado e aumenta o risco de quebra (1). O termo alopécia não significa doença, mas, sim, falta de cabelo. Assim, tal como o nome indica, a alopécia de tracção é um tipo de queda de cabelo associada à tracção repetitiva do cabelo, comumente relacionada com penteados que levam a puxões apertados, tais como rabos de cavalo, extensões e tranças (1). O início da perda de cabelo ocorre, habitualmente, nas regiões temporais, pré-auricular e acima das orelhas; contudo, pode também envolver outras regiões do couro cabeludo. A alopécia de tracção pode estar associada a dor de cabeça, que é aliviada quando o cabelo é solto, devido à tracção capilar. Estes problemas começam, habitualmente, na infância, onde podem ser travados e reversíveis com a devida educação capilar. O risco de alopécia de tracção aumenta, significativamente, também em couros cabeludos sensíveis, não saudáveis ou com coloração (1). A gravidade da alopécia de tracção é avaliada usando o Marginal Traction Alopecia Severity Score (M-TAS). Esta escala fotográfica é validada e usada para determinar a gravidade da alopécia de tracção marginal. As linhas anteriores e posteriores são localizadas, usando marcos anatómicos, e são classificadas numa escala de 0 a 9. A escala foi usada em estudos clínicos para correlacionar a gravidade da doença com possíveis factores de risco para a alopécia de tracção. Potencialmente, o M-TAS pode ser uma ferramenta útil para monitorizar a resposta ao tratamento. A dermatoscopia pode, também, ser uma ajuda útil no diagnóstico de alopécia de tracção. A presença de moldes capilares é típica da alopécia de tracção. Em utentes com um tipo de alopécia remota e marginal secundária à tracção, uma redução na densidade dos folículos capilares, a ausência de aberturas foliculares e a presença de um grande número de moldes capilares móveis na periferia do adesivo são vistas na dermatoscopia, enquanto que, num utente com um tipo difuso de alopécia secundária à tracção, a dermatoscopia revela uma densidade normal de cabelo com vários elencos. Os moldes capilares, devido à alopécia de tracção, são não aderentes, de cor branca ou vermelha, de forma cilíndrica e tendem a circundar o eixo proximal do cabelo (2).

Tratamento O tratamento da alopécia de tracção baseia-se em factores como a cronicidade e a presença ou ausência de outros tipos de alopécia. Na prática clínica, a alopécia de tracção é classificada em três estádios: de prevenção, precoce e de longa duração. No primeiro estádio, quando falamos de uma alopécia de tracção prevencional, técnicas educacionais são suficientes, uma vez que os folículos capilares estão mais vulneráveis durante a mesma. Numa alopécia de tracção precoce, temos um folículo capilar ainda intacto, pelo que a melhor estratégia será aliviar a tensão colocada no cabelo. Nesta fase, é importante evitar quaisquer tratamentos químicos, como coloração. O uso de corticoides tópicos é recomendado para acalmar a inflamação. No caso da existência de pústulas, estas podem ser tratadas com antibióticos orais ou tópicos. Quando nos referimos a um período de longa duração, as situações cirúrgicas são as soluções mais viáveis, tais como o transplante capilar (2). A alopécia de tracção é um problema que pode ser totalmente reversível e eliminado se for diagnosticada a tempo, através de métodos educacionais. Qualquer penteado que seja usado frequentemente e que cause algum tipo de tracção capilar pode ser causador de alopécia de tracção. É necessário educar a população para este problema.

Referências Bibliográficas:

(1) RAFFI, J., SURESH, R., & AGBAI, O. - Clinical recognition and management of alopecia in women of color. Int J Womens Dermatol. Vol. 5. n.º 5 (2019). p. 314-319. (2) PULICKAL, J. K., & KALIYADAN, F. - Traction Alopecia. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing (2020).

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