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O médico responde
PARA ESTA PRIMEIRA EDIÇÃO DA NOSSA NEWSLETTER DIGITAL, CONVIDÁMOS O DR. MÁRIO BUNDO A RESPONDER A ALGUMAS QUESTÕES RELATIVAS À CONTRACEPÇÃO DE EMERGÊNCIA (CE), QUESTÕES ESTAS, MUITAS VEZES, LEVANTADAS PELOS PRÓPRIOS UTENTES OU QUE SUBSISTEM EM DIFERENTES CATEGORIAS DE PROFISSIONAIS DO SECTOR DA SAÚDE.
O Dr. Mário Bundo é, actualmente, Chefe de Serviço de Ginecologia-Obstetrícia da Clínica Girassol e Presidente da Associação de Ginecologistas e Obstetras de Angola (AGOA).
Criada em 2008, a AGOA tem efectuado um trabalho muito digno no seu país e tem como principal objectivo dar o seu contributo na implementação de medidas tendentes a melhorar a saúde da mulher angolana, onde quer que ela se encontre.
Actualmente, conta com cerca de 150 membros e tem como:
MISSÃO: Congregar todos os especialistas de Ginecologia-Obstetrícia e interessados, numa associação idónea que contribua para o desenvolvimento, diferenciação e defesa dos interesses dos associados.
VISÃO: Ser uma associação de excelência reconhecida e referência nacional e internacional no exercício, divulgação, diferenciação e promoção da pesquisa em Ginecologia e Obstetrícia.
VALORES: Ética, Competência, Integridade, Pluralismo, Responsabilidade Social.
De referenciar que a AGOA promoveu, durante o mês de Julho, o seu I Ciclo de Webinars em Angola, com o apoio da Princefarma, subordinado ao tema “Desafios Presentes na Saúde Reprodutiva”, que contou com a presença de ilustres convidados da especialidade, tanto de Angola como de Moçambique, numa partilha única e pioneira de conhecimento e experiências.
Após esta breve apresentação, o Dr. Mário Bundo responde às seguintes questões:
O que é a pílula do dia seguinte e qual a sua finalidade? A pílula do dia seguinte, ou contracepção oral pós coito, também chamada contracepção de emergência, são medicamentos tomados por via oral para prevenir uma gravidez após um contacto sexual desprotegido ou inadequadamente protegido.
Quais os tipos de contracepção de emergência e as suas diferenças? Existem quatro tipos de contraceptivos orais de emergência. Os dois mais comuns são:
• Levonorgestrel (LNG): uma hormona progestínica, na dose única de 1,5 mg ou em duas doses de 0,75 mg cada;
• Ulipristal Acetato (UPA): contém um receptor modulador selectivo para a progesterona, em dose única de 30 mg.
Outros dois tipos menos comuns são:
• Mifepristone: contém um receptor modulador selectivo para a progesterona, 10-25 mg em dose única;
• Hormonal combinado (método Yuzpe): uma dose de 100 mcg de estrogénio etinilestradiol mais 0,5 mg de LNG, repetida após 12 horas.
Qual o principal problema das mulheres usarem este método recorrentemente? Quais os principais efeitos secundários?
Antes de mais, gostaríamos de sublinhar que o pronto acesso à contracepção de emergência, bem como a informação correcta, são direitos de todas as mulheres e raparigas em risco de uma gravidez não desejada. Várias situações podem levar ao uso recorrente deste método, nomeadamente, não usar um método contraceptivo regular, um preservativo que rompe, fica retido na vagina ou é usado de modo incorrecto, o esquecimento por dias na toma da pílula ou tomar de modo irregular, em alguns casos, por falta de conhecimento sobre o uso ideal deste método contraceptivo, ou falta de aconselhamento ou adequada informação ou aconselhamento prévio sobre as diversas opções para a contracepção. Portanto, a contracepção de emergência deve fazer parte dos programas de planeamento familiar, como forma de protecção às gravidezes indesejadas e ao impacto negativo que isso acarreta em termos de morbimortalidade materna. Em relação aos efeitos secundários, importa, antes de mais, salientar que não foram, até ao momento, relatados efeitos graves ou mortes inerentes ao uso da contracepção de emergência. Estes são, sobretudo, gastrointestinais, como náuseas e vómitos, e outros menos frequentes, como cefaleias, dores pélvicas e metrorragias.
A contracepção de emergência é abortiva? Como actua?
A contracepção de emergência não é abortiva, trata-se, apenas, de um mito comum. Ela não interfere numa gravidez já em curso, nem aumenta o risco de aborto ou outras complicações. O primeiro mecanismo de acção documentado da contracepção de emergência foi a interferência no processo da ovulação, inibindo o pico préovulatório da Hormona Luteínica (LH), impedindo o desenvolvimento e a maturação e/ou libertação do óvulo. Outros mecanismos propostos incluem a interferência na função do corpo lúteo, o espessamento do muco cervical, que impede a penetração dos espermatozoides, alterações da motilidade das trompas e inibição da função do esperma.
Quais os conselhos sobre a contracepção de emergência? Em caso de toma, deve manter a contracepção habitual?
Em primeiro lugar, esclarecer que o método pode ser usado até cinco dias da relação não protegida, mas a probabilidade de eficácia é maior quanto mais rapidamente for tomada. É importante realçar, também, que, apesar de ser um método seguro, não deverá ser usado de forma repetida, deliberadamente, como um método regular. Se a mulher estiver a usar um método contraceptivo regular, deve ser orientada a usar de forma correcta; caso não o use, deve-se “aproveitar a ocasião” para oferecer um método contraceptivo regular.
No caso das mulheres que estão a amamentar, podem utilizar contracepção de emergência?
A mulher que faça amamentação exclusiva até aos seis meses, e com amenorreia da lactação, provavelmente, não terá ovulação e, portanto, não terá a necessidade de contracepção de emergência. Porém, segundo os critérios médicos de elegibilidade para o contraceptivo da OMS, o LNG não tem contra-indicação durante a amamentação. O UPA pode ser usado durante este período, mas, por uma questão de precaução, a amamentação deverá ser interrompida durante uma semana, procedendo, neste período, a extracção manual ou com bomba e ao descarte do leite.
Como saber que está grávida após a contracepção de emergência?
A mulher apenas deverá realizar exames ou testes se a menstruação não aparecer após três semanas.
A contracepção de emergência pode diminuir a taxa de abortos? Não tenho quaisquer dúvidas quanto a este facto. E não me baseio apenas no meu ponto de vista, mas no que é demonstrado por vários estudos, que relatam reduções do risco absoluto de gravidez acima de 50%. Este facto é de uma transcendente importância individual, familiar e social, uma vez que o aborto representa uma iniquidade social, porque as leis restritivas não impedem, de todo, que as mulheres recorram ao aborto, mas constringe as mulheres pobres a recorrerem ao aborto inseguro, com elevado de risco de complicações que podem ser fatais.