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O ACONSELHAMENTO DO FARMACÊUTICO NO COMBATE À MALÁRIA

A MALÁRIA CONTINUA A SER UM DOS PRINCIPAIS PROBLEMAS DE SAÚDE PÚBLICA, EM ANGOLA, SENDO RESPONSÁVEL POR GRANDE PARTE DOS CASOS DE MORTALIDADE NO PAÍS. SEGUNDO ESTUDOS RECENTES, A PROVÍNCIA DE LUANDA REGISTOU MAIS DE 40 MIL CASOS DE MALÁRIA, DESDE O INÍCIO DO ANO DE 2023.

Amalária é uma doença infecciosa que afecta os glóbulos vermelhos, provocada por um parasita (plasmódio). É transmitida ao homem através da fêmea dos mosquitos Anopheles

Dra. Margarida Carvalho

Farmacêutica. Licenciada em Ciências Farmacêuticas pela Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa. Coordenadora de Marketing de Serviços da Tecnosaúde

A espécie de plasmódio mais predominante e letal é o Plasmodium falciparum, mas existem também outras espécies conhecidas, nomeadamente, Plasmodium vivax, Plasmodium malariae e Plasmodium ovale

Os farmacêuticos e técnicos de farmácia do país têm uma importante missão na prevenção e no tratamento da doença, instruindo e aconselhando a população, uma vez que, na maioria das vezes, são as farmácias o primeiro contacto com o utente. A prevalência desta doença no país faz com que a automedicação seja uma constante junto da população, o que é um risco, devido à falta de informação que ainda se faz sentir sobre este tema.

Ciclo de vida do parasita

O parasita causador da malária tem um ciclo de vida heteroxeno, sendo, por isso, necessários dois hospedeiros para o completar. Um deles, o mosquito fêmea do género Anopheles, é o hospedeiro definitivo, onde se dá a reprodução sexuada (esporogonia). Este é, simultaneamente, o vector da doença. O outro, o homem ou outro vertebrado, é o hospedeiro intermediário, no qual ocorre a reprodução assexuada (esquizogonia).

O clico de vida deste parasita divide-se em três fases: a pré-eritrocítica, a eritrocítica, e a esporogónica.

A primeira etapa do ciclo de vida corresponde à fase pré-eritrocítica. Inicia quando o mosquito pica o homem para se alimentar e, simultaneamente, inocula esporozoítos na corrente sanguínea. Estes circulam no sangue, culminando com a invasão dos hepatócitos. Os parasitas permanecem no fígado a desenvolver-se, nos sete a 10 dias seguintes. Os esporozoítos passam a esquizontes que, depois, libertam milhares de merozoítos para a corrente sanguínea.

A segunda etapa do ciclo de vida corresponde à fase eritrocítica, onde parte dos merozoítos é fagocitada e outra parte consegue invadir os eritrócitos. Uma vez dentro dos eritrócitos, os merozoítos diferenciam-se em trofozoítos, esquizontes que se dividem e produzem inúmeros merozoítos. Os eritrócitos rompem e os merozoítos invadem novas hemácias. É nesta fase que surgem a febre e os calafrios característicos da malária. O Plasmodium entra na fase sexual, quando alguns merozoítos se desenvolvem em gametócitos, células capazes de produzir gâmetas femininas e masculinas.

Para que o ciclo se complete os gametócitos têm de ser ingeridos pelo mosquito Anopheles quando este se alimenta de sangue. Esta é a última etapa do ciclo do parasita, a fase esporogónica. Dentro do intestino do mosquito Anopheles, os gametócitos desenvolvem-se em gâmetas masculinas e femininas. O zigoto (ovo), resultante da fusão dos gâmetas masculino e feminino, desenvolve-se na parede do intestino do mosquito e diferencia-se em oocisto. Por consequentes divisões mitóticas, o oocisto produz inúmeros esporozoítos, que migram para as glândulas salivares do mosquito e, a partir daí, infectam outro indivíduo, dando início a um novo ciclo conforme espelhado na imagem.

Medidas preventivas

A prevenção da malária é o primeiro passo no combate à doença. A utilização de redes mosquiteiras, telas nas janelas e portas, repelentes de insectos e insecticidas são fundamentais na prevenção da doença.

Os mosquitos que transmitem a malária vivem e reproduzem-se em águas paradas, charcos causados por chuvas, saídas de água, latas, garrafas, pneus, cascas de árvores e outros locais onde se possa fazer o armazenamento de água.

O mosquito adulto deposita os ovos na água e, no prazo de uma semana, podem crescer de ovos a mosquitos adultos.

Não só é importante prevenir a picada do mosquito, mas também combater o mosquito e o foco de larvas, nomeadamente, através de acções como:

• Manter os recipientes de água sempre fechados com tampa adequada;

• Remover folhas, galhos e tudo o que possa impedir a água de correr pelas calhas;

• Remover as águas das chuvas que ficam acumuladas sobre as lajes;

• Lavar semanalmente, por dentro, com escovas e sabão, os tanques utilizados para armazenar água;

• Manter bem tampados bidons e barris de água;

• Encher com areia os pratos dos vasos de plantas;

• Em caso de vasos de água aquáticos, a água deve ser trocada e o vaso limpo com escova e sabão, uma vez por semana;

• Guardar as garrafas de cabeça para baixo;

• Entregar os pneus velhos ou guardar sem água, em local coberto e abrigado da chuva; convulsões, anemia grave, insuficiência renal aguda ou edema pulmonar agudo e coma (malária cerebral), conduzindo, possivelmente, à morte.

• Colocar o lixo em sacos plásticos bem fechados, não deitar o lixo para o chão.

Medidas não farmacológicas

As medidas não farmacológicas deverão fazer parte do tratamento da malária, tendo uma grande importância no combate aos sintomas associados a esta patologia. São estas:

• Diminuir a quantidade de roupa ou despir a criança/adulto;

• Banho com água tépida (37°C) de duração não superior a 10 minutos;

• Ingestão de muitos líquidos para prevenção da desidratação associada à febre;

• Permanecer em ambientes com temperatura amena;

• Em caso de convulsões febris, colocar a criança de lado, desapertar a roupa e evitar que se magoe com objetos próximos;

• Evitar alimentos sólidos, até que o episódio de vómitos tenha passado;

• Repouso.

Medidas farmacológicas

O objectivo da terapêutica da malária é garantir uma cura rápida e duradoura, prevenir a evolução do estado simples da doença para grave, assim como reduzir os episódios clínicos e a ocorrência de malária.

A decisão de como tratar o paciente com malária deve ser precedida de informações sobre os seguintes aspectos:

• Gravidade da doença: pela necessidade de apresentações injectáveis e com acção mais rápida, visando reduzir letalidade;

• Espécie de plasmódio: deve ser diferenciada, em face do perfil variado de resposta do P. falciparum aos antimaláricos. Caso não seja possível determinar a espécie do parasita, devese optar pelo tratamento do P. falciparum, pelo risco de evolução grave;

• Idade do paciente: pelo pior prognóstico da malária na criança e no idoso;

Sinais e sintomas

Os sintomas surgem, normalmente, cerca de 10 a 15 dias após a picada do mosquito infectado e incluem febre, dor de cabeça, mialgias e artralgias, arrepios e vómitos e mal-estar geral de agravamento progressivo.

Se não for tratada no espaço de 24 horas, a malária causada por P. falciparum pode progredir para uma doença grave, caracterizada por

• História de exposição anterior à infecção: indivíduos não imunes tendem a apresentar formas clínicas mais graves;

• Susceptibilidade dos parasitas aos antimaláricos convencionais

Relativamente ao tratamento farmacológico da malária simples e complicada causada por Plasmodium Falciparum, actualmente, as Guidelines da Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendam os seguintes esquemas terapêuticos:

Tratamento da malária simples por Plasmodium Falciparum

1.ª linha

Adultos ACT (terapêuticas combinadas com artemisina durante 3 dias):

● Arteméter + lumefantrina (AL)

● Artesunato + amodiaquina (AS+AQ)

● Dihidroartemisina + piperaquina (DHAP)

● Artesunato + sulfadoxina/pirimetamina* (AS+SP)

● Artesunato + mefloquina (ASMQ)

● Artesunato – pironaridina* (ASPY) (2022)**

*Artesunato + sulfadoxina/pirimetamina e Artesunato – pironaridina não são recomendados no primeiro 1.º de gravidez

**Artesunato - pironaridina deve ser evitado em pacientes com doença hepática, porque é associado a transaminite.

• Arteméter + lumefantrina

Crianças

• Artesunato + amodiaquina

• Dihidroartemisina + piperaquina

• Artesunato + sulfadoxina/pirimetamina

• Artesunato + mefloquina

Gravidez

1 º trimestre

2 º e 3 º trimestres

• Quinino + clindamicina (durante 7 dias)

ACTs (terapêuticas combinadas com artemisina durante 3 dias):

• Arteméter + lumefantrina

• Artesunato + amodiaquina

• Artesunato + sulfadoxina/pirimetamina

• Artesunato + mefloquina

• Dihidroartemisina + piperaquina

Tratamento da malária complicada por Plasmodium Falciparum

1.ª linha

• Artesunato IV ou IM*

2.ª linha

• Artesunato + tetraciclina ou doxiciclina ou clindamicina (durante 7 dias)

• Quinino + tetraciclina ou doxiciclina ou clindamicina (durante 7 dias)

Adultos

*A partir do momento em que o paciente recebe, pelo menos, 24 h orasda terapêutica, poderá tolerar terapêutica oral de 3 dias de ACT.

Crianças

• Artesunato IV ou IM*

• Quinino IV ou IM

*A partir do momento em que o paciente recebe, pelo menos, 24 horas da terapêutica, poderá tolerar terapêutica oral de 3 dias de ACT.

Gravidez

1.º, 2.º e 3.º trimestres

• Artesunato + clindamicina (durante 7 dias)

2.ª linha

• Quinino IV ou IM

• Arteméter IM (só quando o artesunato ou o quinino não estão disponíveis)

• Arteméter IM (só quando o artesunato ou o quinino não estão disponíveis)

O farmacêutico assume um papel decisivo nesta problemática, uma vez que está próximo da população e pelo seu conhecimento e experiência na área, para incentivar e motivar a adopção de medidas preventivas e a adesão à terapêutica.

• Artesunato IV ou IM*

*A partir do momento em que o paciente recebe, pelo menos, 24 horas da terapêutica, poderá tolerar terapêutica oral de 3 dias de ACT.

Esquemas terapêuticos para o tratamento da Malária Simples e Complicada causada pelo Plasmodium Falciparum segundo as Guidelines da OMS de 25 de Novembro de 2022.

O farmacêutico assume um papel decisivo nesta problemática, uma vez que está próximo da população e pelo seu conhecimento e experiência na área para incentivar e motivar a adopção de medidas preventivas e a adesão à terapêutica.

A Tecno-Saúde Angola é uma empresa que baseia a sua actividade na prestação de serviços ligados ao sector da saúde, como empresa especializada na área da formação. Apresenta

A Tecno-Saúde Angola é uma empresa que baseia a sua actividade na prestação de serviços ligados ao sector da saúde, como empresa especializada na área da formação. Apresenta diversos módulos de formações, que podem ser divididos em áreas como a gestão farmacêutica, a área comportamental ou a área técnica, que visam a preparação e diferenciação de farmacêuticos e técnicos de farmácia.

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