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PLÁSTICOS DE USO ÚNICO

CADA PESSOA PRODUZ, EM MÉDIA, 52 QUILOGRAMAS DE RESÍDUOS PLÁSTICOS ANUALMENTE, COM REALCE PARA OS DESCARTÁVEIS. INICIALMENTE VISTOS COMO INOFENSIVOS, ACABARAM POR SE TRANSFORMAR NO MAIOR PROBLEMA AMBIENTAL DE TODOS OS TEMPOS.

Os plásticos são polímeros sintéticos, que podem ser facilmente moldados em diferentes formatos e usados como matéria-prima para uma grande variedade de produtos. Inventado há aproximadamente 110 anos, o plástico é considerado a substância mais amplamente usada e omnipresente do mundo (Worm, et al., 2017). É usado nas indústrias de produção de embalagens, automóveis, roupas, equipamentos electrónicos, ferramentas agrícolas, equipamentos médicos, utensílios de uso doméstico, de segurança, construção civil, entre muitas outras utilizações (Rani-Borges, et al., 2020).

Pesquisas científicas demonstram que cada pessoa produz, em média, 52 quilogramas de resíduos plásticos anualmente, com realce para os descartáveis, que inicialmente eram vistos como inofensivos e acabaram por se transformar no maior problema ambiental de todos os tempos, particularmente para os oceanos, onde a sua degradação é lenta, impactando negativamente a vida marinha (Worm, et al., 2017).

Tendo em conta os aspectos citados, este artigo foi elaborado com a finalidade de apresentar os plásticos de uso único, impactos na vida marinha e algumas soluções implementadas ao redor do mundo, que podem ser adoptadas em Angola.

O que são plásticos de uso único?

O plástico de utilização única é caracterizado por ser usado apenas uma vez, antes de ser descartado. Costa (2021) define-o como um produto fabricado total ou parcialmente a partir de plástico e que não é concebido, projectado ou colocado no mercado para perfazer múltiplas viagens ou rotações no seu ciclo de vida, mediante a sua devolução a um produtor para a sua reutilização, com a mesma finalidade para o qual foi concebido. Os mais comuns são os seguintes:

• Garrafas para bebidas e tampas;

• Cotonetes;

• Sacos de plástico leves;

• Talheres, palhinhas e agitadores de bebida;

• Copos para bebidas e tampas;

• Balões e varas para balões; emaranhamento, ingestão e, até, a morte) e no funcionamento do ecossistema. Pedaços de plástico foram encontrados no sistema digestivo de muitos seres aquáticos, inclusive em espécies de tartarugas marinhas, e em quase metade das espécies de aves marinhas e mamíferos.

• Recipientes para alimentos.

Os seres humanos também estão em risco devido aos resíduos depositados no mar, visto que os plásticos que se acumulam em valas de drenagem a céu aberto se misturam com a água de esgoto, contribuindo para o surgimento de doenças, a criação de uma imagem pouco agradável e alcançando posteriormente a água do mar. Pesquisas mostram que as pessoas estão a inalar microplásticos através do ar, consumindo-os a partir dos alimentos e da água.

Consequências

Os plásticos decompõem-se com o tempo em pedaços cada vez menores, conhecidos como micro e nanoplásticos, processo que pode levar cerca de 400 anos, podendo gerar impactos prejudiciais significativos, conforme enfatizou Guerra (2021), no seu artigo sobre “Plásticos, das ameaças às soluções”.

A EcoAngola, no âmbito do Projecto Angola Sem Plástico, publicou outros artigos abordando os vários impactos negativos do plástico na biodiversidade (desde a intoxicação, asfixia, mutilação/deformação,

Países que baniram os plásticos de uso único

Actualmente, mais de 60 países proíbem os sacos de plásticos de utilização única, sendo o Bangladesh o primeiro país a fazê-lo, em 2002. O site World Atlas publicou, em 2018, uma lista de países que baniram os sacos plásticos e outros plásticos descartáveis.

O incrível desta publicação é o facto de apresentar vários países africanos, com destaque para o Ruanda, visto como um dos países mais limpos do continente e pioneiro nessa iniciativa.

Na Tanzânia, por exemplo, a nova lei sobre o assunto é tão rigorosa que os cidadãos flagrados a vender ou a fabricar sacos plásticos podem receber até dois anos de prisão ou uma multa avultada e as pessoas apanhadas a usá-los estão sujeitas a multas menores (Shadan, 2022).

Plásticos de uso único e a pandemia de Covid-19

A pandemia de Covid-19 aumentou o uso de plásticos pela população, principalmente equipamentos de protecção individual descartáveis, como máscaras, batas, toucas, luvas, viseiras, entre outros, problema que é mais evidente nos países de baixa renda, devido à dificuldade de gestão dos resíduos sólidos. Durante a pandemia, os consumidores passaram a utilizar um volume maior de embalagens descartáveis, por causa da necessidade de se prevenir e evitar a propagação do vírus (Okwesili, et al., 2016).

Os plásticos de uso único têm desempenhado um papel essencial (e até mesmo vital) para minimizar os impactos da Covid-19 e não seria possível imaginar um combate à pandemia sem os mesmos. Contudo, é fundamental distinguir os plásticos de uso único essenciais – na saúde e noutros sectores – daqueles que se apresentam como problemáticos e/ou desnecessários (Pactoplastico.pt).

Perspectivas de actuação

O grande desafio para Angola é iniciar, o mais rápido possível, uma luta acirrada no controlo dos plásticos de uso único, adoptando um plano director de actuação, que poderá contar com a intervenção do Estado, sociedade civil (organizações não governamentais, empresas e cidadãos) e instituições de ensino.

Essa intervenção deverá considerar, entre outras opções, as seguintes acções:

• Elaboração e implementação de leis específicas sobre a produção, uso e descarte de plásticos;

• Criação de um sistema de gestão de resíduos sólidos urbanos eficaz;

• Substituição de plásticos descartáveis por embalagens sustentáveis (cestos artesanais, material comestível);

• Responsabilização das empresas produtoras e distribuidoras de embalagens de plástico, para garantir o seu envolvimento activo na identificação de soluções viáveis para esse problema;

• Integração de disciplinas voltadas para a educação ambiental, no plano curricular;

• Fiscalização das empresas de entrega de refeições/ produtos ao domicílio;

• Penalização dos cidadãos que descartarem os resíduos em lugares impróprios;

• Promoção de campanhas educativas pela rádio, televisão e outros meios de comunicação social;

• Investigação científica sobre o assunto, entre outros.

Formas de reduzir

A utilização de plásticos biodegradáveis tem sido apontada como uma das soluções para a redução do volume de plástico que vai parar aos oceanos, por se degradarem em menos tempo e se transformarem em dióxido de carbono e água. Entretanto, surgiram estudos que têm vindo a contrariar essa teoria, como referenciado no trabalho de Fortuna (2020), que indica que os plásticos biodegradáveis podem não se decompor totalmente na natureza, produzindo rejeitos que podem gerar impactos maiores que os plásticos convencionais, facto similar aos dados do relatório das Nações Unidas, publicado a 18 de Novembro 2015 pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), que detalha que cerca de 20 milhões de toneladas de plásticos são entregues ao mar, a cada ano, e que os marcados como biodegradáveis são igualmente parte desse problema (ONU, 2015).

Adicionalmente, verificou-se que as empresas que investem na produção de bioplásticos deparam-se com muitas incertezas, visto que a preferência do consumidor pelo plástico tradicional ainda é uma realidade e que o custo de produção dos bioplásticos é muito superior quando comparado ao dos produtos de origem fóssil. Alto investimento inicial, alto custo de transporte da biomassa e consideráveis variabilidades da composição e suprimento de biomassa, ao longo do ano, são barreiraschave para o desenvolvimento dos biopolímeros, de forma contínua e sustentável (Fortuna, 2020).

A ONU estabeleceu a Agenda 2030 para a

Sustentabilidade, determinando os 17 Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), entre os quais o ODS n.º 12, que estima que, até 2030, os países ao redor do mundo deverão reduzir substancialmente a geração de resíduos por meio da prevenção, redução, reciclagem e reuso. O que, por si só, não gera um resultado que mitiga o impacto causado por esses resíduos se os países não definirem acções concretas para a sua materialização.

Tabela 1 - Exemplos de trocas sustentáveis a fazer no dia-a-dia

Trocas Sustent Veis

Considerações finais

Concluindo, os plásticos de uso único não devem continuar a ser usados de forma descontrolada, havendo a necessidade da implementação de estratégias que impeçam que alcancem o mar. Embora Angola, em particular, ainda não possua níveis altos de poluição por plástico, começa a ser notável a presença de grandes quantidades e a verdade crua e dura é que isto volta para o homem, pelos peixes e outros “frutos do mar” de que nos alimentamos ou pelo ar, dependendo da dimensão das suas partículas. Analisando a variedade de sectores em que o plástico pode ser usado, é importante informar que nem todos os tipos de plástico são inimigos do ambiente e é muito provável que continuem a ser produzidos por muitos anos ainda, devendo os especialistas continuar a realizar estudos que direccionem uma especial atenção aos plásticos descartáveis, buscando por alternativas de materiais mais amigos do ambiente e com o menor impacto possível, para contrapor a velocidade avassaladora com que os resíduos plásticos se espalham pelo mundo.

Referências:

1. COLTRO, L. GASPARINO, B. F. QUEIROZ, G.C (2008) Reciclagem de Materiais Plásticos: A importância da correcta identificação. Revista Polímeros, Ciência e Tecnologia, vol. 18, n.º 2, p. 119-125. Disponível no link https://revistapolimeros.org.br/article/10.1590/S0104-14282008000200008/pdf/polimeros-18-2-119.pdf. Acessado a 27/06/2022

2. COSTA, R. M. (2021) Alternativas aos plásticos de utilização única, foco em soluções comestíveis. Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Tecnologia e Segurança Alimentar. Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa. Disponível no link https://run.unl.pt/bitstream/10362/126754/1/Costa_2021.pdf. Acessado no dia 27/06/2022.

3. ECOANGOLA (2021) Intoxicação da biodiversidade por plástico. Disponível no link https://ecoangola.com/intoxicacao-plastica/. Acessado a 28/06/2022.

4. FORTUNA, A. L. L. (2020) Impactos ambientais dos plásticos: biopolímeros como alternativa para a redução do acúmulo de embalagens flexíveis de polipropileno no meio ambiente. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola de Química

5. GEYER, R. JAMBECK, J. LAW, L. K. (2017) Production, use and fate of all plastic ever made. SCIENCE ADVANCES. Disponível no link https://www.science.org/doi/epdf/10.1126/sciadv.1700782. Acessado a 27/06/2022

6. GUERRA, L. (2021) Plástico, das ameaças às soluções. EcoAngola. Disponível no link https://ecoangola.com/plastico-das-ameacas-as-solucoes/. Acessado a 28/06/2022

7. KAZA, S., YAO, L., BHADA-TATA, P. and VAN WOERDEN, F. (2018) What a Waste 2.0 : A Global Snapshot of Solid Waste Management to 2050. Urban Development; Washington, DC: World Bank. © World Bank. Disponível no link https://openknowledge.worldbank.org/handle/10986/30317. Acessado a 27/06/2022

8. MATEUS, D. (2020) Consumo sustentável e consciente. EcoAngola. Disponível no link https://ecoangola.com/consumo-sustentavel-e-consciente/. Acessado a 28/06/2022.

9. OKWEZILI, J., NDUKWE, C., & NKWUZOR, C. I. (2016). Urban solid waste management and environmental sustainability in Abakaliki Urban, Nigeria. European Scientific Journal. 12(23), 155-183. Disponível no link https:// doi.org/10.19044/esj.2016.v12n23p155. Acessado a 27/06/2022

10. PACTO DE PLÁSTICO PORTUGAL (2021) A Lista de plásticos de uso único considerados problemáticos e/ou desnecessários. Disponível no link https://pactoplasticos.pt/directus/public/uploads/pacto/ originals/678c8749-e80f-4c97-bd24-235816ac3b42.pdf Acessado a 27/06/2022

11. RANI-BOSGES, B. VICENTE, E. & PÔMPEO, M (2022) Plásticos e Microplásticos – Poluição em Reservatórios. Disponível no link https://www.researchgate.net/publication/359019614_Capitulo_1_-_Plasticos_e_ Microplasticos_Poluicao_em_reservatorios. Acessado a 27/06/2022

12. WORM, B.; LOTZE, H. K.; JUBINVILLE, I.; WILCOX, C.; JAMBECK, J. (2017) Plastic as a persistent marine pollutant. Annual Review of Environment and Resources, v. 42, p. 1-26. Disponível no link https://www. annualreviews.org/doi/epdf/10.1146/annurev-environ-102016-060700. Acessado a 27/06/2022

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15. NAÇÕES UNIDAS (2015) Plásticos biodegradáveis não são solução. PNUMA. Disponível no link https://news.un.org/pt/story/2015/11/1532211-plasticos-biodegradaveis-nao-sao-solucao-afirma-pnuma#:~:text=O%20 Programa%20da%20ONU%20para%20o%20Meio%20Ambiente%2C,exposi%C3%A7%C3%A3o%20prolongada%20a%20temperaturas%20acima%20de%2050%C2%B0%20Celsius.

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