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TUBERCULOSE OCULAR
O TEMA QUE SELECCIONÁMOS PARA FALAR NESTA EDIÇÃO É RELATIVAMENTE RARO. CONTUDO, TENDO EM CONTA A CADA VEZ MAIOR INCIDÊNCIA DA TUBERCULOSE EM ANGOLA, É NECESSÁRIA UMA ABORDAGEM SOBRE OS ASPECTOS OCULARES DA DOENÇA.
Principais características da tuberculose ocular Após penetrar no organismo por via respiratória, o bacilo Mycobacterium tuberculosis pode disseminarse e instalar-se em qualquer órgão. Essa infecção é conhecida como tuberculose extrapulmonar. Segundo estudos, a maioria das formas extrapulmonares ocorre em órgãos sem condições favoráveis ao crescimento do bacilo de Koch. Dessa forma, a sua instalação acontece de maneira insidiosa e lenta.
Licenciado em Optometria e Ciências da Visão pela Universidade do Minho, Portugal. Pósgraduado em Avaliação Optométrica Pré e Pós Cirúrgica pela Universidade de Valência, Espanha. Founder & CEO da Óptica Optioptika
Atuberculose ocular é uma doença infecciosa causada pela bactéria
Mycobacterium tuberculosis (bacilo de Koch). O principal órgão atingido é o pulmão, mas o bacilo pode disseminar-se e atingir outros órgãos, entre os quais o olho. Essa infecção é também conhecida como uveíte por tuberculose, pois provoca inflamação nas estruturas da úvea do olho. De acordo, por exemplo, com a Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO), a incidência de tuberculose ocular ocorre em cerca de 1% a 2% dos casos que afectam outros órgãos, além dos pulmões. Neste artigo, vamos apresentar uma visão geral sobre a tuberculose ocular, comentando sobre as suas principais características, a prevalência, os sintomas, as formas de transmissão, o diagnóstico, os tratamentos e a prevenção.
A tuberculose ocular (TBO) é classificada como uma infecção primária, quando atinge directamente o olho, sem, antes, haver infectado outros órgãos. Isso pode ocorrer por contacto com as mãos e objectos contaminados ou por exposição a aerossóis infectados com os bacilos, sendo todos esses casos considerados raros, e inclui lesões palpebrais, corneanas, conjuntivais e esclerais.
Quando a infecção ocular ocorre após a contaminação do pulmão, com a disseminação da bactéria por via linfo-hematogénica, é considerada uma infecção secundária. Nesse caso, estão envolvidos o tracto uveal, o nervo óptico e a retina.
A inflamação do tracto uveal é a manifestação ocular mais comum da doença, devido ao seu alto nível de suprimento sanguíneo.
Prevalência
A infecção ocular é mais frequente em pacientes com VIH, pessoas que já foram infectadas com tuberculose noutra região do corpo ou naquelas que vivem em locais sem saneamento básico. A propósito, uma pesquisa aponta que alguns estudos sobre SIDA e tuberculose demonstraram um grande aumento das formas extrapulmonares da doença, chegando a atingir cerca de 62% dos casos em formas isoladas ou associadas à ocorrência pulmonar, em adultos. Entretanto, esse percentual oscilava em torno de 10% antes da eclosão dos casos de SIDA, significando uma estreita relação entre as doenças e a prevalência da tuberculose ocular em pacientes com o vírus VIH.
Sintomas da tuberculose ocular
A doença pode comprometer todas as partes dos olhos e seus anexos, como conjuntiva, íris e coroide. As manifestações clínicas mais comuns são a uveíte e a endoftalmite (inflamação do globo ocular).
Os principais sintomas da tuberculose ocular são hipersensibilidade à luz (fotofobia) e visão embaçada. Entretanto, também podem ocorrer outros sinais, como:
• diminuição da acuidade visual;
• dor de cabeça;
• lacrimejar;
• olhos doridos e vermelhos;
• pupilas de tamanhos diferentes;
• sensação de ardor nos olhos.
Entre as complicações relacionadas à tuberculose ocular, pode ocorrer descolamento da retina, edema macular, aumento da pressão intraocular (glaucoma), catarata e hemorragia vítrea. Embora seja rara, pode ocorrer a esclerite nodular unilateral.
Forma de transmissão da doença
Normalmente, o bacilo M. tuberculosis é transmitido de pessoa a pessoa pelas vias aéreas, por meio de gotículas de saliva libertadas ao espirrar, tossir ou falar. Por esse motivo, a contaminação ocorre, primeiramente, na maioria dos casos, no tecido pulmonar.
Os primeiros sintomas podem demorar dias, e até semanas, para se manifestarem. Por esse motivo, mediante o diagnóstico de tuberculose ocular, cutânea ou pulmonar, é de extrema importância que as pessoas mais próximas, como amigos e familiares do paciente, sejam testadas para afastar qualquer suspeita.
É importante observar que a forma transmissível da tuberculose é apenas a pulmonar, que apresenta tosse com catarro (onde o bacilo se aloja). As demais formas, que não apresentam essas características, não são transmissíveis.
Diagnóstico da doença
Pelo facto de apresentar vários sintomas que podem ser confundidos com outras doenças, o diagnóstico nem sempre é fácil. Também pode ser dificultado por várias razões, como a quantidade baixa de bacilos, que, normalmente, acompanha o quadro.
O diagnóstico é feito por meio do histórico clínico do paciente e de alguns exames especializados que podem detectar a doença. Para a maioria dos casos, alguns são desnecessários, como a biópsia coriorretiniana e a punção do humor.
O oftalmologista também pode solicitar uma análise laboratorial do líquido ocular para confirmar a presença da bactéria Mycobacterium tuberculosis
Tratamento
Embora a tuberculose ocular tenha cura, o seu tratamento é demorado, variando entre seis meses e dois anos, com a utilização de antibióticos.
O uso de novos medicamentos para o tratamento da tuberculose está a aumentar, como injecções intravítreas de esteroides, entre outros. Em alguns casos, podem, ainda, ser receitadas gotas de medicamento corticoide para aliviar os sintomas de ardor e a coceira durante o tratamento.
Um dos aspectos mais importantes do tratamento é que, por ser demorado, o paciente precisa seguir correctamente todas as orientações do médico, para que as bactérias possam, de facto, ser eliminadas. Caso contrário, podem ganhar resistência e continuar a desenvolver-se.
Prevenção
A melhor forma de evitar o contágio com a tuberculose pulmonar (que pode transformar-se em ocular) são a vacinação na infância com a BCG e evitar o contacto com pessoas infectadas. Para tal, é fundamental evitar a partilha de talheres, escovas de dentes ou outros objectos que possam entrar em contacto com a saliva desses pacientes. Também é importante evitar ficar em locais onde haja pessoas com suspeita da infecção, com excepção de casos que já estejam a ser tratados há mais de 15 dias.
Como vimos, a tuberculose ocular é uma doença infecciosa causada pelo bacilo de Koch. Quando não tratada logo no início dos sintomas, pode agravar-se e resultar num sério comprometimento da visão. Portanto, aos primeiros sinais, o oftalmologista deve ser consultado para diagnóstico e tratamento.