Tecnosaúde #19 - Julho/Agosto

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N.º 19

Julho/Agosto 2 0 2 3

D ISTRIBUIÇÃO GRATUITA

P U B LIC A ÇÃO DIGITAL BIMESTRAL

DESAFIOS NO CUIDADO DO

PREMATURO

EDITORIAL

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ANÁLISE

152 milhões de bebés nascidos prematuros na última década

Avaliação nutricional e alimentar no seguimento do prematuro

A alta hospitalar do prematuro e o Cuidado Centrado na Família

PERSPECTIVA

Enfermeira Joana Silva aborda a importância da amamentação

Todos os anos, a 27 de Julho, assinala-se o Dia do Pediatra. A palavra deriva do grego Pais , que significa “criança”, a que se junta Iatros , que significa “aquele que cura”.

A área especializada dedicada ao cuidado das crianças apenas se individualizou no século XIX. O primeiro hospital pediátrico abriu em Paris (França), em 1802, com o nome Hôpital Enfant Malade. Subsequentemente, foram surgindo outros hospitais com internamento exclusivo para crianças em vários países.

Este movimento de preocupação pela saúde e direitos da criança surgiu em resposta às duras condições de vida a que eram sujeitas, em plena Revolução Industrial. O trabalho infantil, a desnutrição e as epidemias eram situações comuns, pelo que os hospitais pediátricos procuravam rodear as crianças de um meio mais confortável, respeitando as especificidades das suas patologias e reconhecendo que a criança não é um adulto pequeno.

Actualmente, a pediatria enfrenta novos desafios e necessita de trabalhar em parceria com as restantes especialidades médicas.

Em homenagem a todos os médicos pediatras, dedicamos esta edição às crianças e, particularmente, a crianças muito especiais: os bebés prematuros. De cada 10 bebés nascidos no mundo, um é prematuro. O parto prematuro é hoje a principal causa de morte infantil, sendo responsável por mais de uma em cada cinco de todas as mortes de crianças ocorridas antes dos 5 anos de idade.

É, assim, urgente tomar medidas para melhorar a prevenção do parto prematuro, a par de prestar melhores cuidados para os bebés afectados e as suas famílias. Investir nos cuidados de saúde das nossas crianças é proporcionar uma população adulta mais saudável no futuro.

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Mais de 4,5 milhões de mulheres e bebés morrem todos os anos

32 Dra. Margarida Carvalho explica a medicação em pediatria

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Dra. Maria Ana Kadosh aborda o tema da alimentação e da actividade física no combate à obesidade infantil 44

Análise: 80% dos idosos viverá em países de baixo e médio rendimento

48 Dr. Djalme Fonseca explica o que é e quais os efeitos da luz azul

RUBRICA AMBIENTAL

Poluição ambiental e saúde pública, análise da EcoAngola

60 Cancro do pulmão: principal causa de morte por cancro

66 OMS apela ao reforço do rastreio e tratamento das hepatites virais

68 Rubrica Regulamentar: Dra. Zola João aborda a questão da suficiência do estudo

Propriedade e Editor: Tecnosaúde, Formação e Consultoria

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2 SAÚDE 02 04
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SAÚDE
ÍNDICE
PARA SI
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Dra. Nádia Noronha Directora Executiva da Tecnosaúde

DE BEBÉS NASCIDOS PREMATUROS NA ÚLTIMA DÉCADA

DE CADA 10 BEBÉS NASCIDOS NO MUNDO, UM É PREMATURO E, A CADA 40 SEGUNDOS, UM DESSES BEBÉS MORRE. AS TAXAS DE NATALIDADE PREMATURA NÃO SE ALTERARAM

NA ÚLTIMA DÉCADA, EM NENHUMA REGIÃO DO MUNDO. OS IMPACTOS DOS CONFLITOS, DAS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS E DA COVID-19 AUMENTARAM OS RISCOS PARA AS MULHERES E OS BEBÉS EM TODO O MUNDO, PELO QUE É URGENTE TOMAR MEDIDAS

PARA MELHORAR A PREVENÇÃO DO PARTO PREMATURO, A PAR DE PRESTAR MELHORES

CUIDADOS PARA OS BEBÉS AFECTADOS E SUAS FAMÍLIAS.

152
ANÁLISE
MILHÕES

Estima-se que 13,4 milhões de bebés nasceram prematuros em 2020, com quase um milhão a morrer de complicações, de acordo com um novo relatório divulgado por agências e parceiros das Nações Unidas. Isto equivale a cerca de um em cada 10 bebés a nascer precocemente (antes das 37 semanas de gravidez).

O relatório “Nascer cedo demais: década de acção sobre parto prematuro”, produzido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), em conjunto com a PMNCH, a maior aliança mundial para mulheres, crianças e adolescentes, faz soar o alarme sobre uma “emergência silenciosa” de parto prematuro, há muito subestimada na sua escala e gravidade, que está a impedir o progresso na melhoria da saúde e sobrevivência das crianças. O relatório inclui estimativas actualizadas da OMS e da Unicef, elaboradas em conjunto com a Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, sobre a prevalência de nascimentos prematuros. Globalmente, conclui que as taxas de natalidade prematura não se alteraram em nenhuma região do mundo, na última década, com 152 milhões de bebés vulneráveis a nascerem demasiado cedo, entre 2010 e 2020.

Maior causa de morte infantil

O parto prematuro é hoje a principal causa de morte infantil, sendo responsável por mais de uma em cada cinco de todas as mortes de crianças ocorridas antes dos 5 anos de idade. Os sobreviventes prematuros podem enfrentar consequências para a saúde ao longo da vida, com uma maior probabilidade de incapacidade e atrasos no desenvolvimento.

Muitas vezes, o local onde os bebés nascem determina se sobrevivem. O relatório observa que apenas um em cada 10 bebés extremamente prematuros (<28 semanas) sobrevive em países de baixa renda, em comparação com mais de nove em cada 10 em países de alta renda. O sul da Ásia e a África Subsariana têm as taxas mais elevadas de nascimentos prematuros e os bebés prematuros nestas regiões enfrentam o maior risco de mortalidade. Em conjunto, estas duas regiões são responsáveis por mais de 65% dos nascimentos prematuros em todo o mundo.

Os dados mostram que ocorreram 4,5 milhões de mortes, somando mortes maternas, nados-mortos e mortes de recém-nascidos, com cinco países africanos na lista dos 10 com maior número de ocorrências: Nigéria (540 mil mortes), República Democrática do Congo (241 mil), Etiópia (196 mil) e Tanzânia (94 mil). Os 10 países com mais ocorrências representam também 60% do total mundial das mortes maternas, nados-mortos e mortes de recém-nascidos e 51% dos nascimentos prematuros.

Riscos

O relatório também destaca que os impactos de conflitos, mudanças climáticas e danos ambientais, Covid-19 e aumento do custo de vida estão a exacerbar os riscos para mulheres e bebés em todos os lugares. Por exemplo, estima-se que a poluição atmosférica contribua para seis milhões de nascimentos prematuros por ano. Quase um em cada 10 bebés prematuros nasce nos 10 países mais frágeis afectados por crises humanitárias, onde se incluem a República Democrática

5 SAÚDE

do Congo, que lidera, o Sudão, a Somália, o Chade, o Sudão do Sul e a República Centro-Africana, de acordo com o relatório.

Os riscos para a saúde materna, como a gravidez na adolescência e a préeclâmpsia, estão intimamente ligados aos partos prematuros. Este facto sublinha a necessidade de garantir o acesso a serviços de saúde sexual e reprodutiva, incluindo um planeamento familiar eficaz, com cuidados de elevada qualidade na gravidez e na altura do parto.

Cuidados

Os cuidados pré-natais, atendimento qualificado no parto e cuidados pósparto para mães e recém-nascidos foram indicadores tidos em consideração no relatório, surgindo a região subsariana do continente africano, mais uma vez, como aquela que enfrenta maiores riscos. Se todas as regiões dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)

estabelecidos pela ONU têm mostrado uma ligeira melhoria no aumento da cobertura de, pelo menos, quatro observações antes do parto, duas permanecem muito abaixo da meta global a atingir em 2025, que é de 90%, sendo a África

Subsariana a que está mais abaixo, com 54 %, lê-se no relatório. Noutro indicador, o atendimento qualificado no parto, a cobertura tem melhorado em todas as regiões desde 2010, mas as estimativas para 2022 e projecções para 2025 sugerem que a África Subsariana não chegará à meta de 90%.

Também nos cuidados pós-parto, a OMS e a Unicef concluem que a África Subsariana é a região do mundo que está mais abaixo da meta (59 %) e não se prevê que atinja o objectivo global até 2025.

O

PARTO

PREMATURO É HOJE

A PRINCIPAL CAUSA DE MORTE INFANTIL, SENDO RESPONSÁVEL POR MAIS DE UMA EM CADA CINCO DE TODAS AS MORTES DE CRIANÇAS

OCORRIDAS ANTES DOS 5 ANOS DE IDADE. OS SOBREVIVENTES PREMATUROS PODEM ENFRENTAR CONSEQUÊNCIAS PARA A SAÚDE AO LONGO DA VIDA, COM UMA MAIOR PROBABILIDADE DE INCAPACIDADE E ATRASOS NO DESENVOLVIMENTO

Prematuridade

O termo define os bebés nascidos vivos antes de completarem as 37 semanas de gravidez. Existem subcategorias de parto prematuro, com base na idade gestacional: extremamente prematuro (menos de 28 semanas), muito prematuro (28 a menos de 32 semanas), prematuro moderado a tardio (32 a 37 semanas).

Em todos os países, a taxa de nascimentos prematuros varia de 4% a 16% dos bebés nascidos em 2020. Os bebés podem nascer prematuros devido a trabalho de parto prematuro espontâneo ou porque existe uma indicação médica para planear uma indução do trabalho de parto ou cesariana precoce. É necessária mais investigação para determinar as causas e os mecanismos do parto prematuro, que incluem gravidezes múltiplas, infecções e condições crónicas, como diabetes e tensão alta. No entanto, muitas vezes, nenhuma causa é identificada. Também poderá haver uma influência genética.

6 SAÚDE

CONTACTO IMEDIATO COM A PELE NA

SOBREVIVÊNCIA DE BEBÉS PEQUENOS E PREMATUROS

A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS) LANÇOU NOVAS DIRECTRIZES PARA MELHORAR A SOBREVIVÊNCIA E OS RESULTADOS DE SAÚDE DOS BEBÉS NASCIDOS PRECOCEMENTE (ANTES DAS 37 SEMANAS DE GRAVIDEZ) OU PEQUENOS (MENOS DE 2,5 QUILOGRAMAS À NASCENÇA). AS DIRECTRIZES ACONSELHAM QUE O CONTACTO PELE A PELE COM UM CUIDADOR DEVERÁ COMEÇAR IMEDIATAMENTE APÓS O NASCIMENTO, SEM QUALQUER PERÍODO INICIAL NUMA INCUBADORA.

8 SAÚDE OMS
ACONSELHA
NOTÍCIA

As novas directrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS) marcam uma mudança significativa em relação à orientação anterior e à prática clínica comum, reflectindo os benefícios para a saúde de garantir que os cuidadores e os seus bebés prematuros possam ficar próximos, sem serem separados, após o nascimento.

As directrizes também fornecem recomendações para garantir apoio emocional, financeiro e no local de trabalho para as famílias de bebés muito pequenos e prematuros, que podem enfrentar stresse e dificuldades extraordinários devido às necessidades de cuidados intensivos dos seus bebés.

“Os bebés prematuros podem sobreviver, prosperar e mudar o mundo, mas cada bebé deve ter essa oportunidade”, disse o Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, director geral da OMS. “Estas directrizes mostram que melhorar os resultados para esses bebés pequenos nem sempre é fornecer as soluções mais high-tech, mas sim garantir o acesso a cuidados de saúde essenciais centrados nas necessidades das famílias”

A prematuridade é uma questão urgente de saúde pública. Todos os anos, estima-se que 15 milhões de bebés nascem prematuros, o que equivale a mais de um em cada 10 de todos os nascimentos, a nível mundial. Um número ainda mais elevado - mais de 20 milhões de bebés - tem um baixo peso à nascença. Este número está a aumentar e a prematuridade é agora a principal causa de morte de crianças com menos de 5 anos.

Dependendo de onde nascem, continuam a existir disparidades significativas nas hipóteses de sobrevivência de um bebé prematuro. Enquanto a maioria dos nascidos com ou após as 28 semanas em países de alta renda sobrevive, nos países mais pobres, as taxas de sobrevivência podem ser tão baixas quanto 10%.

A maioria dos bebés prematuros pode ser salva através de medidas viáveis e eficazes em termos de custos, incluindo cuidados de qualidade antes, durante e após o parto, prevenção e gestão de infecções comuns e os chamados “cuidados mãe canguru”, combinando o contacto pele a pele num sling ou o envolvimento especial durante o maior número de horas possível com um cuidador primário, geralmente a mãe, e o aleitamento materno exclusivo.

Como os bebés prematuros não têm gordura corporal, muitos têm problemas em regular a sua própria temperatura quando nascem e, muitas vezes, necessitam de assistência médica para respirar. Para estes bebés, as recomendações anteriores eram para um período inicial de separação do seu cuidador

principal, com o bebé primeiro estabilizado numa incubadora, em média, cerca de três a sete dias. No entanto, a pesquisa mostrou que iniciar os “cuidados mãe canguru” imediatamente após o nascimento salva muito mais vidas, reduz infecções e a hipotermia e melhora a alimentação. “O primeiro abraço com um pai não é apenas emocionalmente importante, mas também absolutamente crítico para melhorar as possibilidades de sobrevivência e os resultados de saúde para bebés pequenos e prematuros”, disse a Dra. Karen Edmond, directora médica para Saúde Neonatal da OMS. “Em tempos de Covid-19, sabemos que muitas mulheres foram desnecessariamente separadas dos seus bebés, o que pode ser catastrófico para a saúde de bebés nascidos cedo ou pequenos. Estas novas directrizes enfatizam a necessidade de fornecer cuidados para famílias e bebés prematuros em conjunto como uma unidade e garantir que os pais recebam o melhor apoio possível durante o que, muitas vezes, é um momento excepcionalmente stressante e ansioso”

Amamentação

Embora estas novas recomendações tenham particular pertinência em contextos mais pobres, que podem não ter acesso a equipamento de alta tecnologia, ou mesmo a um fornecimento fiável de electricidade, também são relevantes para contextos de rendimentos elevados, o que exige que se repense a forma como os cuidados intensivos neonatais são prestados, afirmam as directrizes, para garantir que pais e recémnascidos possam estar juntos em todos os momentos.

Ao longo das directrizes, a amamentação é fortemente recomendada, para melhorar os resultados de saúde para os bebés prematuros e de baixo peso ao nascer, com as evidências a mostrarem que reduz os riscos de infecção em comparação com a fórmula infantil. Nos casos em que o leite materno não está disponível, o leite humano é a melhor alternativa, embora se possa utilizar fórmulas especiais fortificadas se não existirem bancos de leite.

Integrando o feedback das famílias recolhido através de mais de 200 estudos, as directrizes também defendem um maior apoio emocional e financeiro aos cuidadores. A licença parental é necessária para ajudar as famílias a cuidar do bebé, enquanto as políticas e direitos governamentais e regulatórios devem garantir que as famílias de bebés prematuros e de baixo peso ao nascer recebam suficiente apoio financeiro e no local de trabalho.

9 SAÚDE

Lançamento do Leite Nutribén Baixo Peso

DESAFIOS NO CUIDADO DO BEBÉ PREMATURO

EM PARCERIA COM A ALTER, A AUSTRALPHARMA REALIZOU A 27 DE JULHO O EVENTO DE LANÇAMENTO DO LEITE NUTRIBÉN

BAIXO PESO, UMA FÓRMULA DESENVOLVIDA ESPECIALMENTE

PARA PREMATUROS E/OU LACTENTES COM BAIXO PESO. COM A ORGANIZAÇÃO DA TECNOSAÚDE, ESTE EVENTO ASSINALOU O DIA MUNDIAL DO PEDIATRA, TENDO DECORRIDO NO AUDITÓRIO DA ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO E POLÍTICAS PÚBLICAS (ENAAP) DA SAMBA. CONTOU COM A PRESENÇA DE PROFISSIONAIS DE PEDIATRIA, NEONATOLOGIA, NUTRICIONISTAS E ENFERMEIROS, QUE REFORÇARAM O SEU CONHECIMENTO SOBRE ASPECTOS DO SEGUIMENTO E ALTA HOSPITALAR DO PREMATURO E SOBRE O CUIDADO CENTRADO NA FAMÍLIA, BEM COMO A AVALIAÇÃO NUTRICIONAL E ALIMENTAR.

10 SAÚDE
REPORTAGEM

Aalimentação tem um papel preponderante para o futuro das crianças, e no caso dos prematuros ainda mais, porque os défices nutricionais podem agravar qualquer situação que surja no seu desenvolvimento. Como destacou a Dra. Marinela Tito Júlio, Nutricionista, no evento de lançamento do Leite Nutribén Baixo Peso, o risco de desnutrição é aumentado no caso de crianças prematuras, pelo que a sua avaliação nutricional deve ser feita em períodos muito mais curtos do que no caso dos bebés que nascem no termo, para acompanhar de perto o ganho de peso.

A avaliação nutricional na criança prematura deve respeitar alguns parâmetros. Normalmente, dá-se muita atenção ao

ganho de peso da criança, mas existem outros parâmetros de avaliação que vão definir o seu estado nutricional, sejam antropométricos, bioquímicos (que também podem indicar se existe algum outro défice nessas crianças), socioeconómicos e clínicos, como mencionado pela Dra. Marinela Tito Júlio. Sendo certo que o nascimento de um prematuro acarreta várias emoções, neste evento foi também abordada a importância do cuidado centrado na família, pela Enfermeira Ana Duarte. Um conceito que remonta a 1969, com o propósito de definir a qualidade dos cuidados hospitalares segundo a visão dos pacientes. No caso dos bebés prematuros, permite aliviar o sofrimento dos pais, aumentar a sua autonomia, incentivar o aleitamento materno e diminuir as complicações no bebé.

O bebé prematuro necessita de um acompanhamento médico constante, para que se possa assegurar o seu desenvolvimento saudável e que se mantenha fora de perigo de complicações associadas à sua delicada condição.

A Dra. Liddys Castaneda, Médica Pediatra e Neonatologista, abordou a importância do acompanhamento de bebés prematuros pela classe médica, destacando as complicações que esta condição acarreta, nomeadamente a dificuldade em manter a temperatura corporal, dificuldade respiratória e na alimentação e o subdesenvolvimento do sistema imunológico. Assim como o que deve contemplar o protocolo de cuidados a serem prestados a um bebé prematuro nos primeiros dias de vida.

O nascimento de um bebé prematuro não acarreta apenas complicações físicas, mas também psicológicas, significando

11 SAÚDE

tempos muito difíceis para as famílias destes bebés, que podem, muitas vezes, apresentar situações críticas nos primeiros dias de vida. Mais uma vez, o papel do pediatra poderá ser fundamental para dar algum conforto e transformar a dor destas famílias em esperança. A Dra. Nayiole Pinto, Médica Pediatra, destacou, assim, o papel do médico na abordagem a famílias de pacientes críticos em neonatologia, tendo como palavra-chave a humanização. “Trata-se de realizar qualquer acto considerando o ser humano como um ser único e complexo, onde estão inerentes o respeito e a compaixão para com o outro”. É particularmente importante a sua aplicação nos serviços de saúde e, em especial, no cuidado de pacientes que se encontram na UTI e no contacto com os seus familiares, ajudando os profissionais de saúde a apoiar as famílias, tendo como principal objectivo criar um bem-estar psíquico e físico, contribuindo para a redução do tempo de permanência hospitalar.

Perante uma plateia cheia de profissionais de pediatria, neonatologia, nutricionistas e enfermeiros, num total de 59 participantes, as apresentações permitiram aumentar o seu conhecimento destes e de outros temas fundamentais na abordagem ao cuidado do bebé prematuro. Assim como os desafios com que os profissionais de saúde do país se deparam e oportunidades de melhoria a aplicar nos cuidados destes bebés, conforme salientado pela Dra. Liliana Aragão, Presidente do Colégio de Pediatria da Ordem dos Médicos de Angola, que partilhou a sua valiosa experiência.

A presença de um painel de oradores diversificado, com a colaboração de

profissionais de várias áreas, permitiu uma troca de experiências muito interessante e a partilha de abordagens diferentes para o mesmo tema. No final do evento, os participantes manifestaram a vontade de participar em mais acções desta natureza, para exponenciar o conhecimento sobre diversas áreas médicas, assim como a associação aos produtos da gama Nutribén.

Mais uma iniciativa da Australpharma em parceria com a Tecnosaúde, na sua missão de contribuir para o desenvolvimento, formação e inovação no sector da saúde angolano.

Nutribén Baixo Peso

A Australpharma lança no mercado angolano o Leite Nutribén Baixo Peso, indicado para prematuros e/ou bebés com baixo peso ao nascimento, contendo uma quantidade adequada de macro e micronutrientes necessários para garantir o correcto desenvolvimento e crescimento do bebé, evitando possíveis lesões ou problemas a curto e longo prazo.

Podendo ser dada desde o nascimento, a fórmula foi desenvolvida para fins medicinais específicos e para satisfazer as necessidades nutricionais do bebé. Esta é uma fórmula que oferece um elevado aporte de energia (83 kcal/100ml), apresenta baixa osmolaridade (297 mOsm/l), promove uma rápida digestão e absorção (19% TCM) e que apresenta uma composição de aminoácidos similar ao leite materno, pelo enriquecimento em alfalactoalbumina. Alternativa para uso hospitalar e continuidade em casa, contém DHA e está isenta de óleo de palma.

12 SAÚDE

Nutrição especializada

Distribuidora Oficial:

AVALIAÇÃO NUTRICIONAL E ALIMENTAR NO SEGUIMENTO DO PREMATURO

O NÚMERO DE CRIANÇAS NASCIDAS PREMATURAS

QUE SOBREVIVEM TEM VINDO A AUMENTAR DE FORMA EXPRESSIVA, NAS ÚLTIMAS DÉCADAS, TENDO ENTRE OS PRINCIPAIS FACTORES COM GRANDE IMPACTO NESTE INCREMENTO OS AVANÇOS NA TERAPIA

NUTRICIONAL DO PREMATURO. O MAIOR OBJECTIVO DA TERAPIA NUTRICIONAL É ASSEGURAR QUE O PREMATURO CRESÇA COMO SE AINDA ESTIVESSE NO AMBIENTE INTRAUTERINO, COM UM SATISFATÓRIO DESENVOLVIMENTO FUNCIONAL. A NECESSIDADE DE NUTRIÇÃO ADEQUADA PARA O RECÉM-NASCIDO

PREMATURO É UM DOS MAIORES DESAFIOS DA NEONATOLOGIA, PORQUE DELA DEPENDEM A SOBREVIDA, O CRESCIMENTO E O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO E MOTOR SATISFATÓRIO E, A LONGO

PRAZO, A PREVENÇÃO DAS DOENÇAS CRÓNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS.

Trata-se de um dos grupos mais vulneráveis no ciclo da vida, necessitando de avaliação e recomendações nutricionais diferenciadas. A nutrição adequada destas crianças exige um conhecimento dos requerimentos de nutrientes e das suas definições, que se apresentam de forma heterogénea na literatura. Este facto decorre dos requerimentos nutricionais serem definidos de acordo com a quantidade e a forma química de um nutriente necessário para o crescimento e desenvolvimento adequado e manutenção da saúde, sem prejuízo do metabolismo de outro nutriente estimado para grupos populacionais saudáveis. No caso dos prematuros, em especial os de muito baixo peso (RNMBP), abaixo de 1.500 gramas, as necessidades são variáveis segundo a fase de crescimento e frequentemente associada a alguma patologia, desde o nascimento ou na evolução clínica. Ou seja, os seus requerimentos nutricionais não podem ser derivados das necessidades de um prematuro “saudável em vias de alta hospitalar”. Trata-se de um tema de alta complexidade, porque na prematuridade não há

14 SAÚDE PERSPECTIVA
Dra. Marinela Tito Júlio Nutricionista do Consultório Médico Peandra

homogeneidade clínica, devido às diferentes idades gestacionais e possíveis restrições do crescimento intrauterino, condições de saúde da gestante, doenças associadas à prematuridade e modalidades da nutrição parenteral e enteral, que modificam as necessidades fisiológicas do prematuro. As modalidades da terapia nutricional não são isoladas e dependem de uma série de variáveis, ou seja, evoluem de acordo com a idade gestacional, o quadro clínico e também da capacidade digestória do recém-nascido, que compreende a digestão, absorção de nutrientes e a motilidade intestinal. É de extrema importância que as necessidades nutricionais dos recém-nascidos pré-termo sejam atingidas o mais precocemente possível, tanto por via de alimentação parenteral como enteral, nas situações em que a via de alimentação oral for impossibilitada.

Existem na literatura diversos guias nutricionais e recomendações isoladas de macro e micronutrientes, sendo, de entre as principais recomendações, as da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Academia Americana de Pediatria as mais citadas. De acordo com a Sociedade Americana para Ciências Nutricionais, as recomendações nutricionais são estabelecidas para recémnascidos de muito baixo peso de 1.000 gramas ao nascimento até atingirem 1.800 gramas a 2.000 gramas de peso, sendo este

último o maior preditor para a alta hospitalar. O acompanhamento clínico através de indicadores antropométricos e laboratoriais é de fundamental importância para essas crianças

Na prática clínica, prematuros nos primeiros dias de vida, instáveis e/ou com comorbidades devem receber as ofertas de nutrientes mais próximas dos limites inferiores das recomendações nutricionais; nas fases posteriores ou quando estáveis, em que o crescimento é fundamental, as ofertas nutricionais devem ser mais próximas dos limites superiores das recomendações nutricionais até essas crianças apresentarem uma recuperação adequada do seu crescimento.

A ALTA HOSPITALAR DO PREMATURO E O CUIDADO CENTRADO NA FAMÍLIA

O NASCIMENTO PREMATURO DE UM BEBÉ PODE TER UMA SÉRIE DE EFEITOS NA FAMÍLIA. A INCERTEZA SOBRE A SAÚDE E O DESENVOLVIMENTO DO BEBÉ, ASSIM COMO A NECESSIDADE DE PASSAR LONGOS PERÍODOS NO HOSPITAL, PODEM LEVAR A ALTOS NÍVEIS DE ANSIEDADE, PREOCUPAÇÃO, MEDO E INSEGURANÇA.

Considera-se prematuridade um nascimento antes das 37 semanas de gestação (Angelo M. 1997).

Enfermeira Ana Duarte

Enfermeira Especialista em Saúde Infantil e Pediátrica. Conselheira em Aleitamento Materno. Coordenadora da Maternidade Luanda Medical Center

Vários estudos destacam a importância do Cuidado Centrado na Família (CCF) em unidades neonatais, uma vez que diminui o sofrimento dos pais, através da sua participação e autonomia no cuidado, aumenta o índice de aleitamento materno e diminui os índices de sequelas da prematuridade (Coats et al., 2018; Davidson et al., 2017; Mirlashari et al., 2019; Waddington et al., 2021; Zhang, et al. 2018).

PERSPECTIVA

A alta hospitalar de um prematuro começa no momento da admissão na Unidade de Neonatologia. Ao longo de todo o internamento, o enfermeiro deve desenvolver o seu plano de cuidados de enfermagem, em parceria com a família. Segundo Angelo M. (1997), “família é um grupo de indivíduos em interacção simbólica, chegando às situações com os outros significantes, ou grupos de referência, com símbolos, perspectivas, self, mente e habilidade para assumir papéis”

Desta forma, a família deve ser reconhecida como uma constante na vida da criança e os serviços de saúde devem apoiar, respeitar, encorajar e potencializar a força e a competência da família, através do desenvolvimento de uma parceria com os pais. Cabe ao enfermeiro apoiar a família no seu papel de prestação natural de cuidados e tomada de decisão, reconhecer a experiência dos pais em cuidar dos filhos, tanto dentro como fora dos serviços de saúde, e também considerar as necessidades de todos os membros da família, em relação aos cuidados da criança.

Cuidado Centrado na Família

O termo Cuidado Centrado na Família (CCF) teve início em meados de 1969, com o propósito de definir “a qualidade dos cuidados prestados no hospital, segundo a visão dos pacientes e suas famílias, e de discutir a autonomia do paciente frente às suas necessidades de saúde” (Institute For Family-Centered Care, 2008).

Este modelo implica uma abordagem de cuidados flexível, partilha de informação, envolvimento nas decisões clínicas e estratégias de apoio (planeamento e avaliação conjunta de cuidados, ensinos, supervisão e continuidade dos cuidados - alta).

Os pressupostos centrais do Cuidado Centrado na Família (CCF) são:

• Dignidade e respeito: os profissionais de saúde ouvem e respeitam as escolhas e perspectivas do paciente e da família. O conhecimento, os valores, as crenças e a cultura do paciente e da família são incorporados no planeamento e prestação dos cuidados;

• Informação compartilhada: os profissionais de saúde comunicam e dividem as informações úteis de maneira completa e imparcial com os pacientes e a família. Estes recebem informações precisas, no momento oportuno, a fim de incentivar a sua participação nos cuidados e na tomada de decisão;

• Participação: os pacientes e as famílias são encorajados e apoiados a participarem nos cuidados e na tomada de decisão, escolhendo seu nível de actuação;

• Colaboração: os pacientes e as famílias são incluídos como base de apoio da instituição. Os profissionais de saúde colaboram com os pacientes e família no desenvolvimento, implementação e avaliação das políticas e programas, na facilitação dos cuidados à saúde, na educação profissional e na prestação dos cuidados.

• Capacitação: o enfermeiro capacita a família, ao criar oportunidades para que os seus membros revelem

as suas habilidades e competências actuais e adquiram novas, para responderem às necessidades do bebé; mudança da fralda, cuidados de higiene, comunicação, reforços positivos, contacto pele a pele.

• Empoderamento: o enfermeiro interage com a família, para que seja possível manter ou adquirir controle sobre as suas próprias vidas; o enfermeiro utiliza estratégias para a família adquirir comportamentos e habilidades; flexibilidade nas visitas, comunicação, estimulação (musicoterapia).

Durante toda a estadia na Unidade de Neonatologia, os pais/família devem, no final do internamento, ser capazes de:

• Realizar de uma forma autónoma a higiene e a mudança de fralda;

• Promover a alimentação nos horários estipulados (promoção do aleitamento materno - extracção e conservação de LM ou LA);

• Estabelecer rotinas de sono e estimulação do bebé (chupeta, momento de descanso, contacto pele a pele, caixa de música);

• Apoiar o bebé nos cuidados traumáticos; punções venosas ou aspiração de secreções (pegar na mão do bebé, aconchegar, cantar, falar);

• Promover (ser capaz de) o seu autocuidado (casal), assim como o da família (momentos de lazer).

A alta do bebé deve ser cuidadosamente planeada pela equipa de saúde, sempre em parceria com os pais. A avaliação clínica deve estar completa, os pais devem estar autónomos no processo do cuidar, devem ser orientados sobre o regime terapêutico, o quarto do bebé deve estar preparado, assim como a marcação das consultas de vigilância necessárias.

Deve ser promovida, pela equipa de saúde, a continuidade dos cuidados, com um “follow-up” telefónico e uma visita domiciliária para observação das condições no domicílio e também para aferir os ensinos, assim como os cuidados prestados pelos pais/família.

Na Maternidade do Luanda Medical Center, temos um plano de nascimento focado na humanização e na relação holística com as mães e com as famílias, desde as consultas pré-natais até à alta do bebé, que marca o começo de uma nova fase para a família. É importante que os pais se sintam confiantes e preparados para cuidar do bebé em casa e o suporte contínuo da equipa de saúde pode ser fundamental nesse processo.

17 SAÚDE

CUIDADOS COM A PELE DO BEBÉ

A PELE DO BEBÉ TEM A MESMA ESTRUTURA QUE A DE UM ADULTO, MAS AINDA NÃO ADQUIRIU TODAS AS FUNCIONALIDADES. É MAIS FRÁGIL E IMATURA, PRECISANDO DE TRÊS ANOS PARA SE REFORÇAR E DESEMPENHAR

TOTALMENTE O PAPEL DE BARREIRA PROTECTORA. REAGE COM MAIOR SENSIBILIDADE A FACTORES EXTERNOS E, POR ISSO, PRECISA DE MAIOR CUIDADO E PROTECÇÃO.

18 SAÚDE
RUBRICA DERMOCOSMÉTICA
Dra. Margarida Carvalho Farmacêutica. Licenciada em Ciências Farmacêuticas pela Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa

Apele é o maior órgão do corpo humano e corresponde a 13% do peso corporal do recémnascido. É formada por três camadas: epiderme, derme e hipoderme. A epiderme é a camada mais superficial da pele e está estruturada em diversos estratos de células, denominadas por queratinócitos. A derme é o tecido de suporte, muito importante para a firmeza e elasticidade da pele, e contém, entre outros componentes, as fibras de elastina e de colagénio.

A hipoderme é a camada mais profunda da pele e é maioritariamente composta por células gordas, os adipócitos.

Entre as funções da pele, a mais importante é agir como barreira entre o meio interno e o meio ambiente, prevenindo a desidratação através da perda de água corporal, a absorção de substâncias químicas e a invasão de microorganismos da sua superfície, além de fornecer protecção quanto a traumas e radiação ultravioleta, termorregulação e sensação táctil.

À nascença, o pH da pele está próximo do neutro (em média 6,34). Esta diferença torna a pele do bebé mais sensível a infecções e a irritações. O filme hidrolipídico é mais fino no bebé do que no adulto e não protege convenientemente a epiderme da desidratação.

A pele do bebé é menos resistente que a dos adultos e especialmente sensível a influências químicas, físicas e microbianas: as substâncias que entram em contacto com a pele do bebé são absorvidas mais facilmente e penetram nas camadas mais profundas. A pele do bebé tem tendência a secar com maior rapidez e é mais sensível aos raios ultravioleta que a pele adulta. A sensibilidade aos raios ultravioleta é aumentada pela baixa pigmentação da pele dos bebés.

De forma a mantermos a integridade da barreira epidérmica do bebé, é necessário evitar condições ambientais desfavoráveis, nomeadamente:

• Contacto e absorção de irritantes;

• Fricção;

• Desidratação;

• Alteração da flora bacteriana cutânea;

• Queimaduras solares.

É também necessário a aplicação de cuidados especiais, que passam pela higiene diária e hidratação da pele. A higiene da pele do bebé inclui:

• A limpeza dos olhos, com uma compressa esterilizada embebida em soro fisiológico;

• A limpeza das orelhas, com compressas levemente humedecidas com soro fisiológico e apenas no pavilhão exterior, evitando o uso de cotonetes, que podem danificar o canal auditivo;

• A limpeza do nariz, com soro fisiológico (quando obstruído);

• A limpeza do rosto, com água de limpeza sem enxaguamento ou no banho;

• A lavagem do couro cabeludo e cabelo, no banho, optando por um champô que ajude na remoção da crosta láctea através da hidratação do couro cabeludo;

• A limpeza do coto umbilical, com água e compressas;

• A limpeza dos genitais, no banho ou aquando da muda da fralda, com água de limpeza, linimento ou toalhetes;

• A limpeza do tronco e membros, no banho, com creme/gel lavante. Deve usar-se sempre um gel de banho hipoalergénico sem hiperbenos e glicóis, uma vez que contribui para o reequilíbrio da flora cutânea e para a protecção da barreira da pele, e limitar o tempo do banho: a água quente e os banhos longos removem os lípidos da pele. A temperatura da água do banho deve rondar os 36ºC.

Quanto à hidratação da pele do bebé, a mesma deve ser sempre feita depois do banho. Os produtos de hidratação devem ser tanto mais nutritivos quanto mais seca for a pele do bebé. A hidratação regular com produtos de higiene especificamente formulados para a pele dos bebés ajuda a mantê-la hidratada e saudável. Estes produtos deverão ser hipoalergénicos e testados sob controlo dermatológico e pediátrico. Deve-se hidratar cuidadosamente todo o corpo e o rosto do bebé, tendo em atenção a zona atrás das orelhas que, muitas vezes esquecida, pode ficar vermelha e seca.

No caso particular da zona da fralda, deve ser aplicado um creme barreira com óxido de zinco, de forma a proteger e isolar a pele da urina e fezes. Para os lábios do bebé e todas as zonas sensíveis expostas, deve utilizar-se um stick nutritivo.

A pele do bebé necessita também de protecção especial contra os raios UV. As crianças devem usar roupa protectora e um protector com factor de protecção solar elevado. Deve evitar-se que o bebé seja exposto directamente ao sol nos primeiros seis meses de vida.

A higiene e hidratação diária nos bebés deve ser minuciosa e, por vezes, pode ser demorada, o que, em bebés irrequietos e impacientes, pode ser um desafio. Mas são cuidados que fazem a diferença para que a pele do bebé se mantenha saudável e contribua para a protecção do bebé nos seus primeiros meses de vida.

19 SAÚDE

DOIS TERÇOS DAS

MÃES ESTARIAM

CONFIANTES E CONFORTÁVEIS A

AMAMENTAR EM

MAIS

PÚBLICO SE FOSSE

CONSIDERADO “NORMAL”

20 SAÚDE
ANÁLISE

O ALEITAMENTO MATERNO EXISTE HÁ TANTO TEMPO QUANTO NÓS EXISTIMOS. ESTAMOS TAMBÉM MAIS CONSCIENTES QUE NUNCA ACERCA DOS SEUS BENEFÍCIOS PARA A SAÚDE DO BEBÉ E DA MÃE. NO ENTANTO, EM MUITAS PARTES DO MUNDO, AINDA EXISTEM TABUS EM TORNO DA AMAMENTAÇÃO, SINALIZANDO A NECESSIDADE DE DAR MAIS APOIO ÀS MÃES E AOS PAIS PARA ALIMENTAR À SUA MANEIRA.

na sua escolha de amamentar em público. Cerca de dois terços (66%) das mães a nível mundial diz que se sentiriam mais confiantes e confortáveis a amamentar em público, se fosse considerado “normal”. Sentir-se envergonhadas ou desconfortáveis para amamentar ao pé de pessoas que não conhecem (52%) é a principal razão para as mulheres se sentirem hesitantes ou não considerarem a amamentação em público. Os resultados também revelam que muitas mães (40%) não consideram a possibilidade de extrair leite em público, oscilando entre os 69% em França e 17% nos Estados Unidos da América.

As mães devem sentir que têm o “direito” Os resultados continuam a revelar que, embora a maior motivação para as mães, a nível mundial, de amamentar em público é serem capazes de alimentar os seus bebés assim que necessitam (59%), quase metade (47%) diz que ter o “direito” de amamentar em público também as motivaria a fazê-lo, subindo para 57% na Áustria e Canadá e descendo para 31% na África do Sul.

Para compreender alguns dos desafios que os pais enfrentam quando alimentam os seus bebés, e para os apoiar a fazê-lo à sua maneira, a Philips questionou mais de seis mil mulheres em 25 países sobre aquilo que as impedia de amamentar os seus bebés em qualquer altura e em qualquer lugar. Os resultados mostram que ainda há trabalho a fazer para apoiar e capacitar as mães

Outras estatísticas-chave da investigação global

• 36% das mulheres sentir-se-iam mais confiantes e confortáveis a amamentar em público se vissem outras mulheres à sua volta a fazê-lo.

• Cerca de uma em cada quatro mães grávidas sente-se incomodada em exprimir a sua opinião sobre este tema em público.

• 30% das mulheres gostariam de poder amamentar ou extrair leite enquanto viajam, trabalham, lavam a roupa/realizam tarefas domésticas, durante um jantar com amigos/família num restaurante ou enquanto visitam amigos e familiares.

Só através de uma maior sensibilização para o aleitamento materno, encorajando a mudança de políticas de amamentação e criando comunidades mais solidárias em torno das mães, que as habilitam a alimentar à sua maneira, é que mais pessoas começarão a reconhecer e a promover a amamentação como um direito humano básico.

As mães merecem um maior apoio Muitas mães dizem que um maior apoio por parte de outras mães as ajudaria a sentirem-se mais confortáveis a amamentar em público, com 33% das mães nos Estados Unidos e 30% em Espanha e no México. O apoio dos parceiros é igualmente importante na Colômbia (41%), México e Chile (ambos 40%), em comparação com Áustria (17%) e Alemanha (13%).

Estes números indicam que muitas mães adorariam ver a compreensão e percepção geral da sociedade sobre a amamentação a passar de algo impróprio ou desnecessário, para um dos mais naturais e fundamentais actos de cuidados, a nível mundial. Esta mudança só pode acontecer educando mais pessoas sobre o valor do aleitamento materno, iniciando mais conversas sobre o mesmo e defendendo as escolhas dos pais para a alimentação que melhor lhes convier.

21 SAÚDE

FISSURAS DURANTE A AMAMENTAÇÃO: UM DILEMA ACTUAL

UM DOS PROBLEMAS MAMÁRIOS MAIS COMUNS DURANTE A AMAMENTAÇÃO SÃO AS FISSURAS NOS MAMILOS. A FISSURA MAMILAR, TAMBÉM CONHECIDA COMO RACHADURA NOS MAMILOS, É UMA LESÃO NO TECIDO MAMILAR QUE OCORRE DEVIDO À PRESSÃO REALIZADA PELO BEBÉ DURANTE A AMAMENTAÇÃO, QUANDO A PEGA E O POSICIONAMENTO ESTÃO INADEQUADOS. DURANTE A AMAMENTAÇÃO, A POSIÇÃO DEVE SER CONFORTÁVEL PARA A MÃE. O TERMO INADEQUADO REFERE QUANDO O BEBÉ SUGA APENAS O MAMILO, AO INVÉS DE ENVOLVER TODA A REGIÃO DA ARÉOLA.

Apega incorrecta do bebé e o posicionamento inadequado são as principais causas de fissura mamilar durante a amamentação. No geral, isso pode acontecer quando há falta de orientação quanto à técnica adequada para dar de mamar. Em casos de pega incorrecta, observa-se que a boca do bebé não consegue envolver toda a aréola. Os lábios ficam virados para dentro e o queixo não encosta à mãe. Também é possível ouvir sons de estalidos quando a criança mama. Com isso, o bebé não consegue drenar o leite com eficiência. A pressão negativa leva a lesões e rachaduras no tecido dos mamilos, que estão mais sensíveis e delicados devido ao aumento das hormonas e à mudança na estrutura da mama.

A presença de feridas na mama pode provocar sintomas característicos, como dor, inchaço da mama e dos mamilos e vermelhidão local, factores que prejudicam o processo de amamentação e podem levar à interrupção do aleitamento. É comum, nos primeiros dias após o parto, a mulher sentir dor discreta ou mesmo moderada nos mamilos, no começo das mamadas, devido à forte sucção destes e da aréola. No entanto, ter os mamilos muito doridos e machucados, apesar

22 SAÚDE PERSPECTIVA
Márcia Alfredo Delegada de Informação Médica do Laboratório Baldacci

de muito comum, não é normal e requer intervenção.

Isto leva-nos à questão: a lactante pode continuar a amamentar com a fissura mamilar? Sim, é possível continuar a amamentar, mesmo com a presença de fissuras mamilares, uma vez que a dor desaparece assim que a pega incorrecta do bebé é corrigida, pois o leite materno já possui propriedades calmantes e cicatrizantes. No passado, e ainda hoje, vê-se em muitas famílias que a mãe dá de mamar ao seu bebé mesmo com ligeiros sangramentos, ou seja, é o leite materno e sangue.

Apesar de não haver consenso sobre a melhor maneira para tratar as fissuras mamilares, além dos métodos de amamentação adequada, alguns tratamentos ainda são utilizados para minimizar a dor e tratar as fissuras que prejudicam a amamentação. Alguns dele são:

• Tratamento húmido: a lactante aplica o próprio leite sobre o mamilo ferido. Embora o leite materno apresente propriedades antimicrobianas, o seu uso para tratar traumas mamilares é controverso na literatura;

• Tratamento seco: inclui manter os mamilos secos e arejados, expondo-os ao ar livre ou à luz solar. Apesar de bastante popular, não tem sido mais recomendado, pois acredita-

se que a cicatrização das feridas é mais eficiente se as camadas internas da epiderme (expostas pela lesão) se mantiverem húmidas.

Também existe o tratamento com pomadas à base de lanolina. A lanolina é um produto natural obtido a partir da cera de lã bruta, gerada pelos beneficiadores têxteis como um subproduto do processo. A lanolina actua como protector da pele, mantendo-a hidratada e prevenindo a perda de água. Devido à sua alta concentração de óleos, garante hidratação profunda e é ideal para as fissuras nos mamilos.

Como usar a lanolina durante a amamentação?

Deve-se usar a pomada lanolina sempre que necessário. Sugere-se aproveitar o momento em que o bebé estiver a dormir, para se poder ter tempo e encontrar os efeitos desejados. Recomenda-se começar a utilizar a partir do sétimo mês de gestação, para prevenir e hidratar. Recomenda-se usar a cera (lanolina) antes mesmo de o bebé nascer. Como sugestão, apresento a Lanolina da marca Lauroderme, um produto dermocosmético do Laboratório Baldacci, disponível no mercado angolano. A Lanolina da Lauroderme é 100% natural e segura para o bebé, pois não necessita de ser removida antes de dar de mamar, por ser hipoalergénica (livre de riscos de alergias).

23 SAÚDE

6 EM CADA 10 MULHERES MUDARIAM DE EMPREGO PARA SEREM MÃES

57% DAS MULHERES TROCARIA DE EMPREGO POR UMA POLÍTICA DE MATERNIDADE MAIS ATRAENTE. ISSO FICA CLARO NO ESTUDO “ESTRATÉGIAS PARA TALENTOS SUSTENTÁVEIS, DIVERSIDADE DE GÉNERO E LIDERANÇA”, REALIZADO PELO GRUPO ROBERT WALTERS. ESTAMOS NA SEGUNDA DÉCADA DO SÉCULO XXI, MAS OS TRABALHADORES AINDA SÃO OBRIGADOS A DECIDIR ENTRE DESENVOLVER UMA VIDA FAMILIAR PLENA OU UMA CARREIRA PROFISSIONAL. DE ACORDO COM ESTA ANÁLISE, A NÍVEL GERAL, NAS EMPRESAS, NÃO EXISTEM POLÍTICAS CENTRADAS NA CONCILIAÇÃO DOS DIFERENTES PAPÉIS DESEMPENHADOS PELAS MULHERES.

24 SAÚDE
ENTREVISTA ANÁLISE

Hoje, apenas 5% dos CEOs da Fortune 500 são mulheres. A disparidade salarial entre homens e mulheres é estimada numa média de 23% e preconceitos inconscientes de género continuam a dificultar o progresso em direcção à diversidade real dentro das organizações.

O estudo faz parte do programa Empowering Women in the Workplace, que busca estimular o diálogo, conectar profissionais e fornecer informações e conselhos às mulheres em busca do sucesso profissional.

Porque as mulheres não estão presentes nas cúpulas?

A desigualdade de género nos ambientes de trabalho persiste, globalmente. Fabienne Viegas, gerente da divisão de Tecnologia na Robert Walters Portugal, analisa os dados mais relevantes contidos no estudo. “As empresas estão a investir nas suas equipas, mas deixando de abordar as questões de porque as mulheres deixam os seus empregos. E porque elas continuam sub-representadas nos negócios nos níveis mais altos. A questão não é mais o porquê, mas o que as empresas podem fazer para atrair e reter mulheres talentosas nas suas organizações”

Assim, cinco em cada 10 mulheres indicam que ter um trabalho gratificante e satisfatório é a principal prioridade na sua carreira profissional, segundo o estudo, mas 32% dos profissionais pesquisados refere que a cultura corporativa não incentiva a diversidade. Ou seja, não há esforços proactivos para mudar a dinâmica de liderança dentro de muitas organizações.

27% acredita que as mulheres não são representadas em cargos de gestão por costume: tem sido a norma e não se busca a mudança. Promover políticas com foco na diversidade de género, muitas vezes, implica sair da zona de conforto, o que, por sua vez, gera atritos nas lideranças empresariais.

12% acredita que essa diferenciação existe devido a políticas de maternidade pouco desenvolvidas. Nesse sentido, as mulheres são obrigadas a decidir entre desenvolver uma vida familiar plena ou uma vida profissional. Ou seja, num nível geral, dentro das empresas, não há políticas voltadas para conciliar os diferentes papéis que as mulheres desempenham.

71% dos profissionais considera que devem ser implementadas políticas de educação e formação sobre diversidade de género no local de trabalho, uma vez que sem consciencialização em relação a esta questão, as mudanças nunca serão geradas. Além disso, 24% considera que esse treinamento deve ser especialmente voltado para os gerentes de contratação, para que sejam imparciais em relação ao género dos candidatos.

Como atrair mais talentos femininos? De acordo com os dados recolhidos pela Robert Walters, os factores determinantes da mudança laboral entre as mulheres são:

• Recursos recompensadores (82%);

• Conciliar trabalho e família (74%);

• Local de trabalho que incentiva a colaboração entre os funcionários (63%);

• Horários flexíveis e/ou teletrabalho (61%);

• Poder opinar abertamente (56%);

• Salário base competitivo (52%). No entanto, a área responsável por avançar nessas questões deverá ser a direcção geral da organização, pelo menos, 80% dos profissionais espera que assim seja. E o que é curioso: apenas 16% acredita que os departamentos de recursos humanos devem ser responsáveis por promover políticas de diversidade de género.

25 SAÚDE

A IMPORTÂNCIA DA AMAMENTAÇÃO

É INTRÍNSECO À NOSSA ESPÉCIE. AMAMENTAR É O RESULTADO DE TRANSFORMAÇÕES BIOLÓGICAS, FÍSICAS, HORMONAIS E EMOCIONAIS PELAS QUAIS CADA RECÉM-MAMÃ PASSA.

Se pensarmos na complexidade deste processo, podemos daí perceber que amamentar é uma “arte” inata a qualquer mulher saudável, com benefícios óbvios não só para o bebé, mas também para a mãe e toda a família. O leite materno é o melhor e mais completo alimento que existe para o bebé, devido às suas propriedades imunológicas, nutricionais e biopsicossociais. Está sempre pronto e à temperatura ideal, trazendo inúmeros benefícios, quer para a mãe, quer para o bebé.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) preconiza o aleitamento materno exclusivo desde o nascimento até aos 6 meses, e após a introdução da diversificação alimentar até, pelo menos, aos 2 anos de idade. Também para a recém-mamã, a amamentação traz mais-valias, ajuda na sua recuperação pós-parto, pois, à medida que o bebé se alimenta,

26 SAÚDE PERSPECTIVA
Enfermeira Joana Silva Enfermeira pediátrica na Clínica Luanda Medical Center

há libertações hormonais que causam contracções uterinas que ajudam o útero a voltar ao seu tamanho normal, previnem possíveis hemorragias e, a longo prazo, previnem doenças, tais como o cancro da mama e do ovário e a osteoporose.

Enquanto Enfermeira Coordenadora no serviço de Pediatria do Luanda Medical Center, trabalhamos no desenvolvimento infantil e na promoção da amamentação. O acto de amamentar estabelece um importante vínculo entre a mãe e o bebé.

Enquanto a mãe amamenta o bebé, ocorre uma troca harmoniosa de calor, olhares, cheiros, sensações e sorrisos, que vão acalmar, fortalecer laços e trazer uma sensação de segurança ao bebé e, consequentemente, encorajar a mãe nesta fase tão desafiadora. De entre tantas vantagens, são muito poucos os casos em que é desaconselhado amamentar.

É importante notar que uma mãe que não possa, ou não queira, amamentar o seu filho não será menos mãe do que aquela que consegue fazê-lo. Temos óptimas alternativas de leite adaptado que ajudam a suprir as necessidades, quando amamentar não é uma opção viável e segura para mãe e bebé.

É importante que a mulher esteja informada, que seja orientada e apoiada no pré e pós-parto por uma equipa de profissionais especializados, que a sua família comungue deste apoio e todos sejam um motor impulsionador para a concretização deste tão importante acto. Amamentar.

27 SAÚDE

MAIS DE 4,5 MILHÕES DE MULHERES E BEBÉS MORREM TODOS OS ANOS

A COVID-19, O AUMENTO DA POBREZA E O AGRAVAMENTO DAS CRISES HUMANITÁRIAS INTENSIFICARAM A PRESSÃO SOBRE OS SERVIÇOS DE SAÚDE MATERNOS E NEONATAIS, JÁ DE SI SOBRECARREGADOS. O PROGRESSO GLOBAL NA REDUÇÃO DE MORTES DE MULHERES

GRÁVIDAS, MÃES E BEBÉS ESTÁ ESTÁVEL HÁ OITO ANOS, DEVIDO A UMA DIMINUIÇÃO DOS INVESTIMENTOS EM SAÚDE MATERNA E NEONATAL, DE ACORDO COM UM NOVO RELATÓRIO DA ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU).

28 SAÚDE
ENTREVISTA
ANÁLISE

Orelatório mostra que mais de 4,5 milhões de mulheres e bebés morrem todos os anos durante a gravidez, o parto ou as primeiras semanas após o parto - o equivalente a uma morte a cada sete segundos -, na sua maioria, por causas evitáveis ou tratáveis, se existirem cuidados adequados.

“Mulheres grávidas e recém-nascidos continuam a morrer a taxas inaceitavelmente altas em todo o mundo e a pandemia de Covid-19 criou novos contratempos para lhes fornecer os cuidados de saúde de que precisam”, afirma o Dr. Anshu Banerjee, director de saúde materna, neonatal, criança e adolescente e envelhecimento da Organização Mundial da Saúde (OMS). “Se queremos ver resultados diferentes, temos de fazer as coisas de forma diferente. São agora necessários não só mais como mais inteligentes investimentos nos cuidados de saúde primários, para que todas as mulheres e todos os bebés, independentemente do local onde vivam, tenham as melhores hipóteses de saúde e sobrevivência”

O relatório “Melhorar a saúde e a sobrevivência materna e neonatal e reduzir o nado-morto” avalia os dados mais recentes sobre estas mortes - que têm factores de risco e causas semelhantes - e acompanha a prestação de serviços de saúde críticos. De um modo geral, o relatório mostra que os progressos na melhoria da sobrevivência estagnaram desde 2015, com cerca de 290 mil mortes maternas por ano, 1,9 milhões de nados-mortos – bebés que morrem após 28 semanas de gravidez – e uns impressionantes 2,3 milhões de mortes de recém-nascidos, que são mortes no primeiro mês de vida.

Impacto da pandemia

A pandemia de Covid-19, o aumento da pobreza e o agravamento das crises humanitárias intensificaram as pressões sobre os sistemas de saúde. Desde 2018, mais de três quartos de todos os países afectados por conflitos e da África Subsariana relatam um declínio no financiamento para a saúde materna e neonatal. Apenas um em cada 10 países (dos mais de 100 inquiridos) declara dispor de fundos suficientes para executar os seus planos actuais. Além disso, de acordo com o último inquérito da OMS sobre os impactos da pandemia nos serviços de saúde essenciais, cerca de um quarto dos países ainda relata interrupções contínuas e nos cuidados e serviços vitais na gravidez e pós-natais para crianças doentes. “Como muitas vezes acontece, a vulnerabilidade, o medo e a perda não estão distribuídos igualmente pelo mundo”, afirma o Dr. Steven Lauwerier, director de saúde da Unicef. “Desde a pandemia de Covid-19, bebés, crianças e mulheres que já estavam expostos a ameaças ao seu bem-estar, especialmente aqueles que vivem em países frágeis e em situação de emergência, estão a enfrentar as consequências mais pesadas da diminuição dos gastos e esforços para fornecer cuidados de saúde acessíveis e de qualidade”

OS PROGRESSOS NA MELHORIA DA SOBREVIVÊNCIA ESTAGNARAM DESDE 2015, COM CERCA DE 290 MIL MORTES MATERNAS POR ANO, 1,9 MILHÕES DE NADOS-MORTOS – BEBÉS QUE MORREM APÓS 28 SEMANAS DE GRAVIDEZ – E UNS IMPRESSIONANTES 2,3 MILHÕES DE MORTES DE RECÉMNASCIDOS, QUE SÃO MORTES NO PRIMEIRO MÊS DE VIDA

Os défices de financiamento e o subinvestimento nos cuidados de saúde primários podem devastar as perspectivas de sobrevivência. Por exemplo, embora a prematuridade seja agora a principal causa de todas as mortes de menores de 5 anos a nível mundial, menos de um terço dos países refere ter unidades de cuidados neonatais suficientes para tratar bebés pequenos e doentes. Entretanto, cerca de dois terços das instalações de parto na África Subsariana não são consideradas totalmente funcionais – o que significa que carecem de recursos

29 SAÚDE

Recém-nascidos: melhorar a sobrevivência e o bem-estar

As crianças enfrentam o maior risco de morte nos primeiros 28 dias. Em 2019, 47% de todas as mortes de menores de 5 anos ocorreu no período neonatal, com cerca de um terço a morrer no dia do nascimento e quase três quartos na primeira semana de vida.

As crianças que morrem nos primeiros 28 dias após o nascimento sofrem de condições e doenças associadas à falta de cuidados de qualidade à nascença ou de cuidados e tratamento especializados imediatamente após o nascimento e nos primeiros dias de vida.

Parto prematuro, complicações relacionadas ao parto (asfixia no parto ou falta de ar ao nascer), infecções e defeitos congénitos causam a maioria das mortes neonatais.

As mulheres que recebem cuidados de continuidade prestados por parteiras profissionais, instruídas e regulamentadas de acordo com os padrões internacionais, têm 16% menos probabilidade de perder o seu bebé e 24% menos probabilidade de experienciar o parto prematuro. Globalmente, 2,4 milhões de crianças morreram no primeiro mês de vida em 2019. Todos os dias, ocorrem cerca de 6.700 mortes de recém-nascidos, o que corresponde a 47% de todas as mortes de crianças com menos de 5 anos, contra 40% em 1990.

essenciais, como medicamentos e mantimentos, água, electricidade ou pessoal para cuidados 24 horas.

Nos países mais afectados da África Subsariana e da Ásia Central e do Sul – as regiões com maior incidência de mortes neonatais e maternas – menos de 60% das mulheres recebe quatro dos oito controlos pré-natais recomendados pela OMS.

“A morte de qualquer mulher ou jovem durante a gravidez ou o parto é uma grave violação dos seus direitos humanos”, defende a Dra. Julitta Onabanjo, directora da Divisão Técnica do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA). “Reflecte igualmente a necessidade urgente de aumentar o acesso a serviços de saúde sexual e reprodutiva de qualidade, como parte da cobertura universal de saúde e dos cuidados de saúde primários, especialmente nas comunidades onde as taxas de mortalidade materna estagnaram, ou até aumentaram, nos últimos anos. Temos de adoptar uma abordagem transformadora em matéria de direitos humanos e género, para abordar a

mortalidade materna, e neonatal e é vital eliminar os factores subjacentes que dão origem a maus resultados em termos de saúde materna, como as desigualdades socioeconómicas, a discriminação, a pobreza e a injustiça”

Aumentar as taxas de sobrevivência Para aumentar as taxas de sobrevivência, as mulheres e os bebés devem ter cuidados de saúde de qualidade e a preços acessíveis antes, durante e após o parto, dizem as agências, bem como acesso a serviços de planeamento familiar. São necessários profissionais da saúde mais qualificados e motivados, especialmente parteiras, a par de medicamentos e suprimentos essenciais, água potável e electricidade estável. Para melhorar a saúde materna e neonatal, é necessário abordar as normas, os preconceitos e as desigualdades prejudiciais em matéria de género. Dados recentes mostram que apenas cerca de 60% das mulheres com idades compreendidas entre os 15 e os 49 anos toma as suas próprias decisões em matéria de saúde e direitos sexuais e reprodutivos. Com base nas tendências actuais, mais de 60 países não estão preparados para cumprir as metas de redução da mortalidade materna, neonatal e natimorta dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, até 2030.

Mortalidade infantil

Em 2020, estima-se que cinco milhões de crianças com menos de 5 anos de idade tenham morrido, principalmente por causas evitáveis e tratáveis. Aproximadamente metade dessas mortes, 2,4 milhões, ocorreu entre recém-nascidos (nos primeiros 28 dias de vida).

30 SAÚDE Os 10 países com maior número de mortes (milhares) para crianças menores de 5 anos 2020 Mortes de menores de 5 anos Limite inferior Limite superior Nigéria 844 645 1 140 Índia 783 688 882 Paquistão 389 320 469 284 177 455 República DemocráEca do Congo EEópia 173 138 215 China 121 110 135 Indonésia 110 89 136 República Unida da Tanzânia 102 73 144 Angola 91 40 178 Bangladesh 84 76 93

Enquanto a taxa de mortalidade global de menores de 5 anos caiu para 37 mortes por mil nados-vivos, as crianças na África Subsariana continuaram a ter as taxas de mortalidade mais elevadas do mundo, com 74 mortes por mil nados-vivos, 14 vezes mais do que o risco para as crianças na Europa e na América do Norte. As principais causas de morte em crianças com menos de 5 anos são as complicações do parto prematuro, asfixia/trauma no parto, pneumonia, diarreia e malária, que podem ser prevenidas ou tratadas com acesso a intervenções acessíveis em saúde e saneamento.

A nível nacional, as taxas de mortalidade de menores de 5 anos em 2020 variaram entre dois óbitos por mil nados-vivos e 115 óbitos por mil nados-vivos e o risco de morrer antes de completar 5 anos para uma criança nascida no país com maior mortalidade, foi cerca de 65 vezes superior ao do país com menor mortalidade.

ODS 3.2.1

Os ODS, adoptados pelas Nações Unidas em 2015, foram desenvolvidos para promover vidas saudáveis e bem-estar para todas as crianças. O

Objectivo 3.2.1 é acabar com as mortes evitáveis de recém-nascidos e crianças com menos de 5 anos até 2030. Existem dois objectivos:

• reduzir a mortalidade neonatal para, pelo menos, 12 por mil nados-vivos em todos os países;

• reduzir a mortalidade de menores de 5 anos para, pelo menos, 25 por mil nados-vivos em todos os países.

A meta 3.2.1 está estreitamente ligada ao objectivo 3.1.1, que consiste em reduzir a taxa de mortalidade materna global para menos de 70 óbitos por 100 mil nados-vivos, e à meta 2.2.1, que visa acabar com todas as formas de malnutrição, uma vez que a subnutrição é uma causa de morte frequente das crianças com menos de 5 anos.

Em 2020, 125 países já cumpriram a meta dos ODS para a mortalidade de menores de 5 anos e espera-se que outros 16 países cumpram a meta até 2030, se as tendências actuais se mantiverem. No entanto, serão necessários progressos acelerados em 54 países, que não atingirão o objectivo até 2030, tendo em conta as tendências actuais. 35 desses países precisarão dobrar a sua actual taxa de redução sem considerar os desafios adicionais trazidos pela pandemia de Covid-19. O cumprimento da meta dos ODS nos 54 países fora do caminho reduziria o número de mortes de menores de 5 anos em oito milhões, entre 2021 e 2030, diminuindo o número de mortes de menores de 5 anos para 2,5 milhões em 2030. São ainda necessários esforços concentrados na África Subsariana e no sul da Ásia, incluindo em situações frágeis e afectadas por conflitos.

Cuidados essenciais ao recém-nascido

Todos os bebés devem receber o seguinte:

• Protecção térmica (por exemplo, promovendo o contacto pele a pele entre a mãe e o bebé);

• Cordão umbilical higiénico e cuidados com a pele;

• Aleitamento materno precoce e exclusivo;

• Avaliação de sinais de problemas de saúde graves ou necessidade de cuidados adicionais (por exemplo, doentes com baixo peso à nascença, doentes com VIH ou com a mãe infectada)

• Tratamento preventivo (por exemplo, imunização BCG e hepatite B, vitamina K e profilaxia ocular).

As famílias devem ser aconselhadas a:

• Procurar assistência médica imediata, se necessário (os sinais de perigo incluem problemas de alimentação, ou se o recémnascido tiver actividade reduzida, dificuldade respiratória, febre, convulsões, icterícia 24 horas após o nascimento, palmas das mãos e plantas dos pés amarelas em qualquer idade, ou se o bebé sentir frio);

• Registar o nascimento;

• Trazer o bebé para vacinação atempada, de acordo com os calendários nacionais.

Alguns recém-nascidos necessitam de atenção e cuidados adicionais, durante a hospitalização e em casa, para minimizar os riscos para a saúde.

1. Bebés com baixo peso à nascença e prematuros:

• Maior atenção para manter o recém-nascido aquecido, incluindo cuidados pele a pele, a menos que haja razões clinicamente justificáveis para o atraso no contacto com a mãe;

• Assistência no início da amamentação, como ajudar a mãe a extrair leite materno para alimentar o bebé a partir de um copo ou de outros meios, se necessário;

• Atenção redobrada à higiene, especialmente à lavagem das mãos;

• Atenção redobrada aos sinais de perigo e à necessidade de cuidados;

• Apoio adicional para amamentação e monitorização do crescimento.

2. Recém-nascidos doentes:

• Os sinais de perigo devem ser identificados o mais rapidamente possível nas unidades de saúde ou em casa e o bebé encaminhado para o serviço adequado, para posterior diagnóstico e cuidados;

• Se um recém-nascido doente for identificado em casa, a família deve ser ajudada a localizar um hospital ou instalação para cuidar do bebé.

3. Recém-nascidos de mães infectadas pelo HIV

• Tratamento antirretroviral preventivo (TARV) para mães e recémnascidos para prevenir infecções oportunistas;

• Despistagem do VIH e cuidados a prestar aos lactentes expostos;

• Aconselhamento e apoio às mães para a alimentação do bebé. Os agentes comunitários de saúde devem estar atentos às questões especializadas em torno da alimentação infantil. Muitos recémnascidos infectados pelo VIH nascem prematuramente e são mais susceptíveis a infecções.

31 SAÚDE

MEDICAMENTOS EM PEDIATRIA

QUANDO SE FALA EM TERAPÊUTICA PEDIÁTRICA, A COMPLEXIDADE É ELEVADA, DADO À INSUFICIENTE INVESTIGAÇÃO CLÍNICA EM PEDIATRIA, ÀS CONDICIONANTES FARMACOCINÉTICAS E FARMACODINÂMICAS, À FALTA DE FORMAS FARMACÊUTICAS ADAPTADAS À POPULAÇÃO PEDIÁTRICA E AO MAIOR RISCO DE EXPOSIÇÃO A ERROS DE MEDICAÇÃO.

32 SAÚDE
RUBRICA FARMACÊUTICA
Dra. Margarida Carvalho Farmacêutica. Licenciada em Ciências Farmacêuticas pela Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa

Apopulação pediátrica apresenta mecanismos farmacocinéticos e farmacodinâmicos próprios, que podem obrigar a modificações no regime posológico, na forma farmacêutica e/ ou na via de administração utilizada, de forma a alcançar o efeito terapêutico desejado. A farmacocinética refere-se ao movimento do fármaco dentro, através e fora do corpo, aos processos de absorção, distribuição, metabolização e eliminação dos fármacos, enquanto a farmacodinâmica compreende a resposta biológica e fisiológica ao fármaco administrado. É certo que o desenvolvimento da criança pode alterar a acção e a resposta a um fármaco (farmacodinâmica), mas é pouca a informação existente acerca desse efeito. Por outro lado, os principais factores que interferem na farmacocinética são a secreção gástrica, tempo de esvaziamento gástrico, motilidade intestinal, permeabilidade da membrana intestinal, função pancreática e biliar, microbiota normal, vias de administração, água total do organismo e grau de ligação do fármaco com proteínas.

Absorção

O processo de absorção é caracterizado pela transferência do fármaco do local de administração para o tracto gastrointestinal, de onde passará para o seu local de destino de acção. Este processo é afectado por:

• Secreção ácida do estômago;

• Formação de sais biliares;

• Tempo de esvaziamento gástrico;

• Motilidade intestinal;

• Extensão e superfície de absorção efectiva intestinal;

• Flora microbiana;

• Doença.

Distribuição

A distribuição do fármaco é feita por vários compartimentos corporais, de acordo com as suas propriedades físico-químicas, tais como o tamanho molecular, a constante de ionização, a lipossolubilidade e, principalmente, a composição aquosa.

Nas crianças, o volume de distribuição dos fármacos muda com a idade. Essas mudanças relacionadas à idade são decorrentes da composição corpórea (especialmente, os espaços extracelulares e de água total do corpo) e proteínas ligantes plasmáticas.

Doses mais altas (por quilo do peso corporal) de fármacos hidrossolúveis são necessárias em crianças menores, porque uma percentagem maior do peso corporal é água. Em contrapartida, à medida que a criança cresce, são necessárias doses menores para evitar toxicidade, por causa do declínio percentual em água comparado ao peso corpóreo. Além disso, crianças obesas demonstraram ter percentuais significativamente

mais elevados de água corporal total, volume corporal, massa corporal magra e massa gorda, em comparação com crianças não obesas.

Metabolização e eliminação

A metabolização é a transformação dos fármacos mais solúveis em água, para facilitar a sua excreção. Tanto a metabolização como a eliminação dos fármacos variam com a idade e dependem do substrato ou do fármaco, mas a maioria delas tem no plasma uma vida média duas a três vezes maior no recém-nascido do que no adulto. No fígado e no intestino delgado, o sistema enzimático citocromo P-450 (CYP450) é o responsável pela metabolização de fármacos. As enzimas CYP450 inactivam os fármacos via:

• Oxidação, redução e hidrólise (fase I do metabolismo);

• Hidroxilação e conjugação (fase II do metabolismo).

A actividade do metabolismo de fase I é menor nos recém-nascidos, aumenta progressivamente durante os primeiros seis meses de vida, excede as taxas para adultos ao longo dos primeiros anos para alguns fármacos, desacelera na adolescência e, geralmente, alcança as taxas para adultos no final da puberdade.

A fase II do metabolismo varia consideravelmente conforme o substrato. Os metabolitos dos fármacos são eliminados primeiramente pela bílis e pelos rins. A eliminação renal depende de:

• Proteína ligadora plasmática;

• Fluxo sanguíneo renal;

• Taxa de filtração glomerular;

• Secreção tubular. Todos estes factores estão alterados nos primeiros dois anos de vida. O fluxo plasmático renal está baixo ao nascimento (12 mL/min) e alcança níveis adultos de 140 mL/min por volta do primeiro ano. Da mesma maneira, a taxa de filtração glomerular é de 2 a 4 mL/min ao nascimento, aumenta para 8 até 20 mL/min por dois a três dias e alcança níveis do adulto de 120 mL/min dos 3 aos 5 meses. Por causa dos factores mencionados, as doses dos fármacos em crianças menores de 12 anos são frequentemente dependentes da idade, do peso corporal ou de ambos.

Administração

Existem diversas vias para a administração de um medicamento (oral, sublingual, intradérmica, subcutânea, intramuscular e intravenosa). A definição da prescrição da via depende das propriedades e dos efeitos desejados em relação ao medicamento e das condições físicas e psicológicas do paciente. A velocidade de absorção de cada via é diferente e esse factor deve ser avaliado na administração de um medicamento. A via oral é a mais utilizada em crianças, devido à facilidade, comodidade e ao facto de ser indolor.

33 SAÚDE

Por esta via de administração, o fármaco é absorvido no tracto gastrointestinal. Quando a via oral estiver inacessível, a via rectal deverá ser considerada uma alternativa, como no caso de vómitos e dificuldade de deglutição. É uma via fácil, não invasiva, geralmente indolor e sem riscos consideráveis. Além disso, por via rectal, o medicamento não sofre a acção de enzimas digestivas, como acontece com a via oral no estômago ou no intestino delgado. Apesar da sua pequena área de superfície, a mucosa rectal é muito vascularizada, o que permite uma rápida acção dos fármacos administrados.

A via tópica poderá ter alguns riscos associados, pelo facto da pele da criança ser sensível, fina, frágil, imatura e pouco protegida. Estes termos evocam os riscos inerentes à aplicação tópica de medicamentos e cosméticos e a sua capacidade de defesa frente às agressões externas.

A via intravenosa deverá ser utilizada quando se pretende um efeito terapêutico rápido, permitindo a administração de grandes volumes, normalmente em estados mais graves da doença, em que a criança não está em condições de utilizar nenhuma das outras vias de administração. A administração intravenosa de fármacos em recém-nascidos requer atenção especial, por causa do pequeno calibre das veias, presença de maior camada adiposa e emprego de pequenos volumes (expondo a erros de diluição).

Na via intramuscular, o processo de absorção é directamente proporcional ao fluxo sanguíneo e à área de superfície do músculo. Na classe pediátrica, observa-se uma redução do fluxo sanguíneo e da massa muscular e a ineficácia das contracções musculares, quando comparada à população adulta. A massa muscular reduzida poderá limitar o volume de fármaco a ser administrado.

Dose

Quando não existem dados provenientes de ensaios clínicos, a dose a ser administrada é calculada com base em equações que levam em consideração o peso, idade e superfície corporal, devendo ser individualizadas. No entanto, alguns folhetos informativos de medicamentos informam a dose a ser administrada com base no peso ou faixa etária. Os ajustes na dose são necessários até a criança atingir 25 a 30 quilogramas e a dose máxima calculada não deve ultrapassar a do adulto.

A utilização da superfície corporal para o cálculo de doses baseia-se no facto de que,

nas crianças, a superfície é maior em relação ao peso do que nos adultos. A razão entre a superfície corporal e o peso varia inversamente com a altura. Portanto, é preferível utilizar a superfície corporal quando o peso da criança for acima de 10 quilogramas. Quando inferior, o próprio peso é utilizado.

Nome da fórmula Idade ou Peso Fórmula Regra de Clark < 30 kg

Regra de Law < 1 ano

Fórmula de Young De 1 a 12 anos

Outro ponto importante que envolve a complexidade da terapêutica pediátrica é o maior risco de exposição a erros de medicação, que pode ter consequências gravíssimas na terapêutica. O British National Formulary descreve alguns problemas nas prescrições em crianças, nomeadamente:

• Dificuldades com as doses quando se utilizam colheres de chá e líquidos;

• As crianças detestam injecções e também podem ter dificuldade em deglutir os comprimidos;

• As crianças vomitam facilmente;

• Os pais cedem diante de crianças rebeldes, de modo que a adesão ao tratamento pode ser precária e a duração da terapêutica encurtada;

• As crianças podem por acidente autointoxicar-se com os seus próprios medicamentos de sabor agradável;

• As reacções adversas aos medicamentos e os sintomas dessas reacções podem ser clinicamente comuns em crianças. Por conseguinte, pode ser muito difícil distinguir o efeito adverso de um fármaco com um sinal de uma doença.

Todos os factores descritos anteriormente devem ser levados em consideração quando falamos em farmacologia pediátrica. A prescrição deve ser minuciosa, levando em conta aspectos específicos desta população, tipos de formas farmacêuticas e formulações comercialmente disponíveis, dose e indicação clínica com provas de segurança e eficácia.

34 SAÚDE
Tabela 1: Fórmulas para cálculo de doses terapêuticas.
DP = Id a d e (m e s e s)x D A 150 DP = Pe s o (k g)x D A 70 k g DP = I d a d e (a n o s) x D A I d a d e (a n o s) + 12
35 SAÚDE RIGOR E CON F O RT O N A MED I Ç Ã O D A G LICEM I A
de auto-codificação
Sistema
Amostra de 0,3 µg/L
segundos
para 365 testes D IA GN O S TI C A R C O NHE C E R C O NT R O L A R V IV E R C O M D IA B E TE S Para mais informações contacte: geral@australpharma.net ou visite www.australpharma.net MKT01128 www.elementdiabetes.com
Leitura em 3
Memória

MALNUTRIÇÃO AGUDA AMEAÇA A VIDA DE MILHÕES DE VULNERÁVEISCRIANÇAS

36 SAÚDE
NOTÍCIA

AS AGÊNCIAS DAS NAÇÕES UNIDAS PEDEM UMA ACÇÃO URGENTE PARA PROTEGER AS CRIANÇAS MAIS VULNERÁVEIS NOS 15 PAÍSES MAIS ATINGIDOS POR UMA CRISE

ALIMENTAR E NUTRICIONAL SEM PRECEDENTES. OS CONFLITOS, OS CHOQUES CLIMÁTICOS, OS IMPACTOS CONTÍNUOS DA COVID-19

E O AUMENTO DO CUSTO DE VIDA ESTÃO A DEIXAR UM NÚMERO CRESCENTE DE CRIANÇAS FORTEMENTE DESNUTRIDAS, ENQUANTO OS PRINCIPAIS SERVIÇOS DE SAÚDE, NUTRIÇÃO E OUTROS ESTÃO A TORNAR-SE MENOS ACESSÍVEIS.

O Plano de Acção Global aborda a necessidade de uma abordagem multissectorial e destaca acções prioritárias em matéria de nutrição materna e infantil, através dos sistemas de alimentação, saúde, água e saneamento, bem como de protecção social. Em resposta às necessidades crescentes, as agências das Nações Unidas identificaram cinco acções prioritárias que serão eficazes na abordagem da subnutrição aguda nos países afectados por conflitos e catástrofes naturais e em situações de emergência humanitária. A intensificação destas acções, como um pacote coordenado, será fundamental para prevenir e tratar a malnutrição aguda em crianças, evitando uma trágica perda de vidas.

“A crise alimentar global é também uma crise de saúde e um círculo vicioso: a subnutrição leva à doença e a doença leva à subnutrição”, afirma o Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, director geral da OMS. ”É necessário apoio urgente nos países mais atingidos, para proteger a vida e a saúde das crianças, incluindo a garantia de acesso crítico a alimentos saudáveis e serviços de nutrição, especialmente para mulheres e crianças.”

Malnutrição

Actualmente, mais de 30 milhões de crianças nos 15 países mais afectados sofrem de subnutrição aguda e oito milhões destas crianças são afectadas pela forma mais mortal de subnutrição. Trata-se de uma grave ameaça para a sua vida e para a sua saúde e desenvolvimento a longo prazo, cujos impactos são sentidos pelos indivíduos, pelas comunidades e pelos países. Cinco agências das Nações Unidas – a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), a Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), o Programa Alimentar Mundial (PAM) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) –apelam a progressos acelerados no Plano de Acção Global contra a Subnutrição Aguda de Crianças, que visa prevenir, detectar e tratar a malnutrição aguda entre as crianças dos países mais afectados, que são o Afeganistão, o Burkina Faso, o Chade, a República Democrática do Congo, a Etiópia, o Haiti, o Quénia, Madagáscar, o Mali, o Níger, a Nigéria, a Somália, o Sudão do Sul, o Sudão e o Iémen.

A malnutrição, em todas as suas formas, inclui desnutrição (desnutrição, nanismo, baixo peso), vitaminas ou minerais inadequados, sobrepeso, obesidade e consequentes doenças não transmissíveis relacionadas à dieta.

Globalmente, em 2020, estimava-se que 149 milhões de crianças com menos de 5 anos tinham baixa estatura (eram demasiado baixos parta idade), 45 milhões eram subnutridas (demasiado magras para a altura) e 38,9 milhões tinham excesso de peso ou eram já obesas.

Cerca de 45% das mortes entre crianças com menos de 5 anos de idade está ligado à subnutrição e ocorre principalmente em países de baixo e médio rendimento. Ao mesmo tempo, nestes mesmos países, as taxas de excesso de peso e obesidade infantil estão a aumentar.

37 SAÚDE

ALIMENTAÇÃO E HÁBITOS SAUDÁVEIS NO COMBATE À OBESIDADE INFANTIL

DE ACORDO COM A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS), A OBESIDADE DEFINE-SE PELA ACUMULAÇÃO EXCESSIVA DE GORDURA QUE COMPROMETE A SAÚDE. A OBESIDADE INFANTIL É UM DOS MAIORES PROBLEMAS DE SAÚDE PÚBLICA DO SÉCULO XXI, NOS PAÍSES DESENVOLVIDOS E EM DESENVOLVIMENTO, SENDO UM FORTE PREDITOR DE OBESIDADE NA IDADE ADULTA.

Estima-se que cerca de 40% a 60% das crianças obesas se torne num adulto obeso, com o aumento do risco para as comorbilidades associadas, nomeadamente as doenças crónicas não transmissíveis, das quais se destacam as doenças cardiovasculares, a diabetes e a dislipidemia. A sua prevalência tem vindo a aumentar em todo o mundo e a OMS estima que, em 2019, 38,2 milhões de crianças com menos de 5 anos de idade tinham excesso de peso ou obesidade. Em África, o número de crianças com excesso de peso abaixo dos 5 anos de idade aumentou em 24% desde 2000.

PERSPECTIVA
Dra. Maria Ana Kadosh Médica Interna de Medicina Geral e Familiar na USF Valflores, ACES Loures-Odivelas, ARS Lisboa e Vale do Tejo, Portugal. Professora auxiliar convidada na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa

Quando olhamos para as crianças e os adolescentes com excesso de peso ou obesidade, entre os 5 e os 19 anos de idade, estes números são ainda mais alarmantes e rondavam os cerca de 340 milhões em 2016.

A sua etiologia é multifactorial e inclui factores genéticos, ambientais, culturais e socioeconómicos. Assim, o investimento em medidas de prevenção da doença e de promoção da saúde das crianças é essencial. Esta é uma das prioridades da agenda política, a nível internacional.

Os primeiros mil dias de vida da criança, que correspondem ao período compreendido entre a gravidez e os dois primeiros anos de vida, são uma fase determinante na promoção do crescimento e desenvolvimento saudável das crianças e na prevenção da doença na idade adulta. Os factores ambientais a que somos expostos em períodos críticos do nosso desenvolvimento, nomeadamente a alimentação e a nutrição, programam o desenvolvimento, o metabolismo e a saúde. Neste contexto, todas as crianças têm o direito de receber os melhores cuidados e a melhor alimentação e nutrição, desde o início da sua vida, para garantir o seu potencial máximo de crescimento e desenvolvimento

O consumo de alimentos ricos em gordura, hidratos de carbono refinados, produtos açucarados, como os bolos e os refrigerantes, produtos de origem animal, em paralelo com a redução do consumo de hortofrutícolas, está associado a um maior risco de obesidade infantil. Por outro lado, padrões alimentares que incluem alimentos como a fruta, os hortícolas, os cereais integrais, o peixe, os frutos oleaginosos e os lacticínios magros estão associados a um menor risco de excesso de peso e obesidade infantil.

Dieta mediterrânica

Entre os vários padrões alimentares que existem, e que dependem naturalmente do contexto cultural e económico e do estilo de vida de cada criança, gostaria de destacar a dieta mediterrânica, como um modelo alimentar de referência a nível mundial. A dieta mediterrânica caracteriza-se pelo consumo abundante de produtos de origem vegetal, como os hortícolas, os cereais integrais, a fruta fresca, os frutos oleaginosos e as leguminosas; a utilização do azeite como fonte exclusiva de gordura para temperar e confeccionar os alimentos; o consumo moderado de carnes brancas (frango, peru e coelho), peixe, ovos e lacticínios magros (leite, queijo e iogurte); e o consumo esporádico de carne vermelha e produtos açucarados.

A alimentação da criança deve seguir os princípios da roda dos alimentos mediterrânica. Deve ser completa (que inclua alimentos de todos os grupos da roda), equilibrada (que inclua

maiores quantidades de alimentos de grupos de maiores dimensões e menores quantidades de alimentos pertencentes a grupos de menores dimensões) e variada (que varie, diariamente, os alimentos dentro de cada grupo). Os princípios da alimentação mediterrânica devem ser respeitados e valorizados, entre os quais se destaca o respeito pela sazonalidade e a preferência pela compra de alimentos de produção local; o incentivo à utilização das ervas aromáticas e especiarias para temperar e confeccionar os alimentos em substituição do sal; a promoção de técnicas de culinária saudável como sopas e ensopados; o incentivo ao tempo dedicado à confecção dos alimentos, como um espaço de partilha e de aprendizagem; e, por último, a promoção da prática de actividade física em actividades que sejam prazerosas para a criança e toda a família. No centro da roda dos alimentos está a água, por fazer parte da composição de todos os alimentos. Esta deve ser oferecida à criança em pequenas quantidades, várias vezes ao longo do dia. Relativamente aos açúcares, as recomendações da OMS são para uma ingestão inferior a 10% do valor energético total. Como tal, os alimentos açucarados devem ser reservados para os dias de festa. É ainda importante oferecer refeições em horários regulares, para que haja uma rotina alimentar e um maior controlo da saciedade. Assim, a promoção de um estilo de vida saudável, que combine a adopção de hábitos alimentares saudáveis e a prática de actividade física, parece ser uma das estratégias mais custo-efectivas no combate à obesidade infantil.

Para mais informações: Inscreva-se no curso “Estilo de vida saudável nos primeiros 1.000 dias de vida – formação em 1.000 minutos”, nos dias 14 e 15 de Setembro de 2023, na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, Portugal

Leia o livro “Alimentação e Nutrição nos Primeiros 1000 dias de Vida”, da autoria de Maria Ana Kadosh, publicado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos. ISBN 978-989-9153-08-0

39 SAÚDE

98% DAS CRIANÇAS CONSIDERA QUE O DESPORTO AS FAZ SENTIR BEM

ANÁLISE

EM ALGUNS PAÍSES DA REGIÃO EUROPEIA DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS), UMA EM CADA TRÊS CRIANÇAS COM IDADES

COMPREENDIDAS ENTRE OS 6 E OS 9 ANOS

VIVE COM EXCESSO DE PESO OU OBESIDADE.

ESTAS SÃO ALGUMAS DAS CONCLUSÕES DO NOVO RELATÓRIO DA INICIATIVA EUROPEIA DE VIGILÂNCIA DA OBESIDADE INFANTIL (COSI). EM TODO O MUNDO, QUATRO A CINCO MILHÕES DE MORTES POR ANO PODERIAM SER EVITADAS SE A POPULAÇÃO GLOBAL FOSSE MAIS

FISICAMENTE ACTIVA, INCLUINDO AS CRIANÇAS. ACÇÕES E INVESTIMENTOS EM POLÍTICAS

PARA PROMOVER A ACTIVIDADE FÍSICA E REDUZIR O COMPORTAMENTO SEDENTÁRIO

PODEM AJUDAR A ALCANÇAR OS OBJECTIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (ODS) 2030, PARTICULARMENTE, BOA SAÚDE E BEMESTAR (ODS3), CIDADES E COMUNIDADES SUSTENTÁVEIS (ODS11), ACÇÕES CONTRA AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS (ODS13) E EDUCAÇÃO DE QUALIDADE (ODS4), ENTRE OUTROS.

da prevalência de excesso de peso variou de quatro a 12 pontos percentuais para os rapazes e de três a sete para as raparigas. Nos últimos anos, alguns desses países implementaram medidas recomendadas pela OMS para ajudar a combater as taxas de obesidade, como a imposição de impostos sobre bebidas açucaradas, restrições à comercialização de alimentos e aulas de educação física.

No geral, a prevalência de sobrepeso (incluindo obesidade) foi de 29% em meninos e 27% em meninas de 6 a 9 anos.

ACovid-19 potencialmente amplificou uma das tendências mais preocupantes para a OMS, nomeadamente, na Região Europeia, mas que não é exclusiva desta. Falamos do aumento da obesidade infantil. “Estar acima do peso ou obeso está directamente associado a doenças não transmissíveis potencialmente fatais, como doenças cardiovasculares, diabetes e cancro. O que devemos fazer para iluminar o futuro das próximas gerações é implementar políticas baseadas em dados e na ciência que possam ajudar a reduzir a obesidade infantil, promovendo, ao mesmo tempo, dietas mais saudáveis e a actividade física”, comenta o Dr. Hans Henri P. Kluge, director regional da OMS para a Europa.

O excesso de peso e a obesidade estabilizaram ou diminuíram nalguns dos 13 países europeus onde foi possível examinar as tendências ao longo do tempo. Grécia, Itália, Portugal e Espanha, que têm as taxas mais elevadas de obesidade, bem como a Eslovénia, apresentaram uma tendência decrescente, tanto para o excesso de peso como para a obesidade. A redução

A prevalência de obesidade foi de 13% nos rapazes e 9% nas raparigas. Mas estes números escondem grandes variações entre países. As percentagens mais elevadas de excesso de peso e obesidade infantil foram observadas em países mediterrânicos, como Chipre, Grécia, Itália e Espanha, onde mais de 40% dos rapazes e raparigas tinha excesso de peso e 19% a 24% dos rapazes e 14% a 19% das raparigas eram obesos. As menores proporções de sobrepeso/ obesidade infantil foram observadas em países da Ásia Central, como Quirguistão, Tajiquistão e Turquemenistão, onde 5% a 12% dos meninos e meninas tinham sobrepeso e menos de 5% era obeso.

41 SAÚDE

Recomendações da OMS

1. A actividade física é boa para o coração, o corpo e a mente

A actividade física regular pode prevenir e ajudar a controlar doenças cardíacas, diabetes tipo 2 e o cancro, que causam quase três quartos das mortes em todo o mundo.

A actividade física também pode reduzir os sintomas de depressão e ansiedade e melhorar o funcionamento cognitivo, a aprendizagem e o bem-estar em geral.

2.Qualquer quantidade de actividade física é melhor do que nenhuma e quanto mais melhor

Para a saúde e bem-estar, a OMS recomenda, pelo menos, 150 a 300 minutos por semana de actividade física aeróbica de intensidade moderada (ou actividade física vigorosa equivalente) para os adultos, e uma média de 60 minutos por dia de actividade física moderada para crianças e adolescentes.

3.Toda a actividade física conta

A actividade física pode ser realizada como parte integrante do trabalho, desporto e lazer ou transporte (caminhar, patinar e pedalar), bem como de tarefas diárias e domésticas.

4.O fortalecimento muscular beneficia toda as pessoas

Idosos (65 anos ou mais) devem adicionar actividades físicas que promovam o equilíbrio e a coordenação, bem como o fortalecimento muscular, para ajudar na prevenção de quedas e na melhoria da saúde.

5.Demasiado comportamento sedentário pode ser prejudicial à saúde Pode aumentar o risco de doenças cardíacas, cancro e diabetes tipo 2. Limitar o tempo em comportamento sedentário e ser fisicamente activo é bom para a saúde.

6.Todas as pessoas podem beneficiar com o aumento da actividade física e redução do comportamento sedentário, incluindo mulheres grávidas e no pós-parto e pessoas com doenças crónicas e deficiências.

Hábitos alimentares

Em média, quase 80% das crianças tomava o pequeno-almoço todos os dias, cerca de 45% comia fruta diariamente e cerca de 25% consumia vegetais diariamente. No entanto, os valores a nível nacional relativos a estes hábitos saudáveis variaram muito: o consumo diário variou entre 49% e 96% no pequeno-almoço, entre 18% e 81% para a fruta e entre 9% e 74% para os legumes. O consumo frequente de snacks doces (27% das crianças em geral) foi mais generalizado do que o consumo de snacks salgados (14%). A percentagem de crianças que ingerem estes alimentos não saudáveis mais de três dias por semana também variou muito de país para país, de 5% a 62% para snacks doces e de menos de 1% a 35% para snacks salgados.

Actividade física

Em média, uma em cada duas crianças utilizou o transporte activo (a pé ou de bicicleta) de e para a escola. Em todos os países, a maioria das crianças passava, pelo menos, uma hora por dia a

brincar ao ar livre (variando entre 62% e 98% em diferentes países).

Crianças com pais mais instruídos eram mais propensas a praticar desporto/dança na maioria dos países. A diferença entre filhos de pais com níveis de educação elevados e baixos excedeu 20 pontos percentuais em sete países. Pelo contrário, os filhos de pais menos instruídos eram mais propensos a andar a pé ou de bicicleta de e para a escola.

De acordo com um outro estudo da Unicef Portugal, em colaboração com a Direcção-Geral da Educação (DGE), as crianças apreciam a actividade desportiva, com 98% a afirmar que as faz sentir bem, destacando emoções como alegria (68%), entusiasmo (59%) e satisfação (39%). Além disso, 90% das crianças relata que as actividades desportivas aumentam a sua confiança e 78% afirma que a prática desportiva tem um impacto positivo na redução da ansiedade.

As crianças destacam ainda que o desporto lhes permite ultrapassar dificuldades e limites (97%) e melhorar as relações e o trabalho em equipa com os colegas (93%). Para promover o seu bemestar emocional e psicológico nas aulas e outras actividades desportivas, 88% das crianças sugere estratégias para lidar com a ansiedade e o medo através do desporto e 81% pede o uso de técnicas de relaxamento.

Benefícios

De uma forma geral, o desporto e a actividade física contribuem para o desenvolvimento da criança a vários níveis:

• Auto-estima: quando as crianças se sentem confiantes nas suas capacidades desportivas, isso pode ajudar a aumentar a sua auto-estima e a fazer com que se sintam melhores consigo próprias de uma forma geral;

• Diminuição do stresse e ansiedade: quando confiam nas suas competências, as crianças tornam-se mais capazes de enfrentar desafios e de lidar com situações difíceis, o que pode ajudar a reduzir o stresse e a ansiedade;

• Melhoria do desempenho académico: quando estão confiantes, as crianças podem ficar mais motivadas e empenhadas, o que pode melhorar o seu desempenho académico;

• Relacionamentos interpessoais: a confiança ajuda as crianças a desenvolverem relações saudáveis e significativas, o que contribui para o seu bem-estar emocional e psicológico.

Beatriz Imperatori, directora executiva da Unicef Portugal, sublinha que “os efeitos negativos no bemestar físico e mental e no equilíbrio emocional das crianças resultantes da pandemia ainda não foram totalmente recuperados. É fundamental continuar a investir de forma contínua e sustentada para melhorar a saúde mental das crianças e jovens”

42 SAÚDE

80% DOS IDOSOS

VIVERÁ EM PAÍSES DE BAIXO E MÉDIO RENDIMENTO

POR OCASIÃO DA CELEBRAÇÃO DO DIA MUNDIAL DOS AVÓS, ABORDAMOS O TEMA DO ENVELHECIMENTO. TODOS OS PAÍSES ENFRENTAM GRANDES DESAFIOS PARA GARANTIR QUE OS SEUS SISTEMAS SOCIAIS E DE SAÚDE ESTÃO PREPARADOS PARA TIRAR O MÁXIMO PARTIDO DA MUDANÇA DEMOGRÁFICA. EM 2050, 80% DOS IDOSOS VIVERÁ EM PAÍSES DE BAIXO E MÉDIO RENDIMENTO. ENTRE 2015 E 2050, A PROPORÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL COM MAIS DE 60 ANOS QUASE DUPLICARÁ, PASSANDO DE 12% PARA 22%.

Até 2030, uma em cada seis pessoas no mundo terá 60 anos ou mais. Nesse momento, a percentagem da população com idade igual ou superior a 60 anos aumentará de mil milhões em 2020, para 1,4 mil milhões. Até 2050, a população com 60 anos ou mais duplicará (2,1 mil milhões). E o número de pessoas com 80 anos ou mais deverá triplicar, entre 2020 e 2050, atingindo 426 milhões. Embora esta mudança na distribuição da população para idades mais avançadas – conhecida como envelhecimento populacional – tenha começado em países de rendimento elevado (por exemplo, no Japão, 30% da população já tem mais de 60 anos), são agora os países de baixo e médio rendimento que estão a sofrer a maior mudança. Até 2050, dois terços da população mundial com mais de 60 anos viverão em países de baixo e médio rendimento.

ANÁLISE

Envelhecimento

A nível biológico, o envelhecimento resulta do impacto da acumulação de uma grande variedade de danos moleculares e celulares ao longo do tempo. Isto conduz a uma diminuição gradual da capacidade física e mental, a um risco crescente de doença e, em última análise, à morte. Estas alterações não são lineares nem consistentes e estão apenas vagamente associadas à idade cronológica de uma pessoa. A diversidade observada na velhice não é aleatória. Para além das alterações biológicas, o envelhecimento está frequentemente associado a outras transições da vida, como a reforma, a mudança para habitações mais adequadas e a morte de amigos e parceiros.

Condições de saúde comuns

As condições comuns na idade avançada incluem perda auditiva, cataratas e erros refractivos, dor nas costas e pescoço e osteoartrite, doença pulmonar obstrutiva crónica, diabetes, depressão e demência. À medida que as pessoas envelhecem, são mais propensas a experimentar várias condições ao mesmo tempo.

A idade avançada também é caracterizada pelo surgimento de vários estados de saúde complexos comumente chamados de síndromes geriátricas. São frequentemente a consequência de múltiplos factores subjacentes e incluem fragilidade, incontinência urinária, quedas, delírio e úlceras por pressão.

Factores que influenciam o envelhecimento saudável

Uma vida mais longa traz consigo oportunidades, não só para as pessoas mais velhas e suas famílias, mas também para a sociedade no seu conjunto. Os anos adicionais proporcionam a oportunidade de prosseguir novas actividades, tais como os estudos, uma nova carreira ou uma paixão há muito negligenciada. As pessoas idosas também contribuem de muitas formas para as suas famílias e comunidades. No entanto, a extensão dessas oportunidades e contribuições depende fortemente de um factor: a saúde.

Embora algumas das variações na saúde dos idosos sejam genéticas, a maioria deve-se aos ambientes físicos e sociais, incluindo as suas casas, bairros e comunidades, bem como às suas características pessoais – como o seu sexo, etnia ou estatuto socioeconómico.

A manutenção de comportamentos saudáveis ao longo da vida, nomeadamente uma alimentação equilibrada, a prática regular de actividade física e a abstenção do consumo de tabaco, contribuem para reduzir o risco de doenças não transmissíveis, melhorar a capacidade física e mental e adiar a dependência dos cuidados.

Ambientes físicos e sociais favoráveis também permitem que as pessoas façam o que é importante para elas, apesar das perdas de capacidade. “No desenvolvimento de uma resposta de saúde pública ao

envelhecimento, é importante não só considerar abordagens individuais e ambientais que melhorem as perdas associadas à velhice, mas também aquelas que possam reforçar a recuperação, a adaptação e o crescimento psicossocial”, defende a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Desafios na resposta Não há uma pessoa idosa típica. Algumas pessoas com 80 anos de idade têm capacidades físicas e mentais semelhantes às de muitas pessoas de 30 anos. Outras pessoas experimentam declínios significativos nas capacidades em idades muito mais jovens. “Uma resposta global em matéria de saúde pública deve dar resposta a este vasto leque de experiências e necessidades dos idosos”.

Assume-se frequentemente que as pessoas idosas são frágeis ou dependentes e um fardo para a sociedade. “Os profissionais de saúde pública, e a sociedade em geral, têm de abordar estas e outras atitudes etárias, que podem levar à discriminação, afectar a forma como as políticas são desenvolvidas e as oportunidades que os idosos têm de experimentar um envelhecimento saudável”, sustenta a OMS.

A globalização, os desenvolvimentos tecnológicos (por exemplo, nos transportes e comunicações), a urbanização, a migração e a alteração das normas de género estão a influenciar a vida das pessoas idosas de forma directa e indirecta. Uma resposta de saúde pública deve fazer o balanço destas tendências actuais e projectadas e enquadrar as políticas em conformidade.

A Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) declarou 2021-2030 a Década das Nações Unidas para o Envelhecimento Saudável e pediu à OMS que liderasse a sua implementação. Esta é uma colaboração global que reúne Governos, sociedade civil, agências internacionais, profissionais de saúde, universidades, meios de comunicação social e sector privado durante 10 anos de acção concertada, catalisadora e colaborativa, para promover vidas mais longas e saudáveis. Baseia-se na Estratégia Global e no Plano de Acção da OMS e no Plano de Acção Internacional sobre o Envelhecimento das Nações Unidas de Madrid e apoia a realização da Agenda 2030 das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável e dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável.

45 SAÚDE

ALOE VERA

A ALOE VERA, TAMBÉM CHAMADA DE BABOSA OU ALOE BARBADENSIS, É UMA PLANTA CONHECIDA POR VÁRIOS BENEFÍCIOS, COMO EFEITO CALMANTE, CICATRIZANTE, ANESTÉSICO, ANTI-TÉRMICO E ANTIINFLAMATÓRIO, ALÉM DE TER TAMBÉM UTILIDADE NA HIDRATAÇÃO DE CABELOS E PELE, POIS ESTIMULA A PRODUÇÃO DE COLÁGENO.

46 SAÚDE
NATUREZA

AAloe Vera é uma planta suculenta, verde, com folhas carnudas e com as extremidades serrilhadas. A designação Aloe Vera deriva do hebraico halal ou do arábico alloeh (substância brilhante e amarga) e do latim vera (verdadeira).

A planta produz duas substâncias com aplicações medicinais, o gel e o látex, que são obtidos de partes distintas da planta. O látex é extraído das células logo por baixo da epiderme da folha. O gel, por sua vez, é retirado a partir das células do mesófilo da folha.

A Aloe Vera é uma planta muito rica em vitaminas e minerais essenciais para o crescimento e bom funcionamento de todos os sistemas do organismo. Contém vitaminas antioxidantes A, C e E, vitamina B12, ácido fólico e colina, minerais como cálcio, cobre, selénio, crómio, manganês, magnésio, potássio, sódio e zinco. Fornece substâncias com aplicações laxantes, analgésicas, antibacterianas e antivirais.

A maioria das pessoas utiliza o gel como tratamento para problemas de pele, no entanto, existem vários outros benefícios na utilização desta planta, como doenças intestinais, remédio natural para a asma e úlceras de estômago. Sempre lembrando que os utentes deverão consultar um médico e, dependendo do caso, questionar a possibilidade de usar Aloe e seus derivados.

Propriedades da Aloe Vera

Tracto gastrointestinal: O acemanano, um mucopolissacárido natural, tem capacidade protectora das mucosas do estômago e do intestino.

Sistema imunitário: A mesma substância, o acemanano, tem propriedades imunoestimulantes, permitindo proteger o organismo contra bactérias e vírus, pela estimulação da actividade dos macrófagos.

A bebida comercializada de Aloe Vera pode ser ingerida em períodos específicos (Outono,

Inverno, períodos de exames ou provas físicas), para estimular as defesas naturais do organismo. O zinco, um dos constituintes da Aloe Vera, contribui para o equilíbrio do sistema imunitário e do estado anímico.

Irritações e problemas de pele: Existem vários estudos sobre as aplicações da Aloe Vera nesta área, o primeiro dos quais, em 1935, constata que esta planta tem a capacidade de proporcionar um alívio rápido para queimaduras e regeneração da pele. Mais recentemente, a eficácia da Aloe Vera em vários tipos de tratamento foi demonstrada numa revisão de estudos, em 2009, nomeadamente no tratamento de inflamações, herpes genital e como agente antifúngico. Há evidências de que esta planta é eficaz no tratamento de dermatite, psoríase e feridas cirúrgicas.

Antibacteriano e antiviral: Extractos de Aloe Vera têm propriedades antibacterianas, antivirais e antifúngicas, podendo agir contra algumas estirpes de bactérias (por exemplo, Escherichia coli), vírus ou fungos (por exemplo, Candida albicans).

Antioxidante, anti-inflamatório e desintoxicante: Estes poderes estão relacionados com a variedade dos constituintes da Aloe Vera (18 aminoácidos, 20 minerais, 12 vitaminas, 15 enzimas, 75 nutrientes e cerca de 150 princípios activos). Dentro dos seus constituintes, realçamos a vitamina A, que contribui para uma visão e pele saudáveis e capacidades neurológicas adequadas.

A vitamina C ajuda a prevenir rugas na pele e doenças oculares, auxilia no controlo de doenças cardiovasculares e problemas de saúde pré-natal.

A Aloe Vera tem, ainda, a capacidade de combater radicais livres responsáveis pelo envelhecimento celular.

Obstipação: O látex da Aloe Vera contém antraquinonas que possuem um poder laxante, através do aumento do teor de água no intestino. Hidratação do cabelo e couro cabeludo: As suas propriedades antifúngicas e antibacterianas, referidas anteriormente contribuem para a regeneração dos tecidos em torno dos folículos pilosos, auxiliando, deste modo, nos problemas de caspa. Os minerais, as vitaminas e as propriedades nutritivas da Aloe Vera ajudam o cabelo a manter-se forte e saudável.

Digestão: A seiva da Aloe Vera equilibra o pH do estômago, facilitando a digestão. Além disso, combate a formação de fungos, permitindo a integridade do revestimento do estômago.

Diabetes: Evidências clínicas mostraram que o tratamento com esta planta diminui os níveis de glicose e triglicerídeos no sangue e alivia a hiperglicemia crónica.

47 SAÚDE

O QUE É A LUZ AZUL?

A LUZ VISÍVEL É MUITO MAIS COMPLEXA DO QUE IMAGINAMOS. ESTAR AO AR LIVRE NUM DIA DE SOL, LIGAR UM INTERRUPTOR EM CASA, USAR O COMPUTADOR, O TELEMÓVEL OU OUTRO DISPOSITIVO DIGITAL INDUZEM A UMA EXPOSIÇÃO DOS OLHOS A UMA DIVERSIDADE DE RAIOS DE LUZ VISÍVEL, QUE PODE REDUNDAR EM VÁRIOS EFEITOS. TAL COMO A RADIAÇÃO UV, TAMBÉM A LUZ AZUL VISÍVEL TEM OS SEUS BENEFÍCIOS E PERIGOS.

Dr. Djalme Fonseca

Licenciado em Optometria e Ciências da Visão pela Universidade do Minho, Portugal. Pósgraduado em Avaliação Optométrica Pré e Pós Cirúrgica pela Universidade de Valência, Espanha. Founder & CEO da Óptica Optioptika

48 SAÚDE
ENTREVISTA RUBRICA OCULAR

Aluz solar é a principal fonte de luz azul e é ao ar livre, durante o dia, que ficamos mais expostos. Os díodos emissores de luz, conhecidos como leds, têm sido usados para fornecer iluminação em ambientes industriais e comerciais e também em ecrãs de televisores, computadores, telemóveis e tablets. Embora a luz emitida pela maioria dos leds pareça branca, estes têm emissão na faixa de luz azul.

O modo como fazemos a leitura também se alterou: a luz é agora utilizada directamente para iluminação dos telemóveis, tablets e leitores, em vez de

para reflexão (o que é típico e natural para leitura em papel). A leitura digital não é uma actividade para a qual o nosso sistema visual esteja preparado.

Impacto da luz azul nos nossos olhos?

Embora a exposição ocular através destas fontes seja menor comparada à proveniente do sol, o uso da luz azul tornou-se cada vez mais proeminente na nossa sociedade. Uma grande parte da população mundial está agora submetida à exposição diária da luz artificial à noite. À medida que a tecnologia vai evoluindo, as pessoas vão-se habituando a um estilo de vida mais digital, que inclui exposição à luz azul dos diversos dispositivos electrónicos, fazendo com que o façamos por um período de tempo mais longo e com maior proximidade aos nossos olhos. Este novo hábito tem gerado grande preocupação relativamente ao impacto negativo que esta luz azul pode ter na nossa saúde ocular.

A exposição à luz azul pode afectar muitas funções fisiológicas e pode ser utilizada para tratar disfunções circadianas e do sono.

49 SAÚDE

Como a luz tem um efeito cumulativo e muitas características diferentes, é importante considerar a saída espectral da fonte de luz, para minimizar o perigo que pode estar associado à exposição da luz azul.

A luz azul, com energia relativamente alta, pode causar danos fotoquímicos irreversíveis nos tecidos oculares. Apesar do mecanismo ainda não estar totalmente esclarecido, alguns estudos indicaram que a luz azul de alta energia pode penetrar na córnea e no cristalino e alcançar a retina, causando-lhe danos, o que é conhecido por “bluelight hazard”.

Alguns estudos sugerem uma possível relação da degeneração relacionada com a idade (DMRI) e o melanoma uveal com a radiação visível, principalmente com a luz azul alta.

No entanto, foi reconhecido que a luz azul pode afectar a função do olho através de danos fotoquímicos apenas acima do limiar. Não há provas que suportem que a exposição a esta luz aumente o risco de lesão fotoquímica durante condições normais de uso. Uma avaliação de lâmpadas de baixo consumo, computadores e tablets também mostrou que os limites de exposição ao risco de luz azul não são excedidos nesses dispositivos, mesmo sob condições de visualização de longo prazo. Assim, parece que os potenciais riscos nocivos aos olhos das luzes fabricadas são insignificantes.

No entanto, a ameaça da luz azul não deve ser subestimada para grupos especiais, como aqueles que trabalham com fontes de alta energia, como soldadores, operadores de holofotes ou dentistas.

O que a evidência nos diz?

Embora existam evidências que sugerem que a utilização de dispositivos digitais pode aumentar a tensão ocular naqueles que os usam por longos períodos de tempo – podendo também causar impacto nos padrões de sono – a verdade é que não há, actualmente, evidência que sugira que a luz azul visível tenha qualquer efeito no desenvolvimento de patologias oculares, como DMRI ou glaucoma. Um artigo de revisão de 2016 avaliou as evidências publicadas e concluiu que a exposição a curto e médio prazo a baixos níveis de luz visível não teve impacto na saúde dos olhos e não encontrou evidências de danos causados pela exposição a longo prazo.

A posição da American Optometric Association é clara: não há evidências de que a luz visível cause doenças oculares em humanos. O uso de monitores perto da hora de dormir pode contribuir para um sono mais débil, o que pode tornar uma pessoa menos produtiva durante o dia.

Custa adormecer? Então vamos perceber...

O que tem a visão a ver com o sono, ou melhor, com a falta dele? Estudos recentes mostram um aumento do número de pessoas que apresentam dificuldade em adormecer. Entre essas pessoas estão as crianças e os jovens, que cada vez mais apresentam dificuldade em adormecer em idades mais precoces.

A luz pode influenciar a libertação de hormonas e estimular outras funções biológicas. Pode influenciar fortemente os ritmos circadianos, afectando os genes que controlam o relógio interno de um organismo. A organização temporal dos ritmos biológicos, do ciclo circadiano (o ciclo claro\escuro), é controlada pela hipófise, que produz uma substância chamada melatonina. Uma das funções é regular o sono, ou seja, num ambiente escuro e calmo, os níveis de melatonina do organismo aumentam, induzindo o sono. A luz solar é um dos factores que ajudam a regular o nosso relógio biológico, o ciclo circadiano. A exposição à luz azul durante a noite tem vindo a levantar algumas preocupações junto da comunidade científica. Isto porque esta radiação impede a secreção de melatonina, o que pode alterar as horas de sono.

Em contraste, quando a luz azul não atinge a retina, é produzida melatonina, facilitando a sonolência. Daqui se depreende que a exposição à luz azul durante o período em que nos preparamos para descansar bloqueia essa secreção de melatonina e produz uma desregulação do ciclo.

50 SAÚDE

E é aqui que os olhos entram, mais precisamente as células fotorreceptoras da retina, que, ao receberem luz, transmitem informação ao cérebro para interromper a produção de melatonina. Hoje em dia, o ser humano está frequentemente exposto a fontes de luz intensa e luz led branca, tanto na iluminação das casas e locais de trabalho, como nos tablets, televisores e telemóveis, com características de radiação que provocam uma diminuição da produção de melatonina, desregulando assim o ciclo circadiano, com consequências no sono.

A relação entre a luz, em especial a luz branca, a produção de melatonina e a dificuldade em adormecer é um assunto muito recente, ainda com pouca informação cientificamente comprovada, e por isso dá azo a muita especulação e oportunismo por parte de muitos sectores.

Recomenda-se que:

• Não se usem equipamentos com luz led, em especial tablets e telemóveis, nas duas horas imediatamente prévias a dormir. Os pais devem estar atentos aos filhos que usam equipamentos nos quartos e na

cama à hora de dormir e evitar o seu uso.

• Caso se tenha dificuldade em adormecer, deve-se experimentar não usar o tablet, o portátil ou o telemóvel até tarde durante uns dias. Ao deitar, optar antes por ler umas páginas de um livro até que o sono apareça.

Afinal, parece que os olhos têm muito que ver com o sono.

A LUZ AZUL, COM ENERGIA

RELATIVAMENTE ALTA, PODE CAUSAR DANOS FOTOQUÍMICOS IRREVERSÍVEIS NOS TECIDOS OCULARES. APESAR DO MECANISMO AINDA NÃO ESTAR

TOTALMENTE ESCLARECIDO, ALGUNS ESTUDOS INDICARAM QUE A LUZ AZUL DE ALTA ENERGIA PODE PENETRAR NA CÓRNEA E NO CRISTALINO E

ALCANÇAR A RETINA, CAUSANDOLHE DANOS, O QUE É CONHECIDO POR “BLUELIGHT HAZARD”

51 SAÚDE
Pub

CLIMÁTICO GLOBAL NEGLIGENCIA NECESSIDADES DAS CRIANÇAS, REVELA NOVO RELATÓRIO

AS CRIANÇAS ESTÃO A SER PREJUDICADAS PELOS COMPROMISSOS DE FINANCIAMENTO CLIMÁTICO, APESAR DE SEREM AS MAIS AFECTADAS PELA CRISE CLIMÁTICA, DE ACORDO COM UM NOVO RELATÓRIO DOS MEMBROS DA COLIGAÇÃO INICIATIVA PELOS DIREITOS AMBIENTAIS DAS CRIANÇAS (CERI) – PLAN INTERNATIONAL, SAVE THE CHILDREN E UNICEF.

Apenas 2,4% dos principais fundos climáticos globais pode ser classificado como apoio a actividades sensíveis às crianças, revela o relatório. De acordo com o Índice de Risco Climático para Crianças da Unicef, mais de mil milhões de crianças estão em risco extremamente elevado dos impactos da crise climática.

As ondas de calor estão a acontecer com maior frequência e o facto de serem mais longas e mais intensas torna a acção mais urgente, não só pelos efeitos particularmente nocivos que acarretam para as crianças, como pelo seu potencial aumento.

“As crianças são o futuro, mas o nosso futuro é moldado pelas acções daqueles que tomam decisões no presente e as nossas vozes não estão a ser ouvidas. Como este relatório mostra, financiar soluções climáticas é uma obrigação, mas também importa como esse dinheiro é gasto. As necessidades e perspectivas das crianças devem ser incluídas”, defende Maria Marshall, jovem activista climática de 13 anos natural de Barbados e defensora das crianças da Unicef.

Resultados alarmantes

O estudo “Falling short: addressing the climate finance gap for children” utilizou um conjunto de três critérios

para avaliar se o financiamento climático proveniente dos principais fundos climáticos multilaterais (MCFs), que servem a Convenção Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas e o Acordo de Paris, estavam a abordar os riscos distintos e agravados que as crianças enfrentam devido à crise climática, a fortalecer a resiliência dos serviços sociais essenciais para as crianças e a capacitar as crianças como agentes de mudança. “Os resultados são alarmantes”, afirma Kabita Bose, directora nacional da Plan International Bangladesh. “É essencial que se realizem investimentos urgentes e eficazes para a adaptação às alterações climáticas, nomeadamente para as crianças, especialmente as raparigas, que são altamente susceptíveis aos impactos a curto e longo prazo. No entanto, os gastos actuais quase ignoram completamente as crianças – isso precisa de mudar”

O relatório constatou que, de todo o dinheiro concedido pelos MCFs para projectos relacionados com o clima, ao longo de um período de 17 anos até Março de 2023, apenas uma pequena parte (2,4%) cumpria todos os três requisitos, o que representava somente 1,2 mil milhões de dólares. O relatório também afirma que esse número provavelmente é uma sobrestimativa, o que significa que ainda menos

52 SAÚDE FINANCIAMENTO
NOTÍCIA

dinheiro pode ter sido destinado às crianças.

“As crianças, especialmente as que já estão afectadas pela desigualdade e discriminação, são as que menos contribuíram para as alterações climáticas, mas que são as mais afectadas pelas mesmas. O financiamento climático oferece uma oportunidade de combater essas injustiças, considerando as necessidades e perspectivas das crianças”, refere Kelley Toole, directora global de Alterações Climáticas da Save the Children. “Tal tem sido vergonhosamente inadequado até agora, mas pode e deve mudar. Para enfrentar verdadeiramente a crise climática, devemos colocar os direitos das crianças no centro da nossa resposta e garantir que as vozes das crianças sejam ouvidas”

Financiamento climático

Embora os MCFs representem uma parte relativamente pequena do financiamento climático global, a medida em que esses fundos consideram as crianças é de grande importância. Os MCFs têm um papel fundamental na definição de agendas e na catalisação e coordenação de investimentos por outras instituições de financiamento públicas e privadas, incluindo a nível nacional, que são necessários para promover uma mudança mais ampla. As crianças são desproporcionalmente vulneráveis à escassez de água e de alimentos, doenças transmitidas pela água e traumas físicos e psicológicos, relacionados tanto a eventos climáticos extremos quanto a efeitos climáticos a longo prazo. Há também provas de que a alteração dos padrões climáticos está a perturbar o acesso das crianças a serviços básicos, como educação, cuidados de saúde e água potável limpa.

“Todas as crianças estão expostas a, pelo menos, um – e muitas vezes vários – riscos climáticos. O financiamento e o investimento

que são desesperadamente necessários para adaptar serviços sociais essenciais, como saúde e água, aos riscos climáticos são insuficientes e, em grande parte, ignoram as necessidades urgentes e únicas das crianças. Tal precisa de mudar. A crise climática é uma crise de direitos das crianças e o financiamento climático deve reflectir isso mesmo”, afirma Paloma Escudero, assessora especial de Defesa Climática da Unicef.

Agentes de mudança

O relatório salienta que as crianças são frequentemente vistas como um grupo vulnerável em vez de serem reconhecidas como partes interessadas activas ou agentes de mudança. Menos de 4% dos projectos, correspondendo a apenas 7% do investimento dos MCFs (2,58 mil milhões de dólares), tem em consideração explicitamente as necessidades e a participação significativa das raparigas.

O relatório é informado pelas vozes de crianças de todo o mundo, que partilham as suas experiências e preocupações com as alterações climáticas. “Em Chiredzi, ficámos a saber que algumas raparigas não conseguem atravessar rios inundados para ir à escola ou voltar para casa, enquanto os rapazes conseguem. As raparigas têm de caminhar até 10 a 15 quilómetros para chegar à escola. Elas ficam cansadas pelo caminho antes mesmo de começarem as aulas”, conta uma rapariga adolescente do Zimbabué. Um rapaz de 13 anos do Bangladesh acrescenta que “muitos desastres em grande escala atingem o nosso distrito, o que leva as pessoas à pobreza e crianças como nós estão envolvidas em trabalho infantil”

53 SAÚDE

POLUIÇÃO AMBIENTAL E SAÚDE PÚBLICA

O CUIDADO COM O AMBIENTE É DE EXTREMA IMPORTÂNCIA, POIS FORNECE AOS SERES VIVOS CONDIÇÕES FAVORÁVEIS PARA O SEU DESENVOLVIMENTO, EVOLUÇÃO E SOBREVIVÊNCIA. ASSIM, INDEPENDENTEMENTE DO ESTRATO SOCIAL, CULTURAL, PROFISSIONAL OU ACADÉMICO, É DEVER DE TODOS PRESERVAR O AMBIENTE, UMA VEZ QUE NOS SERVIMOS DOS SEUS RECURSOS PARA A SATISFAÇÃO DAS NOSSAS NECESSIDADES (CALENGA, 2020).

ENTREVISTA RUBRICA AMBIENTAL

Licenciada em Enfermagem, mestranda em Gerontologia: Actividade física e saúde do idoso, voluntária da EcoAngola desde 2021 e voluntária da Liga Portuguesa Contra o Cancro desde 2023.

Apoluição ambiental resulta da introdução de qualquer substância no ambiente, em quantidade tal que causa efeitos adversos nos seres vivos (Russel, 1974). Tendo em conta o meio receptor, estas substâncias são lançadas para o ambiente na forma de resíduos ou partículas, comumente designados por poluentes, que podem apresentar-se no estado gasoso, líquido e sólido. São classificados como primários, quando são emitidos directamente da atmosfera, e secundários, quando resultam de reacções químicas que ocorrem na atmosfera entre os poluentes primários ou entre os poluentes e os seus constituintes naturais (APA, 2021).

Este artigo foi elaborado com o objectivo de informar factos relevantes sobre os efeitos da poluição ambiental na saúde humana, considerando os principais tipos de poluição e as acções que têm sido implementadas para minimizar os seus impactos.

Poluição do ar ou atmosférica

A poluição do ar ocorre quando o subproduto de uma actividade faz com que os produtos químicos sejam transportados pelo ar, sendo facilmente detectáveis, provenientes dos escapes dos carros, chaminés industriais ou em vulcões em erupção, mas o verdadeiro perigo reside na parte invisível que, geralmente, é responsável por vários problemas de saúde, com efeitos tanto contínuos como súbitos. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2022), a poluição do ar é a contaminação do ambiente interno ou externo por qualquer agente químico, físico ou biológico que modifique as características naturais da atmosfera. Os poluentes com as evidências mais fortes de preocupação para a saúde pública incluem as PM₁₀ (partículas com

Licenciada em Tecnologias do Ambiente e do Mar, trabalha como Assistente de Controlo de Qualidade numa empresa de reciclagem de metais, plástico e REEE (Resíduos de Equipamentos Eléctricos Electrónicos), formadora profissional certificada e voluntária da EcoAngola desde 2021.

diâmetro igual ou inferior a 10 µm) e PM₂.₅ (partículas com diâmetro igual ou inferior a 2,5 µm), ozono (O₃), dióxido de azoto (NO₂) e dióxido de enxofre (SO₂).

No seu último relatório anual (“World health statistics 2022: monitoring health for the SDGs, sustainable development goals”), a OMS concluiu que a poluição do ar representa uma grande ameaça à saúde humana em todo mundo, sendo que 99% da população global respira de forma pouco saudável níveis de material particulado fino (PM₁₀ e PM₂.₅) e dióxido de azoto (NO₂), expondo-as a um risco maior de adquirir doenças cardíacas, acidentes vasculares cerebrais e tantas outras. A situação é ainda mais crítica para os países de baixa e média renda, que sofrem as maiores exposições à poluição do ar exterior em níveis superiores aos limites de qualidade do ar da OMS.

A maioria dos poluentes atmosféricos é de origem antropogénica, resultantes da queima de combustíveis fósseis, como carvão, gasolina, diesel e o gás natural. Estes produzem gases como monóxido de carbono (CO), dióxido de enxofre (SO₂) e hidrocarbonetos, que se acumulam na atmosfera, muitas vezes, a níveis alarmantes em cidades industrializadas, fazendo com que os habitantes de cidades como Xian, na China, possuam horários restritos para a saída à rua, de modo a evitar a exposição aos picos da poluição, principalmente pessoas sensíveis, como idosos e crianças.

Outro exemplo recente é o que aconteceu na cidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos,

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Diawimi Macarena Edna Hindo

que, por causa dos incêndios florestais no Canadá, sofreu com os efeitos da fumaça, levando o Governo a alertar sobre a baixa qualidade do ar e a população a recorrer ao uso de máscaras N95, para prevenir complicações respiratórias. Ainda sobre esse tópico, em 2022, seis das 10 cidades mais poluídas do mundo estavam na Índia, segundo a rede de monitoramento IQAir. Pesquisadores estimam que o ar poluído pode estar a reduzir a expectativa de vida de centenas de milhões de indianos em até nove anos; acredita-se que a poluição do ar tenha causado quase 1,6 milhão de mortes no país, só em 2019. (CNN, 2023).

Angola é o 14.º país no ranking dos países com o índice de qualidade do ar mais baixa ou susceptível de causar danos à saúde do homem. O site AQICN.ORG revela dados recolhidos de estações locais, usando uma escala de cores para aferir o nível de poluentes no ar.

Poluição hídrica

A poluição hídrica também pode ser detectável pelo seu aspecto, mas nem sempre tal acontece, pois a água pode estar limpa, ter bom aspecto e, ainda assim, estar cheia de produtos

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Ranking de Qualidade do Ar, obtido em tempo real Fonte: (Site AQICN.ORG, 2023) Resultados da qualidade do ar em 4 estações de Angola, situadas em Luanda (107), Namibe (109), Huambo (134) e Moxico (143). Fonte: (Site AQICN.ORG, 2023)

químicos (fosfatos, nitratos, sulfatos e outros), bactérias (Shigella sp., Salmonella typhi, Escherichia coli, Vibrio cholerae, Leptospira sp., Legionella sp.), microplásticos, fertilizantes, pesticidas, medicamentos, resíduos fecais e até substâncias radioactivas. Por esta razão, utilizam-se análises químicas de pequenas amostras para saber o estado da qualidade da água.

A OMS define água poluída como aquela que sofre alterações na sua composição até ficar inutilizável, inclusive para a agricultura. Além disso, é uma fonte de insalubridade que provoca mais de 500 mil mortes anuais globalmente por diarreia e transmite doenças como a cólera, disenteria, febre tifoide e poliomielite.

Segundo o Instituto para a Água, o Meio Ambiente e a Saúde (INWEH, na sigla em inglês), quase 500 milhões de pessoas em África vive sem segurança da água e apenas 13 dos 54 países do continente têm um “nível moderado” de segurança dos recursos hídricos e dos sistemas sanitários, de acordo com estudo publicado em 2022.

De acordo com dados divulgados no relatório, a definição de segurança da água das Nações Unidas é “a capacidade de uma população de garantir o acesso sustentável a quantidades adequadas de água com qualidade aceitável para sustentar a subsistência, o bem-estar humano e o desenvolvimento socioeconómico, garantir a protecção contra a poluição da água, desastres relacionados com a água e preservar os ecossistemas, num clima de paz e estabilidade política”.

Os investigadores avaliaram a segurança da água nos 54 países africanos mediante 10 indicadores, nomeadamente a disponibilidade de água potável, o acesso a saneamento, indicadores de saúde e higiene ou qualidade da água. Segundo o ranking do INWEH, Egipto, Botswana, Gabão, Ilhas Maurícias e Tunísia

são os países com maior segurança da água, enquanto Somália, Chade e Níger são os piores. Entre os países lusófonos, a Guiné-Bissau é o país pior classificado e o quarto pior do continente, estando entre os países cuja segurança da água é “emergente”. A Guiné Equatorial, em sétimo a nível do continente, é o lusófono melhor classificado, estando, com São Tomé e Príncipe, no grupo dos que têm uma segurança da água “modesta”. Cabo Verde, Angola e Moçambique estão entre os países com uma segurança da água “escassa”.

Poluição do solo

Segundo o relatório da FAO, a poluição do solo é uma ameaça global particularmente grave em regiões como a Europa, Eurásia, Ásia e norte de África, pois já afecta um terço do solo mundial e a sua recuperação é tão lenta que seriam necessários mil anos para criar um centímetro de camada arável superficial.

Um solo é considerado poluído quando ocorre a deposição de resíduos líquidos ou sólidos em concentrações acima dos valores estipulados, afectando os subsolos e as águas subterrâneas. Os solos representam um grande pilar para a economia de cada país, pois as suas inúmeras funções e serviços são de extrema importância, tanto a nível socioeconómico como ambiental.

A preocupação com a contaminação do solo decorre do risco de afectação da saúde humana pela cadeia alimentar, perda da biodiversidade ou do impacto ao nível dos demais recursos naturais. Alguns dos principais poluentes do solo são metais pesados, medicamentos, fertilizantes,

57 SAÚDE
Dados da qualidade do ar em Luanda, com a indicação da quantidade de poluentes Fonte: (Site AQICN.ORG, 2023)

componentes químicos, óleos, solventes, entre outros. Estes são resultantes principalmente do descarte de resíduos ao ar livre, com maior incidência nos países africanos, como é o caso de Angola.

Impactos da poluição ambiental na saúde pública

A saúde humana é influenciada por múltiplos factores, sendo o ambiente um dos principais. A ONU estima que, actualmente, uma em cada quatro mortes no mundo está relacionada a riscos ambientais (Agência, 2021).

Os efeitos da poluição atmosférica na saúde pública incluem o aumento do risco de internamentos hospitalares e da mortalidade por doenças respiratórias e cardiovasculares. A susceptibilidade

Poluentes Efeitos na saúde humana

NO₂

SO₂

O₃

CO

individual (principalmente de crianças e idosos) e a existência de condições de saúde que predispõem a população exposta a uma resposta adversa complicam ainda mais as tentativas de estimar os riscos da poluição atmosférica na saúde. Segundo os especialistas do Centro de Competência da Eurofins Scientifics, a acumulação de metais pesados na cadeia alimentar pode ocorrer por bio-concentração, através da água ou da fonte de alimento. As principais fontes potenciais de ingestão de metais pesados são o pescado e o marisco, as frutas e os vegetais, os frutos secos e os cereais.

Pode causar lesões nos brônquios e alvéolos pulmonares; aumento da reac8vidade aos alergénios; bronquite crónica; enfisemas e edemas pulmonares.

Pode causar irritação nas mucosas dos olhos e vias respiratórias, com efeitos agudos e/ou crónicos. Pode agravar problemas cardiovasculares.

Penetra profundamente nas vias respiratórias, afectando os brônquios e os alvéolos pulmonares. Causa irritações nos olhos, nariz e garganta, seguindose tosse e dor de cabeça; os efeitos manifestam-se em baixas concentrações e períodos curtos.

Pode causar dificuldades respiratórias e asfixia. A transformação de 50% da hemoglobina em carboxiemoglobina pode conduzir à morte. Diminui a percepção visual, a capacidade de trabalho e a destreza manual.

Metais pesados: Arsênio (As), Cádmio (Cd), Níquel (Ni), Mercúrio (Hg), Chumbo (Pb)

Outros poluentes: Óxidos de azoto (NOx), Compostos orgânicos voláteis (COV), Benzeno (C6H6), hidrocarbonetos aromáPcos policíclicos (HAP) e amónia (NH₃)

As PM10 podem causar irritação nasal, tosse, bronquite e asma.

As PM2,5 podem penetrar profundamente nas vias respiratórias e a8ngir os alvéolos pulmonares, provocando dificuldades respiratórias e, por vezes, danos permanentes.

São bioacumuláveis e podem provocar alterações renais, lesões cerebrais e existe a suspeita de que também possam aumentar o risco de cancro.

NH₃: É um produto químico perigoso, corrosivo para a pele, olhos, vias aéreas superiores e pulmões.

C6H6: Os efeitos tóxicos agudos mais relevantes observam-se no sistema nervoso central, pulmões, olhos e pele, enquanto os crónicos são alterações neurológicas e psicológicas.

58 SAÚDE
PM

A OMS estimou que, em 2012, 23% de todas as mortes no mundo, totalizando 12,6 milhões de pessoas, foi por causas ambientais, com 90% a ocorrer em países de baixa e média renda. Com uma população global crescente, o número absoluto de grupos vulneráveis expostos a poluentes aumentará, a menos que políticas urgentes de redução da poluição sejam implementadas e acções sejam tomadas. A poluição constitui um impedimento significativo para alcançar a saúde, o bemestar, a prosperidade e o Objectivo de Desenvolvimento Sustentável de “não deixar ninguém para trás”.

Algumas soluções para mitigar os efeitos da poluição ambiental A melhor forma de mitigar os efeitos da poluição é através da consciencialização das pessoas, pois, sendo elas o principal agente poluidor, é necessário que sejam, de igual modo, parte activa no processo do combate à poluição. A solução para a problemática da poluição ambiental deve ter como principal enfoque a adopção de medidas preventivas, nomeadamente:

• Não descartar resíduos de forma inadequada;

• Reutilizar sempre que possível, separar os resíduos recicláveis e evitar o consumo exagerado;

• Não fazer queimadas;

• Promover a pesca sustentável;

• Limitar o uso de plásticos de uso único;

• Atenuar o uso de pesticidas químicos nos cultivos agrícolas;

• Diminuir e depurar as águas residuais de forma segura, para que não poluam e possam ser reutilizadas para rega e produção de energia;

• Descartar correctamente medicamentos, pilhas e baterias;

• Fazer compostagem caseira;

Referências:

Agência, P. d. A., 2021. Poluentes. https://apambiente.pt/ar-e-ruido/poluentes, s.n.

• Incentivar modelos mais ecológicos na indústria, agricultura e pecuária;

• Melhorar o planeamento urbano das cidades e do transporte;

• Reformar a gestão dos resíduos da mineração e conservar a camada superficial do solo;

• Incluir as comunidades locais na gestão sustentável do solo.

Há uma necessidade crítica de transformações dos sistemas em Angola, para prevenir, reduzir e controlar a poluição, em direcção a uma maior eficiência e equidade de recursos, circularidade, consumo e produção sustentáveis. As soluções tecnológicas são várias para limpar e desintoxicar o ambiente; quanto mais esperarmos, maior será a extensão de exposição e o custo da limpeza. O que se pretende é que todos os agentes envolvidos participem da resolução do problema da poluição: o Estado com a criação de instrumentos legais e entidades fiscalizadoras, realizando auditorias regulares às maiores indústrias, fazendas e empresas do sector petrolífero, criação de infra-estruturas sociais equipadas para prevenir a contaminação de recursos naturais e melhor planeamento urbanístico; as empresas devem implementar os seus sistemas de gestão ambiental, com a gestão de resíduos, licenciamento ambiental, controlo de emissões e mitigação dos impactes, e buscar por boas práticas internacionais, como a certificação na Norma ISO 14001; o cidadão também pode ajudar dentro da sua comunidade, preservando os hábitos locais, com campanhas de limpeza, consumindo mais o que é da terra e menos produtos industrializados, assim como denunciando crimes ambientais que venha a testemunhar.

BKM, 2021. Listamos os 7 principais tipos de poluição e seus impactos para a sociedade. https://blog.bkmambiental.com.br/tipos-de-poluicao, s.n.

Branco, S. M. & Rocha, A. A., 1987. Poluição - A morte de nossos rios. 2ª ed. São Paulo, s.n.

Calenga, D., 2020. O meio ambiente e a sociedade. Revista Business Trace, pp. 39-41.

Campello, F. A., 2023. Poluição: causas, consequências e soluções. 1.ª ed. São Paulo: Editora Senac.

Dapper, S. N., Spohr, C. & Zanini, R. R., 2016. Poluição do ar como fator de risco para saúde: uma revisão sistemática no estado de São Paulo. Rev. Est. Avançados, 30(86).

Derisio, J. C., 2017. Introdução ao controle de poluição ambiental. 5.ª ed. São Paulo: Oficina de textos.

FAO, 2022. Solos saudáveis para as pessoas e para o planeta: FAO pede reversão da degradação do solo., s.l., s.n.

Ganzleben, C., Gonzalez, A. & Peris, E., 2021. Saúde e ambiente, incluindo poluição atmosférica e sonora, salientando o trabalho da EAE. pp. www.eae.europa.eu/pt/article/saude-e-ambiente-incluindo-poluicao. Hancock, T., 1993. Health, human development and the community ecosystem: three ecological models. Health promotion international, 8(1), pp. 41-47. Jornal, d. A., 2022. Quase 500 milhões de africanos vivem sem segurança da água, pp. www.jornaldeangola.ao/ao/noticias/poluicao-do-ar-causa-9-milhoes-de-mortes/. Jornal, d. A., 2022. Poluição do ar causa 9 milhões de mortes. pp. www.jornaldeangola.ao/ao/,oticias/poluicao-do-ar-causa-9-milhoes-de-mortes/.

Lisboa, I. & Rodrigues, P., 2013. Poluição atmosférica e efeitos na saúde humana. Rev. Egitania Sciencia, Volume 13. Nathanson, J. A., 2022. Poluição da água, https://www.britannica.com/science/water-pollution: Enciclopédia Britânica. Nogueira, M. J. G. N., 2022. Série socializando saberes: silêncio! Poluição sonora é crime. Universidade Federal do Recöncavo da Bahia. Organização Mundial da Saúde, 2022. Poluição do ar, www.who.int/gho/data/themes/theme-details/GHO/air-pollution, s.n. Russel, V. S., 1974. Poluição: conceito e definição. Conservação Biológica, 6(3), pp. 157-161.

United Nations University- Institute for Water, E. a. H., 2022. Water security in Africa, https://inweh.unu.edu/water-security-in-africa-a-preliminary-assessment/, s.n. United Nations, 2022. World populations is breathing unsafe air, says WHO. UN News Global Perspective Human Stories.

Viana, A. M., 2015. Poluição ambiental, um problema de urbanização e crescimento desordenado das cidades. Rev. Sustinere, 3(1). World Health Organization, 1989. Environmental and health, the european charter and commentary. Frankfurt, s.n. World Health Organization, 2022. World health statistics 2022: monitoring health for the SDGs, sustainable development goals., s.l., s.n.

59 SAÚDE

CANCRO DO PULMÃO: A PRINCIPAL CAUSA DE MORTE POR CANCRO

O CANCRO DO PULMÃO É A PRINCIPAL CAUSA DE MORTES RELACIONADAS COM O CANCRO EM TODO O MUNDO, SENDO RESPONSÁVEL PELAS TAXAS DE MORTALIDADE MAIS ELEVADAS ENTRE HOMENS E MULHERES. O TABAGISMO É A PRINCIPAL CAUSA DE CANCRO DO PULMÃO, RESPONSÁVEL POR APROXIMADAMENTE 85% DE TODOS OS CASOS. O CANCRO DO PULMÃO É FREQUENTEMENTE DIAGNOSTICADO EM FASES AVANÇADAS, QUANDO AS OPÇÕES DE TRATAMENTO SÃO LIMITADAS. O RASTREIO DE INDIVÍDUOS DE ALTO RISCO PODE PERMITIR A DETECÇÃO PRECOCE E MELHORAR DRASTICAMENTE AS TAXAS DE SOBREVIVÊNCIA. A PREVENÇÃO

PRIMÁRIA, COMO AS MEDIDAS DE CONTROLO DO TABAGISMO E A REDUÇÃO DA EXPOSIÇÃO A FACTORES DE RISCO AMBIENTAIS, PODE REDUZIR A INCIDÊNCIA DO CANCRO DO PULMÃO E SALVAR VIDAS.

A1 de Agosto, celebra-se o Dia

Mundial do Cancro do Pulmão, chamando a atenção para uma patologia muito comum e tantas vezes com mau prognóstico. O cancro do pulmão é um tipo de cancro que começa quando as células anormais crescem de forma descontrolada nos pulmões. É um grave problema de saúde que pode causar danos graves e morte. Os sintomas do cancro do pulmão incluem tosse que não desaparece, dor no peito e falta de ar.

É importante procurar assistência médica precocemente e para evitar efeitos graves para a saúde. Os tratamentos dependem da história médica da pessoa e do estágio da doença.

Os tipos mais comuns de cancro do pulmão são o carcinoma de não pequenas células (CPNPC) e o carcinoma de pequenas células (CPPC). O CPCNP é mais comum e cresce lentamente, enquanto o

60 SAÚDE
ANÁLISE

CPPC é menos comum, mas muitas vezes cresce rapidamente.

O cancro do pulmão é um importante problema de saúde pública, causando um número considerável de mortes, a nível mundial. As estimativas do GLOBOCAN 2020 sobre a incidência e mortalidade por cancro produzidas pelo Centro Internacional de Investigação do Cancro (CIIC) mostram que o cancro do pulmão continua a ser a principal causa de morte por cancro, com uma estimativa de 1,8 milhões de mortes (18%) em 2020.

Fumar (incluindo cigarros, charutos e cachimbo) é o principal factor de risco para o cancro do pulmão. Outros factores de risco incluem a exposição ao fumo passivo, riscos profissionais (como exposição a amianto, radão e determinados produtos químicos), poluição atmosférica, síndromes oncológicas hereditárias e doenças pulmonares crónicas prévias.

Sintomas

O cancro do pulmão pode causar vários sintomas que podem indicar um problema. Os sintomas mais comuns incluem tosse que não desaparece, dor no peito, dificuldade em respirar, tosse com sangue (hemoptise), fadiga, perda de peso sem causa conhecida e infecções pulmonares que não param de voltar.

Os primeiros sintomas podem ser leves ou descartados como problemas respiratórios comuns, levando a um diagnóstico tardio.

O tratamento precoce pode evitar que o cancro do pulmão se agrave e se espalhe para outras partes do corpo.

A prevenção do cancro do pulmão inclui medidas de prevenção primária e secundária. A prevenção primária visa prevenir a ocorrência inicial de uma doença através da redução dos riscos e da promoção de comportamentos saudáveis. Na saúde pública, estas

61 SAÚDE

medidas preventivas incluem a cessação tabágica, a promoção de ambientes sem fumo, a implementação de políticas de controlo do tabaco, a abordagem dos riscos profissionais e a redução dos níveis de poluição atmosférica. A prevenção secundária do cancro do pulmão envolve métodos de rastreio que visam detectar a doença nas suas fases iniciais, antes dos sintomas se tornarem aparentes e poderem ser indicados para indivíduos de alto risco. Nessa população, a detecção precoce pode aumentar significativamente as possibilidades de sucesso do tratamento e melhorar os resultados. O principal método de rastreio do cancro do pulmão é a tomografia computorizada de baixa dose (LDCT).

Diagnóstico

Os métodos de diagnóstico para o cancro do pulmão incluem exame físico, imagem (radiografias ao tórax, tomografia computadorizada e ressonância magnética), exame do interior do pulmão usando uma broncoscopia, colecta de uma amostra de tecido (biópsia) para exame histopatológico e definição do subtipo específico (CPCNP versus CPPC) e testes moleculares para identificar mutações genéticas específicas ou biomarcadores para orientar a melhor opção de tratamento.

Os tratamentos para cancro do pulmão são baseados no tipo de cancro, quanto se espalhou e histórico médico da pessoa. Os tratamentos incluem cirurgia, radioterapia (radiação), quimioterapia, terapêutica direccionada e imunoterapia.

O tratamento primário para o cancro do pulmão em fase inicial (ou seja, tumor limitado ao pulmão, sem disseminação metastática para órgãos distantes ou gânglios linfáticos), é a remoção cirúrgica através de procedimentos como lobectomia, segmentectomia ou ressecção em cunha. A terapêutica neoadjuvante (quimioterapia e/ou radioterapia antes da cirurgia) pode ajudar a reduzir o tamanho do tumor, tornando-o mais fácil de gerir para a remoção cirúrgica. O tratamento adjuvante (quimioterapia e/ou radioterapia) é frequentemente recomendado após a cirurgia para reduzir o risco de recorrência do cancro.

Nos casos em que a cirurgia não é viável, a radioterapia ou radioterapia corporal estereotáxica (SBRT) pode ser usada como tratamento primário. A terapêutica direccionada e a imunoterapia também podem ser consideradas com base nas características específicas do tumor. O tratamento para o cancro do pulmão em estágio metastático, onde o cancro se espalhou para órgãos distantes ou gânglios linfáticos, é baseado em vários factores, incluindo a saúde geral do paciente, a extensão e localização das metástases, histologia, perfil genético e preferências individuais. O objectivo principal é prolongar a sobrevivência, aliviar os sintomas e melhorar a qualidade de vida. As terapias sistémicas, tais como quimioterapia, terapia-alvo e imunoterapia, desempenham um papel crucial no tratamento do cancro do pulmão metastático.

A quimioterapia é, muitas vezes, o tratamento de primeira linha para a maioria dos pacientes em todo o mundo e envolve o uso de fármacos que circulam por todo o corpo para matar as células cancerosas. Esquemas de quimioterapia combinada são comumente usados e a escolha de medicamentos depende de factores como o tipo histológico do cancro e as condições gerais de saúde do paciente. A terapia-alvo, concebida para bloquear as vias de sinalização que impulsionam o crescimento das células cancerígenas, é uma opção importante para doentes com mutações genéticas específicas ou biomarcadores identificados no tumor. A imunoterapia, especificamente os inibidores de checkpoint imunológicos, revolucionou o tratamento do cancro do pulmão metastático. Estes medicamentos ajudam a estimular o sistema imunitário a reconhecer e atacar as células cancerosas.

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MAIOR FLEXIBILIDADE E

LIBERDADE
MOVIMENTOS A SUA A JUDA NA S C AMINHADA S DO DIA A DIA advancisp Advancis® Jointrix Ultra, Advancis® Jointrix Plus e Advancis® Jointrix SOS são suplementos alimentares Não substituem um regime alimentar variado e equilibrado e um modo de vida saudável A vitamina C contribui para a normal formação de colagénio para funcionamento normal dos ossos e das car tilagens O manganês contribui para a manutenção de ossos normais e também para a normal formação de tecidos conjuntivos Uma dose diária de Advancis® Jointrix Advancis® Jointrix Active Gel é um Dispositivo Médico Antes de utilizar leia cuidadosamente a rotulagem e as instruções de utilização Não deve ser usado em crianças com idade inferior a 6 anos em grávidas ou a amamentar Não deve DISPOSI T I VO MÉDI CO MF22/AD V JT/3/1 03/22 BE M- E S TA R DOS OSSOS E DA S A R T IC U L AÇÕE S
DE

INVESTIGAÇÃO EXPLICA COMO A POLUIÇÃO CAUSA CANCRO DO PULMÃO AOS NÃO FUMADORES

64 SAÚDE
NOTÍCIA

UMA EQUIPA DE INVESTIGADORES DO INSTITUTO FRANCIS CREEK, DE LONDRES, E DA UNIVERSIDADE DA CALIFÓRNIA, EM SÃO FRANCISCO, RELACIONOU O CANCRO DO PULMÃO, MESMO EM NÃO FUMADORES, COM O CHAMADO MATERIAL PARTICULADO (PM), OU SEJA, A POLUIÇÃO POR PARTÍCULAS.

Até ao momento, pensava-se que os agentes cancerígenos do meio ambiente produziam mutações no ADN e que era essa agressão genética que, posteriormente, promovia o desenvolvimento de tumores. Mas um novo estudo mostra como a poluição por partículas actua como promotora de cancro em pessoas saudáveis.

“Este trabalho demonstra um novo paradigma de como o cancro aparece”, resume o oncologista Charles Swanton, investigador do Francis Crick Institute, em Londres, e principal autor do estudo, no qual participaram dezenas de cientistas da Europa, Ásia e América do Norte.

“A poluição do ar mata oito milhões de pessoas por ano em todo o mundo.

Destes, cerca de 300 mil morrem de cancro do pulmão”, diz o autor. O estudo sugere que bastam apenas três anos a respirar ar poluído para que a incidência de cancro do pulmão dispare em pessoas não fumadoras. Algumas partículas, como o pó ou a fuligem, são suficientemente grandes para serem detectadas à vista desarmada. Outras, porém, como as PM₁₀ ou as PM₂.₅ (com tamanhos de dez e 2,5 micrómetros, respectivamente) só são visíveis ao microscópio.

Especialmente as partículas mais finas (PM₂.₅), podem entrar profundamente nos pulmões. Foi por isso que o Dr. Charles Swanton e os seus colegas decidiram investigar a relação entre a exposição a estas partículas e a mutação de dois dos genes associados com maior frequência ao cancro do pulmão: EGFR e KRAS. Ao analisar 32.957 pacientes com cancro do pulmão provocados pela mutação do gene EGFR em quatro países diferentes, encontraram uma relação directa entre este tipo de cancro e as PM₂.₅.

65 SAÚDE

“UMA VIDA, UM FÍGADO”

NO DIA MUNDIAL DAS HEPATITES, A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS)

APELA AO REFORÇO DO RASTREIO E DO TRATAMENTO DAS HEPATITES VIRAIS, ALERTANDO QUE, SE AS ACTUAIS TENDÊNCIAS DE INFECÇÃO CONTINUAREM, PODERÃO MATAR MAIS PESSOAS ATÉ 2040 DO QUE A MALÁRIA, A TUBERCULOSE E O VIH JUNTOS.

As hepatites provocam lesões hepáticas e cancro e ceifam a vida a mais de um milhão de pessoas por ano. Dos cinco tipos de hepatite, os tipos B e C são os que causam mais doenças e mortes. Embora a hepatite C possa ser curada, apenas 21% das pessoas infectadas é diagnosticado e 13% recebeu tratamento curativo. Quanto à hepatite B crónica, apenas 10% das pessoas infectadas é diagnosticado e somente 2% destas recebe medicação.

66 SAÚDE
NOTÍCIA

Sob o lema “Uma vida, um fígado”, a OMS sublinha este ano, no âmbito do Dia Mundial das Hepatites, a importância de proteger o fígado contra a hepatite, para levar uma vida longa e saudável. Uma boa saúde do fígado também beneficia outros órgãos vitais, como o coração, o cérebro e os rins, que dependem do fígado para funcionar.

“Há milhões de pessoas em todo o mundo com hepatite não diagnosticada e não tratada, apesar de termos melhores ferramentas de prevenção, diagnóstico e tratamento. A OMS continua empenhada em ajudar os países a aumentar a utilização destas ferramentas, em particular de medicamentos cada vez mais eficazes em termos de custos, para salvar vidas e acabar com estas doenças”, afirma o Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, director geral da OMS.

A OMS emitirá orientações para acompanhar o ritmo a que os países estão a fazer progressos no combate a estas doenças, até 2030. Para reduzir as novas infecções e mortes por hepatite B e C, os países devem fornecer tratamento para todas as mulheres grávidas infectadas e vacinas contra a hepatite B para os seus filhos ao nascer, além de diagnosticar 90% das pessoas com hepatite B ou C e tratar 80% das diagnosticadas. Outras medidas importantes incluem assegurar transfusões de sangue em condições ideais, respeitar as precauções de segurança ao administrar injectáveis e agir para reduzir o risco de danos.

Vacinação, testes e tratamentos

A vacinação das crianças contra a hepatite B é essencial para limitar as hepatites virais, em geral. Embora esta seja a única meta de saúde dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que foi alcançada em 2020, e esteja a caminho de ser alcançada até 2030, muitos países africanos não têm vacinas contra a hepatite B administradas aos recém-nascidos. A retoma estratégica de investimento em vacinas lançada pela Aliança da Vacina (Gavi) em 2018 reactivará os programas de vacinação de recém-nascidos na África Ocidental e Central, onde as taxas de transmissão de mãe para filho da hepatite B permanecem muito altas.

A OMS recomenda testar todas as mulheres grávidas durante a gravidez para a hepatite B, tratá-las se testarem positivo e vacinar os recém-nascidos para ajudar a eliminar a transmissão de mãe para filho. No entanto, a OMS explica num relatório recentemente publicado que, dos 64 países que têm regulamentos destinados a eliminar a transmissão da hepatite B de mãe para filho, apenas 32 realizam actividades de rastreio e tratamento destas infecções em clínicas prénatais.

O relatório revela ainda que em 80% dos 103 países que responderam ao questionário os testes e tratamento para a hepatite B são feitos em unidades de cuidados para o VIH, em comparação com 65% para a hepatite C. Uma maior expansão dos testes e do tratamento da hepatite, ao abrigo dos programas de VIH, protegerá as pessoas que vivem com o VIH da cirrose hepática e do cancro do fígado. Nos últimos anos, o número de pessoas que têm acesso a tratamentos para a hepatite C tem vindo a aumentar, mas esta tendência está a abrandar.

DOS CINCO TIPOS DE HEPATITE, OS TIPOS B E C SÃO OS QUE CAUSAM

MAIS DOENÇAS E MORTES. EMBORA A HEPATITE C POSSA SER CURADA, APENAS 21% DAS PESSOAS INFECTADAS É DIAGNOSTICADO

E 13% RECEBEU TRATAMENTO

CURATIVO. QUANTO À HEPATITE B

CRÓNICA, APENAS 10% DAS PESSOAS INFECTADAS É DIAGNOSTICADO

E SOMENTE 2% DESTAS RECEBE MEDICAÇÃO

A OMS propõe aproveitar as reduções nos preços dos medicamentos para impulsionar a expansão desses tratamentos. Um regime de 12 semanas para curar a hepatite C em países de baixa renda custa agora 60 dólares, comparativamente aos mais de 90 mil dólares quando foi introduzido, pela primeira vez, em países de renda mais alta. Para a hepatite B, o tratamento custa menos de 30 dólares por ano (2,4 dólares por mês).

Para manter a saúde do fígado, a OMS recomenda o rastreio e o tratamento da hepatite quando uma destas infecções é diagnosticada, além da vacinação contra a hepatite B. Também é importante reduzir o consumo de álcool, manter um peso saudável e controlar a diabetes e a hipertensão.

67 SAÚDE

A SUFICIÊNCIA DO ESTUDO, EXISTE? R: NÃO, NÃO EXISTE.

APESAR DAS IDEIAS EVOLUCIONISTAS

SEREM DA REFLEXÃO DE VÁRIOS CIENTISTAS, O MUNDO CONSIDERA JEAN

BAPTISTA DE MONET, CAVALEIRO DE LAMARK (1744-1829), O VERDADEIRO

FUNDADOR DA TEORIA DA EVOLUÇÃO, TENDO DADO A EXPLICAÇÃO DA EVOLUÇÃO DAS ESPÉCIES QUE OS ORGANISMOS TENDEM A PERFEIÇÃO.

QUANDO O AMBIENTE SE ALTERA, O ORGANISMO TEM TENDÊNCIA A ADAPTAR-

SE-LHE, USANDO MAIS DETERMINADOS ÓRGÃOS E DEIXANDO DE USAR OUTROS.

PORTANTO, NÃO EXISTE A SUFICIÊNCIA

DO ESTUDO, PORQUE O ESTUDO ACELERA

A ACÇÃO DOS RESULTADOS NOS NOSSOS COMPORTAMENTOS, DIA APÓS DIA.

68 SAÚDE RUBRICA REGULAMENTAR

É verdade, é necessário fortalecermonos, dia após dia. Se não formos abrindo aleatoriamente um ou outro conhecimento não conclusivo, ou específico, não teremos contextos actualizados ou bem percebidos por falta de um dicionário. Educação é engradecer o conhecimento de algo ou enaltecer por aquilo que se desafia a ser ou alcançar.

O estudo constante e contínuo possibilita ver e ser visto pela sociedade, academia dos profissionais, no local de trabalho e, por fim, em casa, que é onde também somos avaliados, todos os dias.

Precisamos perguntar-nos como, onde e de que forma ou maneira precisamos servir?

Técnica Média de Farmácia pelo IMS de Luanda. Licenciada pela Universidade Jean Piaget de Angola/Ciências Farmacêuticas. Agente de Segurança Higiene e Saúde no Trabalho. Directora Técnica da Australpharma

Éverdade, o estudo não é estático, é dinâmico, é o fundamento de todos aqueles que mergulham e vivem na descoberta constante de novas fórmulas e espécies. “Nós somos aquilo que fazemos repetidamente. Excelência, portanto, não é um acto, mas sim um hábito” (Aristóteles). Devemos mergulhar no sistema de gestão da qualidade contínua, pois acelera a acção de toda e qualquer descoberta que nos propomos fazer. Alcançamos os resultados que nos levam a respostas esperadas e a outras surpreendentes quando não nos conformamos com o que temos ou já alcançámos. A dinâmica orientada para a satisfação, com base na adopção das melhores práticas, envolvendo pessoas, processos, infraestruturas e as partes interessadas relevantes, num movimento de melhoria contínua de criação de valor.

O profissional não está a olhar para quem é, mas para o que pode ser. Somos o campo de transformação, da vida real e não aparente. Para poder existir, precisamos de estar conectados com o saber e estar direccionados. Porque temos ego, o que faz com que não consigamos desenvolver o poder de aprofundar mais.

Existe o impacto da nossa vida sobre as pessoas que servimos. Devemos entender que não podemos estar prontos para uma coisa nova. O novo é novo, não existe a experiência prévia dessa vivência, então, devemos ser a experiência para outros. Um fármaco não é o que se dá ao homem. O que realmente é administrado é um preparado (medicamento ou forma farmacêutica), o qual contém um fármaco.

69 SAÚDE
Dra. Zola Mayamputo João

COMPETÊNCIAS

Logística e Distribuição Farmacêutica

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