Tecnosaúde #4 - Janeiro/Fevereiro

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Nº 04

Janeiro/Fevereiro 2021

DISTRIBUIÇÃO GRÁTIS

PUBLICAÇÃO DIGITAL BIMESTRAL

DOENÇAS RARAS

Vamos falar de Hemofilía

CANCRO

A IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO PRECOCE O MÉDICO RESPONDE

Contraceptivos orais vs cancro: Verdade ou mito?


ÍNDICE SAÚDE, PARA SI

03 04 06 Dra. Nádia Noronha Directora Executiva da Tecnosaúde

Entrámos, finalmente, em 2021, mas a palavra pandemia não deixou de existir, nem tão pouco a situação em si. Ao contrário do que todos pensavam, ou sonhavam, a Covid-19 ainda terá destaque nas nossas vidas durante os próximos meses, quiçá anos, e as variantes que surgiram, e podem vir a surgir, garantem isso mesmo. A exaustão que está expressa em muitos de nós, seja ela física ou psicológica, é um alarme constante para dizermos PÁRA! Urge, assim, cada vez, mais a necessidade do cuidado. Cuidarmos de nós, cuidarmos das nossas pessoas, dos nossos familiares e das nossas equipas. Do nosso corpo e da nossa mente. Do nosso lar, composto por pessoas, objectos, sentimentos e laços. Urge pararmos e constatarmos o que pode ser feito, o que tem de ser feito, porque o cuidado nunca teve tamanho significado como agora. Precisamos de ter tempo e de dar tempo. Precisamos de saber interpretar sinais de que algo não está bem connosco, com os nossos, para sermos ágeis, para prevenirmos, para ganharmos tempo e qualidade de vida, para nós e para as nossas pessoas. É tempo de cuidar. É tempo de mudar. Porque a Covid-19 não é a vida, nem a vida é só a Covid-19. A noção de saúde e bem-estar é muito mais lata do que isso. Esta quarta publicação da Tecnosaúde, focada no cancro e nas doenças raras, como, por exemplo, a hemofilia, visa a partilha de conteúdos entre os profissionais de saúde e deixa uma mensagem de esperança. Cuidar faz, maioritariamente, a diferença. Não se esqueça deste importante repto. Já cuidou de si e dos seus, hoje?

2 SAÚDE

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Tempo de cuidar

REPORTAGEM Consulta telefónica: acompanhar os pacientes à distância

Epilepsia, sabe o que é?

Cancro do colo do útero

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REPORTAGEM Dr. Luís Bernardino fala sobre a Hemofilia em Angola

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Cancro infantil: um temática delicada. Em Fevereiro assinala-se o Dia Internacional da Criança com Cancro.

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EDITORIAL

O Médico Responde a relação entre os anticoncepcionais orais com a maior e menor exposição a determinados tipos de cancro Pele bronzeada, pele protegida. Todo o ano

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REPORTAGEM Covid-19 e vacinação. Problema resolvido?

Propriedade e Editor: Tecnosaúde, Formação e Consultoria Nacionalidade: Angolana Edifício Presidente Business Center Largo 17 de Setembro, n.º3 - 2.º andar, sala 224, Luanda, Angola Directora: Nádia Noronha E-mail: nadia.noronha@tecnosaude.net Sede de Redacção: Edifício Presidente Business Center Largo 17 de Setembro, n.º3 - 2.º andar, sala 224, Luanda, Angola Periodicidade: Bimestral Suporte: Digital http://www.tecnosaude.net/pt-pt/


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SAÚDE


REPORTAGEM

CONSULTA TELEFÓNICA: ACOMPANHAR OS PACIENTES À DISTÂNCIA

A PANDEMIA DE COVID-19 EXIGIU QUE A MAIORIA DOS SERVIÇOS SE READAPTASSE E REDEFINISSE ESTRATÉGIAS. SE, ATÉ 2020, O CONTACTO FÍSICO E PRESENCIAL ERA ESSENCIAL, COM O APARECIMENTO DO VÍRUS, O DISTANCIAMENTO SOCIAL IMPÔS-SE ENTRE TODOS E VÁRIAS FORAM AS MUDANÇAS NA SOCIEDADE. AS CONSULTAS MÉDICAS NÃO FORAM EXCEPÇÃO E TAMBÉM ESTAS SOFRERAM GRANDES ALTERAÇÕES.

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m todo o mundo, a prática da telemedicina sofreu uma forte expansão. Com o distanciamento social imposto, inúmeras foram as consultas externas canceladas e o foco passou para os doentes Covid. No entanto, as outras doenças não deixaram de surgir e manteve-se a necessidade de realizar o devido acompanhamento aos utentes. É aqui que surge a consulta telefónica. Este é um acto médico em que o clínico efectua uma chamada telefónica ao seu utente, abordando determinados assuntos relevantes que seriam tratados numa consulta presencial. Quais as vantagens? As consultas telefónicas podem trazer inúmeras vantagens para o utente. Nomeadamente, aumentar a acessibilidade destes a informação e cuidados, reduzir listas de espera para as consultas com os médicos, bem como reduzir os custos e as deslocações para os centros médicos e hospitais. Alguns estudos clínicos já demonstraram o nível de satisfação das teleconsultas dos utentes, sendo muito idêntico ao das consultas presenciais. Numa época de pandemia, estas teleconsultas protegem o utente e toda a sua família da contaminação por SARS-CoV-2.

4 SAÚDE


A consulta em 7 passos De forma a realizar-se uma consulta telefónica, o profissional deve estar preparado e deve estruturar a sua intervenção, com o objectivo de alcançar o maior sucesso terapêutico e abertura do utente. É importante que, numa fase inicial, o profissional de saúde se prepare, reunindo toda a informação possível acerca do utente. O passo seguinte passa por tentar estabelecer uma relação de confiança com este. Esta relação, por vezes, é dificultada ao telefone. Questionar o utente, de forma a explorar os problemas, é a terceira fase da consulta. Quando o profissional já tem consigo toda a informação necessária, está na altura de avaliar o utente e a situação clínica. O quinto passo é o de estabelecer um plano de acção, encorajando e capacitando o utente a tomar medidas. Por fim, é o momento em que o utente sente que foi ouvido e que o seu problema será resolvido e, aí, poderse-á encerrar a chamada. Após a chamada, o profissional deve completar o registo

clínico do utente, realizando um resumo da consulta. A transmissão de mensagens claras e com um tom de voz adequado é fulcral para o sucesso da teleconsulta. Uma etapa que pode ser facilmente comprometida e a que o profissional de saúde deve estar atento prende-se com a interpretação que o utente faz e a sua compreensão. Deste modo, o profissional deve repetir, de diversas formas, a mesma informação, sumarizando-a e garantindo, assim, que a esta foi bem compreendida por parte do utente. É importante referir que, durante a consulta, o profissional deve estar apto para realizar os registos clínicos de qualidade enquanto ouve o utente. Para isso, o recurso a auriculares ou ao modo de alta voz do telefone permite libertar as mãos do profissional e realizar uma consulta mais completa. Em suma, a consulta telefónica é uma nova modalidade de prática clínica eficiente e segura, mas, acima de tudo, muito promissora por todas as vantagens mencionadas, tornando-se num óptimo complemento à prática presencial.

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TEMA DE CAPA REPORTAGEM

EPILEPSIA, SABE O QUE É?

ASSOCIADA A POSSESSÕES DIVINAS E DEMONÍACAS, OU ATÉ MESMO À LOUCURA, A EPILEPSIA SURGIU NA HISTÓRIA COMO UMA DOENÇA COM VÁRIAS DEFINIÇÕES E TRATAMENTOS. SENDO UMA DOENÇA MUITO ESTIGMATIZADA, MUITOS SENTEM UM PRECONCEITO ENORME POR SEREM PORTADORES DESTA PATOLOGIA, TORNANDO-SE RESISTENTES A ADMITIR A MESMA E A ACEITAR UM TRATAMENTO ADEQUADO.

6 SAÚDE


Algumas síndromes epilépticas, que envolvem tipos de crises focais e generalizadas (por exemplo, síndrome de Dravet e de LennoxGastaut), foram incluídas na epilepsia focal e generalizada combinada. Quando temos eventos epilépticos, em que as informações sobre o tipo de crise e o paciente são insuficientes, são classificados como desconhecidos. (2) Torna-se importante diferenciar uma crise epiléptica de epilepsia, uma vez que a crise é um episódio pontual, enquanto que a epilepsia é a doença em que a pessoa tem, pelo menos, uma crise na sua vida e predisposição para continuar a apresentar novas crises. A epilepsia pode ser genética? Vários estudos associaram determinados genes a alguns tipos de epilepsia. O risco de E o tratamento? um indivíduo herdar epilepsia vai depender do oi Hipócrates, o pai da medicina, quem Quando nos referimos ao tratamento este deve altamentesofram personalizado, tipodadeepilepsia, epilepsia que osser familiares e passou a afirmar que a epilepsia da idade com que começaram a desenvolver não tinha origemdevendo-se divina, sagrada ou ter em consideração os seus próprios riscos, assim como o das crises convulsivas. a doença. Outros indivíduos não herdam os demoníaca, mas, sim, que o cérebro era o Devido aos efeitos secundários que a maioria dos antiepilépticos é necessário genes da epilepsia, contudo,apresenta, herdam uma forma responsável pela doença. (1) leve de convulsão. uma série de factores, tais como, a idade do paciente, as características dos ataques, Actualmente, sabe-seponderar que a epilepsia é uma Sabe-se que, relativamente à hereditariedade, doença causada pela os alteração dos sinais factores associados e o contexto social e profissional. apenas 15 em 100 crianças com pais com cerebrais, ou seja, é uma doença neurológica Na década de 90, foram desenvolvidos mais de 10 fármacos antiepilépticos. Actualmente, epilepsia herdam esta patologia. que envolve o sistema nervoso. Esta alteração O conhecimento de todos genes é responsável por desmaios, contracções existem mais de 20, alguns deles em estudos clínicos. Estas moléculasos mais recentes, tais como responsáveis pela epilepsia hereditária ainda musculares e uma respiração mais ofegante. a vigabatrina, zonisamida, topiramato, levetiracetam, lamotrigina, entre outras, têm efeitos tem um caminho longo a percorrer, dada a A epilepsia é, hoje em dia, classificada em adversos menos graves e são superiores em termos de interacções medicamentosas, segundo complexidade e ao grande número de genes quatro tipos: focal, generalizada, combinada estudos clínicos (2). envolvidos. generalizada e focal ou desconhecida.

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Na maior parte das vezes, o tratamento inicia-se com a dose mais baixa do fármaco, ajustandose posteriormente a dose de forma gradual, de acordo com a resposta clínica.

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E o tratamento? Quando nos referimos ao tratamento da epilepsia, este deve ser altamente personalizado, devendose ter em consideração os seus próprios riscos, assim como os das crises convulsivas. Devido aos efeitos secundários que a maioria dos antiepilépticos apresenta, é necessário ponderar uma série de factores, tais como a idade do paciente, as características dos ataques, os factores associados e o contexto social e profissional. Na década de 90, foram desenvolvidos mais de 10 fármacos antiepilépticos. Actualmente, existem mais de 20, alguns deles em estudos clínicos. Estas moléculas mais recentes, tais como a vigabatrina, zonisamida, topiramato, levetiracetam, lamotrigina, entre outras, têm efeitos adversos menos graves e são superiores em termos de interacções medicamentosas, segundo estudos clínicos (2). Na maior parte das vezes, o tratamento inicia-se com a dose mais baixa do fármaco, ajustandose, posteriormente, a dose de forma gradual, de acordo com a resposta clínica. É importante mencionar que as crises convulsivas se associam, muitas, vezes a elementos desencadeantes e que os profissionais de saúde

devem alertar os seus pacientes para estes, de forma a que sejam evitados, tais como: • • • • • • •

Stress; Ansiedade; Consumo excessivo de álcool; Tabaco; Alterações do ritmo circadiano; Cansaço; Estímulos muito intensos (por exemplo, a intensidade da luz ou do som); • Alterações hormonais na mulher. De facto, a epilepsia afecta diversas funções mentais e físicas, sendo uma patologia muito comum em todo o mundo. O tratamento permite, actualmente, que os pacientes vivam confortáveis com epilepsia, no entanto, para alguns pacientes, as convulsões não são controláveis, afectando a sua qualidade de vida em diversos níveis. O principal objectivo do tratamento não é curar a epilepsia, mas, sim, controlar a ocorrência das crises convulsivas. Para tal, a colaboração do paciente é fulcral, de forma a que haja uma boa adesão à terapêutica, mesmo aquando da ausência de convulsões.

(1) https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1676-26492006000500009 (2) https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7541973/

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O S. 1

D A O P S A 2 R A TIR N

PL SIM ES

ASSOCIAÇÃO FIXA RÁPIDA E EFICAZ2-4 DOR MODERADA AGUDA, FEBRE PERSISTENTE E INFLAMAÇÃO1 COMODIDADE E ADESÃO TERAPÊUTICA: 1 TOMA ÚNICA, APENAS 3X/DIA1 FÁCIL DE ADMINISTRAR: SERINGA DOSEADORA EM ML/KG1

R DI A

BIPARFEN é uma suspensão oral que contém 25 mg/ml de paracetamol + 20 mg/ml de ibuprofeno. A suspensão é esbranquiçada com sabor a laranja. Indicações terapêuticas: indicado em crianças, a partir dos 2 anos, no tratamento sintomático de curta duração de febre, dor ligeira a moderada e/ou inflamação, associadas a sintomas de gripes e constipações, dor de garganta, dor de cabeça, dor de dentes, dor muscular, dor nas costas, dor menstrual e enxaqueca. Este medicamento é especialmente indicado para a dor que requer um efeito analgésico mais forte do que o paracetamol ou o ibuprofeno em monoterapia. Posologia e modo de administração: Em adultos, a dose máxima diária não deve exceder 3000 mg para o paracetamol e 1200 mg para o ibuprofeno. Nas crianças, o paracetamol e o ibuprofeno são doseados de acordo com o peso corporal. A dose máxima diária para o paracetamol é de 60 mg/kg, até 2000 mg. A dose máxima diária para o ibuprofeno é de 30 mg/kg, até 1200 mg. A embalagem inclui uma seringa para uso oral, graduada em ml e em kg, correspondendo ao volume de suspensão oral e ao peso corporal da criança. Cada graduação de 1 kg equivale a 0,5 ml de suspensão oral (contendo 12,5 mg de paracetamol e 10 mg de ibuprofeno). A suspensão oral deve ser administrada de acordo com o peso corporal da criança, marcado na seringa. O intervalo entre as doses deve ser de, pelo menos, 6 horas. Não administrar mais de 3 doses em 24 horas. Contraindicações: O uso deste medicamento é contraindicado em doentes com hipersensibilidade conhecida ao paracetamol, ao ibuprofeno, a outros anti-inflamatórios não esteroides (AINE) ou a qualquer um dos excipientes; em uso concomitante com outros produtos que contenham paracetamol - risco aumentado de efeitos adversos graves; em uso concomitante com outros produtos que contenham AINE, incluindo inibidores específicos da ciclooxigenase-2 (COX-2) e doses de ácido acetilsalicílico superiores a 75 mg por dia - aumento do risco de reações adversas; em doentes que tenham apresentado asma, urticária ou reações do tipo alérgico após tomar ácido acetilsalicílico ou outro AINE; em doentes com história de hemorragia ou perfuração gastrointestinal, relacionada com terapêutica anterior com AINE; em doentes com ulceração/hemorragia péptica ativa ou história de ulceração/hemorragia péptica recorrente (dois ou mais episódios distintos de ulceração ou hemorragia demonstrada); em doentes com insuficiência hepática grave ou insuficiência renal grave; em doentes com insuficiência cardíaca grave (classe IV da NYHA); em doentes com hemorragia cerebrovascular ou outra hemorragia ativa; em doentes com perturbações na formação do sangue; durante o terceiro trimestre de gravidez; em crianças com menos de 2 anos de idade. Efeitos Indesejáveis: os ensaios clínicos com esta associação não indicaram quaisquer outros efeitos indesejáveis além dos referentes ao paracetamol ou ao ibuprofeno em monoterapia. Fertilidade, gravidez e aleitamento: Não há experiência de uso deste medicamento em mulheres grávidas. Consequentemente, BIPARFEN não deve ser utilizado durante os primeiros 6 meses de gravidez, a menos que os benefícios potenciais para o doente superem os possíveis riscos para o feto, e é contraindicado nos últimos 3 meses de gravidez. Não é necessário interromper a amamentação para um tratamento de curta duração com as doses recomendadas deste medicamento. O uso do medicamento pode comprometer a fertilidade feminina, não sendo recomendado em mulheres que estejam a tentar engravidar. Deve ser considerada a descontinuação do tratamento em mulheres com dificuldades para engravidar ou que estão a ser submetidas a investigação da infertilidade. Apresentação: BIPARFEN apresenta-se num frasco de vidro âmbar, de 100 ml, com uma seringa doseadora (6 ml de suspensão oral). Medicamento não sujeito a receita médica. Data da revisão do texto: 11/2020. Consultar o RCM completo para informação detalhada. Para mais informações relacionadas com o medicamento e questões médicas contactar a Secção de Assuntos Médicos de BIAL - Portela & Cª., S.A: Tel.: +351 229866100. Em caso de suspeita de um acontecimento adverso ou de outra informação de segurança, contactar a Secção de Farmacovigilância e Segurança do Medicamento - global de BIAL - Portela & Cª., S.A: Tel.: +351 229866100, email: farmacovigilancia@bial.com. Responsável pela colocação no mercado: BIAL – Portela & Cª, S.A - À Av. da Siderurgia Nacional • 4745-457 S. Mamede do Coronado – Portugal DMgMA_PT201130

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1 – Resumo das Características do Medicamento Biparfen®. 2 - Li, S. F., Lacher, B., & Crain, E. F. (2000). Acetaminophen and ibuprofen dosing by parents. Pediatric emergency care, 16(6), 394-397. 3 - Trippella, G., Ciarcià, M., de Martino, M., & Chiappini, E. (2019). Prescribing controversies: an updated review and meta-analysis on combined/alternating use of ibuprofen and paracetamol in febrile children. Frontiers in pediatrics, 7, 217. 4 - Hay, A. D., Costelloe, C., Redmond, N. M., Montgomery, A. A., Fletcher, M., Hollinghurst, S., & Peters, T. J. (2008). Paracetamol plus ibuprofen for the treatment of fever in children (PITCH): randomised controlled trial. Bmj, 337.

SAÚDE

BP/FEV21/PT/009

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VO O N

UM GESTO, TODOS OS CUIDADOS.


ENTREVISTA

Dra. Iryna Jacinto Médica especialista em cirurgia oncológica pela Fundação Pio XI; Directora Geral da Maternidade Irene Neto

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CANCRO DO COLO DO ÚTERO


pêra que é o colo uterino. Tem uma comunicação livre com a vagina. O principal factor de risco é a infecção persistente pelo HPV oncogénico. Ou seja, aquele que, pelas suas características, dada a persistência da infecção, pode levar ao desenvolvimento do cancro do colo uterino se não for tomada uma outra atitude médica que mude o curso da doença, passando por várias fases, que levam a alterações subtis do colo, configurando lesões pré-malignas que, se não tratadas a tempo, evoluem para cancro. O HPV é transmitido por via da relação sexual. O CANCRO DO COLO DO ÚTERO APRESENTA SEMPRE COMO PRIMEIRA CAUSA UMA INFECÇÃO POR UM VÍRUS: O HPV. AS ESTIRPES MALIGNAS, A INCIDÊNCIA EM ANGOLA E A IMPORTÂNCIA DA PREVENÇÃO SÃO ALGUNS DOS ASPECTOS ABORDADOS PELA DRA. IRYNA JACINTO.

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cancro do colo do útero tem sempre como primeira causa uma infecção por um vírus, o Papiloma Vírus Humano, habitualmente designado HPV. Sabemos que existem mais de 40 estirpes de HPV, no entanto, nem todas são malignas. Em que consiste o cancro do colo do útero, quais as estirpes malignas e a incidência em Angola? O cancro do colo uterino é uma patologia oncológica do fórum ginecológico, que acomete a porção distal do colo uterino. Se imaginarmos o útero em forma de pêra invertida, é a porção distal dessa

Estudos epidemiológicos identificaram vários factores de risco. Na sua opinião, quais os principais factores para o aparecimento do cancro do colo do útero? A minha opinião corrobora os estudos epidemiológicos, onde os factores de risco são as relações sexuais com múltiplos parceiros, aumentando o risco de infecção pelo HPV oncogénico, nas suas variadas estirpes. Em Angola, há um factor acrescido, tendo em conta a poligamia e o início precoce da vida sexual das meninas, sem protecção, sem informação e sem seguimento médico. Outros factores de risco são o consumo de tabaco, o uso prolongado (por mais de cinco anos) de anticoncepcionais orais, a imunosupressão (HIV, Lúpus) e a alta paridade. É possível que mulheres que tenham cancro do colo do útero preservem a sua fertilidade durante os tratamentos? A preservação da fertilidade depende do estadio da doença, se for uma doença in situ, ou inicial, até dois centímetros, se as pacientes não tiverem outros factores de risco associados. No primeiro caso, in situ, a conduta cirúrgica pode ser a conização, onde é a retirada uma porção

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do colo. Se for comprovada a ausência de doença, a paciente é seguida e há a manutenção da fertilidade. Em caso de carcinoma invasivo, se a lesão for até dois centímetros sem outros factores de risco, pode fazer-se uma cirurgia radical, com preservação de fertilidade e a probabilidade até 40% de engravidar após o procedimento, com a garantia de ausência da doença. Outro qualquer caso fora destes contextos não deixa essa possibilidade.

Quais os principais estadios do cancro do colo do útero? Na sua experiência, em qual deles costuma habitualmente encontrar as pacientes? Na minha experiência, infelizmente, os casos vêm já localmente avançados. Trata-se de um perfil de paciente que, por norma, não tem indicação de cirurgia, pois esta tem lugar nos estadios iniciais da doença. E a nossa conjuntura social, infelizmente, converge para que os casos cheguem, na sua esmagadora maioria, já muito avançados.

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Qual a importância de realizar um follow-up após os tratamentos? Durante quanto tempo deve ser realizado? Após tratamento, há necessidade de haver seguimento, pelo menos, até cinco anos, no caso do colo uterino, pois há probabilidade de a doença recidivar e essa probabilidade é maior nos primeiros dois anos. Onde o seguimento é trimestral, ou de quatro em quatro meses, até aos dois anos; depois semestral e, após os quatro anos, anual, com as devidas ressalvas, mas a grosso modo, e dentro do contexto Angola. Daí que, à medida que passam os anos, há também um espaçamento maior da frequência de seguimento. Mas este é fundamental e faz parte da sequência do tratamento. O seu objectivo é, eventualmente, gerir sequelas do tratamento e detectar precocemente uma possível recidiva. Qual o prognóstico para o futuro em Angola? Um programa de vacinação bem implementado poderá fazer a diferença? O prognóstico para o futuro em Angola está na dependência de um programa robusto sério e conjugado de medidas de prevenção, rastreio e tratamento da doença, de forma universal, de maneira a reduzir as mortes por este motivo. A campanha de vacinação é uma estratégia que, ao ser aplicada, pode dar muitos resultados no futuro. Mas temos em mãos um problema que já precisa de outras medidas, como o acesso ao tratamento, rastreio a grupos de risco, rastreio oportunista, divulgação massiva, educação para saúde, rastreio na consulta pré-natal, entre outras. Todas estas medidas conjugadas podem resolver problemas actuais, assim como a vacina pode evitar os futuros.


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ENTREVISTA

DOENÇAS RARAS HEMOFILIA 14 SAÚDE


Dr. Luís Bernardino Médico licenciado pela Universidade de Lisboa; Especialidade em Pediatria, Glasgow; Ex-Docente/Chefe do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade Agostinho Neto; Ex-Director do Hospital Pediátrico de Luanda

AS DOENÇAS RARAS SÃO CARACTERIZADAS POR UMA AMPLA DIVERSIDADE DE SINAIS E SINTOMAS, QUE VARIAM NÃO SÓ DE DOENÇA PARA DOENÇA, COMO TAMBÉM DE PESSOA PARA PESSOA ACOMETIDA PELA MESMA CONDIÇÃO. EXISTEM VÁRIAS DOENÇAS RARAS, NOMEADAMENTE, A HEMOFILIA QUE AFECTA MUITAS PESSOAS NO NOSSO PAÍS.

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omo é que a Hemofilia impacta a nossa sociedade? Estima-se que a Hemofilia A afecte uma em cada cinco mil crianças nascidas do sexo masculino e a Hemofilia B um em cada 25 mil rapazes. Portanto, deverá haver em Angola, aproximadamente, três mil doentes de Hemofilia A e 600 de Hemofilia B. Não são os números que se encontram na outra doença hereditária

prevalente em Angola, a Anemia de Células Falciformes, e acresce que, muitos deles, não são diagnosticados, porque implicam estudos de coagulação que não estão disponíveis na maioria dos laboratórios do território nacional. Na prática, só se identifica a doença em Luanda, onde o Hospital Pediátrico faz o seguimento de cerca de 100 crianças e jovens, a maioria de Luanda, mas também de algumas províncias, como o Huambo. Mas se fizermos as histórias familiares, detectamos a referência de casos da mesma e de anteriores gerações que tinham um quadro que deve corresponder a sequelas de Hemofilia. Esta falta de percepção e de diagnóstico torna a doença negligenciada pela sociedade, pelos meios de informação e, até mesmo, pelas autoridades. Ainda não há uma área dedicada à Hemofilia no programa das Doenças Não Infecciosas do MINSA. Convém, ainda, acentuar que, sendo uma doença do sexo masculino, as mulheres portadoras podem ter tendências hemorrágicas e há uma doença com apresentação semelhante à Hemofilia, a Doença de Von Wildebrand, que atinge o sexo feminino. Actualmente, que opções terapêuticas existentes no nosso país são mais eficazes para os doentes? A opção terapêutica consiste na administração endovenosa dos factores de coagulação (FC) em falta, VIII ou IX, extraídos do plasma de pessoas normais ou produzidos por bactérias em cultura de tecidos (recombinantes). Há outros medicamentos, como um agente fibrinolítico, o Ácido Tranexâmico e a Desmopressina, que podem ser úteis, mas não estão facilmente disponíveis. Os próprios FC VIII e IX, devido aos seus elevados preços, faltam com frequência nos hospitais públicos. Ultimamente, a WFH (Federação Mundial de Hemofilia) tem feito doações que têm sido de grande ajuda. O maior progresso recente, em termos de tratamento, foi o uso de um anticorpo monoclonal - EMICIZUMAB - que imita a acção do factor VIII na cascata da coagulação e permite tratar os doentes que criaram anticorpos contra este factor.

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diabéticos -, esperássemos que eles ficassem hiperglicémicos e acidóticos para lhes dar insulina, em lugar da prática corrente de lhes administrarmos profilacticamente insulina todos os dias. Os hemofílicos em tratamento profiláctico precisam de injecções duas ou três vezes por semana. Mas ainda não iniciámos o tratamento profiláctico, por termos reservas insuficiente de factores e falta de uma unidade que garanta as acções com continuidade.

Segundo a sua experiência, qual a melhor abordagem terapêutica que se deve ter com um doente hemofílico? Temos de ultrapassar a nossa incipiente acção, que se limita à administração de urgência dos FC quando os doentes recorrem ao hospital por hemorragia, criando um completo serviço de cuidados permanentes, que contemple diagnóstico, acompanhamento clínico, monitorização da doença e das suas sequelas, reabilitação e correcção ortopédica, quando necessário. O principal sintoma da Hemofilia é o sangramento, no entanto, o tratamento adequado irá reduzir as complicações. Qual a importância do tratamento profiláctico? Deve ser realizado por todos os doentes hemofílicos ou apenas em situações graves? O tratamento profiláctico é a abordagem racional desta doença e já é universal nos países mais desenvolvidos, que também já promovem o tratamento domiciliário, com os doentes a auto-injectar-se em casa, sem terem de se deslocar à unidade de saúde. A actual prática em Angola, e noutros países, de administrar os factores depois de um tempo maior ou menor após a hemorragia, resulta em sofrimento e, por vezes, alterações estruturais pelo sangue depositado nos tecidos que podem afectar os órgãos, nomeadamente, as articulações. Imagine que, numa situação similar de falência individual de uma substância vital para o metabolismo - a insulina nos doentes

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E quando estamos perante os casos refractários, como lidar com estes doentes? Os casos refractários são aqueles que deixam de responder à acção dos FC e vão necessitando de maiores e mais frequentes administrações dos mesmos. Esses doentes desenvolvem anticorpos contra os FC, os inibidores. Entre nós, estes casos estão mal estudados, porque ainda não utilizamos as técnicas para detecção e quantificação dos inibidores. A ocorrência de inibidores pode ser contrariada pelo uso de FC porcinos recombinantes, o uso de variantes de FVIII (bypassing agents), ou por técnicas de indução da imunotolerância. O uso de anticorpos monoclonais (EMICIZUMAB) surge como uma alternativa prática que, além do mais, tem duas vantagens: administra-se por via subcutânea, em lugar de endovenosa, e tem um tempo médio de vida maior do que o factor VIII, de forma que, se usado em profilaxia, aumenta o tempo entre duas injecções. Quais são as principais complicações da Hemofilia? Para além das hemorragias que podem ocorrer nas primeiras idades, às vezes antes da identificação da doença, e que podem pôr em perigo a vida do doente (hemorragias do cordão umbilical, grandes traumatismos acidentais, circuncisão, erupção dentária), a grande complicação para toda a vida são as hemorragias articulares que, quando não há profilaxia ou tratamento precoce, podem afectar gravemente a anatomia e função das grandes articulações, sobretudo o joelho, o cotovelo, o punho e o tornozelo e que afectam, com maior ou menor gravidade, a mobilidade e a função dos membros. Implicam reabilitação e, por vezes, correcção ortopédica.


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ENTREVISTA

CANCRO INFANTIL: UMA TEMÁTICA DELICADA EM FEVEREIRO COMEMORA-SE O DIA INTERNACIONAL DA CRIANÇA COM CANCRO. A IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO NA PREVENÇÃO DO CANCRO INFANTIL PELA VOZ DA DRA. ALBERTINA MANAÇA, MÉDICA ESPECIALISTA EM ONCOLOGIA.

F Dra. Albertina Manaça Médica especialista em oncologia clínica, responsável pela área da oncologia clínica do IACC

alar de cancro não é uma temática fácil. Ainda mais quando se trata de cancro infantil. Qual a importância do diagnóstico precoce no cancro infantil e como é que este é conseguido, visto que, muitas vezes, os sintomas se confundem com doenças benignas e frequentes da infância? O diagnóstico precoce é importante, pois vai ditar o prognóstico da doença. Dizemos que, quanto mais cedo for diagnosticado o cancro infantil, maior são as oportunidades de cura. Ou seja, se forem detectados cedo, aproximadamente 80% dos casos podem ser curados. Com certeza, o diagnóstico nem sempre é feito de forma atempada ou precoce, visto que os sintomas iniciais se confundem com outras patologias benignas. Assim, o diagnóstico é feito após os pais ou cuidadores destas crianças detectarem vários sintomas, como, por exemplo, febre ou sensação febril por muito tempo, inflamação da barriga “Baço”, emagrecimento inexplicado, surgimento dos gânglios (“ínguas”) a nível cervical, axilar e inguinal, entre outros, e procurarem o pediatra ou outro profissional de saúde. Consequentemente, de acordo com os sintomas, serão solicitados exames para chegar à conclusão de que tipo de cancro se trata. A nossa realidade mostra que a maior parte dos casos chega aos nossos serviços em estadios avançados. Que apoio deve ser dado às famílias e à criança com cancro? Todo o apoio possível, desde o tratamento até ao apoio psicológico e social. É importante a família estar por dentro de todos os pormenores da doença, como tratar, estadio e prognóstico. Se este paciente for adolescente, pode-se explicar tudo sobre a sua patologia. O tratamento do cancro é multidisciplinar.

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Segundo a sua experiência, quais os cancros mais comuns na infância? Os cancros infantis mais comuns são as leucemias, linfomas, retinoblastomas, tumor de Wilms (rim ou rins), tumores SNC e ossos. Quais as causas da doença oncológica na criança? As causas do cancro infantil ainda não são bem conhecidas. Existem vários factores de risco que contribuem para que uma determinada criança esteja mais susceptível de desenvolver ou não o cancro. Assim, cito alguns, como a radiação ou exposição medicamentosa durante a gravidez, factores genéticos/hereditariedade ou exposição a alguns vírus durante a primeira infância (Epstein-Barr, VIH). A exposição a alguns factores ambientais, segundo a literatura, ainda precisa de ser mais estudada, para se poder concluir se podem ser factores de risco para o desenvolvimento do cancro infantil. Na sua opinião, existe alguma relação entre hereditariedade e cancro infantil? Na minha humilde opinião, existe, embora possa não ser a maioria dos cancros. Alguns indivíduos (crianças) herdam alterações do DNA de um dos progenitores, que podem aumentar o risco de cancro, provocar síndromes ou outros problemas de saúde. Assim, a maioria dos cancros infantis não é provocada por alterações herdadas do DNA, mas, sim, muitas vezes, resultado das alterações do próprio DNA que, provavelmente, ocorrem antes do nascimento ou, mesmo, no início da primeira infância.

Qual a importância dos cuidados paliativos? Os cuidados paliativos no cancro infantil são de suma importância, pois servem para melhorar a qualidade de vida da criança e adolescente em qualquer fase do tratamento; controlar a dor e outros sintomas, através de diagnóstico precoce; oferecer um sistema de apoio para o paciente e família, com vista a lidar, de maneira possível, com a doença, assim como com o tratamento; acompanhar o luto, quando existe um vínculo estabelecido com os profissionais; e promover acções que facilitem à criança ou adolescente, ou aos familiares de exercer a sua espiritualidade, protegendo a sua autonomia e vontade. Quais os principais desafios que a medicina em Angola enfrenta na luta contra o cancro infantil? Os desafios são grandes, desde a falta de informações sobre o cancro infantil à dificuldade no diagnóstico precoce e um único hospital no tratamento de cancro, a nível do país. Na minha humilde opinião, sugiro que se aprove o Programa Nacional contra o Cancro, pois estarão espelhadas as políticas, metas, estratégia para prevenção, diagnóstico, tratamento e seguimento de todos os pacientes com cancro e, em especial, cancro infantil. Enquanto não se aprove, devemos, de forma organizada, principalmente os oncologistas, criar fóruns e falar mais sobre o cancro infantil, ir ao encontro da população (pais e cuidadores) e explicar os principais sinais de alerta dos principais cancros infantis, criar guidelines de como o paciente deve chegar, desde a Unidade Primária de Saúde até ao Hospital de Referência. De realçar que, no cancro infantil, fica difícil fazer a prevenção, tal como nos adultos. PUB

19 SAÚDE


CASO PRÁTICO

O MÉDICO RESPONDE Dra. Natércia de Almeida Médica especialista em ginecologia e obstetrícia; responsável da abertura do internato médico na província do Huambo

NESTA EDIÇÃO DA TECNOSAÚDE, CONVIDÁMOS A DRA. NATÉRCIA DE ALMEIDA A RESPONDER A ALGUMAS QUESTÕES SOBRE A IMPORTÂNCIA DOS ANTICONCEPCIONAIS ORAIS NA PREVENÇÃO DE GRAVIDEZES INDEJESADAS, ENTRE OUTROS EFEITOS BENÉFICOS, ASSIM COMO A SUA RELAÇÃO COM A MENOR OU MAIOR EXPOSIÇÃO A DETERMINADOS TIPOS DE CANCRO.

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CONTRACEPTIVOS ORAIS VS CANCRO: VERDADE OU MITO?

A

pílula contraceptiva é largamente utilizada pela população feminina para evitar gravidezes indesejadas. É seguro tomar a

pílula? Sim. O método contraceptivo ideal deveria ser de fácil aplicação, possuir 100% de eficácia, risco zero e ausência total de efeitos colaterais. Infelizmente, um método que reúna todas essas qualidades não existe. Para impedir que haja gravidez, é necessário interromper ou evitar o processo de ovulação, a fecundação ou, ainda, a implantação do ovo no endométrio. As diversas técnicas anticoncepcionais vão actuar numa dessas fases. Tendo em conta o exposto, os métodos contraceptivos podem classificar-se em reversíveis e irreversíveis. Entre os reversíveis, temos os comportamentais (ritmo ou calendário, abstinência total ou parcial, temperatura basal, do muco cervical e coito interrompido) e os hormonais (pílulas diárias ou de emergência, ampolas injectáveis, implantes ou adesivos cutâneos, subcutâneos ou subdérmicos, os DIU ou anel libertador de hormonas). Quanto aos métodos de barreira, existe o preservativo masculino e feminino, diafragmas, anel e pessários e os DIU.


Entre os métodos irreversíveis ou cirúrgicos, constam a laqueação tubária bilateral na mulher e vasectomia no homem. As pílulas são consideradas as mais eficazes entre os métodos contraceptivos, se usadas de maneira correcta, isto é, não esquecer um dia e usar, de preferência, à mesma hora. A sua eficácia chega perto dos 99,7%, também pela practicidade, por não interferir na vida sexual e pela segurança. São um dos métodos mais universalmente usados. O uso dos contraceptivos hormonais orais vem igualmente acompanhado de benefícios, como a redução das cólicas e regularização do ciclo menstrual, diminuição da acne, incidência diminuída de anemia e de gravidez ectópica, protecção contra o cancro de ovário e doença benigna da mama e aumento do prazer sexual, redução da duração e do volume menstrual, diminuição do sangramento excessivo (menorragia), decréscimo das dores pré-menstruais, risco atenuado de cancro do intestino grosso e recto e redução do hirsutismo nas usuárias. Nas pílulas que contêm desogestrel na sua composição, observou-se o aumento do HDL (lipoproteína de alta densidade) e redução do LDL (lipoproteína de baixa densidade). Os efeitos colaterais e alterações fisiológicas, relacionadas ao uso contínuo de anticoncepcionais por mais de 12 anos, especificamente no sistema cardiovascular, estão ligados à dose do componente estrogénico, o etinilestradiol, quando este é maior do que 50 mcg. Quando presente na corrente sanguínea, provoca um aumento na formação da trombina, assim como dos outros factores de coagulação, e diminuição dos inibidores, gerando um efeito pró-coagulante leve. Outra desvantagem é que esse composto está associado a casos de trombose mesentérica, sendo mencionado como causa de infarto intestinal. As tromboses venosas e as arteriais são devidas a estase sanguínea e a hiper coagulabilidade, sendo responsáveis pela estimulação do tromboembolismo venoso, ao passo que a trombose arterial será desencadeada por lesão do endotélio. É importante avaliar a história clínica geral e ginecológica antes de prescrever um contraceptivo hormonal, seja ele de tipo único ou combinado, para rastrear condições préexistentes que possam contra-indicar um

determinado método, como a hepatite aguda activa ou história de doença tromboembólica venosa ou arterial, assim como factores de risco de doença cardiovascular e cerebrovascular, tais como o tabagismo, a obesidade, a hiperlipidémia, hipertensão arterial crónica não controlada e idade superior a 35 anos, ou pessoas com história pessoal ou familiar de primeira linha de cancros hormonodependentes, tanto da mama, como do ovário ou endométrio. Como todos os medicamentos, os hormonais têm efeitos colaterais, e sempre que estes não superam os riscos, devemos prescrevê-los para evitar uma gravidez não desejada, que tem aumentado a taxa de aborto e outras comorbidades, em especial nas mulheres adolescentes. O cancro do endométrio é o cancro ginecológico mais comum e, também, predominantemente endócrino. São vários os factores reprodutivos que aumentam o seu risco, tais como a idade da menarca, menopausa, infertilidade, idade de nascimento do primeiro filho, entre outros. Como é que a toma da pílula o pode influenciar, na sua opinião? No cancro do endométrio, como é dos tipos considerados hormonodependentes, particularmente do tipo estrogénios, não é aconselhável usar medicamentos à base apenas de estrogénios ou as pílulas combinadas com altas concentrações de estrogénios acima de 50mcg. As pílulas com apenas progestagenos são igualmente úteis, porque essa hormona contrapõe os efeitos dos estrogénios, ao promover a transformação luteínica do endométrio, passando de proliferativo a secretor, impedindo a continuidade da proliferação do endométrio, e tem sido usada no tratamento coadjuvante em pessoas já diagnosticadas com adenocarcinoma endometrial. Estudos clínicos indicam-nos que a obesidade, o tabaco e outros estilos de vida menos saudáveis são factores favoráveis para o aparecimento do cancro do endométrio. A toma de um contraceptivo oral pode, de alguma forma, proteger a mulher? Sim. O objectivo dos contraceptivos hormonais orais é a produção de ciclos reprodutivos femininos anovulatórios, isto é, quando não existe a ovulação. Nestes, as modificações endometriais são bem pequenas, o endométrio proliferativo desenvolve-se

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de forma regular, porém, não ocorre ovulação, nem produção do corpo lúteo. Por isso, o endométrio não segue para a fase lútea, mantendo-se na fase proliferativa até à chegada da menstruação. Quais os melhores contraceptivos para proteger a mulher do aparecimento desta patologia? Os melhores contraceptivos para prevenir cancros hormonodependentes são as fórmulas combinadas com baixas doses de estrogénios (<50mcg), como microginon ou meuri, que contêm 150 mcg de desogestrel (progestagénios) e 30 mcg de etinilestradiol (estrogénio), ou de medicamentos apenas com progestagénios, como a medroxiprogesterona ou ciproterona e drospirenona. De acordo com o seu risco cardiovascular, podemos classificar as pílulas quanto às suas gerações: • Pílulas da Primeira Geração: 0.150 mg de etinilestradiol • Pílulas da Segunda Geração: 0.050 mg de etinilestradiol • Pílulas da Terceira Geração: 0.030 mg de etinilestradiol • Pílulas da Quarta Geração: 0.020 mg de etinilestradiol Os efeitos secundários das pílulas relacionam-se com a concentração do etinilestradiol, sendo que as de última geração (terceira e quarta) são mais toleráveis e menos prejudiciais que as da primeira e segunda gerações. Quando falamos do cancro do ovário, que é outra patologia que afecta muitas mulheres, a pílula protege ou não a mulher? Sim, a pílula protege a mulher. Um grande estudo realizado no Centro de Controle de Doenças (CDC) nos Estados Unidos associou o uso de contraceptivos orais à diminuição do risco de cancro ovariano. A elevada paridade e o uso de anticoncepcionais orais levam a uma frequência diminuída da ovulação e sugeriu-se que o trauma da ovulação contribui para a génese do cancro, já que a ruptura do folículo, fornece uma quebra da cápsula, permitindo a inclusão do epitélio superficial dentro da corteza e, deste modo, uma oportunidade para carcinogénios potenciais serem incorporados no ovário. Também vários outros estudos afirmam que o número cada vez maior de filhos vivos, o crescente número de gestações incompletas e o uso de anticoncepcionais orais associam-se à diminuição do risco de cancro.

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O cancro da mama é um dos mais comuns nas mulheres. A relação entre a toma da pílula e o aparecimento do cancro da mama ainda não está bem esclarecida. Qual é a sua opinião? Em relação ao cancro de mama, não se pode afirmar que essa patologia esteja directamente relacionada com o contraceptivo hormonal, visto que há poucas publicações válidas sobre esse tema, impossibilitando fazer conclusões generalizadas. Foi descoberto que nem todos os cancros de mama são hormonodependentes. Há pacientes que apresentam histórico familiar e, portanto, não se relacionam tanto com a presença de hormonas. Actualmente, o que se sabe é que as mulheres que iniciam a contracepção hormonal precocemente, e utilizam esses métodos antes da gestação e por longos períodos, apresentam maior risco para o surgimento do cancro da mama. Por outro lado, a etiopatogenia do cancro da mama é multifactorial e entre os factores associados encontram-se os genéticos, os nutricionais, os pessoais e os ginecológicos, tais como idade superior a 30 anos, nulípara, primeiro filho depois dos 30 anos, ausência de amamentação, menarquia precoce antes dos 10 e menopausa tardia depois dos 55 anos, obesidade pós-menopáusica, tratamento estrogénico prolongado na pós-menopausa, hiperplasia mamária atípica, antecedentes pessoais de cancro de mama, ovário e endométrio, antecedentes familiares de primeira ordem de cancro de mama, sendo que, quanto maior for a associação destes factores, maior será a incidência de cancro mamário.


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REPORTAGEM

PELE BRONZEADA, PELE PROTEGIDA. TODO O ANO OS BENEFÍCIOS DO SOL SÃO INÚMEROS, DESDE A ESTIMULAÇÃO DA VITAMINA D À SENSAÇÃO DE BEM-ESTAR E BOM HUMOR, ATRAVÉS DA SUA ACÇÃO ANTIDEPRESSIVA. NO ENTANTO, PARA TIRAR O MAIOR PROVEITO DOS SEUS BENEFÍCIOS, É NECESSÁRIO NÃO EXAGERAR NO TEMPO DE EXPOSIÇÃO E CUMPRIR AS REGRAS QUE JÁ TODOS CONHECEMOS.

E

mbora seja fundamental para a nossa saúde, são várias as consequências negativas associadas à exposição inadequada ao sol. Queimaduras solares, envelhecimento cutâneo prematuro e, sobretudo, o aparecimento de vários tipos de cancro

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cutâneo. Daí, podermos afirmar que a fotoprotecção é fundamental. Sendo Angola um país que tem sol durante todo o ano, torna-se imperial a utilização de protecção solar o ano inteiro. Actualmente, o mercado tem uma oferta variada, pelo que o importante é escolher o indicado para cada tipo de pele, certificando-se que protege da radicação UVA, para além da UVB, e apelar o utente para a sua correcta aplicação. Para que se consiga uma protecção eficaz, é necessária uma quantidade de 2mg/cm2. Dica: Para cobrir todo o corpo, poderá ser necessária metade de uma embalagem pequena. Estudos científicos sugerem que a utilização dos protectores solares pode prevenir lesões associadas ao fotoenvelhecimento e proteger contra a fotoimunossupressão induzida. Por outro lado, existem também estudos epidemiológicos que demonstram que a utilização de protectores solares pode prevenir alguns tipos de cancro cutâneo. Para que os protectores solares apresentem as características preventivas apresentadas, estes produtos têm de proteger a pele contra as radiações UVB e UVA. Ao falarmos em radiação ultravioleta, sabemos que esta é composta pela UVA e UVB. Apesar das queimaduras solares e a inflamação (vermelhidão

da pele) ser causada essencialmente pela UVB (290 – 320 nm), não se pode negligenciar a UVA (320 – 400 nm), pois é a responsável pelo envelhecimento prematuro da pele. Os protectores solares podem ser encontrados em diversas formas e formatos, como cremes, emulsões, géis ou, até mesmo, aerossóis. Na hora da escolha, é importante aconselhar o utente a escolher de acordo com o seu fototipo e tipo de pele, para maior adesão e conforto. Relativamente aos filtros que se encontram nestes protectores, podemos encontrar filtros físicos ou químicos. Os filtros são os componentes que protegem a pele da radiação UV. Os filtros físicos são aqueles que apresentam a capacidade de reflectir ou dispersar a radiação, sendo, portanto, os mais adequados para as crianças. Os filtros químicos, por sua vez, possuem substâncias que absorvem a radiação UV que atinge a pele, tornando-a inofensiva para o organismo. A saúde da pele depende de inúmeros factores. O recurso regular a consultas de dermatologia, bem como a utilização diária de protecção solar são hábitos que todos devem adquirir, de forma a reduzir e evitar inúmeros problemas de saúde, obtendo uma pele mais bonita e saudável, evitando danos celulares que podem ser fatais. PUB

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REPORTAGEM

COVID-19 E VACINAÇÃO: PROBLEMA RESOLVIDO? AS VACINAS SÃO O MEIO MAIS EFECTIVO E SEGURO PARA COMBATER E ERRADICAR AS DOENÇAS INFECCIOSAS. FOI COM EDWARD JENNER, EM 1796, QUE SURGIU A PRIMEIRA VACINA CONTRA A VARÍOLA, QUE ESTÁ ACTUALMENTE ERRADICADA NO MUNDO.

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Respiratório do Médio Oriente) e a trabalhar numa vacina para estes, o que acabou por auxiliar, posteriormente, o desenvolvimento da vacina contra a Covid-19.

T

odos os anos, a vacinação é responsável por salvar milhões de vidas. As vacinas actuam pelo desenvolvimento da chamada “memória imunológica”. A activação do sistema imunitário dá-se, uma vez que a administração de componentes de vírus e bactérias (antigénios), que são os responsáveis por provocar determinada doença, levará à formação de anticorpos no nosso organismo. Assim, o nosso sistema imunitário irá responder de forma rápida e eficaz sempre que haja um contacto com a doença, prevenindo-a. Sabemos que uma vacina, por norma, demora anos a ser desenvolvida. A pandemia de Covid-19 veio revolucionar o mundo no que toca ao assunto da vacinação e, com certeza, mudará o futuro da mesma. Com a propagação nefasta deste vírus, tornou-se imperativo o desenvolvimento rápido de uma solução que travasse eficazmente esta pandemia, que tantas mortes está a causar no mundo. Em inícios de Dezembro de 2020, foram anunciados excelentes resultados em vários estudos clínicos, que revelaram resultados promissores. A 2 de Dezembro, foi lançada a primeira vacina testada para a imunização e uso de emergência. É importante salientar que o desenvolvimento da vacinação contra o coronavírus não iniciou em Janeiro de 2020. Cientistas e pesquisadores já andavam, há anos, a estudar a causa do SARS (Síndrome Respiratório Severo Agudo) e do MERS (Síndrome

Qual a principal diferença desta vacina? As vacinas convencionais contêm proteínas virais ou formas inactivadas do vírus, o que estimula o nosso sistema imunitário na defesa contra a infecção quando entra em contacto com o próprio vírus. Isto é, leva ao desenvolvimento de anticorpos. As primeiras duas vacinas cuja eficácia foi demonstrada, em larga escala, contra o SARS-CoV-2 utilizaram apenas uma sequência de mRNA dentro de um revestimento lipídico. Este mRNA (sintético, isto é produzido em laboratório) codifica uma proteína chave do SARS-CoV-2 e, assim que o mRNA entra nas nossas células, o nosso organismo irá produzir essa proteína e, com isso, leva à formação de anticorpos contra a espícula do vírus. Deste modo, actua como antigénio. Assim sendo, se entrar um SARS-CoV-2 no organismo da pessoa vacinada, este estará preparado, com anticorpos, para a espícula do coronavírus, o que impedirá que a infecção da Covid-19 se instale. A vacina é segura e eficaz? Apesar do rápido desenvolvimento, nenhuma vacina ou outro produto pode ser colocado no mercado sem ser comprovada a sua segurança e eficácia em largos estudos clínicos (fase III). A vacinação contra a Covid-19 foi um autêntico sucesso e exemplo do que a ciência pode vir a alcançar. No entanto, no que diz respeito à pandemia, a Organização Mundial de Saúde não prevê a imunidade de grupo ainda em 2021, apesar da vacinação já estar em curso. Até lá, é necessário continuar com as medidas de protecção adequadas.

Referências Bibliográficas: https://www.nature.com/articles/d41586-020-03626-1 https://www.fda.gov/news-events/press-announcements/fda-statement-following-authorized-dosing-schedules-covid-19-vaccines

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ANOS YEARS

CUIDAR DA SAÚDE E BEM-ESTAR DAS PESSOAS É O NOSSO PROPÓSITO DIÁRIO!

Da capacidade logística (reforçada com um novo armazém de 2400m2) à implementação de boas práticas de distribuição. Do portefólio alargado ao marketing do produto. Da formação de recursos humanos ao programa de responsabilidade social. Na Australpharma, desenvolvemos competências específicas que promovem a otimização dos processos e o aumento da eficiência em todas as frentes. Dia após dia, trabalhamos para estar sempre na vanguarda.

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SEMPRE À FRENTE. EM TODAS AS FRENTES.


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