Tecnosaúde #6 - Maio/Junho

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Nº 06

Maio/Junho 2021

DISTRIBUIÇÃO GRÁTIS

PUBLICAÇÃO DIGITAL BIMESTRAL

KASSAI

Ferramenta dinâmica de aprendizagem FUTURO DAS FARMÁCIAS

Sandro Cardoso, director geral da L’Oréal Cosmética Activa Portugal, aborda a temática O MÉDICO RESPONDE

Infertilidade por malformações uterovaginais

DOENÇAS RESPIRATÓRIAS: PREOCUPAÇÃO TRANSVERSAL


ÍNDICE SAÚDE, PARA SI

02 04 06 12 Dra. Nádia Noronha Directora Executiva da Tecnosaúde

É certo que ainda existem muitas dúvidas sobre a resposta individual à infecção de Covid-19 e as possíveis repercussões para o futuro, mas há uma harmonização genérica quando se associa o doente respiratório crónico a um maior risco de desenvolvimento de complicações e de doença mais grave perante esta infecção. Nesta senda, não será esta a altura ideal para questionar se será uma oportunidade para reforçar o controlo funcional dos doentes respiratórios? Não será este o momento em que devemos “aproveitar” a maior sensibilização da população para a patologia respiratória para tentarmos obter ganhos em saúde? Diria que sim. Os doentes com doenças respiratórias, como asma ou a doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC), são, sempre, doentes particulares e com uma certa rebeldia, associada, por vezes, ao cumprimento da terapêutica, dado que, maioritariamente, desvalorizam os sintomas ligeiros que apresentam no seu quotidiano. Por esta razão, as falhas e omissões na terapêutica inalatória, bem como a sua (in) correcta utilização não chegam sequer a ser partilhadas com o profissional de saúde. É, por isso, essencial que todos os profissionais de saúde sejam capazes de (in)formar e orientar estes doentes, garantindo um acompanhamento adequado, no sentido de se melhorarem os ganhos em saúde e, não sabendo quando estará anunciado o controlo da pandemia de Covid-19, de oferecer todas as ferramentas para os capacitar para o melhor controlo da sua doença. Como “friendly reminder”, a educação para a saúde é essencial, pois não é possível alterar aquilo que se desconhece. Vamos fazer a diferença? E ainda temos de batalhar muito neste sentido, em educar, capacitar, ajudar e acompanhar esta população que também é de risco.

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ENTREVISTA Dra. Maria de Fátima Caetano analisa a importância do diagnóstico precoce da asma

A imunoterapia e os resultados promissores no tratamento do cancro do ovário

O MÉDICO RESPONDE Dra. Beatriz Hernandez apresenta três casos clínicos de infertilidade por malformações uterovaginais

A formação combinada com o Kassai Maskne: sabe o que é? A utilização de máscaras na era da Covid-19 e o potencial de criar lesões na pele Área Regulamentar Dra. Zola João, directora técnica da Australpharma, explica de que se trata

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Educação para a saúde é essencial

“A pandemia de Covid-19 tem aumentado os casos de ansiedade e depressão”

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EDITORIAL

REPORTAGEM O impacto da Covid-19 na saúde ocular

Jornadas Científicas Jean Piaget As farmácias do futuro Sandro Cardoso, director geral da L’Oréal Cosmética Activa Portugal, analisa o papel das farmácias na pandemia e no futuro Dra. Mariza Rezende e a importância da Fisiatria Angola participou no Fórum de Cooperação Técnica Internacional de Doação de Leite Humano

Propriedade e Editor: Tecnosaúde, Formação e Consultoria Nacionalidade: Angolana Edifício Presidente Business Center Largo 17 de Setembro, N.º 3 - 2.º Andar, Sala 224, Luanda, Angola Directora: Nádia Noronha E-mail: nadia.noronha@tecnosaude.net Sede de Redacção: Edifício Presidente Business Center Largo 17 de Setembro, n.º3 - 2.º andar, sala 224, Luanda, Angola Periodicidade: Bimestral Suporte: Digital http://www.tecnosaude.net/pt-pt/


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ENTREVISTA

“QUANTO MAIS CEDO FOR DIAGNOSTICADA A ASMA, MENOS CRISES O DOENTE TERÁ” NO MÊS EM QUE SE COMEMORA O DIA MUNDIAL DA ASMA, ALERTAMOS PARA A NECESSIDADE DE UM DIAGNÓSTICO PRECOCE DESTA PATOLOGIA QUE AFECTA 300 MILHÕES DE PESSOAS EM TODO O MUNDO E É UMA DAS DOENÇAS RESPIRATÓRIAS MAIS COMUNS EM ANGOLA, RESPONSÁVEL POR GRANDE PARTE DAS HOSPITALIZAÇÕES DE CRIANÇAS.

Dra. Maria de Fátima Rodrigues Andrade Caetano Presidente do colégio de Especialidade de Pneumologia da Ordem dos Médicos de Angola; licenciada em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade Agostinho Neto, especializada em Pneumologia no Hospital de Pulido Valente, com o título de Especialista em Pneumologia pelo Colégio de Pós-Graduação do MINSA; com competência para a Medicina do Sono; co-fundadora da Sociedade Angolana de Pneumologia

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E

xistem inúmeras doenças respiratórias, desde a bronquite à asma. Na sua opinião, quais as mais comuns em Angola? As doenças respiratórias mais comuns, em Angola, são as infecções respiratórias agudas, que vão desde o resfriado comum às pneumonias, à tuberculose pulmonar, à asma, à Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC) e ao cancro do pulmão. A tuberculose pleuropulmonar é uma doença respiratória crónica tratável, muito prevalente em Angola, principalmente, na faixa etária mais jovem, dos 15 aos 30 anos. Esta doença, quando não diagnosticada e tratada atempadamente, pode ser fatal e ou deixar sequelas respiratórias crónicas. A asma é uma doença inflamatória crónica dos brônquios que se inicia, na maioria das vezes, na infância. Qual a importância do diagnóstico precoce desta patologia? A asma é uma doença inflamatória crónica dos brônquios, reversível e recorrente quando não está controlada. A prevalência da asma tem vindo a aumentar. Estima-se que cerca de 300 milhões de pessoas têm asma no mundo. A asma está entre as principais causas de hospitalização de crianças e a

condição crónica número um que leva ao absentismo escolar. Quanto mais cedo for diagnosticada a asma, menos crises o doente terá, o que permitirá uma melhor eficácia do tratamento e controlo da asma. Actualmente, quais os tratamentos que temos disponíveis para o tratamento da asma? O tratamento da asma visa reduzir, ao máximo, a frequência das exacerbações, a sintomatologia do período intercrítico, o uso de broncodilatadores de alívio, permitindo a participação do doente nas actividades sociais e profissionais e uma vida regular com função pulmonar normal. O tratamento da asma depende da sua gravidade e do controlo dos factores desencadeantes, que consta do reconhecimento e abandono, por parte do doente, dos agentes (alergénios) que desencadeiam as crises e do uso dos medicamentos para tratar os sintomas. No nosso meio, temos contado com os medicamentos antialérgicos, leucotrienos e os antiinflamatórios que podem ser usados por inalação, nebulização ou por via oral. Enquanto profissional de saúde, quais as maiores barreiras que enfrenta, diariamente, com os utentes asmáticos? Os doentes devem ser esclarecidos em consulta dos factores que causam a asma, dos sinais e sintomas da doença, sobre como controlar a asma, como usar os inaladores e quando devem recorrer ao hospital. Uma das maiores barreiras que nós, médicos, enfrentamos é o abandono da terapêutica que ocorre logo que o doente se sente melhor, assim como o custo dos medicamentos. A DPOC é uma doença obstrutiva crónica, muito associada aos fumadores. Qual a prevalência em Angola? Faltam-nos, ainda, estudos para conhecermos a prevalência da DPOC, em Angola. Embora o número de fumadores tenha vindo a aumentar, podemos considerar que uma das causas principais da DPOC, em Angola, é o hábito de cozinhar a carvão ou a lenha, as sequelas broncopulmonares da tuberculose e, claro, o tabagismo. Quanto ao tratamento da DPOC, quais os principais desafios? Os desafios para o tratamento da DPOC passam por evitar os factores que levam à obstrução crónica dos brônquios e bronquíolos pulmonares, ao diagnóstico e tratamento precoce da tuberculose pulmonar. A terceira causa de morte no nosso país é também devida a uma doença transmitida pelas vias aéreas, a tuberculose. Na sua opinião, enquanto profissional, o que podemos fazer para erradicar a doença? A erradicação da tuberculose é, ainda, muito sombria no mundo, principalmente nos países de baixo rendimento. O rastreio da população, dos conviventes com os doentes com tuberculose e a toma vigiada dos antibacilares serão uma das formas de controlar a doença.

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ENTREVISTA

“A PANDEMIA DE COVID-19 TEM AUMENTADO OS CASOS DE ANSIEDADE E DEPRESSÃO” 6 SAÚDE


A

Dra. Liliana Aragão Cassule Médica Pediatra, Presidente do Colégio de Especialidade de Pediatria de Ordem dos Médicos de Angola

O MODO COMO A PANDEMIA DE COVID-19 TEM AFECTADO AS CRIANÇAS E ADOLESCENTES SERVIU DE MOTE PARA A CONVERSA COM A DRA. LILIANA ARAGÃO CASSULE. APESAR DOS DADOS DISPONÍVEIS INDICAREM QUE ESTA FAIXA ETÁRIA NÃO É SEVERAMENTE AFECTADA PELO NOVO CORONAVÍRUS, FICA O ALERTA PARA AS CONSEQUÊNCIAS QUE A PANDEMIA ESTÁ A CAUSAR NA SAÚDE E BEM-ESTAR DAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES.

pandemia de Covid-19 entrou nas nossas vidas e alterou todas as nossas rotinas. Quando falamos em Covid-19 em Pediatria, como é que este vírus afectou esta faixa etária? A pandemia causada pelo novo coronavírus (SARS-Cov-2) vem constituindo-se num dos maiores desafios enfrentados pela área da saúde, em todo o mundo. Apesar do risco de gravidade da Covid-19 ser menor na faixa etária pediátrica, a pandemia tem tido um impacto em diferentes aspectos da vida das crianças e adolescentes, variando desde as preocupações com a saúde física até a manutenção do equilíbrio da saúde mental. Por um lado, foi notória a importante redução das idas às consultas de puericultura, cuja finalidade é a avaliação do normal crescimento, desenvolvimento e bem-estar da criança, principalmente, no início da pandemia. Entretanto, foram igualmente perdidas oportunidades de vacinação e rastreio de problemas de desenvolvimento em muitas crianças. Por outro lado, as consequências emocionais da pandemia para as crianças e adolescentes. Tem estado a causar inúmeras ameaças ao seu bem-estar psicológico, pois vivenciaram mudanças bruscas da sua rotina, com o afastamento, isolamento, quarentena ou “angústia do confinamento”, assim denominada por muitos deles. Afinal, enfrentaram o ambiente de desestruturação da rotina escolar, com a necessidade da rápida adaptação ao ensino remoto associada ao aumento do tempo de exposição aos ecrãs de TV, computador e telemóveis, perdas de eventos únicos, como as cerimónias de formatura e actividades desportivas, que, para sempre, irão faltar nas suas memórias. Isto além do sedentarismo, do distanciamento social, do medo de ser infectado ou ter os seus familiares infectados, a percepção de que os seus pais estão ansiosos, preocupados ou irritados têm também elevado, significativamente, o nível de stress entre as crianças e adolescentes. A pandemia de Covid-19 tem aumentado os casos de ansiedade e depressão e, ainda, exacerba esses sintomas entre os petizes que estão em tratamento.

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Efectivamente, podemos afirmar que o coronavírus, inicialmente, não afectou tanto a faixa etária pediátrica. Na sua opinião, qual a melhor explicação para este facto? Muitos factores podem estar envolvidos. Os motivos para a maior benignidade da Covid-19 na faixa etária pediátrica ainda são incertos, sendo as principais hipóteses a menor expressão no receptor do vírus, a menor imunidade inata, a protecção cruzada atribuída a maior exposição a outros coronavírus sazonais e a diferença da microbiota. Quando falamos em sintomatologia, os pais e profissionais de saúde devem ter especial atenção aos mesmos sintomas que os adultos ou a sintomatologia pode estar escondida? À semelhança dos adultos, a maioria apresenta-se assintomática ou com sintomas leves, sendo que a apresentação clínica mais

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comum da doença aguda inclui febre, tosse, coriza e dificuldade respiratória. É comum a presença de sintomas gastrointestinais (diarreia e vómitos). Poucas são as crianças que apresentam uma evolução muito grave da doença, como a síndrome inflamatória multissistémica, sendo, até ao momento, necessário o tratamento de suporte para a maioria dos sintomáticos e a necessidade de um tratamento intensivo verificada nas crianças com comorbidades. Embora a doença grave e morte sejam reduzidas nessa faixa etária até ao momento, podem ocorrer. Relativamente ao contágio, a capacidade de transmissão de uma criança é a mesma que a de um adulto? As dúvidas e incertezas em relação à definição do nível de risco dessa infecção em crianças e adolescentes ainda são muitas, tanto a nível individual, no que se refere à ocorrência de complicações e o consequente desenvolvimento de quadros clínicos mais


graves, quanto no colectivo, pela possibilidade dos assintomáticos transmitirem essa doença aos demais familiares, especialmente aos de maior risco. O facto das crianças serem menos propensas a apresentar sintomas, quando infectadas pelo SARS-CoV-2, levantou preocupações de que possam ser responsáveis pela transmissão assintomática do vírus, embora haja pouca evidência directa para sugerir que crianças assintomáticas estejam desempenhando um papel importante nesta disseminação. Vários estudos demonstraram que existe uma maior taxa de infecciosidade na faixa etária pediátrica, mas, por outro lado, existia um menor risco de internamentos dos adultos infectados com crianças no seu domicílio. Desta forma, questionamo-nos se os adultos que convivem com crianças, dentre eles os pediatras, seriam protegidos das formas mais graves da doença. Quais os seus conselhos, enquanto especialista, para fazer uma distinção entre uma gripe, constipação e a infecção pelo novo coronavírus nas crianças?

São as três doenças causadas por vírus e que afectam o tracto respiratório, porém, possuem algumas particularidades que permitem a sua distinção. A gripe é causada pelo vírus influenza, o resfriado comum igualmente causado por vírus, em especial os rinovírus e coronavírus sazonais, e a Covid-19 causada pelo Sars-CoV-2 (novo coronavírus). Além de serem desencadeadas por agentes diferentes, apresentam alguns sinais e sintomas que nos auxiliam na sua diferenciação. Entretanto, é importante salientar que somente um profissional pode confirmar o diagnóstico da doença. A febre é um sinal comum nos casos de Covid-19 e gripe, porém, raramente ocorre no resfriado comum; a tosse pode estar presente nas três situações clínicas, sendo mais leve nos casos de resfriado comum; espirros são mais comuns nos resfriados e raros na Covid-19 e gripe; dificuldade respiratória é um sinal que pode ocorrer na Covid-19, porém, raramente é observada no resfriado e gripe; cansaço, dores no corpo, malestar, dor de garganta e diarreia são sinais e sintomas mais frequentes na Covid-19 e gripe, ao passo que a coriza e congestão nasal são mais frequentes no resfriado comum. Qual a prevalência de casos em pediatria em Angola até a data? As crianças e adolescentes (0-18 anos), até ao momento, correspondem a um total de 4.370 (14,1 %) dos casos infectados pelo SARS-CoV-2 na população angolana, sendo o género masculino mais afectado, com 2.240 casos (51,2%). Há, ainda, o registo de 16 mortes (2,3%) pela Covid-19 nessa faixa etária, segundo dados fornecidos pelo Boletim Epidemiológico do MINSA 482 de 17 de Maio de 2021. Uma explicação para esses números relativamente baixos de casos é que, como as crianças e adolescentes geralmente apresentam sintomas mais leves do que os adultos, é menos provável que sejam testadas. No entanto, dados de países que realizaram ampla testagem comunitária para o vírus sugerem que esta faixa etária também pode ter menos probabilidade de ser infectada.

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Ovário

20,8 meses de sobrevida após terapêutica com AVASTIN em comparação com terapêutica regular. O aparecimento de ascite após tratamento não foi verificado em 40% das doentes. Pacientes já com ascite antes da toma de AVASTIN, após terapêutica verificou-se uma sobrevida de 18 meses.

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SAÚDE

Ensaio clínico realizado em 299 pacientes (provenientes de 29 centros hospitalares no Reino Unido) com uma média de idades de 64 anos onde 27% tem mais que 70 anos de idade. 93% das pacientes recebeu 7.5mg/kq Q3W bevacizumab acrescido de carboplatin/paclitaxel. refª Hall M, et al. Int J Gynecol Cancer 2019;0:1–8 M-AO-00000033, MAIO 2021


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ENTREVISTA

“A IMUNOTERAPIA TEM APRESENTADO RESULTADOS PROMISSORES NO CANCRO DO OVÁRIO” O PROGNÓSTICO DE UMA MULHER COM CANCRO DO OVÁRIO É RESERVADO, PORQUE A MAIOR PARTE DOS CASOS TEM DIAGNÓSTICO EM ESTADIOS JÁ AVANÇADOS DA DOENÇA. A INCIDÊNCIA DESTA NEOPLASIA EM ANGOLA, A IMPORTÂNCIA DO RASTREIO E AS TERAPÊUTICAS UTILIZADAS SÃO ALGUNS DOS TEMAS ABORDADOS NA NOSSA CONVERSA COM O DR. PAULO SALAMANCA.

S Dr. Paulo Salamanca Médico Oncologista, Presidente do Colégio de Oncologia da Ordem dos Médicos de Angola

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abemos que os tumores malignos do ovário incluem as lesões primárias (que surgem das estruturas normais do ovário) e as lesões secundárias que são metástases de outros cancros de outras partes do corpo. Qual a incidência do cancro de ovário em Angola? Esta é uma excelente pergunta, mas que, infelizmente, ainda não tem uma resposta concreta, dado que, até ao momento, não temos registo oncológico de base populacional em Angola. Segundo os dados da Globocan, em 2020, para o nosso país, com uma população estimada de 32.866.268 habitantes, teríamos 20.327 novos casos de cancro, com uma mortalidade elevada de 12.599 mortes e uma prevalência, aos 5 anos, de 40.752 doentes oncológicos. O cancro do ovário seria o quinto mais frequente, representando 2,4% (283 casos) dos 11.553 novos casos de cancro estimados no género feminino, ultrapassado apenas pelo cancro do colo do útero (27,7%), cancro da mama (27,1%), cancro colo-rectal (3,3%) e Linfoma não Hodgkin (2,9%). Quando analisamos os dados do registo de base hospitalar do Instituto Angolano de Controlo de Câncer, entre 2012 e 2016 (Miguel et al, Infectious Agents and Cancer 2019, 14:35), o cancro do ovário cai para a sexta posição, representando 2,1% (76 casos) dos 3.550 novos casos de cancro no género feminino admitidos nesta unidade hospitalar neste período de cinco anos, ultrapassado apenas pelo cancro da mama (32,8%), cancro do colo do útero (26,6%), Sarcoma de Kaposi (2,5%), sarcoma de partes moles (2,4%) e cancro do estômago (2,4%).


Que tipo de lesões no ovário se podem detectar e como classificá-las? A classificação histológica da Organização Mundial da Saúde (OMS) define os seguintes tipos de lesões no ovário: tumores serosos (engloba lesões benignas, borderline, carcinoma in-situ/neoplasia intraepitelial grau III e carcinoma seroso de baixo ou de alto grau); tumores mucinosos (engloba lesões benignas, borderline e carcinoma mucinoso); tumores endometrioides (engloba lesões benignas, borderline e carcinoma endometrioide); tumor de células claras (engloba lesões benignas, borderline e carcinoma de células claras); tumores de Brenner (engloba lesões benignas, borderline e tumor maligno de Brenner); tumores seromucinosos (engloba lesões benignas, borderline e carcinoma seromucinoso); carcinoma indiferenciado; tumores mesenquimas (engloba sarcoma do estroma endometrioide de baixo ou de alto grau); tumores mistos epitelial e mesenquimal (engloba adenossarcoma e carcinosarcoma); tumores do estroma e cordões sexuais; tumores de células germinativas; tumores miscelâneas; tumores mesoteliais; tumores de partes moles; lesões tumor-like; tumores mieloides e linfoides. O cancro do ovário é um cancro rastreável ou que a utente possa realizar algum tipo de prevenção? Não existe, até à data, nenhum exame custoefectivo para implementarmos um rastreio de base populacional para o cancro do ovário, mas podemos realizar rastreio oportunista nos grupos de risco, tais como utentes que tenham história familiar ou cancro ginecológico hereditário na família. Os exames mais acessíveis para este tipo de rastreio são a ecografia ginecológica e o marcador tumoral CA 125. Actualmente, as causas para o cancro do ovário ainda não estão totalmente estabelecidas. No entanto, existem alguns factores de risco. Na sua opinião, quais os principais factores de risco para esta patologia? Os principais factores de risco para o cancro do ovário, apesar de alguns ainda controversos, são nulípara, terapêutica hormonal na pós-menopausa, doença inflamatória pélvica, estimulação ovárica para fertilização in vitro, obesidade, tabagismo, história familiar e cancro hereditário (síndrome de cancro da mama e do ovário hereditário, Síndrome de Lynch).

Em termos de tratamento, como é realizado o tratamento em Angola? O tratamento do cancro do ovário, em Angola, consiste numa abordagem cirúrgica primária, cumprindo o protocolo oncológico nos tumores ressecáveis, seguida de quimioterapia (adjuvante ou vigilância) e, nos tumores irressecáveis não metastáticos, realizase quimioterapia neoadjuvante seguida de cirurgia citorredutora. Algumas doentes são submetidas a cirurgia de “second-look”, quando a primeira citorredução tumoral seja subóptima. O tratamento sistémico paliativo com base em platino é oferecido às doentes com persistência tumoral/recidiva irressecável ou com doença metastática, sendo que algumas delas tiveram oportunidade da associação do bevacizumab (inibidor da angiogénese) a quimioterapia. Outros tratamentos inovadores, tais como imunoterapia (pembrolizumab) e os inibidores da PARP (olaparib, niraparib ou rucaparib) não estão disponíveis na nossa prática clínica. O cancro do ovário é uma neoplasia com um grande impacto na taxa de mortalidade por neoplasias ginecológicas. Na sua opinião, qual o prognóstico de uma mulher com este diagnóstico? O prognóstico de uma mulher com cancro do ovário é reservado, porque cerca de 75% dos casos são diagnosticadas em estadios avançados, sendo a taxa de recidiva, nos primeiros três anos, elevada (~70-75% dos casos) e a sobrevivência global aos cinco anos, na Europa, ronda os 30 a 50%, apesar dos grandes avanços terapêuticos registados desde 2011. Estudos clínicos retractam a imuno-oncologia com bons progressos na melhoria do prognóstico de mulheres diagnosticadas com esta neoplasia. Qual a sua opinião? O conhecimento mais profundo da imuno-oncologia tem permitido identificar novos alvos terapêuticos e uma exploração contínua com grandes avanços no tratamento de vários cancros. A imunoterapia tem apresentado resultados promissores no cancro do ovário, que poderão, a curto e longo prazo, melhorar o prognóstico destas doentes. A terapêutica antigiogénica, como o Avastin, tem sido muito utilizada, actualmente, devido ao bloqueio do VEGF que as células tumorais produzem em excesso. Qual a sua relação com esta terapêutica recente? Como disse anteriormente, algumas doentes tiveram oportunidade da associação do bevacizumab a quimioterapia no contexto paliativo. Na nossa prática clínica, pelo que sei, nenhuma doente realizou tratamento de manutenção com o bevacizumab.

13 SAÚDE


REPORTAGEM

DERMOCOSMÉTICA: SABIA QUE EXISTEM TRÊS TIPOS DE CANCRO DE PELE? em quantidade ou atípicos. É de salientar que a nossa pele tem uma memória inesgotável, pelo que nunca se esquece de nada que lhe fazemos ao longo da vida, isto é, todas as queimaduras e todos os raios de sol que apanhamos, ao longo da vida, serão contabilizados por esta. Existem três tipos de cancro de pele, com incidências e gravidade diferentes, sendo eles o melanoma, o carcinoma espinocelular e o carcinoma basocelular, os dois primeiros os de maior gravidade.

A EXPOSIÇÃO SOLAR EXAGERADA É A CAUSA DE DIFERENTES MUTAÇÕES GENÉTICAS DAS CÉLULAS DA PELE, PODENDO LEVAR A QUE, ANOS MAIS TARDE, SURJAM LESÕES PRECURSORAS DE NEOPLASIAS, UMA VEZ QUE A NOSSA PELE TEM A CAPACIDADE DE MEMORIZAR TODAS AS AGRESSÕES SOLARES SOFRIDAS AO LONGO DA VIDA.

O

maior órgão do corpo humano, a pele, é composto por células que, quando têm um crescimento anormal e acelerado, dão origem ao tão indesejado cancro. A exposição exagerada e inadequada à radiação ultravioleta é um dos factores de risco para esta problemática. O cancro de pele é o cancro com maior prevalência no mundo, sendo mais comum que o da mama, pulmão, intestino ou próstata. Existem vários factores de risco para o desenvolvimento desta patologia, nomeadamente, a exposição solar repetida, queimaduras solares da pele, história familiar de cancro da pele, pele clara e presença de sinais (nevos)

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O melanoma é a neoplasia mais grave, mas também, felizmente, menos frequente, tendo origem nos melanócitos. É importante salientar que este pode aparecer a partir de um simples sinal de pele, com capacidade para metastizar e que, em casos mais graves, pode mesmo levar à morte. A Regra ABCDE que nos ensina a ler os nossos sinais torna-se fundamental como prevenção desta neoplasia: A – Assimetria (os sinais não devem ser assimétricos) B – Bordos irregulares (não devem existir) C – Cores diferentes (não devem existir dentro do mesmo sinal) D – Diâmetro (> 6mm é motivo de vigilância) E – Evolução (qualquer sinal que evolua rapidamente deve ser analisado pelo médico). Os carcinomas espinocelulares e basocelulares podem apresentar-se de formas variadas, especialmente como feridas que não cicatrizam, ao fim de algum tempo, e que iniciam com uma escama que cai e que está constantemente a aparecer. Os locais mais propícios para aparecerem são os locais mais expostos ao sol, como rosto, mãos, braços e pernas. O diagnóstico precoce de qualquer uma destas lesões é fundamental para o tratamento atempado. Na dúvida, o utente deve dirigir-se e procurar sempre a ajuda de um dermatologista. É importante apelar a todos para a importância da prevenção e de todos os cuidados que devemos ter diariamente, tais como a utilização de protector solar nas zonas do corpo expostas ao sol.


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SAÚDE


CASO PRÁTICO

O MÉDICO RESPONDE Dra. Beatriz Hernandez Especialista em Ginecologia e Obstetrícia, graduada pela Universidade de Ciências Médicas de Havana, Dr. Miguel Enriques, Professor Assistente, mestre em Atenção Integral à Mulher, diversos cursos internacionais, entre eles, Colposcopia, Microcolpohisteroscopia, Climatérico e Menopausa, Cirurgia de Patologia Oncológica em Ginecologia

TRATA-SE DE UM ESTUDO RETROSPECTIVO DE TRÊS PACIENTES PORTADORAS DE MALFORMAÇÕES UTEROVAGINAIS, QUE SE APRESENTARAM NA CONSULTA EXTERNA DA CLÍNICA SAGRADA ESPERANÇA (CSE), NO INTERVALO DE TEMPO DE 2011 A 2020. FOI ANALISADO CADA CASO APRESENTADO, TENDO EM CONTA A REVISÃO BIBLIOGRÁFICA. PARA ISSO, FORAM ANALISADOS OS RESULTADOS OBTIDOS COM AS TÉCNICAS CIRÚRGICAS SELECCIONADAS PARA CADA PACIENTE E FOI DOCUMENTADA A INFORMAÇÃO DE FORMA APROPRIADA. O OBJECTIVO DE RELATAR OS TRÊS CASOS É DETERMINAR O PROGNÓSTICO OBSTÉTRICO EM MULHERES INFÉRTEIS COM MALFORMAÇÕES GENITAIS E DEMONSTRAR A IMPORTÂNCIA DO RASTREAMENTO DE MALFORMAÇÕES UTEROVAGINAIS COMO CAUSA DE INFERTILIDADE.

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INFERTILIDADE POR MALFORMAÇÕES UTEROVAGINAIS

METAS Geral: • Apresentar resultados diagnósticos terapêuticos e reprodutivos obtidos em três pacientes inférteis, devido a malformações uterovaginais. Específico: • Analisar o atendimento diagnóstico-terapêutico das malformações congénitas do tracto genital feminino em três pacientes. • Informar sobre o desenvolvimento reprodutivo dos três casos pós-tratamento das malformações uterovaginais (MUV). RESUMO Os septos uterino e vaginal transverso e a atresia vaginal parcial ou total são um conjunto de alterações congénitas, em que a fertilidade feminina é afectada pela disfunção da vagina e/ou do útero. São malformações raras do aparelho genital. A maioria é diagnosticada tardiamente, como resultado de estudos de infertilidade ou complicações ginecológicas/obstétricas precoces ou tardias.


Apresentamos, de seguida, a nossa experiência nos últimos nove anos (2011 a 2020), com resultados satisfatórios no diagnóstico de sete pacientes no total, das quais, apenas três foram tratadas e acompanhadas. Apresentamos a sua evolução reprodutiva após a cirurgia. Além disso, foi realizada uma análise do assunto com base na literatura consultada. INTRODUÇÃO As malformações uterovaginais (MUV) são anomalias do ducto de Müller (CM) e resultam de um defeito em algumas das diferentes etapas do desenvolvimento genital embrionário (1). De acordo com diversos estudos diagnósticos, a sua prevalência na população geral é de 6,7%, sendo que na população infértil é de 7,3% e nas pacientes com perda gestacional recorrente de 16,7% (2). O diagnóstico é estabelecido quando a paciente inicia a puberdade e começa com problemas ginecológicos, como dor pélvica associada a massas abdominais e/ou amenorreia. Sugere-se que 25% de todos os casos esteja associado a malformações renais ou urológicas (3). O desenvolvimento do tracto genital feminino dáse a partir de dois CM, derivados mesodérmicos que crescem medial e caudalmente para originar as trompas de falópio, o útero e os dois terços superiores da vagina (4). Os ovários têm uma origem independente e não são afectados no caso de MUV. As porções intermediárias são definidas a partir de uma “fusão lateral”, que dá origem a uma única cavidade, a vagina, cujo terço inferior é formado a partir do seio bulbovaginal que se funde com os terços superiores, determinando uma “fusão vertical” (4). As alterações na embriogénese causam anormalidades no CM. A formação completa da genitália feminina dependerá da diferenciação e cumprimento de três fases do desenvolvimento: organogénese, fusão e reabsorção do septo (5).

ou didelfo formar-se-á e a não reabsorção do septo entre os dois ductos fundidos causará um útero septado ou arqueado (5). O conhecimento da embriogénese é essencial para entender que tipo de anomalia congénita ocorre (6). A associação de anormalidades do aparelho genital e do tracto urinário é relativamente frequente, determinada pela relação embriológica que os ductos de Müller e Wolff têm, portanto, é sempre necessário investigar o aparelho urinário em todas as pacientes com MUV (6). Actualmente, existem várias classificações de MUV, mas a proposta pela American Society for Reproductive Medicine (ASRM) (3) continua a ser a mais utilizada. De acordo com esta classificação, são divididos em: Classe I: agenesia e hipoplasia; Classe II: útero unicorno; Classe III: útero de Didelphys; Classe IV: útero bicorno; Classe V: útero septado (o útero septado é a mais frequente, representando mais de 40% de todos os MUV, e apresenta a maior incidência de complicações reprodutivas e obstétricas (7), incluindo aborto recorrente no primeiro e segundo trimestres, parto prematuro, anormalidades da apresentação fetal, retardamento do crescimento intrauterino e infertilidade);

A organogénese determina a formação de ambos os CM. Uma falha nesta fase será caracterizada por agenesia, hipoplasia uterina ou útero unicorno. A fusão é a união de ambos os ductos para formar o útero; se falhar, um útero bicorno

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Classe VI: útero arqueado; Classe VII: sequelas de exposição intrauterina ao dietilbestrol (DES). Se a “fusão lateral” completa dos dois CM ocorre e a reabsorção do septo central não acontece, existem duas cavidades uterinas separadas por um septo - útero septado -, que, geralmente, tem um tamanho e contorno externo normais, o septo pode ser musculoso, na ressonância magnética aparece com uma intensidade de sinal semelhante ao miométrio e pode ser fibroso, ou uma combinação de ambos. É importante distinguir: o septo fibroso pode ser reparado histeroscopicamente e o muscular requer cirurgia transabdominal (1,5). Actualmente, a metroplastia histeroscópica é o método de escolha para o tratamento dos septos uterinos (7). O septo vaginal transverso (TVT) é uma patologia rara do tracto genital feminino, devendo-se a uma falha na fusão vertical do CM. Foi descrita, pela primeira vez, por Delanuy, em 1877, e poucos casos foram publicados, desde então. Quando o septo está completo (imperfurado), inicia-se o diagnóstico. Com as primeiras menstruações, surge um hematocolpo e, como consequência, um quadro obstrutivo. Quando está incompleta (perfurada), a drenagem menstrual é normal, mas a clínica pode tornar-se evidente ao tentar iniciar a relação sexual. Segundo estatísticas mundiais, a prevalência desta anomalia é estimada em 1/72.000 pacientes ginecológicas, provavelmente, menos frequente do que a ausência congénita de vagina e útero. Suidan e Azoury relatam 12 casos de septo vaginal transverso em mulheres de 16 a 36 anos, sendo que apenas um deles foi completo numa paciente de 16 anos. Uma pequena

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parte dos casos de TVT apresenta outras malformações associadas ao aparelho reprodutor, como atresia vaginal e malformações uterinas (8). Na região de Luanda, Angola, é uma patologia diagnosticada e tratada, mas não encontramos estudos publicados. Os meios de diagnóstico são elementos importantes para definir a cirurgia a ser realizada em cada caso. Inicialmente, a histerossalpingografia e a ultrassonografia foram as primeiras técnicas de imagem a diagnosticar, definir o tratamento e dar conselhos reprodutivos em pacientes com MUV. A histerossalpingografia, indicada na primeira fase de avaliação de problemas de fertilidade, fornece informações sobre o canal endocervical, a cavidade endometrial e a permeabilidade tubária. A sua principal desvantagem é a falta de delimitação do contorno uterino externo (7,8). A ultrassonografia abdominal é limitada em alguns casos, devido ao biótipo, ao início da relação sexual da paciente e à posição uterina. A ultrassonografia endovaginal permite uma resolução especialmente maior. A histeroscopia, nos tempos actuais, é muito precisa, no caso do septo uterino, mas não permite avaliar a morfologia externa do útero, a histerossonografia com infusão de soro fisiológico na cavidade uterina melhora a delimitação do endométrio e a morfologia uterina, apesar de apresentar as mesmas limitações. O ultrassom 3D / 4D está provado, nas mãos de especialistas, ser tão preciso quanto a ressonância magnética (RM), sendo limitado pela experiência do operador. A ressonância magnética é a técnica de escolha para o diagnóstico de MUV, devido à sua alta precisão e delimitação da anatomia uterovaginal (7).


De acordo com a ressonância magnética: • A anatomia zonal uterina é a diferenciação entre o endométrio (alta intensidade de sinal), o miométrio interno (baixa intensidade) e o miométrio externo (intensidade intermediária) em imagens ponderadas em T2. É normal vê-lo em mulheres em idade reprodutiva (7).

é didelfo, bicorno ou septado (completo e incompleto) (1).

Anomalias uterovaginais obstrutivas: nestes casos, a ressonância magnética determina o nível de obstrução para atenção imediata, permitindo, assim, a sua reparação (10). A vagina é vista como uma cavidade de sinal intermediária entre a bexiga e a uretra anterior e o canal anal posterior. A ressonância magnética relatará a presença, direcção e extensão de um septo vaginal (1).

Gónadas: ambos os ovários serão identificados, quaisquer lesões associadas, como endometriose ou tumor ovariano, devem ser descritas.

Anormalidades associadas: uma sequência coronal ponderada em T2 deve ser realizada para rastrear outras anormalidades renais ou pélvicas, devido à alta prevalência destas associadas a anormalidades CM (10).

A morfologia do contorno do fundo externo permite diferenciar o útero septado do útero bicorno. Um bom diagnóstico é importante, pois a correcção cirúrgica é diferente em cada caso. O útero septado é, na maioria dos casos, tratado com metroplastia histeroscópica com ressecção do septo. O útero bicorno raramente necessita de tratamento cirúrgico, em alguns casos, a metroplastia de Strassman é realizada com ressecção do septo e unificação das duas cavidades. Ambos os métodos melhoram substancialmente a infertilidade (8).

De acordo com a ressonância magnética, a presença do septo uterino, a sua extensão e a intensidade do sinal devem ser relatadas, pois pode ser composto por tecido muscular ou fibroso e este aspecto é importante para definir o tipo de cirurgia a ser realizada: se ressecção histeroscópica em tecido fibroso ou metroplastia transabdominal no músculo, para garantir hemostasia adequada devido à sua grande vascularização.

Quando avaliamos o útero, após uma metroplastia histeroscópica, se não apresentar septo ou septo residual que mede até um centímetro de comprimento, é considerada uma ressecção ideal (9).

Leia o caso clínico completo aqui:

O septo muscular tem intensidade de sinal intermediária em todas as sequências de pulso, sendo isointenso com o miométrio. Um septo fibroso, geralmente, tem baixa intensidade de sinal em todas as sequências e é fino e linear. Ao reconhecer a extensão inferior do septo uterino no canal cervical e na cavidade uterina, as imagens de RM ajudam a definir se o útero

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ENTREVISTA

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REPÚBLICA DE ANGOLA MINISTÉRIO DA SAÚDE

FERRAMENTA DINÂMICA DE FORMAÇÃO E APRENDIZAGEM 20 SAÚDE

DR. PEDRO MANGOVO É MÉDICO INTERNO DE ESPECIALIDADE E FORMADOR CERTIFICADO DO PROGRAMA NACIONAL DE CONTROLO DA MALÁRIA. ABRAÇOU RECENTEMENTE A FORMAÇÃO COMBINADA COM A PLATAFORMA KASSAI.


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Há um balanço entre a teoria, os gráficos e números e os estudos de caso, de uma forma que mantém a nossa atenção. Isso permitirá prestar um melhor atendimento, de forma a diminuirmos a principal causa de morte no permitirá prestar um melhor atendimento, de forma a nosso país. diminuirmos a principal causa de morte no nosso país.

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Enquanto formador, quais as principais mudanças sentidas com esta plataforma? sentidas com esta plataforma? Como formador, noto que as minhas formações são Como formador, noto que as minhas formações são mais mais interactivas e dinâmicas, sendo formações mais interactivas e dinâmicas, sendo mais expositivas e activas, expositivas e activas, com maior agregado para os com maior agregado para os formandos, onde todos sairão aformandos, ganhar. onde todos sairão a ganhar.

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Sendo a malária um problema que mata diariamente diariamente centenas de pessoas no nosso centenas de pessoas no nosso país, como é que país, como é que o Kassai pode melhorar estao Kassai pode melhorar esta endemia? endemia? Pela qualidade do conteúdo e o fácil acesso que o Kassai Pela qualidade do conteúdo e o fácil acesso que o possui, os técnicos de saúde ganham novos conhecimentos possui,e, os técnicos de saúdemelhoram ganham anovos eKassai habilidades como consequência, qualidade conhecimentos e habilidades, e como na prestação de serviços de saúde. Logo,consequência, estaremos com a qualidade de e omelhoram Kassai a contribuir paranaa prestação diminuiçãode daserviços morbilidade saúde, logo estaremos com o Kassai a contribuir mortalidade, respectivamente.

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Na sua opinião, enquanto profissional de saúde e respectivamente. formador, como é que os profissionais de saúde aderem a estas formações? Na sua opinião enquanto profissional de saúde e A adesão é muito tantoos é que pretendemos,dea saúde médio e a formador, comoboa, é que profissionais longo prazo disseminar o Kassai em todo país. aderem a estas formações?

A adesão é muito boa, tanto é que, pretendemos em médio e a Longo prazo disseminar o Kassai em todo país.

Kassai, de Kassai: de que que se se trata? trata?

Kassai é uma plataforma de e-learning Kassai é uma plataforma de e-Learning especialmente projectada para desenvolver a especialmente projectada para desenvolver a capacidade dos profissionais de saúde, de forma capacidade dos profissionais de saúde de forma eficiente e conveniente. Lançada pelo PNCM, eficiente e conveniente. Lançada pelo PNCM com apoio da Agência dos Estados Unidos da com apoio da Agência dos Estados Unidos da América para o Desenvolvimento Internacional América para o Desenvolvimento Internacional (USAID)/Iniciativa Presidencial Contra a Malária (USAID)/Iniciativa Presidencial Contra a Malária (PMI), a plataforma Kassai apresenta enorme (PMI), a plataforma Kassai apresenta enorme potencial. Nas quatro províncias em que já foi potencial. Nas quatro províncias em que já foi iniciada a sua utilização – Zaire, Uíge, Lunda iniciada a sua utilização – Zaire, Uíge, Lunda Norte e Lunda Sul – 30% dos médicos e Norte e Lunda Sul – 30% dos médicos e enfermeiros já estão inscritos, tendo 85% destes enfermeiros já estão inscritos, tendo 85% destes completado, com sucesso, pelo menos, um curso. completado com sucesso, pelo menos, um curso. 1.072 utilizadores individuais e mais de dois mil 1.072 utilizadores individuais e mais de 2.000 certificados já emitidos mostram o potencial do certificados já emitidos mostram o potencial do Kassai. www.kassai.ao Kassai. www.kassai.ao

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SAÚDE SAÚDE


REPORTAGEM ENTREVISTA

MASKNE: SABE O QUE É? NA CHAMADA ERA DA COVID-19, A UTILIZAÇÃO DE MÁSCARAS JÁ É UMA PRÁTICA COMUM. NO ENTANTO, A SUA UTILIZAÇÃO PODE PROVOCAR ALGUNS DANOS NA PELE. CRIOU-SE ASSIM UM NOVO CONCEITO: MASKNE.

A

pandemia de Covid-19 obrigou toda a população a criar novos hábitos de vida e novas medidas de protecção, nomeadamente a utilização diária de máscaras de protecção. O conceito Maskne surge da acne mecânica associada a esta utilização diária da máscara de protecção, que leva a uma maior irritação da pele, assim como ao agravamento de outros problemas, tais como dermatite atópica, rosácea e outras doenças crónicas já existentes. Sabemos que o microbioma da pele é influenciado por factores genéticos e externos, tais como o meio ambiente, o pH e a temperatura, que podem ser influenciados pela utilização da máscara e pela retenção de fluídos. A fisiopatologia da Maskne centrase na alteração do microbioma da pele pela fricção contínua da máscara. A utilização de máscaras de tecido aumenta a temperatura da pele, assim como a retenção de suor em indivíduos normais, piorando estes mesmos sintomas em indivíduos com hiperidrose facial. Os efeitos do aumento da temperatura da pele podem desencadear condições como miliária rubra

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e urticária colinérgica. O microambiente húmido e quente criado pelo uso da máscara aumenta a susceptibilidade da pele a infecções por fungos/ leveduras, incluindo candidíase e malassezia, ambos comensais comuns de pele saudável. Recomendações: Apesar dos problemas que a utilização da máscara pode revelar, é fundamental o uso contínuo e diário da mesma. Deixamos algumas recomendações que podem ajudar a minimizar os sintomas: • Limpeza: produtos de limpeza suaves, com ingredientes activos antibacterianos, para a manutenção de um microbioma de pele saudável; •

Cuidados diários: evitar produtos com álcool, ácido salicílico, alfa-hidroxiácidos e retinóis em formulações de cuidados para a pele com acne, por causa do risco aumentado de dermatite de contacto irritativa sob oclusão prolongada;

Hidratantes: dar preferência a produtos à base de água, como séruns e loções ao invés de pomadas;

Protecção solar: não abdique do seu protector solar diariamente;

Escolha da máscara: as fibras naturais, como o algodão, o linho, a seda e o liocel, oferecem maior respirabilidade em comparação com as fibras sintéticas, pois absorvem a humidade da pele. Estas podem ser benéficas para manter a superfície da pele seca e reduzir o crescimento excessivo de micro-organismos. No entanto, as fibras naturais aumentam os níveis de saturação. Isso aumenta os sintomas de desconforto e peso. É, por isso, muito importante a lavagem das máscaras e trocálas para que a pele consiga respirar melhor.

Vários são os factores dermatológicos que podem levar à não adesão da máscara facial, muitos deles relacionados à humidade e ao material e design da mesma. A não utilização destas não é, actualmente, opção, pelo que urge a necessidade de recorrer a medidas que minimizem os danos para a pele e ajudem a reparação cutânea.

Referências Bibliográficas: The “Maskne” microbiome – pathophysiology and therapeutics - Teo - - International Journal of Dermatology - Wiley Online Library

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REPORTAGEM

ÁREA REGULAMENTAR, SABE O QUE É?

Dra. Zola João Técnica média de Farmácia pelo IMS de Luanda, Licenciada pela Universidade Jean Piaget de Angola/Ciências Farmacêuticas Agente de Segurança Higiene e saúde no trabalho; Diretora Técnica da Australpharma

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A DRA. ZOLA JOÃO É FARMACÊUTICA LICENCIADA PELA UNIVERSIDADE JEAN PIAGET. ACTUALMENTE, EXERCE FUNÇÕES DE DIRECTORA TÉCNICA NA EMPRESA AUSTRALPHARMA. É COM MUITO GOSTO QUE CONTAMOS COM A SUA PRESENÇA PARA A NOSSA RUBRICA REGULAMENTAR, ONDE NOS IRÁ DAR A CONHECER UMA ÁREA DO SECTOR FARMACÊUTICO TÃO IMPORTANTE.

A

área regulamentar compreende as exigências dos padrões de segurança que as autoridades impõem no domínio da saúde e, muito especialmente, no sector farmacêutico. É uma actividade fundamental nos processos de desenvolvimento, registo, acesso ao mercado, informação e apoio aos profissionais de saúde, bem como na monitorização da utilização dos medicamentos e dispositivos médicos. É necessário conhecer as exigências que as autoridades impõem como padrões de segurança no sector da saúde e, muito especialmente, no sector farmacêutico, público ou privado. Quando falamos em assuntos regulamentares, podemos falar em: • Revisão da documentação técnica, isto é, rotulagem e instruções de utilização dos medicamentos e de suplementos alimentares, dispositivos médicos e outros produtos de saúde; • Preparação ou revisão da documentação técnica de autorização de introdução no mercado de medicamentos e pela submissão e gestão de pedidos de AIM por procedimento nacional, reconhecimento mútuo ou descentralizado;

Organização de documentos, manutenção de todos os registos de movimentação e de irregularidades organizados, para rápida informação quando solicitada; Manutenção de um sistema que permita a rastreabilidade dos produtos, de modo a possibilitar a sua localização, com vista a um processo eficaz de intervenção ou retirada.

Temos vários factores que podem alterar o produto, desde aqueles relacionados à fabricação, factores ambientais (temperatura, luz, vapor de água e humidade), o transporte e armazenamento, o manuseamento inadequado que pode afectar a sua estabilidade (empurrar, atirar, chocalhar, etc.) e sendo todos estes factores controláveis. Assim, encontramos o factor principal interligado à área da Direcção Técnica por meio de sistema de informação. A Direcção Técnica é a incontestável necessidade de um profissional responsável por todo ciclo do medicamento, sendo o farmacêutico a garantia de informação ao manuseio dos medicamentos dentro do armazém ou depósito, da farmácia comunitária, farmácia hospitalar assim como um agente de saúde pública. Os objectivos da Direcção Técnica são garantir a integridade dos produtos armazenados, desde a recepção à distribuição; assegurar condições satisfatórias de conservação do produto; manter níveis de stock de mercadoria compatível com o equilíbrio stock/entrega e produzir informação.

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Torna-se fundamental que as organizações de saúde estabeleçam e monitorizem critérios para assegurar que os medicamentos estejam a ser recebidos, armazenados e controlados de maneira eficaz e correcta. O medicamento também merece cuidados e encontramos na Direcção Técnica o grupo de actividades para apoiar as acções de saúde, com normas definidas e seguidas e que devem ser controladas e avaliadas por indicadores de desempenho e qualidade. Para garantir as Boas Práticas de Distribuição e Armazenamento dos Medicamentos e Produtos Sanitários, há que definir procedimentos, planos, registos, normas de controlo da atividade da empresa e modo de procedimento e velar pelo seu cumprimento rigoroso. A identidade da Direcção Técnica é percebida pela sua missão, visão e, principalmente, pelos valores que a constituem, sendo estas as características que moldam o seu presente e futuro. Em 2005, lançou-se a segunda edição do Manual da USAID de formação sobre a gestão de medicamentos, com objectivo de elaborar todos os procedimentos que o profissional de saúde deve seguir para realizar a correcta gestão dos medicamentos e outros produtos. Como guia de orientação, temos o Manual de Procedimentos para Gestão e Controlo de Medicamentos do Programa Nacional de Medicamentos Essenciais (PNME). Em 2010, saiu a I série - N.º 166 de 1 de Setembro de 2010 e o Decreto Presidencial N.º 191 de 1 de Setembro sobre o Regulamento de Exercício da Actividade Farmacêutica. Em 2012, a Direcção Nacional de Medicamentos e Equipamentos lançou o Manual de Normas de Boas Práticas de Armazenamento e Distribuição de Medicamentos e Produtos Sanitários, que oferece normas e procedimentos básicos que possam assegurar a qualidade e a segurança dos medicamentos armazenados e distribuídos, tanto na rede pública, como na rede privada. As condições ambientais de temperatura de 25ºC, humidade inferior a 60% e protecção da luz solar directa são fundamentais para assegurar a continuidade da eficiência dos produtos até ao consumidor final, de acordo com as normas técnicas vigentes de padrões de qualidade dos medicamentos dispensados. Também temos as normas com base das recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS): o Requisito NP EN ISO9001.

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Os medicamentos são produtos diferenciados, de suma importância para a melhoria ou manutenção da qualidade de vida da população. A preservação da sua qualidade deve ser garantida, desde a sua fabricação até à dispensa ao paciente. Qualquer que seja o processo de armazenamento e distribuição, merece cuidado, procedimentos escritos, normas definidas e seguidas e deve ser controlado e avaliado por indicadores de performance e qualidade. O armazenamento é a etapa do ciclo da assistência farmacêutica que visa garantir a qualidade e a guarda segura dos medicamentos ou insumos farmacêuticos, sendo que o manuseio inadequado pode afectar a sua estabilidade. É essencial o conhecimento das metas para alinhar com os objectivos que são definidos para um bom funcionamento dentro do armazém ou depósito de medicamentos. A Direcção Técnica desempenha um papel essencial no processo de reorganização e modernização no depósito de medicamentos, promovendo a melhoria contínua da qualidade dos serviços técnicos prestados, funcionando como centro de apoio nas Boas Práticas de Armazenamento e Distribuição de Medicamentos e Produtos Sanitários. Estamos comprometidos com os nossos clientes e empenhados na satisfação das suas necessidades, superando as suas expectativas. Valores da Direcção Técnica: parceria, eficiência, inovação, serviço, simplicidade, qualidade dentro de uma visão e missão de acesso à saúde. Missão: criar valores através da promoção da saúde. Visão: ser um parceiro de referência no desenvolvimento do acesso à saúde. Convido todos os profissionais farmacêuticos, por que juntos somos mais e melhores, a fazer de todas as direcções técnicas um brilho no seio das nossas comunidades. A minha visão é não sermos repetidores, mas sim promotores de inovação. Eu não tenho como impedir a morte, mas, “desde o nascimento até à morte”, estou neste meio para fazer a diferença.


AGENDA FORMAÇÃO ONLINE

Calendário Julho’21 7’ Jul| 10h00 - 12h00 Introdução à gestão de armazém Valor inscrição: 15,000,00 Kz 7’ Jul| 14h00 - 16h00 Infecções vaginais Valor inscrição: 15,000,00 Kz

sem a d n e r Ap asa! c e d r i sa

21’ Jul | 10h00 - 12h00 Introdução à gestão logística e de recepção Valor inscrição: 15,000,00 Kz 21’ Jul| 14h00 - 16h00 Contracepção Valor inscrição: 15,000,00 Kz 28’ Jul | 10h00 - 12h00 Gestão financeira Valor inscrição: 15,000,00 Kz

FAÇA AQUI A SUA INSCRIÇÃO!

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REPORTAGEM

O IMPACTO DA COVID-19 NA SAÚDE OCULAR

Dr. Djalme Fonseca Licenciado em Optometria e Ciências da Visão pela Universidade do Minho, Portugal. Pós-graduado em Avaliação Optométrica Pré e Pós Cirúrgica pela Universidade de Valência, Espanha. Founder & CEO da Óptica Optioptika

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A COVID-19 FOI REPORTADA, PELA PRIMEIRA VEZ, EM WUHAN, NA CHINA, EM DEZEMBRO DE 2019, ESPALHANDO-SE A TODAS AS PARTES DO MUNDO E TOMANDO PROPORÇÃO DE PANDEMIA EM MARÇO DE 2020. A DOENÇA PODE VARIAR ENTRE O ASSINTOMÁTICO E PEQUENOS SINTOMAS DE GRIPE ATÉ SEVEROS PROBLEMAS RESPIRATÓRIOS QUE PODEM CAUSAR A MORTE. É, AGORA, DE CONHECIMENTO CIENTÍFICO QUE PODE AFECTAR QUASE TODOS OS ÓRGÃOS, INCLUINDO OS NOSSOS OLHOS. FOI, INCLUSIVE, UM OFTALMOLOGISTA O PRIMEIRO A REPORTAR A PRESENÇA DO VÍRUS EM WUHAN, TENDO MESMO SUCUMBIDO AO MESMO ENQUANTO TRATAVA UM PACIENTE COM GLAUCOMA. AS ALTERAÇÕES OCULARES PODEM VARIAR EM TERMOS DE APRESENTAÇÃO, SEVERIDADE E “TIMING”.


E

xistem várias evidências que as manifestações oculares são mais comuns em pacientes com doenças sistémicas severas com sangue anormal e parâmetros inflamatórios. Baseado em algumas evidências encontradas nos olhos de muitos pacientes com Covid-19, foi sugerido que a exposição ocular sem protecção pode levar a uma infecção com o vírus SARS-COV-2. Contudo, existe um risco muito baixo de transmissão pela superfície ocular. Com o aumento dos estudos, das publicações e dos dados científicos, é extremamente importante para os oftalmologistas, e outros profissionais de saúde ocular, como os optometristas, por exemplo, terem o conhecimento sobre as manifestações e condições oculares, que directa e indirectamente, provêm desta doença viral, de forma a diagnosticar, referenciar e tratar as mesmas o mais rápido e adequado possível. As alterações oculares acontecem em diferentes zonas do globo ocular. De forma a sintetizar a informação, optamos por dividir as alterações por segmentos do globo ocular. A nível da pálpebra, superfície ocular e da córnea, foram reportadas as presenças das seguintes manifestações patológicas: Conjuntivite Folicular, Queratoconjuntivite Viral, Conjuntivite Hemorrágica e Pseudomembranosa e Epiesclerite. A nível palpebral, são referenciadas anormalidades no orifício das glândulas de Meibómio e hiperemia na margem palpebral, bem como blefarite. Abordando pela prevalência de sinais e sintomas oculares nestas regiões, podemos elucidar os seguintes: sensação de olho seco, dor ocular, descarga, vermelhidão, lacrimejo, sensação de corpo estranho, fotofobia, comichão, visão turva, sensação de ardor, crostas nas pestanas, hiperemia marginal palpebral. A conjuntivite é a manifestação oftálmica mais comum documentada em pacientes com Covid-19. Todos os pacientes sintomáticos referiram um historial de vermelhidão em, pelo menos, um dos olhos. Também está provada a correlação entre a presença de sintomas do tracto respiratório associados à congestão conjuntival. Para os oftalmologistas, a consideração mais importante a reter, no actual cenário pandémico, é que devem ter um alto índice de suspeita de Covid-19 em pacientes que apresentem conjuntivite. Durante o exame oftalmológico, devem ser usadas todas as medidas de protecção para excluir as causas mais comuns da conjuntivite, como bacterial, clamídia, adenoviral ou por outras doenças. Pacientes com conjuntivite devem ser questionados por outros sintomas relacionados com a Covid-19 e, caso estejam presentes, estes pacientes devem ser testados à Covid-19 o mais urgente possível.

Uma das zonas do globo ocular também susceptível ao vírus é o segmento posterior. Aqui, englobamos as seguintes manifestações oculares: • No que concerne a oclusões vasculares da retina, temos as seguintes: oclusão da veia central da retina, oclusão da artéria central da retina, neuroretinopatia macular aguda. • Na retina, temos vitrite e outras anormalidades na retina exterior, necrose retinal aguda. • Na úvea, coroidite serpiginosa. A nível das manifestações neuro-oftálmicas de Covid-19, estas são muito pouco comuns e, até ao presente, apenas foram reportados alguns casos isolados, encontrandose, neste grupo, a Papillophlebitis, neurite óptica, pupila de Adie´s, síndrome Miller Fisher e paralisia do nervo cranial, ptose neurogénica, acidente cerebrovascular com perda de visão. Com base nestas conclusões, é muito importante questões a efectuar ao paciente sobre visão dupla, diminuição da visão, dor em determinados movimentos oculares e outras condições neurológicas. As manifestações orbitais (órbita ocular) descritas ainda são reduzidas, contudo vários estudos salientam que as mesmas podem aumentar, à medida que existe um intercâmbio de informação e um aumento no número de casos de Covid-19. Mesmo sendo reduzidas, as mais comuns documentadas são dacrioadenite, dor retroorbital, celulite orbital e sinusite, mucormycosis, com a prevalência das manifestações oculares a poderem chegar até 32% dos pacientes com Covid-19. Com a fase de vacinação a decorrer, uma substancial proporção da população já entrou em contacto com o vírus SARSCOV-2. Podemos, certamente, esperar um aumento da doença a nível dos olhos e ver cada vez mais casos similares. É, agora, cada vez mais importante que o oftalmologista tenha em mente a importância de perguntar, especificamente, sobre a infecção anterior por SARSCOV-2, contacto com pessoas infectadas ou sintomas relacionados. A Covid-19 pode ser, presentemente, a possível causa de algumas das manifestações oculares apresentadas pelos pacientes nos diversos consultórios, clínicas e hospitais.

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ENTREVISTA

JORNADAS CIENTÍFICAS JEAN PIAGET

NOS PASSADOS DIAS 8 E 15 DE MAIO, REALIZARAM-SE AS I JORNADAS CIENTÍFICAS NA UNIVERSIDADE JEAN PIAGET DEDICADAS AOS ESTUDANTES DO CURSO DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS. ESTE WORKSHOP TEVE COMO TEMA CENTRAL “MARKETING FARMACÊUTICO DOS GESTORES E FARMÁCIAS COMUNITÁRIAS”, COM O OBJECTIVO DE FACILITAR A COMUNICAÇÃO E ATRIBUIR TÉCNICAS DE MARKETING E MERCHANDISING AOS FUTUROS PROFISSIONAIS DE FARMÁCIAS QUE IRÃO INGRESSAR NO MERCADO DE TRABALHO. A TECNOSAÚDE MARCOU PRESENÇA NESTAS JORNADAS, COM UMA PALESTRA SOBRE “TÉCNICAS DE MARKETING E MERCHANDISING”, NO PRIMEIRO DIA DO EVENTO. NESTE DIA, E PARA ALÉM DESTA TEMÁTICA, FORAM AINDA DISCUTIDAS ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO NAS FARMÁCIAS E A SITUAÇÃO DAS FARMÁCIAS COMUNITÁRIAS, EM ANGOLA, COM A PRESENÇA DA DIRECTORA NACIONAL DA DNME. DR. WILSON ANÍBAL, COORDENADOR DO CURSO DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS DA UNIVERSIDADE JEAN PIAGET, ABORDA O PROGRAMA E COMENTA O CURSO DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS.

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elementos essenciais à formação profissional e facilitando a absorção de conhecimentos culturais e das diferentes fronteiras da ciência; o incentivo ao desenvolvimento da cultura da avaliação, tanto do processo ensino-aprendizagem quanto à avaliação do curso e institucional, de forma a subsidiar os processos de mudanças necessárias no projecto pedagógico, interpretando-o sempre como uma peça em construção. O curso de Ciências Farmacêuticas tem a duração de cinco anos.

Dr. Wilson Aníbal Coordenador do Curso de Ciências Farmacêuticas da Universidade Jean Piaget

C

omo é que está dividido o curso de Ciências Farmacêuticas e, a seu ver, qual a mais-valia do mesmo? O curso de Ciências Farmacêuticas foi concebido com base nos seguintes pressupostos: assegurar ao aluno uma formação ampla, crítica e reflexiva, que garanta autonomia e discernimento; assegurar a formação, além de um profissional competente, de um cidadão comprometido com a sociedade através do desenvolvimento de atitudes e valores éticos compatíveis com os desafios da construção de uma sociedade sustentável e em constantes mudanças; assegurar a sociedade entre ensino e pesquisa, procurando enfatizar o “aprender a aprender” como uma prática de construção do conhecimento e estimuladora da educação continuada; favorecer a flexibilização curricular, de forma a atender interesses mais específicos/actualizados, sem perda dos

Como foi organizar um evento presencial, em pleno tempo de pandemia, com todas as condições de higiene e segurança a serem cumpridas? Não foi fácil, mas com sentido de missão e valorização da classe farmacêutica em Angola, e com o objectivo de formar farmacêuticos com bases teóricas e técnico-científicas que permitam assegurar uma acção competente, com apoio de fortes parceiros, como a Direcção Nacional de Medicamentos e Equipamentos (DNME), a Australpharma, a Tecnosaúde, a Nestlé e a Shalina, conseguimos alcançar os objectivos preconizados e contamos com a presença de um maior número de gestores de grandes empresas do sector farmacêutico no país, para melhoria do atendimento aos clientes. É de salientar, ainda, que as medidas de biossegurança foram bem seguidas e contámos também com a presença de grandes individualidades do país. Após o evento, qual a principal conclusão que se retira do mesmo? Conseguimos atingir os objectivos dos gestores e os estudantes receberam subsídios suficientes para a capacitação cognitiva e habilidades para que possam actuar no âmbito profissional. O referido workshop também serviu para homenagear os grandes profissionais do sector farmacêutico do país, que tudo fazem para garantir a qualidade dos profissionais que vão para o mercado de trabalho. Enquanto coordenador do curso de Ciências Farmacêuticas, qual/ou quais as maiores preocupações com os futuros profissionais do nosso país? Que haja maior oportunidade para que os profissionais possam ser enquadrados nas unidades hospitalares públicas ou privadas, em empresas ou mesmo na docência. O Ministério da Saúde deverá colocar à disposição mais vagas, para que os farmacêuticos possam desempenhar as suas funções que, muitas vezes, são desempenhadas por outras pessoas que não possuem o conhecimento das propriedades organolépticas do medicamento.

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REPORTAGEM REP

“A PROXIMIDADE QUE SEMPRE MARCOU A FARMÁCIA SAIU AINDA MAIS REFORÇADA DO CONTEXTO PANDÉMICO”

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A

s equipas das farmácias têm desempenhado um papel crítico, no período pandémico, no apoio à população. Não obstante, o consumo no sector farmacêutico sofreu muitas alterações. Em dermocosmética, o mercado português caiu cerca de 10%, com quedas mais significativas em solares, cuidados de rosto e maquilhagem.

A PANDEMIA TROUXE ALTERAÇÕES A TODAS AS ÁREAS E A DA DERMOCOSMÉTICA NÃO FOI EXCEPÇÃO. NESTE MOMENTO, ESTA ÁREA REPRESENTA JÁ 25% DO PESO DE MERCADO NAS FARMÁCIAS E PARAFARMÁCIAS PORTUGUESAS, QUANDO HÁ SETE ANOS NÃO IA ALÉM DOS 16%. O CONSUMIDOR MUDOU E AS VENDAS ONLINE DE DERMOCOSMÉTICA MAIS DO QUE DUPLICARAM, NO ÚLTIMO ANO. SÃO NÚMEROS IMPRESSIONANTES, MAS QUE OBRIGARAM A FARMÁCIA COMUNITÁRIA A ADAPTAR-SE A ESTE MOMENTO, PARA O QUAL NINGUÉM ESTAVA, VERDADEIRAMENTE, PREPARADO. POR ISSO MESMO, ESTE É O MOMENTO CERTO PARA REFLECTIR SOBRE AS FERRAMENTAS E AS ATITUDES QUE PODEM CONTRIBUIR PARA POSICIONAR AS EQUIPAS DAS FARMÁCIAS, SEJA EM PORTUGAL, SEJA EM ANGOLA, NA LINHA DA FRENTE NO CONTACTO COM O CONSUMIDOR DESTA NOVA ERA. UMA REFLEXÃO ONDE NOS ACOMPANHA SANDRO CARDOSO, DIRECTOR GERAL DA L’ORÉAL COSMÉTICA ACTIVA PORTUGAL, QUE PROMOVEU O EVENTO DIGITAL PHARMAFORWARD, PARA UM DEBATE DE IDEIAS E DE BENCHMARKING COM ESPECIALISTAS DAS ÁREAS DIGITAL E DA SAÚDE, DE MODO A ENTENDER AS NOVAS TENDÊNCIAS.

Contudo, as vendas online mais do que duplicaram. “A pandemia obrigou muitas farmácias e parafarmácias a fazerem um ‘upgrade’, através da adaptação a novas mecânicas, por exemplo, a meios de pagamentos mais digitais, criação e desenvolvimento de lojas online associadas a farmácias e a intensificação de parcerias com serviços de ‘home delivery’. Apesar da distância forçada, considero que as farmácias e parafarmácias saíram com um papel reforçado de associação a segurança, saúde e bens essenciais”, introduz Sandro Cardoso, director geral da L’Oréal Cosmética Activa Portugal. Apesar de ninguém estar devidamente preparado, as farmácias trabalharam, desde o início, na aquisição das competências necessárias para uma rápida adaptação, que as posicionam como um elemento fundamental na promoção da saúde e de acompanhamento da população. Pelo que o futuro, e até já o presente, destes espaços passará pelo facto de terem, inevitavelmente, um conceito mais omnicanal. “Quando falo de ominicanalidade, não falo apenas através de e-commerce, mas sim de toda a transformação digital no conceito de farmácia, por exemplo, na necessidade de digitalização do espaço físico de farmácia ou, até mesmo, da transposição da proximidade física para o online, com uma forte personalização que diversos serviços já o permitem hoje”, defende Sandro Cardoso. Modelo híbrido A digitalização do sector da farmácia e parafarmácia potenciou o conceito de conveniência, dando ao consumidor acesso aos produtos/serviços de forma quase imediata. Para o director geral da L’Oréal Cosmética Activa, o principal desafio do póspandemia será a criação de modelos híbridos de venda e aconselhamento, potenciando as mais-valias dos vários canais. Este modelo incluirá, no entanto, a digitalização da loja física, que potencializa a experiência de compra e torna-a mais rápida

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a personalização do serviço. Rapidez e conveniência são palavras-chave, não só na automatização e consequente aceleração ao nível do atendimento e dos meios de pagamento, mas também no “upgrade” na experimentação de produtos, nomeadamente de higiene e beleza, recorrendo a ferramentas digitais ou ao acesso a uma informação mais completa e interactiva do produto. “Por outro lado, existem marcas a fazer um excelente trabalho de recrutamento, por exemplo, Cerave, a primeira marca no mundo a juntar dermatologistas e ‘influencers’ na mesma campanha de TikTok”, exemplifica. Sandro Cardoso Director Geral L’Oréal Cosmética Activa Portugal

e mais conveniente. Mas, sublinha Sandro Cardoso, a personalização da compra online, onde tem que haver um atendimento único a cada consumidor, terá de aproximar-se da experiência com contacto físico. A proximidade que sempre marcou a farmácia saiu ainda mais reforçada do contexto pandémico. Convém não esquecer que menos de 45% dos portugueses faz compras online, número muito aquém da média da União Europeia, o que significa que continua a ser um país de compras físicas, sobretudo nas áreas de higiene e beleza. “O que nos posiciona num modelo híbrido, com um consumidor omnicanal, utilizando o online e o offline, em simultâneo. Apesar disso, os próximos anos serão, certamente, de um forte crescimento e as compras online de beleza e saúde duplicaram em 2020 versus 2019”, detalha. De modo a recrutarem as novas gerações de consumidores e continuarem a manter a sua relevância, as farmácias terão de apostar na digitalização, mas sem esquecerem

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Proximidade No entender do gestor, tendências como o compre online, recolha na farmácia fazem todo o sentido neste universo. “Impulsionam o digital e a conveniência do consumidor, mas mantêm a proximidade com a farmácia comunitária, que estará sempre presente, mesmo em locais onde não existem centros de saúde e se tornam a solução número um, devido ao acesso facilitado e ao serviço de saúde diferenciado”. A integração das ferramentas digitais no negócio das farmácias é fundamental e todos os profissionais de saúde devem olhar para as mesmas não como um risco, mas como uma oportunidade, uma vez que podem ser um apoio e uma complementaridade ao diagnóstico e à terapêutica dos doentes. Hoje em dia, o digital já é responsável por uma maior sensibilização para o diagnóstico precoce, para a identificação de sinais e sintomas e, até mesmo, para uma maior literacia em saúde.


“Mas isto não substitui, em nenhum momento, a necessidade de avaliação por um profissional de saúde, a exemplificação do funcionamento de um medicamento ou dispositivo, a verificação de interacções medicamentosas ou a adesão ao tratamento. Para isto, precisamos de profissionais de saúde e é isso que a farmácia nos garante, com acesso facilitado e sempre próximo”.

mulheres portuguesas tenha feito uma compra online em período pandémico. Por outro lado, a farmácia e a parafarmácia continuam a ser os canais privilegiados de compra, com penetrações superiores a 40%.

Dermocosmética De acordo com Sandro Cardoso, a credibilidade dos produtos e a segurança do aconselhamento farmacêutico reforçam a posição e o potencial da dermocosmética na farmácia, hoje e no futuro próximo. Um segmento em expansão, no negócio de beleza e saúde, representando já 25% do total em Portugal. Há sete anos, era apenas 16%, o que demonstra o valor acrescentado que esta área traz à proposta de valor global das farmácias, bem como o papel dos profissionais de saúde, como os dermatologistas e farmacêuticos. A farmácia, hoje, vai muito além da dispensa médica e engloba serviços alargados de diagnóstico, aconselhamento e acompanhamento da saúde e bem-estar do consumidor.

A digitalização na farmácia tem permitido a acessibilidade a produtos ou serviços de saúde, potenciando este conceito de conveniência. Mesmo que, previsivelmente, em pós-pandemia, haja um retorno à loja física, continuará a haver a possibilidade de aconselhamento à distância, acesso a informação de rotinas e produtos através dos canais digitais e à compra onde, como e quando o consumidor desejar.

A redução de tráfego nas farmácias, durante o período pandémico, originou uma incontornável contracção do consumo. “Ainda assim, criaram-se novos hábitos e rotinas de consumo em categorias específicas. Assistimos, por exemplo, ao crescimento da categoria de tratamentos para acne, fruto do ‘Maskne’, termo que se refere ao acne causado pelo uso regular e prolongado da máscara”, explica Sandro Cardoso. Este é um universo onde as compras online também dispararam. No mercado total de higiene e beleza, estima-se que 35% das

Futuro O director geral da L’Oréal Cosmética Activa Portugal perspectiva o futuro da dermocosmética, dentro das farmácias, como muito próspero. “Devemos, no entanto, estar preparados para um novo consumidor omnicanal, mais consciente, mais exigente, com compras mais planeadas, que espera conveniência e que tem preocupações de sustentabilidade. É fundamental estarmos todos preparados, de forma muito rápida e eficaz, para este consumidor”.

A empresa tem estado atenta às tendências que vão pautar o futuro próximo do sector, nomeadamente, a sustentabilidade, a ultra personalização e as farmácias Phygital. Começando pela sustentabilidade, no entender de Sandro Cardoso, já não basta desenvolvimento e inovação de ponta para o consumidor de dermocosmética. “Temos de ir muito mais além, dando acesso alargado à forma como são desenvolvidos os nossos produtos até à cadeia de distribuição”. Outra tendência passa pela ultra personalização do produto e experiência, que poderá passar não só por um acompanhamento personalizado de cada consumidor, como pelo desenvolvimento e personalização, em tempo real, de produtos com fórmulas únicas para cada indivíduo. “Por fim, e numa perspectiva de negócio, destacaria a aceleração de modelos híbridos na prescrição e venda de produtos de dermocosmética”.

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ENTREVISTA

FISIATRIA: UMA ESPECIALIDADE ESSENCIAL AO BEM-ESTAR

Dra. Marisa Rezende Licenciada em Medicina/Clínica Geral pela UAN (Universidade Agostinho Neto – Angola); Especialista em Medicina Física e Reabilitação/Fisiatria pela USP (Universidade de São Paulo – Brasil); Especialista em Terapia da Dor e Acupuntura pela USP – Brasil; Membro do Colégio de Especialidade de Medicina Física e Reabilitação; Membro do grupo de treinamento da OMS (Organização Mundial da Saúde) em Serviços para Cadeira de Rodas pela USP – Rede LucyMontoro – Brasil; Pós-graduada em Medicina do Trabalho pela faculdade BWS São Paulo - Brasil

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HÁ AINDA UM DESCONHECIMENTO GENERALIZADO SOBRE O QUE É, EFECTIVAMENTE, O TRABALHO DE UM FISIATRA, MUITAS VEZES CONFUNDIDO COM UM FISIOTERAPEUTA. DRA. MARISA REZENDE DETALHA O ÂMBITO DE INTERVENÇÃO DE CADA UM E A SUA IMPORTÂNCIA NO PROCESSO DE REABILITAÇÃO HUMANA.

A

ntes de mais, é necessário esclarecer: o que é a fisiatria? A fisiatria é uma especialidade médica que trata de várias doenças e das suas sequelas, que são capazes de causar algum tipo de incapacidade, limitação física ou a perda de alguma habilidade sensorial, neurológica, respiratória e motora num determinado paciente. Tem actuação em todas as faixas etárias (desde o recémnascido, adulto até ao idoso).


entre outros). Aqui, deverá ressaltar-se que é a especialidade que muito aplica o conceito de cuidados de saúde em equipa multidisciplinar e interdisciplinar, em prol da melhoria do paciente. Este profissional também faz a prescrição de meios auxiliares de marcha, ortóteses e próteses, de acordo com a limitação ou incapacidade que o paciente apresente.

Quais as principais áreas de actuação da Medicina Física e Reabilitação? O médico fisiatra/especialista em Medicina Física e Reabilitação actua em várias áreas e com todas as faixas etárias, tendo como principais a reabilitação pediátrica, a reabilitação musculosquelética, a reabilitação neurológica, a reabilitação oncológica, a reabilitação do idoso, a reabilitação respiratória, a reabilitação urológica e ginecológica, a terapia da dor e técnicas terapêuticas minimamente invasivas. Existem patologias e condições de ordem física, psíquica ou sensorial que podem causar prejuízo à autonomia do utente para as actividades diárias e profissionais, gerando uma limitação a longo prazo. Como é que a fisiatria actua neste campo? O fisiatra, sendo médico, faz a avaliação do paciente como em todas as outras especialidades, com a anamnese, exame físico com as suas respectivas especificidades (exame músculo esquelético, neurológico, cardiovascular, respiratório, entre outros), testes clínicos específicos (como o teste de Lasegue, teste de força muscular, entre outros), solicitação de exames complementares (desde imagiológicos a laboratoriais), estabelecimento de diagnóstico clínico e funcional, prescrição de medicação de acordo com a necessidade individual de cada paciente, prescrição/ encaminhamento para as terapias (como terapia da fala, terapia ocupacional, fisioterapia, ortoprotesia,

Muitas vezes, esta especialidade médica é confundida com a fisioterapia. Consegue-nos fazer a grande distinção de duas áreas que acabam por se complementar, mas que são distintas? A distinção entre a fisiatria e a fisioterapia é a seguinte: o fisiatra é o médico, tem de fazer os anos de licenciatura em Clínica Geral e, de seguida, os anos de especialidade em Medicina Física e Reabilitação; o fisioterapeuta é o terapeuta, licenciado superior em Fisioterapia. Costumo fazer a seguinte analogia: todas as especialidades têm a área médica e a área técnica. O médico fisiatra faz diagnóstico clínico/funcional, a interligação das inabilidades e ou incapacidades com as patologias que o paciente tenha ou possa vir a apresentar, atempadamente prescreve medicações, acompanha a interacção farmacológica e efeitos para auxiliar o tratamento reabilitador e faz procedimentos médicos minimamente invasivos sempre que necessário. O fisioterapeuta, por sua vez, faz a avaliação funcional e tem a competência, de acordo com o diagnóstico funcional, de estabelecer e definir objectivos estratégicos do plano terapêutico, aplicar as terapias e técnicas para melhorar, estimular, devolver ou potencializar o restauro da função. São áreas complementares, existindo uma simbiose e continuidade de cuidados entre os médicos fisiatras e os fisioterapeutas. Mais uma vez, aqui entra a multidisciplinaridade e interdisciplinaridade. Em Angola, qual a sua opinião relativamente à especialidade? O que é que necessita para melhorar? Penso que ainda há um grande desconhecimento da especialidade, consequentemente, muitos pacientes que poderiam beneficiar da nossa avaliação e seguimento nem sequer nos são encaminhados, infelizmente. Para melhorar, precisamos, basicamente, que haja uma maior inclusão da especialidade nas faculdades de medicina do país, para que se melhore o conhecimento sobre a mesma e possamos ter mais especialistas nesta área. Que haja camas de internamento e/ou hospitais de reabilitação em várias províncias do país, que tenhamos uma maior interacção com as outras especialidades médicas, que haja divulgação da especialidade por intermédio dos meios de comunicação, como esta newsletter e outros. Como é que os utentes encaram a fisiatria no nosso país e o seu acesso? Muitos dos utentes desconhecem-na. Os que nos chegam perguntam-nos porque que razão não existem mais especialistas nesta área e referem ter gostado da consulta e da forma como são atendidos, pois temos uma abordagem bem abrangente. Quanto ao seu acesso, depende, em grande medida, da referenciação dos colegas profissionais de saúde, mas, por sermos poucos e estarmos concentrados, maioritariamente, em Luanda, dificulta e limita o acesso de pacientes de outras províncias.

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REPORTAGEM

RBLH ANGOLA PARTILHA EXPERIÊNCIA DE RESILIÊNCIA EM TEMPO DE PANDEMIA A CONVITE DA REDE BANCO DE LEITE HUMANO BRASIL (RBLH), ANGOLA PARTICIPOU NO FÓRUM DE COOPERAÇÃO TÉCNICA INTERNACIONAL DE DOAÇÃO DE LEITE HUMANO, EVENTO VIRTUAL REALIZADO NOS DIAS 17, 18 E 19 DE MAIO, COM O LEMA “DOAÇÃO DE LEITE HUMANO LIÇÕES APRENDIDAS DURANTE A PANDEMIA DE COVID-19. O QUE PODEMOS FAZER A MAIS?”, POR OCASIÃO DO DIA MUNDIAL DE DOAÇÃO DO LEITE HUMANO, ASSINALADO A 19 DE MAIO.

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a sua intervenção, a coordenadora do Banco de Leite Humano Angola (RBLH – Angola), a médica pediatra Dra. Elisa Gaspar, destacou o papel do Corpo Nacional dos Bombeiros e, em particular, do Comando Provincial dos Bombeiros de Luanda pela sua relevância na manutenção do stock de leite humano no Banco de Leite, numa altura de desafios para a resolução de duas necessidades: por um lado, a prevenção do contágio pelo coronavírus e, por outro, a necessidade de se continuar a alimentar recém-nascidos em situação de vulnerabilidade. A resiliência de Angola acaba por servir de exemplo para os países membros da rede, já que a sua experiência pode ser replicada, adaptada ao contexto social de cada país. Nesse sentido, no entender da coordenadora nacional do RBLH Angola, para além dos bombeiros, é possível recorrer-se ao contributo das mães que estão a amamentar e de outras forças de segurança, militares e paramilitares. O papel das bombeiras que se encontram a amamentar é significativo, seja enquanto doadoras regulares de leite humano, seja enquanto intervenientes directas no processo, no papel de Agentes Comunitárias, para o reforço das brigadas de colecta e distribuição de leite humano nas comunidades. Recorde-se que, em 2021, o RBLH Angola completa o segundo aniversário, desde que foi inaugurado, a 18 de Novembro de 2019, e fá-lo em cenário de pandemia, situação que o afectou

gravemente, em termos do baixo nível de doação e, concomitantemente, de stockagem, embora exista um grande número de crianças que necessitam do leite humano, pelas múltiplas razões conhecidas. No primeiro ano de actividade, o RBLH Angola beneficiou mais de 400 crianças, número que continua a crescer, apesar dos constrangimentos. Em alusão às celebrações da efeméride de 19 de Maio de 2021, uma vez mais, mais de 150 mulheres bombeiras predispuseram-se a doar, no âmbito da parceria existente entre o Comando Provincial dos Bombeiros de Luanda e o Banco de Leite Humano. Comandante provincial dos bombeiros de Luanda reitera apoio Ainda por ocasião do Dia Mundial da Doação de Leite Humano, o Comandante Provincial dos Bombeiros de Luanda, comissário bombeiro João António Francisco, efectuou uma visita guiada às instalações do Banco de Leite Humano, onde recebeu de Elisa Gaspar esclarecimentos sobre o funcionamento do mesmo. Na ocasião, o comissário garantiu que estão mobilizadas mais de 400 gestantes da sua corporação para futuras doações, após darem à luz, durante o período de licença de maternidade e em toda a fase de aleitamento, de forma regular. Campanha como uma estratégia complementar Visando reforçar as acções em prol da capacidade de resposta do Banco de Leite Humano, o RBLH Angola tem vindo a preparar uma campanha nacional permanente de educação para a saúde e sensibilização para a importância da doação de leite humano. Intitulada “Campanha de aleitamento materno doação de leite humano - a pandemia trouxe mudanças, a sua doação traz esperança - uma acção global”, a campanha, que recorre a soluções multimédia, tem previsão de lançamento para Agosto, durante a Semana de Aleitamento Materno, e prevê-se a sua continuidade durante dois anos, até 2023. A campanha irá propiciar acções complementares, como a formação de Agentes Comunitários para a constituição de brigadas de sensibilização, educação, colheita e distribuição de leite humano nas comunidades, por via de organizações não governamentais de solidariedade, incluindo os corpos de bombeiros.

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ANOS YEARS

CUIDAR DA SAÚDE E BEM-ESTAR DAS PESSOAS É O NOSSO PROPÓSITO DIÁRIO!

Da capacidade logística (reforçada com um novo armazém de 2400m2) à implementação de boas práticas de distribuição. Do portefólio alargado ao marketing do produto. Da formação de recursos humanos ao programa de responsabilidade social. Na Australpharma, desenvolvemos competências específicas que promovem a otimização dos processos e o aumento da eficiência em todas as frentes. Dia após dia, trabalhamos para estar sempre na vanguarda.

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SEMPRE À FRENTE. EM TODAS AS FRENTES.


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