Nº 09
Novembro/Dezembro 2021
DISTRIBUIÇÃO GRÁTIS
PUBLICAÇÃO DIGITAL BIMESTRAL
SIDA: UMA LUTA COM QUATRO DÉCADAS
ÍNDICE SAÚDE PARA SI
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Dra. Nádia Noronha Directora Executiva da Tecnosaúde
Ao aproximar-nos de mais uma quadra natalícia, e associado à iminente chegada de um novo ano, o renovar de votos para um amanhã mais próspero, seja no campo pessoal ou profissional, é uma realidade. Na lista dos habituais desejos, a palavra saúde surge, invariavelmente, como a primeira no campo dos pedidos a cada badalada. Afinal, com saúde, todos os restantes desejos podem ser, na nossa mente, atingíveis. Esperança e medicina estão, assim, de mãos dadas quando se trata de projectar novos tratamentos, renovadas terapêuticas ou anunciados novos procedimentos clínicos. É nesse sentido com renovada esperança que a Organização Mundial de Saúde publicou novas actualizações da sua lista de medicamentos essenciais, que incluem novos tratamentos para diversos tipos de cancro, análogos da insulina, assim como novos medicamentos orais para a diabetes. Terapêuticas que, conciliando a vanguarda científica e técnica, vêm conferir uma revitalizada esperança a todos os que dependem de fármacos desta natureza. A luta é contínua e de toda a comunidade científica para incrementar a esperança média de vida, proporcionar qualidade de vida, assim como promover investigação a curto, médio e longo prazo que permita erradicar algumas das doenças que mais debelam a população humana, como um todo. 40 anos volvidos, a SIDA apresenta-se ainda como um flagelo a nível mundial, com dois terços dos 37,7 milhões de pessoas que hoje vivem com o Vírus da Imunodeficiência Humana a estarem radicados em África. Neste período, a SIDA já ceifou 36,3 milhões de vidas, pelo que, enquanto não se consegue encontrar uma cura para esta infecção, o acesso crescente à prevenção eficaz, diagnóstico, tratamento e cuidados, incluindo das infecções oportunistas, possibilitam fazer da infecção pelo VIH uma condição de saúde crónica controlável e que as pessoas que vivem com o vírus tenham uma vida longa e saudável. Por estas, e por muitas outras razões, a medicina e a esperança estarão, sempre, de mãos dadas. Um Feliz Natal para todos vós, que nos lêem e acompanham. Boas Festas!
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PERSPECTIVA Cancro do Pâncreas, patologia subdiagnosticada em Angola
Dr. António Feijó, Médico Infecciologista do Hospital Esperança, aborda a epidemologia da SIDA em Angola
REPORTAGEM OMS dá prioridade ao acesso a tratamentos para a diabetes e contra o cancro
A pandemia da diabetes Dra. Nayole Loureiro, Directora clínica do Consultório Peandra - Talatona, analisa a diabetes gestacional e a prematuridade Diabetes Implicação na saúde pública e o papel do nutricionista
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Esperança e Medicina
SIDA: luta de quatro décadas agravada pela pandemia
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EDITORIAL
PERSPECTIVA O que é a Polineuropatia Diabética?
Retinopatia diabética, uma visão geral Geografia determina a sobrevivência de bebés nascidos com defeitos de nascença Um olhar sobre os cosméticos
Canabinoides nos cosméticos: hype ou hope?
Propriedade e Editor: Tecnosaúde, Formação e Consultoria Nacionalidade: Angolana Edifício Presidente Business Center Largo 17 de Setembro, N.º 3 - 2.º Andar, Sala 224, Luanda, Angola Directora: Nádia Noronha E-mail: nadia.noronha@tecnosaude.net Sede de Redacção: Edifício Presidente Business Center Largo 17 de Setembro, N.º 3 - 2.º andar, Sala 224, Luanda, Angola Periodicidade: Bimestral Suporte: Digital Banco de Imagem: Shutterstock http://www.tecnosaude.net/pt-pt/
A Tecnosaúde
deseja a todos os seus leitores e parceiros umas
Boas Festas
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PERSPECTIVA ENTREVISTA
CANCRO DO PÂNCREAS, PATOLOGIA SUBDIAGNOSTICADA EM ANGOLA SURGEM CERCA DE 185 MIL NOVOS CASOS DE CANCRO DO PÂNCREAS, POR ANO, A NÍVEL MUNDIAL. NOS ESTADOS UNIDOS, ESTA NEOPLASIA É A QUINTA CAUSA DE MORTE. EM ANGOLA, DADOS DO INSTITUTO ANGOLANO DE CONTROLO DO CANCRO INDICAM 15 CASOS EM 2019, REFLECTINDO O ESTADO DE SUBDIAGNÓSTICO DESTA PATOLOGIA NO PAÍS.
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durante cinco anos morrem nos cinco anos subsequentes.
Dr. Flaviano Za Nzambi M.D. PhD. Licenciado pela Palacky University, República Checa. Especialista em Medicina Interna e Gastroenterologia. Doutorado pelo Instituto de Altos Estudos. Pós-Graduação em Ciências Médicas e Farmácia pela Charles University em Praga, República Checa
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pâncreas é um órgão localizado na parte superior do abdómen e topograficamente situado entre o estômago, o intestino, o fígado e o baço, com o peso de 60 a 140 gramas. Está dividido em três partes: a cabeça, o corpo e a cauda. É uma glândula que tem função exócrina, produzindo o suco pancreático, rico em substâncias proteicas ou enzimáticas necessárias para a digestão dos alimentos, e endócrina, produzindo hormonas, entre as quais a insulina e o glucagon.
Incidência Esta patologia tem uma incidência de cerca de 185 mil novos casos por ano, no mundo. O Instituto Angolano de Controlo do Câncer registou, em 2019, um total de 15 doentes com o diagnóstico de cancro do pâncreas, sendo sete do sexo masculino e oito do sexo feminino, numa faixa etária compreendida entre os 50 e os 60 anos de idade (Fonte: Departamento de Estatística IACC, 2019). Estes resultados representam o estado de subdiagnóstico desta patologia no país, associado à ausência de recursos humanos especializados, assim como técnicos específicos. Etiologia A causa do cancro do pâncreas é desconhecida. Cerca de 90% refere-se a adenocarcinomas, tumores que têm a origem nos ductos que transportam o suco pancreático. Um outro tipo, mais raro, surge nas células chamadas de ilhotas pancreáticas, que são produtoras de hormonas. Factores de risco São considerados factores potenciadores no surgimento do cancro do pâncreas a idade avançada (sexta e oitava décadas de vida), o sexo masculino (1,3:1), a raça negra, a etnia judaica, o tabagismo, a Diabetes Mellitus, uma dieta rica em gorduras e pobre em fibras e vegetais e a exposição ocupacional a cancerígenos. Constituem, também, factores de risco a pancreatite crónica, cirurgia prévia do tracto gastrintestinal e a hereditariedade. Sintomas Inicialmente, o cancro do pâncreas é uma doença silenciosa, manifestando-se, depois, clinicamente pela tríade dor, icterícia e perda de peso progressiva. A sintomatologia depende da localização primária e tamanho do tumor. É comum a presença de náuseas, colúria, acolia, inapetência e fraqueza.
O cancro do pâncreas é uma doença na qual surgem células atípicas no tecido do órgão, com crescimento rápido, desordenado e invasivo, disseminando-se para outros órgãos humanos, como o estômago e o duodeno, causando obstrução das vias biliares e vasculares. Em fases mais avançadas, levam ao surgimento de metástases no fígado, pulmões, gânglios e nos ossos. Mortalidade O cancro do pâncreas a quinta causa de morte nos Estados Unidos. A taxa de sobrevida de cinco anos varia de 10% a 15%. Muitos pacientes que sobrevivem
Diagnóstico O diagnóstico desta patologia é, geralmente, baseado no quadro clínico, assim como em exames imagiológicos, nomeadamente, ultrassonografia, tomografia axial computorizada, ressonância magnética e angiografia, a par de exames invasivos, como a colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE), CPREM, ultrassonografia endoscópica, tomografia por emissões de positrões (PET SCAN), laparoscopia, biópsia e marcadores tumorais (CA 19-9, CA 494, Elastasa Imuno-resativa, Oncoproteínas, entre outros). O progresso no diagnóstico em biologia molecular permitiu a descoberta de marcadores associados
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ao cancro do pâncreas, como o oncógeno K-ras (KRAS 2), agentes supressores de tumor p16, DPC4 (SMAD-4), DPC, DCC, Rb e APC gene.
https://www.cancer.gov/types/pancreatic/patient/ pancreatic-treatment-pdq Estadiamento
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Tratamento A ausência de sintomatologia e diagnóstico tardio do cancro do pâncreas tornam difícil o seu controlo, assim como o devido tratamento precoce que possa levar à sua cura. Nas fases mais avançadas, o tratamento é paliativo ou sintomático. A definição do algoritmo terapêutico depende do tipo, localização, tamanho, extensão, idade e condição clínica do doente. São considerados métodos terapêuticos a cirurgia, a radioterapia, a quimioterapia e a quimioembolização. A associação da imunoterapia à terapia génica e anti-angiogénica poderão demonstrar efeitos sinérgicos no tratamento oncológico futuro.
PSORÍASE
HIPERPIGMENTAÇÕES
ALOPÉCIA ANDROGENÉTICA
PSORÍASE E DERMATOSES
PSORÍASE PSORÍASE E DERMATOSES
DERMITE ATÓPICA
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ANG/VM/AN/12/21
DERMITE ATÓPICA
REPORTAGEM
SIDA: LUTA DE QUATRO DÉCADAS AGRAVADA PELA PANDEMIA
O COMBATE AO VÍRUS VIH, QUE TINHA AVANÇADO CONSIDERAVELMENTE NOS ÚLTIMOS 10 ANOS, DESACELEROU APÓS O APARECIMENTO DA COVID-19, ALERTOU A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (OMS). VÁRIOS PAÍSES ESTÃO ATRASADOS NOS OBJECTIVOS INTERNACIONAIS E AS DIFICULDADES VINCULADAS À COVID-19 AGRAVARAM A SITUAÇÃO.
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objectivo mundial é fazer com que a SIDA deixe de ser uma ameaça para a saúde pública até 2030. Segundo dados da Conferência Internacional sobre SIDA e Doenças Sexualmente Transmissíveis (ICASA), realizada na África do Sul, apenas nove países africanos estão a caminho de alcançar este objectivo: Botsuana, Cabo Verde, Quénia, Lesoto, Maláui, Nigéria, Uganda, Ruanda e Zimbábue. “A face do VIH ainda é maioritariamente a da mulher negra”, declarou o ministro sul-africano da Saúde, Joe Phaahla, no discurso de abertura da conferência. Na África Subsaariana vivem dois terços (67%) das pessoas com VIH, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), e as mulheres e meninas representam 63% das novas infecções. Com 7,8 milhões de casos, a África do Sul é o país mais afectado no mundo. A Covid-19 tornou, ainda mais, difícil a luta contra o VIH. O número de novas infecções tinha caído 43%, na última década, e o de óbitos diminuído quase para metade. Actualmente, 37,7 milhões de pessoas vivem com VIH, segundo a ONU, das quais, mais de dois terços em África. Em 2020, 680 mil pessoas morreram de alguma doença relacionada com a SIDA e 2,5 milhões contraíram a doença. Em 40 anos, a SIDA matou 36,3 milhões de pessoas, segundo as Nações Unidas. Não há cura para a infecção pelo VIH. No entanto, com o acesso crescente à prevenção eficaz, diagnóstico, tratamento e cuidados, incluindo das infecções oportunistas, a infecção pelo VIH tornou-se numa condição de saúde crónica controlável, permitindo que as pessoas que vivem com o vírus tenham uma vida longa e saudável.
A COVID-19 TORNOU, AINDA MAIS, DIFÍCIL A LUTA CONTRA O VIH. O NÚMERO DE NOVAS INFECÇÕES TINHA CAÍDO 43%, NA ÚLTIMA DÉCADA, E O DE ÓBITOS DIMINUÍDO QUASE PARA METADE. ACTUALMENTE, 37,7 MILHÕES DE PESSOAS VIVEM COM VIH, SEGUNDO A ONU, DAS QUAIS, MAIS DE DOIS TERÇOS EM ÁFRICA
Para alcançar as novas metas globais propostas para 95-95-95 (chegar a 2030 com 95% de todas as pessoas com VIH diagnosticadas, 95% em terapia anti-retroviral e 95% em tratamento), definidas, em 2014, pela UNAIDS, o programa das Nações Unidas, criado em 1996, e que tem a função de criar soluções e ajudar as nações no combate ao VIH, ter-se-á de redobrar esforços para evitar o pior cenário de 7,7 milhões de mortes relacionadas com o VIH, nos próximos 10 anos, dado o aumento das infecções devido a perturbações causadas pela pandemia. Desigualdades Paralelamente, as desigualdades têm sido amplamente reconhecidas como barreiras para alcançar objectivos e metas globais e nacionais nos programas de VIH, assim como de tuberculose e malária. No entanto, a magnitude e a extensão das desigualdades subjacentes têm permanecido mal documentadas e compreendidas. Primeira vez, um novo relatório da OMS e do Fundo Global de Luta contra a SIDA, a Tuberculose e a Malária avaliou sistematicamente esta situação. O relatório representa um importante passo em frente na compreensão de como as desigualdades estão a dificultar a luta contra estas três doenças. Utilizando os dados globais mais recentes disponíveis para 32 indicadores de saúde, o estudo mostra que, embora as médias nacionais tenham, geralmente, melhorado na última década, os subgrupos mais pobres, menos instruídos e residentes em zonas rurais tendem a manter-se em desvantagem. “Embora tenham sido feitos grandes progressos para expandir os serviços de saúde e os esforços de prevenção, devemos concentrar-nos mais em chegar às populações pobres, rurais e menos instruídas, que suportam o peso destas doenças”, disse o Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, director geral da OMS. O relatório mostra, por exemplo, que os dados disponíveis sobre os testes ao VIH revelam uma diferença de, pelo menos, 20 pontos percentuais entre as famílias mais pobres e as mais ricas em 27 de 48 países analisados, tendo o fosso aumentado ao longo do tempo. Muitas famílias afectadas pela tuberculose gastam uma parte substancial do seu rendimento em despesas relacionadas com a doença, especialmente se o agregado familiar for pobre. Dados de 21 países mostram que 20% a 92% das famílias gastam, pelo menos, um quinto dos seus rendimentos em custos relacionados com a tuberculose. No caso da malária, os grupos mais pobres relataram níveis mais baixos de procura de cuidados para crianças menores de cinco anos que apresentem um quadro de febre.
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Aumento da resistência a anti-retrovirais no tratamento de VIH Um novo estudo da OMS destaca a subida da resistência à medicação contra o VIH. Em 2017, 33% dos países analisados apresentava uma alta taxa de resistência. No final de 2020, foram 80%. Actualmente, o número de pessoas que utiliza anti-retrovirais é de 27,5 milhões, com um aumento anual de dois milhões. Segundo o estudo, quatro dos cinco países com taxas de infecção por VIH mais elevadas têm obtido sucesso em suprimir o vírus com o tratamento anti-retroviral. Entretanto, foi também observado um aumento da taxa de resistência à medicação, que chega ao limiar de 10% em alguns países. De acordo com a OMS, este movimento destaca a necessidade de se criarem tratamentos alternativos. A resistência que excede 10% foi vista em 21 dos 30 países analisados. “Antibióticos, anti-virais e anti-fúngicos são a espinha dorsal da medicina moderna. Mas o uso em excesso, ou errado, de anti-microbiais está a reduzir o efeito de medicamentos essenciais”, afirma o director geral da OMS, Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus. De acordo com pesquisas em 10 países subsaarianos, quase metade das crianças recém-diagnosticadas apresentava resistência a algum medicamento no tratamento do VIH.
No relatório, desigualdades relacionadas com o género são igualmente quantificadas. Para o VIH, em mais de metade dos países, os homens relataram um maior uso de preservativo do que as mulheres e os testes ao VIH foram substancialmente mais elevados nas mulheres do que nos homens num quinto dos países. “As pandemias prosperam e agravam as desigualdades: aprendemos isto com o VIH, a tuberculose e a malária e vimo-lo novamente com a Covid-19”, disse Peter Sands, director executivo do Fundo Global de Luta contra a SIDA, a Tuberculose e a Malária. “Para fazer face às desigualdades, temos de ir além de simples noções de igualdade de acesso e criar deliberadamente ‘desigualdades compensatórias’ na prestação de serviços, para centrar os recursos nos mais vulneráveis. A nossa nova estratégia começa nessa abordagem, colocando as pessoas e comunidades na frente e no centro da luta contra o VIH, a tuberculose e a malária e colocando uma ênfase, ainda maior, na remoção das barreiras relacionadas com os direitos humanos aos serviços de saúde”.
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Apesar dos desafios, o relatório mostra casos em que as lacunas estão a diminuir através de melhorias na cobertura entre subgrupos populacionais desfavorecidos. Encorajadoramente, alguns países relataram uma maior propriedade de redes de camas tratadas com insecticidas entre os agregados familiares mais pobres, demonstrando que os esforços de prevenção da malária estão a visar e a beneficiar grupos desfavorecidos. O relatório ilustra igualmente o impacto da eliminação das desigualdades na melhoria das médias nacionais. Por exemplo, se os países melhorassem o nível de testes de VIH a todas as mulheres grávidas para o do subgrupo mais favorecido, o nível global de testes aumentaria de 40% para 64%. No entender da OMS, devemos também aprender com a resposta à Covid-19, que demonstrou que é possível aumentar rapidamente as tecnologias para combater doenças transmissíveis, com vontade política e colaboração multi-sectorial. “Precisamos de aproveitar estas lições e inovações para galvanizar os nossos esforços no sentido de um acesso equitativo, universal e oportuno ao rastreio, diagnóstico e tratamento com as mais recentes tecnologias disponíveis. Será fundamental nos nossos esforços colectivos recuperar o terreno que perdemos para a Covid-19 e garantir que não deixamos ninguém para trás”.
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ENTREVISTA
DIA MUNDIAL DA LUTA CONTRA A SIDA UMA PANDEMIA QUE DURA HÁ QUATRO DÉCADAS O DIA MUNDIAL DA LUTA CONTRA A SIDA COMEMORA-SE ANUALMENTE A 1 DE DEZEMBRO, MANIFESTANDO O APOIO A TODAS AS PESSOAS QUE VIVEM COM ESTA PATOLOGIA E RECORDANDO TODOS AQUELES CUJAS VIDAS JÁ CEIFOU. PARA NOS FALAR DESTA TEMÁTICA, CONVIDÁMOS O DR. ANTÓNIO FEIJÓ, MÉDICO INFECCIOLOGISTA, QUE ABORDA A SUA PERSPECTIVA E A EPIDEMIOLOGIA DA PATOLOGIA EM ANGOLA.
Dr. António Feijó Médico Infecciologista do Hospital Esperança
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ados da Organização Mundial de Saúde (OMS) contabilizam 38 milhões de pessoas com VIH, sendo que 67% vive na região africana. Em 2019, foram infectadas mais de um milhão de pessoas e estas novas infecções representam 60% do total mundial. Na sua opinião, qual o estado epidemiológico de Angola, no que ao VIH diz respeito? O estado epidemiológico está controlado e é considerado estável. A prevalência de VIH, a percentagem de pessoas que vivem com VIH, entre a população adulta (15 aos 49 anos), aponta para 2%. É estimado que cerca de 350 mil indivíduos vivam com VIH, com uma cobertura em terapia anti-retroviral abaixo das expectativas. Com a celebração do 1.º de dezembro, Dia Mundial da SIDA, em 2021, alusivo ao tema “Acabar com as desigualdades. Acabar com a SIDA. Acabar com a Pandemia”,
espera-se que as autoridades divulguem novos dados, como a prevalência, número de novos infectados e de mortes relacionadas com o VIH/SIDA. A pandemia de Covid-19 tem representado um desafio para todas as unidades de saúde. Enquanto infecciologista, como é que a pandemia o afectou a si e aos seus doentes? A pandemia trouxe incertezas. A maior preocupação foi proteger os pacientes, pela pouca informação sobre a relação VIH/ Covid-19. Na senda das restrições (mobilidade, redução de funcionários de saúde, diminuição da exposição no hospital), a adaptação foi imperativa. No princípio, com o caos, o encerramento das várias secções hospitalares deixou apenas a atribuição de medicamentos de forma rotineira, sem que os pacientes tivessem acesso ao restante pessoal médico. Este tipo de eventos criou, então, vários
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imenso, na medida em que muitos pacientes, na tentativa de resgatar a sua rotina, solicitaram o atendimento médico-medicamentoso. Porém, a disponibilidade dos serviços, que retornavam ao ritmo do alívio das restrições, era inferior à procura. Igualmente, houve tempos de grande demanda por parte dos pacientes que faziam o seu atendimento no exterior, devido às restrições de viagem, e em clínicas privadas, já que a pandemia resultou em situações de desemprego e de perca do seguro saúde. Numa última fase, a incerteza nas vacinas. A preocupação prendeu-se com a escassez da informação relativa a este grupo de indivíduos.
“ANGOLA, NO SEU PROGRAMA DE LUTA CONTRA A SIDA, OBEDECE A ORIENTAÇÕES EMANADAS PELA OMS, FAZENDO OPORTUNAMENTE A SUA ACTUALIZAÇÃO COM A COLABORAÇÃO DOS VÁRIOS TÉCNICOS E A PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL, A FIM DE FORNECER CUIDADOS E TRATAMENTO ÀS PVVIH (PESSOAS QUE VIVEM COM VIH)”
cenários, desde aqueles que, por segurança, se ausentaram dos serviços e outros que, por falta de comunicação, ficaram privados do acesso às consultas (priorizadas para casos graves). Ou seja, a adaptação do meio hospitalar face à Covid-19 para proteger os funcionários e a restrição às áreas físicas hospitalares, aliado à diminuição do efectivo, refletindo-se no habitual funcionamento, afectaram igualmente a comunicação com os pacientes, instalando incertezas e a desestruturação dos serviços, entre outros aspectos. Pelo exposto, de certa forma, a pandemia afectou
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Actualmente, que tipo de tratamento e de apoio dispõe Angola para os seus pacientes? Angola, no seu programa de luta contra a SIDA, obedece a orientações emanadas pela OMS, fazendo oportunamente a sua actualização com a colaboração dos vários técnicos e a participação da sociedade civil, a fim de fornecer cuidados e tratamento às PVVIH (pessoas que vivem com VIH). No que toca ao tratamento, actualmente, a opção para os adultos baseia-se na simplificação dos esquemas terapêuticos. Tal como orientado pela OMS, com a introdução de uma nova droga, o Dolutegravir, espera-se alcançar um maior controle do ponto de imunológico dos pacientes, por consequência da menor transmissão e toxicidade, e a simplificação dos esquemas terapêuticos para técnicos e pacientes. Sobre a nova medicação, baseada no Dolutegravir, há uma revolução na estratégia de tratamento, na medida que esse esquema permite o início da terapia anti-retroviral para pacientes virgens de tratamento, assim como o resgate daqueles que usam medicamentos na segunda linha e que não apresentam eficácia terapêutica e, numa terceira análise, substituir aqueles que estejam em esquemas subóptimos ou desactualizados. Uma faixa etária que é, muitas vezes, difícil de diagnosticar é a pediátrica, sendo, posteriormente, o tratamento mais difícil. Porquê? A complexidade e especificidade do acompanhamento da criança, envolvendo vários aspectos, desde a história do parto, antecedentes dos progenitores, vacinas, alimentação, aleitamento ou desenvolvimento psicomotor, tornam a abordagem bem mais específica. Com tudo isso, no nosso meio, o défice de médicos pediatras, no geral, afecta consequentemente a abordagem nesta população com VIH. Outro aspecto a ter em conta
prende-se com o cuidador, que muitas vezes não tem conhecimento da situação ou apresenta pouco comprometimento. Muitas das crianças, sendo órfãs, não têm residência habitual. O sucesso da prevenção da transmissão mãe-filho poderá desencorajar a indústria farmacêutica a produzir quantidades pediátricas mais escassas, tornando, ainda mais, difícil o cenário, principalmente em locais onde essa taxa de sucesso não é uma realidade. Na sua opinião, ainda existe discriminação e estigma perante as pessoas portadoras deste vírus? O estigma e a discriminação existem desde os tempos mais remotos, apesar de muito já se ter feito para a sua redução, como a disseminação de informações adequadas, com o objectivo de desfazer crenças e mitos, e a inclusão das famílias no acompanhamento para os serviços de cuidado e tratamento, entre outros aspectos. Infelizmente, nos dias de hoje, ainda existem evidências sobre o estigma e a discriminação na nossa sociedade, o que configura um obstáculo nos objectivos traçados para alcançar a meta 90-90-90. Para que não haja tal obstáculo, precisamos de aumentar a consciencialização sobre o estigma e as suas consequências prejudiciais e divulgar mais os serviços jurídicos relacionados com o VIH e a SIDA, para que as pessoas possam ter acesso aos mesmos e conheçam os seus direitos e deveres, bem como reforçar a informação, educação e comunicação nas comunidades e meios de comunicação. De acordo com a informação que nos chega, as pessoas ainda são marcadas de acordo com o seu estado serológico, há distinção entre estas pessoas, sendo-lhes negado os direitos ao trabalho, à habitação e à educação e o acesso aos serviços de saúde. Nas famílias, os desinformados discriminam os seus parentes. A desinformação mantémse como ponto fulcral na discriminação. Todo o cidadão tem o direito ao trabalho, educação, moradia e acesso aos serviços de saúde; quando há negação desses direitos, podemos
falar claramente de discriminação e estigma, embora possamos também dizer que tem melhorado nesse aspecto. Por essas razões, as pessoas não se sentem confortáveis a falar sobre VIH. Enquanto comunidade, o que nos falta ainda fazer? No que toca ao apoio a acções que devem ser executadas nas comunidades, estas dependem de recursos financeiros, para activar GAMs, ou seja, grupos de ajuda mútua de pessoas com VIH. Depois, há que estimular e capacitar a criação desses grupos, que têm a responsabilidade de controlar o acesso aos anti-retrovirais (distribuição domiciliar) e de prestar apoio mútuo para resgate de pacientes em conflitos com a família. Falta também um reforço da formação técnica específica para atendimento pediátrico, com vista a diminuir o fosso no tratamento adulto/criança. Assim como devolver o espaço para os media, no que toca à abordagem dos factores de risco para a contracção do VIH, melhorar a atenção aos grupos vulneráveis e elaborar estratégias ambiciosas para elevar drasticamente o número de indivíduos em terapia antiretroviral, sobretudo na população infantil. Para terminar, a ONUSIDA aponta as desigualdades económicas, sociais, culturais e jurídicas, que devem acabar com urgência, se quisermos acabar com a SIDA até 2030. Seria uma oportunidade para reflectirmos sobre este desafio e avançarmos juntos no combate a uma pandemia que dura há quatro décadas e que, por acaso, se junta a outra que lhe rouba espaço, a Covid-19.
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REPORTAGEM ENTREVISTA
OMS DÁ PRIORIDADE AO ACESSO A TRATAMENTOS PARA A DIABETES E CONTRA O CANCRO
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exemplo, na capital do Gana, Acra, a quantidade de insulina necessária para um mês custaria a um trabalhador o equivalente a 5,5 dias de salário mensal. A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (OMS) PUBLICOU NOVAS ACTUALIZAÇÕES DA SUA LISTA DE MEDICAMENTOS ESSENCIAIS E DA SUA LISTA DE MEDICAMENTOS ESSENCIAIS PEDIÁTRICOS, QUE INCLUEM NOVOS TRATAMENTOS PARA VÁRIOS TIPOS DE CANCRO, ANÁLOGOS DE INSULINA E NOVOS MEDICAMENTOS ORAIS PARA A DIABETES, NOVOS FÁRMACOS PARA AJUDAR QUEM QUER DEIXAR DE FUMAR E NOVOS ANTI-MICROBIANOS PARA TRATAR INFECÇÕES BACTERIANAS E FÚNGICAS GRAVES.
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s listas visam abordar as prioridades globais de saúde, identificando os medicamentos que proporcionam os maiores benefícios e que devem estar disponíveis e acessíveis para todos. No entanto, os preços elevados, quer dos novos fármacos patenteados, quer dos mais antigos, como a insulina, continuam a deixar alguns medicamentos essenciais fora do alcance de muitos pacientes. “A diabetes está a aumentar em todo o mundo, especialmente em países de baixo e médio rendimento”, disse o Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, director geral da OMS. “Muitas pessoas que precisam de insulina têm dificuldade financeira em aceder-lhe ou ficam sem ela e acabam por morrer. A inclusão de análogos de insulina na Lista de Medicamentos Essenciais, juntamente com os esforços para garantir o acesso a todos os produtos de insulina e expandir o uso de biossimilares representam um passo vital para garantir que todas as pessoas que precisam deste produto que salva vidas possam aceder-lhe”. Medicamentos para a diabetes A insulina foi descoberta como tratamento para a diabetes há 100 anos e a insulina humana está na Lista de Medicamentos Essenciais da OMS desde que esta foi publicada pela primeira vez, em 1977. Infelizmente, a oferta limitada de insulina e os preços elevados em vários países de baixo e médio rendimento constituem, hoje, um grande obstáculo ao tratamento. Por
A decisão de incluir nas listas os análogos de insulina de longa duração (insulina degludec, detemir e glargina) e os seus biosimilares, juntamente com a insulina humana, visa aumentar o acesso ao tratamento da diabetes através da expansão das opções. A inclusão nas listas significa que os biossimilares análogos da insulina são elegíveis para o programa de pré-qualificação da OMS. Os análogos de duração prolongada oferecem aos pacientes algumas vantagens clínicas adicionais, graças à sua ação duradoura, que garante que a glicose no sangue pode ser controlada por períodos mais longos sem a necessidade de uma dose de reforço. Apresentam uma vantagem particular para os pacientes cuja glicose no sangue é perigosamente baixa com insulina humana. Segundo a OMS, a maior flexibilidade oferecida pelos análogos da insulina, em termos de horários e doses, tem demonstrado melhorar a qualidade de vida dos doentes com diabetes. No entanto, a insulina humana continua a ser um fundamento do tratamento da diabetes e o acesso a este medicamento que salva vidas deve continuar a ser apoiado, melhorando a sua disponibilidade e acessibilidade. A lista inclui também empagliflozina, canagliflozina e dapagliflozina, inibidores do cotransportador de sódio-glicose tipo 2 (SGLT2), como tratamento de segunda linha em adultos com diabetes tipo 2. Estes medicamentos administrados oralmente têm demonstrado oferecer várias vantagens, tais como um menor risco de morte, de insuficiência renal e de eventos cardiovasculares. Uma vez que os inibidores do SGLT2 permanecem patenteados e com preços elevados, a sua inclusão na lista é acompanhada de uma recomendação de que a OMS trabalhe com o Banco de Patentes de Medicamentos para promover o acesso, através de potenciais acordos de licenciamento com titulares de patentes, para permitir o fabrico e fornecimento de genéricos em países de baixo e médio rendimento. Melhorar o acesso aos medicamentos para a diabetes, incluindo a insulina e os inibidores SGLT2, é uma das linhas de trabalho do Pacto Global para a Diabetes, lançado pela OMS em Abril de 2021, e uma questão fundamental que está a ser discutida com os fabricantes de medicamentos para a diabetes e tecnologias de saúde.
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Medicamentos anti-cancerígenos O cancro está entre as principais causas de doenças e de morte, em todo o mundo, e foi responsável por quase 10 milhões de mortes em 2020, sete milhões das quais ocorreram em países de baixo e médio rendimento. Nos últimos anos, têm-se assistido a novos avanços no tratamento do cancro, como os fármacos que visam características moleculares específicas do tumor, alguns dos quais oferecem resultados muito melhores do que a quimioterapia “tradicional” para muitos tipos de cancro. Quatro novos fármacos para o tratamento do cancro foram adicionados às listas: enzalutamide, como alternativa à abiraterona, contra o cancro da próstata; everolimus, contra a astrocitoma da célula gigante subependimal (SEGA), um tipo de tumor cerebral em crianças; ibrutinib, um fármaco dirigido contra a leucemia linfocítica crónica; e rasburicase, para a síndrome da lise tumoral, uma complicação grave de alguns tratamentos contra o cancro. A listagem do imatinib foi expandida para incluir o tratamento da leucemia direccionada e foram adicionadas novas indicações para o cancro infantil para 16 fármacos já incluídos na lista, incluindo o glioma de progressão lenta, a forma mais comum de tumor cerebral em crianças. Outras alterações No que se refere às doenças infecciosas, os novos fármacos incluídos nas listas incluem o efiderocol, um antibiótico de “último recurso” eficaz contra bactérias multidrocitos, anti-fúngicos equinocandinas para infecções fúngicas graves e anti-corpos monoclonais para a prevenção da raiva, os primeiros do género a serem a incluídos nas listagens. As listas actualizadas também incluem novas formulações de fármacos contra infecções bacterianas comuns e a hepatite. Dois medicamentos sem nicotina - bupropion e varenicline - juntam-se ao tratamento de substituição de nicotina na lista da OMS, fornecendo opções alternativas para as pessoas que querem deixar de fumar. Esta inscrição na lista destina-se a apoiar os esforços para alcançar o objectivo da campanha “Comprometer-se a desistir”, que visa que 100 milhões de pessoas, em todo o mundo, deixem de fumar no próximo ano.
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Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus Director Geral da Organização Mundial de Saúde
Foto: Alexandros Michailidis / Shutterstock.com
As listas de medicamentos essenciais incluem 20 novos fármacos para adultos e 17 para crianças e especificam novos usos para 28 fármacos já listados. As alterações recomendadas pelo Comité de Peritos da OMS aumentam o número de medicamentos, considerados essenciais para satisfazer as principais necessidades de saúde pública, para 479 na Lista Modelo de Medicamentos Essenciais e para 350 na Lista Modelo de Medicamentos Essenciais Pediátricos. Embora estes números possam parecer elevados, representam apenas uma pequena parte do número total de medicamentos disponíveis no mercado. Os governos e instituições de todo o mundo continuam a utilizar as Listas Modelo da OMS para orientar o desenvolvimento das suas próprias listas de medicamentos essenciais, porque sabem que todos os medicamentos nelas contidos foram testados, em termos de qualidade e segurança, e oferecem uma boa relação qualidade/preço. As Listas Modelo são actualizadas de dois em dois anos por um Comité de Peritos, composto por especialistas de renome da academia, da investigação e da profissão médica e farmacêutica. Este ano, o Comité sublinhou a necessidade urgente de medidas destinadas a promover o acesso equitativo a medicamentos essenciais através das listas e de medidas complementares, tais como mecanismos de licenciamento voluntário, contratos de aquisição e negociação de preços.
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PERSPECTIVA
A PANDEMIA DA DIABETES
Dra. Eunice Sebastião Especialista em Endocrinologia, Presidente do Colégio de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo da Ordem dos Médicos de Angola
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A DIABETES, DOENÇA EM EXPANSÃO, TEM MERECIDO UMA ABORDAGEM ESPECÍFICA PELOS ORGANISMOS INTERNACIONAIS E NACIONAIS, QUE DEMONSTRA BEM A PREOCUPAÇÃO E O DESAFIO PARA AS ESTRUTURAS PERANTE A NECESSIDADE DE SE PRESTAREM CUIDADOS DE QUALIDADE. A DIABETES É A MAIS COMUM DAS DOENÇAS NÃO TRANSMISSÍVEIS, COM ELEVADA PREVALÊNCIA E INCIDÊNCIA CRESCENTE. ATINGE CERCA DE 425 MILHÕES DE PESSOAS EM TODO O MUNDO E CONTINUA A AUMENTAR EM TODOS OS PAÍSES. ESTIMA-SE QUE, EM 2040, HAJA UM AUMENTO PARA 642 MILHÕES DE PESSOAS ATINGIDAS PELA DOENÇA.
A
diabetes é uma doença crónica não transmissível com impacto importante nas sociedades, quer do ponto de vista de saúde pública, quer do ponto de vista económico, resultante, por um lado, da doença em si e, por outro, das várias comorbilidades associadas. O dia 14 de Novembro existe por causa de todas as pessoas que têm diabetes e para despertar consciências em relação ao crescente fardo desta doença, traçar estratégias para a prevenção e para travar o crescimento imparável da pandemia da diabetes. Este ano, o tema foi “Enfermeiros e Diabetes”. O objectivo foi aumentar a consciencialização sobre o importante papel que o enfermeiro desempenha no apoio às pessoas com diabetes. Recorde-se que esta patologia atinge milhões de pessoas, em todo o mundo, e tem um elevado índice de morbilidade e mortalidade pelas suas complicações agudas e crónicas. É a principal causa de cegueira no adulto e de amputações não traumáticas, é responsável por um terço a um quarto dos doentes que fazem hemodiálise e é um dos maiores factores de risco de doença cardiovascular, superado apenas pela hipertensão arterial. Alto custo social e económico A diabetes constitui um problema maior de saúde pública, sendo, por isso, objecto de preocupações e de acções oficiais, quer a nível internacional, quer a nível do nosso país. Há medidas que devem ser implementadas para a redução da incidência da prevalência da mortalidade e das complicações resultantes da diabetes e na demanda aos serviços de saúde. O Executivo tem implementado medidas assistenciais de prevenção da Diabetes Mellitus. Estão incluídas no Plano de Desenvolvimento Nacional (PND) para o período 2018-2022, estabelecendo como meta que 50% das unidades sanitárias, a nível primário, disponham de
condições mínimas para o rastreio, diagnóstico e tratamento da doença. Existe, ainda, um Programa de Prevenção e Controlo das Doenças Crónicas Não–Transmissíveis, de que a diabetes faz parte. Em 14 de Novembro de 2020, foi lançado o primeiro Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde (cuidados primários e secundários, nível I e II), com o objectivo de capacitar os profissionais de forma a inverter a tendência actual do aumento da doença e suas comorbilidades, complicações, incapacidades e mortalidade associadas. A magnitude da diabetes em Angola ainda é pouco conhecida, porque não se possui um estudo a nível da população que possa indicar os números no país. É necessário recolher, validar, gerar e disseminar informação fiável e cientificamente credível sobre a diabetes em Angola, daí a premente necessidade de criarse o Observatório Nacional da Diabetes (OND), que deve ser integrado na Sociedade Angolana de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo (SAEDM). O observatório é uma ferramenta de extrema utilidade e importância, que todos os países deveriam ter para melhor gestão e acompanhamento da diabetes. Há, também, a necessidade de trabalhar mais na prevenção e de tratar as pessoas após o diagnóstico. A prevenção da diabetes, como na maioria das doenças crónicas, é o “primum movens” da acção dos médicos e dos restantes profissionais de saúde. Educação para a saúde a iniciar na infância 1. Modificação do estilo de vida: • Dieta saudável • Manter o peso corporal adequado • Combater o sedentarismo • Evitar/reduzir o tabaco e o álcool 2. Controlo das comorbilidades • Hipertensão arterial • Vigilância oftalmológica anual, se não existir retinopatia • Pesquisa da microalbuminúria anual, enquanto for negativa • Controlo lipídico • Obesidade • Cuidados de higiene dos pés e boca • Combater o stress psicossocial “À medida que nos aproximamos do terceiro milénio, os dois maiores componentes do bem-estar no mundo são a promoção da saúde e a educação”, Hiroshi Nakajima, ex-director geral da Organização Mundial da Saúde
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ENTREVISTA
DIABETES GESTACIONAL E PREMATURIDADE AINDA DESCONHECIDO POR MUITAS MULHERES, O PROBLEMA TRAZ RISCOS À MÃE E AO BEBÉ. NO ENTANTO, COM DIAGNÓSTICO CORRECTO E TRATAMENTO ADEQUADO, É POSSÍVEL EVITAR COMPLICAÇÕES DERIVADAS DA DIABETES NA GRAVIDEZ.
O
que é a diabetes gestacional e quais os principais factores desencadeadores desta doença? A diabetes gestacional é uma doença metabólica, que se desenvolve no terceiro trimestre de gestação, caracterizada pelo aumento dos níveis de glicose no sangue (hiperglicémia), resultante do defeito na produção ou acção da insulina provocados pelos hormónios próprios da gestação. É reconhecida inicialmente durante a gravidez e desaparece depois do parto. Caso não ocorra o seu desaparecimento, poderá ser diagnosticada como diabetes tipo 2 que não foi diagnosticada anteriormente. Logo, é recomendável que todas as gestantes devam ser testadas para descartar a diabetes gestacional e evitar o risco de complicações. A Organização Mundial de Saúde (OMS) e outros protocolos recomendam que a hiperglicémia detectada inicialmente, em qualquer momento da gestação, deve ser categorizada e diferenciada em Diabetes Mellitus prévia na gestação ou em Diabetes Mellitus gestacional.
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Dra. Nayole Loureiro Médica pediatra. Directora clínica do Consultório Peandra - Talatona
Quais os principais riscos de uma gestante desenvolver diabetes durante a gestação? Qualquer mulher pode desenvolver diabetes gestacional, mas algumas estão em maior risco em função da sua história clínica. Temos como factores de risco a idade superior a 25 anos, o sobrepeso/obesidade [índice de massa corporal (IMC) ≥ 25 kg/m2] antes ou no decorrer da gestação, antecedentes familiares de primeiro grau de Diabetes Mellitus, antecedentes pessoais de alterações metabólicas da glicose, antecedentes obstétricos, como perdas gestacionais de repetição, aumento do líquido amniótico (polidrâmnio), macrossomia (recém-nascido anterior com peso ≥ 4.000 g) ou óbito fetal/ neonatal sem causa determinada, o uso de drogas
hiperglicemiantes, a síndrome dos ovários policísticos e a síndrome metabólica (dislipidemia, hipertensão arterial e resistência à insulina). Segundo a OMS, 15 milhões de bebés nascem prematuros, a cada ano, no mundo. Consegue indicar-nos a taxa de prematuridade em Angola? Alguns países desenvolvidos e em vias de desenvolvimento conduziram estudos sobre a prematuridade, no que concerne às suas
causas, factores de risco, taxa de natalidade e morbimortalidade. Em Angola, infelizmente, ainda não foram relatadas pesquisas relacionadas com a taxa de prematuridade. É bem verdade que o número de partos prematuros, em alguns sectores de saúde públicos e privados, tem sido elevado. Neste momento, o Serviço de Neonatologia da Maternidade Lucrécia Paim elaborou uma casuística de internamento, no período de Janeiro a Outubro, onde foram internados 168 prematuros por diversas causas. Em relação aos dados da OMS, alguns relatórios apontam que a incidência dos partos prematuros é maior nos países pobres, cerca de 12%, e menor nos países mais desenvolvidos, em torno dos 9%. Porém, destaca que a prematuridade não é um problema somente das regiões pobres do mundo. Nos países desenvolvidos, os partos prematuros estão relacionados com o facto das mulheres terem filhos mais tarde, o uso de técnicas e tratamentos para a fertilidade, que resultam em múltiplas gestações, e os partos excessivos por cesariana. Nos países pobres, o aumento da taxa de prematuridade deve-se a infecções e à gravidez na adolescência.
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Diabetes gestacional Actualmente, 415 milhões de adultos apresentam Diabetes Mellitus, em todo o mundo, e 318 milhões possuem intolerância à glicose, com risco elevado de desenvolver a doença no futuro. A gestação é um período no qual ocorrem várias modificações endócrino-metabólicas, cujo objectivo é atender as necessidades maternas e fetais. Essas transformações no organismo requerem adaptações para o favorecimento da gestação e saúde de ambos e, se as necessidades não forem atendidas, podem levar a um prognóstico desfavorável materno e perinatal. Alguns hormónios são produzidos pela placenta e outros estão aumentados durante a gestação, tais como o lactogénio placentário, o cortisol e a prolactina, os estrogénios e a progesterona. Estes podem reduzir a acção da insulina nos seus receptores, com o consequente aumento da produção de insulina nas gestantes saudáveis. As mulheres que têm a capacidade de produção de insulina no limite podem tornarse diabéticas durante a gestação. É uma patologia muito estudada pelos profissionais de saúde, que começa no segundo trimestre e progride durante toda a gravidez. Segundo estudos populacionais realizados nas últimas décadas, a prevalência de Diabetes Mellitus gestacional varia de 1% a 37,7%, com uma média mundial de 16,2%. A incidência, de forma global, é entre 5% a 10% das gestações e, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), corresponde a 7,6%. A sua morbimortalidade materno e fetal está aumentada por factores de hiperglicémia, hiperinsulinémia, comorbidades e complicações agudas e crónicas da diabetes, constituindo, assim, um relevante problema. O primeiro passo para reverter este cenário é consciencializar a população de que a diabetes é uma doença crónica, que requer tratamento e cuidado e, quando falamos em diabetes gestacional, a prevenção é possível na maioria dos casos. A Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu a data de 14 de Novembro como Dia Mundial da Diabetes e, em diversos países, ocorrem ações de prevenção da diabetes e de incentivo ao tratamento. Trata-se de uma grande oportunidade de falar com a sociedade, em geral, sobre os diferentes tipos de diabetes, como preveni-los, diagnosticá-los e tratá-los.
Quando podemos, efectivamente, falar que o bebé é prematuro? O nascimento prematuro é definido pela OMS como aquele que ocorre antes das 37 semanas completas de gestação e pode ser subdividido em prematuros extremos (menos de 28 semanas), que correm maior risco de vida, pois apresentam um estado de saúde muito frágil, pré-termo (entre 28 e 31 semanas), que constituem a maior parte dos prematuros, e moderado (32 a 36 semanas de gestação). Existe alguma consequência para o bebé da sua mãe ser diabética? Quais são os principais riscos para a criança, a curto, médio e longo prazo? Sim, existe influência por causas das alterações metabólicas/endócrinas que ocorrem durante a gestação. É possível as mulheres que têm diabetes gestacional terem bebés saudáveis, desde que sejam seguidas e que haja controle dos seus níveis glicémicos. Se a gestante não for devidamente diagnosticada e tratada, a diabetes pode trazer complicações à saúde da mãe e do próprio bebé. Os principais riscos para o bebé são a morte intrauterina, malformações fetais, a prematuridade, o excesso de peso a nascença (macrossomia), síndrome de desconforto respiratório, a hipoglicémia neonatal e a obesidade e diabetes no futuro. Qual é a sua experiência com a diabetes gestacional e o risco de prematuridade? É verdade que a diabetes gestacional pode ter como consequência o parto prematuro, mas, no nosso meio, não é considerada a principal causa de prematuridade. Ainda assim, temos uma baixa de adesão das mulheres à consulta pré-natal, que impossibilita o diagnóstico precoce e tratamento das doenças durante o período gestacional. A diabetes gestacional, geralmente, desaparece quando a gravidez termina, mas os cuidados com a saúde devem continuar para a vida toda. Isso porque as mulheres que tiveram diabetes durante a gravidez têm mais 50% de hipóteses de desenvolver diabetes tipo 2, no futuro, doença que está associada à obesidade e ao sedentarismo, entre outros factores. É muito importante fazer o pré-natal e manter o peso ideal e a saúde em dia. Seja qual for o tipo de diabetes, é importante procurar informação de qualidade, conversar com a equipa de saúde e procurar o bem-estar físico e emocional. Seguindo o tratamento, é possível dar à luz um bebé saudável.
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TEMA DE CAPA PERSPECTIVA
DIABETES: IMPLICAÇÃO NA SAÚDE PÚBLICA E O PAPEL DO NUTRICIONISTA 26 SAÚDE
Dr. Ivo Faria Nutricionista membro da Associação Angolana de Nutrição
A DIABETES MELLITUS É UMA DESORDEM METABÓLICA CRÓNICA CARACTERIZADA POR HIPERGLICÉMIA PERSISTENTE, O QUE PODE SER DEVIDO A ALTERAÇÕES NA SECREÇÃO DE INSULINA, RESISTÊNCIA PERIFÉRICA À SUA ACÇÃO OU AMBAS. DE ACORDO COM DADOS DA FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE DIABETES (IDF), APROXIMADAMENTE 415 MILHÕES DE ADULTOS, COM IDADES COMPREENDIDAS ENTRE OS 20 E OS 79 ANOS, TINHAM DIABETES MELLITUS EM 2015. É EXPECTÁVEL QUE ESTE NÚMERO CRESÇA MAIS 200 MILHÕES, ATÉ 2040 (1).
A
hiperglicémia crónica, juntamente com outros problemas metabólicos usuais em pacientes com Diabetes Mellitus (DM), pode causar dano a vários sistemas orgânicos, levando ao desenvolvimento de complicações de saúde gravíssimas, das quais as mais frequentes são as microvasculares (retinopatia, nefropatia e neuropatia) e macrovasculares, levando a um risco duas a quatro vezes superior para o surgimento de doenças cardiovasculares. Angola (tal como outros países da África Subsaariana) está a passar por uma transição epidemiológica e por um aumento significativo de doenças comunicáveis e não-comunicáveis, especialmente em contexto urbano, devido a mudanças no estilo de vida, dieta e actividade física dos seus habitantes (2). Num estudo publicado, em 2020 (3), cuja intenção foi investigar a prevalência de alterações na glicémia em jejum (AGJ) e diabetes em cidadãos angolanos residentes em Luanda, concluiu-se que existe uma elevada prevalência de diabetes e AGJ entre adultos utentes de serviços de saúde da capital angolana. Em cada 100 cidadãos da amostra, 12 eram diabéticos e nove tinham AGJ, com
a agravante de que dois em cada três indivíduos diabéticos não tinham noção do seu problema de saúde. Alguns factores relacionados com estilo de vida e dieta foram associados com diabetes e AGJ, tais como não comer vegetais diariamente, consumir bebidas e comidas com elevado teor de açúcar e passar muito tempo sentados (3). A DM é classificada em três tipos, segundo a etiologia e apresentação clínica: diabetes tipo 1, diabetes tipo 2 e diabetes gestacional. A diabetes tipo 1 (DMT1) é uma doença metabólica auto-imune causada pela destruição das células beta das ilhotas de Langerhans do pâncreas, cuja principal consequência é uma deficiência absoluta de produção de insulina. É mais frequente em crianças e adolescentes, mas pode-se desenvolver em qualquer idade. 5% a 10% dos casos de diabetes são DMT1. A diabetes tipo 2 (DMT2) equivale a cerca de 90% dos casos de diabetes. Na DMT2, a resposta à acção da insulina está diminuída, o que é designado por “resistência à insulina”. Numa fase inicial, a insulina circulante não produz o efeito previsto e, então, existe um aumento de produção de insulina de forma a manter a homeostase da glicose. Mas, ao longo do tempo, a produção de insulina começa a diminuir, resultando na DMT2. Esta doença é mais frequente em pessoas com mais de 45 anos. No entanto, cada vez mais crianças, adolescentes e adultos jovens desenvolvem DMT2, o que é devido ao aumento dos níveis de obesidade, falta de actividade física e dietas com elevada densidade energética. A diabetes gestacional (DMG) é caracterizada por um estado hiperglicémico durante a gravidez. Normalmente, afecta mais as mulheres no segundo e terceiro trimestres da gestação. Segundo a Associação Americana de Diabetes (ADA), a DMG é uma complicação que ocorre em 7% de todas as gravidezes. As mulheres com DMG e os seus filhos têm um risco acrescido de desenvolverem Diabetes Mellitus tipo 2 no futuro (4). Além da DM tipo 1 e 2, existe também uma nova forma de diabetes, que foi, recentemente, identificada:
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cetoacidose devido a infecção ou stress. Em cerca de 30% dos pacientes com DMT1, a primeira manifestação dá-se por coma derivado de cetoacidose. O diagnóstico da diabetes é feito com recurso ao parâmetro hemoglobina glicolisada (HbA1c) ou através da glicémia em jejum (GJ) ou do teste oral de tolerância à glicose (TOTG). Para o diagnóstico através da GJ, a amostra sanguínea é feita após um período nocturno de oito horas e, para valores ≥126 mg/dL (7,0 mm) em dois testes separados, pode-se concluir que o paciente é diabético. No TOTG, a glicose plasmática é mensurada imediatamente antes e duas horas depois da ingestão de 75 gramas de glicose. O paciente é diagnosticado com DM se o valor relativo à colheita, após duas horas, for superior a 200 mg/ dL (11.1 mmol/L). O parâmetro HbA1c revela o nível médio de glicémia dos últimos dois a três meses, logo, é bastante útil para perceber se existe uma hiperglicémia crónica. Pacientes com valores superiores a 6,5% (48 mmol/mol) são diagnosticados como diabéticos. Este teste não é tão afectado por doença aguda ou stress. Terapia Os pacientes diagnosticados como diabéticos devem ser encaminhados para consulta de oftalmologia, de forma a verificar eventuais retinopatias. Também é importante manter um registo do índice de massa corporal (IMC) do paciente, assim como pesquisar doença arterial periférica e neuropatia (4). a diabetes tipo 3 (DMT3). Este tipo de diabetes manifesta-se por resistência à insulina no cérebro e tem um grande potencial de prejudicar a neurocognição e contribuir para a etiologia da doença de Alzheimer (DA). Esta relação é tão forte que alguns especialistas designam, atualmente, a DA como “diabetes do cérebro” ou “diabetes tipo 3”. Além disso, estratégias terapêuticas relacionadas à insulina estão a ser sugeridas como de grande potencial terapêutico na DA, tornando mais lenta a sua natureza progressiva ou, até, evitando futuras complicações (5). Sintomas Pacientes com DM, normalmente, apresentam sede e diurese aumentadas, falta de energia e fadiga, infecções bacterianas e fúngicas e lenta cicatrização de feridas. Alguns pacientes também se queixam de parestesia nos membros ou de visão turva. Estes pacientes podem ter hiperglicémia modesta, que pode avançar para hiperglicémia severa ou
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Tanto para a DMT1 como para a DMT2, a pedra angular da terapia é dieta e exercício físico (6), existindo mesmo a possibilidade de remissão da DMT2 através da dieta e consequente perda de peso (7). A importância da nutrição na gestão e prevenção da DMT2, através do seu efeito no peso e controlo metabólico, é por demais evidente. Contudo, a nutrição é um dos aspectos mais controversos e difíceis na gestão da DMT2 (7). Apesar da maior parte das “guidelines” recomendar o início da farmacoterapia apenas depois de se proceder a mudanças de estilo de vida e actividade física, isto nem sempre é seguido na prática clínica. A maior parte dos médicos não tem formação em intervenções nutricionais e isso acaba por ser uma grande barreira no aconselhamento aos pacientes (8). Em muitos contextos, excepto em centros médicos onde há nutricionistas, o aconselhamento em nutrição para a diabetes é, na melhor das hipóteses, um menu impresso dado ao paciente. Na maior parte das vezes em que um paciente é diagnosticado com DMT2, é recomendado pouco mais que a toma de medicamentos (7).
Dieta Em alguns países, principalmente mais desenvolvidos, as directrizes dietéticas para a gestão da diabetes evoluíram de um foco numa dieta hipolipídica para um reconhecimento de que o mais importante é a qualidade dos macronutrientes (ou seja, o tipo versus a quantidade do macronutriente) e evitar comidas processadas (particularmente, hidratos de carbono refinados e açúcares). A evidência aponta para a promoção de padrões de ingestão alimentar que são elevados em vegetais, fruta, cereais integrais, leguminosas, frutos secos e lacticínios, como o iogurte. Em combinação com este padrão alimentar saudável, é muito importante o controlo das porções, de forma a reduzir a ingestão calórica. Sempre que possível, também a prática de actividade física regular (pelo menos de 90 a 150 minutos de exercício aeróbico por semana). O objectivo principal nos pacientes com DMT2, que têm excesso de peso ou são obesos, deverá ser a perda de peso. Existe também consenso nos benefícios da Dieta Mediterrânica, padrão alimentar que pode prevenir e ajudar a controlar a DMT2. Alguns especialistas também começam a apoiar o retorno a Dietas Tradicionais, de populações que “ocidentalizaram” recentemente a sua alimentação (tais como muitos países da África Subsaariana), transição nutricional esta que provocou uma mudança de padrão alimentar baseado em alimentos de origem vegetal para dietas com elevada densidade energética, de base animal, com mais óleos e gorduras vegetais e mais açúcares adicionados, portanto, ecologicamente insustentável e muito menos saudável (9). Esta transição nutricional levou, por um lado, ao aumento dos casos de obesidade e DMT2 e, por outro lado, à desnutrição e deficiência de micronutrientes (7). No que diz respeito a restrições alimentares, tornase óbvio que é imperativo reduzir a ingestão de carnes processadas, cereais refinados e açúcares (especialmente, bebidas açucaradas), tanto para a prevenção como para a gestão da DMT2. Além disso, muitas “guidelines” também sublinham a importância da redução da ingestão de comidas com elevado teor de sódio e gorduras trans, sobretudo pelo impacto negativo destes na saúde cardiovascular. Relativamente à distribuição de macronutrientes, algumas “guidelines” continuam a aconselhar objectivos quantitativos, tais como as recomendações europeias e canadianas, que propõem 45% a 60% da ingestão calórica diária total na forma de hidratos de carbono, 10% a 20% de proteínas e menos de 35% de lípidos (10,11), ou as “guidelines” indianas, que recomendam uma distribuição de 50% a 60% em hidratos de carbono, 10% a 15% de proteínas e menos de 30% de lípidos (12). Em contraste, a mais recente “guideline” da Associação Americana de Diabetes conclui que não existe uma distribuição
ideal de macronutrientes que seja igualmente adequada para todos os pacientes com diabetes, prevendo, então, metas personalizadas recomendadas individualmente (13). Alternativamente, uma dieta baixa em hidratos de carbono e gordura saturada, para controlo de peso e de glicémia, está a ganhar popularidade entre diversos especialistas (14). Para a perda de peso, três aspectos são de relevância quando se comparam dietas com diferentes proporções de macronutrientes. Em primeiro lugar, a evidência que deriva de ensaios clínicos aponta para potenciais benefícios derivados de uma dieta baixa em hidratos de carbono comparativamente a uma dieta baixa em lípidos. No entanto, a diferença de perda de peso entre estas dietas é modesta (15). Segundo, a comparação entre programas de dieta com diferentes composições em macronutrientes realçou que o factor crítico da efectividade da perda de peso foi o nível de adesão ao cumprimento da dieta, ao longo do tempo (16). Terceiro, a qualidade da dieta, nas dietas baixas em hidratos de carbono ou lípidos, é importante (17). No que diz respeito à gestão da alimentação de pacientes com DM tipo 1, todas as recomendações atrás descritas para a DM tipo 2 são válidas, no entanto, alguns cuidados são acrescidos. É importante comer a horas regulares, assim como ajustar os horários das refeições com as doses de insulina. A maior parte dos pacientes com DMT1 utiliza insulina de longa duração (também conhecida
“A MAIOR PARTE DOS MÉDICOS NÃO TEM FORMAÇÃO EM INTERVENÇÕES NUTRICIONAIS E ISSO ACABA POR SER UMA GRANDE BARREIRA NO ACONSELHAMENTO AOS PACIENTES. EM MUITOS CONTEXTOS, EXCEPTO EM CENTROS MÉDICOS ONDE HÁ NUTRICIONISTAS, O ACONSELHAMENTO EM NUTRIÇÃO PARA A DIABETES É, NA MELHOR DAS HIPÓTESES, UM MENU IMPRESSO DADO AO PACIENTE. NA MAIOR PARTE DAS VEZES EM QUE UM PACIENTE É DIAGNOSTICADO COM DIABETES MELLITUS TIPO 2, É RECOMENDADO POUCO MAIS QUE A TOMA DE MEDICAMENTOS”
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“A ELEVADA PREVALÊNCIA DE DIABETES E DE ALTERAÇÕES DA GLICÉMIA EM JEJUM, JUNTAMENTE COM A COMUM NÃO CONSCIÊNCIA DE PADECIMENTO DESTAS DESORDENS DE SAÚDE, APELA A INTERVENÇÕES APROPRIADAS PARA A MITIGAÇÃO DESTA PROBLEMÁTICA DE SAÚDE PÚBLICA NOS MEIOS URBANOS DE ANGOLA. O RETORNO A UMA ALIMENTAÇÃO MAIS TRADICIONAL, BASEADA EM ALIMENTOS NATURAIS, NÃO PROCESSADOS, A QUE A GENÉTICA DA POPULAÇÃO FOI-SE ADAPTANDO, AO LONGO DE MILHARES DE ANOS, PODERÁ SER DE CRUCIAL VANTAGEM NO CONTROLO DESTE FLAGELO”
por insulina basal), com o intuito de reduzir a glicémia ao longo de 24 horas. Isto significa que esta continuará a reduzir a glicémia mesmo que não exista glicose proveniente da dieta para actuar. Por causa disso, saltar refeições ou comer muito tarde podem colocar uma pessoa em risco de hipoglicémia. Por outro lado, comer refeições muito grandes ou que contenham mais hidratos de carbono que o normal irá levar ao aumento da glicémia mais rápido do que a insulina basal pode controlar. Nesta situação, uma insulina de acção rápida (também conhecida como insulina regular) deve ser administrada na dose correcta, de forma a equivaler o conteúdo de hidratos de carbono da refeição e
o nível de glicémia antes de comer (18). O correcto diagnóstico e tratamento da DMT2 deve ser feito em equipa multidisciplinar. Estes pacientes, caso necessário, devem ser encaminhados para oftalmologia, nefrologia, cardiologia e cirurgia vascular. Além disso, precisam de ser educados acerca de mudanças de estilo de vida que ajudam a diminuir os níveis de glicémia. Neste contexto, o apoio de um nutricionista é fundamental, pois estes pacientes devem ser encorajados a perder peso, praticar exercício e ter uma alimentação saudável. O médico de família e os enfermeiros devem motivar estes pacientes a deixarem de fumar e a se absterem de consumir álcool (19). Apesar da transição nutricional (que decorre em vários países da África Subsaariana, Angola inclusive) estar a ser conotada com a cada vez maior prevalência de DMT2, obesidade e outras doenças não-comunicáveis, não existem grandes medidas que possam limitar o acesso a comidas nocivas à saúde. Medidas reguladoras, incluindo políticas fiscais, tais como a taxação de bebidas açucaradas, devem ser implementadas e outras medidas preventivas também devem ser correctamente aplicadas (7). A elevada prevalência de diabetes e de alterações da glicémia em jejum, juntamente com a comum não consciência de padecimento destas desordens de saúde, apela a intervenções apropriadas para a mitigação desta problemática de saúde pública nos meios urbanos de Angola (3). O retorno a uma alimentação mais tradicional, baseada em alimentos naturais, não processados, a que a genética da população foi-se adaptando, ao longo de milhares de anos, poderá ser de crucial vantagem no controlo deste flagelo.
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REPORTAGEM
COM A ORGANIZAÇÃO DA TECNOSAÚDE
AUSTRALPHARMA COMEMORA DIA MUNDIAL DA DIABETES COM EVENTO ELEMENT
NO PASSADO DIA 24 DE NOVEMBRO, A EMPRESA AUSTRALPHARMA, DISTRIBUIDORA DE MEDICAMENTOS EM ANGOLA, REALIZOU, COM A ORGANIZAÇÃO DA TECNOSAÚDE, UM EVENTO PARA A COMEMORAÇÃO DO DIA MUNDIAL DA DIABETES, QUE SE COMEMOROU A 14 DE NOVEMBRO. ESTE EVENTO TEVE LUGAR NO HOTEL TRÓPICO, EM LUANDA, E CONTOU COM MAIS DE 45 PROFISSIONAIS DE SAÚDE, NOMEADAMENTE, FARMACÊUTICOS, TÉCNICOS DE FARMÁCIA E MÉDICOS ESPECIALISTAS.
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controlar a patologia e melhorar a qualidade de vida dos doentes. Deste modo, o evento da Australpharma procurou contribuir para que haja mais saúde em Angola, promovendo o melhor aconselhamento e auto-controlo da glicémia dos doentes diabéticos, aumentando a consciência de todos para a importância da medição diária da glicémia e dos problemas que a diabetes não controlada pode trazer no futuro.
Não assistiu à sessão, mas ficou curioso? Pode assistir através do link https://www.youtube.com/watch?v=PQbkJPLAPSE .
S
endo uma das doenças crónicas mais prevalentes no país, porém, ainda muito subdiagnosticada, a intervenção médica e farmacêutica é fundamental para o aumento da consciencialização da população da importância da diabetes. O tema foi “Diabetes – um problema do século”, contando com um painel de excelência que elucidou toda a plateia com várias temáticas. A sessão iniciou com a intervenção da directora executiva, e também farmacêutica, da Tecnosaúde, Dra. Nádia Noronha, que falou sobre a “Avaliação do doente com diabetes tipo 2: orientações práticas”, abordando os meios de autocontrolo, o tipo de alimentação e, acima de tudo, a importância da prevenção. Posteriormente, o CEO da óptica Optiotika, Dr. Djalme Fonseca, explicou como é que a diabetes pode afectar a visão, nomeadamente, com patologias como o glaucoma, a retinopatia diabética e a maculopatia. Para terminar, a Dra. Cláudia Lázaro, coordenadora do diagnóstico da Australpharma, falou das “Orientações para a medição da glicémia capilar”, explicando como se utiliza o glucómetro Element. O evento contou com uma excelente interacção, tanto por parte dos participantes presenciais como dos participantes online. A troca de experiências entre o público foi óptima e as dúvidas foram esclarecidas, tornando a informação mais clara para todos. Realidade angolana A realidade angolana ainda conta com muitos diabéticos e com um controlo muito baixo da glicémia. O aconselhamento e auto-controlo da glicémia tornam-se fundamentais para
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PERSPECTIVA REPORTAGEM ENTREVISTA
O QUE É A POLINEUROPATIA DIABÉTICA? NEUROPATIA DIABÉTICA É UMA DOENÇA NOS NERVOS CAUSADA PELA DIABETES. É UMA COMPLICAÇÃO DA DIABETES MAL CONTROLADA E OCORRE EM PESSOAS QUE NÃO FAZEM O TRATAMENTO DE FORMA ADEQUADA.
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Complicações da polineuropatia diabética • Vasculopatia periférica: varizes grossas • Feridas/úlceras que demoram para curar ou não curam • Pé diabético • Gangrena: apodrecimento do pé • Deformidades • Amputações • Mau funcionamento dos órgãos, como os olhos, o estômago, os intestinos, os órgãos genitais e os urinários
Dra. Marisa Sousa Licenciada em Medicina/Clínica Geral pela UAN (Universidade Agostinho Neto – Angola); especialista em Medicina Física e Reabilitação/Fisiatria pela USP (Universidade de São Paulo – Brasil); especialista em Terapia da Dor e Acupuntura pela USP – Brasil. Membro do Colégio de Especialidade de Medicina Física e Reabilitação; membro do grupo de treinamento da OMS em Serviços para Cadeira de Rodas pela USP – Rede Lucy Montoro – Brasil; pós- graduada em Medicina do Trabalho pela faculdade BWS São Paulo - Brasil
Diagnóstico da polineuropatia diabética Na consulta de Fisiatria, o diagnóstico é feito pela história clínica, queixas, sinais e sintomas referidos pelo paciente. Este deve ser orientado no sentido da examinação diária das mãos e dos pés, para ver se não tem bolhas, arranhaduras, rachaduras, hematomas ou feridas, e deve anotar tudo e informar o seu médico no acto da consulta. O diagnóstico é também feito através do exame médico das mãos e, principalmente, dos pés, com os testes de reflexo osteo tendinoso, sensibilidade dos dermatomos dos membros superiores e com ênfase nos membros inferiores, usando o estesiómetro Deve-se também constatar como estão os exames de laboratório de rotina do paciente e, se necessário, solicitar exames específicos, assim como outros para elucidação diagnóstica, como imagiológicos e de electrodiagnóstico.
A
neuropatia diabética é desencadeada com níveis de glicose no sangue mais altos. É mais comum em fumadores, pessoas com mais de 40 anos de idade e com picos de hiperglicémia frequentes. Esta patologia prejudica a habilidade dos nervos para transmitir sinais e danifica os vasos sanguíneos que levam oxigénio e nutrientes aos nervos, principalmente, os periféricos. Factores de risco para a polineuropatia diabética • Hipertensão • Obesidade • Hábitos tabágicos • Falta de actividade física (sedentarismo) Sintomas de polineuropatia diabética • Agudos Doem os pés ou as mãos, ou os pés e mãos de forma igual. Há a sensação de picadas, “queimadura” ou formigueiro nas palmas das mãos e plantas dos pés e a sensação de pés “congelados”. Ocorre uma alteração da sensibilidade, por exemplo, o calçado, as meias, o lençol, o ato de segurar objectos e de andar provocam dor. Ocorre perda de equilíbrio e decoordenação • Crónicos Existe diminuição da sensibilidade, por exemplo, não se sente quando está quente ou dor quando se tem um trauma ou se fere, assim como do suor normal das mãos e, principalmente, dos pés. Sente-se frio e ocorre uma mudança na cor da pele, que fica mais seca do que o normal. Os pés ferem-se facilmente.
Prevenção • Evitar hábitos tabágicos • Manter a glicémia em níveis adequados • Fazer actividade física regular • Evitar e/ou reduzir o consumo de bebida alcoólicas • Examinar os pés todos os dias ou pedir ajuda a alguém que o faça • Tratamento em medicina física e reabilitação. Podem realizar-se vários tipos de tratamento reabilitador, tais como a prescrição de analgésicos, relaxantes musculares e, para redução das parestesias, acupuntura, exercícios para manutenção da funcionalidade e mobilidade global do indivíduo, exercícios para estabilização da sensibilidade, treino da marcha, equilíbrio e coordenação motora.
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PERSPECTIVA
COMO A DIABETES PODE AFECTAR OS OLHOS
RETINOPATIA DIABÉTICA, UMA VISÃO GERAL
Dr. Djalme Fonseca Licenciado em Optometria e Ciências da Visão pela Universidade do Minho, Portugal. Pósgraduado em Avaliação Optométrica Pré e Pós Cirúrgica pela Universidade de Valência, Espanha. Founder & CEO da Óptica Optioptika
A RETINOPATIA DIABÉTICA É UMA COMPLICAÇÃO DA DIABETES, CAUSADA POR NÍVEIS ELEVADOS DE AÇÚCAR NO SANGUE, QUE DANIFICAM A PARTE POSTERIOR DO OLHO (RETINA). PODE CAUSAR CEGUEIRA, SE NÃO FOR DIAGNOSTICADA E TRATADA. NO ENTANTO, GERALMENTE, LEVA VÁRIOS ANOS PARA A RETINOPATIA DIABÉTICA ATINGIR UM ESTÁGIO EM QUE POSSA AMEAÇAR A VISÃO. PARA MINIMIZAR O RISCO DE ISSO ACONTECER, AS PESSOAS COM DIABETES DEVEM GARANTIR QUE CONTROLAM OS SEUS NÍVEIS DE AÇÚCAR NO SANGUE, PRESSÃO ARTERIAL E COLESTEROL E COMPARECER A CONSULTAS DE SAÚDE OCULAR, PARA DETECTAR E TRATAR QUAISQUER PROBLEMAS DESDE O INÍCIO.
A
retina é a camada de células sensível à luz, na parte posterior do olho, que converte a luz em sinais eléctricos. Os sinais são enviados ao cérebro, que os transforma nas imagens que vemos. A retina precisa de um suprimento constante de sangue, que recebe por meio de uma rede de minúsculos vasos sanguíneos. Com o tempo, um nível persistentemente alto de açúcar no sangue pode danificar esses vasos sanguíneos em três estágios principais: • Retinopatia de fundo: pequenas protuberâncias desenvolvem-se nos vasos sanguíneos, que podem sangrar levemente, mas geralmente não afectam a visão • Retinopatia pré-proliferativa: alterações mais graves e generalizadas afectam os vasos sanguíneos, incluindo o sangramento mais significativo para o olho • Retinopatia proliferativa: tecido cicatricial e
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novos vasos sanguíneos, que são fracos e sangram facilmente, desenvolvem-se na retina, o que pode resultar nalguma perda de visão. No entanto, se um problema com um dos olhos for detectado precocemente, as mudanças no estilo de vida e/ou tratamento podem impedir o seu agravamento. Estou em risco de retinopatia diabética? Qualquer pessoa com diabetes tipo 1 ou diabetes tipo 2 está potencialmente em risco de desenvolver retinopatia diabética. A pessoa corre um risco maior se: • tem diabetes há muito tempo • tem um nível persistentemente alto de açúcar no sangue (glicose no sangue) • tem pressão alta • tem colesterol alto • está grávida • é de origem asiática ou afro-caribenha. Ao manter o açúcar no sangue, a pressão arterial e os níveis de colesterol sob controle, pode-se reduzir as possibilidades de desenvolver retinopatia diabética. Sintomas Normalmente, o paciente não notará a retinopatia diabética nos estágios iniciais, pois não tende a ter nenhum sintoma óbvio até que esteja mais avançada. No entanto, os primeiros sinais da doença podem ser detectados tirando fotos dos olhos (retinografia)
durante o exame oftalmológico para diabéticos. O diabético deve contactar, o mais urgentemente possível, um profissional de saúde ocular ou a equipa de tratamento da diabetes se sentir: • perda gradual da visão • perda repentina de visão • formas flutuando no seu campo de visão (flutuadores) • visão turva ou irregular • dor nos olhos ou vermelhidão Esses sintomas não significam, necessariamente, que o paciente tem retinopatia diabética, mas é importante fazer um check-up. Rastreio de olhos para diabéticos Todos os diabéticos com 12 anos ou mais devem efectuar a sua consulta de saúde ocular, pelo menos, uma vez por ano. A consulta de saúde ocular é extremamente importante porque: • a retinopatia diabética não tende a causar sintomas nos estágios iniciais • a condição pode causar cegueira permanente, se não for diagnosticada e tratada prontamente • o rastreio pode detectar problemas nos olhos antes que comecem a afectar a visão • se os problemas forem detectados precocemente, o tratamento pode ajudar a prevenir ou a reduzir a perda de visão. A consulta de saúde ocular envolve examinar a
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parte de trás dos olhos e tirar fotos (retinografia). Dependendo do resultado, o paciente pode ser aconselhado a retornar para outra consulta, um ano depois, a comparecer a consultas mais regulares ou a discutir as opções de tratamento com um especialista. Reduzir o risco de retinopatia diabética Pode-se reduzir o risco de desenvolver retinopatia diabética ou ajudar a prevenir o seu agravamento: • controlando o açúcar no sangue, a pressão arterial e os níveis de colesterol • tomando a medicação para diabetes conforme prescrito • comparecer a todas as consultas de acompanhamento e controle • obter aconselhamento médico rapidamente, se se notar qualquer alteração na visão • manter um peso saudável, ter uma dieta adequada e balanceada, praticar exercícios regularmente e parar de fumar. Tratamentos O tratamento para retinopatia diabética só é necessário se o rastreio detectar problemas significativos, que significam que a visão está em risco. Se a condição não atingiu esse estágio, o conselho sobre como gerir a diabetes é recomendado. Os principais tratamentos para retinopatia diabética avançada são: • tratamento a laser • injecções de medicação nos olhos • cirurgia para remover sangue ou tecido cicatricial dos olhos. A retinopatia diabética desenvolve-se em estágios ao longo do tempo. Se se for diagnosticado com retinopatia diabética após o exame oftalmológico para diabéticos, as mudanças no estilo de vida e/ ou o tratamento podem reduzir as probabilidades do problema progredir. Os principais estágios da retinopatia diabética são: • Estágio 1: retinopatia de fundo Significa que pequenas protuberâncias (microaneurismas) apareceram nos vasos sanguíneos na parte posterior dos olhos (retina), que podem vazar pequenas quantidades de sangue. Isso é muito comum em pessoas com diabetes. Nesta fase, a visão não é afectada, embora o paciente corra um risco maior de
desenvolver problemas de visão no futuro. Não precisa de tratamento, mas deve tomar cuidado para evitar que o problema piore. As probabilidades de progredir para os estágios abaixo, dentro de três anos, são mais de 25% se ambos os olhos forem afectados. • Estágio 2: retinopatia pré-proliferativa Alterações mais graves e generalizadas são vistas na retina, incluindo sangramento. Nesta fase, existe um alto risco de que a visão possa ser afectada. O paciente, geralmente, será aconselhado a ter consultas de controle e acompanhamento mais frequentes, a cada três a seis meses, para monitorizar os olhos. • Estágio 3: retinopatia proliferativa Novos vasos sanguíneos e tecido cicatricial formaram-se na retina, o que pode causar sangramento significativo e levar ao descolamento da retina (onde esta se afasta da parte de trás do olho). Nesta fase, há um risco muito alto do paciente perder a visão e o tratamento será oferecido para estabilizá-la, tanto quanto possível, embora não seja possível restaurar qualquer visão que o paciente tenha perdido. Maculopatia diabética Em alguns casos, os vasos sanguíneos na parte do olho chamada de mácula (a área central da retina) também podem vazar ou ficar bloqueados. Isso é conhecido como maculopatia diabética. Se for detectada, existe um alto risco de que a visão possa ser afectada. O paciente pode ser aconselhado a fazer testes especializados mais frequentes, para monitorizar os olhos, e encaminhado a um especialista, para discutir os tratamentos que podem ajudar a impedir que o problema piore. Contudo, apesar das consequências que a visão pode sofrer, existem tratamentos disponíveis para combater, quando detectada precocemente, a retinopatia diabética. Esta, geralmente, requer tratamento específico apenas quando atinge um estágio avançado e há risco para a visão. Normalmente, é essencial o exame de saúde ocular de forma regular para diabéticos em que foi detectada retinopatia em estágio três (proliferativa) ou se o paciente tiver sintomas causados por maculopatia diabética. Em todos os estágios, o controlo da diabetes é crucial. Gerir a diabetes A parte mais importante do tratamento é manter a diabetes sob controlo. Nos estágios iniciais da retinopatia diabética, controlar a diabetes pode ajudar a prevenir o desenvolvimento de problemas de visão. Nos estágios mais avançados, quando a visão está afectada ou em risco, manter a diabetes sob controlo pode ajudar a impedir que a condição piore. Tratamentos para retinopatia diabética avançada Para retinopatia diabética que está a ameaçar ou a
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RIGOR E CONFORTO NA MEDIÇÃO DA GLICEMIA
Sistema de auto-codificação Amostra de 0,3 µg/L Leitura em 3 segundos
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afectar a visão, os principais tratamentos são: • tratamento a laser para tratar o crescimento de novos vasos sanguíneos na parte posterior do olho (retina), em casos de retinopatia diabética proliferativa, e para estabilizar alguns casos de maculopatia • injecções nos olhos para tratar a maculopatia grave que está a ameaçar a visão • cirurgia ocular para remover sangue ou tecido cicatricial do olho, se o tratamento a laser não for possível, porque a retinopatia está muito avançada. Conforme descrito em grande parte deste artigo, a prevenção é o ponto fulcral para gerir a diabetes e as suas complicações oculares. A pessoa pode reduzir o risco de desenvolver retinopatia diabética ou ajudar
a impedir o seu agravamento, mantendo os níveis de açúcar no sangue, pressão arterial e colesterol sob controle. Muitas vezes, isso pode ser feito fazendo-se escolhas saudáveis de estilo de vida, embora algumas pessoas também precisem de tomar medicamentos. Estilo de vida saudável A adopção de algumas mudanças no estilo de vida pode melhorar a saúde geral e reduzir o risco de desenvolver retinopatia. Incluem: • ter uma dieta saudável e equilibrada: em particular, tentar reduzir o sal, a gordura e o açúcar • perder peso, se acima do peso: ter como objectivo um IMC de 18,5-24,9 (usar a calculadora de IMC para
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calcular) • praticar exercícios regularmente: ter como objectivo fazer, pelo menos, 150 minutos de actividade de intensidade moderada, como caminhar ou andar de bicicleta, por semana; fazer 10 mil passos por dia pode ser uma boa maneira para atingir essa meta • parar de fumar • não exceder os limites de álcool recomendados: homens e mulheres são aconselhados a não beberem regularmente mais de 14 unidades de álcool por semana. Conhecer os níveis Pode ser mais fácil manter os níveis de açúcar no sangue, pressão arterial e níveis de colesterol sob controle se forem monitorizados regularmente e se souber em que nível estão. Quanto mais baixo se puder mantê-los, menores serão as probabilidades de desenvolver retinopatia. A equipa de tratamento da diabetes pode informar de quais devem ser os níveis-alvo. Check-up regular Mesmo que se pense que a diabetes está bem controlada, ainda é importante comparecer à consulta anual de exame oftalmológico para diabéticos, pois pode detectar sinais de um problema antes que se perceba que algo está errado. A detecção precoce da retinopatia aumenta as probabilidades do tratamento ser eficaz e impede o seu agravamento. O paciente também deve entrar em contacto com o seu profissional de saúde ocular ou com a equipa de tratamento da diabetes, imediatamente, se desenvolver quaisquer problemas com seus olhos ou visão. Nas circunstâncias actuais, em que a diabetes vai galgando terreno diariamente, é nossa obrigação, como profissionais de saúde, especialmente os de saúde ocular, desempenhar um papel fulcral na prevenção e diagnóstico precoce desta pandemia global. Informar os nossos pacientes sobre a doença e as suas consequências pode fazer a diferença entre a visão e a cegueira.
In patients with type 2 diabetes
THE POWER TO ACCOMPLISH MORE† Above and beyond glycaemic control THE POWER POWER TO TO THE † ACCOMPLISH MORE † ACCOMPLISH MORE RRR RRR glycaemic Above and beyond control 35% In patients with type 2 diabetes In patients with type 2 diabetes
†
1,2
38% Above and beyond glycaemic INcontrol HHF
†
1,2
†
1,2
IN CV DEATH*
38% 38% IN CV DEATH
RRR RRR HR=0.62 *
95% CI: 0.49, 0.77; p<0.001.1,2 ^
IN CV DEATH* HR=0.62 95% CI: 0.49, 0.77; HR=0.62 1,2 p<0.001. ^ 95% CI: 0.49, 0.77; 1,2 p<0.001. ^
*
RRR 35% RRR 35% IN HHF HR=0.65 95% CI: 0.5, 0.85; p=0.0021,2 #
IN HHF
* *
JARDIANCE® is not indicated for the reduction in hospitalisation HR=0.65 CI: 0.5,failure 0.85; for95% heart (HHF).1 1,2 # p=0.002 HR=0.65 95% CI: 0.5, 0.85; p=0.0021,2 #
JARDIANCE® is not indicated for the reduction hospitalisation ® JARDIANCE is in not indicated for for heart failure (HHF).1 the reduction in hospitalisation for heart failure (HHF).1
*Versus placebo on top of standard of care. Standard of care included antihypertensives, lipid-lowering agents, anticoagulants and glucose-lowering therapies.2 ^The absolute risk for CV death was 5.9% in patients receiving standard of care plus placebo and was reduced to 3.7% in patients receiving standard of care plus JARDIANCE® (p<0.001).2 # The absolute risk for hospitalisation for heart failure was 4.1% in patients receiving standard of care plus placebo and was reduced to 2.7% in patients receiving standard of care plus JARDIANCE® (p=0.002).2 Secondary endpoints. Primary endpoint of 3P MACE was met. HR 0.86 (95% Cl: 0.74-0.99), p=0.04.2 CI=confidence interval; CV=cardiovascular; HR=hazard ratio; RRR=relative risk reduction.agents, anticoagulants and glucose-lowering therapies.2 ^The absolute *Versus placebo on top of standardHHF=hospitalisation of care. Standardforofheart carefailure; included antihypertensives, lipid-lowering 2 ^ ® (p<0.001).2 risk for CV death was 5.9% in patients receiving standard of care plus placebo and was reduced to 3.7% in patients receivingand standard of care plustherapies. JARDIANCE *Versus placebo on top of standard of care. Standard of care included antihypertensives, lipid-lowering agents, anticoagulants glucose-lowering The absolute Indications: Jardiance is indicated for the treatment of adults with insufficiently controlled type 2 diabetes mellitus ® # risk CV death 5.9% in patients receiving standard of care plus placebo andstandard was reduced 3.7% in patients receiving standard of incare plus JARDIANCE (p<0.001). Theforabsolute riskwas for hospitalisation for heart failure was 4.1% in patients receiving of caretoplus placebo and was reduced to 2.7% patients receiving standard of 2 as#care anplus adjunct to due to intolerance ®diet and 2 exercise: as monotherapy when metformin is considered inappropriate 2 JARDIANCE (p=0.002). Secondary endpoints. Primary endpoint of 3P MACE wasofmet. (95%and Cl: was 0.74-0.99), The absolute risk for hospitalisation for heart failure was 4.1% in patients receiving standard careHR plus0.86 placebo reduced p=0.04. to 2.7% in patients receiving standard of and in addition® to other medicinal products for the treatment of diabetes. For study2 results with respect to 2 care plus JARDIANCE (p=0.002). Secondary endpoints. Primary endpoint of 3P MACE was met. HR 0.86 (95% Cl: 0.74-0.99), p=0.04. CI=confidence interval; CV=cardiovascular; HHF=hospitalisation for heart failure; HR=hazard ratio; RRR=relative risk reduction. combinations, effects on glycaemic control and cardiovascular events, and the populations studied, see local SmPC CI=confidence interval; CV=cardiovascular; HHF=hospitalisation for heart failure; HR=hazard ratio; RRR=relative risk reduction. indicated for the of adults with insufficiently controlled type diabetes forIndications: Jardiance Jardiance dated Febis2019 sections 4.4,treatment 4.5 and 5.1. Contraindications: Hypersensitivity to2the activemellitus substance as adjunct to diet and exercise: as monotherapy when metformin is considered inappropriate to intolerance Jardiance is indicated the treatment of adults with insufficiently controlled type 2due diabetes mellitus or Indications: to an any of the excipients listed in for section 6.1. Undesirable Effects: Very common: Hypoglycaemia (when used with andaninadjunct addition to other medicinal products for the treatment ofisdiabetes. study with respect to as to insulin). diet and Common: exercise: as monotherapy when metformin considered inappropriate due to intolerance sulphonylurea or Vaginal moniliasis, vulvovaginitis, balanitisFor and otherresults genital infection, urinary combinations, effects on glycaemic control and cardiovascular events, and the populations studied, see local SmPC and in addition to other medicinal products for the treatment of diabetes. For study results with respect to tract infection (including pyelonephritis and urosepsis), thirst, pruritus for Jardiancerash, dated Feb sections 4.4, 4.5 and 5.1.increased. Contraindications: to the active substance combinations, effects on2019 glycaemic control and cardiovascular events, andHypersensitivity the populations studied, see local SmPC (generalised), increased urination, serum lipids Uncommon: urticaria, volume depletion, dysuria, or to any of the excipients listed in section Effects: Very common: Hypoglycaemia (when ketoacidosis. used with for Jardiance dated Feb 2019 sections 4.4,6.1. 4.5 Undesirable and Contraindications: Hypersensitivity to the active substance blood creatinine increased/glomerular filtration rate5.1. decreased, haematocrit increased. Rare: Diabetic sulphonylurea or insulin). Common: Vaginal6.1. moniliasis, vulvovaginitis, balanitis and other genital infection, urinary or to any of the excipients listed in section Undesirable Effects: Very common: Hypoglycaemia (when used with Not known: Angioedema, necrotising fasciitis of the perineum (Fournier’s gangrene). tract infection (including pyelonephritis and urosepsis), thirst, pruritus sulphonylurea or insulin). Common: Vaginal moniliasis, vulvovaginitis, balanitis and other genital infection, urinary Special Warning: Keep out of the sight and reach of children. Further Information: see local SmPC for Jardiance (generalised), rash, increased urination, serum lipids increased. Uncommon: urticaria, volume depletion, dysuria, tract infection (including pyelonephritis and urosepsis), thirst, pruritus dated Feb 2019, prescription only. Date: Oct 2019 blood creatinine increased/glomerular filtration rate decreased, haematocrit increased. Rare: Diabetic ketoacidosis. (generalised), rash, increased urination, serum lipids increased. Uncommon: urticaria, volume depletion, dysuria, Not creatinine known: increased/glomerular Angioedema, necrotising fasciitis the perineum (Fournier’s gangrene). blood filtration rate decreased,ofhaematocrit increased. Rare: Diabetic ketoacidosis. Special known: Warning: Keep out of the sight and reach fasciitis of children.ofFurther SmPC forgangrene). Jardiance Not Angioedema, necrotising theInformation: perineumsee local (Fournier’s dated Feb 2019, prescription Special Warning: Keep out ofonly. the Date: sight Oct and2019 reach of children. Further Information: see local SmPC for Jardiance dated Feb 2019, prescription only. Date: Oct 2019 Boehringer Ingelheim, Middle East, Turkey & Africa Regional Offices, Index Tower, Level 13, Dubai International Financial Center (DIFC), P.O. Box 507066, Dubai, United Arab Emirates. Boehringer Ingelheim, Middle East, Turkey & Africa Regional Offices, Index Tower, Level 13, Dubai International Financial Boehringer Ingelheim, Middle Dubai, East, Turkey & Africa Regional Center (DIFC), P.O. Box 507066, United Arab Emirates. Offices, Index Tower, Level 13, Dubai International Financial Center (DIFC), P.O. Box 507066, Dubai, United Arab Emirates.
For safety reporting in association with a BI product, report in 24 hours to PVSSLI.AE@boehringer-ingelheim.com
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41
PC-KE-100247 SAÚDE
VERDADE OU MITO SOBRE A DIABETES
COMER PODE P MUIT O AÇÚC AR ROVOCA R D IABET E VERDADE S?
Um con tempo, sumo exagera pode p associado a do e prolonga diabete redispor ao uma má alime do no (respon s tipo 2, umaaparecimento ntação, acaba psável pela pr vez que o p da o â or entr ar em dução de insuncreas falência lina) .
PODE A N I L U A INS R AUMENT O PROVOCA ? DE PESO
VERDADE
gular rática re e p a m u d ja em caso o não ha ento, cas contece porque, na, a glicémia m u a ir t Pode exisício físico. Isto ar aplicada insuli os tecidos e, de exerc ensação e ao se s quantidades n se descompenada em grande or transformaré armaz o gasta, acaba p não sendura. em gord
HÁ ALIMENTOS ESPECÍFICOS PARA PESSOAS COM DIABET ES
MITO
A pessoa com diabetes alimento. No entanto, compode comer qualquer tipo de recomendada a prática o doença metabólica, é para controlo dos níveis de uma alimentação saudável É importante incluir ou de glucose no sangue. aumentar a ingestão de alimentos ricos em fib índice glicémico e evitar ra, com baixo alimentos ricos em gordura.
42 SAÚDE
A DIABET ES PODE PROVOCAR DISFUNÇÃO ERÉC TIL.
VERDADE
Sim, a disfunção eréctil está intimamente ligada com a duração e o controlo da glicémia ao longo do tempo.
OS SINTOMAS DA DIABET ES SÃO CLAROS?
MI TO
A diabetes é vulgarmente chamada de doença silenciosa e porquê? Porque os sintomas demoram manifestar-se e, quando surgem, é sobretudo quanda o a doença está descompensada. Alguns sintomas de alerta: sede excessiva, perda de peso, fome const ante e problemas de cicatrização
OM A PESSOA C ÃO PODE DIABET ES NES! COMER DOC
MI TO
ação e uma moder diabetes lg a m co e u m e q Pode, desd os dias. As pessoas co s com to s en o m d li to a a o nã preferência ão lenta, devem dar e glicémico, de absorç icos de p ic baixo índ controlar possíveis de modo a glicémia.
APENAS AS PESSOAS MAIS VELHAS T ÊM DIABET ES?
MI TO
A diabates pode afectar qualquer faixa etária. mais A diabetes tipo 1 (diabetes insulinodependente), ou jovens, rara, atinge na maioria das vezes mais crianças s. Já podendo também aparecer em adultos e até idoso iada assoc mais muito e m comu mais 2, tipo tes a diabe pode a um desequilíbrio no metabolismo da insulina, s. idoso a jovens e desd ir ating
43 SAÚDE
REPORTAGEM ENTREVISTA
GEOGRAFIA DETERMINA A SOBREVIVÊNCIA DE BEBÉS NASCIDOS COM DEFEITOS DE NASCENÇA
Dra. Liliana Aragão
Dra. Rossana Chipalavela
Dr. Victor da Costa
Médica pediatra. Chefe do internamento de Pediatria da Clínica Sagrada Esperança. Presidente do Colégio de Especialidade de Pediatria da Ordem dos Médicos de Angola
Médica do Hospital Pediátrico Pioneiro Zeca (Lubango - Angola). Interna de cirurgia pediátrica pela Universidade de Nairóbi. Membro da Iniciativa Global de Cirurgia Pediátrica
Licenciado em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade Onze de Novembro (Cabinda). Especializando em Cirurgia Pediátrica, pelo Hospital Pediátrico David Bernardino
A SOBREVIVÊNCIA DE UM BEBÉ NASCIDO COM UM DEFEITO DE NASCENÇA, TAMBÉM CONHECIDO COMO ANOMALIA CONGÉNITA, É DEPENDENTE DO LOCAL ONDE NASCE, DE ACORDO COM CIENTISTAS DE 74 PAÍSES, DE ENTRE OS QUAIS ANGOLA. NO NOSSO PAÍS, OS DADOS FORAM RECOLHIDOS NO HOSPITAL PEDIÁTRICO DAVID BERNARDINO, EM-LUANDA, PELOS INVESTIGADORES, LILIANA ARAGÃO, ROSSANA CHIPALAVELA E VICTOR DA COSTA.
44 SAÚDE
A equipa de investigadores enfatiza a necessidade de um foco na melhoria do atendimento cirúrgico para recém-nascidos em países de baixa e média renda, em todo o mundo. Nos últimos 25 anos, embora tenha havido grande sucesso na redução de mortes em crianças menores de cinco anos, através da prevenção e tratamento de doenças infecciosas, tem havido pouco foco na melhoria dos cuidados cirúrgicos para bebés e crianças e, de facto, a proporção de mortes relacionadas a doenças cirúrgicas continua a aumentar.
U
m estudo publicado na The Lancet examinou o risco de mortalidade em quase quatro mil bebés nascidos com anomalias congénitas, em 264 hospitais em todo o mundo. O estudo apurou que, no que se refere aos bebés nascidos com defeitos do tracto gastrointestinal, em países de baixa renda, estes têm duas hipóteses em cinco (2:5) de morrer, em comparação com um em cada cinco (1:5) num país de renda média e um em cada 20 (1:20) num país de rendimentos mais elevados. A Gastrosquise, que é um defeito de nascença em que o bebé nasce com os intestinos exteriorizados do abdómen por um orifício ao lado do umbigo, tem a maior diferença comparativa nas mortalidades, sendo que 90% dos bebés morrem em países de baixa renda em comparação com 1% nos países de alta renda. Nestes, a maioria destes bebés será capaz de viver uma vida plena sem deficiência. A investigadora principal, a Dra. Naomi Wright, dedicou os últimos quatro anos a estudar estas disparidades nos resultados. “A geografia não deve determinar os resultados cirúrgicos para bebés que têm condições cirúrgicas corrigíveis. O Objectivo de Desenvolvimento Sustentável para terminar com as mortes evitáveis em recémnascidos e crianças menores de cinco anos, até 2030, é inatingível sem acção urgente para melhorar o atendimento cirúrgico dos bebés nascidos em países de baixa e média renda”, afirmou.
Os defeitos congénitos são, agora, a quinta causa principal de morte em crianças menores de cinco anos, em todo o mundo, com a maioria dos óbitos a ocorrer no período neonatal. Defeitos congénitos envolvendo o tracto gastrointestinal têm uma mortalidade particularmente alta em países de baixa e média renda, pois muitos não são compatíveis com a vida sem cuidados cirúrgicos de emergência após o nascimento. Em países de maiores rendimentos, a maioria das mulheres faz uma ecografia prénatal para avaliar defeitos de nascença. Se identificados, isso permite que a mulher seja encaminhada para dar à luz num hospital com cuidados cirúrgicos, para que o bebé receba ajuda logo que nasça. Em países de baixa e média renda, bebés com estas condições costumam chegar tarde aos centros de referência cirúrgica infantil e em condição clínica ruim. O estudo mostra que os bebés que se apresentam em centros de referência cirúrgica infantil já sépticos, com infecção, têm maior probabilidade de morrer. O estudo também destaca a importância dos cuidados peri-operatórios (os cuidados recebidos no momento da operação ou procedimento correctivo) no centro cirúrgico infantil. Bebés tratados em hospitais sem acesso a ventilação e/ou nutrição intravenosa, quando necessária, tiveram uma incidência maior de morte. Além disso, não ter suporte anestésico qualificado e não usar uma lista de verificação de segurança cirúrgica, no momento da operação, foi associado a uma maior incidência de morte.
45 SAÚDE
A equipa de investigadores descobriu que melhorar a sobrevivência a partir dessas condições, em países de baixa e média renda, envolve três elementos principais:
pacientes recém-nascidos e pediátricos e equipas cirúrgicas infantis no centro cirúrgico infantil, junto com a educação de extensão e networking com hospitais de referência.
• Melhorar o diagnóstico prénatal e o parto ser realizado num hospital com cuidados cirúrgicos infantis
Os investigadores pedem que, juntamente com as iniciativas locais, os cuidados cirúrgicos para recém-nascidos e crianças precisam de ser integrados na política nacional e internacional de saúde infantil e que não devem mais ser negligenciados na saúde infantil global.
• Melhorar o atendimento cirúrgico para bebés nascidos em hospitais distritais e a transferência para o centro cirúrgico infantil ser feita com segurança e rapidez • Melhorar os cuidados peri-operatórios para bebés no centro cirúrgico infantil. Isso requer um forte trabalho em equipa e planeamento entre a obstetrícia e equipas obstétricas, equipas de tratamento aos
O artigo pode ser consultado, gratuitamente, na íntegra no site da The Lancet: http://www.thelancet.com/journals/lancet/ article/PIIS0140-6736(21)00767-4/fulltext
Estudo multicêntrico, internacional, prospective de coorte; Mortalidade causada por anomalias gastrointestinais 264 Hospitais , 74 países de Baixa- Média - & alta renda GLOBAL PAEDSURG RESEARCH COLLABORATION
3849 pacientes, 3975 malformações 7 patologias de estudo 560 atresia do esófago 448 hernia congénita do diafragma 681 atresia do intestino; 453 gastrosquises; 325 onfalocele; 991 malformações anorectal 517 doença de Hirschsprung 264 hospitais • 89 HIC • 166 MIC • 9 LIC 74 Países
PONTOS DE ACÇÃO
RESULTADOS
POPULAÇÃO
39.8% LIC
20.4% MIC
5.6% HIC
Gastrosquises foi a malfomação com maior diferenca de taxa de mortalidade entre os três grupos de países
LIC MIC HIC
31.9 1.4% %
90.0%
Factores associados a mortalidade
Sepsis; ASA score alto ;não uso de check-list; indisponibilidade de ventilação mecânica e nutrição parenteral
Published paper: www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(21)00767-4/fulltext Icons made by Freepik from Flaticon. Infographic made by Marcus Sim.
46 SAÚDE
1.
Mortalidade geral
Melhorar a atenção e diagnostico prénatal de forma que o parto de crianças com malformações congénitas seja feito em centros de referência.
2.
Melhorar os serviços cirúrgicos prestados aos recém-nascidos fora dos hospitais de referência e formular protocolos de transferência eficazes
3.
Melhorar os cuidados pré e pós cirúrgicos nos centros de referência www.globalpaedsurg.com @GlobalPaedSur g
47 SAÚDE
REPORTAGEM
KASSAI: CORRENTE DE CONHECIMENTO QUE CRESCE A CADA DIA REPÚBLICA DE ANGOLA MINISTÉRIO DA SAÚDE
A HISTÓRIA DO KASSAI É RECENTE, MAS CONTA JÁ COM IMPORTANTES MARCOS E RESULTADOS. FOI EM 2020 QUE, COM O FINANCIAMENTO DA AGÊNCIA DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA PARA O DESENVOLVIMENTO INTERNACIONAL (USAID) / INICIATIVA PRESIDENCIAL CONTRA A MALÁRIA (PMI), A PSI ANGOLA, EM PARCERIA COM A APPY PEOPLE, TRABALHOU COM O MINISTÉRIO DA SAÚDE PARA DESENVOLVER A PLATAFORMA KASSAI. UMA PLATAFORMA INOVADORA DE ENSINO DIGITAL QUE SE PROPÕE A CONTRIBUIR PARA FORMAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE NA LINHA DA FRENTE. EM AGOSTO DE 2021, DURANTE O EVENTO OFICIAL DE LANÇAMENTO NACIONAL, A PLATAFORMA KASSAI FOI RECONHECIDA PELO MINISTÉRIO DA SAÚDE E INDICADA PARA USO A NÍVEL NACIONAL, COMO PARTE DA FORMAÇÃO CONTÍNUA DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE.
42 48 SAÚDE
PARA ACEDER AO KASSAI, VÁ A WWW.KASSAI.AO NO SEU COMPUTADOR OU TELEFONE DIGITAL / TABLET, E SIGA AS INSTRUÇÕES. O ACESSO É GRATUITO.
Numa altura em que tanto se fala
Número total de formandos inscritos* #Inscrições
#Inscrições (Acumulado) 2796 2871 2406
459
529
33
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jan
762
916
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1909
2044
433
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176
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252
285
216
169
fev
mar
abr
mai
jun
jul
ago
set
2020
I
nspirada no nome do rio, o nosso rio Kassai, esta plataforma inovadora assume-se no contexto actual como uma corrente de conhecimento,
de saúde possa aceder a conteúdos formativos com qualidade, a qualquer hora e em qualquer lugar. Conveniência e qualidade são um dos binómios que caracterizam o Kassai. Actualmente, a plataforma conta com cinco cursos na área da Malária. Para muito breve, está a inclusão de cursos na área de Saúde Reprodutiva, Materno-Infantil, bem como módulos relativos à Covid-19. Este alargamento para outras áreas de saúde está previsto para esta recta com uma pré-avaliação que define o nível inicial de conhecimento do formando. As vídeoaulas aprofundam, após essa aferição inicial, aspectos de aconselhamento, diagnóstico e tratamento, bem como competências saúde e o utente. De forma a manter os formandos envolvidos, os cursos têm quizzes, simulações e estudos de com nota superior a 80 % recebe um pelo Ministério da Saúde. Kassai foi inicialmente implementado nas províncias de Lunda Norte, Lunda Sul, Cuanza Norte, Malanje, Uíge e Zaire, as províncias que são apoiadas pela USAID / PMI no âmbito do projecto Saúde Para Todos. Mas o seu alcance orgânico rapidamente saúde a juntarem-se espontaneamente
*Dados extraídos a 09.12.2021.
457 94
out
nov
dez
2021
a esta plataforma. Está agora em uso a nível nacional e em crescendo diário. Até início de Dezembro de 2021, estavam inscritos na plataforma, com 88 % dos quais a ter completado os cursos. De acordo com uma análise de custo/benefício conduzida, que comparou a tradicional formação em sala de aula com a aprendizagem digital, a auto-aprendizagem pelo Kassai mostra-se 13 vezes mais adicionais na forma aprimorada de rastrear e monitorizar o desempenho e a actividade do formando, interagir com os formandos após a actividade de formação e adaptar o conteúdo, ritmo e progresso às necessidades de cada indivíduo.
Kassai são uma prova de que as mesmas contribuem para o efectivo fortalecimento dos sistemas de saúde e para a construção de respostas com valor acrescentado em termos de de uma entre os sectores público e privado. Na óptica do utilizador, estamos a falar de acesso a custo zero. Ou seja, os ao Kassai sem necessidade de terem saldo de dados ou planos de Internet. E isto graças ao apoio da UNITEL, que gerou o acesso grátis disponível inscritos no Kassai. Basta aceder a www.kassai.ao e, mesmo sem saldo de dados, o formando consegue aceder à plataforma e realizar a sua formação. Este apoio é enquadrado à luz da parceria entre a USAID / PMI, a PSI e a UNITEL num acordo de apoio às intervenções estratégicas no âmbito da malária, em Angola. Nos últimos 12 meses, formandos no Kassai investiram mais de 12 mil horas de estudo nos cursos, usufruindo do acesso gratuito à Internet para aceder e usar a plataforma. Já conhece o Kassai? Vá a www.kassai.ao e inicie a sua viagem nesta corrente de conhecimento.
Inscrições por curso completaram e passaram* #Passaram curso
#Concluíram curso
#Inscrições no curso
Malária Visão Geral Malária em Crianças Malária em Grávidas Malária na População Geral Malária Grave 0K
0,5 K
1K
1,5 K
2K
2,5 K
49 SAÚDE
ENTREVISTA OPINIÃO
O QUE NÃO O DESAFIA TAMBÉM NÃO O TRANSFORMA QUEM NÃO SAI DA SUA ZONA DE CONFORTO NÃO CRESCE. O DESAFIO POR VÁRIAS CIRCUNSTÂNCIAS, EM MUITOS ASPECTOS DA VIDA PROFISSIONAL, FAZ-NOS CRESCER E, ENQUANTO CRESCEMOS, TRANSFORMAMO-NOS. SE NÃO EXISTIREM DESAFIOS, FICAREMOS ACOMODADOS.
Dra. Zola Mayamputo João
A
doro ser desafiada, porque sou do afronte, guerreira na fé e na determinação. Não existe a profissão perfeita, mas existe o desafio de nos tornarmos melhores, todos os dias, e de fazer bem aquilo que nos motiva no dia-a-dia e no exercício da nossa profissão. Não somos os sofredores, nem a tábua de salvação. Mas, por conta das intenções serem tão claras entre nós, então, numa constância da confiança contratual, você confia e desempenha bem o seu papel. A verdade liberta-o, aumenta o conhecimento e o discernimento. O objectivo é viver o seu destino e não uma vida perfeita, porque existem, dentro da nossa profissão, muitas dúvidas difíceis de gerir pelo facto de ter muito acentuado o lado “comercial”. Então, a primeira visão e o primeiro encontro não estão do lado “terapêutico”, mas sim do lado da “magia” dos valores monetários. Só depois estão do lado farmacológico. É cada vez mais difícil ter qualidade, porque a busca é pela quantidade e outros aspectos
50 SAÚDE
Técnica Média de Farmácia pelo IMS de Luanda. Licenciada pela Universidade Jean Piaget de Angola/Ciências Farmacêuticas. Agente de Segurança, Higiene e Saúde no trabalho. Directora técnica da Australpharma
que suscitam dúvidas e ansiedades no nosso meio. É absolutamente normal, porque as experiências por que muitos já passaram acabaram, de alguma forma, por gerar muitas dúvidas. E é exactamente aqui que entram os desafios na profissão de farmacêutico. Atentos na valorização do lado mais profundo dessa magia no nosso exercício profissional, eis algumas questões: o que torna atraente o nosso curso? Atracção Externa ou Atracção Interna? Existe a atracção externa que, com o tempo, vemos que é um interesse vazio e eis que surge a atracção interna, que é o carácter de um profissional, uma vibração do desafio pela melhoria dos serviços de saúde, do mais importante, que é a “VIDA”, a vibração pelo outro. Você tem uma forte tendência de querer o bem do próximo, porque faz parte do serviço público que prestamos. A honestidade é uma importante ferramenta para controlar a intenção, onde se assumem os erros e as limitações e, nisto, se aprende que existem estágios para atingir os desafios e, de seguida, a transformação para um futuro melhor. E lembra-se do juramento e da exclusividade de sermos o melhor profissional. Tendo sido verificada a proliferação desordenada na importação, armazenamento, distribuição e manuseamento, em todo o território nacional, o cumprimento das regras inerentes é assegurado ao abrigo da alínea e) do artigo 2.º do Estatuto Orgânico do Ministério da Saúde, aprovado pelo Decreto Presidencial n.º 21/18 de 30 de Janeiro, conjugado com a alínea c) do artigo 1.º da Lei nº 5/87 de Fevereiro, que aprova o Regulamento Sanitário Nacional. É preciso ter coragem para ter saúde
emocional, não é algo automático, nem resultado da sorte, mas, sim, da coragem de abraçar os desafios, pois a vida não tem pneu de socorro. Então, devemos trabalhar e viver com consciência. Sacrificamos a nossa felicidade por causa dos rótulos que criamos, a “aparência”, e sacrificamos o nosso bem-estar. Está onde está porque escolheu. A vida é curta demais para desperdiçar as oportunidades que temos para crescer. Transformação é a completa mudança no nosso interior (lapidação). Conformar-se é ajustar-se à maioria e deixar de fazer o correcto. Somos os melhores e somos ONE. Bem-haja a todos os profissionais da saúde e, em especial, aos farmacêuticos.
51 SAÚDE
ANÁLISE ENTREVISTA
UM OLHAR SOBRE OS COSMÉTICOS
AS FARMÁCIAS EM ANGOLA POSSUEM UM ELEVADO LEQUE DE PRODUTOS COSMÉTICOS. A CATEGORIA DEVERÁ REPRESENTAR CERCA DE 6,5% DO VOLUME DE VENDAS DE UMA FARMÁCIA TÍPICA.
52 SAÚDE
entidades comerciais (lojas especializadas, supermercados, etc.), as farmácias parecem conseguir ser mais competitivas na categoria de hidratação. Assumimos que o leque de produtos disponíveis facilita a escolha do cliente, tornando-se, assim, num canal interessante para a compra deste tipo de produtos. Parece ser uma escolha acertada das farmácias e ter alguma margem para crescimento.
C
omo sabemos, as farmácias em Quem procura e compra cosméticos? Angola possuem um elevado leque Olhando para as “personas”, verificámos que de produtos cosméticos. Aqui, 81,14% das compras de cosméticos é realizado definimos produtos cosméticos como por mulheres, dos 25 aos 34 anos (54,80%) preparações constituídas por substâncias e 35 aos 44 anos (29,36%). Estas duas faixas naturais ou sintéticas, de uso externo etárias representam 84,16%. Olhando para as “personas”, verificámos que 81,14% das compras de cosméticos são nas diversas partes do corpo humano, realizadas A por maior partedosdas pesquisas destes mulheres, 25-34 anos (54,80%) e 35-44 produtos anos (29,36%). Estas duas faixas pele, sistema capilar, unhas, lábios, está concentrada etárias representam 84,16%. em Luanda, na baixa da órgãos genitais externos, com o objectivoA maiorcidade, de Kilamba e Talatona,em Luanda, na baixa da parte das centralidade pesquisas destes produtos estão concentradas exclusivo ou principal de limpá-los, são asdezonas genericamente, há genericamente há cidade, que Centralidade Kilamba onde, e Talatona, que são as zonas aonde uma maioruma ofertamaior deste tipo de produtos. perfumá-los, alterar sua aparência e/ou tambémtambém oferta deste tipo de corrigir odores corporais e/ou protegê-los produtos. ou mantê-los em bom estado. Estimamos que esta categoria represente cerca de 6,5% do volume de vendas de uma farmácia típica, sendo os medicamentos sujeitos a receita médica a categoria mais importante das farmácias. Observando a categoria de mais “perto”, verificamos a seguinte distribuição:
OUTROS 27%
HIDRATAÇÃO 32%
DEPILATÓRIOS E DESCOLORANTES 7%
LIMPEZA E DESMAQUILHANTES 7% HIGIENE 13%
DESODORIZANTES E ANTITRANSPIRANTES 14%
Como conclusão, vemos que a categoria de
Como conclusão vemos que a categoria de cosméticos está relativamente estável, e que ainda cosméticos está relativamente estável e que existe uma elevada procura (apesar de não ser a principal categoria). Com um público-alvo aindaidentificado existe uma elevada (apesar perfeitamente (mulheres entreprocura os 25 aos 44 anos), as campanhas de comunicação para este ajudar acategoria). um aumento nas vendas. depúblico-alvo não ser podem a principal Com umDeixando ainda uma ressalva ser relevante,perfeitamente visto que as farmácias competem com outros estabelecimentos que A nível de volume de vendas, os produtosque poderá público-alvo identificado vendem os mesmos produtos, fazer uma análise comparativa de preços para saber que de hidratação do corpo representam (mulheres entre os 25 e os 44 anos), as posicionamento será mais adequado para uma melhor campanha.
cerca de 32% da categoria, seguidos por desodorizantes e anti-transpirantes (14%). Esta tendência predominante de produtos de hidratação (corpo e rosto) pode ser explicada pela aposta das farmácias em aumentar o leque/variedade dos produtos desta categoria. O valor médio de vendas de produtos nesta categoria é de 9.517 AOA (o valor médio da categoria de desodorizantes é de 3.344 AOA, 2,84 vezes inferior). Sendo os cosméticos uma categoria que pode ser encontrada em diferentes
campanhas de comunicação para este segmento podem ajudar a um aumento nas vendas. Deixando ainda uma ressalva de que poderá ser relevante, visto que as farmácias competem com outros estabelecimentos que vendem os mesmos produtos, fazer uma análise comparativa de preços para saber que posicionamento será mais adequado para uma melhor campanha.
53 SAÚDE
PERSPECTIVA
CANABINOIDES NOS COSMÉTICOS: HYPE OR HOPE? COM O AUMENTO RECENTE NA POPULARIDADE DOS CANABINOIDES E O INTERESSE GLOBAL NOS COSMÉTICOS NATURAIS, TÊM SURGIDO DIVERSOS PRODUTOS COSMÉTICOS FORMULADOS À BASE DE INGREDIENTES PROVENIENTES DA CANÁBIS, NAS MAIS DIVERSAS APRESENTAÇÕES: COSMÉTICOS PARA O ROSTO, O CORPO E, ATÉ, CUIDADOS CAPILARES. E A OFERTA NÃO PÁRA DE AUMENTAR. SERÃO OS COSMÉTICOS COM INGREDIENTES PROVENIENTES DA CANÁBIS SIMPLESMENTE UMA TENDÊNCIA OU HÁ, DE FACTO, EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS QUE ATESTEM A SUA PERTINÊNCIA?
54 SAÚDE
Dra. Joana Nobre Farmacêutica, com mestrado em Ciências Farmacêuticas pela Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa e especialista em Cosmética e Marketing. Ao longo do seu percurso, especializouse no desenvolvimento de produto, na área regulamentar e na comunicação de marcas. Trabalha na indústria farmacêutica desde 2005, com funções nacionais e internacionais de direcção técnica e comunicação. Lecciona em diversas instituições de ensino superior e é Program Manager do Programa de Especialização em Dermocosmética do Centro de Estudos Superiores da Indústria Farmacêutica CESIF. É autora no Miranda by Sapo, contribuindo para a literacia na área da cosmética através da sua rubrica mensal. Tem ainda uma participação activa na Sociedade Portuguesa de Ciências Cosmetológicas, onde é membro do conselho fiscal. É fundadora do Crème de la Crème, o primeiro projecto português de curadoria cosmética, criando, desenvolvendo e comunicando projectos de Ciência Cosmética
A
canábis é uma das plantas medicinais conhecidas mais antigas, sendo também usada como alimento e fibra. A canábis é também conhecida como cânhamo e marijuana, termos coloquiais para descrever as diferentes variedades da planta na família das canabináceas. A característica diferenciadora entre os dois é, entre outras, o teor de THC na planta. Cânhamo é um termo usado para classificar variedades de canábis que contêm 0,3% ou menos de THC. Marijuana refere-se às variedades de canábis que contêm mais de 0,3% de THC (normalmente de 5% a 35%) e é usada para obtenção de drogas medicinais ou recreativas.
Como funciona o CBD nos produtos cosméticos? O CBD foi descoberto, em 1940, pelo químico americano Roger Adams e o estudo do seu uso por via tópica tem-se tornado relevante, principalmente para a indústria cosmética, sendo avançadas as possíveis propriedades anti-envelhecimento, anti-oxidantes e anti-inflamatórias. O mercado global de cosméticos com canabidiol estava avaliado, em 2018, no valor de 201,32 milhões de euros e é expectável que aumente a uma taxa de crescimento anual de mais de 30%, até 2024, para chegar a 2,67 mil milhões de euros, de acordo com o Market Reports World. Até ao momento, as aplicações dos cosméticos com CBD foram exploradas na pele seca, acne, eczema,
melasma, prurido, psoríase, dermatite seborreica, entre outras, mas os estudos precisam de ser mais robustos para se poderem retirar conclusões mais concretas. Segundo a Organização Mundial de Saúde, que já reviu diversos estudos científicos sobre este assunto, o CBD não é um componente psicoactivo, contrariamente ao THC, ou seja, o seu consumo não tem quaisquer efeitos sobre a actividade psíquica, nem tão pouco tem potencial de abuso e dependência. Quer isto dizer que nem a ingestão, nem a aplicação tópica de CBD provocam qualquer alteração no nosso estado mental. Esta clarificação é muito importante porque um estudo com 531 dermatologistas constatou que 64% dos voluntários não sabia que o CBD não é psicoactivo, e 29% não sabia que o THC é psicoactivo. Os canabinoides são uma classe de compostos químicos que actuam nos receptores canabinoides (CBRs), dispersos pelo corpo e envolvidos em diversos processos fisiológicos, alguns dos quais na pele. Interagem com esses receptores, os endocanabinoides endógenos (encontrados nos sistemas nervoso e imunológico), os fitocanabinoides (aqueles produzidos por plantas) e os canabinoides sintécticos (uma diversidade de substâncias). O canabidiol (CBD), assim como o tetrahidrocanabinol (THC) pertencem ao grupo dos fitocanabinoides, substâncias naturalmente presentes na Cannabis sativa L., nome científico da planta da canábis, que contém centenas de compostos químicos diferentes, de entre estes, 80 a 100 canabinoides. Em Portugal, para que o uso de CBD seja autorizado, o THC do produto deve ser inferior a 0,2% (m/m), conforme prevê o Regulamento (UE) n.º 1307/2013 de 17 Dezembro. Nos produtos cosméticos, utiliza-se o óleo de CBD e o óleo de sementes de cânhamo, identificados na lista de ingredientes como “cannabidiol” e “Cannabis sativa seed oil” (ou “hemp seed oil”, no mercado norte-americano), respectivamente. O óleo de CBD e o óleo de sementes de cânhamo são ambos produtos da planta canábis - especificamente, uma estirpe seleccionada, com baixo teor de THC, conhecida como cânhamo industrial. Porém, eles derivam de diferentes partes da sua anatomia. O óleo de CBD é derivado, principalmente, das flores da planta de cânhamo, enquanto o óleo de cânhamo é obtido a partir das sementes.
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O nosso sistema endocanabinoide é composto por dois tipos de receptores canabinoides, CB1 e CB2, e ambos estão presentes na pele, distribuídos através dos queratinócitos, melanócitos, folículos pilosos e glândulas sebáceas e sudoríparas. Isso significa que o canabidiol que é aplicado na pele pode, potencialmente, ligar-se a estes receptores que regulam alguns processos fisiológicos da pele. O mecanismo de acção para os benefícios do CBD no uso tópico ainda não foi totalmente explicado e o facto de um cosmético ter este ingrediente na sua formulação não garante as suas acções no produto final. O CBD é altamente lipofílico (tem muita afinidade para as gorduras), com alguns componentes voláteis, os terpenos, muitos deles foto-sensíveis. Tende a acumular-se no estracto córneo sem poder permear mais a pele e é usado nos cosméticos dissolvido noutros óleos transportadores, tais como o óleo de coco, jojoba, amêndoa doce ou, até, o próprio óleo de cânhamo. Rança muito facilmente e os cosméticos com CBD podem exigir, por isso, condições especiais de conservação ou, até, terem um PAO (período após abertura) muito curto. O que é o óleo de sementes de cânhamo? O óleo de sementes de cânhamo é extraído das sementes da planta de cânhamo por prensagem a frio. As sementes contêm altos teores de nutrientes, que são condensados e refinados no processo de produção do óleo, que não contém canabinoides, pelo que não interage com os receptores na pele. Contudo, é muito rico em ómega 3, 6 e 9, ácido palmítico e ácido esteárico. Além disso, contém proteínas, vitaminas E, B2 e B6, minerais, fibras e hidratos de carbono, flavonoides, terpenos, carotenoides e fitoesterois que garantem a sua acção antiinflamatória e anti-envelhecimento. Em cosméticos, o óleo de sementes de cânhamo é ainda usado como emoliente e hidratante, mas também como anti-
envelhecimento, devido à sua forte acção anti-oxidante. Tem sido utilizado em cosméticos posicionados para pele com dermatite atópica, psoríase e acne, não sendo um óleo comedogénico. Pode ser útil quando se usam retinoides ou depois de alguns ácidos, porque é eficaz na acção reconfortante. Por ser um óleo altamente sensível à luz, ou seja, oxida facilmente, deve ser mantido refrigerado e, quando incorporado em cosméticos, pode exigir condições especiais de armazenamento. Conclusão O papel actual dos canabinoides para o tratamento de condições dermatológicas ainda não foi totalmente definido. O seu uso em cosméticos é recente e, apesar de parecer promissor e de reconhecermos o seu potencial, há muitos factores a considerar. O ingrediente em si pode ter acção, mas a dose, a forma como se encontra na formulação, a embalagem em que está acondicionado e as condições de manutenção são muito relevantes para o sucesso da performance dos cosméticos na pele. Algumas considerações para quem pensa comprar cosméticos com ingredientes derivados da canábis: • Não é por se tratar de um ingrediente de origem natural que é melhor para a pele ou para o ambiente • Um cosmético contém vários ingredientes e é a fórmula, no seu todo, que deverá ser avaliada • Não é por haver indícios de algumas açcões benéficas em determinadas patologias ou estados de pele que vai ser melhor do que os ingredientes que já existem e que têm eficácia comprovada, há anos, nestes problemas de pele • Escolher marcas credíveis com estudo de eficácia comprovada • Ter noção das limitações dos cosméticos.
Para a realização deste artigo foram consultadas diversas fontes bibliográficas, tais como: 1. Mnekin, L.; Ripoll, L. Topical Use of Cannabis sativa L. Biochemicals. Cosmetics 2021, 8, 85. https://doi.org/10.3390/ cosmetics8030085 2. Cristian Scheau, Ioana Anca Badarau, Livia-Gratiela Mihai, et al, Cannabinoids in the Pathophysiology of Skin Inflammation, Licensee MDPI, Basel, Switzerland 2020 3. Eagleston, Lauren R M, Kalani, Nazanin Kuseh, Patel, Ravi R et al. Cannabinoids in dermatology: a scoping review, Dermatology Online Journal 2018. 4. The Eco Well Podcast: Interview with Ally Hasbun on CBD Cosmetics, December 2019. 5. Attila Oláh, Balázs I. Tóth, et al, Cannabidiol exerts sebostatic and antiinflammatory effects onhuman sebocytes, J Clin Invest. 2014 Sep 2; 124(9): 3713–3724.
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REPORTAGEM
BALANÇO DA VACINAÇÃO CONTRA A COVID-19 E PERSPECTIVAS PARA 2022 OS LÍDERES DO FUNDO MONETÁRIO INTERNACIONAL (FMI), DO GRUPO BANCO MUNDIAL, DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (OMS) E DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO (OMC) REALIZARAM A SEGUNDA RONDA DE CONSULTAS DE ALTO NÍVEL COM OS CEOS DOS PRINCIPAIS FABRICANTES DE VACINAS CONTRA A COVID-19, A 9 DE NOVEMBRO. TODOS OS PARTICIPANTES CONCORDARAM NA URGÊNCIA DE ENTREGAR MAIS DOSES DE VACINAS A PAÍSES DE BAIXO RENDIMENTO, ONDE MENOS DE 2,5% DA POPULAÇÃO ESTÁ TOTALMENTE VACINADA.
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O
objectivo da reunião era determinar como garantir uma distribuição mais equitativa das vacinas e todos os participantes comprometeram-se a continuar a trabalhar em conjunto para trazer maior clareza sobre os donativos, o intercâmbio de vacinas e os prazos de entrega, de modo que a distribuição das vacinas que salvam vidas possa ser mais eficazmente direccionada aos países mais necessitados. A reunião do Grupo de Trabalho Multilateral de Líderes sobre a Covid-19 baseou-se no trabalho técnico realizado por equipas multidisciplinares durante os meses de Setembro e Outubro. Durante as consultas, os líderes das quatro organizações e directores executivos também discutiram a melhor forma de abordar os estrangulamentos relacionados com o comércio, como melhorar o processo de doação, que medidas adicionais são necessárias para atingir o objectivo de vacinação de 40% da população de todos os países, até ao final do ano, e como melhorar a transparência e a partilha de dados.
Perspectivas para 2022 As perspectivas para 2022 também foram discutidas, nomeadamente, a diversificação da produção em todas as regiões, bem como o reforço da colaboração para alcançar o objectivo global de vacinar 70% da população de todos os países, até meados do ano. O grupo reconheceu os progressos na diversificação da produção, em particular, as novas parcerias em várias regiões dos países em desenvolvimento, e salientou a necessidade de reforçar, ainda mais, essa colaboração em matéria de fabrico. Os líderes das organizações incentivaram todos os governos do G20 a juntarem-se ao esforço para atingir o objectivo de vacinação de 40%, até ao final de 2021, permitindo que os fabricantes priorizem contratos com a COVAX e a AVAT (African Vaccine Acquisition Trust), racionalizem as doações para a COVAX e prometam mais doses, explorando as possibilidades de intercâmbios eficazes de vacinas com a COVAX e a AVAT e eliminando as restrições à exportação das vacinas.
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PARA 2022, O MEU DESEJO NA ÁREA DA SAÚDE É…
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“Que sejam criadas políticas de saúde que permitam fiscalizar a execução das boas práticas de assistência ao utente, a conduta dos profissionais e a garantia de que existe humanização, mas também que seja dada maior dignidade para quem exerce nesta área (condições de trabalho, que vão desde infraestruturas, equipamentos, meios de diagnóstico, medicamentos, remuneração, formação contínua e carga horária). Não podemos esquecer que o profissional de saúde também precisa de velar pelo seu bem-estar e que qualquer desequilíbrio afecta o cumprimento da sua missão, que é ‘salvar vidas’” Dra. Neusa Lazary – Directora de Comunicação Corporativa e Assuntos Institucionais da Nestlé Angola
“Como profissional na área de saúde, para o ano de 2022, o meu desejo é que tenhamos mais acesso à saúde na sociedade angolana, para uma vida mais saudável na população” Dr. Nuno Cardoso – Regional Director para Angola da Bial
“Desejo que, em 2022, todos os profissionais se dediquem a melhorar continuamente a sua capacitação, para oferecermos um atendimento humanizado e de excelência nas unidades sanitárias do nosso país” Dr. Mário Bundo – Presidente da AGOA
“Desejo que a Ordem dos Farmacêuticos de Angola, para 2022, trabalhe para a valorização da classe, da actividade farmacêutica e no combate aos falsos farmacêuticos” Dr. Santos Nicolau – Presidente da OFA “Que haja saúde com qualidade para todos os angolanos” Dr. Leite Cruzeiro – Director clínico do Consultório Médico Peandra
“Tornar realidade os três eixos para o desenvolvimento do sistema farmacêutico angolano no futuro: coordenação, investimento e formação” Dr. Mateus Fernandes – Vice-presidente da OFA “Para 2022, o meu desejo é que se possam esbater as desigualdades no acesso à saúde. Que o direito à saúde, contemplado na Declaração Universal dos Direitos Humanos, seja tratado como um valor social e direito inalienável de toda e qualquer pessoa, que os serviços básicos de saúde possam estar acessíveis a todos” Dr. Marco Correia – Director executivo da Australpharma
“Como estudante e recém-formado na área da saúde, o meu desejo para o ano de 2022 é que tenhamos um número crescente de hospitais e que surjam mais oportunidades de emprego para os técnicos recémformados nas mais distintas áreas da saúde” Frederico Chandala – Estudante do curso de Ciências Farmacêuticas
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ANOS YEARS
CUIDAR DA SAÚDE E BEM-ESTAR DAS PESSOAS É O NOSSO PROPÓSITO DIÁRIO!
Da capacidade logística (reforçada com um novo armazém de 2400m2) à implementação de boas práticas de distribuição. Do portefólio alargado ao marketing do produto. Da formação de recursos humanos ao programa de responsabilidade social. Na Australpharma, desenvolvemos competências específicas que promovem a otimização dos processos e o aumento da eficiência em todas as frentes. Dia após dia, trabalhamos para estar sempre na vanguarda.
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SEMPRE À FRENTE. EM TODAS AS FRENTES.