Ao Ataque #1

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EDITORIAL Essa imensa vontade de produzir freneticamente me fez criar esse zine. Um zine um tanto fora do formato dos que eu costumo produzir (fanzines de poesia). Não que eu tenha abandonado a leva poética, até porque eu sou feito de poesia, portanto é algo impossível eu me ver livre dela, mas é que decidi me jogar de vez contra o golpe que é viver em um mundo rodeado de seres hostis, preconceituosos e idólatras do dinheiro. Esse fanzine será como uma facada nas entranhas do caos que os homens criaram para subjugar uns aos outros. É um grito de liberdade, liberdade para bater de frente a essa coerção que é exercida contra todos nós que nadamos contra a maré. Vamos em frente, em nosso movimento libertário, rumando e sonhando com um mundo onde possamos, no mínimo, respirar melhor. - Thiago Jonas

Sobre crianças de vento As crianças lá da favela São como favos de mel Mas não sonham com Cinderela Nem contam a Rapunzel As crianças lá da favela São puras, almas famintas Pobres que são roubadas Levadas de suas famílias Pela morte Pelo medo O medo do amanhã O medo do mal-virá Se o bem-virá é sorte Se a morte não lhe tragar A vida Pequeno, deve ser forte Que é para a dor suportar Na ausência de paz tem medo Da luta que travará Eu mesmo de longe vejo Pequena criança a chorar Carrega lágrimas de desejo De ver a paz reinar Uma pena Sozinha, lá na favela Tão doce, favo de mel Não sonha com Cinderela Morrendo, foi para o céu - Thiago Jonas


“Veja, os garotos ainda estão aqui Gritando por mudança Veja, eles ainda acreditam Em se unir, lutar, ganhar poder” Venceremos/Dead Fish



UNIÃO É A QUESTÃO O que tanto os homens têm uns para com os outros? A coletividade só é encontrada para os comuns e não para o bem comum. Por essa razão temos visto o tanto de direitos que são negados todos os dias, ou a tamanha resistência em conceder esses direitos. Casais gays impedidos de se casar civilmente, e quando conseguem, são impedidos de adotar pequenos inocentes. Qual o problema? O extremo conservadorismo religioso que temos em nosso país é uma das maiores causas dessa estagnação no tempo. O senso de liberdade que as pessoas não conseguem conceber, de que a liberdade tem que englobar a todos e não só aqueles que professam a mesma fé. Quantos LGBT’s ainda precisam morrer por serem o que são? Quantas crianças negras precisam amargar para sempre dentro de orfanatos até completarem a maioridade e serem obrigadas a vagar por aí sem amparo algum, senão o mais que falho amparo do Estado? Quantas mulheres mais precisam continuar a serem agredidas diariamente, estupradas, mortas, trancafiadas em suas dores pela falta de respeito, espaço e visibilidade? Quantos mais precisam sofrer por causa desse maldito conservadorismo que nos rodeia, que alimenta o machismo e tantas outras formas de repressão? Precisamos, irmãos e irmãs, continuar em união, em um comum clamor pela causa de todos nós! Precisamos continuar com esse levante contra toda essa parafernalha que nos rodeia, essa naturalização da violência aos oprimidos. Temos que nos unir para derrubar. Continuemos em frente, enfrentando a minoria dona do poder (dinheiro), enfrentando a maioria religiosa que oprime o pensamento crítico com seus dogmas opressores dos que não confessam sua religião. O que nós queremos é apenas o direito de viver em paz nossas vidas. Respirar em paz o mesmo ar pesado que os demais respiram, embora continuaremos a reivindicar mais e mais, pois o Sistema nunca nos dará o que é nosso de direito se nos mantivermos calados. - Thiago Jonas


PORQUE SOMOS NEGROS, É ISSO QUE SOMOS! Diante de todas as imposições de padrões que somos sujeitos desde que nascemos, resistir é a melhor opção quando buscamos por autonomia. É um exercício de liberdade ir contra a maré. Mas neste texto pretendo abordar sob o aspecto do exercício da liberdade no emponderamento da estética negra. A começar por mim que, em um ato de resistência, resolvi deixar meus cachos crespos crescerem. A liberdade exercida nesse ato é o de se posicionar como negro, e ainda mais, reconhecendo a beleza negra que há em você. É o ato de abster-se da busca desenfreada em parecer “branco” para ser belo. Destruir o maldito estigma que se criou em nossa história, de que branco é belo e preto é feio. Resistir é muito importante, mas junto do ato de resistência é preciso o reconhecimento de si mesmo. A autoafirmação. Se colocar como negro na sociedade e não se deixar sujeitar pelo que nos é imposto (aparentar “branco” para ser aceito). Por que isso é importante? Ora, se você não se reconhece, estará somente vivendo uma mentira, além do mais, se o reconhecimento não partir de você quem é que vai te reconhecer? A sociedade negra, mesmo tendo ganho um pouco mais de visibilidade ao longo dos anos, ainda se encontra bastante marginalizada, criminalizada. Em nosso país você já é réu só por ser negro e culpado se for negro e pobre. A imensa maioria negra é pobre. Logo, a cultura negra é marginalizada e mantida no ocultismo, como sendo algo a se manter distância. Daí a necessidade de nos afirmarmos, nos colocarmos de fronte a sociedade, como NEGROS que somos. Sem medo de ser, de nos vestir como nós mesmos. A começar pelo cabelo, atravessando todo o corpo, até a ponta do dedinho do pé. Afirmação do que somos, de nossa identidade, de nossa cultura, dos nossos rituais. Sejamos negros de alma e corpo, não sejamos omissos, lutemos cada vez mais. (Por: Bob Black)



Ao Ataque! Nº 1 Abril/2016 Edição, diagramação e montagem: Thiago Jonas Tem ideias com viés revolucionários e gostaria de tê-las publicadas por aqui? Envie seus textos para o e-mail: tjbass2013@gmail.com, devidamente assinado.

Capa: Joan Jett

Não jogue este zine nas ruas ou no lixo, passe adiante!


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