Coletivo Caótica #1

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COLETIVO Ca贸tica Zine coletiva de poetas independentes

Adriano Silva B'Flor Duda Russo Thiago Jonas


Índice Bea (quase por um) triz ------- Thiago Jonas “Leve sempre contigo...” ------- B'Flor Casa Abandonada -------------- Adriano Silva Poema Mortal ------------------- Thiago Jonas Over a Dose --------------------- Duda Russo “Não escrevo para ricos...” ---- B'Flor Valentino Xavier ---------------- Thiago Jonas Ah, se soubesses --------------- Adriano Silva Julgamento de um solitário --- Duda Russo Dezesseis ------------------------- Thiago Jonas Qual o Preço? -------------------- Adriano Silva “Amanhecia frio e doce...” ------ Duda Russo



Leve sempre contigo O que já vou lhe dizer: O sorriso nosso de cada dia A vontade de viver Ah, não se esqueça Quando sorrir, sorria até seus olhos fecharem E sua face virar mundo Fará do mundo mais um tudo

B'Flor


CASA ABANDONADA Rua deserta, casa abandonada Fachada grande, talvez tivesse uma bela aparência, mas só talvez O jardim, tá mais para lápide com flores secas, que entregam, [ há muito tempo teve visita, mas, agora, só grama, [ e outros verdes e cinzentos crescendo em toda parte Sem portas, é fácil de adentrar, janelas quebradas pela espera Paredes com reboco esburacado, quadros, retratos, imagens, Alguns vestígios de que em algum momento foi habitado e talvez teve cor As únicas presenças agora são de alguns animais refugiados nos escombros Uma lagartixa ali, uma aranha aqui A lareira, suja traz o aspecto quase perdido de aconchego que pode ter existido O vento enfeita o lugar ceco, os móveis quebrados, que demonstram ser de boa qualidade, [ são instrumentos perfeitos para sinfonias de diversos zumbidos, [ mas, que sempre tocam a mesma música ao passar por todos os cômodos, [ da cozinha a sala de estar Talvez uma reforma, e uma faxina ajudem, mas, [ é quase certeza de que não volte mais a ser como antes!

Adriano Silva


POEMA MORTAL Morri de todas as formas possíveis Para poder um poema mortal escrever Morri de cara, estendido numa calçada Instantes antes não havera de morrer Mas, morri E felizmente, mesmo morto, ainda escrevo Coisas da vida que vivi amargurado E não curado, caminhava com receio Enfim, à morte, acabei por encontrado

Thiago Jonas


OVER A DOSE Meio leve demais, Como se fosse flutuar a qualquer momento, Como se sentisse o aroma puro e doce das flores, Mesmo em meio a poluição, Como se tudo que falassem ressoasse em seus ouvidos Como a mais linda sinfonia de Mozart, Como se qualquer imprevisto Fosse uma surpresa dos anjos para ela, Como se aquela fosse só uma no mundo, E ela o centro de tudo, Como se seu sorriso abrisse as portas para o paraíso, Como se ela fosse ela, E os outros fossem somente os outros.

Duda Russo


Não escrevo para os ricos Nem para os violonistas Nem para os cientistas Não escrevo para os chatos Nem para ingratos Não escrevo para os cínicos Desta categoria já me bastam os felizes Sim, os felizes são também cínicos Escrevo para Chicos Para iludidos Para quem nunca se encontrou Para os loucos Para quem se acha ridículo Sendo assim Escrevo somente para mim

B'Flor




JULGAMENTO DE UM SOLITÁRIO Podes vir, porém vou logo lhe avisar Não tenho nada a oferecer por ora A não ser minha solidão Minha facilidade em entender os melancólicos Os que não dão lugar ao ódio E transformam suas aflições em poemas Não, eu não tenho nada a lhe oferecer Nada que interesse os espertos Sou só, um deserto Só é o que tenho Mas receio que não é isto que estás a procurar Como todos, sei o que te move O que pensas Vives julgando, arrebatando os pobres de espirito E não enxergas o verdadeiro pedincho Não te colocas lá dentro Estás sempre cá fora Cá acolá E de ombro a ombro Procuras o melhor Corsário pra pousar E de galho em galho Vai saltando até achar O que tem os outros pra te dar E é por isso que vou logo lhe avisar -Eu não tenho nada pra dar.

Duda Russo


DEZESSEIS Dezesseis anos E fere tão bem a alma, Desgraçada! Não quero te chamar assim. Te tenho amor Te tenho em mim Por isso dói. Desgraçada, não é você Mulher De dezesseis. Desgraçada é essa dor Que me consome Aos poucos De vez

Thiago Jonas


QUAL O PREÇO? Qual o preço de ser eterno em quem nos tem? O preço do apego, da dependência da droga mais viciante, [ alucinante e esquizofrênica, que existe O apelo da única e mais sortuda, honesta jogada E o que compra, só descobre aquele que paga o preço Só descobre aquele que se dispõe a pensar de maneira [ mais imprevisível do que a própria situação, [ em proporções inacreditáveis O limite da sobrevivência, esforço físico e mental ao máximo Estar à mercê do que vier

O preço que se paga, o mesmo preço de perder todas as chances Ser derrubado, quase não ser humano Porrada, pancada, empurrão, flagelo, nenhum pode interferir nessa inércia O mundo desabando a sua frente Ser maltratado, torturado O preço que se paga, é o mesmo preço para ser destroçado, [ triturado, aniquilado E então, ser atirado agonizando, no abismo mais profundo, [ escuro, sujo, úmido Mas você sobrevive Sobrevive para arriscar e pagar o preço de novo!

Adriano Silva


Amanhecia frio e doce O galo cantava, as vozes soavam na cozinha A fofoca começava Eu do quarto escutava Me sentia bem, ouvindo tudo quando não ouvia ninguém O aroma do café adentrava minhas narinas Era o primeiro aroma da manhã Que depois iria se misturar com o suor frio da minha genitora Que se aquecia na beira do fogão E caminhava um pouco pra comprar o pão Aromas suaves, frios e pão quente O leite dos dentes na mesa O queijo prato, o pranto do bebê Que logo iria crescer E virar um daqueles que o observavam

Duda Russo


Autores

Adriano Silva De estilo imprevisível, narra o comum em seus versos de maneira fantástica. Com a poética mais que sutil, a mensagem é mais que profunda.

B'Flor Carrega consigo a leveza dos versos simples e a pureza. Eis o tipo dos que falam pouco e muito têm a dizer.

Duda Russo De versos doces, de sonhos distantes. Os que buscam o inalcançável, e se contentam com o sorriso mais simples.

Thiago Jonas Intimista, amante da dor. Versa aflição com insana sinceridade. Ama narrar o fato e observar nas entrelinhas.



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