Dezembro/2016
#2
Segunda edição de VENCEREMOS!, isso é muito importante. Continuo na minha onda de produzir fanzines como se não houvesse amanhã, sempre na expectativa de que alguém estará lendo e estará gostando do que leu. A vida é muito corrida e são pequenas coisas como esta que fazem ela ter um pouco de sentido. Atividades feitas por amor e com amor é o que realmente fazem qualquer esforço valer a pena (a vida de zineiro não é fácil). Bom, primeiramente fora Temer! Em seguida, gostaria de agradecer a todos e a todas que colaboram, de alguma maneira, para esse rolé dar certo. Espero que mais oportunidades como essa possam aparecer! Thiago Jonas
FICHA TÉCNICA Zine VENCEREMOS #2 Dezembro/2016 Na capa: Joey Ramone e seu irmão Mickey. Edição, capa, diagramação e outras coisas: tudo feito por mim, eu mesmo, Thiago Jonas. CONTATO neuralzine@gmail.com SIGA O TUMBLR: Underart1.tumblr.com NUNCA JOGUE UM ZINE NO LIXO, SEMPRE PASSE ADIANTE.
Esse sou eu, boy de humanas, 22 anos, que gosta de ficar inventando o que fazer pra ver se a vida ganha um pingo de graça. Também gosto de desenhar.
Born To Freedom (Foto: João Gabriel)
CAOSNATAL – 14 Anos de História no Underground Potiguar O CAOSNATAL voltou e voltou em forma. Contando , nessa edição, com a presença de seis bandas, o evento voltou a mil por hora para comemorar seus 14 anos de existência servindo a cena underground potiguar. O evento, que tradicionalmente é organizado pelo grande Alexandre, vocalista da banda de hardcore/punk, N.T.E – que também se apresentou nesta edição - reuniu, mais uma vez, na Ribeira, toda a galera cheia de vontade de curtir um som visceral e sem frescuras. O show ficou por parte das bandas Atrito Urbano (Trash Metal), Born to Freedom (Hardcore), Psicomancia (Hardcore), N.T.E (Hardcore/Punk), Concílio de Trento (Post Hardcore) e a homenageada da noite – por ter sido a banda a tocar na primeira edição do evento – Rotten Flies (Hardcore/Punk), sendo a única de fora do estado do Rio Grande do Norte, banda da Paraíba.
Vou falar da minha perspectiva de pequeno iniciante nas andadas da Ribeira (infelizmente resido no interior, e todas essas coisas acabam sendo de difícil acesso para mim devido ao fato de que tenho que voltar pra casa em algum momento). Na minha primeira edição de CAOSNATAL já consegui me sentir abraçado pelo ambiente aconchegante de maneira perturbadora que só a cena underground tem. Ao mesmo tempo que você se sente fazendo parte daquilo, você sente que aquilo não faz parte do mundo real ao qual se está habituado a viver. O underground acaba sendo uma espécie de válvula de escape de toda a monotonia dos tradicionais
costumes. Lá dentro, toda aquela galera se sentia mais livre, sem o incômodo dos olhares julgadores do conservadorismo. As almas livres fizeram a festa sob o som enérgico de cada banda. Eu conhecia poucas, de fato, só a Born to Freedom – inclusive foi a que eu mais me joguei, cantei junto, entrei na roda.
Merch da Microfonia (Foto: João Gabriel)
Acredito que a energia daquele lugar não poderia ser a melhor. As bandas eram todas amigas, de veteranos a “calouros”. Esse tipo de coisa faz o rolé ser ainda mais legal. Do merch da Microfonia, do rolé vegano organizado pela Mariana, do Shilton (Born to Freedom) recepcionando na bilheteria, da estrutura clássica da casa de shows do DoSol... a cena respirava, não mais por aparelhos, ela estava mais viva do que nunca (alguns podem até discordar, mas eu não saberia descrever de outra maneira). Eu suei como nunca e suaria mais vezes se fosse possível. Por mais cansado que eu tenha ficado naquele momento, sinto que poderia ter me cansado mais. Os shows todos pediam isso. As bandas foram tudo o que deveriam ser – perdão pela estética poética às vezes um tanto romântica, é o meu jeito de escrever e ver as coisas.
Quadros dos ícones (Foto: João Gabriel) O CAOSNATAL pode não ser o maior de todos os eventos, arrastando multidões de todos os buracos da cidade, mas com certeza é um dos melhores. É um dos melhores por ser exatamente do jeito que é, organizado exatamente do jeito que foi – com amor. Como tanto o Alexandre falou, “O Hardcore/Punk não morreu”, não mesmo. Está mais vivo e tem se renovado pois estamos aqui, como ele mesmo disse, a “molecada nova” que vem chegando pra somar. Mantendo essa ideia de ir contra toda essa sistemática padrão. Indo contra os parâmetros estéticos do que é ser e de como se divertir. Indo contra todas as modas passageiras, todas as poses. O CAOSNATAL é isso aí. Que venham anos e mais anos desse evento que tanto “bole” com a cena local. Que faz com que a galera não pare de fazer coisas. Palavras de Shilton Roque: “Façam alguma coisa”, isso é muito importante. Thiago Jonas
SHOEGAZE Queria ler mais sobre coisas tristes. Coisas que pareçam mais com o momento em que estou fadado a passar agora. Não quero ouvir de histórias felizes de casais de namorados que vão à praia e se divertem como nunca. Não quero ouvir dizer de alguém que é autossuficiente ao ponto de se satisfazer sempre consigo mesmo sem se importar com o mundo que gira, sim, gira a seu redor – ele é o centro. Não quero ouvir canções felizes e nem do canto dos pássaros mais belos, soltos, que fazem seu voo quase que de encontro ao infinito. Não quero saber, ouvir dizer, de nada disso. Quero apenas a tristeza. Quero abraçá-la e chorar com ela sobre seu peito frio. Deixa a tristeza aqui, ela me inspira, mesmo me sufocando e alimentando cada vez mais essa minha vontade de simplesmente parar. Ela não me impulsiona a me acabar, mas a me deixar a mercê de tudo que me rodeia e, nesse momento, tenho só minha cama bagunçada e um lençol velho rasgado que gosto de cheirar. Deixa… que a tristeza que me sufoca ainda não é capaz de me matar – talvez por às vezes eu não viver, ser apenas coadjuvante da cena ou mesmo um mero figurante, ou no fim, apenas um telespectador do mundo. Deixa a tristeza que me prende a olhar o mundo com raiva e melancolia. Deixa a tristeza me deixar inerte e de todos os meus sentidos, sentir somente o sentimento triste e frio que nem força tem de me tirar o sono. Deixa a tristeza, que mesmo parecendo me odiar, por me machucar, é minha amiga, pois nunca me deixa só quando todos saem e apagam a luz enquanto eu ouço um shoegaze. Thiago Jonas