#3
Edição extra!
Dezembro de 2016
EDITORIAL As tardes andam muito quentes. Já é dessa coisa do verão, embora aqui no nordeste isso não faça diferença alguma – quase sempre é assim tão quente. Enquanto redijo este editorial, ouço uma banda que há muito tempo já acabou e que quase ninguém teve a honra de conhecer. Tô falando da Alcalina, lá do Ceará, que conheci por acaso no ano passando assistindo a um mini documentário sobre fanzines – uma das entrevistadas era a baixista da banda e zineira bastante conhecida, a Fernanda Meireles. Em alguma edição da “Venceremos!” eu pretendo falar um pouco da banda. Esta terceira edição do zine resolvi fazer porque fiquei muito ansioso desde que terminei a número 2. Por isso que essa é uma “edição extra”, pois ambas estão saindo no mesmo mês. Como a gente fala por aqui, eu me “avexei”. Tinha muito material ainda, que não coube na edição anterior, fora que minha mente estava cheia de ideias malucas – e ainda está, mas vou tentar me conter para as próximas edições. Para essa, eu resolvi focar nos materiais com teor mais artísticos. Daí a razão por ter mais poesia, uma conto (ou crônica) e outras paradinhas. A escolha da capa deu-se pelo fato de nela estarem unidas duas de minhas paixões, a Elis e o Corinthians. Bom, chega de papo. Vai lê teu zine!
FICHA TÉCNICA Zine VENCEREMOS! #3 (EXTRA) Dezembro/2016 Na capa: Elis Regina com sua camiseta do Corinthians Edição, capa, diagramação e outras coisas: tudo feito por mim, eu mesmo, Thiago Jonas. CONTATO neuralzine@gmail.com SIGA O TUMBLR: Underart1.tumblr.com NUNCA JOGUE UM ZINE NO LIXO, SEMPRE PASSE ADIANTE.
V E N C E R E M O S !
Esse sou eu, boy de humanas, 22 anos, que gosta de ficar inventando o que fazer pra ver se a vida ganha um pingo de graça. Também gosto de desenhar.
o concreto é feio é frio é antecipação da ruína a tinta fina não consegue esconder que o concreto é frio vazio é o mesmo que morrer Thiago Jonas
NUVENS COR DE ROSA Era uma tarde ensolarada, já perto do seu crepúsculo, a hora que eu sempre gostei mais que todas as outras. O momento que o céu exibia sua linda poesia em cores quase irreais. Vejo nós dois, sentados no capô do carro, em um silêncio precioso, onde nada precisa ser dito. Observando o Sol se encaminhar para seu próximo destino, não sem antes nos dar a mais bela das visões. Você entrelaça seus dedos nos meus, como se fossem (e não duvido que tenham realmente sido) feitos uns para os outros, num encaixe perfeito. Sua cabeça recostada em meu ombro, deixando seu cabelo macio e cheiroso pelo xampu que eu tanto gosto. Você emana um calor confortante, como aquele que sentimos do Sol da manhã. Às vezes me pego te observando, perdido em seus olhos, como um homem apaixonado encara o mar. Olhar dentro de seus olhos é como enxergar a imensidão do universo através de portais castanhos e vibrantes, como um buraco de minhoca que é capaz de me transportar para universos e realidades distantes. Distantes de tudo aquilo que nos faz mal, mas unidos como amantes eternos. Percebo pelo canto dos olhos que você me encara, mas finjo não ver, apenas dou o sorriso que sei que gosta tanto. Você se aconchega mais perto, dando uma leve risada. Fecha os olhos e faz aquele barulho fofo que eu amo, ronronando como um gatinho, o que faz quando está feliz perto de mim. Erguemos juntos os olhos para o belíssimo céu infinito, que irradia suas cores sensacionais. Poesia em fantásticos tons de rosa. Contando e mostrando nuances do real amor para aqueles que se deixam ver. Nuvens cor de rosa, como raramente vemos, e que possuem um significado profundo para ambos. Um evento raro, de extraordinária beleza. Assim como as chances de encontrarmos o grande amor de nossas vidas. E nós conseguimos. Um no outro. O grande e verdadeiro amor. Um amor inexplicável, em que todas as vezes que paramos para analisar, nos mostra coisas mais incríveis e belas do que antes. Poderia falar de biologia, química e física para explicar meu amor, mas não o farei, pois não se explica amor dessa forma. Apenas se deixa envolver e aprecia a oportunidade de viver algo assim. Assim como as nuvens cor de rosa.
Yves Lincoln
B'Flor Contemplá-la foi um desafio. Lá estava ela, no seu altar particular A moça dos olhos nervosos Rapidamente olhava meu corpo e minha alma. Antes que eu hesitasse, dissesse não Ela, na mais pura inocência, invadiu meus vidros E, sutilmente, estilhaçou os cacos pelo chão. Deixando em meus pés cicatrizes que mais parecem tatuagens: Permanentes.
Meia listrada Quero uma meia listrada de natal, Uma pauta em branco, Um panetone e um copo de leite puro, Além da terapia com meu gato. Rever o ermo da minha mente... Por lá deve ter uma clareira, Um lampião aceso e uma coruja agoureiro. Quando chegar, o fauno fará um chá, tocará Debussy em sua lira E mostrará meu futuro nas constelações. Até que eu acorde no guarda roupa Sufocado com naftalina e uma barata me observando analiticamente. Ainda assim, estarei bem E calçado. Caio Fernandes.
Thiago Jonas
E quando parte dói Sempre faz alguém chorar
Lembro de quem se vai E não se foi da mente Lembro que nada mais É mais Lembro que gente é gente
Eu lembro
Lembro das cores cinzas dos dias E da gente que já foi embora Lembro das horas vagas Madrugadas frias Do tempo curto E a demora
Em memória de Cineide, Joana, Cleilson e minha avó Lucimar
Lembro
MAIS QUE PALAVRAS, IMAGENS FALAM Por: Thiago Jonas “The Li'l Depressed Boy” Autor: S. Steve Struble Desenhos: Sina Grace Ano: 2011
Tive a grande honra de conhecer esta grafic novel ano passado juntamente da tristeza de não tê-la conhecido antes. The Li'l Depressed Boy não se trata de uma simples história em quadrinhos. Ela é muito mais que isso. É uma história que todo mundo deveria ler, pois fala muito de cada um de nós – sobretudo os “nós” que vivemos vidas quase sempre solitárias. LDB é um jovem adulto que tem sua vida solitária em Seattle. Sempre muito recluso, tem dificuldades em fazer amigos. Tem como principal prazer de vida, ouvir música. Sempre que possível, passa em alguma loja de discos com intenção de adquirir algo novo de alguma banda favorita, ou simplesmente do que nunca ouviu. Suas frustrações não transitam somente pelo campo das afetividades fraternais, sua vida amorosa também não é das melhores. Na verdade, ela não existe, o que de certo modo contribui para suas ilusões e confusões mentais das quais originam-se no que costuma sentir. Quem nunca confundiu amizade com amor? Pois é, não seria o LDB a estar fora dessa. A minha identificação com o LDB, a ponto de me sentir confundido com ele em diversas situações da leitura, foi enorme. Assim como ele, sou um amante da música, aprecio quadrinhos e sofro de amores mal correspondidos – ou não correspondidos (acho que, não só eu, mas muita gente também é assim – sobre esse lance de amor). A história sempre caminha nessa coisa cotidiana, sem nada escandaloso ou absurdo acontecendo. Apenas casualidades da vida. O que torna interessante a história é realmente isso. Ela é como as vivências mesmo, não tem começo como também não tem fim. E é isso que tanto me fez ficar atraído. Você se sente imerso de maneira a não ter que achar que tudo o que acontece é pura fantasia. O LDB existe! Ele pode ser você! Além da história impecável e imprevisível como a vida, The Li'l Depressed Boy tem uma sacada que achei muito genial. É um quadrinho com trilha sonora. Sim, isso mesmo. Em algumas cenas, sobretudo as mais intimistas, é possível ouvir música com o personagem. Isso porque o autor, S. Steve Struble, teve a ideia maravilhosa de dispor no quadrinho a música que o LDB ouvia – inclusive no final de cada edição consta a letra completa da música, como também na página tem a referência da banda e da música no rodapé, ou borda do quadro. Outro ponto genial da obra são as cenas sem balões de fala ou quadros de narração. Simplesmente sequências de imagens bastante expressivas que conseguem o feito de passar com franqueza toda a emoção que se pretendia. Você consegue sentir tudo o que o personagem sente. É aí que você consegue sentir que poderia ser você ali também. Enfim, é uma leitura que recomendo a todo mundo que vejo. Faça uma rápida busca na internet que, por mais que ela não tenha sido publicada no Brasil, há fansubs que traduziram todas as 16 edições + a edição “0” e um especial. Faça boa leitura!