3 minute read

DIALOGANDO SOBRE PRÁXIS PEDAGÓGICA EM DANÇA

Aqui, vamos priorizar a concepção de Dança como um potente caminho de formação humana. Para além de uma concepção de “cultura corporal”, para além de pensar somente no movimento do corpo, pensamos o ensino de Dança como mediação para uma Educação Integral, uma formação de corpessoas que, a partir deste ensino, se entendam, entendam suas relações com o mundo e atuem neste de forma criativa, inventando novos modos de se relacionar, de co-existir com os outros corpos, novos modos de viver. É preciso pensar não em termos de adestramento, treinamento, padronização ou controle (motor, intelectual ou outro/s), é preciso pensar sobre

O reconhecimento da existência de um processo contínuo de trocas de informação entre corpos e ambientes [o que] indica que o movimento é uma das condições primeiras para podermos perceber o mundo, e também quem somos – isso significa que o movimento é fundamental para toda e qualquer produção de conhecimento. (RANGEL; AQUINO; COSTA, 2017, p. 15).

Advertisement

É preciso considerar que o movimento em Dança não diz respeito somente a sequências corporais coreografadas, mas se constitui como pensamento do corpo (KATZ, 2005) e, neste sentido, é possível dançar com pensamentos, com palavras, com intenções que se corporificam por diversos meios, diferentes for-

mas.

Ao considerar a Dança como pensamento do corpo reforçamos a ideia de que, enquanto produtora de conhecimentos, esta área pode ser utilizada como potente meio educativo/formativo. Aliando-se a seu aspecto espetacular, no Ensino Fundamental, a Dança deve focar na formação integral das corpessoas, servir como propositora de reflexões ético~estético~políticas~sociais~afetivas~culturais e afluir para o pleno desenvolvimento dos/as estudantes, conectando seus diferentes aspectos, integrando todas as suas dimensões, entendendo-as, discernindo e provocando sua atuação por meio de suas capacidades corporais, que são também intelectuais e afetivas. O objetivo da Dança na Educação Básica deve ser revelar a si própria enquanto corpo de saberes que constitui a corpessoae, desta forma, se expressa, como mídia de si mesma (KATZ, 2005). Mesmo quando não tem a intenção, o corpo fala (GAYARSA, 2002), constituindo e desenvolvendo sua própria identidade, seu modo de ser e de estar no mundo, que não é uno, mas múltiplo.

Contextualmente as aulas devem proporcionar condições para que os/as estudantes re/conheçam-se como corpessoasdançantes que, a partir da sua criação contínua de movimentos re/inventam suas próprias formas de viver, pesquisando, produzindo, apreciando danças que se relacionam com o mundo a seu redor, e todas as possibilidades que surgem a partir destas vivências. Uma Dança que propõe para as corpessoasum desenvolvimento ético~estético~político~social~afetivo~cultural para

enfrentar uma tradição educacional sustentada em concepções de infância, criança, conhecimento, ensino e aprendizagem que não dão conta das exigências requeridas pelas necessidades das crianças pequenas e pela formação de seus professores [...] a dança pode e deve ser um dos vieses dessa estesia que se dá na experiência estésica, a qual exige o prazer que advém da experiência compartilhada entre o corpo, as coisas do mundo e as pessoas; é uma forma de conhecer, ou seja, provoca-nos a sentir de outros modos o já conhecido em busca de sentidos para nossa existência. (VIEIRA, 2019, p. 74).

Uma Dança que não propõe um domínio corporal, mas a conscientização deste. Não se tem que pensar em disciplinar o corpo, talvez seja melhor pensar em “estudos indisciplinares” como propõe Christine Greiner (2005). Não se tem que dominar o corpo, mas entendê-lo, orientá-lo em sua multiplicidade, mediá-lo pelos inúmeros caminhos que podem se apresentar em sua formação. Portanto, não se trata de treinamento, adestramento ou outro parecido, mas de conscientização, de preparação para autonomia e para a emancipação. Trata-se de permitir aberturas para “múltiplos métodos interpretativos, diversas maneiras de pensar, diferentes estilos de expressão que formam uma rede de possibilidades com infinitas combinações” (MARQUES, 2012, p. 185), em outras palavras, trata-se de pensar a educação e o ensino de Dança por esta perspectiva rizomática.

This article is from: