PELO PAÍS : UBC/17
LEO GANDELMAN
CELEBRAÇÃO À MÚSICA Do Rio
“Me considero um felizardo por viver do meu sonho e do meu ideal, numa realidade onde a maioria luta para pagar as contas”, descreve. “A arte, de maneira geral, não faz parte do mainstream e não tem mídia maciça. Escolhi fazer arte, em oposição a um produto fácil de mercado.” Consciente de que viver só de direitos autorais, na sua área, seria arriscado, há anos Leo apostou na diversificação. “Temos que ter um pensamento mais amplo para alcançar algum êxito na atividade musical. Compor, produzir, arranjar, gravar, apresentar-se e ter um espírito empreendedor são múltiplas coisas que fazem parte da minha vida hoje”, enumera o artista, que alcançou o sucesso logo no ano (1987) do primeiro lançamento, “Leo Gandelman”, com o single “A Ilha”, uma entre muitas parcerias que coassinou com o amigo William Magalhães. “A parceria com William é a que eu mais destaco, rendeu-me os maiores sucessos”, elogia. De lá para cá, investiu na produção de discos de Marina Lima (“Virgem”) ou Gal Costa (“Plural”) e passou a militar no circuito fechado, mas prestigioso, dos festivais de jazz, com participações em grandes encontros do gênero no país (Free Jazz) e no exterior (Montreux, Havana). O contato com grandes nomes lhe permitiu cultivar outra de suas facetas: a composição de trilhas, um mercado promissor para músicos. “Não se ganha muito, é verdade... Quando chega a hora de (criar a) música, os orçamentos já estouraram”, brinca. “Mas já fui fotógrafo e trabalhei em cinema. Fazer trilhas para produtos audiovisuais é um sonho.”
INSTRUMENTISTA, COMPOSITOR E PRODUTOR CARIOCA FAZ 60 ANOS DO JEITO QUE COMEÇOU SUA CARREIRA SOLO, HÁ EXATAS TRÊS DÉCADAS: SEM CONCESSÕES AO MAINSTREAM MIDIÁTICO FESTA COM TRILHA, SHOWS, PROGRAMA DE TV Este ano, assinou a trilha do longa “Dolores”, do argentino John Dickinson, ainda sem previsão de estreia no Brasil. “Foi um verdadeiro sonho fazer essa trilha com meu parceiro Eduardo Farias, um grande músico e um orquestrador de mão cheia. John Dickinson me deu liberdade total para decupar e conceber a música que, por ser de um filme que se passa nas décadas de 1930 e 1940, pedia uma trilha orquestral e muito romântica. Compus algumas baladas que passarão a fazer parte do meu novo repertório de shows”, afirma Leo, que começou a dupla celebração pelos 30 anos de carreira e 60 de vida tocando no Rock in Rio – Lisboa, em maio passado, na capital portuguesa, além de estender para uma miniturnê espanhola, com apresentações em Madri e Bilbao. Mas não é somente no palco que Leo Gandelman celebra. Acaba de ir ao ar a primeira temporada de um programa de TV que ele apresenta, um espaço de encontros entre artistas de sotaques e sonoridades variados, o “Vamos Tocar”, no Canal Bis, que recebeu gente do quilate de Ney Matogrosso, Alcione, Edu Lobo, Fagner, Zélia Duncan, Moraes Moreira e Hamilton de Holanda, entre diversos outros. A (boa) repercussão era evidente, e já há tratativas para uma segunda temporada em 2017. “Foram programas gravados no meu novo estúdio, onde a música é entremeada com conversas reveladoras e íntimas, numa concepção musical bem pessoal. Esse programa é, sem dúvida, uma página marcante na minha carreira”, avalia Leo, exaltando os encontros musicais que, desde pequeno, em casa, sempre marcaram sua vida, culminando numa fase particularmente produtiva: “Este é um momento emblemático e um ano muito especial para mim. Sem dúvida, tem muita coisa boa acontecendo.”
Foto:Cafi
A expressão família de músicos poucas vezes caiu tão bem quanto aqui. Filho de um maestro (Henrique Gandelman, diretor artístico da antiga gravadora CBS e advogado especialista em direitos autorais) e de uma pianista (Salomea Gandelman, educadora e fundadora da Escola de Música Pró-Arte, no Rio) e irmão de duas musicistas (a oboísta Lia e a pianista Marisa, ex-diretora-executiva da UBC), Leo Gandelman não poderia ter encontrado ambiente mais favorável para desenvolver seu talento. À vontade desde cedo para tentar um caminho diverso ao da maioria de músicos que militam no mercado sozinhos, não abraçou o pop, não compõe canções com letras e escolheu um instrumento – o saxofone – associado ao jazz ou à música erudita. Acertou em cheio. Em 30 anos de carreira solo – 37, se somado o período em que atuou como músico acompanhante de diversos artistas brasileiros –, este carioca acaba de completar seis décadas de vida com razões de sobra para celebrar.