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Lance-se! (Mas sabendo bem onde vai cair)

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Fique de olho

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INTERNET OU RÁDIO? PROGRAMA DE AUDITÓRIO OU DIVULGAÇÃO NA RUA? REDE SOCIAL OU GRAVADORA? ARTISTAS, EMPRESÁRIOS E PRODUTORES ENSINAM QUE A FÓRMULA PARA UMA BOA INSERÇÃO DA SUA OBRA SEGUE A VELHA LÓGICA: É TUDO JUNTO E MISTURADO

Por Michele Miranda, de São Paulo

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Já existem dezenas de programas capazes de gravar discos com excelente qualidade na sua própria casa, e outras dezenas de canais que permitem divulgação gratuita de música. Por conta dessa facilidade, milhares de novos artistas surgem e têm a possibilidade de registrar suas canções a cada ano. Mas como ser um em um milhão na hora de divulgar um trabalho e fazê-lo ganhar a atenção do público?

“Essa é a pergunta de um milhão de dólares, que todo mundo está tentando descobrir”, comenta o guitarrista Maurício Tagliari, produtor musical da gravadora independente YB Music, de São Paulo. “O primeiro disco lançado por nós que explodiu foi ‘Efêmera’ (2010), da Tulipa Ruiz. Ela soube trabalhar as redes, com vídeos e conversas com o público. Mas a divulgação que fizemos para ela talvez hoje não funcionasse, porque as mídias sociais são muito dinâmicas. Ideias que dão certo hoje podem ser um fracasso amanhã. E não dá para já nascer mundial. Metá Metá, Tulipa e Bixiga 70 estão hoje fazendo turnê na Europa, mas eles começaram no bairro, partiram para a cidade e conquistaram o estado, antes do país.”

Após mais de uma década desde o lançamento do oitavo disco, “Superstar” (2002), o Defalla voltou aos estúdios, gravou 14 faixas inéditas e reuniu tudo em um álbum batizado “Monstro” (2016). Com tudo pronto, o maior desafio da banda, nascida nos anos 80, não era nem a insegurança de agradar ao público com suas canções cheias de rock, hip hop, pop e funk, mas, sim, como alcançar os fãs que antes colecionavam seus vinis e cassetes e, ao mesmo tempo, conquistar outra parcela que ainda não era nem nascida quando “It's Fuckin’ Borin’ o Death” (1986) já tocava nas rádios.

“Vivi a época das grandes gravadoras, que tinham grana e bancavam tudo. Isso não existe mais”, analisa o vocalista Edu K. “O problema é que existe oferta demais por causa da internet, então estamos competindo de maneira muito mais feroz para ganhar atenção. Não existe mais a função do formador de opinião. Hoje quem forma a sua opinião é você mesmo. Então como chegar a essas pessoas? Para mim, ainda é um mistério. A gente depende de certas coisas que são obsoletas aos olhos da revolução digital, como aparecer na televisão. Mas já percebi certas coisas... Por exemplo: apesar de ter uma equipe, eu mesmo faço as interações nas redes sociais, em vez de terceirizar isso. É uma maneira de deixar sua marca.”

“Não dá para já nascer mundial. Metá Metá, Tulipa e Bixiga 70 estão hoje fazendo turnê na Europa, mas eles começaram no bairro, partiram para a cidade e conquistaram o estado, antes do país.”

Maurício Tagliari, produtor da YB Music

Quando participou da fundação do Aborto Elétrico e do Capital Inicial, bandas essenciais do BRock, Fê Lemos passeou pelos bastidores do ápice da indústria musical brasileira. Eis que o baterista decidiu lançar um projeto solo de rock mesclado à música eletrônica, que começou do zero, a banda Hotel Básico. Agora, ele tenta driblar os desafios de divulgar um novo projeto aliando novas tecnologias a mecanismos conservadores.

“Apesar de o mercado ter mudado muito nos últimos 30 anos, ainda acho que um artista se torna conhecido quando ele toca no rádio e aparece na TV aberta. Esses pilares da divulgação ainda valem e continuam sendo exclusividade de artistas que tenham gravadoras ou selos bem estruturados”, aposta o músico. “Por outro lado, hoje há algo que não existia nos anos 80, que é a internet. O mais difícil naquela época agora é o mais fácil: gravar um disco. Um artista independente produz um disco de qualidade em casa, com equipamento doméstico, e consegue se tornar conhecido usando as redes sociais, mas o alcance ainda é muito menor do que se você tem uma música na novela.”

Ainda segundo Lemos, “a revolução digital permitiu que artistas consigam materializar em discos e vídeos sua obra, algo que era muito difícil nos anos 80 e início dos 90.” Se o lado positivo é a facilidade, o negativo é desvendar a equação de como se tornar conhecido em meio a tantos lançamentos. Em vez de lamentar ou acomodar-se no estável sucesso do Capital Inicial, ele faz suas apostas e tentativas:

“Com o disco do Hotel Básico pronto, surgiu a mesma pergunta de anos atrás: o que fazer agora para divulgar? Eu sei a resposta. Preciso me juntar com pessoas que queiram trabalhar com exatamente o que eu tenho: um disco. Talvez a solução seja montar uma rede com pessoas que tenham diferentes conhecimentos e com o mesmo objetivo. Agora, como as pessoas vão ganhar dinheiro com isso? Essa é a grande pergunta, já que uma banda nova vai tocar praticamente de graça. Esse negócio ainda está sendo moldado”, analisa o baterista.

Essa interação proposta por Fê Lemos já é um modelo de negócio para alguns produtores independentes, que acumulam funções, com o objetivo de o negócio se tornar viável. É o caso da fundadora da agência Dobra, Julianna Sá, parceira de artistas como Alvaro Lancellotti, Brunno Monteiro, Fernando Temporão, Aíla, Qinho e Mohandas.

“Sempre brinco que sou agente, produtora, assessora de imprensa e carregadora de caixa”, diz a carioca. “Traduzir o artista para o mercado é um processo que exige proximidade, conhecimento e envolvimento. Esse acúmulo de funções é em parte imposição da escassez do mercado. Percebi que alguns artistas tinham um trabalho de imprensa muito forte, mas tocavam em casas já fora do circuito. Outros, com público, circulavam bem, mas não eram absorvidos pela imprensa. Outros ainda tinham um trabalho de imagem totalmente desencontrado do trabalho musical, não conseguiam comunicar.”

Fazer parte de Facebook, Instagram, YouTube, Twitter é muito importante, e ninguém contraria essa verdade. Mas não é a única saída. No disco de estreia de Brunno Monteiro, a equipe de Julianna criou anúncios que diziam "disco grátis aqui", com papel destacável, tal qual aqueles de aluguel ou de aula particular pregados em postes espalhados pelas cidades. A proposta, simples e diferente, rendeu retorno no site do cantor.

“Estar na internet é essencial, mas estar fora dela de forma criativa, também”, pondera Julianna, aproveitando para analisar o papel de mídias tradicionais no atual mercado. “O jornal é uma forma de avalizar um trabalho, mas não de divulgá-lo. Como é meu segmento, foco em rádios independentes, públicas, de nicho. Isso ajuda a viabilizar uma circulação maior, mesmo que em proporções inferiores às rádios comerciais, que não tocam esse tipo de artista. Quem está à frente desses programas costuma estar presente de outras formas na cadeia como um todo. Em relação ao streaming, apesar de o retorno financeiro não vingar, é importante para o álbum ter lastro.”

“Não existe mais a função do formador de opinião. Hoje quem forma a sua opinião é você mesmo.”

Edu K, cantor

O nascimento de novas plataformas, como Spotify, Deezer, Napster e Apple Music, pode ter mudado a maneira como o fã de música descobre seus novos tesouros, mas está longe de eliminar o velho mundo audiovisual. O rádio ainda tem extrema relevância na hora de um artista divulgar seu trabalho, segundo João Carlos Filho, diretor artístico da Rádio Mania.

“O rádio continua sendo a melhor maneira de popularizar uma música no Brasil. O rádio continua tentando cumprir seu papel de perceber os movimentos musicais do mercado. As opções para ouvir música aumentaram, mas a audiência do rádio não sofreu perdas proporcionais”, explica Filho. “O tempo médio de permanência do ouvinte diminuiu, é verdade, mas o veículo ainda atinge números expressivos. A internet é mais um campo para o radialista, e o perfil de vanguarda se encaixa perfeitamente nesse segmento.”

Os shows de calouro sempre existiram, mas as superproduções internacionais (que, em alguns casos, ganharam releitura brasileira), como “The Voice” e “The X Factor”, revelam talentos a cada edição. Tanto é que a participação nos programas virou uma espécie de eldorado para alguns artistas que sonham ter seus trabalhos divulgados na televisão.

“A maneira como (esses programas) se encaixam no novo modelo é simples: é um grande portal, que permite que um número gigante de pessoas possam ouvir o trabalho do artista. Por trás do programa existe uma equipe trabalhando para descobrir talentos”, explica Torcuato Mariano, produtor musical de “The Voice” e “Superstar”. “O mercado se transformou radicalmente. Hoje a concorrência é grande, e a música virou um mercado de apostas. Se fizermos uma estatística, qual é a proporção de acertos para a de tentativas? Acho que um em um milhão. É preciso ter criatividade, talento, inspiração, saber se reinventar a cada canção, produção, arranjo”, enumera Mariano, que reconhece ser para poucos ter a sorte de começar a carreira num programa de horário nobre da TV. Existem, ele diz, outros meios para se fazer notar: “Temos que alimentar o mercado com criatividade. Nos últimos tempos percebi muitos trabalhos sendo desenvolvidos num circuito pequeno. A partir do crescimento dessa região os artistas vão se expandindo. O produto físico ficou em último plano, ao ponto de às vezes serem dados ao seu público como presente nos shows. Acredito que o show nunca foi tão decisivo na carreira de um artista quanto nos dias de hoje.”

STREAMING: USE COM CUIDADO

Enquanto a maioria dos artistas, empresários e produtores quer estar no maior número de segmentos on-line e off-line, existem aqueles que optam por convergir sua estratégia em um só foco. A sangrenta batalha entre o Spotify, considerado hoje o maior serviço de streaming do mundo, e a Apple, que vem tentando abocanhar essa posição, produz capítulos cada vez mais polêmicos. Depois de Drake e Chance de Rapper, chegou a vez de Frank Ocean ser o protagonista.

As duas empresas têm uma disputa muito objetiva sobre a política de exclusividade dos lançamentos de novos discos de artistas badalados, o que tem promovido um leilão musical. Sorte dos artistas, que recebem milhões para escolher qual ferramenta terá o direito de tocar seu álbum pela primeira vez. Mas será que é sorte mesmo? No caso de “Blonde”, segundo trabalho de Ocean, o resultado foi uma maciça pirataria, já que ainda tem muita gente resistente ao serviço de streaming da empresa da maçã.

“Se viessem com uma proposta incrível e com muita grana, como foi o caso do Frank Ocean, claro que eu aceitaria. A pirataria vai existir em qualquer estratégia de lançamento”, afirma Edu K. “Mas a música perdeu seu valor ritualístico. Depois da revolução do Napster, o mundo mudou realmente. Como músico, isso é horrível e é maravilhoso, pois não existe mais o ritual do álbum. Mas, ao mesmo tempo, é isso o que as pessoas querem.”

Desde a crise da indústria fonográfica, a possibilidade de fazer uma pequena fortuna com um disco se tornou cada vez mais rara. Ter essa chance num modelo de negócio patrocinado por gigantes como Spotify e Apple, em pleno 2016, desperta o interesse, mas pode ser um tiro no pé. É o que Maurício Tagliari pondera:

“Acho que exclusividade é uma furada. Se você vai só para um modelo, fecha seu círculo. Por uma questão empresarial, esses acordos de exclusividade pagam um caminhão de dinheiro ao artista”, explica o guitarrista e produtor musical. “O U2 fez um lançamento ousado em parceria com o iTunes para que todos os usuários recebessem obrigatoriamente o disco novo, recebeu muita grana, mas irritou muita gente. Como é uma banda consolidada, os fãs não deixaram de consumir o álbum por causa disso. Mas acho um erro, especialmente para os novos artistas.”

“Estar na internet é essencial, mas estar fora dela de forma criativa, também. Foco em rádios independentes, públicas, de nicho. Isso ajuda a viabilizar uma circulação maior.”

Julianna Sá, fundadora da Agência Dobra

Embora os números das plataformas de streaming só cresçam e os de venda de discos venham caindo, o debate sobre abolir as bolachas de CD ainda vai longe. Maurício Tagliari apoia a gravação por conta de algumas formalidades do mercado:

“O disco físico existe para situações específicas; há críticos que só ouvem o CD, e festivais que só aceitam material físico. Acho que ainda é necessário, mas os artistas já não querem lançar álbuns, só querem lançar single. O meio muda o consumidor, e o consumidor muda o artista.”

E, do lado de lá do palco, os artistas concordam. “O Defalla não vai mais lançar álbum, só singles. Mas nem sei onde, como, se vai dar dinheiro. Vamos fazer de uma forma totalmente caótica. O computador mudou tudo, e o celular mudou tudo de novo”, descreve Edu K. “Mas nada substitui o contato cara a cara com o público. O show é imbatível. O artista tem que ficar na cabeça da pessoa como um promotor de bons momentos.”

CHECKLIST PARA O SUCESSO

Transborde para além da internet; vá ao off-line de maneira impactante e criativa, usando, por que não?, até mesmo meios antiquíssimos, como cartazes em postes

✓ Cruze todas as mídias: rádio, TV, feiras populares, jornais, internet

✓ Mantenha-se autêntico. Acredite: num mar de falta de originalidade, você atrairá atenções

✓ Esteja SEMPRE na rua (show! Show!), seduzindo o público com sua música

✓ Agarre-se a todas as oportunidades para mostrar seu talento. Um programa de revelação de talentos da TV pode não se adequar a sua visão de artista independente, mas dá um baita retorno

✓ Esteja em todos os lugares que puder. Assim, quando seu momento chegar, você estará mais do que pronto para seguir

✓ Construa uma rede social (da vida real) com gente interessada nos mesmos objetivos. Não acumule só amigos no Facebook, acumule no mercado. Eventualmente, um ou muitos deles lhe estenderão a mão

✓ Crie ações de internet sincronizadas com a agenda de show. Não há como fugir da regra: o público está na rede e espera ver você lá

✓ Um bom empresário é a outra cara-metade de um projeto musical bem sucedido. Mesmo que você seja independente, a experiência e a visão alheias são bons ases

✓ Evite terceirizar as interações nas redes sociais. Aproximese do seu público, deixe sua marca

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