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Zeca e Beth\u00E2nia
Em turnê pela primeira vez juntos, eles falam sobre o que os aproxima: samba, teatro e as similaridades de suas terras natais
por_ Kamille Viola ∎ do_ Rio ∎ fotos_ Daryan Dornelles
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Viver isolado do mundo, para Zeca Pagodinho, é coisa do passado. Numa estrada dessa vida, o malandro, quem diria?, encontrou a dama que agora é sua companhia constante: Maria Bethânia, ao lado de quem está em turnê com o show “De Santo Amaro a Xerém”, que passou por Recife, Salvador e Rio de Janeiro e ainda segue por Belo Horizonte (5/5), São Paulo (19/5) e Brasília (30/5).
O nome escolhido para o espetáculo faz referência à cidade baiana onde a cantora nasceu e ao distrito no Estado do Rio (em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense) que abriga o sítio do sambista, seu refúgio. “Eu acho muito alegres, muito vivos, tanto Xerém quanto Santo Amaro, com suas dificuldades e muita pobreza, mas também com uma alegria sem fim. Pelo menos na minha terra tem isso, e acho que na dele também. É uma festa, todo dia em festa”, compara Bethânia.
Os dois já tinham cantado juntos na gravação do CD/DVD “O Quintal do Pagodinho”, em 2016, quando a cantora foi ao sítio de Zeca, em Xerém. Para Bethânia, ela e o sambista têm muito em comum. “Tem a relação de samba, que é a roda de Santo Amaro com o samba do Rio de Janeiro, com a ligação das senhoras, as Ciatas todas, tem a Portela dele, a minha Mangueira, que é outro elo muito bonito: Santo Amaro, Xerém, Portela, Mangueira.
O samba que une, a admiração mútua, cada um na sua linha. Acho que isso é motivo para se encontrar”, acredita.
“Um outro grande elo que tem entre Zeca e eu, pelo menos para mim, além da admiração pelo cantor, pelo compositor, pelo estilo e pela maneira de ser, por tudo, tem uma coisa em que ele prestou atenção nos anos 70, ao movimento meu de levar música para a sala de teatro. Ele conhece ‘Drama’, conhece ‘Rosa dos Ventos’, eu e Chico, ele conhece tudo, sabe textos... Isso é um elo difícil de encontrar entre pessoas que tenham tão diferentes escolhas na carreira. Então, isso é muito bonito, muito rico”, explica Bethânia.
O sambista de Xerém também tem versão teatral, imortalizada no espetáculo “Zeca Pagodinho – Uma História de Amor ao Samba”, que vem rodando o país com muito sucesso e narra, em dois atos, a saga do herói suburbano que venceu no mundo da música sem nunca perder seu jeito simples de homem do povo. Agora, a vida de Zeca vai virar longametragem, previsto para o ano que vem, e baseado no livro “Zeca Pagodinho: Deixa o Samba Me Levar”, dos jornalistas Jane Barboza e Leonardo Bruno.
O sambista derrete-se pela agora companheira de palco. “Tudo ela interpreta bem, eu não sei, ela é coisa divina que a gente fica olhando e se perde... Ouço desde que era novinho, lá em casa todo mundo sempre ouviu, todo mundo é fã dela. Eu jamais imaginei que iria conhecê-la, que dirá cantar com ela”, revela.
Zeca Pagodinho
Zeca conta que, quando surgiu a ideia de fazerem a turnê juntos, ele logo topou, mas em seguida sentiu o peso da responsabilidade. “Eu disse: ‘Vamos, ótimo!’. Depois, caí na real, disse ‘meu Deus, e agora?’, porque é a diva,né? Caramba, o que vai acontecer? Mas ela é tão tranquila, está me botando tão tranquilo, porque eu estava com medo, e agora estou gostando da coisa, está tudo muito fácil”, ele garante. “Não éramos muito próximos, mas, com os ensaios, passamos a ter contato todo dia. Estou tendo o prazer de conhecê-la melhor”, diz.
Maria Bethânia
Eles são acompanhados por uma banda formada por Paulão Sete Cordas (violão), Jaime Alem (que foi diretor musical da cantora por 22 anos e, agora, voltou a trabalhar com ela, no violão), Romulo Gomes (baixo), Marcelo Costa (percussão), Jaguara (percussão), Esguleba (percussão), Paulo Galeto (cavaquinho) e Vitor Motta (sax e flauta).
O show tem músicas que ficaram famosas na voz de um e de outro, além de algumas compostas especialmente para a turnê, como “Amaro Xerém” (Caetano Veloso), “Pertinho de Salvador” (Leandro Fregonesi) e “A Surdo 1” (Adriana Calcanhotto). Zeca e Bethânia cantam juntos em pelo menos duas músicas: “Sonho Meu” (Dona Ivone Lara e Delcio Carvalho, sucesso na voz de Bethânia) e “Deixa a Vida Me Levar” (Serginho Meriti e Eri do Cais, sucesso na voz de Zeca). “Você Não Entende Nada” (Caetano Veloso), “Cotidiano” (Chico Buarque) e “A Voz do Morro” (Zé Keti) são outras no repertório do espetáculo.
Além da alegria de estar em turnê com Bethânia, Zeca tem motivos de sobra para comemorar: em 2019, o sambista completa 60 anos idade. “Minha festa de 50 anos durou tanto que quase chegou aos 60. O aniversário de 60, então, se Deus quiser, vai pelo mesmo caminho”, brinca ele.