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Marina Lima

Radicada em São Paulo, a carioca lança novo álbum, em que se reencontra com as sonoridades e as instabilidades do Brasil e reconfigura sua parceria histórica com o irmão Antonio Cicero

por_ Gilberto Porcidonio ∎ do_ Rio ∎ fotos_ Rogerio Cavalcanti

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Com mais de 35 anos de carreira e 21 discos, Marina Lima retorna ao palcos, à web e às rádios com o álbum “Novas Famílias”. Lançado em março, o trabalho permeia as sonoridades do Brasil em meio a um momento em que o próprio país tenta se mover - dançando ou não - entre turbulências sociais e políticas. À Revista, a cantora e compositora carioca radicada há sete anos em São Paulo conta como foi conceber esse novo trabalho e reconfigurar sua relação com o irmão Antonio Cicero, diretor da UBC e imortal da Academia Brasileira de Letras.

Quem são essas “novas famílias”?

Nossa, são tantas pessoas diferentes que eu venho conhecendo Brasil afora… Amigos novos, músicos novos, pessoas de longe também... Porque a internet permite fazer amigos virtuais que acabam sendo importantes na musicalidade, nos ritmos novos. E também tem a de sangue, que já foi quase toda, mas que tem meu irmão Antonio Cicero, que ainda resta, além de alguns grandes amigos que são para sempre.

Essa sua retomada com o seu irmão imortal, como se deu?

Foi bacana. O Cicero agora mora no Rio, e eu em São Paulo, daí tiramos uma semana para a gente se encontrar, conversar e eu mostrar as canções que tinha interesse em compor com ele, que eu já tinha meio que começado. A gente ficou essa semana no Rio, na casa dele, retomando a parceria, conversando, compondo… Foi ótimo. Eu adoro compor com o meu irmão.

E como foi o seu processo de composição para o novo álbum?

Foi devagar, fui vendo que eu tinha um disco aos poucos e observando as coisas que me interessavam no Brasil musicalmente. Então, foi uma junção de vários ritmos brasileiros que me interessam, como funk, samba e tecnobrega, tudo misturado com o meu estilo.

Tenho uma alegria enorme de fazer parte do cancioneiro brasileiro.”

Marina ao lado irmão Antonio Cicero durante a posse dele na Academia Brasileira de Letras, no último dia 16 de março. Diretor da UBC, agora imortal, é um dos principais letristas das canções da compositora e cantora, que comemora a retomada da parceria: “Eu adoro compor com meu irmão”

Sente que os coxinhas se irritaram mais por “Só os Coxinhas” (canção do álbum) falar deles ou por ser um funk?

Alguns coxinhas se irritaram, mas sabe o que acontece? Essa música nem é uma agressão, é um deboche, uma curtição, e ser coxinha não é um privilégio de direita, não: tem gente chata e careta em qualquer lugar. Agora, a quem vestiu a carapuça eu não posso fazer nada (risos).

Sente que as música brasileira endureceu mais o seu discurso estes anos?

Não sei se eu sinto isso. Eu acho que quem endureceu mais foi essa minoria (de políticos) que caiu matando em cima do povo. Menos dinheiro, menos escolas, menos planos de saúde, o país todo meio abandonado, o (presidente Michel) Temer querendo se candidatar... Em que país ele vive? Ele sabe que todo mundo o odeia? Foram esses políticos que endureceram.

Como tem encarado essa sonoridade típica do pop radiofônico, que você tanto consagrou, retornando aos poucos aos palcos?

Muito bem. Muita gente tem história com a minha música, faz parte do inconsciente coletivo. Então tem muita coisa para tocar. Eu escolhi seis das nove canções do disco novo para os palcos. Tenho uma alegria enorme de fazer parte do cancioneiro brasileiro.

Existe amor em SP?

Existe. São Paulo, a cidade, é muita dura. Ela é de concreto, é fria, seca, úmida, tudo meio de ruim, mas as pessoas daqui, paulistas e adjacentes, são de uma generosidade com quem chega que é o que torna essa cidade bacana. São as pessoas.

E no Rio atual?

O Rio está muito castigado, né? Mas é também a cidade de todos os brasileiros. É um orgulho do Brasil, a porta de entrada. É a hora de a gente se unir também para ajudar o Rio a sair desse lugar em que ele entrou. O Brasil inteiro tem que ajudar nesse processo porque ele merece.

Para você, o pop brasileiro ficou mais pobre ou foi o pobre brasileiro que ficou mais pop?

Acho que o Brasil ficou mais pobre. Temos muita ginga, suingue, talento. E merecemos ser um grande pais. Eu estou torcendo e lutando por isso, junto de milhares de pessoas boas da música e de várias áreas. Também conto com vocês, da UBC, para isso.

O Brasil ficou mais pobre. Merecemos ser um grande país.”

Leia Mais! Antonio Cicero, irmão de Marina, toma posse na ABL.

ubc.vc/CiceroABL

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