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Rio2C
Um resumo da maior conferência sobre música, audiovisual e inovação da América Latina, que reuniu 8 mil pessoas e já tem segunda edição confirmada
por_ Roberto de Oliveira ∎ do_ Rio
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A Cidade das Artes, na Zona Oeste do Rio, nunca tinha vivido um momento tão grandioso. A construção imponente abriu os portões, de 3 a 8 de abril, para três setores da economia criativa que, juntos, somam muitas cifras — algo como US$ 1 trilhão no mundo todo, mais especificamente, segundo o Fórum Econômico Mundial. Um número impressionante que gerou outro: foram oito mil os profissionais dessas áreas que passaram pela superconferência Rio2C, herdeira direta do RioContentMarket.
Entre eles, empresários da música, produtores de audiovisual, desenvolvedores de videogames e projetos inovadores em tecnologia, além de criadores, jornalistas e especialistas em geral colocaram os assuntos desses setores em dia. Amy Gravitt, vice-presidente da HBO e responsável pelas comédias da empresa; Chance Glasco, cofundador do estúdio que criou a franquia de games “Call of Duty”; e o lendário engenheiro de som inglês Geoff Emerick, só para ficar em três exemplos, deram palestras.
MAIS HIP HOP
Bob Lefsetz, um dos mais influentes críticos de música dos Estados Unidos, fez uma análise do mercado fonográfico e, por diversas vezes, usou a indústria do hip hop como exemplo do que vem dando certo por lá. “Eles criaram uma comunidade, e, com a facilidade em distribuir música por causa da internet, as músicas mais ouvidas em streaming são rap”, lembrou. Para o crítico, a grande virada do mercado começou quando a MTV passou a exibir os clipes de Michael Jackson nos anos 1980, o que prejudicou as bandas de rock na sua opinião.
Bob relativizou o papel das grandes premiações no impulso da criatividade na música. “As melhores músicas não ganham os maiores prêmios. Quem ganha é que não precisa, porque já está rico”, afirmou.
Foram quatro dias específicos para elas, além de oficinas, rodadas de negócios, pitchings (sessões de venda de projetos) e encontros de negócios. As duas últimas jornadas foram abertas ao público e tiveram shows de artistas como Emicida e Francisco El Hombre.
Sérgio Sá Leitão, ministro da cultura, participou do painel “Cultura Gera Futuro” e declarou que a sua pasta deve aumentar o investimento no mercado de games, que, segundo ele, já arrecada bem mais do que o audiovisual e a música. “O Brasil é o quarto maior consumidor de games do mundo. Precisamos criar políticas públicas efetivas para esse setor”, afirmou Sá Leitão, que pretende investir R$ 100 milhões na área, visando também à empregabilidade de jovens de 18 a 25 anos.
CRÉDITOS RETIDOS
Houve muitos painéis sobre o mundo da música, e a possibilidade de emplacar uma obra num produto audiovisual, tema quente neste momento, foi debatida, entre outros, por Glória Braga, superintendente executiva do Ecad. Ela falou sobre o crescimento do setor no mundo inteiro, mas destacou o Brasil como grande expoente. No ano passado, o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição bateu recorde de distribuição, e metade disso foi para as músicas que fazem parte de filmes, séries ou novelas. A Netflix, por exemplo, é uma das fontes que mais pagam pelos direitos de uso da música.
Glória também falou do persistente problema dos créditos retidos no Ecad, devidos à falta de documentação. Ela deu dados úteis para tentar evitar o problema. O tom de utilidade para músicos e compositores também marcou a oficina da UBC, em que se ofereceram dicas para compositores que querem aproveitar a expansão dos setores que usam música e tentar emplacar suas canções.
A próxima Rio2C já tem data marcada: de 23 a 28 de abril de 2019.
DESTAQUE PARA O DIREITO AUTORAL
Marcelo Castello Branco, diretor executivo da UBC, participou de painéis mediando os debates ou colocando sua experiência de anos de atuação na indústria do entretenimento à disposição dos ouvintes. Ele destacou o novo papel do artista musical, que precisa buscar informação para ser beneficiado com as arrecadações de direitos autorais: “Estamos vivendo um momento de autogestão, o músico precisa entender que o trabalho dele tem um impacto econômico que pode beneficiá-lo por toda a vida, inclusive aos seus herdeiros.”