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Baiana System
Trabalho sólido de pesquisa de sons e manifestações culturais ancestraisajuda a explicar o sucesso da banda soteropolitana que conquistou fãs no Brasil inteiro e já prepara seu terceiro álbum
por_ Alessandro Soler ∎ do_ Rio
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Multiplicar exponencialmente os usos da guitarra baiana. Ajudar a reciclar o carnaval de Salvador, banindo os caríssimos abadás e celebrando a democrática pipoca em seus desfiles. Emplacar música em videogame bombado (“Fifa 2016”) e dar a volta ao mundo por isso. E, não menos importante, fazer jus à musicalidade sem limites da Bahia, promovendo um resgate de sons, sentimentos e manifestações ancestrais no afã de renová-los. Em pouco menos de dez anos, o BaianaSystem fez tudo isso, e é coisa à beça. Sem concessões ao mainstream, mas com uma base firme de fãs que se espalha pelo país, eles não param de crescer.
“A gente tem tentado proteger a música, proteger a conexão dela com a comunidade, que foi o que se perdeu (durante a fase de ultraexploração do axé)”, diz o vocalista Russo Passapusso. “(Com o axé), o mercado mergulhou no samba-reggae, uma música tradicional que nasceu no seio da comunidade, e o foi sintetizando, simplificando-o de tal forma que a coisa perdeu a cara, perdeu assunto. O público percebeu que ficou vazio.”
O que o Baiana propõe, portanto, é o oposto disso. “É não usar ganchos fáceis que falem de sexo, de violência, de temas de apelo midiático. É não projetar imagem fantasiosa sobre nós, procurando, em vez disso, refletir o meio em que vivemos, nossas dúvidas, nossa realidade”, segue Passapusso.
Tal preocupação se traduz em letras e imagens que falam de abismo social, da dificuldade de conviver nas cidades, da exaltação da negritude e da ancestralidade africana. E em sons que, calcados na guitarra baiana, vão de reggae a ijexá, de kuduro a cumbia, de pagode baiano a frevo e arrocha, tudo com tempero eletrônico.
Como explica o guitarrista Beto Barreto, o próprio nome do grupo reflete as misturas. “Baiana é a guitarra baiana, system é uma homenagem aos sound systems. Temos tido uma pegada progressivamente rock, dando riffs mais pesados à guitarra baiana, incorporando a guitarra elétrica”, descreve um dos artífices da renovação democrática do carnaval de Salvador. “Temos pesquisado as cordas da Bahia, o canto, a percussão. Vamos ver no que vai dar”, conta, referindo-se ao terceiro disco da banda, em gravação em Salvador.
A distribuição de caranaval se dará agora no mês de maio. Os números ainda não estão finalizados, mas, com a inadimplência de várias prefeituras, certamente estarão abaixo do que deveriam. Como a UBC revelou em fevereiro, somente seis prefeituras - Salvador, Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife, Belém e Brasília - devem mais de R$ 60 milhões em direitos autorais de execução pública em eventos de rua, incluindo o carnaval.
“O Baiana nasceu de imagens”, define Russo Passapusso. “Tudo o que produzimos tem uma conceituação visual e sensorial, uma cara, um diálogo com todos os sentidos.” A máscara presente no clipe de “Playsom” (do disco “Duas Cidades”), por exemplo, é usada pelos fãs nos shows. Todo o material relacionado com a banda tem enorme cuidado visual. “Pensamos tudo junto, acho que como qualquer artista do nosso tempo. A arte vai tomando esse caminho de conceituação, que faz do público não um mero apreciador, mas um participante.”