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Cear\u00E1 Acelerado

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Marina Lima

Marina Lima

Instituto Dragão do Mar lança projeto para revelar novos talentos, gravá-los com qualidade profissional, distribuí-los digitalmente e oferecer acompanhamento em todas as etapas; próxima edição pode abarcar outros estados

de_ Fortaleza

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Líder jangadeiro, ferrenho abolicionista e herói nacional, Francisco José do Nascimento, conhecido como Dragão do Mar, contribuiu para fazer do Ceará a então província pioneira do Império em abolir a escravidão, em 1884. Duas viradas de século depois, uma das principais instituições culturais cearenses, que leva seu nome, dá seu quinhão para abolir a era da produção concentrada no surrado eixo Rio-São Paulo, ajudando a fomentar a criação local.

A iniciativa levada a cabo com essa intenção pelo Instituto Dragão do Mar, administrador do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, na mítica Praia de Iracema, é o Porto Dragão Sessions. Trata-se de uma aceleradora de projetos artísticos musicais, cuja primeira turma vai de vento em popa. A ideia é oferecer um pacote completo a novos nomes da música: produção, gravação, distribuição em canais digitais, turnê. Senhor empurrão que todo artista sonha em ganhar.

O Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, inaugurado em 1999, é um dos maiores do Brasil. Em seus 30 mil metros quadrados, abriga museus, teatros, cinemas, auditórios, salas de exposições e um parque. O projeto, que une uma estrutura contemporânea a um conjunto de casarões coloniais e, antes, abandonados da Praia de Iracema, foi obra de Fausto Nilo, compositor, arquiteto e associado à UBC, e de Delberg Ponce de Leon. “Creio que o desafio programático original do Dragão, que incluiu a interatividade entre o público e a edificação, são a inclusão social com base diversificada, a inovação e, acima de tudo, manifestar o descomplexo com respeito à nordestinidade redutora e demagógica”, diz Fausto. “Daí ser (o projeto) mais um passo para apoiar oportunidades de inserção contemporânea dos novos talentos do Ceará. Estão de parabéns.”

Entre 133 inscritos, os curadores Fabiana Batistela, Arthur Fitzgibbon, Alexandre Matias, Pena Schmidt, Roberta Martinelli e Daniel Ganjaman escolheram 15 vencedores, anunciados no início de fevereiro. Casa de Velho, Daniel Groove, Erivan Produtos do Morro, Ilya, LPO, Oto Gris, Procurando Kalu, Projeto Rivera, Selvagens à Procura de Lei, Soledad, Astronauta Marinho, Danchá, Jonnata Doll e Os Garotos Solventes, Lorena Nunes e Maquinas foram as bandas/artistas/ projetos que ganharam o direito de gravar, com qualidade e produção profissionais, dois singles cada. Também vão aparecer num programa de TV e gravarão videoclipes.

“A gente já diagnosticou a transformação na indústria fonográfica por causa das mudanças tecnológicas. O processo de visibilidade se dá através da web, do Spotify, do YouTube... Por isso, além das gravações do disco e dos programas, ainda vamos colocar as músicas dos vencedores nas plataformas digitais”, conta Paulo Linhares, presidente do Instituto Dragão do Mar. “Fizemos também parcerias com o Sesc e o Itaú Cultural para levar a São Paulo a Temporada Dragão do Mar de Música Cearense, que combinará os vencedores do Porto Dragão Sessions com nomes consagrados da música daqui, como Catatau (Cidadão Instigado) e o rapper Don L.”

Um dos premiados, o rapper Erivan Produtos do Morro celebra a visibilidade que está ganhando. “Para qualquer artista, essa é uma oportunidade massa. Moro na favela, no Morro do Castelo Encantado. Não tenho condições de gravar clipe e música com essa qualidade, produzidos por gente do quilate de Ganjaman (produtor, entre outros, do rapper Criolo) ou do Yuri Kalil (Cidadão Instigado). Além de tudo, tive sorte por ser um rapper, alguém que faz uma música fora do foco normal aqui no meu estado e que vai ganhar projeção, podendo até abrir caminho para a rapaziada e estimulála a participar de iniciativas assim.”

Estimulado pelo projeto, Erivan está abrindo um selo próprio, o Produtos do Morro Rec, com nobre missão: ajudar companheiros da cena rap local a se profissionalizar. “Queremos levar essa música inventiva, criativa, que se faz aqui às plataformas digitais e cadastrá-la para receber direitos autorais. A UBC tem um papel fundamental nisso. Eu era associado a outra, que só me dava dor de cabeça; dinheiro, não. Mudou completamente ao mudar para a UBC, não só pela atenção e o profissionalismo, mas pela vontade de informar, de orientar. Agora, eu mesmo estou replicando isso aqui”, ele diz.

A banda Projeto Rivera, outra que vai fazendo seu nome no Ceará, com shows para até 8 mil pessoas, igualmente comemora a chance de ter acesso a uma estrutura profissional e um acompanhamento completo da produção. “O Dragão do Mar já vem se destacando no cenário nacional com o festival Maloca, que é gigantesco. Agora, essa aceleradora que junta rock, pop, marimba, rap e muitos outros estilos é um passo além. Não conheço outra iniciativa dessa natureza no Brasil. Precisamos de muitas mais”, afirma o guitarrista Flávio Nascimento.

Se depender do próprio Dragão do Mar, o desejo de Flávio será atendido. “Sempre trabalhamos com a visão de abrir para outros estados, pretendemos isso. Temos uma missão de liderar um processo de deslocamento de eixo e de mentalidade”, antecipa Paulo Linhares.

Márcia Xavier, gerente da filial da UBC em Recife, que atende aos associados cearenses, celebra essa possibilidade: “O projeto é sólido, bem estruturado, promissor. Que ajude a movimentar a cena cearense e nordestina como um todo, espalhando uma nova lógica de produção.”

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