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'Sou um nômade, nasci vagando e morrerei vagando'

Edu K transita entre estilos sem parar. Gaúcho, abraçou o funk carioca (“é o nosso hip hop!”), agora flerta com o trap e se prepara para a volta do Defalla, um caldeirão de culturas em forma de banda

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Por Alessandro Soler, do Rio

Irreverente, debochado, vanguardista, multirreferenciado. Edu K, um dos cabeças do Defalla, vive uma vida dupla. Em carreira solo desde que uma das mais famosas bandas do pós-punk brasileiro deu um tempo, há dez anos, ele lançou recentemente o EP “Boy Lixo”, em que revela sua nova paixão: o trap. Mas não tira da cabeça o rock, o funk, o miami bass, o hip hop e um montão de outras sonoridades eletrônicas que cultivou ao longo dos quase 20 anos consecutivos de atividades do Defalla. Esse pacotão sonoro volta com tudo no mês que vem, quando o adiado e mui aguardado disco inédito do grupo surgido em Porto Alegre, em 1986, chega ao mercado. Para falar sobre isso e sobre o que anda passando por sua mente fervilhante, Edu trocou dois dedos de prosa com a Revista UBC.

O disco de retorno do Defalla e o documentário sobre a banda eram prometidos para o ano passado. Ficaram para este. O que os fãs ganham com isso?

O lançamento do “Monstro”, nosso novo disco com a formação original, depois de vinte e cinco anos, ficou para março, e imagino que o doc saia mais ou menos nessa mesma época. O Defalla tem que enfrentar alguns desafios de logística para realizar as coisas, já que cada um mora em uma cidade diferente, e todos têm seus projetos e trampos paralelos, por isso a demora toda: estamos, praticamente, neste processo de disco novo e doc há quase 3 anos! O doc é massa, pois mostra nosso primeiro show (e ensaios, papos e palhaçadas mil, bem ao estilo Defalla, haha) juntos depois de muitos anos: a banda nunca acabou, mas a formação original se separou em 1989! Foi como se a gente tivesse tocado junto uma semana antes, não vinte e tantos anos. O Defalla tem uma química e uma sinergia loucas, sui-generis! É aquele tipo de coisa que só acontece de vez em quando no mundo da música! A galera vai se divertir horrores com esse registro. E o disco está incrível também. É uma espécie de continuação dos dois primeiros discos do Defalla, uma continuação que não rolou na época, já que em 1989 lançamos o despirocado “Screw You”, que era um disco de hard rock ao vivo, e a Biba saiu da banda, dando inicio a uma espiral de loucura que resultou no megahit “Popozuda Rock N' Roll”, de 2000, que lancei como Defalla, mas na banda já não tinha ninguém da formação original. O disco novo é um prato cheio e fumegante para os fãs, mas, ao mesmo tempo, um cartão de visitas perfeito para os novos que virão. O Defalla, como sempre, continua relevante e moderno, pop e doidão: enfim, ainda uma das maiores bandas do nosso famigerado país!

O funk ainda faz tanto assim a sua cabeça?

Adoro funk e sempre vou ser apaixonado pelo estilo: é o nosso hip hop, nossa música eletrônica mais original e moderna! Acompanho de perto as evoluções do funk e estou curtindo muito esse novo momento pós-palminha (batida que substituiu o tamborzão e o tamborzinho): está rolando uma coisa muito minimal, de pirar o cabeção! A cena de São Paulo é incrível e injetou muita energia nova no funk! As produções têm uma cara diferente das do Rio, e isso só enriquece. E a galera de SP incorpora mais elementos do hip hop, o que me agrada horrores também.

Por que ainda vale a pena ouvir música brasileira?

O brasileiro é o poster boy da era da informação livre, das redes sociais, da conexão através da web, das misturas e da antropofagia. Nós somos, e sempre fomos, o povo do futuro. A miscigenação está na raiz desta nação, e a música ganha com isso. Se nada se cria, (de) tudo se apropria, haha, somos vanguarda! O brasileiro tem um jeito peculiar e único de interpretar a informação, e isso se cristaliza de forma exuberante na nossa música!

Você continua em Santa Catarina? Voltou para o Rio Grande? O que vagar nesse eixo acrescentou às suas sonoridades e escolhas estéticas?

Eu sou um nômade, nasci vagando e morrerei vagando! Tudo me inspira. Estou sempre imerso nos meus arredores, absorvendo os elementos que se condensam na minha música, no meu estilo, nas minhas inspirações musicais e estéticas. Atualmente transito entre Porto Alegre, Florianópolis e São Paulo: não consigo ficar parado por muito tempo no mesmo lugar, preciso desse movimento perpétuo, senão enlouqueço, e a convivência com as diversas tribos que habitam tais paradouros grita na minha música, em especial nas minhas letras. Estão todos lá, de uma forma ou outra, muitas vezes até explicitamente. Minha vida é exatamente como minha música, não existe uma separação entre o civil e o artista, haha! Estou sempre mutando e arrastando as tranças, como dizia minha avó, pelo mundo.

Você(s) claramente se amarra(m) em sons que poderiam estar sob o guarda-chuva do que se chama global ghettotech, o som eletrônico das periferias. Depois do tecnobrega, qual estilo o atrai, deslumbra e estimula?

Eu sou um arqueólogo, pesquiso de tudo, sou uma cria da era da internet. Estou sempre ligado em tudo o que rola, é como um radar, uma antena, uma obsessão louca! Atualmente o que está me pirando é o trap: acabei de lançar um EP, o “Boy Lixo”, pela Deck Disc, que é a minha versão do estilo, como sempre fiz com outras tendências e estilos, e tenho feito DJ sets misturando trap com coisas novas do hip hop, que também anda fazendo a minha cabeça em grau mil.

O que acha do arrocha?

Acho massa, assim como curto rasteirinha e outras reciclagens modernas da nossa música popular, especialmente do Nordeste, que produz as coisas mais modernas da nossa MPB. Bom, que novidade, né? Sempre foi assim!

Dois mil e catorze foi...

BARRA .

Dois mil e quinze será...

2014 (que não aconteceu).

Mistérios da guitarra e do violão, desvendados

Violonistas e guitarristas autodidatas de antigamente tinham revistas e brochuras que ensinavam os conceitos elementares dos instrumentos para aprender sozinhos em casa. Os de hoje têm “O Mapa dos Acordes – Para Guitarra e Violão”, um compêndio com as experiências do músico e produtor capixaba Sérgio Benevenuto ao longo de 25 anos como professor dos instrumentos. Lançado no fim do ano passado, o livro deve ser o primeiro de uma trilogia planejada por Benevenuto para apresentar seu método de educação musical, uma técnica desenvolvida em suas passagens por escolas do Brasil e dos Estados Unidos. Além de fundamentar conceitos da música e desvendar os mistérios da guitarra e do violão, a obra traz textos acadêmicos de apoio. “Eu já tinha passado por mais de oito escolas no Brasil e não tinha aprendido nada”, contou o músico ao diário “A Gazeta”, de Vitória. “Nos EUA, comecei a me aprofundar na didática e, quando voltei, apliquei toda aquela metodologia. Isso formou uma legião de instrumentistas que agora você escuta em casa”. O segundo dos livros a serem lançados por Benevenuto já está em fase de finalização, e o terceiro começa a ser produzido ainda em 2015.

Um domingo mais que legal para Leo Nascimento

Após fazer sucesso na internet com um vídeo amador no qual aparece cantando uma de suas músicas românticas, “Tatuagem”, o ex-servente de pedreiro Leo Nascimento, de Porto Velho, teve sua trajetória musical transformada ao participar do programa “Domingo Legal”, do SBT, em novembro passado. Além de conhecer ídolos como o sertanejo Eduardo Costa, Leo descobriu ao vivo como se afiliar à UBC e garantir o recebimento de seus direitos autorais. O cantor está com sua agenda de shows lotada e prepara o lançamento do primeiro álbum, além de já colecionar mais de 65 mil seguidores no Facebook.

Samba, reggae, pop, Céu

Tem samba, reggae, pop. Tem guitarra, tambor, piano. Em dez anos de uma carreira profícua, cabe muita coisa, daí a dificuldade que a paulistana Céu teve para escolher o que entraria no registro definitivo da turnê do álbum “Caravana Sereia Bloom”, que costurou diversos estados e países desde 2012. No DVD “Céu Ao Vivo”, gravado em julho do ano passado no pequeno Centro Cultural Rio Verde, em São Paulo, ela acabou fazendo um passeio por canções suas como “Malemolência”, “Cangote”, “Falta de Ar”, “Retrovisor”, “Baile de Ilusão”, “Contravento”, além de coisas como “O Palhaço”, de Nelson Cavaquinho e Guilherme Silva, “Mil e Uma Noites de Amor”, de Pepeu Gomes, Baby do Brasil e Fausto Nilo, e “Piel Canela”, de Bobby Capó. “Fiquei pensando se a gente está colocando todas as músicas importantes. Essa escolha é um dilema, foi o primeiro DVD. Nunca tinha tido um registro, pensei nisso com carinho”, contou em entrevista ao diário “O Estado de S. Paulo”. Além da apresentação ao vivo, o pacote intercala depoimentos, momentos de descontração com os músicos e, nos extras, clipes. “Sempre quis que ficasse dessa forma, mas existia uma preocupação da gravadora porque aqui no Brasil existe uma coisa interessante: as pessoas colocam na festa o DVD como áudio”, explicou. Como não poderia deixar de ser em se tratando de Céu, na dúvida, o estilo próprio prevaleceu.

5 décadas este ano

O compositor Maury Câmara está comemorando seus 50 anos de carreira em 2015. Autor de mais de cinco dezenas de canções, teve muitas delas gravadas por cantores como Jerry Adriani, Martinha e José Roberto nas décadas de 1960 e 1970. Mais tarde, foi parceiro do saudoso Orlando Dias em obras como o sucesso “Com Pedra na Mão”. Hoje, o compositor faz apresentações frequentes nos palcos do Centro Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas, no Rio de Janeiro, conhecido popularmente como Feira de São Cristóvão.

O Rio Grande vai ao Rio... e volta

Um dos músicos mais inventivos e originais da cena gaúcha contemporânea, Rafael Ferrari começou o ano envolvido com o lançamento do álbum e da turnê “Bandolim Campeiro”, em que aprofunda o uso de um instrumento tão tipicamente associado ao choro carioca em interpretações de ritmos regionais sulistas, como milonga, vanera, chamamé, chacarera e outros. Pioneiro no encontro e nas infinitas trocas entre o estilo musical oriundo do Rio e as sonoridades dos Pampas, ele já tocou com nomes como Hamilton de Hollanda, Toninho Horta e Renato Borghetti, colhendo elogios de todos. Além da carreira solo como instrumentista e compositor, Ferrari integra o grupo Camerata Brasileira, que dá acento jazzístico a ritmos como o samba e o choro, lançou três discos desde que se formou, em 2002, e tem viajado por quase todo o Brasil e por países como Cuba e Paraguai. Como reconhecimento por seu destaque, o gaúcho faturou o Prêmio Açorianos, em 2008, como melhor compositor de música instrumental. No atual projeto, ele apresenta composições de mestres como Yamandú Costa e Luiz Carlos Borges, além de um sem-número de criações suas.

Skank na tela grande

Mais um grande nome da música brasileira se aventura na seara das trilhas sonoras para o cinema. A bem-sucedida aventura de férias para adolescentes “O Segredo dos Diamantes”, de Helvécio Ratton, em cartaz desde dezembro do ano passado em diversas cidades do país, tem como canção-tema “Poeiras da Ilusão”, de Samuel Rosa, do Skank. “Sou muito fã de 'O Menino Maluquinho' (longa infantil inspirado na obra de Ziraldo e dirigido por Ratton). Foi ótimo estrear nas trilhas de cinema num filme dele”, disse Samuel. “Gostaria que isso (compor para cinema) tivesse sido mais frequente na nossa história.” O processo de produção da música foi paralelo ao do mais recente álbum da banda mineira, “Velócia”, lançado em meados do ano passado. Na versão em vinil, “Poeiras da Ilusão” vem como faixa bônus. Na trama do filme, todo rodado em locações mineiras, Angelo (Matheus Abreu) tem 14 anos, descobre uma lenda antiga sobre diamantes perdidos e decide ir atrás do tesouro, uma maneira de salvar a vida do seu pai. Para isso, ele terá a companhia e a ajuda de seus dois amigos inseparáveis, Júlia (Rachel Pimentel) e Carlinhos (Alberto Gouvea), e precisará enfrentar o vilão Silvério (Rui Rezende).

Operário do Funk

Com programa diário na rádio, o DJ Batata, um dos mais ativos produtores do batidão, vê (e aplaude) a expansão da cena pelo país, mas manda: o velho estilo sedutor carioca é o seu preferido

Ele é um dos mais ativos produtores do funk carioca. Aquele de raiz, original, o batidão que seduziu boa parte do país e de músicos como Edu K, do Defalla (leia minientrevista na página 4). DJ Batata é um garimpeiro de talentos do estilo, que ajudou a revelar ou bombar nomes como MC Biel, Nego do Borel, Nego Blue, Bonde das Maravilhas, MC Britney, MC Pedrinho... Com programa diário na rádio Transcontinental FM, de São Paulo, ele lidera o movimento de expansão das fronteiras de um dos mais fortes estilos de música eletrônica brasileiros. “Sou um operário do funk, trabalho diariamente em prol do estilo”, diz.

Qual pancadão não sai da sua cabeça no momento?

São tantos... Mas escolho “Dom Dom Dom”, com MC Pedrinho.

Como vê as cenas regionais de funk pelo país, como as de BH, SP?

O funk não tem fronteiras, tudo é Brasil, mas cada região tem suas tendências, afinal somos um país de diversidades. O Rio, como berço do funk nacional, é espontâneo, erótico nas letras e nas coreografias. Considero muito criativo! Em São Paulo, explodiu o funk ostentação, que fala do poder do luxo retrato da nossa sociedade de consumo. Mesma vertente acaba predominando em Belo Horizonte e até mesmo no Sul do país! Eu, particularmente, sou mais fã do funk sedutor, envolvente.

Acha que o Rio ainda pode aportar muito em originalidade e inovação?

O Rio de Janeiro é uma caixinha de surpresas... Tem muito talento sem visibilidade. Acho que ainda vem muita coisa boa por aí a partir da cidade.

É possível ser funkeiro e viver de música? Como?

Com absoluta certeza! O universo do funk não se resume aos DJs e MCs. Tem um sistema ao redor, com os divulgadores, os empresários, as rádios, as editoras, as casas de shows... Enfim, todo mundo faz parte da engrenagem e consegue ganhar com isso. Mesmo sendo uma cena mais informal e pirateada, dá para receber direitos autorais.

Dois mil e catorze foi...

Excelente para nós, funkeiros .

Dois mil e quinze será...

Melhor ainda! .

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