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UBC Bahia, uma hist\u00F3ria que reflete as mudan\u00E7as no mercado

Explosão do axé, revolução tecnológica, desafio da pirataria e profusão de novos estilos musicais marcam os 15 anos da filial e a cena baiana

Por Luciano Matos, de Salvador

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As mudanças vividas pelo mercado musical ajudam a contar a história da filial da UBC na Bahia, que acaba de completar 15 anos. Da força da indústria e do auge das mídias físicas como o CD, passando pela ameaça da pirataria e a consolidação da era digital (com novas e desafiadoras formas de arrecadação), a evolução foi acelerada – e paralela à da própria cena baiana. A axé music pôs o estado no centro do mapa musical, e a estruturação da representação em Salvador (que também atende Sergipe) contribuiu com esse cenário e se beneficiou dele. Prova disso é o número total de associados da UBC atendidos pela filial – 1.700 –, entre eles alguns dos maiores nomes da nossa arte.

Em novembro passado, durante a comemoração do aniversário da UBC na Bahia, gente do quilate de Riachão, Luiz Caldas, Jorge Moreno e Alexandre Leão ganhou merecidas homenagens. Eles são testemunhas e protagonistas de um salto de projeção e qualidade no som feito no estado.

Cerca de uma década antes de surgir uma filial em Salvador, Leão, então com 17 anos, associou-se à UBC graças à gravação de uma música sua (em parceria com Olival Mattos), “Paiol do Ouro”, por Maria Bethânia. Onze anos depois, ele estava entre os 63 associados que marcaram a fundação da UBC Bahia em 1999. “Quando eu comecei, a Bahia ainda era periférica. O axé era uma coisa embrionária, com Luiz Caldas e Sarajane começando a chamar atenção. Depois foi ganhando importância progressiva. Por isso creio que fomos um dos primeiros estados a ter escritório da UBC”, ele descreve.

Como conta Márcia Bittencourt, gerente da filial baiana, grandes mudanças marcaram estes 15 anos. Uma das mais notáveis é a quantidade de artistas que passaram a ter suas próprias editoras. “Atualmente tomamos conta de 60 a 70 editoras efetivamente ativas”, diz. E não foi só isso: um sem-número de associados hoje também cuida da própria produção, nos mais diversos estilos. “A facilidade de acesso à tecnologia é, sem dúvida, a grande responsável por essa transformação”.

Da venda de discos para a arrecadação na internet

Alexandre Leão exalta a evolução nos suportes de distribuição e comercialização de música e reflete sobre o impacto na arrecadação de direitos autorais. “Em décadas passadas, o foco era a venda de discos, e muitos compositores reclamavam do repasse das gravadoras. Hoje o foco é a execução na TV, nas rádios, na internet. Mudou muito o perfil, e a execução passou a ser o meio mais importante para um artista ganhar dinheiro. É notável como a arrecadação foi ficando mais precisa, e o acesso aos demonstrativos, mais transparente”, avalia o compositor.

Como Leão, Luiz Caldas crê que a execução na internet é um dos mais óbvios caminhos para o avanço do mercado musical. Mas se diz preocupado com o ainda disseminado compartilhamento ilegal de músicas, sem remuneração aos criadores. “A gente ainda está no meio de um furacão terrível quando se fala de direitos digitais. Não temos uma definição de como vai ser, mas estou paciente. Trabalho muito mais, hoje em dia, com internet do que com gravadoras e rádio. Acho que vamos chegar a um momento em que vai se estabilizar, mas, com a pirataria, ainda temos um problema grave que não podemos controlar direito. O bom é que a UBC tem me dado todo o suporte e me sinto bem representado”, diz Caldas, afiliado desde 1987.

Os avanços tecnológicos que inquietam também contribuem para a melhora da arrecadação na Bahia – e em todo o país. Ao longo destes anos, casas de shows, boates e bares passaram a ter as músicas executadas em seus ambientes registradas por aparelhos mais modernos. Com isso, até os compositores de sucessos mais antigos, que não ganhavam havia muito tempo, voltaram a receber. “Especialmente aqueles que, no auge do axé nos anos 1980 para 1990, receberam muito mas estavam mais fora da cena. Eles tocam muito no final das festas”, lembra Márcia.

Carnaval, período mais feliz

No carnaval, ápice da arrecadação da filial, as leituras automáticas já empregadas nas rádios também passaram a ser feitas nos desfiles, por meio de máquinas fixadas nos próprios trios. Com elas é possível gravar os repertórios de ponta a ponta, tornando a cobrança dos direitos automática e integral. No rol dos que se beneficiam disso estão importantes nomes da folia baiana (e associados da UBC), como Carlinhos Brown, Manno Góes, Durval Lélis, Ivete Sangalo, Daniela Mercury, Claudia Leitte, Margareth Menezes, Harmonia do Samba... Outros dos grandes arrecadadores da filial são o fenômeno Pablo - tido como criador do gênero conhecido como arrocha, uma ponte entre o sertanejo e o forró -, e os forrozeiros clássicos Adelmario Coelho, Estaka Zero e Cangaia de Jegue.

Apesar do sucesso da música baiana fora das fronteiras do estado, os artistas locais convivem com um fenômeno infelizmente ainda muito comum: a inadimplência. “Na Bahia já melhorou muito, mas ainda temos várias rádios com pendências, além do governo do estado e da prefeitura (de Salvador), que não fazem seus pagamentos há anos”, afirma a gerente da filial. Outra dificuldade para a arrecadação, paradoxalmente, é a própria explosão musical que a Bahia vive. Com a profusão de novas bandas de arrocha e pagode surgindo, e com grupos tocando demais as músicas uns dos outros, garantir a arrecadação e a distribuição justas é um desafio. “Quando eu cheguei aqui, há 15 anos, havia uma desinformação muito cruel por parte dos artistas, mas toda essa profissionalização que vivemos ajudou a mudar o cenário. A informação foi chegando, os compositores foram se preocupando mais, e as novas tecnologias, ajudando. Hoje temos uma filial reconhecida, forte, que se destaca”, orgulha-se.

Para os associados, a satisfação parece ser recíproca. “A UBC aqui na Bahia é como uma parceira musical, está sempre se preocupando com a minha obra, às vezes faz para mim até papel de editora, por querer trabalhar junto do compositor, por ter todo um cuidado”, elogia Luiz Caldas.

Quem também se diz satisfeito é Jorge Moreno, que, em 1996, viu sua música “Maria Joaquina” estourar. Ele se mudou para a UBC por não estar contente com outra associação a que era afiliado. Não se arrepende. “A UBC nos dá muita atenção e nos trata com respeito. Quando entrei, passei a receber até o que estava retido.”

Alexandre Leão também destaca a relação pessoal, cuidadosa, como um dos trunfos para se manter há tantos anos na associação. “Estou muito bem aqui. Não tem informação que a gente peça que não chegue logo, não tem serviço que não seja logo atendido. A equipe é muito eficiente, rápida e prestativa.”

Para Márcia Bittencourt, a satisfação dos associados e os naturais desafios do mercado musical são o combustível necessário para continuar a avançar – pelos próximos 15 anos e muito mais: “É muito bom a gente poder olhar para trás e ver como, nesse tempo, nosso trabalho cresceu. Estamos ganhando cada vez mais impulso, com certeza vamos melhorar ainda mais.”

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