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Crise do Jornalismo
Ilustrações: Freepik.com
Por Eduarda Loregian e Lucas Lemes Gavião
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“Matamos um leão por dia”, não é esse o ditado? Entretanto, o leão da vez é, de certo modo, desconhecido. Sabemos os efeitos causados por ele durante um ataque, mas ainda não descobrimos o seu ponto fraco. Então, como derrotá-lo? E ainda, será que devemos derrotá-lo? Não, essas respostas não estarão nesta sexta-feira no Globo Repórter, mas felizmente podemos jogar alguma luz sobre estas questões e compartilhar alguns vieses desta realidade.
Apalavra crise se trata de um conceito cabível em todas as áreas e é descrita na psicologia como a representação de uma mudança a nível biológico, psicológico ou social. De acordo com o Google, para a psicologia a crise exige um esforço suplementar de manter o equilíbrio, além de corresponder a momentos de ruptura na estabilidade vigente. Sim, procuramos o termo e o citamos através do Google, até porque quem ainda consulta o dicionário? Com tamanha evolução tecnológica, não estamos mais habituados com livros e métodos de pesquisa que estejam a mais de um cômodo de alcance de nossas mãos. Sendo assim, toda e qualquer dúvida, anseio, curiosidade e necessidade é hoje solucionada por nós - sociedade - em uma aba do navegador. Seguindo essas tendências, o jornalismo, que é antigo na história da construção humana, passou por modificações e reestruturações em busca de atingir seu público mantendo o seu principal objetivo: contar histórias. Neste contexto, o acontecimento, o fato, o motivo e o resultado fazem parte desta arte. Seja para informar, alegrar, distrair ou persuadir, o centro do jornalismo sempre foi a história. Entretanto, diante do cenário tecnológico em que vivemos, percebemos que a influência do modelo preconizado pelo mercado pode alterar esse objetivo básico e fundamental da profissão.Esta realidade vem acontecendo em todas as esferas da sociedade e na comunicação isso não seria diferente. O jornalista de hoje precisa ser mais do que um contador de histórias. Com suas novas atribuições, além de um bom texto, é necessário conhecer as táticas para atingir e fidelizar o público, estar atento ao retorno que este fornece por meio das ferramentas disponibilizadas pela web, compreender os novos modelos de convivência e vida da população, atualizar-se com as novas tecnologias e não depender de outros para aplicá-las, além de se manter atento ao mercado e aos novos negócios para sobreviver em meio a tantas mudanças. O desafio é diário. Independente do meio, toda a comunicação foi afetada pela internet. Estamos em um processo de descobertas e escolhemos chamá-lo de crise por conta das incertezas e do risco iminente da perda de identidade desta missão tão importante que é a do jornalismo. Assim como acontece em empresas, que dentro de um minuto podem se ver com uma situação inesperada e que precisa ser analisada e resolvida, o jornalismo precisa se auto avaliar e se reinventar neste momento de crise. É necessário lutar pela essência e pela reputação. Não se pode deixar que a imagem da profissão seja deturpada. As histórias precisam continuar sendo o centro dessa área. Por conta disso, a luta é constante e árdua, e em meio a tantas adversidades, diariamente surgem novas plataformas e novos
comunicadores que nem sempre sabem o que fazem. Sem dominar técnicas, a internet possibilitou que pessoas sem formação ou conhecimento abrangente sobre a importância da área influenciassem pessoas que sabem tanto quanto ou menos que elas. Agora, o público também é comunicador. Saturados com tanta informação, como distinguir o melhor e mais confiável? Como escolher a quem conferir a influência do nosso raciocínio sendo que não temos a obrigação de escolher? E a questão mais contundente para o profissional, como sobreviver enquanto jornalista e ser escolhido pelo público? A globalização nos atingiu, e não é nossa escolha fazer parte dela ou não. As histórias precisam mais do que belos textos, boas construções e apurações. Mais do que contadores precisamos ser divulgadores, marqueteiros, multitarefas e visionários. A antiga afirmação de que quem escolhe comunicação escolhe o caminho mais fácil, não parece fazer mais sentido. Com um grande número de comunicadores e propagadores de conteúdos, a credibilidade do jornalismo está sendo colocada em xeque.
Se é fake, não é news
A verdade é que “fake news” é um dos termos do momento, mas está longe de ser algo novo. Apesar de ter se tornado popular nos últimos anos, a boataria corre solta pela boca do povo desde há muito, entretanto, o meio de recepção e propagação desses tais rumores mudou. A internet, por meio das redes sociais e do WhatsApp, tem sido o principal agente de propagação desse tipo de informações. Um dos maiores desafios do jornalismo no século XXI, e que constituem este momento de crise, está na descoberta da melhor forma para se combater este vilão da informação. A maior questão se encontra no método. Enquanto uma notícia falsa pode se proliferar rapidamente pelas redes sociais, sua retratação ou correção não repercute da mesma forma. Visto isso, a credibilidade dos grandes veículos de comunicação deve ser preservada e reforçada para que esta seja a fonte mais confiável da população em geral. Nesse contexto, o jornalismo de dados se apresenta como um agente anti-fake. O jornalismo de dados trabalha, essencialmente, com… dados! Nas palavras de Cristian Weiss, jornalista do Diário Catarinense, “O jornalismo de dados é uma atividade mais objetiva e menos subjetiva, o que se aproxima mais do fazer tecnicamente.” O jornalista ainda reforça que quanto mais o profissional produz seus textos baseados em evidências - e dados são evidências - e menos em impressões ou opiniões, existem mais chances de sua informação ser crível e atestada como verdade, pois somente uma nova evidência com maior força poderia contestar a primeira. Assim, a máxima “contra fatos não há argumentos” volta a servir como remédio contra qualquer fake. A deficiência na investigação dos fatos é fruto da correria cotidiana causada pela internet e suas métricas. Os jornalistas andam ansiosos com o tempo, afinal, por melhor que seja a informação, a primeira a ser publicada tende a ter mais acessos, e para isso é preciso correr. É nesse contexto em que, de maneira equivocada, a velocidade se sobrepõe à qualidade. Em vista dessa falta do “feijão com arroz” bem feito na rotina do comunicador, Weiss sugere que essa possa ser uma forte razão pelo descrédito da sociedade para com grandes veículos, mas lembra que nem toda essa culpa pertence aos profissionais: “Me parece que é isso que as pessoas que não creem na mídia hoje gostariam de ver: um jornalismo mais técnico. Mas quando se fala em política, por exemplo, sempre vai ter o lado mais passional do público, que é subjetivo. Aí às vezes nem evidências convencem.” Os fatos estão dados. Se é possível recuperar a credibilidade do jornalismo apesar das armadilhas trazidas pelo novo meio? A resposta é sim. Cabe aos jornalistas utilizarem as ferramentas da web para aprimorarem seus trabalhos e tomarem consciência da importância do que há de mais intrínseco na profissão: uma boa e acurada apuração de informações e dados traduzidos em um conteúdo único - voltado para o público - em formato de uma boa e envolvente história.