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Girl Power: por que as mulheres são maioria nos cursos de comunicação?

MULHERES NA COMUNICAÇÃO

Girl Power: por que as mulheres são maioria nos cursos de comunicação? Por Olga Helena No ano de 1887, Rita Lobato Velho Lopes fez história. Ela foi a primeira mulher brasileira a se formar na faculdade no Brasil. Desde então, o sexo feminino vem dominando cada vez mais os campi universitários pelo país

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Há três anos, quando decidi que queria cursar jornalismo por causa da minha paixão pelo poder das palavras, me deparei com uma faculdade dominada por mulheres. Elas eram a maioria dos alunos e do corpo docente também. Por todos os corredores que passava, lá estavam elas, tentando se manter sempre à frente, mesmo que seus salários muitas vezes não reflitam seus esforços.

O que dizem as pesquisas

Pelo menos é o que comprova uma pesquisa do ano de 2014, realizada pelo IBGE. Segundo os dados coletados, mesmo com maior índice educacional, mulheres com cinco a oito anos de estudo recebem uma média de 24% a menos que os homens. E para 12 anos de estudo ou mais, essa diferença na remuneração vai para 33,9%. E dessas mulheres, somente 39% ocupam cargos de liderança nas empresas, ante 61% dos homens. Ainda considerando esta amostra, das mulheres ocupadas com 16 anos ou mais, 18,8% possuíam Ensino Superior completo, ao mesmo tempo que, para os homens esse percentual é de 11%. Ainda segundo o levantamento, as mulheres são maioria com Ensino Médio completo ou Superior incompleto: cerca de 39,1% para as mulheres contra 33,5% dos homens. Essa pesquisa ainda aponta o grau de incompatibilidade salarial entre mulheres e homens.

Uma resposta

Mas afinal, por que as mulheres são maioria nos cursos de comunicação? Para Michael Samir Dalfovo, coordenador dos cursos de comunicação da Unisociesc de Blumenau há nove anos, é clara a predominância do sexo feminino dentro das salas de aula e mais precisamente nos cursos de comunicação. Para ele, esses dados resultam de uma série de fatores, dentre os quais, a crença de que as mulheres são mais emotivas e, por isso, devem fazer cursos mais humanos e antropológicos. “Historicamente, ainda temos uma dependência cultural muito forte, que prega que os homens são mais lógicos e por isso devem fazer matérias ligadas a exatas, como matemática e física, enquanto as mulheres não. Entretanto, eu percebo que há sim, uma desconstrução de paradigmas aos poucos, e isso faz com que os homens atuem nas áreas de comunicação, assim como, as mulheres em áreas das exatas”. Samir também evidencia que isso se deve a educação recebida em casa, que ainda diferencia homens e mulheres. Brincadeiras e jogos para o sexo masculino trabalham a força e o raciocínio lógico, enquanto para as meninas, o foco é no cuidado com o próximo e sentimentalismo através de bonecas e outras recreações, fazendo com que certas áreas de estudo se tornem inatingíveis para ambos os sexos.

Trajetória feminina na educação brasileira

Ao longo dos anos, as mulheres conquistaram voz, direitos e espaços em diversos âmbitos. Porém, para chegar até onde estamos, uma teve que tomar a frente para que outras inspiradas por sua coragem a seguissem. Mas esse foi um longo caminho.

Desde o descobrimento do Brasil até o início do século XIX, a educação no país era permitida somente aos homens. Durante este período, a única alternativa para aquelas que queriam receber educação eram os conventos, principalmente os europeus. Essa solução era possível apenas as mulheres com famílias mais abastadas, visto que a viagem para esses lugares era cara e arriscada. Somente em meados do século XIX, os colégios particulares para meninas passaram a existir, e novamente, somente aquelas com poder aquisitivo superior podiam se matricular. Foi só em 1827 que o ensino público e gratuíto foi sancionado no Brasil, mas a exclusão dos negros, pobres e de grande parte da população era evidente. No início, a educação às mulheres era totalmente opressiva e patriarcal, visto que suas grades eram diferentes das dos homens e continham matérias como culinária e sobre cuidados do lar e dos maridos. Além disso, o Ensino Superior era expressamente proibido. Segundo uma pesquisa da professora Nailda Marinho (UniRio) sobre a inserção e permanência das mulheres nos cursos superiores do Rio ao longo dos séculos 19 e 20. A primeira mulher brasileira a se formar foi Maria Augusta Generoso Estrela, que se graduou em medicina no ano de 1882, mas, nos Estados Unidos. Depois disso, em 1887, Rita Lobato Velho Lopes (1867-1954) fez história, tornando-se a primeira mulher a se graduar no Brasil. Ela se formou na Faculdade de Medicina da Bahia e pode exercer a profissão, por muitos anos.

Rita Lobato Velho Lopes (1867-1954)

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