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O novo cenário digital e a adaptação dos conteúdos jornalísticos nas redes sociais
ESPORTE Mulheres e o futebol: uma relação de paixão e preconceito Por Bruna Evelin e Bruna Gabriela Ziekuhr No Brasil, apenas 7% das mulheres assinam matérias sobre esportes nas redações
Atualmente, o público feminino continua lutando para que seus direitos sejam respeitados e, principalmente, que sejam iguais para todos. Nas redações jornalísticas esportivas o cenário não é diferente. Para os que acreditam que futebol e mulher não combinam, o aumento da presença feminina no ambiente esportivo chega para quebrar esse paradigma. Com o crescente número de repórteres mulheres atuando na área esportiva, a editoria deixou de ser exclusivamente masculina. Se no início do jornalismo a mulher ocupava somente editorias consideradas femininas, tais como moda e assuntos relacionados ao âmbito doméstico, hoje ela vem ganhando espaço nos estádios, nas arquibancadas, à beira do gramado ou entre as quatro linhas. A editoria de esporte no Brasil era considerada totalmente masculina até 1962, quando Germana Garilli, a Gegê, se tornou a primeira mulher a exercer o papel de jornalista esportiva e uma das primeiras a se desafiar como repórter de campo no futebol. De lá para cá, a dura realidade dessas repórteres é a mesma: a todo momento precisam driblar a desconfiança sobre sua capacidade enquanto ouvem que o lugar da mulher é em casa e não fazendo matérias sobre esporte. Apesar de serem maioria nas redações atualmente, representando 64% dos comunicadores, segundo a Federação Nacional dos Jornalistas, apenas 7% das mulheres assinam matérias sobre esportes. A jornalista e apaixonada por futebol, Camile Magalhães, conta que as mulheres eram minoria no jornalismo esportivo e precisavam provar sua competência o tempo todo. “Tínhamos que passar por algumas situações constrangedoras, como entrar em vestiários para fazer as entrevistas, já que muitos times ainda não tinham uma sala de imprensa. Era importante provar a toda hora que entendia mesmo de fu
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Germana Garilli, mais conhecida como Gegê, foi a primeira mulher a ser jornalista esportiva e repórter na beira do gramado/Divulgação
tebol e de outros esportes para ser respeitada no meio esportivo”, relembra. Magalhães conta que o início de sua carreira na editoria esportiva se originou de uma oportunidade proporcionada pelo jornalismo. “Eu era repórter de geral na RBS TV em Jaraguá do Sul. Como fazia muitas vezes matérias relacionadas ao futsal da cidade, muito forte naquela época, acabei me destacando e recebendo a oportunidade de assumir a vaga de editora e repórter de esportes da RBS TV em Joinville”, comenta a jornalista. Desde então, Camile já participou de grandes coberturas. Além disso, a blumenauense já cobriu férias na TV Globo e SporTV no Rio de Janeiro. “Eu participei de coberturas estaduais e nacionais de futebol, futsal, inclusive de transmissões ao vivo de jogos. Também fiz matérias de esportes para telejornais nacionais como Bom Dia Brasil, Globo Esporte, Esporte Espetacular, Ana Maria Braga, Fala Brasil, Jornal da Record e para todos os programas do SporTV e TV Com”, conta com brilhos nos olhos. Com o passar dos anos, muitas mulheres começaram a ocupar o meio esportivo. Nomes como Anna Zimmerman, Glenda Kozlowski, Renata Fan, Fernanda Gentil, entre outras, passa
ram pela editoria. Entretanto, segundo relatos das próprias jornalistas, conforme elas foram entrando no mercado, o preconceito veio junto. Mesmo com o aumento de mulheres atuando na área, a discriminação ainda é muito latente e presente no dia a dia deste público. “No jornalismo esportivo, seja nas arquibancadas dos estádios brasileiros ou dentro das quatro linhas do campo de futebol, é preciso, dia após dia, que a mulher prove que entende do assunto que está falando”, comenta Camile. As vozes femininas nas transmissões de futebol Se nos últimos tempos os telespectadores brasileiros estavam acostumados a ver homens apresentando, narrando e comentando programas esportivos na TV, no ano passado esse cenário esportivo foi completamente diferente. Em 2018, grandes canais esportivos da TV fechada, como ESPN, Fox Sports e Esporte Interativo, tiveram vozes femininas transmitindo e narrando os jogos. O fato de uma mulher narrar e estar à frente dos microfones em jogo de futebol no país não acontecia desde 1999. Diante disso, a jornalista mineira Isabelly Morais entrou para a história da televisão brasileira. Depois de muito tempo, finalmente uma mulher narrou um jogo de Copa do Mundo, que aconteceu no último ano. Isabelly foi a primeira mulher a narrar um gol em um campeonato mundial de futebol, com uma transmissão totalmente feminina, com comentários e narração, na Fox Sports. A jornalista já havia feito história em novembro do ano passado, quando também foi a primeira mulher a narrar um jogo em Minas Gerais, pela rádio Inconfidência. A mulher no fotojornalismo Esportivo A fotografia é uma arte dinâmica e promissória para os profissionais. Como profissão, é abrangente e existem inúmeras modalidades na área disponível para especialização. Entre elas, está a fotografia esportiva, um gênero que visa registrar atletas, geralmente no momento das competições, eventos e outras performances. Mesmo que nessa profissão a maioria dos fotógrafos sejam homens, as mulheres estão crescendo nessa área também. Infelizmente, mesmo tendo credibilidade, o preconceito contra as profissionais ainda é muito presente. Apesar de serem reconhecidas pelos próprios atletas, a presença mulher no fotojornalismo continua sendo colocada diariamente em debate. Rafaela Martins é fotojornalista e atualmente mora em Florianópolis (SC). Ela descobriu seu amor pela profissão quando conheceu o trabalho do fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado. Assim como o artista, ela queria fotografar a realidade, e foi no fotojornalismo que Rafaela descobriu que isso era possível. Quando tinha pauta nova para cobrir, as desculpas para recusar, não tinham vez. A fotógrafa saía às pressas de onde quer que estivesse, corria para o local anunciado e revela que nem sempre chegava com uma boa recepção de quem já estava por lá. “Muitas vezes não éramos bem-vindas em determinadas pautas, mas tínhamos que mostrar de alguma maneira o que estava acontecendo, “No jornalismo esportivo, seja nas arquibancadas dos estádios brasileiros ou dentro das quatro linhas do campo de futebol, é preciso, dia após dia, que a mulher prove que entende do assunto que está falando”
Atualmente Rafaela Martins é fotógrafa e videomaker para conteúdo visual,mídias sociais e marketing./ Foto: Silvana Tres
Final da Sub-20 na Arena do Grêmio/ Foto: Lucas Cardoso/O cancheiro.
sempre sendo profissional e tentando separar os sentimentos. Como mulher, acredito que ainda existe preconceito, mas temos sempre que nos posicionar e lutar pelo nosso espaço”. Se as histórias e os obstáculos superados por Rafaela já transcreviam o seu amor pela profissão, Julia Galvão, de apenas 20 anos, mostra que já tem uma bagagem de muitas aventuras marcadas pela fotografia esportiva, além de trazer uma outra perspectiva sobre a figura da mulher na profissão. A jovem moradora de Chapecó (SC) começou a fotografar aos 14 anos. Mal sabia ela que as imagens feitas no campo para o time Metropolitano de Blumenau iriam fazer com que hoje ela se tornasse a fotógrafa profissional da equipe de base da chapecoense. Com o tempo, a jovem começou a fazer muitas viagens, conheceu novos times, novos lugares e novas pessoas. Julia afirma que é muito respeitada pelos colegas de trabalho e de outras cidades. “Sempre me respeitaram. Levo meu trabalho a sério e nunca dei abertura para situações, que pudessem gerar preconceito. Mas nunca estamos livres em relação a isso, todo o cuidado é pouco”. Para uma fotojornalista, cada momento é único e enfrentar algumas caras feias e acreditar no seu potencial é uma grande tarefa. Nem sempre as fotos que são tiradas saem do jeitinho que querem, mas vale a tentativa. O importante é que a mulher fotojornalista, independente da modalidade do esporte, esteja pronta para qualquer pauta, pois elas também podem fazer as mesmas funções.
Final da Sub-20 na Ressacada / Foto: Rafael Bressan/ Chapecoense.