Falsos Gregos - 19 de novembro, Festivais de Outono

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11ª edição

Falsos Gregos

Canto e Realpolitik 19 novembro

Quinta-feira, 21h30 Museu de Aveiro

Ana Maria Pinto, soprano André Baleiro, barítono José Brandão, piano e direção artística


O mediatismo em torno das negociações políticas

e de gestos ultra refinados (fotografias de época

no seio da União Europeia, com a “questão grega”

expondo cenas de jovens raparigas vestindo

a concentrar as expetativas, faz-nos pensar o

túnicas brancas, Isadora Duncan dançando de pés

relacionamento dos europeus com a cultura grega

descalços, os faux-grecs de Pierre Louÿs, com a

ao longo da História. O imaginário comum retém

sua Bilitis ou dos frisos em baixo-relevo de Bourde-

a ideia já velha de séculos, de que Grécia e Roma

lle para o Teatro dos Champs- Elysées). Os poetas

confundidas, são o berço da civilização europeia

do Le Parnasse contemporain, com Leconte de

ocidental. Embora esta veneração pela antiguidade

Lisle e Banville à cabeça, trabalhavam os temas

clássica esteja primeiramente associada ao Renas-

clássicos, demonstrando uma devoção sem igual

cimento e ao Iluminismo, é na época Romântica,

à Grécia e, nos grandes salões burgueses e aris-

a partir da segunda metade do século XVIII, que o

tocráticos de Paris, a mélodie francesa confirmava

interesse, designadamente germânico, pela cultura

a sedução exercida pela cultura greco-latina nos

grega conhece um significativo recrudescimento.

círculos sociais mais distintos. A música vestiu-

Havia, paralelamente, em toda a Europa, uma certa

-se de uma roupagem supostamente antiga, com

simpatia pelo povo grego, então sob domínio turco.

recurso às escalas modais, e ornamentou-se de

A sua luta pela independência, conquistada em

linhas evanescentes evocando flautas de Pã.

1832 e celebrada no Tratado de Constantinopla,

Entre nós, um poeta houve que, na sua multi-

simbolizava a própria ideia de liberdade. Muitos

plicidade identitária, não rejeitou a sua condição

europeus combateram ao lado do povo grego, o

helénica. Ricardo Reis, “fingimento” de Fernando

mais notável dos quais foi certamente o escritor

Pessoa, encontrou na Ode grega, imitada de

inglês Lord Byron, morto em batalha em 1824, cujo

Horácio, Virgílio ou Píndaro, a materialização

poema “Childe Harold’s Pilgrimage” (1812) confron-

das virtudes clássicas da medida e do equilíbrio.

tou os europeus com a realidade e o sofrimento do

Ancorada nos princípios da filosofia epicurista e da

povo grego.

moral estóica, esta opção literária identifica-se com

No domínio do Lied, a canção romântica alemã,

uma disciplina de vida avessa ao excesso emocio-

foi Franz Schubert a dar corpo, de forma mais

nal e apologista de valores próximos de um certo

significativa, a este revivalismo da cultura helénica,

niilismo existencial. A música trazida para estes

percecionada nos escritos de Goethe e de

poemas por Filipe de Sousa e Fernando Lopes-

Schiller, entre tantos outros, como um ideal, um

-Graça patenteia estas qualidades, não ficando

modelo de perfeição para o mundo germânico

imune a estratégias de recriação de uma atmosfera

contemporâneo.

pretensamente arcaizante. Mais recente, o ciclo de

Também em França, na segunda metade do séc.

António Chagas Rosa revisita a Grécia a partir de

XIX, se tornou moda, entre uma certa sociedade

La Couronne et la Lyre, de Marguerite Yourcenar.

aristocrática e elitista, o gosto pelas culturas grega

O discurso do compositor é veemente, favorecen-

e latina. Este arcaísmo era ao mesmo tempo um

do a concisão dramática e um jogo expressivo

sinal de modernidade, enquanto se respirava o

tenso, entrecortado por instantes de algum lirismo.

ar decadentista de um fin-de-siècle repleto de imagens retratando uma antiguidade feita de poses

José Brandão


ANA MARIA PINTO SOPRANO Ana Maria Pinto nasceu no Porto. Iniciou os seus

professor Rui Taveira e, em 2005, na Universidade

estudos de canto no Conservatório de Música da

das Artes de Berlim, onde estudou com os can-

mesma cidade com a professora Palmira Troufa.

tores Robert Gambill e Dagmar Schellenberger.

Em 2001, é admitida na Escola Superior de Músi-

Na prova final do seu mestrado em ópera obteve

ca e Artes do Espectáculo do Porto na classe do

classificação máxima. No final do ano 2011, foi


convidada a integrar o estúdio de ópera da Ópera

Em Maio deste ano estreou a sua peça em

de Lyon. Foi bolseira da Fundação Walter-Ka-

Windhoek, Namíbia, “A balada do marinheiro-de-

minsky (Munique) e da Fundação C. Gulbenkian.

-estrada, melodrama para soprano ao piano e

Trabalha regularmente com a orquestra da F. Gul-

djambé”, em que a própria canta e recita o texto

benkian e com a Orquestra do Norte. Apresenta-se

acompanhando-se ao piano e ao djambé.

anualmente nas mais importantes salas do país.

Estreou os seus dois ciclos de canções dedi-

No estrangeiro cantou em salas como o Victoria

cados a Jorge de Sena, “Coroa da Terra” e “As

Hall em Genebra, o Teatro Nacional de Kosice

Evidências”, em Outubro de 2014.

(Hungria), o Hebbel Theater (Berlim), a Catedral de

É a co-criadora do projeto “Classic meets Africa”

Berlim ou a Chapelle de la Trinité, em Lyon.

que visa a interculturalidade e a inclusão social, e

Em ópera destacam-se os papéis de Susanna

do Método Azul, uma educação pela sensibilidade

(Le nozze di Figaro), Elle (La voix humaine),

e pela ligação da criança à Natureza. Interpretou

Blanche de La Force (Dialogues des Carmélites),

Cecilia no filme “Casanova Variations”, onde

Musetta (La Bohème), Micaela (Carmen), Rosina

contracenou com John Mallkovich e cantou com

(O Barbeiro de Sevilha) Kumudha (A flowering

Jonas Kaufmann.

tree de John Adams), e as obras de oratória “Jauchzet Gott in allen Landen” de J. S. Bach, “Nelson Messe” de J. Haydn, “Exultate Jubilate” de Mozart, “Ein deutsches Requiem” de J. Brahms, “Shéhérazade” de M. Ravel, 4º Sinfonia de Mahler, “Jeanne d’Arc au Bûcher” de Honnegger, “Chanson de la mer et de l’amour” de Chausson, “Carmina Burana” de Carl Orff, “9º Sinfonia” e “Missa Solemnis” de Beethoven, “O Abismo e o Silêncio” e “Shyir” de João Pedro Oliveira. Trabalhou com os maestros Marc Tardue, Cesário Costa, Ferreira Lobo, Errico Fresis, Lutz Köhler, Lawrence Foster, Joana Carneiro, Michel Corboz, Bertrand de Billy e com Simone Young. Em Agosto de 2009, gravou canções de Fernando Lopes Graça e Viana da Mota com o pianista Nuno Vieira de Almeida, com quem se apresenta todos os anos em concerto desde 2002. Neste álbum de estreia, a crítica do Expresso classificou a soprano Ana Maria Pinto como uma revelação. Trabalha em duo com a pianista Joana Resende, com quem apresenta projetos que visam aprofundar o sentido de interação entre a palavra poética e a música.


ANDRÉ BALEIRO BARÍTONO André Baleiro, natural de Lisboa, vive em Berlim

Recentemente colaborou com a Kammeroper de

onde é finalista do curso de canto na Universi-

Munique no papel principal da nova produção

dade das Artes (UdK) sob a orientação dos Prof.

Kaspar Hauser com música de F. Schubert.

Siegfried Lorenz, Markus Brück, Eric Schneider e

Da sua experiência no palco operático destacam-

Axel Bauni.

-se os papéis de Apollon (La descente d’Orphée


aux Enfers de Charpentier), Caporale (Il cappello di paglia de Nino Rota) no Teatro Nacional de São Carlos (TNSC), Pantalone (Turandot de Busoni) no TNSC, Don Parmenione (L’occasione fa il ladro de G. Rossini) no Teatro Pérez Galdós em Las Palmas, Capitaine (Les trois Souhaits de B. Martinu) e Conte Belfiore (Fra i due litigante il terzo gode de G. Sarti). A sua atividade em concerto já o levou a cantar a diversos países na europa como França, Espanha, Alemanha e Suíça, bem como ao Japão onde interpretou em Tóquio o Requiem de G. Fauré com a orquestra Sinfonia Varsovia dirigido pelo maestro Michel Corboz. Destacam-se também o Requiem Alemão de J. Brahms em Lausanne e a Paixão segundo São Mateus, na Fundação Calouste Gulbenkian, também, sob a direção do maestro Michel Corboz. Apresenta-se regularmente em recital com o maestro João Paulo Santos e colaborou pela primeira vez com o pianista Eric Schneider em Fevereiro deste ano, onde apresentou o ciclo integral “Italienisches Liederbuch” de Hugo Wolf em Berlim. Em 2012 obteve o 2º prémio no 6º Concurso de Canto Lírico da Fundação Rotária Portuguesa e um prémio da fundação Walter & Charlotte Hamel Stiftung em Hannover. Em 2014 foi finalista no concurso Franz Schubert em Steyr, Áustria. Desde 2012 é bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian. JOSÉ BRANDÃO PIANO Na Academia de Música de Espinho, completou o Curso Geral de piano, com Delmary Neves, e, antes de concluir o Curso Superior, no Conservatório de Música do Porto, com Theodora Howell, frequentou ainda a Academia de Música de Paços de Brandão. Desde cedo, e ao longo de um perío-


do de dez anos, recebeu a orientação de Helena Sá e Costa. Em 1986, ano em que se diplomou, foi premiado com o 2º lugar ex-æquo no Concurso Nacional de Piano da Juventude Musical Portuguesa. Licenciou-se em Ciências Musicais na Universidade Nova de Lisboa. Na Guildhall School of Music and Drama, onde estudou com Graham Johnson, realizou uma pós-graduação em Acompanhamento ao Piano, obtendo os prémios para melhor pianista acompanhador nos concursos John Ireland’95 e Schubert Lieder’96. Complementou os estudos em repertório vocal, com Paul Hamburger, Martin Katz e Ruben Lifschitz e, em 2008, obteve o grau de Mestre em Música pela Universidade de Aveiro, com uma dissertação sobre as canções de Filipe de Sousa. É professor na Escola de Música do Conservatório Nacional, desde o ano 2000. Tocou nos Festivais de Royaumont, do Estoril e de Coimbra, no Museu e na Temporada de Música da Fundação Gulbenkian, CCB (Dias da Música em Belém, série Bom dia Música), Ópera de Lille, RDP, sempre acompanhando um vasto leque de cantores, designadamente da jovem geração. A sua dedicação ao repertório da Canção acompanhada ao piano, conduziu à criação do projeto O Guardador de Canções, em parceria com o pianista João Vasco.

Estrutura Financiada pelo Secretário de Estado da Cultura / Direção-Geral das Artes:


I PARTE Na Alemanha, sê um grego Franz Schubert Die Götter Griechlands (Schiller) Ganymed (Goethe) Gruppe aus dem Tartarus (Schiller) Der Atlas (Heine) Johannes Brahms An eine Äolsharfe (Mörike) Hugo Wolf Anakreons Grab (Goethe) Franz Schubert Dithyrambe (Schiller) Hektors Abschied (Schiller) Fahrt zum Hades (Mayrhofer) Der Musensohn (Goethe) II PARTE Nós não somos a Grécia

Odes de Ricardo Reis nas canções de Filipe De Sousa e de Fernando Lopes-Graça As rosas amo do jardim de Adónis (FS) O ritmo antigo que há em pés descalços (FL-G) Segue o teu destino (FS) O deus Pã não morreu (FL-G) Ao longe os montes têm neve ao sol (FS) Bocas roxas de vinho (FL-G) Ode a Cloé (FS) O mar jaz (FL-G) Coroai-me de rosas (FS)

Estas canções não são um conto infantil António Chagas Rosa Sept Épigrammes de Platon (trad. M. Yourcenar) I. Sur des soldats Éretriens morts en Perse II. Pour Aster vivant; III. Pour Aster Mort IV. Pour Agathon; V. Sur la mort de Dion VI. Pour la courtisane Archéanassa VII. Sur le miroir de Laïs Falsos gregos Ernest Chausson Gabriel Fauré Louis Durey Claude Debussy

parcerias

Hébé (Ackermann) Danseuse (Mme la Baronne Renée de Brimont) Daphnis, à la peau blanche (Epigrama de Teócrito) Veux-Tu, Au Nom Des Nymphes (Epigrama De Teócrito) Chansons de Bilitis (Pierre Louÿs) I. La flûte de Pan II. La chevelure III. Le tombeau des Naïades


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