TST Rodrigo Hammer’s
The Sound Tribune
BE-BOP DELUXE Art Rock à enésima potência
Número 006 - 03/02/2019 - 09/02/2019
ROCK ,
requinte e frustração Das apresentações em clubes de trabalhadores ingleses de Yorkshire às tours com o Lynyrd Skynyrd pelos Estados Unidos, o Be-Bop Deluxe surgiu como verdadeiro enigma do Art Rock em meados dos anos 1970. Aqui, o líder Bill Nelson reflete acerca de uma vida de aventuras musicais, guitarras flamejantes e sobre levar o Glam a mineradores ingleses casca-grossa.
“A coisa da Pop Ar emergindo quando eu universidade, lá pelo meio 1960. E isso era parte da tive ao formar o Be-Bop D levar comigo os aspect Rock mais comerciais, num contexto diferente com que as pessoas refl os questionassem. Duan o primeiro guitarrista que e depois músicos de J Django Reinhardt e W gomery. A vanguarda e jogo quando descobri Jo o movimento Fluxus. Era girava em torno da minha que de alguma forma tran na minha música.” Nelson ainda trabalhava c cionário do Governo gravou o primeiro álb
Texto: Rob Hughes – Tradução e Adaptação: Rodrigo Hammer
Como resolver uma equação como a do Be-Bop Deluxe? Essa era a questão que tanto a Indústria Fonográfica como os críticos enfrentavam durante os anos 1970. A banda que era muito comportada para o Rock ‘n’ Roll, muito rebelde para o Prog tradicional e muito complexa para o Punk. Gravaram singles de sucesso que não queriam, excursionaram pelos Estados Unidos com atrações totalmente incompatíveis e criaram shows pirotécnicos encarados pelo mais subestimado dos guitarristas à época. Em suma, foram o maior enigma daquela década. “Tínhamos alguns problemas com a velha guarda que precisava de definições”, explica o fundador, guitarrista, vocal e compositor Bill Nelson. “Fomos empurrados em todas as direções, não apenas de álbum para álbum ou de faixa para faixa, mas quanto a um determinado tipo de música. Era difícil entenderem o que es-
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távamos fazendo. Éramos mais uma banda de Rock pós-moderna.” Ao longo de quatro discos de estúdio, o Be-Bop Deluxe mesclou as fronteiras entre o Glam, o Art Rock e o Prog, dando ao mundo uma fusão esfuziante que se enquadraria mais num tipo de futuro indeterminado. Obras visionárias como ‘Sunburst Finish’ e ‘Drastic Plastic’ preconizaram a nova onda do Pós-Punk e além dela. Ainda mais seriamente, tinhase em Nelson a personificação do guitar hero moderno; um lord dos riffs dono de sofisticação, perspicácia e habilidade primorosa. Antigo aluno de Artes em Wakefield, suas letras conceituais reciclavam Cultura Pop da mesma forma que David Bowie e o Roxy Music, conjugando referências a Ficção-Científica, Arte e Cinema Expressionista, combinação deslocada num período de transição como aquele.
Andrew Clark, Bill N
‘Northern Dream’, em 1971. Um ano mais tarde e junto ao colega Richard Brown, começaram a procurar músicos a fim de começar uma banda. Logo o Be-Bop Deluxe tornou-se conhecido na cena local de clubes, embora mais pelo aspecto visual que por sua música. “Aquilo só tinha a ver com diversão”, conta Nelson sorrindo. “Tocávamos nos clubes de trabalhadores (n. do t. associações regionais de operários ingleses) e pubs nas cercanias de Yorkshire, então, partir para o negócio do Glam Rock na época, era tipo algo subversivo. Aqueles caras durões das minas ficavam totalmente em choque com a gente. E gostávamos da ideia de como fun- chamar atenção. Em vez de trocar quando de roupa no fim de um show, entrábum-solo, vamos de volta na van com todo
rt estava estava na o dos anos a ideia que Deluxe, de tos Pop e pondo-os para fazer fletissem e ne Eddy foi e conheci, azz como Wes Montentrou no ohn Cage e a isso que a cabeça e nspareceu
aquele visual glam, de maquiagem, e parávamos em qualquer bar que encontrássemos na estrada. Além do mais, os olhares que recebíamos não tinham preço.”
RECONHECIMENTO Enquanto isso, John Peel tinha ficado impressionado com ‘Northern Dream’, e tocado o disco na íntegra em seu programa de uma vez só. A EMI também conhecera o álbum, propondo que Nelson o regravasse com alguns músicos de estúdio. “Naquela hora eu tinha acabado de formar o Be-Bop Deluxe e estávamos há apenas duas semanas como banda. Aí respondi que já não era mais solo e que as coisas haviam mudado.” No inicio, a gravadora ainda estava incerta quanto à nova aventura de
Nelson, Charles Tumahai e Simon Fox: elegância no som e no vestuário
Nelson, mas um show bombástico no Marquee, em Março de 1974, acabou persuadindo-a a assinar um contrato com o grupo. O Be-Bop DeLuxe seria de imediato colocado sob o selo Harvest, braço progressivo da gravadora, entrando em estúdio para o disco de estreia, ‘Axe Victim’. Composto de faixas já testadas na estrada por mais de um ano, o álbum variava de odisseias progressivas como Adventures In A Yorkshire Landscape à faixa-título pesada, bem como fantasias de Ficção-Científica como Jet Silver And The Dolls Of Venus. A banda embarcou em tournée por dois meses, abrindo para o Cockney Rebel. “Nos demos muito bem com aquele tipo de plateia”, recorda-se Nelson. Mas as vendas de ‘Axe Victim’ foram modestas.
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Em sentido horário, Charlie Tumahai, Bill Nelson, Simon Fox e Andrew Clark
Para o álbum seguinte, Nelson trocou a formação, apostando no baixista Charlie Tumahai e no baterista Simon Fox. A EMI uniu a banda ao produtor Roy Thomas Baker, que na ocasião lapidava o som de outro contratado da gravadora, o Queen. Acontece que aquele não foi bem o encontro harmonioso que esperavam. “Gravamos a maior parte de ‘Futurama’ no
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Rockfield Studios, no País de Gales”, explicou Nelson. “Fiquei tremendamente impressionado com o engenheiro de som de Baker, Pat Moran. Aprendi bastante com ele só de observá-lo em ação, vendo como trabalhava no estúdio. Mas já com Roy, não curti muito. Sentava-se no braço da cadeira, ao lado da mesa de som, e começava: “Wakey,
wakey! Roly poly!” (n. do t. versos infantis entoados em jardins de infância ingleses). E organizava guerras de comida que acreditava divertidas. Também, um dia, ateou fogo na mesa de mixagem derramando açúcar nela e depois acendendo o equipamento com um fósforo. Pensei: ‘O tipo da bobagem de colegial’. “Houve outra ocasião em que
estávamos no Sarm S em Londres, gravan overdubs. Pedi um pou de volume para os me cais nos headphones e brincadeira, colocou n Joguei fora o fone, meus ouvidos quase sa Aí disse pra ele: ‘Olha, parar com isso, tá fora pois, li uma entrevista c em que me chamava de donna. Mas era só o no gundo álbum, e eu só que saísse perfeito, en o cara não estava nem A despeito das circuns nada ideais, ‘Futu lançado em Julho de contém diversas péro Be-Bop. Sister Seagull Whispers são puro ex da arte de Nelson, pon por guitarras vigorosa mais bela de todas, M Heaven, um single qua feito que merecia tr mar-se em hit bomb “Realmente uma das faixas favoritas do Be-B tão simples...” A banda voltou ao estú fim daquele ano, agora tecladista Andy Clark a Atento para não incor mesmos erros de ‘Futu Nelson insistiu em pro álbum. A EMI, por su impôs um compromisso minando que se juntasse genheiro de som John do Abbey Road, que preparava-se para passa tágio de produtor. “Jo verdade, tinha cuidado d do som de ‘Axe Victi moçamos em St. John’s W vimos que poderíamos r aquilo juntos. Um ex relacionamento profissi
Studios, ndo os uco mais eus voRoy, de no topo. porque angram. , se não ra!’. Decom ele e prima osso seó queria nquanto m aí.” stâncias urama’, e 1975, olas do e Stage xemplo ntuadas as. E a Maid In ase perransforbástico. minhas Bop. E é
údio no a com o a bordo. rrer nos urama’, oduzir o ua vez, o, detere ao enLeckie, e então ar ao esohn, na de parte tim’. AlWood e resolver xcelente ional.”
Momento de descontração na fase de ‘Sunburst Finish’
O MELHOR DO BE-BOP
FUTURAMA (1975)
Demonstrando equilíbrio após uma estreia bastante ambiciosa, o Be-Bop Deluxe apostou numa produção ainda mais sofisticada em ‘Futurama’, ponto alto de uma carreira ainda não compreendida pelos mesmos críticos que assimilavam outros expoentes do gênero com maior benevolência. O álbum é repleto de números vigorosos, ainda que marcadamente toca-
dos pela polidez habitual do mesmo Roy Thomas Baker de ‘A Night At The Opera’, do Queen. Os destaques óbvios pertencem à segunda faixa, Love With The Madman, bem como às seguintes Maid In Heaven e Sister Seagull - número que obteve reconhecimento para o trio de Art Rock mas é em baladas de extremo requinte como Jean Cocteau, onde se percebe todo o apuro instrumental da banda por um território que beira a brasileiríssima Bossa Nova. Extravagância? Não: apenas benéfica amostra de autossuficiência técnica e inspiração que transcendiam o simples ideal de “fazer sucesso a qualquer RH custo”.
Fox, Nelson e Tumahai: perfeccionismo
FOX, NELSON, TUMAHAI
Com a formação de ‘Futurama’ reduzida a trio, o Be-Bop Deluxe alcançou o cobiçado estágio dos atos de Art Rock para os quais a fronteira entre Hard Rock e Progressivo tornava-se simples convenção estética. Graças à perícia de Simon Fox (bateria) e Charles Tumahai - baixista de amplos recursos, responsável pela dinâmica inusitada da banda em seus momentos mais ousados - Bill Nelson usufruía da segurança necessária para distender limites da própria execução instrumental, transformando a performance do grupo num verdadeiro deleite para os ouvidos, sem laivos de egocentrismo de uma ou outra parte.
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O álbum resultante, ‘Sunburst Finish’, lançado no início de 1976, é uma obra-prima. Nelson alcança o auge como compositor, exibindo um nível renovado de senso artístico e autoconfiança, enquanto a banda é o complemento perfeito para a sua formidável performance na guitarra. Como a fechar uma trilogia lógica entre ‘Axe Victim’ e ‘Futurama’,
Em 1974, antes da gravação de ‘Axe Victim’
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‘Sunburst Finish’ inclui um tributo pungente a Jimi Hendrix na eloquente Crying To The Sky. “Eu tinha visto Hendrix no Ready Steady Go! (n. do t. programa de TV exibido na Inglaterra) ao fazer a primeira aparição dele por aqui (a 16 de Dezembro de 1966), quando executou um solo com os dentes. Era uma sexta à noite, e depois fui encontrar meus amigos no Mecca, o
salão de baile local. Ficamos a noite inteira comentando sobre a performance dele, totalmente chapante.” ‘Sunburst Finish’ também galgou o Top 30 com o single Ships In The Night. Com seu sintetizador etéreo e um toque Reggae, foi composta em parte para aplacar os ânimos na EMI, que pedira qualquer coisa mais similar a um hit pop. “Meio que compus à força, pensando que não sairia grande coisa”, admite Nelson com um toque de arrependimento. “Acontece que foi um sucesso. Tem o lugar dela, mas é provavelmente minha música mais fraca para o Be-Bop. Pensei que não estava fiel aos meus princípios com aquela faixa. Ao mesmo tempo, fez muito bem pra gente. Abriu um certo campo para a banda, e as pessoas começaram a buscar o álbum como resultado.” ‘Sunburst Finish’ chegou ao Top 20 inglês, reforçado por uma tour mais extensa onde as ideias conceituais de Nelson para o cenário de palco atingiram a concretização. ‘Life In The Air Age’, o próximo álbum, seria acompanhado por takes do clássico Metropolis, de Fritz Lang. Nos shows, luzes especiais, tubos transparentes dos quais a banda saía e imensas projeções de capas “pulp” de revistas, ao passo em que Nelson se igualava a qualquer um dos grandes guitarristas que à época imperavam sobre um palco. O show tinha seu clímax com o músico suspenso, abraçado à guitarra, em pose semelhante à da modelo que está na capa do álbum, pouco antes do instrumento explodir como numa fogueira ritual. “Tínhamos uma guitarra feita de encomenda para nós, barata, mas similar à minha Gibson e preparada por um departamento de efeitos especiais encarregado de instalar
um equip Tinha func mas na pr motivo, n a chave no técnico re formance ao derram tocar fogo Drury Lan pulsos.” Digna de l motivo d tour nort pelos Esta Para se te EMI em Deluxe fo ao Lynyrd Blue Öyste “O Skynyr bra-se Nel a coisa fo mente ign a turma d estranho. um show e horas vag completam de grau e como um subia ao p selvagem, ficadores. De volta à Ships In T ish havia d maior. O á Music’, la 1976, qua Nelson m acerca do cial. Frust só queria mais antig “Quis de ‘Modern vencido p gravadora
pamento pirotécnico nela. cionado bem nos ensaios, rimeira noite, por algum não acendeu quando virei o show. Bem na hora, meu esolveu se inspirar na pere de Hendrix em Monterey mar fluido de isqueiro e o. Ao usarmos o truque no ne Theatre, acabamos ex-
lembrança, apesar de por diferente, foi a primeira te-americana da banda ados Unidos naquele ano. er ideia da inabilidade da promovê-la, o Be-Bop oi entregue às feras junto d Skynyrd, Ted Nugent e er Cult. rd foi legal conosco”, lemlson, “mas com os outros, oi difícil. Fomos praticanorados por Ted Nugent e dele. Nugent era um cara Quando estávamos entre e outro, em aviões ou nas gas, o visual dele mudava mente. Colocava óculos se curvava todo, andando m velho. Aí, de repente, palco com aquele cabelo , saltando entre os ampli. Uma loucura só.” à Inglaterra, o sucesso de The Night e Sunsburst Findado à banda um público álbum seguinte, ‘Modern ançado em Setembro de ase alcança o Top 10. Mas mostrava-se contraditório o novo status mais comertrado com as plateias que am ouvir as faixas do set go, decidiu mudar. esfazer o Be-Bop após Music’. Mas acabei conpelo empresário e pela a a gravar ‘Drastic Plastic’.”
A AVENTURA DE ‘DRASTIC PLASTIC’
Lançado em Fevereiro de 1978, o disco sinalizou uma mudança anunciada no som do Be-Bop. As faixas eram mais rápidas e diretas, com grande ênfase em eletrônica e inovações no estúdio. Muito de suas ideias embrionárias se enquadrariam no próximo projeto de Nelson, o Red Noise. “Certamente que em ‘Drastic Plastic’ havia algo daquele som seco da caixa que já tinha aparecido no material de Bowie. E estávamos criando loops de fita com a bateria, coisas assim. O disco também incluía um dos primeiros sintetizadores de guitarra ouvidos na Inglaterra, um negócio chamado Hagström Patch 2000 que você usava para marcar as notas.” Missão cumprida, ele encerrou a banda. Hoje em dia, um Bill Nelson setentão parece mais ocupado que nunca, mantendo uma carreira-solo que já se estende por dúzias e dúzias de álbuns.
Lança vários por ano (através de seu site, Dreamsville) para uma fiel base de fãs que o acompanha desde os dias de Be-Bop Deluxe. O último é um triplo chamado ‘Auditoria’, com outros a caminho. “Creio ter uns 10 discos inéditos ainda no gatilho”, afirma calçado em seus chinelões de feltro Yorkshire, no estúdio doméstico que mantém nos arredores de York. Nelson admite não estar muito em sintonia com o tipo de música atual, apesar de os fãs assegurá-lo de que o som que produziu junto ao Be-Bop Deluxe não ficou muito datado. Uma nova edição remasterizada de ‘Sunburst Finish’, em versão Deluxe com faixasbônus e takes ao vivo dos arquivos da BBC, além de vídeos, proporcionou a ele a oportunidade de vislumbrar novamente o que fizera nos anos 1970. Não é algo que faça
muito à vontade, preferindo, ao invés disso, dedicar-se ao novo projeto, mas trata-se de um legado do qual, no mínimo, pode se orgulhar. Acompanhado por guitarristas como Stuart Adamson, John McGeoch e Steve Jones nos velhos tempos – além de influência-chave para uma nova geração de aficionados de seu estilo que incluem o Earth and Sunn – Nelson permanece um típico “axe hero”. “Para ser franco, sempre me senti mais à vontade como músico de estúdio, mais que sobre o palco. Amo guitarra desde os meus dez anos, quando comecei a tocar, e isso é parte essencial da minha vida. Mas não é somente sobre tocar riffs. Há diversas outras coisas também importantes. Eu quis sucesso para o Be-Bop, e gostaria que tivéssemos chegado mais longe. Era como deixar-se levar numa aventura.”
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P - Rodrigo Hammer Curta e compartilhe