TST Rodrigo Hammer’s
The Sound Tribune
QUO A VERDADE POR TRÁS DA LENDA
Número 021 - 19/05/2019 - 25/05/2019
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TST ENTREVISTA
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O Status Quo sobre todos esses anos de riffs repetitivos por meio século. Mas que história é essa de um primeiro álbum lisérgico? E o negócio do nariz perfurado? “Você não vai querer nem saber”, avisa Francis Rossi. ENTREVISTA A MARK BLAKE - TRADUÇÃO DE RODRIGO HAMMER
ecentemente, Francis Rossi se viu nu, refletido no Na fase pré-Punk dos anos ‘70, o estilo cru do quarteto era espelho do banheiro. “Pensei, ‘quem é esse velho a antítese dos solos de teclado do Rock Progressivo (o adoaí?’, ironiza. “O problema é que estou chegando lescente Paul Weller - líder do The Jam - diz ter tido uma àquela certa idade.” Beirando os 70, ele se preocupa com epifania musical ao assistir a um show do Quo no Guildtudo. Hoje, por exemplo, é com os dois quilos extras que ford Civic Hall). Até o momento, o grupo atingiu a marca ganhou em torno do diafragma. “Tenho que me livrar de mais de 118 milhões em vendas, e na Inglaterra, pelo disso”, afirma, apontando para o que aparenta ser uma menos um membro da família britânica já possuiu uma monumental barriga inchada. O líder do Status Quo está cópia da compilação ‘12 Gold Bars’. sentado com sua guitarra à mesa de mixagem de sua casa Mas as coisas mudavam. Em 1982, eram a principal atração no estúdio caseiro que possui em Surrey. Do lado de fora, do Monsters of Rock em Castle Donington; um ano deárvores e arbustos emolduram a elegante residência da pois, faziam uma aparição na comédia de TV Cannon and família que divide com a segunda esposa, Eileen, e alguns Ball. À época, o baterista original John Coghlan se fôra, dos oito filhos. Não é uma vida dura. “Tenho que cuidar logo seguido pelo baixista Alan Lancaster. Rossi e Parfitt daqui”, pontua, “está ventando no jardim.” reiniciaram a banda, chegando às paradas, mas como meras Eis um cara cheio de contradições. O inquieto guitar hero dos atrações para os tabloides como figurantes da cena nos anos ‘70 parece irritado com o atual modelo de trabalho. ‘Le- anos seguintes. Em 2009, o The Sun chegou a pôr a leilão vo tudo a sério,” suspira. “E às vezes, perco a paciência.” Co- o rabo de cavalo então recém-cortado de Rossi, daí sua denhecido pelo ego, Rossi não bebe e não cheira há quase claração: “Isto é showbusiness: show e business”. três décadas. Em 2019, também não Uma autobiografia intitulada ‘I Talk Too NÃO MERECEMOS fuma, trabalha direto e lançou o novo Much’ (junto a uma tour de lançamento no John Reis, do RFTC/Hot álbum ‘We Talk Too Much’ junto à can- Snakes, sobre a rítmica de Rossi estilo talk show) inclui isso e muito mais. tora Hannah Rickard. Muitos presumiTema recorrente, ainda é o desdém da crítica “Considero a trajetória do am que a morte do eterno parceiro Rick Status Quo inspiradora. em relação ao grupo. “Os únicos críticos que Grande parte da era psiParfitt, em 2016, significaria o fim do codélica seguiu o filão do contam, são os que compram nossos discos”, Progressivo. Já o Quo, se costuma afirmar Rossi. Como Coghlan coStatus Quo, mas Rossi retorna com a encontou no Boogie, mas o banda no Verão, para uma tour. mentava, “sempre um brincalhão.” Boogie é cruel. Fácil tocar, quase impossível de ser bem tocado. Já houve banda melhor nessa repaginação do Rock? Odiava Boogie até ouvir Status Quo.”
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Você cresceu no Sul de Londres, com pais ítalo-irlandeses, mas qual foi o primeiro tipo de música que lhe impressionou? Sempre rolava Guy Mitchell e Ópera, mas provavelmente foi Cathy’s Clown, do Everly Brothers. Também Little Richard e Jerry Lee Lewis. Esses dois tinham a ver com música fisicamente, e eis uma coisa que o Quo também tinha a ver.
Qual era a sua visão dos Beatles e dos Stones? Curtia a ambos, mas adorava os Beatles pela coisa da composição. ‘Sgt. Pepper’ foi legal, mas preferia ‘Rubber Soul’ e ‘Revolver’. Gosto dos Stones também, mas ainda não entendo como eram considerados tão legais, quando Keith Richards parece tão descuidado. Mas aí, numa palhetada, ele arrebenta, e você fica de bobeira.
O Spectres teve uma série de fracassos antes de trocar o nome para Status Quo. E o cover para We Ain’t Got Nothing Yet, do Blues Magoos, já mostrava um som de garagem. Mas ninguém comprou. Não dá para acreditar em tanta sorte depois de tantos fracassos. Estava rolando ‘I (Who Have Nothing), Hurdy Gurdy Man, We Ain’t Got Nothing Yet. Então, bum! Viramos o Status Quo e Você e Lancaster tocaram o primeiro fizemos ‘Pictures of Matchstick Man’ que foi show num clube esportivo em Dulwich, um sucesso (em Janeiro de 1968). Como foi em 1963. Dois anos depois, com ele no possível? Parecia coisa de filme. baixo, tornaram-se os Spectres, com Rick Parfitt, Coghlan e o organista Jess Você encontrou Rick Parfitt quando a banda dele estava no mesmo programa Jaworski. Já tinha tudo planejado? Não. Adorava música, mas também queria do Spectres, no Butlin’s, em Minehead. me mandar dali. Não queria entrar no negó- Parece que logo se entrosaram. cio de sorvete da família, e ao mesmo tempo Isso mesmo. Ele entrou, porque podia cantar ficar longe daquelas ideias de “brexit”, já em dueto, como os Everly Bros. Foi isso jusnaquela época. Assisto a um canal da TV tamente que me deixou puto depois, quando onde tem um programa chamado Talking resolveu passar para a voz irada de Rock pePictures. É ótimo assistir, mas quem quer sado. A primeira noite que tocou conosco, voltar aos anos ‘50? Não sou tão nostálgico. ainda não tinha decorado o set e os outros
É verdade que se sentia meio estranho na escola, até topar com Alan Lancaster? Eu tinha um sotaque engraçado. Um pouco italiano, um pouco do Norte, porque minha mãe era de lá. Então, isso me fez ficar prevenido. A família de Alan era mais de londrinos tradicionais, e eu imitava o estilo deles. Tornei-me Jack The Lad para me adequar, e soava falso.
O sorvete não vai derreter. Francis (esq.) junto ao irmão mais novo em 1956.
O Spectres em 1965: Lancaster, Rossi, John Coghlan e Jess Jaworski.
Hitmakers em ‘Matchstick Men’, 1968. Rossi, Parfitt, Coghlan, Lancaster e Lynes. O Quo no auge, anos 1970: Coghlan, Parfitt, Lancaster e Rossi. Sem olhar para trás.
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Reunidos para o show do Live Aid, no Estádio de Wembley, 1985 Primetime TV com Cannon & Ball: Rick e Rossi preparam-se para Marguerita Time. A banda nos anos ‘80. Parfitt e Rossi juntos a John Edwards, Andy Bown e Jeff Rich.
A tour Frantic Four, dia de estreia, na Manchester 02, 06 de Março de 2013. Parfitt, Rossi, Lancaster e Coghlan.
O Rock ‘n’ Roll de Rick e Rossi em meados dos anos ‘70: “Não éramos bons, mas tínhamos algo a mais.”
ficaram a fim de expulsá-lo. Aí, argumentei que era meu chapa. Foi quando nos tornamos inseparáveis. Costumávamos brincar com as pessoas - andando por aí de mãos dadas. Tornou-se eu e Rick versus o resto da banda.
‘Pictures of Matchstick Men’ foi o momento psicodélico do Status Quo. Você chegou a provar LSD? Não, nunca. Eu era antidrogas na época. Embora sempre fôssemos deslocados. Lembro de tocarmos Be-Bop-A-Lula e outros números de Chuck Berry no Butlin’s e retornarmos a Londres onde todo mundo estava levando Ride Your Pony (o hit de Lee Dorsey de 1965). Porra! O que era aquilo? Estávamos em pleno boom do Soul, então caímos pra dentro. Se você ouvir direito a faixa, vai ver que é o mesmo tom de guitarra que passamos a adotar no Quo. Também fomos a banda de apoio de Madeline Bell (a cantora norte-americana de Soul) em ‘67. Ela era adorável, e costumávamos fazer dueto em It Takes Two. Fazíamos o possível para continuarmos trabalhando.
Também ia rolar um trio no estilo do Cream com Rick Parfitt e Kenney Jones em 1969, não foi? Você ia mesmo sair da banda? Paramos de emplacar hits, então deve ter sido. Já tínhamos excursionado com o Small Faces. Stevie (Marriott) foi a primeira pessoa a nos apresentar maconha, mas conhecíamos
os caras, porque eram clientes da van de sorvete do meu pai em Walworth Road. Lembro do Kennef - como chamávamos Kenney - vindo até a minha casa e dizendo “Oi, Mr. Rossi, eu comprava sorvete de você.” Ele comentava comigo e com Rick que tinha algo de especial na nossa banda. Então, fizemos um ensaio num lugar horrível ao sul de Londres. Rick no baixo, e Kenney não parava de tocar. Ficou assim um tempão. Foi péssimo. Desculpa, Kennef.
Depois que Roy Lynes saiu da banda em 1970, você acha que ‘Dog of Two Heads’ moldou o que se tornaria conhecido como o “som do Quo”? No começo de 1968 éramos uma banda de Rock com um set de Soul e um single psicodélico. Estava destinado a não funcionar, então voltamos a fazer o que fazíamos em ‘65: tocar Rock ‘n’ Roll. O som da banda tem um pouco de Blues, Rock, Country, cantigas irlandesas. Nosso estilo também inclui coisas que lembram o lance do garoto escocês tocando o tarol para a batalha, animando as tropas e assustando o inimigo. Juntos contra o mundo, certo?
‘Piledriver’, de 1972, foi o primeiro disco do Quo a entrar no Top 5, mas você é um tanto crítico acerca daquela fase. Três caras na capa, de cabeça baixa. Lindo!
Mas também havia alguma coisa na música que não era tão boa. A mesma coisa em relação a ‘Hello’ (o álbum de 1973 que chegou ao número 1. Todo mundo romantiza esse fato, mas preste atenção na parte instrumental de All The Reasons. Acho ‘On The Level’ (de 1975) melhor. Melhores composições e poucos erros.
senão, meu ego se perde.
Em I Talk Too Much, você declara que 1977 foi um ano marcante para o grupo. Foi ótimo, mas não percebemos na época. Ainda pensava que aquilo não iria durar muito. Havíamos lançado ‘Rockin’ All Over The World’ e continuávamos preferindo nem pensar caso desse errado. Os fãs não se importam com os erros, Mas o montante de dinheiro que fazíamos, também compensava. O estilo ainda assim. Percebi isso, quando fizemos aqueles de vida do Rock começava a tomar conta. shows da tournée Frantic Four (a tournée de reunião com Rossi, Parfitt, Coghlan e Álcool e drogas passou a fazer parte da Lancaster realizada entre 2013 e 2014). rotina de vocês? Não achava que éramos tão bons. Mas o Tornei-me um babaca. No meu caso, foi som da plateia assim que subimos ao aquele negócio - de tentar provar algo palco no Hammersmith Odeon... Pensei, para alguém - e não é assim que sou. Esentão: “Ok, isso é só para Alan e John.” távamos num restaurante mexicano em Montreux com o Queen, e todo mundo Ainda bem que estava errado. de repente gritou: “Bebe uma!” E bebi O que você acha que as pessoas seis margheritas. Todos aplaudiram e bebi curtem tanto no som do Status Quo? mais seis. Foi como caí de cara na bebida. Não sei, nem quero saber, porque iria ficar Aí virou, “dá uma cheirada!”. Mas nunca encucado com isso. Sempre chamamos teria provado pó, se não fosse pela bebida. atenção. Depois de um show ano passado, John Edwards (baixista atual do Quo) Você ficou sóbrio no começo dos anos disse que tinha botado pra quebrar e man- 1990. Arrepende-se de ter falado tanto dei ele se fuder. Aí ele me perguntou se eu sobre drogas? Agora, o mundo inteiro não gostava de elogio. Respondi que ado- sabe que tem um rombo no septo. rava, mas eles ficam comigo e isso quer Não me arrependo. Ainda faço palestras dizer que amanhã à noite estarei mais em escolas e digo à garotada como você cheio de si, até cair de cara no chão. Tenho se sente fantástico e o que acontece deque me manter sob controle, porque pois. Para demonstrar o que houve comi-
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go, passo um fio por uma das narinas e retiro pela outra. Tenho medo de fazer a cirurgia de reparo, então meu nariz é sempre dolorido, resseca e se encrosta com facilidade. Você não gostaria nem de ver.
puto ao precisar reunir novamente os caras. Liguei pro Rick - ele estava com uma mão na frente, a outra atrás - e disse que queria a banda formada de novo. Frisei que queria ao meu modo. E ele respondeu que faria como eu quisesse. Claro que assim que nos acertaDepois de 1976, o Quo não excursionaria mos, ele começou a sacanear. mais pelos Estados Unidos até ‘97. É chato nunca ter estourado por lá? Como assim? Sempre penso que se o Status Quo tivesse Alguém conseguiu plantar a semente da inacontecido por lá, eu e Rick já estaríamos segurança na cabeça dele. Ele sempre reclamortos, sem dúvida que sim. Foi o que acon- mava de ser eternamente o número 2. Uma teceu ao Slade. É aquela coisa da insegu- vez, chegou para mim no ônibus e disse que rança. Estava com medo de que tudo era tão bom quanto eu. Perguntei de onde esterminasse ali. tava vindo tanta angústia.
Você cita o Slade, mas quem mais era rival nos anos ‘70? Lembro de ler nos jornais ingleses que o Quo era um monte de merda. E de voltarmos dos Estados Unidos para encontrar Suzi Quatro fazendo a mesma coisa que a gente. Puro Status Quo. O mesmo com aquele álbum ‘Mud’, Tiger Feet, só que o lance tocado mais rápido. Já o Thin Lizzy era incrível, mas tentávamos não prestar muita atenção.
Rick Parfitt é mais mencionado no seu livro, que a sua mulher e a sua ex. Foi um relacionamento que dominou a sua vida? É bem provável. Adorava ele, e mesmo quando a nossa amizade entrava em choque, eu não chegava a odiá-lo. Se fosse ódio de verdade, não teríamos convivido por tanto tempo.
Apesar disso, nos últimos anos, você criticava o modo particular de como ele cantava e se apresentava. Alguém, sem citar nomes, disse a Rick que ele tinha que parecer macho. Ouça só a voz incrível dele em All The Reasons. Aquele era o Rick real, não aquela bosta de Rock rosnado - de óculos escuros, fazendo biquinho e se embebedando. Lembro dele olhando a foto do Keith Richards - aquela em que está deitado, em coma, pálido como uma vela - e dizendo, “Porra, olha só isso!” E o triste é que fizemos o nosso melhor quando estávamos bêbados e cheirados.
Ele aparece no seu livro, às vezes, como uma figura infantil. Era como um garoto, e assumi o papel de pai dele. Lembro do nosso empresário, David Walker, nos dizendo nos anos ‘90: “Tudo vai terminar para vocês em dois anos, sabiam?” Aquilo deixava o Rick assustado. Ele costumava me perguntar: “Vamos ficar bem, não vamos, Frame?” Esse era o meu apelido pra ele. E eu respondia que mesmo que isso acontecesse, é o que rola no showbiz.
Vocês encerraram a banda em 1984, mas se reuniram para o Live Aid. Foi o que lhe encorajou a reformar o Quo um ano depois? Não. O nosso empresário à época dizia que tínhamos um número x de álbuns para gravar pelo nosso contrato, e que não seríamos pagos se não gravássemos. Fiquei
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Talvez tenha sido decisão sua reformar o Quo sem Alan Lancaster, que resolveu lhe processar pela posse do nome? Sim. A gravadora queria o Status Quo, e na cabeça deles, isto era eu e Rick. Alan sempre achou que o Quo era a banda dele, mas o público preferia os discos com a minha voz
Três acordes, três álbuns: Rossi passado a limpo, por Mark Blake O CLÁSSICO
Batizado segundo o dito de um dos roadies da banda, o quarto álbum foi o primeiro sem o organista Roy Lynes. Riffs meticulosamente dobrados turbinam faixas como Mean Girl e Railroad, enquanto momentos ao estilo da contagiante Gerdundula sugerem o elo perdido entre Folk Irlandês e algo de Klezmer ídiche.
O CASCA-GROSSA
Gravado no Apollo de Glasgow em 1976, o melhor do Frantic Four: 90 minutos que incluem as furiosas Junior’s Wailing, Backwater e Big Fat Mama, temperadas pelo comando de Rossi à plateia: “Se poupem. Logo vão estar esgotados.” Curiosamente, a feroz Is There a Better Way antecipa Stranglers em seus dias de glória. Punk!
O TESOURO ESCONDIDO
Até 1980, a coletânea indispensável de 12 faixas para qualquer fã do Quo. Tudo está aqui, de Rockin’ All Over The World, passando por Down Down e Paper Plane, até a faixa de encerramento, Living On An Island, hino de Rick Parfitt em ritmo de Beatles à solidão do exílio fiscal na solidão de Jersey.
anasalada. Aí, Alan resolveu me acusar de ter roubado a herança do filho dele, ao fazer aquilo sem ele. Também não estava curtindo a forma como a música se desenvolvia. Tinha odiado o hit Marguerita Time. Dizia que não suportaria olhar para a família dele de novo, depois daquilo.
O Status Quo logo se tornaria famoso por golpes publicitários: tocando no Butlin’s, se apresentando em quatro cidades diferentes em um só dia, processando a Radio 1... Parei de beber e cheirar pó, mas David Walker ainda estava aprontando e veio com todos aqueles esquemas. Ele nos disse para fazemos aquela apresentação na BBC para comemorar o aniversário da Radio 1, prometendo que a emissora iria tocar nossos discos. Eles não tocaram, então disse que ele fosse receber a grana do show. Atraímos 120 mil pessoas, então não era somente pelo aniversário, mas sobre lucro. David não se importava de cobrar o dinheiro, então propôs que processássemos a BBC. Ridículo. Foi um golpe total, deu errado e acabamos perdendo o dinheiro.
Isso decepciona parte do público, porque acham que vocês só estão nessa por dinheiro? Os músicos se divertem quando eu digo isso, mas se você só quiser ser um deles, fique em casa tocando. Uma vez que sobe ao palco, aceite que está no negócio.
Alan Lancaster ficou satisfeito ao ver a reunião de 2013 dar certo, mas você não. Já chegaram a se falar depois daquilo? Há uns dois anos, não. Ele apareceu de repente, um dia desses, no meu FaceTime, me insultando, repetindo que eu estava arruinando a vida dos filhos dele. Respondi: “Al, nem comece com isso, que corto agora mesmo a ligação. Aí ele quis continuar, apertei o botão e nunca mais nos falamos.
Depois que Rick Parfitt morreu no Natal de 2016, você afirmou que ele nunca voltara a ser o mesmo depois de um ataque cardíaco ocorrido quatro meses antes. Os filhos dele não gostam quando falo, mas ele não era mais o mesmo. Para mim, já tinha morrido naquele chão de hotel na Turquia. Quando me encontrei com ele no hospital, ele pensava que ainda era 1984. Disse que estava formando uma banda com John Edwards que só tinha tocado no álbum solo dele (‘Recorded Delivery’). O que tinha gravado nos anos ‘80. Aí pensei, “Porra, ele acha que é 1984.” Mas às vezes, o velho Ricky voltava. Chegou a telefonar para John e disse que estava nu no sofá, assistindo aos esportes na TV. Esse era o puro Rick - nu, no sofá, assistindo TV.
Como você gostaria que o Status Quo fosse lembrado? Nunca penso sobre isso. Mas reconheço que as pessoas que nos amam, continuarão a se lembrar de nós. Assim como as pessoas que nos odeiam também vão. Ser lembrado, é que é o mais importante.
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