TST 007

Page 1

TST Rodrigo Hammer’s

The Sound Tribune

WISHBONE ASH Pioneiros do Power Metal

Número 007 - 10/02/2019 - 17/02/2019


A saga do cavaleiro de Torqu Mesmo como expoente do Terceiro Escalão do Hard Rock Britânico, o WISHBONE ASH elevou a obra ao status de fundamental para o surgimento do que, uma década depois se refletiria nas origens da NWOBHM Texto: Chris Chantler - Tradução e adaptação: Rodrigo Hammer

O som de duas guitarras duelando em harmonia tem sido parte familiar e crucial do Rock desde a origem dos tempos. Na verdade, o homem responsável por essa extraordinária dinâmica ouvida em discos e shows de gigantes como Iron Maiden e Judas Priest ainda caminha entre nós. O Wishbone Ash foi pioneiro no uso dos instrumentos em dueto, algo fundamentado na trilogia inicial de álbuns formada por ‘Wishbone Ash’ (1970), ‘Pilgrimage’ (1971) e ‘Argus’ (1972). Na época, o Thin Lizzy não passava de um trio de Folk-Blues, o Priest uma banda de pub com apenas uma guitarra, e Steve Harris um simples estudante de Leytonstone sonhando em ser famoso no West Ham United.

2

Todos eles viram suas expectativas serem detonadas pelos duelos épicos entre Andy Powell e Ted Turner, mas conforme o próprio Powell se recorda, o Ash já provocava sensação nos músicos do período ao se apresentar ao vivo, no fim de 1969. “A primeira vez que tentamos harmonizar as guitarras num ensaio a coisa foi tão impactante para nós, que percebemos, de fato, sermos capazes de manter aquela dinâmica. Eu tinha feito parte de bandas Soul com metais e tal, e na primeira música que eu e Ted testamos aquilo, Blind Eye, ainda tínhamos aquela ideia de fazermos os riffs parecerem uma seção de sopros. Testávamos também quando abríamos para bandas como Deep Purple, Yes

ou Colosseum, e acho que ninguém sacava aquele tipo de som da forma que fazíamos. Era algo que incendiava os shows.” De fato, o entusiasmo do Purple por sua banda de abertura foi o que proporcionou ao quarteto um contrato para gravar o primeiro disco, conforme lembra o baixista/vocal Martin Turner: “Ritchie Blackmore nos viu tocando só um pouco e ficou impressionado. Ele não falou nada comigo, mas uma semana depois, recebemos uma ligação telefônica de um sujeito chamado Derek Lawrence, que tinha produzido o single de Hush para o Purple. Ritchie havia telefonado pra ele e comentado sobre nós, de como éramos bons. Ele contou que tinha um amigo

que se tornara chefe de Re Públicas na MCA, em L tomássemos um voo pa podia garantir um con porque queriam assinar bandas novas imediatamen foi assim que aconteceu. para L.A, voltou com um contrato e terminou relaci como produtor nos primeiros álbuns. O tom característico das gu gêmeas veio do problem Martin Turner e do ba Steve Upton não conseg encontrar um guitarrista quado que substituísse Gl irmão de Martin. O entã vinha tocando junto com o de Empty Vessels des metade dos anos 1960 Glenn se mandara quando


os os uay

Origens do quarteto: trabalho duro nas primeiras tours

elações .A. Se ara lá, ntrato, r com nte. ER Ele foi super onado três

uitarras ma de terista guirem a adeenn, o ão trio o nome sde a , mas o gru-

Durante o lançamento do álbum de estreia: guerreiros em busca do sonho

3


Nos tempos de ‘Wishbone Four’: o que fazer após ‘Argus’?

Foto promocional para ‘Pilgrimage’, ainda com visual hippie

4

Powell/Wisefield em dueto

Andy Powell na tour de ‘Argus’

po se mudara da sonolenta Torquay a Swingin’ London. O conceito das tarras geminadas” não era totalm inédito; Martin Turner é justo ao cre o Blossom Toes, banda psicodélic glesa de vida curta que exibe i calações de guitarra em seus dois ú álbuns e cujo engenheiro de som sido um amigo seu. “Topei com Jim gan, um dos guitarristas deles, e el citou o Wishbone Ash como conhe pelas guitarras em harmonia: “Eu uma banda que tocava assim, cham Blossom Toes!”. Aí respondi: “É, Você teve mesmo. E reconheço como uma influência, sim.” Referência semelhante atravessou mas gerações, quando Steve Harris a honra de se encontrar com Marti Planet Rockstorm, em 2016, e aper mão do seu ídolo no baixo. “É verd batemos um papo e ele admitiu tinha sido influenciado por meu esti instrumento. Mas em função das guitarras em uníssono, sempre fomo músicos de outros músicos’. O pró Thin Lizzy chegou a me confessar sempre que podiam, estavam primeira fila nos assistindo. Uma n depois de um show quando fomo uma volta, Phil Lynott estava lá. Ele bém revelou que era o tipo de som desejavam alcançar.” Já Andy Powell não chegou a cruzar Harris, mas tem consciência do nú de admiradores que acumulou ao l dos anos. “Estou em dívida com el ter nos reconhecido dessa forma. Te um monte de fãs do Iron Maiden vem aos nossos shows, principalm na Europa. É sempre fascinante inv gar a árvore genealógica do Rock scobrir as raízes.” Martin é rápido ao apontar muito fãs mais célebres que se tornaram sucedidos comercialmente - muito que o próprio Wishbone Ash - por o recurso das guitarras em harmo ção, mas lembra que também o g teria sido responsável, em parte, p manter relutante em relação a se a tar às regras mais comerciais da In tria Fonográfica. “No começo dos ‘70, a BBC quis incluir Blowin’ Fre


y para “guimente editar ca innternicos tinha m Cree me ecido tinha mada Jim. isso

algus teve tin no rtar a dade, u que tilo no duas os ‘os óprio r que m na noite, s dar tamm que

r com mero ongo e por emos n que mente vestie de-

s dos bemmais r usar onizagrupo por se adapndúsanos ee no

Top of The Pops para nos divulgar, mas argumentamos que estávamos na Holanda excursionando. Qualquer outra banda teria cancelado a agenda e ido fazer o programa, mas para nós era algo suspeito; um monte de garotas de calça colada acenando para homens de negócio que acabavam de chegar em suas casas do trabalho. Não estávamos a fim de ser associados com aquele tipo de coisa.” “Bandas como a a nossa acharam que era piada”, concorda Powell, que se recorda das inúmeras discussões acerca de como poderiam se apresentar ao público. “Claro que gostaríamos de ter sido populares. Mesmo hoje, preciso de credibilidade. Acho que havia parte da banda que provavelmente teria se vendido um pouco mais fácil”, confessa com certo ar de ironia. “Mas isso acontece com qualquer uma, de trocar a autenticidade por um pouco de fama e glória.” Felizmente, um grupo que encarava as coisas com seriedade no começo dos anos ‘70, não precisava necessariamente dublar um playback para adolescentes, já que outras possibilidades se abriam. “Dava para ir à BBC tocar aquelas faixas longas no rádio, porque John Peel reinava no pedaço e consagrava bandas como a nossa”, frisa Powell. “Também você ia aos Estados Unidos e ouvia a sua música tocando em rádios FM que se tornavam mais fortes. Também shows como no Filmore, onde o público era aberto a assistir a uma jam de 10 minutos como a que fazíamos em Phoenix.” Todavia, por volta do décimo álbum, ‘Just Testing’, momento em que os anos 1970 chegavam ao fim após dez anos de muitas tournées, Turner recorda-se de alguns colegas de banda que se mostravam saturados. “Havia muitos grupos que tinham chegado ao sucesso após terem sido bandas de abertura para nós anos antes, e acho que estava rolando algum tipo de ciúme profissional”, sugere. “Se o Saxon e o UFO conseguiram, porque não temos nenhum single no topo. E eu respondia que não éramos esse tipo de banda. Não dá para expressar frustração sobre falta de sucesso quando ele só veio em 1973. Es-

ARGUS (1972)

Quando a classificação “Power Metal” ainda não era empregada para definir grupos de Hard Rock cuja temática perpassava a mitologia bretã dos conquistadores de capa e espada e o Heavy Metal sequer sonhava com as futuras referên-

távamos em 1980 e tínhamos conseguido 250 mil dólares adiantados para gravar um novo disco, além de 8 mil libras em cash pelo último show. E você chama isso de fracasso? Deviam estar loucos, meu Deus!” Fato é, que ‘Just Testing’ continua um álbum fantástico, com o Ash repaginado para encarar os anos 1980, mas o guitarrista Laurie Wisefield - que substituíra um exausto Ted Turner em 1974, tocando com a banda até 1985 - lembra-se da época como um processo tenso e desgastante: “Começávamos a nos esfacelar. Martin passava tempo demais no que se dedicava a fazer, a mulher de Andy estava grávida, daí ele não estar muito concentrado. O negócio é que nunca tínhamos dado um tempo. Se tivéssemos tirado um ano de descanso, talvez ainda estivéssemos juntos, mas a coisa não rolou e tudo implodiu.” Quando ‘Just Testing’ não chegou ao Top 40 inglês, a banda começou a passar por uma crise de confiança. A fim de reverter o declínio inevitável, o consenso era de que após uma dé-

cias a épicos à la Dungeons & Dragons, o Wishbone Ash surgiu com ‘Argus’, seu mais ambicioso registro fonográfico. Produzido pelo mesmo Martin Birch que trouxera ao Deep Purple um som menos psicodélico e mais pesado, o álbum contém um punhado de clássicos dignos do da mais alta elite do gênero: The King Will Come, Throw Down The Sword e Warrior fazem companhia a um naipe de canções inspiradas como a bela Sometime World e a acústica Leaf And Stream, apesar do hit Blowin’ Free - ironicamente a faixa menos criativa do pacote - servir de ponte ao restante do conteúdo. Sob a égide do irrepreensível duo de guitarras “Andy Powell/Ted Turner”, o Wishbone Ash se completava com a cozinha “Martin Turner/Steve Upton” e transformava 1972 num ano mágico para glória do Rock ‘n’ Roll. RH

cada de harmonias vocais em duo, o Wisbone devia encontrar um novo vocalista. “Eles falavam em se focar mais, e de que a decisão daria os compactos de sucesso que tanto precisavam. Discordei totalmente daquilo. O que diabos um novo vocal tinha a ver com ‘Argus’, nosso disco mais conhecido? Ele por acaso cantaria no meu lugar, o que seria ridículo? Ou ficaria no canto do palco, tomando a cerveja que a gente pagasse? Era loucura. Foi o que discutimos numa reunião na minha casa. Me disseram que tinham conversado antes, que sabiam que eu não aceitaria a ideia e que também tinham decidido encontrar outro baixista. Naquele ponto, me vi vítima de uma conspiração. Pedi então, que saíssem imediatamente. Estava de ouvidos cheios”, confessa Martin Turner. “Teríamos aprovado um frontman”, atenua Wisefield, a opinião pragmática contrastando com a posição de Turner. “Se Martin queria ficar no baixo, beleza, mas aquilo não ia rolar. Então testamos um monte de vocais

5


Segunda formação do Ash, com Andy Powell e o guitar hero Laurie Wisefield

e nenhum deles funcionou, até John Wetton aparecer.” Wetton possuía no curriculum nada menos que participações históricas em bandas como Family, King Crimson, Roxy Music e Uriah Heep, e até Martin Turner precisava admitir que a escolha tinha sido certa: “John era um cara fantástico, baixista brilhante, exatamente o tipo de cara que poderia trazer para eles o sucesso comercial tão cobiçado. Então, pensei: uau, boa sorte pra eles, John é um substituto brilhante. E ele acabou saindo antes de terminar o próximo disco!” “Parece que Andy (Powell) não se deu muito bem com ele”, arrisca Laurie Anderson ao lembrar o único disco gravado com Wetton, ‘Number The Brave’, de 1981. No final daquele ano, Wetton já havia se unido ao supergrupo Asia junto a ex-integrantes do Yes e do ELP, levando consigo faixas que o Wishbone Ash havia rejeitado. “John veio com algumas ideias que terminaram virando primeiro lugar nas paradas norte-americanas”, admite Anderson, “mas aquilo não

6

servia pra gente naquela época, algo muito comercial. O disco ficou legal, mas ele se mandou. Você precisa ousar e seguir em frente.” “Tudo que já fiz em música foi um processo instintivo”, confessa Turner ao explicar a antipatia por compromissos com grandes gravadoras. “Quando você começa a se reunir com um empresário ditador e a falar sobre estratégia de marketing, para mim é algo totalmente forçado. A vida não funciona dessa forma.” Martin chegou a ficar tentado a participar de uma trinca de álbuns da banda lançados entre 1987 e 1991, os dois primeiros reunindo a formação original do Ash. Por mais que os resultados no estúdio tenham sido variados, o show de aniversário pelos 20 aons de banda em 1989 confirma que sobre o palco o grupo continuava nada menos que portentosa e a velha química fluindo e se desenrolando em perfeita sincronia. “Entendíamos a linguagem musical que falávamos”, assente Powell. “Mesmo hoje, se nós quatro nos jun-

tássemos ao vivo, seria algo instantâneo, porque temos a exata noção de quais papéis assumíamos ali. Boa parte do tempo em que produzíamos nossa melhor música, estávamos infelizes fora do palco. Saíamos de uma performance estupenda e no camarim você veria quatro caras brigando de foice no escuro. Acho que era por nossa busca por qualidade, o sentimento, na intimidade da banda, de que nunca éramos bons o suficiente; levávamo-nos aos extremos e isso criava muita tensão, discussões e stress. Mas se você for ver qualquer outra banda, seja o Yes, o Cream, o Deep Purple ou o The Who, essa tensão é que produz coisa boa. Não é nada normal conviver com as mesmas pessoas por tanto tempo, além de que se trata de um negócio movido a ego, você precisa subir ao palco e tocar, mas também pode levar os outros caras da banda a reagir de outra forma. Quase íamos às vias de fato, garrafas eram quebradas e murros na mesa, mas cheguei a ver coisa pior noutras bandas. Por exem-

plo qu no be àq Ste tu te me ho líd Fo eg ao em tra tav mu ca tia qu vía que Mas daq gen bom “O p que func exp trola dos de r de a saria da m Tod acab teir ban ‘Stra hou pelo pre sari e t qua preo cion


o, o Status Quo sair no tapa uando estavam abrindo para nós os States, mas acho que éramos em mais gentis para chegarmos quele nível.” eve Upton era a cola que segurava udo”, afirma Wisefield sobre o baerista cofundador, muito do eleento catalisador do grupo. “Se ouve um líder alguma vez, esse der foi Steve.” oi quando o delicado equilíbrio de gos do Ash fatalmente se rompeu o Upton anunciar a aposentadoria m 1990, em meio a um divórcio aumático. “Ele sabia que não esava em boa forma, e me senti uito mal quando a coisa foi expliada”, confessa Martin Turner. “Sena com toda intensidade que na ualidade de colegas de banda, deamos permanecer unidos, mais do e deixá-lo simplesmente sumir. s foi o que houve, e depois quilo, algo se rompeu entre a nte. O Wishbone Ash era muito m em dar um tiro no pé.” papel de Steve era muito maior do e o de um baterista, porque ele cionava como o nosso mediador”, plica Powell. “Era o cara que conava a tensão, nos mantinha focas. A saída dele causou uma espécie reordenamento. Sentia-me capaz assumir uma posição mais empreial. Já tinha feito isso noutras áreas minha vida, e estava pronto.” davia, esse “reordenamento” bou revelando outra linha fronriça para Turner, que deixaria a nda uma segunda vez após ange Affair’, de 1991. (“Nunca uve um disco tão bem definido o título”, ele pontua). “Steve semtomara conta do dia a dia empreial da banda, era muito bom nisso também muito correto. Então, ando Andy tomou as rédeas, fiquei ocupado. Aquilo não iria funnar.”

A LONGA E SINUOSA ESTRADA

O mais recente álbum do Wishbone Ash, ‘Blue Horizon’, é certamente o mais vigoroso a carregar o nome da banda por muitos anos, enquanto o disco solo de Martin Turner lançado em 2015, ‘Written In The Stars’, traz a assinatura do grupo em seus melhores momentos. Ambos os músicos continuam em 2018 a excursionar com o material mais clássico da banda, enquanto os integrantes originais se encontram envolvidos no resgate de material raro

para o box set ‘The Vintage Years’ que será lançado em 2019. Infelizmente, é improvável que a formação de quarteto original se reúna, mesmo para as celebrações que se aproximam. “Nunca se sabe: nunca diga nunca”, reforça um esperançoso Laurie Wisefield. Mesmo assim, a discografia da banda já foi integralmente relançada em CD, além das mídias digitais, para as novas gerações que talvez ainda não se aperceberam da grandiosidade do Ash.

Powell hoje: status de lenda do Hard Rock

O baixita Martin Turner: influência para a NWOBHM

7


TST The Sound Tribune

P - Rodrigo Hammer Curta e compartilhe


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.