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TST Rodrigo Hammer’s

The Sound Tribune

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Número 011 - 10/03/2019 - 17/03/2019


...ou de como STEVE MARRIOTT se livrou das armadilhas do Pop em busca da liberdade artística com o HUMBLE PIE. Aqui, os colegas de Marriott, PETER FRAMPTON, JERRY SHIRLEY e CLEM CLEMPSON, contam a Rob Hughes sobre ensaios secretos em salões do interior, brigas de água com David Bowie e tournées norte-americanas esgotadas. Há também nesse cenário, “decisões falhas e mau comportaento”, mordomias e um frontman complexo e mercurial. “Foi a banda mais incrível em que estive”, revela Frampton.

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Texto: Rob Hugues - Foto: Michael Putland Tradução e adaptação: Rodrigo Hammer

ão era a primeira vez que Steve Marriott pensava no futuro. Três anos antes, seus rumos como artista estavam ligados diretamente ao Small Faces. Mas ao fim de Janeiro de 1969, Marriott uniu-se a um grupo diferente de músicos, ansioso por revitalizar suas habilidades como compositor e criar um som mais pesado no palco. O local para aquele inusitado encontro de mentes criativas foi incomum, se não, sem precedentes. Numa época em que se reunir no interior era hábito para astros do Rock milionários, Marriott e seus companheiros – o guitarrista Peter Frampton, o baixista Greg Ridley e o baterista Jerry Shirley – se encontraram no Village Hall, em Magdalen Laver, a poucos quilômetros da chácara de Marriott em Moreton, Essex. Longe do público, Marrioott e os outros prepararam o terreno para uma nova identidade musical. “Começamos tocando faixas dos outros, porque não tínhamos nada nosso ainda”, conta Frampton. Essas jams sessions incluíam We Can Talk, do The Band – aprendida diretamente da cópia de Pete Townshend de ‘Music From Big Pink’ – e I Walk On Gilded Splinters, do álbum ‘Gris-Gris’, do Dr. John, presente de Mick Jagger e Keith Richards dado a Marriott. Shirley lembra das jams como “momentos maravilhosos e especiais. Sabíamos que tínhamos algo sério em curso.” Marriott, também, estava visivelmente entusiasmado. “Nunca estive tão animado, quanto por esse grupo”, declarou à Melody Maker em Abril, quando a banda começava a decolar. Hoje, Shirley ainda se refere ao entusiasmo crescente do guitarrista em relação ao Humble Pie: “De 1969 a 1971, Steve era um cara super dócil”, afirma. Mas Marriott também era um indivíduo complexo e conflituoso: o artista que roubava a cena e que adorava tocar sobre um palco,

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O HumblePie no Hyde Park, 03 de Julho de 1971. Da esq. para a dir: Peter Frampton, Steve Marriott, Greg Ridley e Jerry Shirley.

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no entanto, futura vítima das armadilhas do sucesso comercial. Podia se tornar uma pessoa difícil. Bebia estupidamente, vindo a se tornar cocainômano. Além disso, se afastaria dos colegas de Humble Pie, mais tarde se arrependendo do erro. “Era um pouco daquela síndrome Mick/Keith em relação a eu e Steve”, reconhece Frampton. “Ambos tínhamos personalidades fortes – a dele, mais explosiva, a minha, mais quieta e vigorosa – mas era isso o que criava a centelha da música que produzíamos juntos”. Shirley comenta: “Eu e Steve mantínhamos um tipo de relacionamento que se destruía e reconstruía em seguida. Mas a justificativa é que ele tinha sido meu ídolo enquanto eu crescia. Era um privilégio conhecer aquele cara.” O Humble Pie obteve sucesso pelos meios tradicionais. Tours infindáveis e esgotadas aos Estados Unidos. Lotavam arenas, quebravam recordes de público e conseguiam colocar discos nas paradas de sucesso, crescendo em estatura, ao nível dos Stones, Who e Led Zeppelin. Frampton aponta: “Não haveria nenhum Robert Plant se não fosse por Steve Marriott. Acho até que ele foi a primeira escolha de Jimma (Page) para o Led Zeppelin.

Mas o entusiasmo e otimismo dos anos iniciais do Pie não durariam: em meados da década, a banda entraria em colapso. Transcorreram reuniões de curta duração, disputas por royalties não pagos e cobrança de impostos atrasados. Mas a despeito disso, de acordo com uma testemunha ocular, naDee da pôde anular aquele passado. O Humble Pie fez Com Anthony, o primeiro o seu melhor quando as oportunidades estiveram empresário diante da banda”, comenta Andrew Loog Oldham, que assinou com o quarteto para o selo Immediate Records em 1969. “Achava que eles me devolveriam a vida que tinha com os Rolling Stones. Aquele sentimento de estar vivo.” Para Peter Frampton, 1969 começara tranquilo. Na véspera do ano novo de 1968, o guitarrista de apenas 18 anos de idade visitara a casa de Glyn Johns (n. do t. o lendário engenheiro de som inglês) para ouvir o disco mais recente que terminara de fazer: ‘Led Zeppelin I’. Bem no meio do lado A, o telefone tocou. E Frampton lembra: “Glyn atendeu e me disse: ‘É Steve. Ele quer falar com você.” Marriott – totalmente pilhado – disse então a Frampton que acabara de abandonar o palco durante um concerto do Small Faces. Tinha deixado o grupo, em outras palavras. Será que Frampton estaria interessado em formar uma banda? De fato, Marriott e Frampton já haviam tocado juntos. Algumas semanas antes, encarregado de encontrar uma banda inglesa de apoio para o cantor francês Johnny Hallyday, Johns havia sugerido o Small Faces. “Vendo que não havia um guitarrista solo propriamente dito no Small Faces, sugeri Peter para tocar nas mesmas sessões. Então, fomos juntos a Paris para gravar com Johnny e tudo correu muito bem.” Soube-se, mais tarde, que Frampton não teria sido o único a ser convidado por Marriott no dia 31 de Dezembro de 1968. Jerry Shirley

“Era tipo uma síndrome de Mick e Keith”

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Dando um tempo após uma jam em Magdalen Laver, Essex, 1969

passara a noite tocando com sua banda, Little Women, num pub de Tottenham. Já estava virando a noite de reveillon, quando Marriott ligou. “Ele disse, ‘por sinal, já tenho um baixista que gostaria de trazer: Greg Ridley.’ Greg tocava com o Spooky Tooth e era meu baixista favorito. E quem era eu para dizer não?” Uma vez que o Small Faces honrara suas últimas datas na Europa, o Humble Pie foi ativado: uma banda nova para o ano novo. A princípio ensaiaram na casa dos pais de Shirley em Nazeing, Essex. “Steve e Peter eram nomes de confiança e Greg já bem conhecido”, reconhece Shirley. “Então, escolhemos a sala da minha casa, porque estaríamos bem escondidos e ninguém faria alarde a respeito.” A química, lembra-se Frampton, foi óbvia e imediata. “Como se tivéssemos sacudido a poeira do tapete, ficando lá pelo resto do dia.” Os ensaios, então, foram transferidos para o Magdalen Laver Village Hall. Encorajado pelas sessions bemsucedidas, Marriott e Frampton viram um caminho promissor pela frente. Ambos se encontravam artisticamente frustrados com suas respectivas bandas. Para Marriott, o Small Faces ainda era um grupo voltado a compactos para adolescentes, enquanto buscava a seriedade já obtida por contemporâneos como o Traffic. No papel de guitarrista do The Herd, o fotogênico Frampton tinha sido considerado “The Face of ‘68” (n. do t. algo como o cara mais bonito daquele ano) pela revista teen Rave. Mas o Humble Pie era diferente – um “grupo de música heavy” – declarou Marriott à Melody Maker. De forma significativa o Pie seria tão democrático, assim como o The Band, sem líder específico ou frontman. “Acho que era o que Steve buscava naquela época em particular”, arrisca Shirley. “Ele certamente não se importava em dividir a responsabilidade de ser frontman, enquanto Peter


era muito mais do que um rostinho bonito.” Frampton acrescenta que era a posição ideal onde gostaria de estar. “Steve parecia empolgado em estar noutra banda, onde não precisava ser o princípio e o fim de tudo.”

Para Andrew Loog Oldham, em 1969 o Humble Pie era algo positivamente bem-vindo. A Immediate se debatia financeiramente, e o próprio empresário caíra no vício das drogas. “O selo já não estava me satisfazendo”, admite. “Muita gente nova para cuidar, não importava minha condição. O Humble Pie era único e forte. Eu tinha sido desafiado, e aquela era uma sensação incrível de sentir novamente.” Em Abril de 1969, a banda começou a gravar seu álbum de estreia, ‘As Safe As Yesterday Is’, no Olympic Studios de Londres. O primeiro fruto do trabalho – Natural Born Bugie – chegou ao posto 4 da parada britânica. E isso não os deixou com um gosto tão intenso de vitória. “Não queríamos saber de nenhum hit nas paradas”, explica Frampton. “A última coisa que Steve e eu queríamos, era badalação. Mas aí acabamos no Top of The Pops e adivinhe... Estávamos querendo mudar a nossa imagem. De fato, parecer rudes para várias pessoas, a fim de que nos desprezassem. Estávamos horríveis. Não nos barbeávamos, nem tomávamos banho.” Apesar dos esforços de auto-sabotagem, as vendas de ‘As Safe As Yesterday Is’ foram positivas. O álbum chegou a encostar no Top 30, o que gerou clima para que a banda encabeçasse uma tour inglesa junto ao Love Sculpture, Samson (n. do t. não o mesmo grupo da NWOBHM) e um jovem David Bowie egresso de ‘Space Oddity’. “Rolava muita loucura fora do palco”, sorri Shirley, “tipo a gente disparando pistolas d’água em David do fosso da orquestra”. Antes do ano acabar, o Humble Pie ainda lançou outro álbum. ‘Town And Country’ suavizou o lado hard do disco anterior, em favor de um approach mais eclético e melodioso a fim de apresentar novas possibilidades musicais. “Podíamos abordar qualquer coisa: Hard Rock, Country, Blues e até mesmo Jazz, não importava”, diz Shirley. “Havia muitos elementos na nossa música. Muita gente elogiou ‘Town And Country’, mas na verdade, nem sabiam que banda que estavam ouvindo.” Com a Immediate entrando em falência, por conselho de Loog Oldham assinaram com a A&M na Primavera de 1970. “Parte do acordo era que o selo queria que usássemos Glyn como produtor, ao invés do irmão dele, Andy, que tinha gravado os nossos dois primeiros álbuns”, lembra-se Frampton. Na primeira sessão de gravação (para o terceiro e homônimo, ‘Humble Pie’), Glyn sentou com a gente e disse que iríamos tocar limitados às nossas funções: apenas Steve nos vocais, Pete como guitarrista-solo, Greg como baixista e Jerry como baterista. Foi quando nossos caminhos começaram a se estreitar.” Por sua vez, tendo trabalhado para o Small Faces, Johns mostrava-se também prevenido ao se reunir com Marriott no estúdio. “Na maior parte do tempo, nos dávamos bem, mas havia ocasiões em que era o contrário. Se Steve era um cara esquentado? Era, sim, um filho da puta atrevido!” Foi quando a banda passou a ter dois novos empresários, Dee Anthony e Frank Barsalona, que bolaram um plano para conquistar os Estados Unidos. “Dee era como um técnico de futebol”, recordase Frampton. “Ele dizia que lá, devíamos esmagar a banda principal. ‘Eles podem ser bons, mas vocês são melhores!’ Tinha até um apito de juiz que ficava soprando junto ao palco. E isso funcionou. Botamos pra quebrar assim que começamos. Isso mudou totalmente a nossa linha.” “Estávamos ansiosos para acontecer por lá”, acrescenta Shirley. “Steve já conhecia o caminho, se preparando na Inglaterra, fazendo tournées lotadas para garotas estridentes. Mas a motivação para fazer aquilo de novo, era saber que os Estados Unidos era um público que ouvia. Prestava atenção. Posso vê-lo agora, sabendo que trabalharia com afinco para isso. A metade dele como performer esGravando ‘Smokin’ no Olympic, em 20 de Janeiro de ‘72

10 FATIAS DE TORTA PREMIUM Um guia para o melhor do Pie

O compacto de estreia é um petardo de R&B americano com toques de Boogie, tendo Marriott, Frampton e Ridley trocando estrofes.

A faixa-título do primeiro álbum é extremamente criativa, alternando-se entre sofisticação acústica e Rock incendiário, com vocais revezados.

Dividindo-se entre piano elétrico e guitarra, Marriott se excede nessa balada extraordinária, combinando Southern Blues, Country e Folk.

O terceiro álbum revela um grupo nitidamente mais pesado, o que torna essa gema acústica de Frampton ainda mais emocionante.

Composta pelos quatro integrantes, a faixa de riff pesado brilha com os vocais rascantes de Marriott, e continua um dos maiores momentos da banda.

Uma jam de Blues prolongada, com piano pontuando, serve de mostruário para as habilidades vocais de Steve Marriott em tonalidade Soul.

Pouco antes de entrar em carreira solo, Frampton deflagra essa faixa tingida de Gospel. Uma versão alternativa pode ser ouvida, em parte, no antológico ‘Frampton

A banda chegava no topo, ao vivo, por volta de Maio de 1971, como demonstra nesse cover de um clássico dos anos ’60 popularizado por Ray Charles.

Esse Blues balançado é destaque na fase Clempson, com os vocais rasgados de Marriott apoiados por um Hammond e harmonias vocais providenciadas graças ao convidado Stephen Stills.

Provavelmente o último grande momento da banda, um épico Blues monumental que detalha na letra a prisão de Marriott por posse de cocaína, maconha e haxixe.

estava entusiasmada, mas a outra, do cara que amava a esposa e a vida caseira, sofria. Então, estava dividido, desde o início.” O Humble Pie mal faria alguma pausa nos próximos 12 meses. Nas poucas ocasiões em que não se encontrava excursionando pelos Estados Unidos, estava na Europa ou de volta à estrada na Inglaterra. Em 3 de Julho de 1971, no Hyde Park de Londres, tocaram para uma multidão de quase 400 mil pessoas. E lá estava Marriott, pomposo, vestido em botões de veludo e sapatos brancos de salto alto.

“Se Steve era um cara esquentado? Era, sim, um filho da puta atrevido.” ANDY JOHNS

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Marriott comanda a plateia no Madison Square Garden, em 29 de Maio de 1973

O show do Hyde Park foi um marco em nossas carreiras”, comenta Shirley. “Simplesmente abrimos um rombo no palco, que o Grand Funk precisava tapar como atração que entrava depois.” Frampton acrescenta que estavam a mil no dia. “Éramos muito bons em estúdio, mas fantásticos ao vivo.” O sucesso do Humble Pie só crescia nos Estados Unidos, impulsionado por um triunfante novo disco, ‘Rock On’. Dois dias após um show sold-out no Shea Stadium com o Grand Funk Railroad a 9 de Julho de 1971, tiveram como abertura no Sunshine Inn, em Asbury Park, New Jersey, um jovem Bruce Springsteen de apenas 22 anos. “Ele ficou ao lado do palco, absorvendo tudo o que Steve e Peter faziam”, conta Shirley. “Todo frontman com quem chegamos a partilhar um concerto, ficava de olho em Steve. Para eles, era como ir à escola aprender com o verdadeiro cara.” Nos dias 28 e 29 de Maio de 1971, o quarteto tocou duas noites no Fillmore East de Nova York. Os shows – que incluíam um cover alucinado para I Don’t Need No Doctor e uma execução épica de I Walk On Gilded Splinters – seriam gravados para um futuro lançamento ao vivo no final do ano. Assim que a capa saiu da gráfica, Frampton deixou a banda. “Percebi que o nosso direcionamento tinha se estreitado ainda mais durante aquela tour”, revela o guitarrista. Começava a ficar um pouco cheio daquilo e queria seguir meu próprio rumo. Era óbvio que o disco ao vivo seria o nosso recordista em vendagem. Mas pensei, ‘se não sair agora, não serei mais capaz’. Aí, comuniquei ao resto da banda. Eles não esperavam.” “Nenhum de nós tinha a mínima ideia de que Peter queria sair”, contesta Shirley. “Estávamos na crista da onda, e ele de repente joga aquela bomba. Mas olhando pra trás, dá pra ver que ia rolar. Mas na época, foi o maior choque. Quem ficou mais abalado, foi Steve. Ficamos todos devastados, mas ele, apesar de não querendo demonstrar o

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o quanto se sentia traído, ficou muito magoado.” ‘Performance: Rockin’ The Fillmore’ tornou-se, então, o primeiro Disco de Ouro do Humble Pie nos States, chegando ao número 21 da parada. Também atingiu o Top 40 na Inglaterra. Enquanto Frampton embarcava numa carreira solo que só decolaria mesmo com o multiplatinado ‘Frampton Comes Alive!”, de 1976, Marriott buscava um substituto. Acabou encontrando Clem Clempson, guitarrista do Colosseum, que uniu-se à banda em Outubro de 1971. “Estavam testando guitarristas, mas não encontravam ninguém de que gostassem, então, já estavam planejando seguir como trio”, lembra-se Clempson. “Steve tinha ouvido ‘Colosseum Live’ (1971) e adorado o que eu tinha feito numa faixa de Blues chamada Skelington. Aí fui visita-lo uma noite e ele mais ou menos me disse que eu já estava na banda.” A chegada de Clempson coincidiu com a adoção de uma linha ainda mais pesada para o Humble Pie. Marriott já tinha, inclusive, o lote de faixas compostas para o próximo álbum, ‘Smokin’, de 1972. “Quando Clem entrou, deu à banda um pouco mais de ímpeto para prosseguirmos”, reconhece Shirley. “Tivemos momentos incríveis no Verão de 1973. Voar de Lear Jet por aí, é demais. Se você está chapado de whisky, o copo parece ficar suspenso no ar. Loucura.” Mas a pressão incessante da estrada, aliada aos ganhos do sucesso comercial que estavam tendo, começou a corroer a banda de dentro para fora. “A coisa que realmente nos tirou do rumo, foi a cocaína, porque podíamos conseguir direto na época”, lamenta Shirley. Aquilo começou a provocar decisões erradas e o mal comportamenton que acabou comprometendo a nossa saúde. Quando você é alguém que canta como Steve Marriott, não é uma boa ideia ficar acordado direto por cinco noites.” Isso inclui ‘Eat It’, de 1973, que Marriott insistira em produzir sozinho, no estúdio doméstico que tinha em Moreton, Essex. Ignorando o conselho do engenheiro de som Alan O’Duffy, mixou o álbum com tanta falta de graves, que o baixo não podia ser ouvido no rádio.


Com Clem Clempson em Tóquio, 05/1978

“Soava terrível”, concorda Shirley. “Cocaína faz você se sentir o rei do planeta, então, Steve foi em frente e fez do seu modo. Nos Estados Unidos, aquele disco entrou e saiu das paradas mais rápido que qualquer outro já gravado.” “Ela teve grande participação na nossa queda”, concorda Clempson. “Mas o outro fator primordial, foi a forma como os empresários estavam nos tratando, apertando cada vez mais o nó. Todo mundo envolvido na administração da banda estava enriquecendo desde que tínhamos começado a lotar locais como o Madison Square Garden e o Spectrum, na Filadélfia. Lembro de tocar num festival em Milwaukee quando quebramos o recorde mundial de maior público por um show: 117 mil pessoas. Eles queriam nos manter juntos.” O grupo ainda teve tempo para gravar mais dois álbuns: ‘Thunderbox’ (1974) e ‘Street Rats’ (1975). Exaurido, o Humble Pie tocaria seu último show em Houston, no Texas, a 25 de Março de 1975. “Na época foi uma bênção, porque tudo já estava por demais desgastado”, reflete Shirley. “Gostava de Steve como um irmão, mas ele se tornara muito difícil de aguentar. Não podia ficar mais ali, vendo meu amigo se destruir. Doía muito.” “Fiquei super aliviado quando acabou”, admite Clempson. “Já não tinha mais graça.”

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s anos seguintes de Marriott foram passados na relativa obscuridade. Amargurado, mergulhou fundo nas drogas e na dependência alcóolica. Houve reuniões com ambos Small Faces e Humble Pie. Endividado, foi reduzido a coletar garrafas vazias para vender na Califórnia, durante os anos 1980. Gravava esporadicamente, junto a apresentações em pubs à frente de bandas com nomes auto-referenciais como The Official Receivers e The DTs. “Steve era extraordinariamente talentoso, com uma imensa carga de energia”, comenta Glyn Johns. “Fico triste com o que houve com ele depois do Humble Pie. Tornou-se um sujeito entristecido e desarticulado”. Clempson, que foi ser músico de estúdio após a passagem pela banda, encontrou Marriott novamente em 1989, quando foram contratados para gravar um comercial de TV para o Nescafé: “Steve botou pra quebrar interpretando Black Coffee, e estava em grande forma. Alguns dias mais tarde ele me ligou perguntando se gostaria de me juntar à banda dele que estava em excursão. Mas eu tinha outros compromissos. E nunca mais o vi outra vez.”

Uma olhada nos novos remasters do Humble Pie

O mês de Maio terá um monte de reedições do staff que recentemente entregou o lote de remasters do Small Faces para a Decca e a Immediate. Com Peter Frampton e Jerry Shirley no papel de supervisores do projeto, junto ao produtor da Immediate Rob Caiger, ambos ‘As Safe As Yesterday Is’ e ‘Town And Country’ também foram remasterizados para vinil e CD. “Corrigimos o som, para que ele salte até você”, afirma Caiger. Já o colecionador veterano Phil Smee se encarregou da arte da capa, diretamente dos arquivos originais do selo Immediate.

Há também uma coletânea e uma edição especial de faixas ao vivo de NY, fora uma edição ampliada de ‘Live At The Whisky A-Go-Go ‘69’, de 2001, gravado de um show da 1ª tour pelos EUA em ‘69. Também, sessões de estúdio remixadas por Frampton e retiradas de fitas recuperadas num período de 5 anos dos arquivos americanos, de Abbey Road, da Charly Records, além do famoso depósito do Olympic Studios. Um box set também está agendado pela BMG/Charly. Antes de tudo, a Cleopatra Records lançará ‘Joint Effort’, um álbum de demos rejeitados e licenciados para o selo apenas como bônus tracks.

Dois anos mais tarde, às primeiras horas de 20 de Abril de 1991, Marriott morreria num incêndio doméstico na casa de Arkesden, Essex. Frampton e Shirley foram alguns dos que estiveram no funeral. “Fiquei arrasado. A igreja estava lotada com todo tipo de gente. Sentei e Kenney Jones se juntou a mim. Nós dois choramos durante toda a cerimônia. O lugar estava aos pedaços.” A carreira de Steve Marriott começara no West End de Londres, e ali, no mesmo local, ele ganhava o último adeus. Quarenta e um anos depois da estreia no palco na peça Oliver!, de Lionel Bart, no New Theatre em 1960, o público se reuniria para o adeus no Astoria. Dez anos mais tarde, amigos, família, ex-colegas e admiradores famosos uniram-se para uma homenagem emocionante. Entre os que interpretaram emocionados suas músicas, estavam Paul Weller, Noel Gallagher e membros sobreviventes do Small Faces e do Humble Pie. O show teve seu clímax com uma jam all-star, todos juntos no palco para versões emocionantes de Tin Soldier e All Or Nothing. “Foi uma noite fantástica”, recorda-se Jerry Shirley. “Muitas histórias contadas sobre Steve nos bastidores, mas o foco era deixá-lo orgulhoso.” “Foi importante ver todos ali o apoiando”, concorda Frampton. “Ficamos emocionados ao tocar as faixas do Humble Pie novamente. Eu não parava de sorrir a noite inteira. Acho que fizemos um super trabalho ao homenageá-lo.”

“Quando Clem chegou, nos deu um pouco mais de ímpeto”

“Era um dos maiores vocalistas que ouvi”, acrescenta Clem Clempson. “Todos estavam por lá para lembrá-lo. E foi engraçado que a primeira vez que eu e Peter tocamos juntos, foi como tributo a Steve.” Refletindo sobre o legado de Marriott com o Humble Pie, Andrew Loog Oldham acredita que “com Clem, eles foram simplesmente grandes. Mas ainda maiores, com Frampton. Juntos, Steve e Peter combatiam e se machucavam. Steve e Axl Rose: duas das maiores vozes. Fora do palco, se torturavam, assim como a todos com quem trabalhavam. Para Frampton, o Pie simplesmente resiste como a banda mais incrível da qual fez parte: “Eu e Steve éramos totalmente diferentes, mas tínhamos a maior admiração um pelo outro. Eu via o que ele podia fazer, e era algo sempre alucinante.” “Ele deu o seu melhor com o Humble Pie, até 1973”, conclui Shirley. “E o mais importante, estava no seu melhor como pessoa. Aquele tipo de sujeito arrogante que as pessoas nem imaginam existir. Era um cara maravilhoso, muito carismático. E, claro, um tremendo compositor e vocalista impressionante. Pode crer, Steve arrebentava.”

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