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CRITICAS VERSUS

(16)

«Dream Squasher» (Relapse Records) Os reis do riff lamacento estão de volta com um álbum de originais. É já o oitavo, numa carreira quase a atingir os 30 anos de actividade. Este «Dream Squasher» é possivelmente um dos esforços mais inspirados deste colectivo californiano. Há aqui algo mais do que nos anteriores trabalhos e não será só a dose de positivismo que injectaram em alguns dos temas, tal como afirmou Bobby Ferry (vocalista e guitarrista). A abertura do disco é feita com um tema típico dos (16) e sem grandes surpresas entramos pela segunda faixa, que nos deixa o refrão a ecoar na cabeça. Ao terceiro tema, “Sadlands”, percebemos que os (16) alargaram horizontes, com sabedoria, pois acrescentam elementos sem que se descaracterizem e sem encetar uma qualquer mudança de rumo. Enriquecem-se. Mais melodias e harmonias cativantes a puxar pelas emoções. Depois de várias audições ao disco, parece-me ser seguro dizer que os alinhamentos dos concertos dos (16) vão passar a ter uma boa quantidade de temas deste novo álbum. Experimentem a sequência “Agora (killed by a mountain lion)”, “Ride the waves”, “Summer of ’96”. Se no final estiverem a suar, tentem recuperar bem o fôlego, pois ainda têm mais dois temas para digerir antes do disco terminar. Nota positiva também para mais um artwork bastante interessante. [8/10] EMANUEL RORIZ

AARA

«En Ergô Einai» (Debemur Morti Productions) A dupla Berg e Fluss que forma os AARA tem andado produtiva q.b., pois este é o seu segundo longa-duração no intervalo de um ano. «En Ergô Einai» compõe-se de cinco faixas de black metal atmosférico e melódico e tem motivos de interesse suficientes para lhe darmos ouvidos. Comecemos pela abertura “Arkanum”, que mostra um black metal feito como mandam as regras durante os seus 9 minutos, destacando-se as linhas melódicas da guitarra de Berg, sobretudo a partir do minuto 7. Este é um padrão que vai repetir-se ao longo de «En Ergô Einai»: faixa atrás de faixa, deparamos com algo que segue os ditames do género, mas a dado momento aparece sempre algo que surpreende e nos pega pelas orelhas, no bom sentido da expressão. Essa surpresa deve-se não a qualquer carácter revolucionário – revolucionários é coisa que os AARA definitivamente não são – e sim à colocação, no sítio certo, das coisas certas. Se assim nos podemos exprimir, diríamos que os AARA são uma espécie de burocratas do black metal atmosférico: não trazem nada de inovador nem são pioneiros de coisa alguma, mas revelam uma nítida competência no seu trabalho e cumprem-no de forma tão correcta que qualquer patrão/chefe/CEO chegaria ao fim do disco com vontade de lhes dar uma palmadinha nas costas como agradecimento. Só não merecem um aumento porque «En Ergô Einai» tem apenas 34 minutos de duração, o que acaba por saber a pouco tendo em conta o que os AARA mostram. [7.5/10] HELDER MENDES

ABOVE AURORA

«The Shrine of Deterioration» (Pagan Records) Quem esteve no concerto dos Mgla, em Setembro passado no Hard Club, deve recordar-se desta formação, também originária da Polónia (embora resida actualmente em Reykjavik, Islândia), que abriu as hostilidades dessa noite. Na altura traziam na bagagem o incipiente álbum de estreia «Onwards Desolation», lançado em 2016, assim como um EP de título «Path to Ruin» que já deixava antever uma evolução do seu black metal num sentido bastante mais atmosférico. Gravado no Inverno passado, este segundo longa duração confirma essa tendência, com um trabalho mais apurado e particularmente eficaz na criação de passagens de ambiência sombria. O instrumental “Blurred luminosity” abre da melhor maneira este «The Shrine of Deterioration» com um notável trabalho de guitarras espaciais e uma cativante secção rítmica doomy. Os restantes cinco temas incluem riffs bem chamativos, um baixo proeminente e criativo, e uma voz de uma frieza insondável que nos transporta para dimensões hipnóticas e reflexões pessimistas. A produção de Haldor Grunberg confere uma excelente definição a todos os instrumentos o que é mais um ponto a favor. A composição é que parece ser pouco variada, com os temas a basear-se em estruturas muito semelhantes e a revolver em torno de ideias demasiado parecidas. Ainda assim «The Shrine of Deterioration» é um disco que deverá agradar a fãs de black metal atmosférico, assinalando mais um passo decisivo na progressão artística deste jovem trio. [7.5/10] ERNESTO MARTINS

...AND OCEANS

«Cosmic World Mother» (Season of Mist) Dezoito anos depois o sexteto finlandês está de regresso aos discos com aquele que é o seu quinto LP. Depois de algumas experiências que, de certa forma, alteraram a sonoridade da banda, podemos dizer que neste «Cosmic World Mother» a banda regressa ao Black Metal mais «tradicional» e que colocou a banda numa esfera de culto no género. Com um conjunto de temas sabiamente elaborados e onde o sexteto se encontra novamente a si mesmo, o maior destaque vai para Mathias Lillmåns (Festerday, Finntroll, entre outros) que tem aqui um registo magistral e denso e que encaixa ‘que nem ginjas’ na devastação sonora dos finlandeses. Em termos conceptuais podemos dizer que «Cosmic World Mother» não é um disco físico e está longe de ser um disco terreno. Para onde vai a nossa mente e alma? Esta foi a questão que Timo Kontio e os restantes companheiros dilaceram e tentam encontrar respostas e o resultado acaba por ser um disco apaixonante e vibrante. Talvez a espera tenha sido demasiada mas, se foi para isto que esperámos então valeu a pena pois «Cosmic World Mother» é um disco grandioso e que coloca os ...And Oceans, novamente, na senda do sucesso. [8/10] NUNO C. LOPES

AZUSA

«Loop of Yesterdays» (Indie Recordings) Depois da surpresa que foi «Heavy Yoke», o disco de estreia da banda formada por exintegrantes de The Dillinger Escape Plan e Extol, os Azusa estão de regresso com um disco poderoso e esquizofrénico. Não se fixando num só género, a banda incorpora todas as influências do passado e, embalados pela voz de Eleni Zafariadou (Sea + Air), «Loop of Yesterday» é, acima de tudo, um exercício musical, daí que talvez adjectivar este disco como Jazz-Metal, não estará tão longe da realidade, mas, tudo aqui é, também, um sonho numa noite mal dormida. Acutilante, tenebroso, melódico e desafiante, são alguns dos adjectivos que poderemos utilizar. «Loop of Yesterdays» vem dar o passo seguinte nos Azusa e é um disco interessante quer no conceito, quer na sua abordagem. Há ainda a presença de Alex Skolnick (Testament) em “Detach”. Ou seja, «Loop of Yesterdays» é um disco para se ir escutando, sem que para isso deva ser devorado, dada a sua mescla de sons e sensações. [7/10] NUNO C. LOPES

BLAZE OF SORROW

«Absentia» (Eisenwald) Descendentes da região italiana mais fustigada pela pandemia do Covid-19, os Blaze of Sorrow lançam o seu sexto registo de originais. Idealizado e realizado antes da tempestade, «Absentia» é um disco de Black Metal atmosférico, cantado em italiano, e cuja densidade e peso se envolve de forma, quase, romântica no ouvinte. Ao longo destes sete temas, o que fica é a sensação de que este misterioso quarteto está mais coeso e mais ‘banda’. Poderíamos dizer que este é um disco que define bem o que viria a acontecer, não só em Itália, mas um pouco por todo o mundo. «Absentia» consegue ser um disco de difícil digestão mas, como acontece sempre na arte, a sua compreensão pode levar algum tempo, contudo esse é o desafio da arte, o de manipular as sensações, de manipular os sentimentos. É certo que o que os Blaze of Sorrow fizeram já foi testado e tentado, contudo a forma como «Absentia» se conjuga com os tempos que vivemos é assombrosa. Se anteriormente a banda era (praticamente) uma só pessoa, aqui transforma-se em algo maior e, assim, os Blaze of Sorrow conseguem, ao sexto disco, trazer o seu trabalho mais completo e, consequentemente, o seu melhor trabalho. «Absentia» é uma excelente surpresa neste ano confuso e difuso, mas a certeza é que o quarteto está no topo da sua forma. [8/10] NUNO C. LOPES

BODY COUNT

«Carnivore» (Century Media) «Carnivore» é já o segundo disco que os Body Count lançam pela Century Media. Pelos vistos, a relação entre banda e editora está de boa saúde. De boa saúde mostram estar também Ice-T e Ernie C: «Carnivore» é um álbum agradável, mesmo que não esteja à altura dos dois primeiros («Body Count» e «Born Dead»), responsáveis por levar – não sem controvérsias pelo meio, como exemplificado em “Copkiller” – os Body Count ao auge da sua fama. Mas também, convenhamos, será difícil aos Body Count igualarem algum dia o que fizeram na primeira metade dos anos 90; tudo o que a banda gravou a partir

de «Violent Demise: The Last Days» pura e simplesmente não atinge aquele grau de relevância. Isso não significa, todavia, que devamos desprezar Ice-T e seus “gangstas”, que incluem convidados ilustres como Jamey Jasta, Dave Lombardo, Jello Biafra ou até Amy Lee, entre outros. «Carnivore» tem boas canções, como são exemplo o primeiro single “Bum-Rush”, a slayerística “Thee critical beatdown”, a cover de “Ace of spades” ou as críticas “Point the finger” (que conta com Riley Gale dos Power Trip) e “The hate is real”. E não há propriamente aqui uma canção que se possa dizer ser má: apenas uma ou outra, como “No remorse” ou “When I’m gone”, a tal em que participa Amy Lee, em que o nível baixa um pouco. Em jeito de conclusão, «Carnivore» é um retrato fiel do que os Body Count são: bons músicos que passeiam pelo thrash, pelo hardcore, pelo rap e até pelo nu-metal, conjugando-os com o saber de gente que já anda nisto há algum tempo. [7.5/10] HELDER MENDES

BOISSON DIVINE

«La Halha» (Brennus Music/Solstice PR) Oriundos da região da Gasconha, no sudoeste francês, os Boisson Divine trazem-nos uma fusão de power metal, daquele mais corridinho, com melodias folk da sua terra natal, interpretadas primorosamente em instrumentos como o acordeão, a flauta, o hurdy-gurdy e a boha (um tipo tradicional de gaita de foles), e letras cantadas no dialecto occitânico da região, idioma que soa próximo do catalão ou do aragonês. Criado em 2005 por dois amigos de infância – o baterista Adrian Gilles e o vocalista e guitarrista Baptiste Labenne –, o grupo estreou-se em 2013 com o álbum «Enradigats», ao qual se seguiu o aclamado «Volentat» (2016) numa altura em que gozavam já de grande popularidade nacional devido não só às raízes tradicionais da sua música, mas também fruto da adopção do gascão como lingua dominante. Chegaram até ao ponto de ter algum do seu reportório estudado em escolas bilingues da Gasconha, havendo grupos etnográficos locais a fazer versões dos seus temas. Nitidamente um caso de orgulho nacional. Este terceiro registo de longa duração, «La Halha», é um trabalho visivelmente mais maduro que os anteriores, com um bom naipe de temas catchy executados por músicos muito competentes no seu oficio. Ao todo consiste em quase uma hora de metal festivo, feito de momentos absolutamente irresistíveis para os apreciadores de metal mais melódico e étnico, de onde destacamos as curiosidades “La sicolana” e “Un darrer cop” que incluem fantásticas demonstrações dos chamados coros polifónicos dos Pirinéus. [7/10] ERNESTO MARTINS

BORGNE

«Y» (LADLO Productions) Para quem gosta de black metal industrial este é um disco que se impõem logo ao primeiro contacto. A banda em causa é encabeçada pelo multi-instrumentista Sérgio da Silva, lusodescendente suiço que assina como Bornyhake, e que acumula actividade num incrível número de formações: cinco outros projectos onde é o único músico, seis bandas com lançamentos recentes e mais de dez onde participa em concertos. Mas Bornyhake não é apenas hiperactivo e prolífico. Este novo registo de originais dos Borgne, o nono numa carreira que já vai além dos vinte anos, atesta também do seu talento invulgar. Apesar de incorporar rajadas de riffs e guitarradas em tremolo com fartura, a música de «Y» não se afirma pela força bruta da velocidade. O que é notável é mesmo a composição elaborada, com muito espaço para longas passagens atmosféricas, apontamentos electrónicos que se somam à percussão maquinal (que tornam mais fria ainda uma atmosfera já de si gélida) e uns omnipresentes teclados que são a base da ambiência, ora sinistra, ora majestosa que permeia todo o disco. O registo vocal assombroso de Bornyhake também não passa despercebido. Há ainda elementos melódicos q.b. e segmentos lentos, quase doomy, que nos transportam para uma esfera sobrenatural entre a luz e as trevas - tal o caminho bifurcado da dualidade primordial sugerido, no fim de contas, pelo símbolo “Y”. Com uma produção impecável que lhe confere uma sonoridade poderosíssima, e mais intenso do que qualquer outra coisa que a banda tenha gravado até aqui, «Y» é um disco que precisa de ser sentido tanto como de ser ouvido. [8/10] ERNESTO MARTINS

BURNING WITCHES

«Dance With The Devil» (Nuclear Blast Records) O novo disco das Burning Witches traz, desde logo, uma novidade com a adição da holandesa Laura Guldemond na voz, mais uma excelente performer saída daquelas terras (a sério, o que aquela gente põe na água?!?!). Laura é sem discussão um dos pontos fortes de «Dance With The Devil», assinando uma prestação impecável, que nos momentos mais agressivos por vezes recorda Rob Halford, por vezes Bobby Blitz Ellsworth (ouça-se “Lucid nightmare”, a título de exemplo). As canções são

o que se pode esperar num álbum de heavy metal, e os títulos das mesmas também não enganam: “Necronomicon”, a power ballad “Black magic”, “Wings of steel”… enfim, são clichés do género e assim as Burning Witches jamais poderão ser acusadas de publicidade enganosa, especialmente quando têm uma dupla de guitarristas (Sonia Nusselder e Romana Kalkhul) que não envergonhariam Glenn Tipton e K. K. Downing. «Dance With The Devil» é sem dúvida um disco que cativará os fãs de heavy e power metal, ideal para quem tem saudades dos tempos áureos de grupos como Accept, Judas Priest, Manowar ou mesmo de Doro e dos seus Warlock. E já que se fez menção aos Manowar, registe-se a muito boa versão de “Battle hymn” com que as Burning Witches encerram este «Dance With The Devil», enriquecida pela participação de Mike LePond e do próprio Ross The Boss. Altamente recomendado para quem sente falta de um bom heavy metal à maneira antiga (mas com produção de século XXI), ou para quem quer iniciar-se neste género. [8/10] HELDER MENDES

CALIGULA’S HORSE

«Rise Radiant» (InsideOut Music) A banda australiana de rock/metal progressivo está de volta com o seu quinto álbum de originais, com uma sonoridade e uma cadência musical que me faz lembrar Leprous ou Maraton. A banda conta com um novo baixista, Dale Prinsse, que já tinha trabalhado com a banda, como engenheiro de som, em trabalhos anteriores. A ascensão radiante («Rise Radiant») começa com uma tempestade no seio da vivência humana, “The tempest”, questionando-nos sobre uma mentira em que queremos acreditar: encontrar o nosso caminho poderá ser uma espécie de canção de embalar. Nós somos o sangue e a culpa! Não há santos para nos salvar! Não preciso de nenhum santo para me salvar… e, assim, prossegue numa cadência sonora rendilhada de avanços e recuos, de altos e baixos, ao encontro de uma violência lenta (“Slow violence”) e com algum tempero, “Salt”, até ressoar, “Resonate”, no tema mais tranquilo do álbum, para de seguida entrar numa maré alta, “Oceanrise” e “Valkyrie”. Entretanto, chega o Outono, “Autumn”, para abraçarmos a mudança. Finalmente, em “The ascent”, dá-se a ascensão radiante ao cume da montanha, “não há morte”, “a morte é apenas um acordar” sem medo de seguir o nosso caminho. [8/10] JOAO PAULO MADALENO

CALLIGRAM

«The Eye is the First Circle» (Prosthetic Records) O primeiro longa duração dos Calligram é um dia passado no meio do caos e da confusão. Uma jornada que não nos correu bem de forma alguma. Dizer que apontam a sobrevivência pelo amor na travessia pelo caos diz muito sobre este trabalho. É um disco que vai directo ao assunto e portanto, ou se gosta ou não se gosta, mesmo tendo aqui várias dimensões como a sonoridade abundante das guitarras, a fúria dos riffs típicos do negrume nórdico, a raiva descontrolada do hardcore mais visceral ou um pouco de melodia antes de tudo isto desabar sobre o ouvinte. Afaste-se, contudo, qualquer ideia sobre falta de personalidade ou originalidade por parte deste quinteto, não estivéssemos a falar de um colectivo multicultural com membros oriundos de França, Itália, Brasil ou EUA. Ao passarem por temas como “Serpe” ou “Kenosis” vão rapidamente perceber se os Calligram vos pegaram pelos colarinhos de uma forma que vos fizeram ficar a gostar. Se não pegar por aqui, ainda há esperança de serem encostados à parede pelo tema que fecha o disco e que é também o mais ambicioso, “Un dramma vuoto v insanabile”. Esperemos que seja possível deitar o olho a novas criações dos Calligram no futuro. Prometem. [8/10] EMANUEL RORIZ

CHRONUS

«Idols» (Listenable Records) Quando vejo o nosso escriba Daniel Coelho entusiasmado acerca de um disco fico sempre com arrepios. Mas, ouvido o disco (por diversas vezes!) percebe-se o motivo desse entusiasmo. O segundo disco deste quarteto sueco é uma excelente surpresa. Rock melódico até ao osso, com alguns requintes de Mastodon, mas de uma subtileza, com um sentido estético e musical bem vincado, a banda mostra como, sem ser preciso reinventar nada, se consegue fazer um excelente disco com grandes malhas. É impossível escutar qualquer tema de «Idols» sem dar-mos por nós a bater o pé. Se em 2017 o disco de estreia, homónimo, pode ter passado despercebido a muitos melómanos (onde me incluo), este segundo tomo vem mudar a perspectiva e trazer um novo olhar para uma banda que se revela uma lufada de ar fresco no Rock. «Idols» é uma espécie de pescadinha de rabo na boca, tal a forma como nos embrulha e nos envolve no manto sagrado do Rock. Habemus disco! [8/10] NUNO C. LOPES

COMMANDO

«Love Songs #1...Total Destruction Mass Executions» (Firecum Records) Rui Vieira (Baktheria, Machinergy, Miss Cadaver) deve ter, certamente, bichos de carpinteiro e parece que qualquer motivo é bom o suficiente para criar novos projectos. Neste caso bastou um encontro, 25 anos depois, com José Gracio para que os Commando ganhassem forma. Praticantes de uma sonoridade que os próprios definem como Crossunder, esta banda não pretende ser mais do que é - e isso é uma homenagem ao Thrash, Crossover e Punk que fez as delicias de muitos nos anos 90. Mostrando uma outra faceta de Vieira, que não perde a oportunidade de disparar alguns tiros certeiros no actual estado das coisas, aqui num formato mais stand-up, que por vezes peca por excesso, mas o que é que isso interessa?! O importante é que assim que começa a rolar com “Metal is the Lei” este disco é tão imediato que nos agarra e que se prende aos ouvidos, muito graças a uma produção cuidada e, claro, com faixas tão simples como “Moshpitas” (e essa intro José?!), “Ichi Ni San” ou uma muito Thrash (com H senhor Rui) “É isso não mexas mais”. O que os Commando fazem não é mais do que aligeirar as coisas e pedir umas cervejas a acompanhar. Este é um hino à amizade; esta é uma homenagem ao Metal. Isto é só Metal! [7/10] NUNO C. LOPES

HAKEN

«Virus»

(InsideOut Music) Dez anos após o álbum de estreia, aparece este «Vírus» (não se trata de nenhum Corona), o sexto álbum de originais com a essência de progressivo, a oscilar entre o rock e o metal, suportado por uma composição consistente e audaz. Aliás, segundo o texto oficial de apresentação do álbum, o excelente tema de abertura, “Prosphetic”, estabelece uma ligação de continuidade ao álbum predecessor, «Vector», e conclui o conceito musical experimental aí iniciado. Honestamente, só descobri os Haken com a audição deste álbum e é como quando alguém conhece a mulher da sua vida e questiona-se por onde é que ela andou esse tempo todo… Entretanto, não pude deixar de rever os restantes álbuns, até para ter uma ideia da evolução da banda ao longo desta década. Com esta experiência auditiva, complementada com textos sobre a banda, onde alguns até mostravam uma certa desilusão relativamente a este álbum, quando comparado com álbuns anteriores, pude concluir precisamente o contrário: é o que vai mais ao encontro dos meus conceitos e gostos musicais e está ao nível dos restantes. Ross Jennings mostra toda a sua versatilidade vocal, Diego Tejeida surpreende-nos com uma panóplia de recursos e pormenores subtis e criativos no teclado, que complementam a sonoridade mais ritmada e forte do baixo do Conner Green e da bateria do Raymond Hearne, conjugada com os riffs e solos das guitarras do Charlie Griffiths e do Rich Henshall. A primeira parte do álbum inclui 5 temas à volta do “Carousell”, sendo “Prosthetic” o meu preferido. Após, deparamo-nos com “Messiah complex”, a rondar os 17 minutos, subdividido em 5 andamentos. É, simplesmente, extraordinário! O álbum termina com “Only stars” que nos induz num sono e adormecemos sem termos a percepção do seu fim de tão suave que ocorre… [9/10] JOAO PAULO MADALENO

HEAVEN SHALL BURN

«Of Truth and Sacrifice» (Century Media Records) Quatro anos após «Wanderer» o quinteto germânico está de regresso com, talvez, o seu disco mais ambicioso de sempre, não só em termos conceptuais como, igualmente, em termos sonoros. São dois discos, que perfazem um total de 97min e que pretendem abanar os alicerces de uma sociedade global à beira do colapso, cada vez mais iminente. Desligados de qualquer influência externa que pudesse colocar em causa o disco, a banda fechou-se no estúdio, pensou e repensou sobre o estado actual das coisas e, com isso, traz uma lufada de ar fresco ao seu som. É certo que, sendo um disco duplo, a sua escuta deve ser feita de forma moderada para se entender o que os HSB querem dizer e quiseram fazer. Também é certo que há por aqui algumas surpresas, tais como uma secção de cordas, contudo a sonoridade da banda mantémse intacta e, nestes 19 temas o que temos é um disco equilibrado e com motivos de interesse mais do que suficientes para merecer a escuta, mesmo com todas as dificuldades que um disco assim pode trazer ao ouvinte. Dividido em duas partes, «Truth» e «Sacrifice» é um bom exercício social e um despertar de uma sociedade desprovida (cada vez mais) de ideias próprias e de desinformação. Mais do que um disco de Metalcore ou Death Metal melódico, «Of Truth and Sacrifice» é um grito de revolta e, ao mesmo tempo, um pedido de ajuda. Os germânicos não têm nada a provar mas desafiaram as regras do jogo e a aposta foi superada. [8/10] NUNO C. LOPES

IGORRR

«Spirituality and Distortion»

(Metal Blade Records) Depois de habituarem os ouvidos a este novo disco dos Igorrr é provável que qualquer trabalho dos Carnival in Coal ou dos Mr. Bungle soe a rock convencional. Ok, até posso estar a exagerar, mas a comparação ilustra bem a anarquia criativa, absurdamente torcida e esquizofrénica, que reina neste quarto registo de originais do projecto a solo de Gautier Serre. Se o álbum «Savage Sinusoid» de há três anos já foi recebido como uma verdadeira pedrada no charco, «Spirituality and Distortion» parece ir ainda mais além na exuberância sónica, focando-se fortemente, desta vez, no colorido das melodias folk do mundo. Isto inclui sonoridades do médio oriente e dos Balcãs, autenticadas por ouds, alaúdes, citaras, acordões e violinos. E ainda cantares ciganos que se fundem com influências clássicas, estranhos e frequentes efeitos electrónicos, blast-beats e grunhidos death metal. Enfim, uma fusão refrescante, nada invulgar no universo sem fronteiras deste multi-instrumentista francês que, mais uma vez, teve aqui a ajuda de uma série de músicos convidados, entre os quais se conta George “Corpsegrinder” Fischer. Mas no que toca a vozes, os louros vão todos para Laure Le Prunenec (companheira de Serre nos Öxxö Xööx e Corpo-Mente) que nos delicia com a versatilidade da sua faringe de expressão idiossincrática. «Spirituality and Distortion» soa mais pesado que o disco anterior, e embora mantenha sempre o nível mínimo necessário de coesão, é também um trabalho mais rebuscado na sua excentricidade e na sua demarcação de fórmulas e convenções. Criatividade é isto mesmo. [9.5/10] ERNESTO MARTINS

KING BUZZO (WITH TREVOR DUNN)

«Gift of Sacrifice» (Ipecac) King Buzzo, isto é, Roger “Buzz” Osborne, dispensa apresentações. Mas «Gift of Sacrifice», o seu segundo disco a solo, requer algumas. É um trabalho esquisito – mas já sabemos que todos os projectos em que Buzzo se envolve o são –, mas esquisito de maneira diferente dos Melvins ou dos Fantômas. A começar, porque é um disco acústico, e depois porque se inspira, e muito, na folk americana, aspecto maximamente presente em canções como “I’m glad I could help out” ou “Science in modern America”. No entanto, há quase sempre um twist buzziano a anunciar-se nas canções, tornando-as interessantes e menos previsíveis, seja pela voz de Buzzo, seja pela própria estrutura musical de cada uma, seja pela excelente percussão de Trevor Dunn, aqui muito mais “em casa” do que nos Melvins ou nos Fantômas. E falta falar da adição de elementos electrónicos, que acrescentam mais estranheza a algo que já é de si pouco convencional, como exemplificam as faixas número 7 e 8, “Bird animal” e “Mock she”. «Gift of Sacrifice», longe de ser uma obra-prima (let’s cut the crap: não o é!), tem qualidade suficiente para merecer atenção cuidada, seja-se ou não apreciador da carreira de King Buzzo. Mesmo na falta de guitarras distorcidas, esta deriva a solo de King Buzzo possui “peso” quanto baste para apelar a gostos rockeiros ou metaleiros e detém igualmente uma sofisticação cuja consequência é melhorar o disco a cada nova audição. Pena a sua curta duração; não se perderia nada com mais 10 ou 15 minutos de (boa) música. [7.5/10] HELDER MENDES

MY DYING BRIDE

«The Ghost of Orion» (Nuclear Blast Records) Chegar aos trinta anos de carreira com mostras inequivocas de folgo criativo não é algo que muitas bandas se possam orgulhar. Mas é esse o caso dos britânicos My Dying Bride. Este décimo quarto álbum - o primeiro sem o selo da histórica Peaceville Records e não produzido por Mags - marca, por um lado, um retorno ao estilo gothic/doom mais friendly da formação britânica, ao mesmo tempo que inclui, por outro, novidades q.b. em termos de composição. As primeiras três faixas do disco seguem de perto a peculiar fórmula melódica, destacando-se aqui a genial “Tired of tears” pelas suas sublimes harmonias vocais. “The solace” tem o dom de nos transportar para tempos ancestrais por intermédio da voz angelical de Lindy-Fay Hella (Wardruna) e das fantásticas melodias folk planantes de guitarra que soam como gaitas de foles electrizadas. A agressividade do disco sobe uns furos a partir de «The long black land», com Aaron a recorrer pela primeira vez ao seu tenebroso registo death, chegando mesmo a lembrar a faceta mais sombria, primordial da banda, em «The old earth». Com o violino e os teclados relegados para segundo plano e os temas mais conduzidos agora pela guitarra de Andrew Craighan, «The Ghost of Orion» foi um trabalho criado numa fase complicada da vida do grupo - a filha de Aaron, de cinco anos de idade, foi diagnosticada com cancro; o guitarrista Calvin Robertshaw abandonou a banda sem explicação… -, e por isso até podia não ter acontecido nunca. Mas aqui está ele, e depois

de o ouvir ninguém diria que a banda passou por tantas complicações. Dir-se-ia que o infortúnio nada é perante os mestres inigualáveis da fina arte da miséria sónica. [8/10] ERNESTO MARTINS

MYRKUR

«Folkesange» (Relapse Records) Antes de avançar para um olhar sobre o terceiro disco da dinamarquesa Amelie Brunn, salientase o roster da editora Norte-Americana Relapse Records cuja diversidade vai além de qualquer suspeita e é um polvo cujos tentáculos exploram tantas sonoridades quanto aquelas que cabem numa vida. Dito isto, não se estranha que um projecto como Myrkur encaixe numa editora que arrisca sem qualquer receio. «Folkensange», que pode ser traduzido de forma livre como «música Folk» é isso mesmo, um disco simples e que permite ao ouvinte ausentar-se do seu corpo e respirar. É certo que a voz de Amelie é um canto de anjo que embala o nosso caminho. Este não é disco de Metal e não o pretende ser, mas é um terceiro disco que revela o talento da sua criadora e, acima de tudo, a sua versatilidade e a sua devoção às sonoridades Folk. Depois do peso que foi «Mareridt» (2017), Myrkur baralha e volta a dar num disco que assume o risco da independência e que pode marcar uma viragem na sonoridade do projecto. Se o mito do terceiro disco existe, ele não entra nas contas de Amelie Brunn. Quantas vezes o melhor da vida não está nas coisas simples? [8/10] NUNO C. LOPES

SVART CROWN

«Wolves Among the Ashes» (Century Media Records) Os franceses estão de regresso e fazem-no à bruta, sem qualquer perdão. Depois de um período em que JB ficou praticamente isolado, encontrou o refúgio nos seus ex-companheiros. Primeiro foi Ranko Muller, depois Clément Flandrois que tal como a Fénix fizeram com que as ideias do vocalista fossem tomando forma ao longo destes 2 anos. Dito isto, podemos dizer que «Wolves Among the Ashes» é um disco típico de Svart Crown- Contudo podemos também dizer que esta muralha sonora está igualmente mais densa e, ao mesmo tempo, mais diversa. É certo que a banda nunca seguiu as regras do jogo e isso fica provado ao longo do seu historial. A principal diferença é mesmo em termos líricos pois o disco centra-se no poder de uns sobre outros e de como o humano faz o que tem de ser feito para ser bem sucedido (acreditem que não é bonito!) em vez de se centrar em histórias e experiências de JB. Por isso mesmo «Wolves Among the Ashes» é um disco tenebroso e assustadoramente real. Um regresso com armas carregadas e com mira afinada. Os Svart Crown estão de regresso e já tínhamos saudades. [8/10] NUNO C. LOPES

TOUNDRA

«Das Cabinet Des Dr. Caligari» (InsideOut Music) Para todos os seguidores do quarteto madrileno, especialmente para aqueles que só foram fortemente atraídos pelo «Vortex» editado em 2018, ouvir este novo trabalho dos Toundra será um exercício de resistência. A sonoridade ambiental e por vezes esotérica é bastante familiar, mas há aqui uma abordagem diferente do que seria de esperar ou do que se estaria a prever. Por isso é importante contextualizar esta experiência, pois a fonte de inspiração deste trabalho é proveniente de uma nova dimensão para os Toundra. Em 2020 passam 100 anos desde o lançamento do filme mudo intitulado “Das Cabinet Des Dr. Caligari” e os Toundra assinalam a data com a composição de uma banda sonora original para a película germânica. A sua componente visual é pesada e a mensagem é um alerta para a manipulação de ideais que surgiam pela altura na Europa…quão actual continua?! E são estas as características que os Toundra espelham nestes 75 minutos de música 100% instrumental. A resistência que mencionei no início advém da tremenda tensão que os diferentes temas nos injectam. Conhecendo-se a obra dos Toundra é sabido que a sua música vai rebentar e desaguar algures nas paisagens que constroem. Mas aqui a história é mesmo outra. ”Des Cabinet des Dr. Caligari” dos Toundra pode ser um teste à nossa sede de explosão, mas aos fãs de música pesada sempre foi reconhecido o prazer obtido no desconforto de certa sonoridade, não tendo ela de ser necessariamente agressiva. [7/10] EMANUEL RORIZ

TRIPTYKON

«Requiem (Live At Roadburn 2019)»

(Century Media Records) No dia 12 de Abril de 2019, pelas 16h, a arena do prestigiado Roadburn Festival (Tilburg, NL) testemunhou algo verdadeiramente extraordinário: a apresentação de uma obra que muitos já julgavam inacabada para sempre, a trilogia “Requiem”, idealizada por Tom Warrior e Martin Eric Ain dos Celtic Frost, cuja primeira parte, “Rex irae”, sobressaiu já no álbum «Into the Pandemonium» como o mais avantgarde que se podia ouvir em 1987. A terceira parte da peça, “Winter”, ainda surgiu, muito mais tarde, no disco «Monotheist», mas a dissolução subsequente da banda praticamente enterrou qualquer esperança de conclusão da desejada missa pro defunctis. E é aqui que entram os Triptykon com a organização do Roadburn que, em 2018, teve a iniciativa de comissionar a parte em falta do “Requiem” à banda de Warrior, em parceria com a Dutch Metropole Orkest. O resultado, apresentado ao vivo, na íntegra, no dito festival, dificilmente podia ser melhor. O diálogo morbido entre Warrior e a tunisina Safa Heraghi na primeira parte, acompanhado pela inquivoca guitarra arrastada dos Frost e pela orquestra, continua a dar os mesmos arrepios na espinha que a versão original de há 32 anos. A segunda parte, “Grave eternal”, o único segmento inédito, totaliza mais de meia hora e prossegue numa toada ainda mais doomy, abrindo com um surpreendente solo Pink Floydiano e fundindo depois psicadelismo com música clássica, percussões tribais e mantras balbuciados por vozes moribundas que parecem testemunhar a derradeira travessia do Styx na embarcação de Caronte. Uma experiência transcendente que tem na terceira parte o seu grand finale, com uma versão ainda mais refinada de “Winter”. Não restam dúvidas de que valeu bem a pena esperar mais de três décadas pela conclusão de “Requiem”. [9/10] ERNESTO MARTINS

WITCHCRAFT

«Black Metal» (Nuclear Blast Records) «Black Metal» é o regresso dos Witchcraft, e o mínimo que se pode dizer é que a nova sonoridade constitui uma enorme surpresa. Falta é perceber se essa surpresa é boa ou má. É que do stoner psicadélico que lhes era associado, nem sombras. Os “novos” Witchcraft são uma encarnação distinta e totalmente acústica, daí que o título do novo disco tem de ser entendido de maneira irónica, porque aqui não há nem black, nem metal. Ou talvez não seja bem assim: Magnus Pelander compôs músicas seguramente “negras”, às quais emprestou a sua excelente voz de uma maneira mais lamentosa do que vinha sendo habitual, como é notório em “Elegantly expressed depression” ou “Grow”. A herança dos Pentagram, Black Sabbath e afins já não é contudo o que move os Witchcraft, agora muito mais próximos de uns Anathema em registo acústico e, sobretudo, de uma certa dark folk/country americana que tem sido muito revisitada ultimamente, até por artistas com ligações à música mais pesada. Portanto, eis os factos: quem estiver à espera de algo semelhante a «Firewood» ou «The Alchemist», bem pode ir apanhar outro comboio porque a música dos Witchcraft já não pára nessa estação. «Black Metal» é sem dúvida um álbum corajoso e ambicioso que reflecte o actual estado de espírito de Magnus Pelander, mas será apenas recomendado a quem estiver a sofrer de uma depressão (amorosa ou outra…) e quiser desanuviar um pouco de guitarras eléctricas. [6.5/10] HELDER MENDES

CRITICAS VERSUS

CONVOCATION

«Ashes Coalesce» (Everlasting Spew Records) Apesar de se descrever como doom funerário de estilo próximo dos praticados pelos Evoken e Esoteric, a música dos finlandeses Convocation apresenta, adicionalmente, neste segundo registo, um dinamismo mais próprio de um death metal de baixa rotação. À atmosfera sinistra e aos teclados atmosféricos, somam-se riffs poderosíssimos, notas melódicas no tempo certo e uns ocasionais vocais limpos que nos mantêm de ouvido colado, mesmo em temas tão longos. A produção impecável de um especialista do género - Greg Chandler - também ajuda. [8/10] ERNESTO MARTINS

EXHUMED/GRUESOME

«Twisted Horror» (Relapse Records) Seja para fãs do estilo ou apenas para curiosos que queiram provar um bocado desta singela dose de death metal, este split CD é uma espécie de brunch, que nos pode deixar plenamente satisfeitos a um domingo de manhã. Os Exhumed abrem a ementa com três pratos servidos frios como a mais saborosa das vinganças. Os títulos não deixam margem para dúvidas. “Rot your brain” ou “Dead, deader, deadest” fustigam-nos o ouvido com muita rapidez, técnica e horror. O apontamento clássico deste repasto é servido pelos Gruesome, que invocam a majestosa receita do chefe Chuck Schuldiner com dois temas nostálgicos e que acabam por nos forrar o estômago na medida ideal. São apenas 19 minutos de música, mas a boa notícia é que se sentirmos necessidade de repetir não teremos de nos preocupar com as calorias ingeridas.

[7.5/10] EMANUEL RORIZ

GEOFF TYSON

«Drinks With Infinity» (Cargo Records) Quem é Geoff Tyson? Assim, muito resumidamente… considerem-no um discípulo de Joe Satriani. De facto, pode até parecer um pouco redutor mas Geoff foi um dos estudantes que Satriani considerou como “licenciado”, sendo outro e só por curiosidade, Steve Vai. «Drinks With Infinity» é o primeiro álbum a solo, totalmente instrumental e como já deverão ter percebido fortemente inspirado e influenciado por Satriani. Avalio este tipo de álbuns, instrumentais e muito direccionados para um só instrumento, neste caso a guitarra, por aquilo que me consegue cativar; se me leva a ouvir mais vezes, porque haverá na música pormenores ou aspectos para descobrir. Outro aspecto é o shred que muito guitarristas abusam em troca da musicalidade. Pois, Geoff é cheio de musicalidade, de que são exemplos “Shag”, um tema que gira em torno de um riff cheio de groove ou, se assim lhe podemos chamar a balada “Are You With Me?”. O único senão que encontro no disco é a falta de orgânica numa bateria programada, no entanto, a música ouve-se muito bem, é sóbria e, porque não, divertida. O disco continua a rodar, o que é bom sinal e além disso, Geoff Tyson é um guitarrista do ca… mandro! [7.5/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

IN MOURNING

«Monolith» (Agonia Records) «Shrouded Divine» distinguiu-os, em 2008, como banda revelação, e este segundo álbum, agora reeditado, confirmou os suecos In Mourning como um portento de talento com algo de novo para oferecer no quadrante do death metal progressivo de tendências melancólicas. Isento das alusões Opethianas do primeiro disco, «Monolith» é um trabalho criativo e rebuscado, com uma malha rítmica notável, cheio de voltas inesperadas e um cuidado particular devotado à coerência musical dos temas. Quem não o adquiriu em 2010, tem agora uma segunda oportunidade. [9/10] ERNESTO MARTINS

NAVIAN

«Reset» (Indie Recordings) Formado por um trio de talentosos estudantes de música, os Navian apresentam aqui um trabalho genial, inteiramente instrumental, na linha dos Animal as Leaders. São cinco temas vibrantes centrados na guitarra de Martin Selen, de composição focada e sem exibições técnicas vazias, cheios de melodias maravilhosas, ganchos pegajosos e onde a execução, solta mas imaculada, consegue transmitir aquela paixão pela música que por vezes parece já perdida. A banda promete, e o primeiro álbum está já agendado para o início de 2021. Vamos ficar atentos. [9/10] ERNESTO MARTINS

RAZOR SHARP DEATH BLIZZARD

«The World is Fucked» (Independente) Estes caríssimos Razor Sharp Death Blizzard chegam-nos directamente da Escócia. São nove descargas furiosas, anárquicas e viscerais de Punk Hard Core, ali a meio caminho entre os The Exploited e Dead Kennedys. Música despojada de regras, “nua e crua”, mensagens e manifestos políticos e anti-fascistas. Quando damos conta … PAMBA! «The World is Fucked» chega ao fim, assim, sem avisos prévios! E lá voltamos a carregar no “play”. Em jeito de conclusão e tal como o álbum de estreia dos The Exploited, podemos dizer que “Punk’s Not Dead”. [7.5/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

SMILING ASSASSIN

«Plight of the Millennial» (Warren Records) O álbum de estreia dos Smiling Assassin traz-nos uma descarga de Hardcore Punk, irreverente, por vezes visceral mas com uma sonoridade moderna. O álbum abre com um tema em forma de manifesto e o segundo a fazer lembrar os Napalm Death, meia dúzia de segundos, blast beat e 3 vezes “fuck”. Pelo meio seis temas que mais parecem uma bala saída de uma qualquer arma, directos e dilacerando tudo o que aparecer pela frente. A temática ou se quiserem os manifestos, giram à volta das dificuldades que esta geração enfrente nos dias de hoje. O álbum termina com gritos e tiros de caçadeira, assim, com todo o respeito. No total, estamos perante um CD com pouco mais de 15 minutos… por isso, acho que merecíamos mais qualquer coisinha [6.5/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

THE BIG DIRTY

«The Sex» (Independente) Os The Big Dirty decidiram - que dizem eles – revitalizar o Sleaze Rock. Para quem não conhece bandas como Mötley Crüe ou LA Guns fizeram-no ali por volta das décadas de 80 e 90. Esta banda foi formada em 2018, sendo que «The Sex» é o seu álbum de estreia. Apesar de ser assim um pouco… sem piada, “sensaborão”, simplesmente, porque não traz nada de novo, nada que possamos dizer… UAU! estes gajos reinventaram o estilo, ou algo do género. No entanto, o álbum está bem produzido, muito boa sonoridade, suficiente maduro para quem só começou nestas andanças em 2018 mas… e há sempre um mas… falta ali um pouco de força e, mais importante, demarcarem-se do que os outros já fizeram e centrarem-se em (tentar) fazer algo o mais original possível. [6.5/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

THE DITCH AND THE DELTA

«The Ditch And The Delta» (Prosthetic Records) Sei que estou perante um bom disco de sludge no momento em que as palavras sujeira, lamacento, surgem logo à cabeça na primeira audição. É mesmo assim o início deste álbum homónimo dos The Ditch And The Delta com o tema “Maimed”, sem espinhas. Logo de seguida, “Exile”, uma das canções mais interessantes do disco, acrescenta algo mais ao permitir erguer a cabeça, respirar, na extensão dos seus primeiros momentos. Este é um disco que flúi segundo uma linha condutora bastante dinâmica, ora mais introspectivo, ora mais alarmante, mas sem desviar um milímetro que seja da personalidade vincada que o trio de Salt Lake City (Utah, EUA) já edificou. É merecida uma salva de palmas, todos em pé, pela coesão das estruturas musicais apresentadas e pelas viragens inesperadas que nos agarram com força. [8.5/10] EMANUEL RORIZ

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