Versus#56

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CRITICAS VERSUS (16)

«Dream Squasher» (Relapse Records) Os reis do riff lamacento estão de volta com um álbum de originais. É já o oitavo, numa carreira quase a atingir os 30 anos de actividade. Este «Dream Squasher» é possivelmente um dos esforços mais inspirados deste colectivo californiano. Há aqui algo mais do que nos anteriores trabalhos e não será só a dose de positivismo que injectaram em alguns dos temas, tal como afirmou Bobby Ferry (vocalista e guitarrista). A abertura do disco é feita com um tema típico dos (16) e sem grandes surpresas entramos pela segunda faixa, que nos deixa o refrão a ecoar na cabeça. Ao terceiro tema, “Sadlands”, percebemos que os (16) alargaram horizontes, com sabedoria, pois acrescentam elementos sem que se descaracterizem e sem encetar uma qualquer mudança de rumo. Enriquecem-se. Mais melodias e harmonias cativantes a puxar pelas emoções. Depois de várias audições ao disco, parece-me ser seguro dizer que os alinhamentos dos concertos dos (16) vão passar a ter uma boa quantidade de temas deste novo álbum. Experimentem a sequência “Agora (killed by a mountain lion)”, “Ride the waves”, “Summer of ’96”. Se no final estiverem a suar, tentem recuperar bem o fôlego, pois ainda têm mais dois temas para digerir antes do disco terminar. Nota positiva também para mais um artwork bastante interessante. [8/10] EMANUEL RORIZ

AARA

«En Ergô Einai» (Debemur Morti Productions) A dupla Berg e Fluss que forma os AARA tem andado produtiva q.b., pois este é o seu segundo longa-duração no intervalo de um ano. «En Ergô Einai» compõe-se de cinco faixas de black metal atmosférico e melódico e tem motivos de interesse suficientes para lhe darmos ouvidos. Comecemos pela abertura “Arkanum”, que mostra um black metal feito como mandam as regras durante os seus 9 minutos, destacando-se as linhas melódicas da guitarra de Berg, sobretudo a partir do minuto 7. Este é um padrão que vai repetir-se ao longo de «En Ergô Einai»: faixa atrás de faixa, deparamos com algo que segue os ditames do género, mas a dado momento aparece sempre algo que surpreende e nos pega pelas orelhas, no bom sentido da expressão. Essa surpresa deve-se não a qualquer carácter revolucionário – revolucionários é coisa que os AARA definitivamente não são – e sim à colocação, no sítio certo, das coisas certas. Se assim nos podemos exprimir, diríamos que os AARA são uma espécie de burocratas do black metal atmosférico: não trazem nada de inovador nem são pioneiros de coisa alguma, mas revelam uma nítida competência no seu trabalho e cumprem-no de forma tão correcta que qualquer patrão/chefe/CEO chegaria ao fim do disco com vontade de lhes dar uma palmadinha nas costas como agradecimento. Só não merecem um aumento porque «En Ergô Einai» tem apenas 34 minutos de duração, o que acaba por saber a pouco tendo em conta o que os AARA mostram. [7.5/10] HELDER MENDES

ABOVE AURORA

«The Shrine of Deterioration» (Pagan Records) Quem esteve no concerto dos Mgla, em Setembro passado no Hard Club, deve recordar-se desta formação, também originária da Polónia (embora resida actualmente em Reykjavik, Islândia), que abriu as hostilidades dessa noite. Na altura traziam na bagagem o incipiente álbum de estreia «Onwards Desolation», lançado em 2016, assim como um EP de título «Path to Ruin» que já deixava antever uma evolução do seu black metal num sentido bastante mais atmosférico. Gravado no Inverno passado, este segundo longa duração confirma essa tendência, com um trabalho mais apurado e particularmente eficaz na criação de passagens de ambiência sombria. O instrumental “Blurred luminosity” abre da melhor maneira este «The Shrine of Deterioration» com um notável trabalho de guitarras espaciais e uma cativante secção rítmica doomy. Os restantes cinco temas incluem riffs bem chamativos, um baixo proeminente e criativo, e uma voz de uma frieza insondável que nos transporta para dimensões hipnóticas e reflexões pessimistas. A produção de Haldor Grunberg confere uma excelente definição a todos os instrumentos o que é mais um ponto a favor. A composição é que parece ser pouco variada, com os temas a basear-se em estruturas muito semelhantes e a revolver em torno de ideias demasiado parecidas. Ainda assim «The Shrine of Deterioration» é um disco que deverá agradar a fãs de black metal atmosférico, assinalando mais um passo decisivo na progressão artística deste jovem trio. [7.5/10] ERNESTO MARTINS 2 2 / VERSUS MAGAZINE


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