Versus#56

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EDITORIAL

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Tempo de “guerra” Po r d ef inição, o U nderground é sin ó n im o d e éti c a d o it yo u rse lf. Ou seja, de criar e desenvol ver p r o j eto s a r tís ticos válidos susten tados n o pró pri o es f o r ç o , a té p orque os apoios do E stado são , bo a p a r te d a s ve z es , ca na liz a do s para projetos frequ en temen te r u in o s os, pr ot ag onizado s sempre pelos mes m o s s u g a d ore s da ma ma estatal. In depen den temen te d o e s t ra t o socioe conómico to dos n ó s os con h ec em o s , n u m a r e a lidade transversal ao mu n do ar tí s ti c o e d o e n t r e te nime nt o. É po r isso que o fech o de salas como o S a b o ta g e (q u e j á no ano passado , an tes de a epid emi a ec l o d i r, h av ia anuncia do o fim prematu ro) e a imi n ên c i a d o e n c er rame nt o de espaço s co mo o RCA C l u b é a i n d a m a is revolt a nt e . Falamos de lo cais onde mu i to s d e n ó s f omos f e li zes, o n de assistimo s a g ra n d es c o n c e rt os, onde fizemos amigo s e reenco n trá mo s o u t r o s . Locais on de muito s atuaram pel a p r i mei ra ve z . De p o i s do início da pan demia n ada será i g u a l , i s s o é u m a ce rt e z a . O s mo ldes de espetácu lo a l tera ra ms e pa ra se mpre , e a fo rma de usu fru ir do s even to s t a m b é m. Mas a cultu ra, as artes, e a NO S S A m ú s i c a , o ME TAL , não podem cair por terra após ta n to es f o r ç o a o lo n g o de dé cadas, tan ta dedicação p o r a m o r à c a u s a . As nossas bandas, artistas, prom o to r es , d o n o s d e s a la s de e spe tácu lo s, ó rgão s de co m u n i c a ç ã o s o c ia l e t c. re que rem, mais do qu e nunca , o n o s s o a p o io . E a poio f inan ceiro, mesmo que a través d o d o n a t ivo de um simples euro . No fu n do, tra ta -s e d e u m c all t o a r ms, na maio ria dos casos d es es p era d o . F a ç a m a dif e r e nça, apo iem o s projetos. M a n ten h a m o U n d e r g round de pé, ajudem a preserv a r o c i r c u i to po s s íve l de concertos. É n estas alturas q u e s e vê a f ib ra dos f ãs. Bo a música e t ra tem da vossa saú de, Dico

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D IR E C Ç Ã O Adriano Godinho, Eduardo Ramalhadeiro & Ernesto Martins

G R A F IS M O Eduardo Ramalhadeiro

COLABORADORES Adriano Godinho, Carlos Filipe, Cristina Sá, Dico, Eduardo Ramalhadeiro, Eduardo Rocha, Elsa Mota, Emanuel Roriz, Ernesto Martins, Frederico Figueiredo, Gabriel Sousa Helder Mendes, Hugo Melo, Ivo Broncas, João Paulo Madaleno, Nuno Kanina, Paulo Freitas Jorge e Victor Alves

F O T O G R A F IA Créditos nas Páginas Todos os direitos reservados. A VERSUS MAGAZINE está sob uma licença Creative Commons Atribuição-Uso Não-ComercialNão a Obras Derivadas 2.5 Portugal.

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MEKONG DELTA

C O N T E ÚDO Nº56

0 4 N O TÍC IA S

22 CRITIC A S V E R S U S

6 2 IR O N S WO R D

0 5 T R IA L B Y FIR E

32 ALBUM V E R S U S

6 6 B A IT

0 6 G A ER E A

34 CARA C H A N G R E N

1 0 B O RG NE

40 EM ANU E L R O R IZ

1 2 H O ME M DA MO TOSERRA

41 PLAYL IS T

7 1 G R Ê L O S D E H O RT E L Ã

1 4 C O NSTE LL ATIA

48 BPM D

7 2 PA L E T E S D E M E TA L

1 6 T H E AL LIG ATO R W INE

54 ANTRO D E F O L IA

2 0 N U NO LO P E S

58 TETEM A

MOSH

O R A N S S I PA Z U Z U

68 OLD FOREST A C U L PA É D O C E M I T É R I O

MASHUPS

7 0 G A B R IE L S O U S A

82 GARAGE POWER 8 6 D O D IC I C IL IN D R I

(SU)POSIÇÕES

100 ANOS DE OPRE SSÃO

A C O N S TA N T S T O R M

KOENIGSEGG GEMERA

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Notícias Rob Halford confessa-se Depois da autobiografia de K.K. Downing, publicada em 2018, é agora a vez do frontman dos Judas Priest, Rob Halford, publicar a sua. Escrita em coautoria com Ian Gittins, “Confess” será lançada em Setembro do corrente pela Hachette Books e promete, segundo o próprio Halford, chocar muito boa gente. Benediction novamente com Ingram Mais de vinte anos depois, Dave Ingram está de regresso ao comando dos Benediction, imprimindo o seu inequívoco vozeirão no novo álbum «Scriptures», a lançar no próximo dia 16 de Outubro pelo selo Nuclear Blast. O primeiro single/video “Rabid Carnality” já anda por aí a rodar. Vio-Lence gravam cover de “California Uber Alles” Incontornáveis da cena thrash da Bay Area, os VioLence acabaram de lançar em single uma cover de ‘California Uber Alles’, original dos Dead Kennedys. A lendária banda reuniu-se em 2019, inclui agora o guitarrista Bobby Gustafson (ex-Overkill) e o baixista Christian Olde Wolbers (ex- Fear Factory) e está a trabalhar em material novo a publicar em 2021 via Metal Blade Records. Behemoth em livestream Os deathsters polacos Behemoth anunciaram um espectáculo ao vivo “imersivo” a transmitir em streaming HD4K no próximo dia 5 de Setembro. O evento, de contornos ritualistas, baptizado como “In Absentia Dei”, terá lugar numa igreja não identificada e, segundo Adam “Nergal” Darski, poderá ofender os mais puritanos. Os bilhetes estão disponíveis em www. behemoth.live. RIP O mês de Agosto foi fatídico. Martin Birch, produtor altamente conceituado que trabalhou com algumas das mais lendárias bandas de Metal – Black Sabbath, Deep Purple, Iron Maiden, Whitesnake ou Rainbow, faleceu no início de Agosto de causas ainda desconhecidas. O último álbum produzido foi o «Fear

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of the Dark» dos Iron Maiden. Ainda não tinha passado uma semana e Pete Way, o icónico baixista, falecia no dia 14 de Agosto em resultado de acidente. Além da sua longa carreira com os seminais UFO, o enérgico músico inglês ficou também conhecido pelo seu trabalho nos Waysted, Fastway, Ozzy Osbourne e pelos seus trabalhos a solo. Pete way tinha 69 anos de idade. … ainda o mês de Agosto não terminou e a 20 de Agosto falecia, com 68 anos, Frankie Banali, o histórico baterista dos Quiet Riot, depois de uma dura batalha de mais de um ano contra um cancro pancreático. Já diagnosticado e em tratamentos, Banali ainda tocou ao vivo com a banda, chegando a participar nas gravações de «Hollywood Cowboys», o último álbum. Strange New Dawn - Planet System No próximo dia 1 de setembro, os gémeos Botteri (conhecidos por terem feito parte da banda norueguesa In The Woods, que abandonaram há quatro anos, pelo que já não participaram no último álbum – «Cease the Day», de 2018) vão lançar o segundo longa duração do seu novo projeto: Strange New Dawn. Trata-se de um álbum que combina influências musicais de vários quadrantes, o que não é para surpreender, se tivermos em conta a larga experiência musical de Christian e Christopher Botteri (30 anos de carreira incluindo a formação de bandas como ITW e Green Carnation). Para abrir o apetite para este lançamento, foi disponibilizado nas redes sociais um single intitulado “Ashes To Dust”, que permitir compreender a natureza deste projeto musical e funciona como uma forma de promover «Planet System», numa altura em que esta missão se tornou particularmente difícil para os artistas, impedidos de fazerem concertos (com algumas raras exceções, que já se vão manifestando aqui e ali). Como sempre, há de haver quem goste e quem fique dececionado. Mas vale a pena ir “espreitar” este álbum. Youtube


Trial by Fire Obra - Prima

5

Excelente

4

Esforçado

3

Esperado

2

Básico

1

Adriano Godinho

Carlos Filipe

Eduardo Ramalhadeiro

Emanuel Roriz

Ernesto Martins

Gabriel Sousa

Hugo Melo

JP Madaleno

Nuno Lopes

MÉDIA

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3.5

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4

4

2,5

4

4

4

3,7

3

3

4

3,5

3,5

3

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3,5

3

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4

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1,5

4

4

5

3.6

3

3

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3

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3

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3

3

3

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3

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2,5

2

3,5

4,5

4,5

3,4

CALI GUL A’S HORSE R is e R a d i a n t

(InsideOut Records)

ENSIF E RUM Th a l a s s i c

(Metal Blade)

GAE RE A L imbo (Season of Mist)

LAMB OF GOD

Lam b O f G o d

(Nuclear Blast)

PARADISE L OST Ob s i d i a n

(Nuclear Blast)

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Arte límbica Tal como a parte do cérebro a que se refere, lida com as emoções e o comportamento social. Entrevista: CSA

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Antes de mais, é um prazer estar a entrevistar na minha língua uma banda tão promissora como Gaerea. Muito obrigado pelo interesse e pelas palavras referentes a este projeto. É sempre bom fazermos entrevistas na nossa língua mãe. Podes falar-nos um pouco da vossa história? GAEREA formam-se algures em maio de 2016, quando senti que tinha que finalmente materializar muitas das ideias que me inquietavam a mente, fossem elas pequenos trechos musicais ou toda a base do conceito que envolve os primórdios deste projeto. O primeiro lançamento foi um Selftitled EP, que foi editado pela outrora recém-nascida Everlasting Spew Records, uma editora italiana que cresceu imenso e que hoje em dia detém um dos mais interessantes line ups de artistas da atualidade. Em 2018, lançamos o nosso primeiro álbum intitulado «Unsettling Whispers» pela editora indiana Transcending Obscurity Records e creio que o resto poderá ser considerado “história”. História essa de que tenho a certeza que muita gente já me ouviu falar, pelo que não é propriamente antiga. Creio que posso afirmar que nestes 4 anos de existência alcançamos muitos patamares interessantes. Um deles é mesmo o lançamento presente – «Limbo» – que sai em julho pela mais interessante editora da atualidade, a Season of Mist. Vocês passaram rapidamente de uma pequena editora (Everlasting Spew Records) para uma editora conhecida (Transcending Obscurity) e depois para uma bem conhecida (Season of Mist). Como aconteceu isso? Com muito, muito trabalho. Sei que hoje em dia pode não cair tão bem dizer isto, mas a verdade é que nós vivemos para isto. Ao longo deste último ano na estrada, todos nos apercebemos de que a nossa vida apenas faz sentido em torno deste conceito. Trabalhamos arduamente diariamente para tudo

o que conseguimos alcançar. Nunca fomos a banda que caiu nas graças de alguma editora, promotor ou revista. Tivemos que arranhar para conseguir todas as pequenas coisas que alcançamos e nada me enche mais de orgulho do que saber que tudo o que temos é fruto de muitas lágrimas, quilómetros, várias noites em branco repletas de crises de existencialismo e todo o sacrifício que tivemos que suportar, seja ele mental, físico e familiar. Que apoio pensam que a SoM vos poderá dar durante esta crise gerada pela pandemia que afetou tudo? A SoM traz-nos todo um apoio de “back office” que precisamos. A família cresceu e num bom sentido. Para além de ser uma editora que te ouve, quer saber sempre a tua opinião, te vai tratar sempre de uma forma diferente e que reconhece todo o potencial na tua arte, é acima de tudo a editora que podemos considerar a nossa casa. Sempre quisemos trabalhar com pessoas artísticas, críticas e honestas. A SoM traz-nos isso. E, muito sinceramente, no mundo em que vivemos, teres alguém que te dá opiniões, te faz críticas realmente construtivas e se senta contigo para juntos chegarmos ao melhor patamar possível faz toda a diferença para o desenvolvimento do artista. Temos aprendido bastante. Se já éramos fãs ativos da editora e da grande maioria dos seus artistas, agora sentimo-nos realmente parte deste mundo. De que limbo fala o vosso novo álbum? De que forma se manifesta nas letras das faixas do álbum? Quem as escreveu? O vasto e tão abstrato Limbo entre a realidade e a ficção. A morte e o desejo de morrer. A vida enquanto matéria prima de algo superior. A agonia e a libertação. O mero reflexo daquilo que realmente sentimos naquele preciso momento. “Nada será como dantes” talvez seja aquilo que tenho aprendido com este álbum que, para todos os efeitos, já está

escrito há mais de um ano, mas continua a surpreender-me e ainda aprendo bastante com ele e com o seu significado. É algo que apenas consegui alcançar vários meses após o lançamento do «Unsettling Whispers». E isso significa que este novo disco vai-me tocar a alma ainda muitas vezes à medida que o for refletindo em palco, na estrada, intimamente. As letras são coescritas por mim e pela pessoa que as encarna. É a representação lírica de todo o conceito espontâneo deste disco, também ele exposto dentro do talvez mais interessante booklet que temos. Os poucos que o terão nas suas mãos dentro de poucas semanas lerão e compreenderão certamente tudo o que temos vindo a dizer sobre esta nova peça. E quem compõe a vossa música? É Black Metal, mas muito especial com passagens bem progressivas sobre as quais se destaca a voz agressiva do vosso vocalista. Gostas desta descrição? Eu. Neste disco compus praticamente tudo o que se ouve.

[…] tudo o que temos é fruto

de muitas lágrimas, quilómetros, várias noites em branco repletas de crises de existencialismo e todo o

sacrifício que tivemos que

suportar, seja ele mental, físico

e familiar.

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Talvez por isso as músicas sejam tão intimistas e libertadoras, pois são o reflexo daquilo que senti quando as escrevi. Debati-me imenso após o lançamento do «Unsettling Whispers» interrogando-me sobre se faria sentido escrever novamente para este projeto. Quando o momento certo chegou, senti-me livre, disperso, distraído por tudo o que me era injetado pela inspiração do momento. Não considero GAEREA uma banda de Black Metal por ter riffs ou blast beats rápidos. Considero esta banda de Black Metal pelo que representa, pela emoção e pelo constante amor e ódio pela nossa fonte de inspiração. E sim, gosto da tua descrição. Sem dúvida uma variação do estilo um tanto especial. Como conseguem produzir um efeito tão depressivo sobre o ouvinte [Está mesmo adequado à época que estamos a atravessar.] Nada nesta banda é fabricado com o propósito de fazer sentir algo que nós nunca experienciamos. Se a emoção, o fechar de olhos e o choro poderão ser alguns dos efeitos em alguns ouvintes, tenham agora a certeza que também sentimos esta música da mesma forma. Deixamos

tudo da nossa alma em palco, no estúdio. Apenas nos sabemos expressar musicalmente dessa forma. Sem truques, sem falsos ódios, nem falsos movimentos. Não te sei explicar como chegamos a este estado catártico, mas posso-te mostrar num concerto. A capa que Eliran Kantor fez para «Limbo» é verdadeiramente estranha. Podes explicar-nos o que representa e como se relaciona com o vosso álbum? Não a acho estranha de todo. Até arrisco dizer que nunca tivemos uma peça artística tão representativa da nossa Arte. Existe um momento no Disco onde um som ecoa pelas cidades, pelas ruas, pelos corredores. Um som tão vazio, mas ao mesmo tempo tão quente e acolhedor para as mentes de todos os que o ouviram. Nesse episódio do disco, as pessoas desapegam-se de tudo e saem para a rua pela última vez nas suas vidas. O momento que o Eliran ”capturou” prende-se com aquele preciso segundo. A mais aguardada libertação, a salvação dentro do mais belo, organizado e catártico Caos.

De que forma participou a banda na sua criação? Muito ativamente. Como com qualquer artista com quem trabalhamos, dei toda a liberdade criativa ao Eliran, porque respeito imenso o seu trabalho, a forma como consegue representar a Agonia na sua mais esplêndida forma. Contudo, era muito importante para nós que este episódio em especial pudesse ter o seu momento visual no disco. Qual é a vossa maior ambição neste momento? Levar este disco a todos os cantos do planeta. Temos muitas novas datas para anunciar para o ano e sei do que falo quando digo que quero levar este trabalho a todo o lado. Para terminar: o que significa o nome da banda? Onde o encontraram? Gaerea significou e significa apenas uma coisa: aquilo que sentimos quando tocamos estes temas como uma unidade, um só. Não pode ser explicado porque creio ser uma experiência inigualável na minha vida, mas pode ter um nome: Gaerea. Facebook Youtube

O vasto e tão abstrato Limbo entre a realidade e a ficção. A morte e o desejo de morrer. A vida enquanto matéria prima de algo superior. A agonia e a libertação.

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Opções com consequências É esta uma das mensagens de «Y», o nono álbum dos suíços Borgne. Sobre este lançamento, pode-se dizer que as consequências das opções feitas foram ÓTIMAS!!! Entrevista: CSA

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Olá, Sérgio! Calculo que és de origem portuguesa. Acertei? Sérgio – Sim, é verdade. Mas nunca vivi em Portugal. Borgne já vai no nono álbum. - O que distingue este álbum dos seus antecessores? O que é que ele nos traz de novo? Penso que a nossa discografia está sempre a evoluir e que cada álbum acrescenta um elo à cadeia e dá resposta ao seu antecessor. É mais rico, mais complexo, mais explosivo. É também por essa razão que a capa do álbum é vermelha e não branca ou cinzenta. - A LADLO informa-nos de que foi um dos teus músicos ao vivo que escreveu as letras para as canções. Por que aconteceu isto? Porque eu me queria concentrar exclusivamente na música. Escreveu as letras, mas com indicações claras e estritas. Cada texto foi escrito como um só bloco, para eu o poder modificar, cortar ou deslocar a meu gosto. - E por que razão as letras foram escritas em Francês e em Inglês? Definiste alguns critérios para decidir em que circunstâncias seria usada cada uma das línguas? Gosto de me exprimir em várias línguas: em Francês, para viver melhor o que canto; em Inglês, para sair da minha personagem e falar por outros. Também tentei usar o Grego, o Espanhol, talvez um dia venha a usar o Português. - Vi que tiveste convidados neste álbum. Podes apresentar-nos esses artistas e dizer-nos em que consistiu o seu contributo?

[Verifiquei que na lista figura um membro de Schamasch, uma banda que também já entrevistei.] É verdade. O C. S. R dos Schammasch participou em 2 canções do álbum na guitarra e na voz. Somos bons amigos e eu queria que ele colaborasse connosco. Também contámos com o apoio de Rubi, uma cantora grega, que participou numa canção. Sempre gostei muito da sua voz e queria ter um toque feminino no álbum. Por conseguinte, limitei-me a pedir-lhe que colaborasse connosco. Este «Y» faz-nos pensar no sexo masculino, mas na capa do álbum aparece uma rapariga. - Por que lhe chamaram «Y»? Gosto sempre de fazer algo que as pessoas não compreendam imediatamente. Os fãs procuram sempre um significado e vão sempre encontrar coisas diferentes e, na maior parte dos casos, é qualquer coisa que se relaciona com eles. O Y tem a forma de uma bifurcação no caminho, abrindonos duas possibilidades que podemos seguir, lembrando-nos de que as escolhas têm sempre consequências. O Bem e o Mal. Eis o que vejo nesta letra Y. - Que significa a imagem da capa? Representa uma mulher internada num hospital psiquiátrico, maltratada e torturada. Queria algo revoltante, que incomodasse. Penso que reflete bem o espírito da nossa música, a nossa loucura. Está na posição de Cristo, mas também faz pensar num Y. - Quem a criou? Saros Collective, da Suíça. Atualmente fazem parte do catálogo da LADLO. - O que vos levou a assinar contrato com Gérald e companhia? Era algo em que já tínhamos pensado várias vezes. Estamos em contacto com eles desde 2011, mas à espera do momento ideal, que chegou agora. - Sentem que fazer parte de Les Acteurs de l’Ombre é uma garantia de qualidade? Sem dúvida nenhuma. É uma

editora de qualidade, que trabalha arduamente. Estamos muito contentes com essa colaboração. Fazem muitos concertos habitualmente? O que tinham previsto para este álbum? Tivemos muito poucos concertos nos 2 últimos anos, mas regressamos em força com muitos festivais e datas únicas. Não queremos fazer concertos por todo lado todos os fins de semana, mas sim estar no bom sítio no bom momento e com boas pessoas. Para o lançamento do álbum, previmos uma pandemia mundial e o cancelamento de todos os concertos no mundo inteiro… E que vos parece que vão poder fazer mesmo na atual contingência mundial? De momento, não é possível fazer concertos, portanto fazemos o resto. O álbum está disponível, temos feito entrevistas, estou a compor o futuro álbum, temos alguns projetos em curso e também temos todos os nossos empregos, portanto não temos muito tempo de folga. Também estamos a tentar reagendar os nossos concertos que foram anulados. Que outras formas de promoção vão utilizar para fazer face a esta situação bizarra? Ainda não sei bem, mas vamos tentar ser criativos. Se calhar, vamos fazer atuações ao vivo filmadas e difundidas em direto, algumas entrevistas online. Penso que em breve vamos sair desta situação, mas certamente com sequelas. E já têm reações ao álbum (uma vez que foi lançado no início de maio)? Sim, muitas reações boas, críticas positivas, mensagens de fãs. De momento, está tudo bem, tirando as encomendas, que se vão acumulando e que devem receber resposta em breve, espero eu. Obrigado pelas perguntas e até breve! Stay Home !

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O HOMEM DA MOTOSERRA Ideias tristes em horas bizarras

Long Live Covid! (Ou não… não sei bem.) Vivemos tempos estranhos. Porque o Jesus voltou ao Benfica? Não, isso não. Estou a falar em relação ao Covid, também denominado pelos portugueses como “Covir”, “Códives” e até “Cu vide”. Acho que todos já ouviram falar da teoria do caos e do chamado “efeito borboleta”. Muito resumidamente diz-nos que o bater das asas de uma borboleta no cu de Judas dá origem a uma enorme tempestade no outro lado do mundo. E se pensam que isto é absurdo, vejam o que aconteceu: um pangolim bebeu demais, enrolou-se com o que ele pensava ser uma fêmea toda boa, e vai-se a ver, quando acordou, tinha um morcego ao lado. Como se não bastasse, ainda de ressaca, foge enquanto o morcego dormia, e acaba no bucho de um chinoca à hora de almoço. E… Tcha nan!!!! Toda a população mundial lixada com “F” maiúsculo. E cá estamos nós! Depois de um confinamento, a lamber feridas, mas de máscara posta. Contudo, atrevo-me a dizer que há muitas coisas boas que esta pandemia nos trouxe. Não estou a falar de dar valor à vida, à família e outras frases feitas, até porque ao fim de uma semana, fechados em casa, os membros das famílias começaram a planear os assassinatos uns dos outros, nem tão pouco de morrer de pneumonia. Isso não tem mesmo piada nenhuma…. A não ser para as funerárias, claro está. Estou-me a referir a questões muito mais impactantes e fraturantes que a pandemia indiretamente veio, não digo resolver, mas sim atenuar. Logo à partida vem-me à cabeça de ter tornado a sempre polémica questão de soltar gases em público mais bem aceite. Se pensarem bem, hoje em dia é preferível mandar um enorme e sonoro peido em público do que tossir. E eu, como experiente produtor de metano, sempre senti na pele esse estigma. Cheguei inclusive a adotar um cão que estava na união zoófila para o poder culpar pelos gases soltos em público, e o que é facto é que resultou! Curiosamente, ao fim de uma semana esse cão fugiu de casa, voltou ao local onde estava para ser adotado, e recusou-se a vir comigo. Fui a primeira pessoa no mundo a ser abandonado por um cão abandonado. Atualmente, com máscaras e pânico generalizado, até preciso de soltar um traque bastante sonoro para disfarçar alguma tosse que possa ter. Outra vantagem é a de deixarmos de ter alguém colado à nossa nuca nas filas. Sim, isso mesmo. Aquelas pessoas que não têm sentido de espaço pessoal e que só estão satisfeitas quando colam o nariz à nossa nuca e respiram alto e irritantemente em cima de nós. Felizmente que com as regras agora impostas, conseguimos ir às compras e sair das mesmas sem a sensação de que talvez tenhamos sido violados, mas sem certeza absoluta. Espero que não se lembrem de fazer isso com máscaras. Era quase como ter o Darth Vader atrás de nós, mas, à semelhança do que acontece nos filmes, não querermos olhar por recear o que podemos encontrar. “Se me fingir de morto, talvez se vá embora”. Nota: Não funciona. É a desculpa perfeita para evitarmos reuniões sociais que detestamos. Como simplesmente deixou de haver contacto social, logo aí evita-se inúmeras situações desagradáveis. E mesmo agora, até “aquele jantar que não me apetecia nada ir, mas tem de ser….” consegue ser evitado um simples tossir ao telefone. Tão fácil quanto isso. Não é muito bom?! Melhor que qualquer desculpa inventada, tal como diarreia, gonorreia, ou uma crise derivada

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de uma brucelose que se adquiriu há uns anos, quando se bebeu, às 3 da manhã, leite diretamente da teta de uma vaca na Ovibeja. Pasme-se, esta última tem-se revelado bastante credível. Evitar o contacto físico social. Nunca se sentiram constrangidos por terem de apertar a mão àquele individuo que sua abundantemente das mãos? Ou ter de dar um beijo a quem tem um hálito que cheira a urina de alce? Exacto… Abençoado distanciamento social. E agora, talvez o melhor de tudo…. Trabalhar de pijama! Sim! Oh sim! Quão bom é estar em teletrabalho e estar sempre de pijama vestido? Não sei. Não tive esse luxo. Mas por acaso gostava de saber se é realmente compensador, e se, ao contrário da crença de quem não teve direito ao mesmo, é apenas estar na ronha e ocasionalmente responder a uns e-mails. Sim, tal como disse pneumonias medonhas, comas com tubos enfiados garganta abaixo, e não só…e mais abaixo também, não têm efetivamente piada nenhuma. Mas se nos conseguirmos abstrair de um ligeiro pormenor que é a possibilidade de morrermos, o Covid até trouxe muita coisa boa. Entretanto engasguei-me em público, e fui forçado a dar tantos traques que julgo ter defecado ao de leve na minha roupa interior. Despeço-me embaraçado O Homem da Motoserra. P.S. – Qual foi a ideia de esgotar o papel higiénico?

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Enfrentando a vida Esta nova banda sul-africana fez deste tema o mote do seu álbum de estreia, agora reeditado pela Season of Mist para abrir o apetite dos fãs para o segundo. Entrevista: CSA

Saudações. Espero que estejam bem. Fiquei surpreendida por descobrir que Wildernessking acabou. Entrevistei a banda uma vez e adorei a sua música. Mas agora estás em Constellatia. Como encontraste o Gideon e fundaram a banda? Keenan – Olá! Bem me parecia que conhecia o nome da revista. Também fui eu que respondi da outra vez. O Gideon e eu já nos conhecemos há muito tempo. Encontrámo-nos lá por 2009. Em 2018, as nossas bandas não andavam muito ativas em termos de escrever música nova (Wildernessking até já tinha acabado) e eu estava ansioso por poder fazer música pesada novamente. Contactei o Gideon, porque realmente gostei muito do último álbum de Crow Black Sky e pensei que podíamos compor e trabalhar juntos muito bem. Pouco depois encontrámo-nos e começámos a escrever “All Nights Belong To You” e compreendemos que tínhamos criado algo especial. O que aconteceu até agora que valha a pena contar? Os momentos significativos até agora incluem o lançamento do nosso álbum de estreia, termos assinado contrato com a Season of Mist e feito um primeiro concerto verdadeiramente especial (e também termos encontrado os membros certos para a banda). Suponho que este é o vosso primeiro álbum. Tem um título muito intrigante. O que significa para vocês? Como estão as letras ligadas a este tópico central? Diz respeito ao encontro e separação de pessoas, como comunicar com os nossos corpos e através das nossas ações. É um título humano, ligado ao amor, ao triunfo e ao desespero. Esses temas aparecem em todas as canções, ao longo do álbum. Cada uma aborda-o de uma forma específica. “All Nights” é uma canção sobre partir a agarrar-se ao passado. Fala de nostalgia. “In Acclamation” é uma canção sobre obsessão, submissão

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e superação. “Empyrean” fala de prazeres da carne e da sua conversão numa experiência etérea, “The Garden” é um lamento que termina numa nota de esperança. É um tanto estranho ter um álbum sobre superação nestes tempos. Queres comentar esta ideia? Tem algo a ver com o que se passa no mundo agora e a base lírica do álbum. Contudo, as letras são mais pessoais e não dizem forçosamente respeito à abolição de algo superior ao humano. É algo que vem de um humano e se destina a outros humanos. Diz respeito à nossa relação com os outros, mais do que à nossa relação com o mundo. Contudo, as linhas tornarse-ão sempre difusas, quando se trata de dissecar e interpretar o significado. No que diz respeito à música, o álbum é notável pelos seus contrastes, nomeadamente entre a melodia produzida pelos instrumentos e a voz áspera e a bateria frenética. Qual é o objetivo deste uso dos instrumentos? Inspirámo-nos nos elementos tenebrosos e mais ligeiros da música de que gostamos e da música que gostamos de fazer. Estes tropos imitam ou tentam captar a vazante e o fluir da vida. Não é uma decisão consciente, apenas uma parte de um processo natural para nós. Por que convidaram artistas femininas para cantar no vosso álbum? Temos uma grande afinidade com o feminino. Há uma sensibilidade, uma ferocidade e uma melancolia presas nas vozes que combinam maravilhosamente com o sentimento global do álbum. Foi assim uma ideia que nos veio à cabeça. E como as persuadiram a participar? Não houve qualquer persuasão. Já conhecíamos as duas e pedimos-lhes para participarem nesta primeira criação.


Adoro a pintura que está na capa no álbum. Já aparecia na primeira edição do álbum? Como a relacionam com o conceito de uma “linguagem dos membros”? É a mesma pintura, sim. Não alterámos nada nesta reedição, exceto nas cores do vinil. No meio da pintura, aparece uma pequena figura. Está rodeada de nuvens ou ondas, que representam os percalços da vida, sejam eles quais forem (incluindo pessoas). A sua forma de superar esses problemas pode ser interpretada como sendo a “linguagem dos membros”. Este lançamento é uma reedição. Parto do princípio de que a SoM a está a usar para anunciar o vosso próximo lançamento. Podes dizer-nos algo sobre ele? Já acabámos praticamente de o compor. Vai assinalar uma progressão significativa e uma viragem na nossa carreira, ao mesmo tempo que consolidará o que fizemos no nosso álbum de estreia. Estamos ansiosos por o dar a conhecer e contamos começar a gravar em breve.

Diz respeito ao encontro e separação de pessoas, como comunicar com os nossos corpos e através das nossas ações. É um TÍTULO humano, ligado ao amor, ao triunfo e ao desespero.

Como conseguiram tão rapidamente um contrato com uma editora tão exigente? Tivemos a sorte de um amigo (e a Laetitia, a nossa promotora na SoM) nos terem recomendado ao Michael (o dono da editora) e de ele ter gostado mesmo do nosso trabalho. Eu e o Gideon andávamos a pensar que seria maravilhoso podermos um dia trabalhar com a SoM. Pouco mais de uma semana depois, fomos contactados pela SoM. De certo modo, conjurámos essa sorte. Por que chamaram Constellatia à banda? O nome vem de “constellation/s”. É uma palavra que inventámos e que tem um carácter inerente de feminilidade. É uma palavra com um som romântico que convoca imagens ligadas à vastidão e à imensa beleza do mundo natural e especialmente do éter. Facebook

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… estranha-se e depois entranha-se Os The Alligator Wine não são aquela típica banda que fica sob a alçada da Century Media: Rob e Thomas formam um duo criativo composto por uma bateria, órgãos, sintetizadores e pedais. Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro | Fotos: Björn Gantert

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Olá, Rob! É um prazer conhecer-te virtualmente e, antes de mais nada, espero que esteja tudo bem contigo, teus amigos e familiares. Como é que estais a viver estes tempos de confinamento em termos da banda e da vossa música? Rob Vitacca: Olá, Eduardo! Prazer em conhecerte também! Obrigado, estou muito bem – espero que também estejas bem! Digamos que estamos a aproveitar esta pausa do corona em prol da nossa criatividade – começamos a trabalhar em novo material e estamos a tentar agitar as coisas! Mas é claro que isto é meio estranho, com todos os espectáculos a serem cancelados, principalmente, quando temos o nosso álbum de estreia e queremos fazer-nos à estrada e tocar as novas músicas. Tenho de te confessar que comecei a ouvir o álbum por acaso... foi pura sorte :-) e gostei tanto que tinha de saber algo mais sobre a vossa banda. Então, quem são The Alligator Wine? The Alligator Wine são dois gajos estranhos, vivendo à procura dos deuses, no meio da floresta negra, e que gostam de todos os tipos de órgãos, sintetizadores e pedais!... :-) A vossa filosofia musical é completamente diferente da que costumo ouvir: dois tipos, nenhuma guitarra. E ainda assim, o raio do álbum é uma das melhores estreias que já ouvi. Pergunta óbvia: em vez de criar a banda com guitarra e baixo, porque criaram apenas com bateria, órgão e “moog bass”? Obrigado! Que bom que gostaste do álbum! Na verdade, a ideia veio do nosso baterista Thomas. Ele é um tremendo criador de sons. Um dia, ligou-me e disse: “Rob, por favor, vem a minha casa – eu construí algo extraordinário... Tens mesmo de ver isto!” Então, tinha essa coisa de madeira, embalada com um órgão, um “moog bass” e uma carrada de pedais. Aquilo surpreendeu-me completamente. Tinha uma supermassiva parede de órgãos, combinada com esse som monstruoso de baixo. Percebemos imediatamente que não precisaríamos de nenhuma guitarra! Como é que defines a tua música e a ti mesmo como músico? Honestamente, não penso nisso. A música foi sempre a melhor forma de expressar as minhas emoções. Penso que a coisa mais importante por trás de The Alligator Wine é o facto de não seguirmos nenhumas regras. Podemos ser livres apenas com o que estamos a fazer. Isso inspiranos imenso.

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As vossas fontes de inspiração vão de filmes de terror à moda, e de músicas escuras assustadoras a grooves dos anos 70. Como é que consegues colocar essas influências tão diametralmente opostas na tua música? Bem, acho que isso acontece automaticamente. O que quero dizer é que é apenas uma mistura louca de tudo o que gostamos. Parece um pouco estranho que, antes de “Demons of the Mind”, tenham lançado um álbum ao vivo. Porquê esse tipo de abordagem – primeiro ao vivo e, depois, o álbum de estúdio? Nós fizemos uma turné incrível com os nossos amigos e colegas - The Picturebooks. Portanto, só queríamos compartilhar essa “experiência ao vivo” com toda a gente! Em palco, quão difícil é para vocês os dois, sem guitarra e baixo, transmitirem a energia ao público? Sendo nós dois gajos esquisitos e assustadores, com uma leslie luminosa, um grande sintetizador, um órgão enorme e uma bateria espaçosa – é realmente muito fácil… (risos) Estou curioso sobre o vosso processo criativo. Podes contar mais um pouco sobre isso? Gostamos muito de estar no nosso local de ensaio e experimentar todos os diferentes tipos de sons. E nós estamos a tocar imenso. Essencialmente, é assim que a maioria das nossas músicas está a ser criada. Uma vez que estejamos satisfeitos com o resultado, enviamos para o nosso produtor, Kristian Kohle, para que ele possa suavizar e polir! :-) Ia pedir para falares um pouco mais sobre uma música qualquer do álbum, mas gosto tanto de duas músicas que vou pedir para falares delas: “Ten Million Slaves”. Graças a vocês, descobri Otis Taylor – Que homem dos Blues! Então, como é que descobriram esta música? Eu sei que também faz parte do filme “Public Enemy”.

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Penso que a coisa mais importante por trás de The Alligator Wine é o facto de não seguirmos nenhumas regras . Podemos ser livres apenas com o que estamos a fazer.

Nós adoramos Otis Taylor. Especialmente, o Thomas! “Ten Million Slaves” é, sem dúvida, uma das suas faixas favoritas de todos os tempos e foi ideia dele fazermos uma versão. Adoro a nossa versão. Esta música tem uma grande energia, especialmente, quando a tocamos ao vivo! As pessoas adoram! - Os arranjos de “Ten Million Slaves” são diferentes do original. Podes explicar-nos um pouco mais sobre como foi pegar na versão original – mais blues com um pouco de groove – e torná-la menos blues, mas com muito mais groove e percussão? Essencialmente, resultou assim enquanto tocava. Eu não gosto quando as versões ficam parecidas com o original. Tem de ter um estilo próprio para que a música soe única, caso contrário, tornar-se-á entediante. - Otis já teve a oportunidade de ouvir a vossa versão? Na verdade, não sei, mas esperamos que ele ouça a nossa versão. :-) - “Lorane”. Essa música é diferente. Sinto que podemos considerá-la uma balada. Quem é Lorane? É a música mais pessoal do álbum. É sobre a minha mãe. Century Media é uma óptima gravadora discográfica, conhecida por albergar muitas bandas de Heavy Metal (pesadas). Como surgiu a oportunidade de assinar pela Century Media e, a propósito, porquê esta gravadora discográfica? Eles adoraram o nosso EP “The Flying Carousel”. Penso que foi “amor à primeira vista” (risos). Eles são, simplesmente, excelentes. Sentimo-nos em casa desde o primeiro instante e estamos muito felizes de fazer parte da família CM! Mais uma vez, muito obrigado pelo teu tempo para responder às nossas perguntas e espero ver-te em Portugal um dia desses. Obrigado por me receberes! Espero ver-te em breve! Tudo de bom e fica em segurança! Facebook

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CARTA À CULTURA Por: Nuno Lopes

Cara Cultura, Sei que não vives os melhores dos tempos devido a esta pandemia que nos afecta a todos e a cada um. Escrevo-te em meu nome, e de muitos outros que sofrem contigo,sabemos que não estão a ser tempos fáceis mas, como nós dizemos por cá: melhores dias virão. Sei bem que tu tens estado com o teu público e que o público e todos os agentes que, efectivamente, vivem a cultura estão contigo, apesar de todo este distanciamento. Havemos de nos encontrar novamente para um drink ou dois. Espero que em breve. Enquanto português devo dizer-te que me sinto envergonhado com a forma como tens sido tratada e como quem te ajuda a sobreviver tem passado por dificuldades nunca antes vista mas, como sabes, por cá, a cultura são os Berardos e outros messenas que fazem de ti algo redutor, algo que apenas serve os interesses de grandes economias, muitas vezes paralelas, ou de propagandas políticas. Sinto vergonha por se esquecerem de outros (a maioria) que vivem da e para a cultura e, infelizmente são esses que são arrastados na lama com apoios que demoram tempo demais a serem dados, à distância de mais um drink ou dois. Enfim, Cultura, tu sabes como são as coisas aqui. Como sabes, em Portugal, como em outros pontos do globo, os concertos encontramse (na sua maioria) cancelados, adiados e na incógnita mas, em Portugal são só alguns, porque os do costume continuam a ter o mesmo tempo de antena. Veja-se os espectaculos que Salgado, Mexia ou Jesus têm dado. Ou veja-se esses grandes eventos conhecidos como touradas que acontecem sem limites de horas, pessoas ou regras. E acontecem entre um drink ou dois. Gostava de te pedir, minha querida Cultura, que mudasses o paradigma deste país e que trouxesses, novamente a cultura até este retângulo chamado Portugal. Mas, acima de tudo quero-t pedir desculpa por existir uma Graça, sem graça nenhuma que nos envorgonha e te envorgonha, de uma forma sem precedentes e que não permite que os agentes culturais façam o seu trabalho. Quando regressares a Portugal, diz-me alguma coisa e, quem sabe, possamos ir a um bar ou discoteca e depois, cansados, talvez possamos ir jantar a qualquer lado. Fico à espera que me digas algo. Para já despeço-me com amizade e muita saudade. Por isso mesmo, entre um drink ou dois, brindo a ti.

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CRITICAS VERSUS (16)

«Dream Squasher» (Relapse Records) Os reis do riff lamacento estão de volta com um álbum de originais. É já o oitavo, numa carreira quase a atingir os 30 anos de actividade. Este «Dream Squasher» é possivelmente um dos esforços mais inspirados deste colectivo californiano. Há aqui algo mais do que nos anteriores trabalhos e não será só a dose de positivismo que injectaram em alguns dos temas, tal como afirmou Bobby Ferry (vocalista e guitarrista). A abertura do disco é feita com um tema típico dos (16) e sem grandes surpresas entramos pela segunda faixa, que nos deixa o refrão a ecoar na cabeça. Ao terceiro tema, “Sadlands”, percebemos que os (16) alargaram horizontes, com sabedoria, pois acrescentam elementos sem que se descaracterizem e sem encetar uma qualquer mudança de rumo. Enriquecem-se. Mais melodias e harmonias cativantes a puxar pelas emoções. Depois de várias audições ao disco, parece-me ser seguro dizer que os alinhamentos dos concertos dos (16) vão passar a ter uma boa quantidade de temas deste novo álbum. Experimentem a sequência “Agora (killed by a mountain lion)”, “Ride the waves”, “Summer of ’96”. Se no final estiverem a suar, tentem recuperar bem o fôlego, pois ainda têm mais dois temas para digerir antes do disco terminar. Nota positiva também para mais um artwork bastante interessante. [8/10] EMANUEL RORIZ

AARA

«En Ergô Einai» (Debemur Morti Productions) A dupla Berg e Fluss que forma os AARA tem andado produtiva q.b., pois este é o seu segundo longa-duração no intervalo de um ano. «En Ergô Einai» compõe-se de cinco faixas de black metal atmosférico e melódico e tem motivos de interesse suficientes para lhe darmos ouvidos. Comecemos pela abertura “Arkanum”, que mostra um black metal feito como mandam as regras durante os seus 9 minutos, destacando-se as linhas melódicas da guitarra de Berg, sobretudo a partir do minuto 7. Este é um padrão que vai repetir-se ao longo de «En Ergô Einai»: faixa atrás de faixa, deparamos com algo que segue os ditames do género, mas a dado momento aparece sempre algo que surpreende e nos pega pelas orelhas, no bom sentido da expressão. Essa surpresa deve-se não a qualquer carácter revolucionário – revolucionários é coisa que os AARA definitivamente não são – e sim à colocação, no sítio certo, das coisas certas. Se assim nos podemos exprimir, diríamos que os AARA são uma espécie de burocratas do black metal atmosférico: não trazem nada de inovador nem são pioneiros de coisa alguma, mas revelam uma nítida competência no seu trabalho e cumprem-no de forma tão correcta que qualquer patrão/chefe/CEO chegaria ao fim do disco com vontade de lhes dar uma palmadinha nas costas como agradecimento. Só não merecem um aumento porque «En Ergô Einai» tem apenas 34 minutos de duração, o que acaba por saber a pouco tendo em conta o que os AARA mostram. [7.5/10] HELDER MENDES

ABOVE AURORA

«The Shrine of Deterioration» (Pagan Records) Quem esteve no concerto dos Mgla, em Setembro passado no Hard Club, deve recordar-se desta formação, também originária da Polónia (embora resida actualmente em Reykjavik, Islândia), que abriu as hostilidades dessa noite. Na altura traziam na bagagem o incipiente álbum de estreia «Onwards Desolation», lançado em 2016, assim como um EP de título «Path to Ruin» que já deixava antever uma evolução do seu black metal num sentido bastante mais atmosférico. Gravado no Inverno passado, este segundo longa duração confirma essa tendência, com um trabalho mais apurado e particularmente eficaz na criação de passagens de ambiência sombria. O instrumental “Blurred luminosity” abre da melhor maneira este «The Shrine of Deterioration» com um notável trabalho de guitarras espaciais e uma cativante secção rítmica doomy. Os restantes cinco temas incluem riffs bem chamativos, um baixo proeminente e criativo, e uma voz de uma frieza insondável que nos transporta para dimensões hipnóticas e reflexões pessimistas. A produção de Haldor Grunberg confere uma excelente definição a todos os instrumentos o que é mais um ponto a favor. A composição é que parece ser pouco variada, com os temas a basear-se em estruturas muito semelhantes e a revolver em torno de ideias demasiado parecidas. Ainda assim «The Shrine of Deterioration» é um disco que deverá agradar a fãs de black metal atmosférico, assinalando mais um passo decisivo na progressão artística deste jovem trio. [7.5/10] ERNESTO MARTINS 2 2 / VERSUS MAGAZINE


...AND OCEANS

«Cosmic World Mother» (Season of Mist) Dezoito anos depois o sexteto finlandês está de regresso aos discos com aquele que é o seu quinto LP. Depois de algumas experiências que, de certa forma, alteraram a sonoridade da banda, podemos dizer que neste «Cosmic World Mother» a banda regressa ao Black Metal mais «tradicional» e que colocou a banda numa esfera de culto no género. Com um conjunto de temas sabiamente elaborados e onde o sexteto se encontra novamente a si mesmo, o maior destaque vai para Mathias Lillmåns (Festerday, Finntroll, entre outros) que tem aqui um registo magistral e denso e que encaixa ‘que nem ginjas’ na devastação sonora dos finlandeses. Em termos conceptuais podemos dizer que «Cosmic World Mother» não é um disco físico e está longe de ser um disco terreno. Para onde vai a nossa mente e alma? Esta foi a questão que Timo Kontio e os restantes companheiros dilaceram e tentam encontrar respostas e o resultado acaba por ser um disco apaixonante e vibrante. Talvez a espera tenha sido demasiada mas, se foi para isto que esperámos então valeu a pena pois «Cosmic World Mother» é um disco grandioso e que coloca os ...And Oceans, novamente, na senda do sucesso. [8/10] NUNO C. LOPES

AZUSA

«Loop of Yesterdays» (Indie Recordings) Depois da surpresa que foi «Heavy Yoke», o disco de estreia da banda formada por exintegrantes de The Dillinger Escape Plan e Extol, os Azusa estão de regresso com um disco poderoso e esquizofrénico. Não se fixando num só género, a banda incorpora todas as influências do passado e, embalados pela voz de Eleni Zafariadou (Sea + Air), «Loop of Yesterday» é, acima de tudo, um exercício musical, daí que talvez adjectivar este disco como Jazz-Metal, não estará tão longe da realidade, mas, tudo aqui é, também, um sonho numa noite mal dormida. Acutilante, tenebroso, melódico e desafiante, são alguns dos adjectivos que poderemos utilizar. «Loop of Yesterdays» vem dar o passo seguinte nos Azusa e é um disco interessante quer no conceito, quer na sua abordagem. Há ainda a presença de Alex Skolnick (Testament) em “Detach”. Ou seja, «Loop of Yesterdays» é um disco para se ir escutando, sem que para isso deva ser devorado, dada a sua mescla de sons e sensações. [7/10] NUNO C. LOPES

BLAZE OF SORROW

«Absentia» (Eisenwald) Descendentes da região italiana mais fustigada pela pandemia do Covid-19, os Blaze of Sorrow lançam o seu sexto registo de originais. Idealizado e realizado antes da tempestade, «Absentia» é um disco de Black Metal atmosférico, cantado em italiano, e cuja densidade e peso se envolve de forma, quase, romântica no ouvinte. Ao longo destes sete temas, o que fica é a sensação de que este misterioso quarteto está mais coeso e mais ‘banda’. Poderíamos dizer que este é um disco que define bem o que viria a acontecer, não só em Itália, mas um pouco por todo o mundo. «Absentia» consegue ser um disco de difícil digestão mas, como acontece sempre na arte, a sua compreensão pode levar algum tempo, contudo esse é o desafio da arte, o de manipular as sensações, de manipular os sentimentos. É certo que o que os Blaze of Sorrow fizeram já foi testado e tentado, contudo a forma como «Absentia» se conjuga com os tempos que vivemos é assombrosa. Se anteriormente a banda era (praticamente) uma só pessoa, aqui transforma-se em algo maior e, assim, os Blaze of Sorrow conseguem, ao sexto disco, trazer o seu trabalho mais completo e, consequentemente, o seu melhor trabalho. «Absentia» é uma excelente surpresa neste ano confuso e difuso, mas a certeza é que o quarteto está no topo da sua forma. [8/10] NUNO C. LOPES

BODY COUNT

«Carnivore» (Century Media) «Carnivore» é já o segundo disco que os Body Count lançam pela Century Media. Pelos vistos, a relação entre banda e editora está de boa saúde. De boa saúde mostram estar também Ice-T e Ernie C: «Carnivore» é um álbum agradável, mesmo que não esteja à altura dos dois primeiros («Body Count» e «Born Dead»), responsáveis por levar – não sem controvérsias pelo meio, como exemplificado em “Copkiller” – os Body Count ao auge da sua fama. Mas também, convenhamos, será difícil aos Body Count igualarem algum dia o que fizeram na primeira metade dos anos 90; tudo o que a banda gravou a partir

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de «Violent Demise: The Last Days» pura e simplesmente não atinge aquele grau de relevância. Isso não significa, todavia, que devamos desprezar Ice-T e seus “gangstas”, que incluem convidados ilustres como Jamey Jasta, Dave Lombardo, Jello Biafra ou até Amy Lee, entre outros. «Carnivore» tem boas canções, como são exemplo o primeiro single “Bum-Rush”, a slayerística “Thee critical beatdown”, a cover de “Ace of spades” ou as críticas “Point the finger” (que conta com Riley Gale dos Power Trip) e “The hate is real”. E não há propriamente aqui uma canção que se possa dizer ser má: apenas uma ou outra, como “No remorse” ou “When I’m gone”, a tal em que participa Amy Lee, em que o nível baixa um pouco. Em jeito de conclusão, «Carnivore» é um retrato fiel do que os Body Count são: bons músicos que passeiam pelo thrash, pelo hardcore, pelo rap e até pelo nu-metal, conjugando-os com o saber de gente que já anda nisto há algum tempo. [7.5/10] HELDER MENDES

BOISSON DIVINE

«La Halha» (Brennus Music/Solstice PR) Oriundos da região da Gasconha, no sudoeste francês, os Boisson Divine trazem-nos uma fusão de power metal, daquele mais corridinho, com melodias folk da sua terra natal, interpretadas primorosamente em instrumentos como o acordeão, a flauta, o hurdy-gurdy e a boha (um tipo tradicional de gaita de foles), e letras cantadas no dialecto occitânico da região, idioma que soa próximo do catalão ou do aragonês. Criado em 2005 por dois amigos de infância – o baterista Adrian Gilles e o vocalista e guitarrista Baptiste Labenne –, o grupo estreou-se em 2013 com o álbum «Enradigats», ao qual se seguiu o aclamado «Volentat» (2016) numa altura em que gozavam já de grande popularidade nacional devido não só às raízes tradicionais da sua música, mas também fruto da adopção do gascão como lingua dominante. Chegaram até ao ponto de ter algum do seu reportório estudado em escolas bilingues da Gasconha, havendo grupos etnográficos locais a fazer versões dos seus temas. Nitidamente um caso de orgulho nacional. Este terceiro registo de longa duração, «La Halha», é um trabalho visivelmente mais maduro que os anteriores, com um bom naipe de temas catchy executados por músicos muito competentes no seu oficio. Ao todo consiste em quase uma hora de metal festivo, feito de momentos absolutamente irresistíveis para os apreciadores de metal mais melódico e étnico, de onde destacamos as curiosidades “La sicolana” e “Un darrer cop” que incluem fantásticas demonstrações dos chamados coros polifónicos dos Pirinéus. [7/10] ERNESTO MARTINS

BORGNE

«Y» (LADLO Productions) Para quem gosta de black metal industrial este é um disco que se impõem logo ao primeiro contacto. A banda em causa é encabeçada pelo multi-instrumentista Sérgio da Silva, lusodescendente suiço que assina como Bornyhake, e que acumula actividade num incrível número de formações: cinco outros projectos onde é o único músico, seis bandas com lançamentos recentes e mais de dez onde participa em concertos. Mas Bornyhake não é apenas hiperactivo e prolífico. Este novo registo de originais dos Borgne, o nono numa carreira que já vai além dos vinte anos, atesta também do seu talento invulgar. Apesar de incorporar rajadas de riffs e guitarradas em tremolo com fartura, a música de «Y» não se afirma pela força bruta da velocidade. O que é notável é mesmo a composição elaborada, com muito espaço para longas passagens atmosféricas, apontamentos electrónicos que se somam à percussão maquinal (que tornam mais fria ainda uma atmosfera já de si gélida) e uns omnipresentes teclados que são a base da ambiência, ora sinistra, ora majestosa que permeia todo o disco. O registo vocal assombroso de Bornyhake também não passa despercebido. Há ainda elementos melódicos q.b. e segmentos lentos, quase doomy, que nos transportam para uma esfera sobrenatural entre a luz e as trevas - tal o caminho bifurcado da dualidade primordial sugerido, no fim de contas, pelo símbolo “Y”. Com uma produção impecável que lhe confere uma sonoridade poderosíssima, e mais intenso do que qualquer outra coisa que a banda tenha gravado até aqui, «Y» é um disco que precisa de ser sentido tanto como de ser ouvido. [8/10] ERNESTO MARTINS

BURNING WITCHES

«Dance With The Devil» (Nuclear Blast Records) O novo disco das Burning Witches traz, desde logo, uma novidade com a adição da holandesa Laura Guldemond na voz, mais uma excelente performer saída daquelas terras (a sério, o que aquela gente põe na água?!?!). Laura é sem discussão um dos pontos fortes de «Dance With The Devil», assinando uma prestação impecável, que nos momentos mais agressivos por vezes recorda Rob Halford, por vezes Bobby Blitz Ellsworth (ouça-se “Lucid nightmare”, a título de exemplo). As canções são

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o que se pode esperar num álbum de heavy metal, e os títulos das mesmas também não enganam: “Necronomicon”, a power ballad “Black magic”, “Wings of steel”… enfim, são clichés do género e assim as Burning Witches jamais poderão ser acusadas de publicidade enganosa, especialmente quando têm uma dupla de guitarristas (Sonia Nusselder e Romana Kalkhul) que não envergonhariam Glenn Tipton e K. K. Downing. «Dance With The Devil» é sem dúvida um disco que cativará os fãs de heavy e power metal, ideal para quem tem saudades dos tempos áureos de grupos como Accept, Judas Priest, Manowar ou mesmo de Doro e dos seus Warlock. E já que se fez menção aos Manowar, registe-se a muito boa versão de “Battle hymn” com que as Burning Witches encerram este «Dance With The Devil», enriquecida pela participação de Mike LePond e do próprio Ross The Boss. Altamente recomendado para quem sente falta de um bom heavy metal à maneira antiga (mas com produção de século XXI), ou para quem quer iniciar-se neste género. [8/10] HELDER MENDES

CALIGULA’S HORSE

«Rise Radiant» (InsideOut Music) A banda australiana de rock/metal progressivo está de volta com o seu quinto álbum de originais, com uma sonoridade e uma cadência musical que me faz lembrar Leprous ou Maraton. A banda conta com um novo baixista, Dale Prinsse, que já tinha trabalhado com a banda, como engenheiro de som, em trabalhos anteriores. A ascensão radiante («Rise Radiant») começa com uma tempestade no seio da vivência humana, “The tempest”, questionando-nos sobre uma mentira em que queremos acreditar: encontrar o nosso caminho poderá ser uma espécie de canção de embalar. Nós somos o sangue e a culpa! Não há santos para nos salvar! Não preciso de nenhum santo para me salvar… e, assim, prossegue numa cadência sonora rendilhada de avanços e recuos, de altos e baixos, ao encontro de uma violência lenta (“Slow violence”) e com algum tempero, “Salt”, até ressoar, “Resonate”, no tema mais tranquilo do álbum, para de seguida entrar numa maré alta, “Oceanrise” e “Valkyrie”. Entretanto, chega o Outono, “Autumn”, para abraçarmos a mudança. Finalmente, em “The ascent”, dá-se a ascensão radiante ao cume da montanha, “não há morte”, “a morte é apenas um acordar” sem medo de seguir o nosso caminho. [8/10] JOAO PAULO MADALENO

CALLIGRAM

«The Eye is the First Circle» (Prosthetic Records) O primeiro longa duração dos Calligram é um dia passado no meio do caos e da confusão. Uma jornada que não nos correu bem de forma alguma. Dizer que apontam a sobrevivência pelo amor na travessia pelo caos diz muito sobre este trabalho. É um disco que vai directo ao assunto e portanto, ou se gosta ou não se gosta, mesmo tendo aqui várias dimensões como a sonoridade abundante das guitarras, a fúria dos riffs típicos do negrume nórdico, a raiva descontrolada do hardcore mais visceral ou um pouco de melodia antes de tudo isto desabar sobre o ouvinte. Afaste-se, contudo, qualquer ideia sobre falta de personalidade ou originalidade por parte deste quinteto, não estivéssemos a falar de um colectivo multicultural com membros oriundos de França, Itália, Brasil ou EUA. Ao passarem por temas como “Serpe” ou “Kenosis” vão rapidamente perceber se os Calligram vos pegaram pelos colarinhos de uma forma que vos fizeram ficar a gostar. Se não pegar por aqui, ainda há esperança de serem encostados à parede pelo tema que fecha o disco e que é também o mais ambicioso, “Un dramma vuoto v insanabile”. Esperemos que seja possível deitar o olho a novas criações dos Calligram no futuro. Prometem. [8/10] EMANUEL RORIZ

CHRONUS

«Idols» (Listenable Records) Quando vejo o nosso escriba Daniel Coelho entusiasmado acerca de um disco fico sempre com arrepios. Mas, ouvido o disco (por diversas vezes!) percebe-se o motivo desse entusiasmo. O segundo disco deste quarteto sueco é uma excelente surpresa. Rock melódico até ao osso, com alguns requintes de Mastodon, mas de uma subtileza, com um sentido estético e musical bem vincado, a banda mostra como, sem ser preciso reinventar nada, se consegue fazer um excelente disco com grandes malhas. É impossível escutar qualquer tema de «Idols» sem dar-mos por nós a bater o pé. Se em 2017 o disco de estreia, homónimo, pode ter passado despercebido a muitos melómanos (onde me incluo), este segundo tomo vem mudar a perspectiva e trazer um novo olhar para uma banda que se revela uma lufada de ar fresco no Rock. «Idols» é uma espécie de pescadinha de rabo na boca, tal a forma como nos embrulha e nos envolve no manto sagrado do Rock. Habemus disco! [8/10] NUNO C. LOPES 2 5 / VERSUS MAGAZINE


COM M ANDO

«Love Songs #1...Total Destruction Mass Executions» (Firecum Records) Rui Vieira (Baktheria, Machinergy, Miss Cadaver) deve ter, certamente, bichos de carpinteiro e parece que qualquer motivo é bom o suficiente para criar novos projectos. Neste caso bastou um encontro, 25 anos depois, com José Gracio para que os Commando ganhassem forma. Praticantes de uma sonoridade que os próprios definem como Crossunder, esta banda não pretende ser mais do que é - e isso é uma homenagem ao Thrash, Crossover e Punk que fez as delicias de muitos nos anos 90. Mostrando uma outra faceta de Vieira, que não perde a oportunidade de disparar alguns tiros certeiros no actual estado das coisas, aqui num formato mais stand-up, que por vezes peca por excesso, mas o que é que isso interessa?! O importante é que assim que começa a rolar com “Metal is the Lei” este disco é tão imediato que nos agarra e que se prende aos ouvidos, muito graças a uma produção cuidada e, claro, com faixas tão simples como “Moshpitas” (e essa intro José?!), “Ichi Ni San” ou uma muito Thrash (com H senhor Rui) “É isso não mexas mais”. O que os Commando fazem não é mais do que aligeirar as coisas e pedir umas cervejas a acompanhar. Este é um hino à amizade; esta é uma homenagem ao Metal. Isto é só Metal! [7/10] NUNO C. LOPES

HAKEN

«Virus» (InsideOut Music)

Dez anos após o álbum de estreia, aparece este «Vírus» (não se trata de nenhum Corona), o sexto álbum de originais com a essência de progressivo, a oscilar entre o rock e o metal, suportado por uma composição consistente e audaz. Aliás, segundo o texto oficial de apresentação do álbum, o excelente tema de abertura, “Prosphetic”, estabelece uma ligação de continuidade ao álbum predecessor, «Vector», e conclui o conceito musical experimental aí iniciado. Honestamente, só descobri os Haken com a audição deste álbum e é como quando alguém conhece a mulher da sua vida e questiona-se por onde é que ela andou esse tempo todo… Entretanto, não pude deixar de rever os restantes álbuns, até para ter uma ideia da evolução da banda ao longo desta década. Com esta experiência auditiva, complementada com textos sobre a banda, onde alguns até mostravam uma certa desilusão relativamente a este álbum, quando comparado com álbuns anteriores, pude concluir precisamente o contrário: é o que vai mais ao encontro dos meus conceitos e gostos musicais e está ao nível dos restantes. Ross Jennings mostra toda a sua versatilidade vocal, Diego Tejeida surpreende-nos com uma panóplia de recursos e pormenores subtis e criativos no teclado, que complementam a sonoridade mais ritmada e forte do baixo do Conner Green e da bateria do Raymond Hearne, conjugada com os riffs e solos das guitarras do Charlie Griffiths e do Rich Henshall. A primeira parte do álbum inclui 5 temas à volta do “Carousell”, sendo “Prosthetic” o meu preferido. Após, deparamo-nos com “Messiah complex”, a rondar os 17 minutos, subdividido em 5 andamentos. É, simplesmente, extraordinário! O álbum termina com “Only stars” que nos induz num sono e adormecemos sem termos a percepção do seu fim de tão suave que ocorre… [9/10] JOAO PAULO MADALENO

HEAVEN SHALL BURN

«Of Truth and Sacrifice» (Century Media Records) Quatro anos após «Wanderer» o quinteto germânico está de regresso com, talvez, o seu disco mais ambicioso de sempre, não só em termos conceptuais como, igualmente, em termos sonoros. São dois discos, que perfazem um total de 97min e que pretendem abanar os alicerces de uma sociedade global à beira do colapso, cada vez mais iminente. Desligados de qualquer influência externa que pudesse colocar em causa o disco, a banda fechou-se no estúdio, pensou e repensou sobre o estado actual das coisas e, com isso, traz uma lufada de ar fresco ao seu som. É certo que, sendo um disco duplo, a sua escuta deve ser feita de forma moderada para se entender o que os HSB querem dizer e quiseram fazer. Também é certo que há por aqui algumas surpresas, tais como uma secção de cordas, contudo a sonoridade da banda mantémse intacta e, nestes 19 temas o que temos é um disco equilibrado e com motivos de interesse mais do que suficientes para merecer a escuta, mesmo com todas as dificuldades que um disco assim pode trazer ao ouvinte. Dividido em duas partes, «Truth» e «Sacrifice» é um bom exercício social e um despertar de uma sociedade desprovida (cada vez mais) de ideias próprias e de desinformação. Mais do que um disco de Metalcore ou Death Metal melódico, «Of Truth and Sacrifice» é um grito de revolta e, ao mesmo tempo, um pedido de ajuda. Os germânicos não têm nada a provar mas desafiaram as regras do jogo e a aposta foi superada. [8/10] NUNO C. LOPES 2 6 / VERSUS MAGAZINE


I G OR R R

«Spirituality and Distortion» (Metal Blade Records)

Depois de habituarem os ouvidos a este novo disco dos Igorrr é provável que qualquer trabalho dos Carnival in Coal ou dos Mr. Bungle soe a rock convencional. Ok, até posso estar a exagerar, mas a comparação ilustra bem a anarquia criativa, absurdamente torcida e esquizofrénica, que reina neste quarto registo de originais do projecto a solo de Gautier Serre. Se o álbum «Savage Sinusoid» de há três anos já foi recebido como uma verdadeira pedrada no charco, «Spirituality and Distortion» parece ir ainda mais além na exuberância sónica, focando-se fortemente, desta vez, no colorido das melodias folk do mundo. Isto inclui sonoridades do médio oriente e dos Balcãs, autenticadas por ouds, alaúdes, citaras, acordões e violinos. E ainda cantares ciganos que se fundem com influências clássicas, estranhos e frequentes efeitos electrónicos, blast-beats e grunhidos death metal. Enfim, uma fusão refrescante, nada invulgar no universo sem fronteiras deste multi-instrumentista francês que, mais uma vez, teve aqui a ajuda de uma série de músicos convidados, entre os quais se conta George “Corpsegrinder” Fischer. Mas no que toca a vozes, os louros vão todos para Laure Le Prunenec (companheira de Serre nos Öxxö Xööx e Corpo-Mente) que nos delicia com a versatilidade da sua faringe de expressão idiossincrática. «Spirituality and Distortion» soa mais pesado que o disco anterior, e embora mantenha sempre o nível mínimo necessário de coesão, é também um trabalho mais rebuscado na sua excentricidade e na sua demarcação de fórmulas e convenções. Criatividade é isto mesmo. [9.5/10] ERNESTO MARTINS

KING BUZZO (WITH TREVOR D U N N )

«Gift of Sacrifice» (Ipecac) King Buzzo, isto é, Roger “Buzz” Osborne, dispensa apresentações. Mas «Gift of Sacrifice», o seu segundo disco a solo, requer algumas. É um trabalho esquisito – mas já sabemos que todos os projectos em que Buzzo se envolve o são –, mas esquisito de maneira diferente dos Melvins ou dos Fantômas. A começar, porque é um disco acústico, e depois porque se inspira, e muito, na folk americana, aspecto maximamente presente em canções como “I’m glad I could help out” ou “Science in modern America”. No entanto, há quase sempre um twist buzziano a anunciar-se nas canções, tornando-as interessantes e menos previsíveis, seja pela voz de Buzzo, seja pela própria estrutura musical de cada uma, seja pela excelente percussão de Trevor Dunn, aqui muito mais “em casa” do que nos Melvins ou nos Fantômas. E falta falar da adição de elementos electrónicos, que acrescentam mais estranheza a algo que já é de si pouco convencional, como exemplificam as faixas número 7 e 8, “Bird animal” e “Mock she”. «Gift of Sacrifice», longe de ser uma obra-prima (let’s cut the crap: não o é!), tem qualidade suficiente para merecer atenção cuidada, seja-se ou não apreciador da carreira de King Buzzo. Mesmo na falta de guitarras distorcidas, esta deriva a solo de King Buzzo possui “peso” quanto baste para apelar a gostos rockeiros ou metaleiros e detém igualmente uma sofisticação cuja consequência é melhorar o disco a cada nova audição. Pena a sua curta duração; não se perderia nada com mais 10 ou 15 minutos de (boa) música. [7.5/10] HELDER MENDES

MY DYING BRIDE

«The Ghost of Orion» (Nuclear Blast Records) Chegar aos trinta anos de carreira com mostras inequivocas de folgo criativo não é algo que muitas bandas se possam orgulhar. Mas é esse o caso dos britânicos My Dying Bride. Este décimo quarto álbum - o primeiro sem o selo da histórica Peaceville Records e não produzido por Mags - marca, por um lado, um retorno ao estilo gothic/doom mais friendly da formação britânica, ao mesmo tempo que inclui, por outro, novidades q.b. em termos de composição. As primeiras três faixas do disco seguem de perto a peculiar fórmula melódica, destacando-se aqui a genial “Tired of tears” pelas suas sublimes harmonias vocais. “The solace” tem o dom de nos transportar para tempos ancestrais por intermédio da voz angelical de Lindy-Fay Hella (Wardruna) e das fantásticas melodias folk planantes de guitarra que soam como gaitas de foles electrizadas. A agressividade do disco sobe uns furos a partir de «The long black land», com Aaron a recorrer pela primeira vez ao seu tenebroso registo death, chegando mesmo a lembrar a faceta mais sombria, primordial da banda, em «The old earth». Com o violino e os teclados relegados para segundo plano e os temas mais conduzidos agora pela guitarra de Andrew Craighan, «The Ghost of Orion» foi um trabalho criado numa fase complicada da vida do grupo - a filha de Aaron, de cinco anos de idade, foi diagnosticada com cancro; o guitarrista Calvin Robertshaw abandonou a banda sem explicação… -, e por isso até podia não ter acontecido nunca. Mas aqui está ele, e depois

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de o ouvir ninguém diria que a banda passou por tantas complicações. Dir-se-ia que o infortúnio nada é perante os mestres inigualáveis da fina arte da miséria sónica. [8/10] ERNESTO MARTINS

MYRKUR

«Folkesange» (Relapse Records) Antes de avançar para um olhar sobre o terceiro disco da dinamarquesa Amelie Brunn, salientase o roster da editora Norte-Americana Relapse Records cuja diversidade vai além de qualquer suspeita e é um polvo cujos tentáculos exploram tantas sonoridades quanto aquelas que cabem numa vida. Dito isto, não se estranha que um projecto como Myrkur encaixe numa editora que arrisca sem qualquer receio. «Folkensange», que pode ser traduzido de forma livre como «música Folk» é isso mesmo, um disco simples e que permite ao ouvinte ausentar-se do seu corpo e respirar. É certo que a voz de Amelie é um canto de anjo que embala o nosso caminho. Este não é disco de Metal e não o pretende ser, mas é um terceiro disco que revela o talento da sua criadora e, acima de tudo, a sua versatilidade e a sua devoção às sonoridades Folk. Depois do peso que foi «Mareridt» (2017), Myrkur baralha e volta a dar num disco que assume o risco da independência e que pode marcar uma viragem na sonoridade do projecto. Se o mito do terceiro disco existe, ele não entra nas contas de Amelie Brunn. Quantas vezes o melhor da vida não está nas coisas simples? [8/10] NUNO C. LOPES

SVART CROWN

«Wolves Among the Ashes» (Century Media Records) Os franceses estão de regresso e fazem-no à bruta, sem qualquer perdão. Depois de um período em que JB ficou praticamente isolado, encontrou o refúgio nos seus ex-companheiros. Primeiro foi Ranko Muller, depois Clément Flandrois que tal como a Fénix fizeram com que as ideias do vocalista fossem tomando forma ao longo destes 2 anos. Dito isto, podemos dizer que «Wolves Among the Ashes» é um disco típico de Svart Crown- Contudo podemos também dizer que esta muralha sonora está igualmente mais densa e, ao mesmo tempo, mais diversa. É certo que a banda nunca seguiu as regras do jogo e isso fica provado ao longo do seu historial. A principal diferença é mesmo em termos líricos pois o disco centra-se no poder de uns sobre outros e de como o humano faz o que tem de ser feito para ser bem sucedido (acreditem que não é bonito!) em vez de se centrar em histórias e experiências de JB. Por isso mesmo «Wolves Among the Ashes» é um disco tenebroso e assustadoramente real. Um regresso com armas carregadas e com mira afinada. Os Svart Crown estão de regresso e já tínhamos saudades. [8/10] NUNO C. LOPES

T OUNDRA

«Das Cabinet Des Dr. Caligari» (InsideOut Music) Para todos os seguidores do quarteto madrileno, especialmente para aqueles que só foram fortemente atraídos pelo «Vortex» editado em 2018, ouvir este novo trabalho dos Toundra será um exercício de resistência. A sonoridade ambiental e por vezes esotérica é bastante familiar, mas há aqui uma abordagem diferente do que seria de esperar ou do que se estaria a prever. Por isso é importante contextualizar esta experiência, pois a fonte de inspiração deste trabalho é proveniente de uma nova dimensão para os Toundra. Em 2020 passam 100 anos desde o lançamento do filme mudo intitulado “Das Cabinet Des Dr. Caligari” e os Toundra assinalam a data com a composição de uma banda sonora original para a película germânica. A sua componente visual é pesada e a mensagem é um alerta para a manipulação de ideais que surgiam pela altura na Europa…quão actual continua?! E são estas as características que os Toundra espelham nestes 75 minutos de música 100% instrumental. A resistência que mencionei no início advém da tremenda tensão que os diferentes temas nos injectam. Conhecendo-se a obra dos Toundra é sabido que a sua música vai rebentar e desaguar algures nas paisagens que constroem. Mas aqui a história é mesmo outra. ”Des Cabinet des Dr. Caligari” dos Toundra pode ser um teste à nossa sede de explosão, mas aos fãs de música pesada sempre foi reconhecido o prazer obtido no desconforto de certa sonoridade, não tendo ela de ser necessariamente agressiva. [7/10] EMANUEL RORIZ

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TRI PT YK O N

«Requiem (Live At Roadburn 2019)» (Century Media Records)

No dia 12 de Abril de 2019, pelas 16h, a arena do prestigiado Roadburn Festival (Tilburg, NL) testemunhou algo verdadeiramente extraordinário: a apresentação de uma obra que muitos já julgavam inacabada para sempre, a trilogia “Requiem”, idealizada por Tom Warrior e Martin Eric Ain dos Celtic Frost, cuja primeira parte, “Rex irae”, sobressaiu já no álbum «Into the Pandemonium» como o mais avantgarde que se podia ouvir em 1987. A terceira parte da peça, “Winter”, ainda surgiu, muito mais tarde, no disco «Monotheist», mas a dissolução subsequente da banda praticamente enterrou qualquer esperança de conclusão da desejada missa pro defunctis. E é aqui que entram os Triptykon com a organização do Roadburn que, em 2018, teve a iniciativa de comissionar a parte em falta do “Requiem” à banda de Warrior, em parceria com a Dutch Metropole Orkest. O resultado, apresentado ao vivo, na íntegra, no dito festival, dificilmente podia ser melhor. O diálogo morbido entre Warrior e a tunisina Safa Heraghi na primeira parte, acompanhado pela inquivoca guitarra arrastada dos Frost e pela orquestra, continua a dar os mesmos arrepios na espinha que a versão original de há 32 anos. A segunda parte, “Grave eternal”, o único segmento inédito, totaliza mais de meia hora e prossegue numa toada ainda mais doomy, abrindo com um surpreendente solo Pink Floydiano e fundindo depois psicadelismo com música clássica, percussões tribais e mantras balbuciados por vozes moribundas que parecem testemunhar a derradeira travessia do Styx na embarcação de Caronte. Uma experiência transcendente que tem na terceira parte o seu grand finale, com uma versão ainda mais refinada de “Winter”. Não restam dúvidas de que valeu bem a pena esperar mais de três décadas pela conclusão de “Requiem”. [9/10] ERNESTO MARTINS

WITCHCRAFT

«Black Metal» (Nuclear Blast Records) «Black Metal» é o regresso dos Witchcraft, e o mínimo que se pode dizer é que a nova sonoridade constitui uma enorme surpresa. Falta é perceber se essa surpresa é boa ou má. É que do stoner psicadélico que lhes era associado, nem sombras. Os “novos” Witchcraft são uma encarnação distinta e totalmente acústica, daí que o título do novo disco tem de ser entendido de maneira irónica, porque aqui não há nem black, nem metal. Ou talvez não seja bem assim: Magnus Pelander compôs músicas seguramente “negras”, às quais emprestou a sua excelente voz de uma maneira mais lamentosa do que vinha sendo habitual, como é notório em “Elegantly expressed depression” ou “Grow”. A herança dos Pentagram, Black Sabbath e afins já não é contudo o que move os Witchcraft, agora muito mais próximos de uns Anathema em registo acústico e, sobretudo, de uma certa dark folk/country americana que tem sido muito revisitada ultimamente, até por artistas com ligações à música mais pesada. Portanto, eis os factos: quem estiver à espera de algo semelhante a «Firewood» ou «The Alchemist», bem pode ir apanhar outro comboio porque a música dos Witchcraft já não pára nessa estação. «Black Metal» é sem dúvida um álbum corajoso e ambicioso que reflecte o actual estado de espírito de Magnus Pelander, mas será apenas recomendado a quem estiver a sofrer de uma depressão (amorosa ou outra…) e quiser desanuviar um pouco de guitarras eléctricas. [6.5/10] HELDER MENDES

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CRITICAS VERSUS CONVOCATION

«Ashes Coalesce» (Everlasting Spew Records) Apesar de se descrever como doom funerário de estilo próximo dos praticados pelos Evoken e Esoteric, a música dos finlandeses Convocation apresenta, adicionalmente, neste segundo registo, um dinamismo mais próprio de um death metal de baixa rotação. À atmosfera sinistra e aos teclados atmosféricos, somam-se riffs poderosíssimos, notas melódicas no tempo certo e uns ocasionais vocais limpos que nos mantêm de ouvido colado, mesmo em temas tão longos. A produção impecável de um especialista do género - Greg Chandler - também ajuda. [8/10] ERNESTO MARTINS

EXHUM ED/ GRUESOM E

«Twisted Horror» (Relapse Records) Seja para fãs do estilo ou apenas para curiosos que queiram provar um bocado desta singela dose de death metal, este split CD é uma espécie de brunch, que nos pode deixar plenamente satisfeitos a um domingo de manhã. Os Exhumed abrem a ementa com três pratos servidos frios como a mais saborosa das vinganças. Os títulos não deixam margem para dúvidas. “Rot your brain” ou “Dead, deader, deadest” fustigam-nos o ouvido com muita rapidez, técnica e horror. O apontamento clássico deste repasto é servido pelos Gruesome, que invocam a majestosa receita do chefe Chuck Schuldiner com dois temas nostálgicos e que acabam por nos forrar o estômago na medida ideal. São apenas 19 minutos de música, mas a boa notícia é que se sentirmos necessidade de repetir não teremos de nos preocupar com as calorias ingeridas. [7.5/10] EMANUEL RORIZ

GEOFF TYSON «Drinks With Infinity»

(Cargo Records)

Quem é Geoff Tyson? Assim, muito resumidamente… considerem-no um discípulo de Joe Satriani. De facto, pode até parecer um pouco redutor mas Geoff foi um dos estudantes que Satriani considerou como “licenciado”, sendo outro e só por curiosidade, Steve Vai. «Drinks With Infinity» é o primeiro álbum a solo, totalmente instrumental e como já deverão ter percebido fortemente inspirado e influenciado por Satriani. Avalio este tipo de álbuns, instrumentais e muito direccionados para um só instrumento, neste caso a guitarra, por aquilo que me consegue cativar; se me leva a ouvir mais vezes, porque haverá na música pormenores ou aspectos para descobrir. Outro aspecto é o shred que muito guitarristas abusam em troca da musicalidade. Pois, Geoff é cheio de musicalidade, de que são exemplos “Shag”, um tema que gira em torno de um riff cheio de groove ou, se assim lhe podemos chamar a balada “Are You With Me?”. O único senão que encontro no disco é a falta de orgânica numa bateria programada, no entanto, a música ouve-se muito bem, é sóbria e, porque não, divertida. O disco continua a rodar, o que é bom sinal e além disso, Geoff Tyson é um guitarrista do ca… mandro! [7.5/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

IN M OURNING

«Monolith» (Agonia Records) «Shrouded Divine» distinguiu-os, em 2008, como banda revelação, e este segundo álbum, agora reeditado, confirmou os suecos In Mourning como um portento de talento com algo de novo para oferecer no quadrante do death metal progressivo de tendências melancólicas. Isento das alusões Opethianas do primeiro disco, «Monolith» é um trabalho criativo e rebuscado, com uma malha rítmica notável, cheio de voltas inesperadas e um cuidado particular devotado à coerência musical dos temas. Quem não o adquiriu em 2010, tem agora uma segunda oportunidade. [9/10] ERNESTO MARTINS

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N AVIAN

«Reset» (Indie Recordings) Formado por um trio de talentosos estudantes de música, os Navian apresentam aqui um trabalho genial, inteiramente instrumental, na linha dos Animal as Leaders. São cinco temas vibrantes centrados na guitarra de Martin Selen, de composição focada e sem exibições técnicas vazias, cheios de melodias maravilhosas, ganchos pegajosos e onde a execução, solta mas imaculada, consegue transmitir aquela paixão pela música que por vezes parece já perdida. A banda promete, e o primeiro álbum está já agendado para o início de 2021. Vamos ficar atentos. [9/10] ERNESTO MARTINS

RAZOR SHARP DEATH BLIZZAR D

«The World is Fucked» (Independente) Estes caríssimos Razor Sharp Death Blizzard chegam-nos directamente da Escócia. São nove descargas furiosas, anárquicas e viscerais de Punk Hard Core, ali a meio caminho entre os The Exploited e Dead Kennedys. Música despojada de regras, “nua e crua”, mensagens e manifestos políticos e anti-fascistas. Quando damos conta … PAMBA! «The World is Fucked» chega ao fim, assim, sem avisos prévios! E lá voltamos a carregar no “play”. Em jeito de conclusão e tal como o álbum de estreia dos The Exploited, podemos dizer que “Punk’s Not Dead”. [7.5/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

SM ILING ASSASSIN

«Plight of the Millennial» (Warren Records) O álbum de estreia dos Smiling Assassin traz-nos uma descarga de Hardcore Punk, irreverente, por vezes visceral mas com uma sonoridade moderna. O álbum abre com um tema em forma de manifesto e o segundo a fazer lembrar os Napalm Death, meia dúzia de segundos, blast beat e 3 vezes “fuck”. Pelo meio seis temas que mais parecem uma bala saída de uma qualquer arma, directos e dilacerando tudo o que aparecer pela frente. A temática ou se quiserem os manifestos, giram à volta das dificuldades que esta geração enfrente nos dias de hoje. O álbum termina com gritos e tiros de caçadeira, assim, com todo o respeito. No total, estamos perante um CD com pouco mais de 15 minutos… por isso, acho que merecíamos mais qualquer coisinha [6.5/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

T HE BIG DIRTY

«The Sex» (Independente) Os The Big Dirty decidiram - que dizem eles – revitalizar o Sleaze Rock. Para quem não conhece bandas como Mötley Crüe ou LA Guns fizeram-no ali por volta das décadas de 80 e 90. Esta banda foi formada em 2018, sendo que «The Sex» é o seu álbum de estreia. Apesar de ser assim um pouco… sem piada, “sensaborão”, simplesmente, porque não traz nada de novo, nada que possamos dizer… UAU! estes gajos reinventaram o estilo, ou algo do género. No entanto, o álbum está bem produzido, muito boa sonoridade, suficiente maduro para quem só começou nestas andanças em 2018 mas… e há sempre um mas… falta ali um pouco de força e, mais importante, demarcarem-se do que os outros já fizeram e centrarem-se em (tentar) fazer algo o mais original possível. [6.5/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

T HE DITCH AND THE DELTA

«The Ditch And The Delta» (Prosthetic Records) Sei que estou perante um bom disco de sludge no momento em que as palavras sujeira, lamacento, surgem logo à cabeça na primeira audição. É mesmo assim o início deste álbum homónimo dos The Ditch And The Delta com o tema “Maimed”, sem espinhas. Logo de seguida, “Exile”, uma das canções mais interessantes do disco, acrescenta algo mais ao permitir erguer a cabeça, respirar, na extensão dos seus primeiros momentos. Este é um disco que flúi segundo uma linha condutora bastante dinâmica, ora mais introspectivo, ora mais alarmante, mas sem desviar um milímetro que seja da personalidade vincada que o trio de Salt Lake City (Utah, EUA) já edificou. É merecida uma salva de palmas, todos em pé, pela coesão das estruturas musicais apresentadas e pelas viragens inesperadas que nos agarram com força. [8.5/10] EMANUEL RORIZ 31 / VERSUS MAGAZINE


ALBUM VERSUS

O RAN S S I PA ZU ZU «Mestarin Kynsi» (Nuclear Blast)

Esta é, para mim, a grande descoberta do ano. Já tive a oportunidade de assistir às mutações mais inusitadas do black metal, algumas delas com resultados excepcionais e não menos que históricos, produzidas por portentos criativos como Dodheimsgard, Sigh e The Forest of Stars, mas não me lembro de ouvir nada que se assemelhe à brilhante proposta vanguardista e psicadélica desta formação Finlandesa. E este não é um disco de estreia. De facto já é o quinto álbum de originais numa carreira toda feita de desafios permanentes às convenções e estéticas tradicionais do Metal (onde andei eu todo este tempo?...). «Mestarin Kynsi» se calhar até é o disco mais focado da banda, mas isso de pouco serve para descrever a experiência transcendente induzida pelos vocais crocitados de JunHis e pelas melodias abstractas, ambientais e repetitivas que dominam a primeira metade do disco, ornamentadas com apontamentos eletro e ocasionais erupções desenfreadas duma secção rítmica pulsante. “Uusi teknokratia” serve-se duma melodia ondulante que não sai da cabeça, culminando num selvagem segmento final com instrumentos de sopro. Passagens com violinos, padrões jazzy e muita dissonância são outros elementos a assinalar que permeiam um disco que vai ganhando peso nos temas finais, surpreendendo os mais incautos em “Taivaan portti” com uma descarga rápida e crua de black metal. «Mestarin Kynsi» é uma daquelas raras obras que nos escancara as portas da percepção, proporcionando uma viagem sónica original que se recomenda especialmente a quem (como eu!) nunca ouviu antes nada do auto-intitulado demónio laranja. [9/10] ERNESTO MARTINS 3 2 / VERSUS MAGAZINE


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O monstro incompreendido Desta vez, Carach Angren pega na célebre história de Frankenstein e explora-a de vários pontos de vista incluindo o de Mary Shelley, a autora do romance que deu origem ao mito. Entrevista: CSA & Nuno Lopes| Fotos: Stefan Heilemann Facebook|Youtube

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Nuno e CSA – Saudações, Clemens/Ardek! Obrigado pelo teu tempo. Ardek – Saudações. É um prazer! Nuno – Passaram três anos sobre «Dance and Laugh Amongst the Rotten». Como é estar de volta? É bom estar de volta e apresentar o nosso sexto álbum intitulado «Franckensteina Strataemontanus». Tirámos algum tempo extra para planear e pôr de pé este álbum depois de termos viajado durante muito tempo pelo mundo inteiro. Nuno – Ao longo dos anos, estabeleceram uma ligação forte com Portugal e os vossos fãs portugueses. Que recordações tens das vossas presenças em aqui e como nasceu esta relação? De facto, sempre tivemos um grupo de fãs entusiástico em Portugal e gostámos imenso de ir aí para espalhar o horror. Começámos por atuar no Vagos Metal Fest e foi uma experiência fantástica. Encontrámos muitos fãs dedicados aí e o apoio que recebemos tornou possível o nosso regresso e fazermos concertos em clubes durante as nossas digressões europeias. Esperamos regressar assim que for possível voltar a fazer digressões! Nuno – «Franckensteina Strataemontanus» foi o vosso último lançamento com o Namtar na bateria. Estavam à espera de ele quisesse sair? Ele afirmou que estava descontente com a indústria musical. Não nos apercebemos de que ele estava prestes a tomar essa decisão, mas agora a situação começa a fazer sentido. Ele tomou essa decisão depois de ter gravado a bateria e quando começaram a aparecer novas oportunidades para fazermos digressões. Parece que foi isso que despoletou a sua decisão que foi comunicada em novembro. Mas foi realmente inesperado. CSA – E como vês a partida do teu irmão e colega de banda Ivo/ Namtar?

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Nuno – Já têm um substituto para ele? De que forma poderá essa mudança afetar o som de Carach Angren? Bem, foi muito triste e conversámos muito para tentarmos encontrar uma solução ou uma forma de evitar que ele tomasse essa decisão. Mas logo do início ficou muito claro que ele queria mesmo sair e nós respeitámos a sua decisão. O Seregor e eu queríamos muito manter Carach Angren, sobretudo porque estávamos muito entusiasmados com o álbum que íamos lançar. Decidimos procurar um novo baterista e encontrámos o Michiel van der Plicht, que é um músico incrível e uma grande personalidade. Foi fantástico nos nossos concertos no 70.000 Tons of Metal. Com ele e com o Bastiaan Bohn na guitarra nos concertos, estamos ansiosos por voltar aos palcos! Nuno – O álbum inspira-se em Conrad Dippel. Como é que esta ideia nasceu e qual era o desafio a enfrentar desta vez? Tanto eu como o Seregor já andávamos há um tempo a pensar no tema de Frankenstein, mas ainda não tínhamos encontrado uma boa forma de abordar essa história com Carach. Em dezembro de 2017, eu comecei a trabalhar em música nova e uma noite tive um pesadelo. No meu sonho, estava a flutuar através de uma casa velha que parecia datar de uma época clássica. Tinha todo o tipo de ornamentos e decorações. Ouvia sons de piano dissonantes, corria água e, de repente, fui puxado em direção a um quadro, onde se via o retrato de um homem velho e zangado. Depois despertei. Desenhei a cara que tinha visto e tentei recuperar as notas de piano que tinha ouvido. Depois esqueci-me daquilo tudo. Nos meses que se seguiram, decidi ler a versão original de Frankenstein, da autoria de Mary Shelley e fiquei arrebatado por essa obra. A profundidade, o detalhe e a viagem emocional retratada apanharamme desprevenido. Portanto, decidi

investigar mais sobre o assunto e deparei-me com uma teoria segundo a qual Mary Shelley tinha sido inspirada por um homem chamado Johan Conrad Dippel, um alquimista que vivia na Alemanha, no castelo Frankenstein. Era muito conhecido por fazer experiências com cadáveres e também por ter uma visão crítica da religião. Por esse motivo, teve de fugir várias vezes para diferentes países. Durante as minhas pesquisas, encontrei um retrato de Dippel e vi que se parecia muito com o homem que eu tinha visto no meu sonho. Foi nessa altura que comecei a sentir-me pessoalmente motivado pelo tema. Precisava de estabelecer uma conexão pessoal com o tema. Aprofundei a minha investigação lendo livros, visitando museus de medicina, etc. O Seregor era um grande fã do filme original sobre Frankenstein, que viu quando era miúdo. Portanto, a partir desse momento, começámos a fazer experimentar e, pouco a pouco, construímos o álbum que lançámos agora. A história combina factos históricos e ficção. A ideia de base é que Dippel queria tornar-se imortal e tentou criar um elixir que lhe permitisse atingir esse objetivo. O álbum começa com a história fictícia de um rapaz que andava a brincar nos bosques perto de Darmstadt. Na minha cabeça, isto passava-se nos anos 1980. O rapaz fica doente depois de regressar da floresta, morre pouco depois e os pais enterram-no. Depois ele regressa da tumba e come a sua família. Isto corresponde à intro e à primeira faixa. Por conseguinte, é uma introdução semelhante à de «Death came through a Phantom Ship». Nas faixas seguintes, entras no mundo interior de Dippel, das suas experiências e do seu laboratório (“Franckensteina Strataemontanus” e “The Necromancer”). Em “Sewn for Solitude”, penetramos no mundo interior de uma das criaturas de Dippel, um monstro que tem de se esconder na floresta. Assim levanta-se a questão de saber quem


O Seregor e eu queríamos muito manter Carach Angren, sobretudo porque estávamos muito entusiasmados com o álbum que íamos lançar. Decidimos procurar um novo baterista […]

é responsável pelo sofrimento. O monstro, o seu criador ou ambos? Na faixa “Operation Compass”, saltamos para a II Guerra Mundial e encontramo-nos no Norte de África. Descobri que Dippel tinha inventado um óleo chamado “óleo de osso”, que era feito de ossos de animais e cheirava muito mal. As forças britânicas tinham recebido instruções para usar esse óleo para envenenar os poços em caso de retirada. Encontrei esta informação em documentos oficiais do governo, portanto isto é informação factual. Fiquei fascinado por ela, porque isso significava que algo que Dippel tinha criado há séculos era usado como arma química. Na canção, aprofundámos esta ideia imaginando que os poços tinham sido envenenados e que isso tinha libertado as forças demoníacas de Dippel que ressuscitavam soldados mortos e encarnavam neles,

numa espécie de orgia de zombies. Depois seguimos para “Monster”, uma faixa que levanta o problema de qual é a verdadeira essência de um monstro, fazendo o ouvinte pensar nessa questão. “Der Vampir von Nürnberg” resultou da investigação feita pelo Seregor e conta a história de Kuno Hofmann, que foi condenado por ter matado duas pessoas há várias décadas. Acusaram-no de ter tido relações sexuais com cadáveres e de ter bebido o seu sangue. Relacionámos esta história com Dippel dizendo que ele tinha sido inspirado pelos seus escritos. Depois, regressamos ao laboratório de Dippel e às suas experiências. Ele consegue criar o elixir da vida, bebe-o e torna-se imortal. Mas há um problema: o seu corpo continua a corromper-se, logo a sua alma imortal fica presa na sua carne apodrecida. A única forma de escapar é invadir um corpo vivo. E assim ligamos a última canção à primeira. Dippel invadiu o corpo do rapaz e foi por isso que

ele morreu e regressou da tumba. Portanto, as faixas que abrem o álbum acabam por ser as últimas da história e constituem um fim aberto. CSA – E de que forma tiveste em conta o romance “Frankenstein” de Mary Shelley? Pareceu-me que muitos dos elementos do livro nunca chegaram à cultura moderna. Estou a pensar, por exemplo, na inteligência emocional da criatura, que se vai expandindo. Geralmente, o monstro é apresentado como um ser estúpido, desprovido de inteligência, mas eu fiquei mesmo fascinado com a entidade que aparece no livro de Shelley. Consegues compreender o que ele sofre e ela apresenta-o como muito vivo em todos os aspetos. As suas capacidades introspetivas estavam muito desenvolvidas. Apresentei esta ideia em “Sewn for Solitude”. Essa canção é provavelmente a que está mais diretamente relacionada com o material original do livro e, portanto, é uma espécie de homenagem a ele.

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CSA – Foram influenciados por algum filme sobre este tema? Seregor é fã do filme original sobre Frankenstein. Viu-o quando era um miúdo e cresceu com ele. Foi para ele uma memória pesada e antiga. Por conseguinte, isto exerceu uma grande influência sobre ele enquanto estava a trabalhar neste álbum. Para mim, a maior influência foi o romance de Mary Shelley. Fez nascer imagens na minha mente que me foram levando a criar melodias incessantemente. CSA – A capa do álbum de Stefan Heilemann/Heilemania é adequadamente sinistra. Podes contar-nos como foi concebida? Heilemann é um fotógrafo e designer extremamente talentoso. Eu senti que ele estava no

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momento ideal para criar este artwork. Assim, enviei-lhe um mail em outubro do ano passado com a história concetual do álbum e ele teve logo uma série de ideias para a capa e o booklet. Ficámos imediatamente fascinados e vimos que não podíamos ter escolhido melhor para este álbum. CSA – Também têm fotos promocionais fantásticas (nomeadamente aquela em que vocês estar a operar um cadáver). Quem as fez e como as fizeram? Fizemos algumas fotos promocionais no castelo Frankenstein, na Alemanha. O castelo estava rodeado por uma névoa diáfana e essas fotos ficaram fantásticas. A foto de que falas foi também uma ideia de Heilemann. Ele tinha comprado algum gin

tónico e luzes negras. Acontece que a tónica brilha no escuro, quando a expões a luz negra. Portanto, decidimos fazer algumas fotos experimentais usando esse processo. Mais uma excelente ideia! CSA – Que papel desempenham os teus estudos musicais na composição da música de Carach Angren? Pode ser um cliché, mas eu acho que nunca devíamos parar de estudar. Tive a sorte de ter tido muitas aulas de teclados e de teoria musical, quando era criança. Isso acabou por ser importante. Quanto mais aperfeiçoas o domínio de um instrumento, mais fácil é criar música. Mas há um problema. Um bom domínio da teoria não


Tanto eu como o Seregor já andávamos há um tempo a pensar no tema de Frankenstein, mas ainda não tínhamos

encontrado uma boa forma de abordar essa história […]

te faz criar boa música. Conheço pessoas que não sabem nada de música e que fazem música fantástica e outras que sabem tudo sobre teoria musical e que não conseguem compor nada. No meu processo criativo pessoal, há momentos em que quero mesmo esquecer a teoria musical. Quando quero criar uma grande melodia, que seja mesmo memorável, não me apetece nada pensar nisso. Limito-me a sentar-me ao piano ou a trauteá-la mentalmente. A ausência de atividade mental ou racional é a melhor forma de criar algo interessante. Depois a teoria pode ajudar, quando se trata de fazer os arranjos, mas mesmo nessa altura não estou a pensar nela de forma consciente. É como um instrumento invisível. O que eu gosto mesmo de fazer é estudar o trabalho de outros. Costumo ouvir produções ou ler pautas. Aprendes sempre algo automaticamente, tiras sempre algo desse estudo. No fim contas, o que conta para nós é o som e a qualidade emotiva das canções e da história.

«Dance and Laugh»)? Sim. Há sempre alguma pressão. Principalmente, depois de cinco álbuns que as pessoas parecem apreciar. Há sempre esta “página em branco” para a qual tu olhas no início do ciclo de composição de um novo álbum. Sentimos que precisávamos de mais tempo para criar este, por isso demorou mais tempo a sair, mas parece que valeu a pena. O truque é fazeres de conta que é o teu primeiro álbum de sempre. Isto não é fácil, porque tens de procurar ativamente novas energias e inspiração. Quando gravas um álbum pela primeira vez na tua vida, é automaticamente uma coisa excitante e isso enchete de energia e paixão. Depois de muitos álbuns, tens de ter cuidado, para a coisa não se converter numa rotina. É por isso que eu, por exemplo, gastei algum tempo para investigar sobre o tema. Tive de ler livros, de visitar museus, de tentar ficar inspirado para ter uma nova visão. Mas penso que, no fim, correu tudo bem e valeu a pena o investimento.

CSA –Por falar de música, como aconteceu a colaboração do violinista Nikos Mavridis? O Nikos foi-nos apresentado, quando estávamos a gravar com o Patrick Damiani no seu Tidal Wave Studio, na Alemanha, para o álbum intitulado «Lammendam». Tínhamos acabado de assinar contrato com a Maddening Media, dirigida pelo Philip Breuer, em 2007. O Patrick tinha acabado de ouvir umas partes de cordas que eu tinha criado nos teclados e disseme que conhecia um músico que vivia em Karlsruhe que fazia belos solos de violino. Telefonou-lhe e ele gravou partes de “Invisible Physic Entity” e “A Strange Presence Near The Woods”. Foi fenomenal e ficámos amigos desde essa altura. Assim, quando preciso de alguém para tocar solos de violina ou viola, conto com ele.

CSA – Será que o COVID 19 vai inspirar o vosso próximo álbum? E tornar mais difícil a promoção deste magnífico álbum? As coisas não se passam assim. O que é estranho é que, de certa forma, este tema do COVID está relacionado com o álbum. Podia ser uma das invenções retorcidas de Dippel, mas está a acontecer de verdade, o que é um tanto assustador. Tínhamos precisamente acabado de compor e gravar o álbum, quando esta coisa apareceu. Tenho evitado ter uma visão egocêntrica desta questão mundial ligada a mim e à banda. Está a afetar toda a gente e muitas pessoas de forma muito direta. Temo-nos adaptado às circunstâncias e promovido o álbum da melhor forma possível. Tivemos de adiar o processo um bocado, mas estávamos tão excitados que o queríamos lançar tão cedo quanto possível. Obrigado pela entrevista. Estamos ansiosos por regressar a Portugal!

Nuno – Sentiram alguma pressão relativamente a este lançamento (sobretudo depois do sucesso de

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A culpa é do cemitério… Por: Emanuel Roriz

Depois de vos ter contado a história de como o heavy metal chegou até mim, nos tempos em que se desconhecia o streaming ou até o download ilegal, vou voltar novamente atrás no tempo e relembrar o primeiro encontro com obras que deixaram marcas até aos dias de hoje.

Conheci os Metallica através da música «I disappear», que é uma espécie de cócó. Fazia parte da banda sonora do filme Missão Impossível 2, Tom Cruise a trepar o Grand Canyon e os Limp Bizkit a serem até mais interessantes que os primeiros, com o espetacular «Take a look around». Este cócó era uma contradição. Dos 4 cavaleiros de São Francisco falava-se serem os melhores e os maiores do heavy metal. Lembro-me das conversas no fundo do lugar novo e de um ou outro amigo me querer fazer crer que o Black Album era o melhor disco de heavy metal de sempre!!! Só essa afirmação chegou para me manter longe de ouvi-lo durante uns meses. Acabei por ceder à pressão, aceitei que mo emprestassem e decidi logo que este não era o melhor de sempre. Até acabei por me tornar seguidor apaixonado dos Metallica, mas apenas ao cair do pano do disco …And Justice For All, culpa daquele solo de guitarra que fica para além da fronteira do alucinante. Mas, se o Black Album não é o melhor, é sem dúvida o mais importante! Não sou seguidor da saga, mas penso que nas Crónicas de Nárnia há um guarda roupa que dava acesso a um outro mundo. Pois bem, este Black Album é esse mesmo guarda roupa. Muita da gente que ouviu o disco encontrou do outro lado um novo mundo…Slayer, Pantera, Megadeth, Maiden, Sabbath…Thin Lizzy. Existem milhões de pessoas que pelo menos conhecem bem duas das músicas dos Metallica. Essas, estão aqui no Black Album. Sabem de quais estou a falar não sabem? Pois…bem me parecia. P.S.: O Black Album é um disco muito, muito, muito bom de se ouvir… em repeat mode, mas cuidado com o pescoço.

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Playlist Adriano Godinho

Gabriel Sousa

Haken - Virus Symphony X - The Odyssey Svet Kant - The visage Unbiassed

Halestorm - Halestorm Crazy Lixx - Crazy Lixx Whitesnake - The Rock Album Andy Taylor - Thunder Ukurrale - O Enigma Da Alface

Carlos Filipe Gruppe Planet - Travel To Uncertain Groundsbundle Long Distance Calling - How Do We Want To Live Paradise Lost - Obsidian My Dying Bride - The Ghost Of Orion Bill McClintock youtube mashups

Cristina Sรก Above Aurora - The Shrine of Deterioration Daius - Neant Frowning - Extinct Gaerea - Limbo Irae - LUrking Into the Depths Old Forest - Back Into the Old Forest

Eduardo Ramalhadeiro Pain of Salvation - Panther The Clash - London Calling Sรณlstafir - Endless Twilight of Codependent Love

Emanuel Roriz The Black Wizards - Reflections Moonspell - Darkness and Hope Pantera - Cowboys From Hell Opeth - In Cauda Venenum (16) - Dream Squasher Incantation - Sect of Vile Divinities

Ernesto Martins

Joรฃo Paulo Madaleno Descend - The Deviant Pure Reason Revolution - Eupnea Death Scythe - Descending into Xibalba Mountaineer - Bloodletting Velkhanos - The Wrath

Helder Mendes Akercocke - Renaissance in Extremis Carcass - Symphonies of Sickness Paradise Lost - Obsidian Fear Factory - Soul of a New Machine Chelsea Wolfe - Abyss

Ivo Broncas Lamb of God - Lamb of God Paradise Lost - Obsidian Sepultura - Quadra Gojira - From Mars to Sirius

Nuno Lopes Gaerea: Limbo Paradise Lost: Obsidian Dool: Summerland King Buzzo: Gift of Sacrifice Witches of Doom: Funeral Radio

Above Aurora - The Shrine of Deterioration Triptykon - Requiem Oranssi Pazuzu - Mestarin Kynsi Voyager - Ghost Mile Supertramp - Crime of the Century Procol Harum - The Best of...

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Ralph Hubert diznos que podemos ouvir qualquer tipo de música, incluindo os Mekong Delta, de duas maneiras diferentes: apenas por entretenimento ou intensamente sem nenhuma distracção. Sendo que esta última forma é particularmente recomendada para ouvir os Mekong Delta. No entanto, esta visão “romântica” da música não é acompanhada pela visão que Ralph tem sobre o futuro do Homem. Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro

MEKONG DELTA 42 / VERSUS MAGAZINE


O

lá, Ralph, é um prazer conhecer-te virtualmente e, antes de mais nada, espero que esteja tudo bem contigo, teus amigos e familiares. Aqui está tudo bem, ainda não encontrei o botão de pânico que provocou o medo em muitas pessoas. Mekong Delta é um dos meus projectos / bandas favoritas de todos os tempos. Da última vez conversei com o Jake Jenkins ou devo dizer ... Peter “Peavy” Wagner? Podes chamá-lo como quiseres, para mim, ainda é “Peavy”. :-) Que recordações tens desse período? A estreia, todas as mudanças de programação e ... claro, os nomes misteriosos? Onde é que tudo começou? A história do Mekong começou quando, no meu estúdio, conheci Jörg, o baterista dos “Avenger” (mais tarde, “Rage”). Trabalhamos juntos em muitas produções e debatemos muito sobre música: Ele, mais do ponto de vista da música rock; eu, mais da música clássica. Numa noite de cerveja, no final de 1984 ou início de 1985, ele chegou ao estúdio com uma demo de uma banda que ninguém conhecia na época – Metallica! Tocou “Fight Fire With Fire”, entre outras coisas. A música continha uma anomalia rítmica que era incomum para o metal daquela época. Isso

impressionou-o profundamente e eu também achei interessante. O meu comentário foi: “Muito bom, mas pode ser muito melhor...”. Jörg olhou para mim e disse: “Bem, então faz!” Então, porque não? Nas duas semanas seguintes, compus algumas estruturas de músicas ainda não terminadas que toquei para ele. Imediatamente, ele quis tocar a bateria para esses riffs. Fomos para a sala de ensaios da bateria e, naquele instante, nasceram os Mekong. Depois de concluir mais umas músicas que eu e o Jörg podíamos tocar juntos, começamos a procurar guitarristas. Encontramos o Frank Fricke (também conhecido por Rolf Stein), um excelente guitarrista rítmico, e o Rainer Kelch (também conhecido por Vincent St. Jons), um excelente guitarrista solo. Encontrar um cantor foi um grande problema, pois o ritmo e a harmonia eram muito complexos para um cantor de metal normal. Lancei o desafio ao Bobo (aka Keil), pois sabia que não teria este tipo de problemas. Anteriormente, nós já tínhamos tocado juntos nalguns grupos que tornavam a música realmente complicada. Como era um bom amigo meu, após alguma insistência, finalmente concordou em ajudar, embora não fosse o seu tipo de música. Porquê os pseudónimos? Houve uma boa razão para isso: todos nós estávamos sob contracto de diferentes editoras e só podíamos lançar discos pelas mesmas.

Então, para livrar-nos desse problema, usamos os pseudónimos. Resultado: sem nomes próprios, sem discussões e sem problemas. Naquela época, porque é que assumiste que “músicos alemães não seriam aceites internacionalmente”? Na primeira metade dos 80 anos, o Thrash Metal foi claramente dominado pelas bandas da costa oeste dos Estados Unidos da América (EUA). Também podese dizer que foi inventado, por exemplo, pelos Exciter, em estreia, ou depois pelos Metallica com “Kill’em All”. A Europa ou, em particular, a Alemanha, ainda não estavam a ter notoriedade. Essa citação que escolheste de uma entrevista minha dessa época deve ser considerada nesse contexto. Actualmente, ainda tens a mesma opinião? Não, porque bandas como Kreator e Destruction, com um andamento muito mais duro (excepto, Slayer) e pioneiros do Thrash Metal alemão, conquistaram muitos fãs na segunda metade dos anos 80, quebrando assim o domínio das bandas de Thrash dos EUA. Além disso, grupos como os Coroner, os Mekong Delta, etc. desenvolveram os seus próprios estilos, desacoplados do Thrash dos EUA. «Tales of the Future Past» foi lançado no mês passado. Como foi a recepção por parte do público? Pelo que sei, foi muito boa, pelo

INTRINSECAMENTE

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Sim, este álbum compartilha, com a maioria dos membros dos Mekong Delta, a minha visão pessimista sobre o futuro do homem.

menos só ouvi críticas positivas e a primeira edição, em vinil e CD, esgotou rapidamente.

pode ser o motivo pelo qual os Mekong Delta também parecem ser únicos.

Excedeu as tuas espectativas? Sinceramente, não penso nisso, já que só tenho expectativas em relação a mim mesmo em cada novo álbum, e acho que as cumpri, plenamente, em termos de arranjos e de composição.

Retive esta tua afirmação: “Para mim, até agora o” Kaleidoscope” é a melhor combinação entre a complexidade e a possibilidade de ouvir música sem aprofundar a estrutura técnica da composição”. Onde podemos encaixar «Tales of the Future Past» nesta combinação? Os ouvintes precisam determinar isso por si mesmos. Podes ouvir qualquer tipo de música, incluindo os Mekong Delta, de duas maneiras diferentes: apenas por entretenimento ou intensamente sem nenhuma distracção. Esta última forma é particularmente

A música dos Mekong Delta é intrinsecamente complexa. É difícil de a fazer ou parece-te natural? Parece-me natural: provavelmente, a razão está na música com a qual eu cresci. Isso deixa marcas. Sentes e pensas a música de maneira diferente. Na minha opinião, este

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recomendada para ouvir os Mekong Delta. Ao fazer isso, poderás ouvir todos os detalhes de cada instrumento. Aliás, essa explicação foi dada, um pouco mais detalhada, na entrevista onde surgiu essa citação. Percebi que fazes todos os arranjos. É assim mesmo? Está correto e aplica-se não apenas às peças do grupo e da orquestra, mas a todos os arranjos e composições. Qual foi a contribuição do resto da banda em relação à vossa música? Os meus colegas músicos só recebem as estruturas de músicas finalizadas na última fase e, essas


Os elementos clássicos são um aspecto importante da tua música e acho que é, por isso, que estás (estavas?) a trabalhar em “Suite for Group and Orchestra (Visions Fugitives) complemented with Five Fragments for Group and Orchestra”. Este lançamento é para ser com uma orquestra real? Não, para isso precisaria de uma chamada grande orquestra (com mais de 100 pessoas), e isso está acima de qualquer orçamento. Estou a usar as mesmas bibliotecas orquestrais que estou a usar neste álbum.

estruturas, também não são para discussão. Não se deve imaginar isso no Mekong, assim como na maioria das bandas, que as músicas são criadas na sala de ensaios. No entanto, isso não significa que converse com Martin sobre as suas vocalizações finais, no máximo, há uma ideia que lhe passo. O mesmo se aplica à bateria do Alex, ou seja, há uma directriz que componho para que saiba mais ou menos como a imagino, mas o resultado final da bateria do Alex não tem mais nada a ver com isso, excepto que me impressionam regularmente. E falar com Peter dos solos de guitarra seria uma blasfémia, pois são sobrenaturais.

Quais são as tuas influências de música clássica? Estou certo de que sou, profundamente, influenciado pela música clássica moderna. Entrei em contacto com ela bem cedo. Aos 12 anos, já tocava um pouco de guitarra-baixo e fui confrontado com um guitarrista de flamenco real! Essa foi a razão pela qual comecei a aprender guitarra clássica. Essa decisão mudou minha vida, drasticamente, porque levei a sério os ensaios de guitarra e passei a tocar 10 horas por dia. Então, aos 15 ou 16 anos, ouvi a música mais importante do meu desenvolvimento musical, uma peça orquestral composta por Sergej Prokoview, o primeiro movimento da segunda sinfonia em Ré menor, que o próprio caracterizou como uma obra de “aço e ferro”. Foi a primeira vez que notei quão perto uma orquestra de metais pesados se aproxima de uma banda de metal e, às vezes, até soa mais pesado. Isso mudou minha maneira de compor, radicalmente.

Deves ter notado que algumas melodias de acordes de guitarra tocadas nas músicas do Mekong Delta soam como metais de orquestra, por exemplo, a melodia do meio em “The Cure”. Quanto aos compositores de que eu gosto, há vários. Vou facilitar as coisas para mim e dizer-te apenas o estilo da música e os nomes dos compositores: os expressionistas Prokoview, Schostakovich, Mussorgski (em rigor, nenhum é expressionista); do dodecafonismo/12 toners (Segunda Escola de Viena): Schönberg, Webern e Berg; da música contemporânea mais antiga: Ligeti, Penderecki, Reiman; e de guitarra clássica: Walton, Britten, Brouwer e Rawsthorne. Tens alguns estudos musicais? Eu estudei guitarra por um curto período, esperando aprender novas técnicas. Mas isso foi um erro de julgamento, dado que o exame de admissão exigia um nível técnico muito elevado. As aulas consistiam, essencialmente, em aprender a parte de interpretação. Para mim, isso não fazia sentido, por duas razões. Primeiro, como músico, particularmente na chamada “música séria”, deves ter a tua própria ideia de como algo deve soar, caso contrário, podes realmente deixar como está. Quem precisa da centésima “interpretação clone” das suítes de alaúde de Bach, sem ter uma abordagem do próprio músico? Mais sério foi, em segundo lugar, que a “música contemporânea de guitarra” não era, necessariamente, bem vista pelos profissionais. Isso soava-me errado. Portanto, a área que mais me interessava não fazia parte das aulas. Portanto, esse estudo foi uma perda de tempo e cancelei-o. Como foram feitas as orquestrações para «Tales of the Future Past»? Sintetizadas? Sem sintetizador, foram realizadas com várias bibliotecas de orquestra, que juntas têm um tamanho aproximado de 4

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Terabytes, e com o amostrador konktakt, o que é uma grande diferença. Um sintetizador tenta emular o som. As bibliotecas que uso obtêm quase todas as articulações de instrumentos e é, por isso, que ocupam tanto espaço. Aos meus ouvidos, soam 90% como uma orquestra real, mas isso é uma questão de gosto, o que dá para ter discussões intermináveis. Dei uma olhadela rápida nos títulos das músicas e parecem-me bastante negativas e sombrias: “Liar Men”, “Waste Land”, “When All Hope is Gone” ou “A Farwell to Eternity”. É assim mesmo? Tornei-me livre depois de ter lido a expressão de Dante: “Vós que entrais, abandonai toda a esperança...”. Parece-me que a humanidade está a repetir todos os erros, ciclicamente. Talvez essa seja uma das leis da natureza, ou parafraseando um filósofo: “Podemos aprender da história o que nunca aprendemos com a história” (Al-Mas’udi, historiador árabe, 895-956). Sim, este álbum compartilha, com a maioria dos membros dos Mekong Delta, a minha visão pessimista sobre o futuro do homem. Existe algum conceito subjacente às letras? Sim, este é um álbum conceptual. O conceito do álbum é o seguinte: pesquisadores descobrem os restos de uma civilização desconhecida (passada), descobrem registos (textos) de uma pessoa (do nosso violinista), que descrevem os

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problemas que levaram à queda dessa civilização. Os problemas actuais (no momento em que os textos foram escritos, o CoVid-19 ainda não era agudo) aproximam-se bastante do retractado. Fazes música desde os anos 80. O que mudou na tua maneira de fazer e pensar a música entre os álbuns «Mekong Delta» e «Tales of the Future Past»? Obviamente, ganhei muita experiência, mas é impossível descrevê-la, porque com o conhecimento actual não é mais possível reproduzir o estado do período inicial. Portanto, não sou capaz de fazer isso. Para mim, a produção é impecável e a música parece ser muito dinâmica e agradável de ouvir. Quem produziu e masterizou o álbum? Se bem me lembro, fui o único responsável pela produção e masterização. ;-) O baixo destaca-se, mas não muito, o que é muito fixe. Para nossos leitores baixistas… que tipo de equipamento usaste em «Tales of the Future Past»? Normalmente, no estúdio ou durante os ensaios, uso diferentes tops de Hartke e as suas caixas. No entanto, isso consumiu-me muito tempo ao longo dos anos (exemplo “Wanderer...”, DI, 5 micros calotte, cross, 3m, 7m e espaço), também experimentei, frequentemente, simuladores de amplificador.

Hoje em dia, oferecem resultados muito bons, se não melhores, e mais controláveis. Para “Tales ...”, decidi fazê-lo com “Amplitude” total. O DI foi feito no simulador de amplificador com 2 predefinições diferentes criadas pelo próprio amplificador. E o resultado convenceu-me. Se alguém quiser ter estas predefinições, envie-me um e-mail, mas lembre-se também de que as predefinições são diferentes do som final. O baixo (meu estimado Steinberger) e a técnica de reprodução são responsáveis por 50% do som. Actualmente, ainda não há espaço para espectáculos ao vivo. Então, o que podemos esperar dos Mekong Delta num futuro próximo? Como tivemos que cancelar os espectáculos europeus que estavam agendados por causa do pequeno fragmento de RNA, não muito no começo, mas precisávamos de ver como a situação iria desenvolve-se. E podemos mudar a turnê para 2021. Actualmente, estamos a pensar num vídeo, onde vamos ver se conseguimos concretizar as nossas ideias. Caso contrário, haverá um relançamento de “Dances of Death” em Digibook, daqui a 2 meses. Mais uma vez, muito obrigado pelo teu tempo e espero ver-vos em Portugal. O prazer foi meu. :-) Facebook Youtube


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Divertidamente insanos A história do aparecimento dos BPMD conta-se em poucas palavras, a filosofia intrínseca é divertidamente insana e “American Made” deverá ser ouvido, pura e simplesmente, como um álbum de versões. Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro | Fotos: Scott Diussa

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Antes de mais, é um prazer falar convosco. Relativamente ao Bobby, entrevistei-te em 2017 para os Overkill, mas com Mark é a primeira entrevista. Antes de mais, e com toda esta história do Corona vírus, espero que tudo esteja bem convosco e com a vossa família Bobby: Está tudo bem, muito obrigado pelo cuidado. Vejo que tens a uma palheta do DD Verni... … Lembras-te do concerto em Portugal onde tentei trocar o cinto contigo? Eu fiquei com a palheta nesse concerto. Bobby: Sim, eu lembro-me!! (Risos). A minha primeira questão é para o Mark. Li a bio que a editora enviou: Não tens vergonha que a tua primeira ideia para este projecto tenha tido origem no teu filho? Mark: Sim, efectivamente a ideia foi dele. Para mim é fácil compreender a tua vontade em fazer este tipo de álbum. São as músicas que te influenciaram. Porque é que não tentaram efectuar um álbum com covers de músicas que o teu filho provavelmente ouve, como Taylor Swift ou Kendrick Lamar? Mark: Porque o meu filho tem bom gosto e ouve The Beatles e Metallica. No Verão passado vimos o especial do Saturday Night com os Lynyrd Skynyrd e o meu filho disse, porque é que não fazes uma cover disto? Foi aí que a lâmpada se acendeu e, depois de uma ou duas cervejas, liguei ao Blitz. Porque é que escolheste estas pessoas para te acompanharem neste projecto? Mark: Já agora o meu filho ouviute a dizer Taylor Swift e olhou com um ar zangado para o ecrã do computador. (risos) Bobby: A Talyor Swift em bikini! Mark: Acho que é mais o Bobby Blitz em Bikini. Bobby: Oh meu Deus! (risos) Mark: Damo-nos muito bem e foi

A minha reacção foi porque raio é que este gajo que liga sempre que bebe uma cerveja [...] por isso foi uma ideia simples e para ser bem-sucedida, tinha de ser realizada de forma rápida [...] Bobby “Blitz”

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a primeira pessoa que me lembrei porque sei que ele gosta desse tipo de música. Como Skynyrd e ZZ Top. A decisão foi muito rápida. Liguei-lhe a explicar e ficou logo combinado. O álbum foi gravado no estúdio do Mike Portnoy. Quem produziu e efectuou a masterização? Bobby: Blitz não é o homem, Mark é que é o homem, basta perguntareslhe que ele diz que o Mark é o homem. O álbum não foi todo gravado no Estúdio do Mike, o que fizemos foi que juntámos a banda logo após aquele telefonema. Ao fim de um dia já tínhamos o Phil Demmel e o Mike Portnoy. O que sucedeu foi que cada um escolheu duas músicas e decidimos usar a espontaneidade ou o impulso da espontaneidade e gravar rapidamente. Cada um vai treinar as músicas e o que quer fazer com elas. A ideia era começar a gravar

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logo no primeiro dia. Basicamente 3 semanas após aquele primeiro telefonema estávamos a gravar em casa do Mike Portnoy. Num período de dez horas tínhamos as baterias gravadas, ou seja, aquele impulso da espontaneidade ainda estava vivo e instantaneamente as coisas ficaram delineadas e cada um, em sua casa trabalhou na sua parte. A produção foi mais ou menos feita pela banda. O Mark tomou uma boa parte da mesma, nomeadamente da parte gráfica, escolhendo inclusivamente o artista e envolvendo o Mark Lewis para misturar e remasterizar o álbum. Foi tudo muito rápido. Estamos a falar de um período de seis semanas entre o primeiro contacto e a conclusão do álbum. Bobby, quando recebeste o convite do Mark, qual foi o teu primeiro pensamento? Peço-te ainda que indiques quais as tuas

músicas para a cover. Bobby: A minha reacção foi porque raio é que este gajo que liga sempre que bebe uma cerveja, mas para mim foi simples. Eu nasci nesta área e só tive de me transportar para a minha adolescência. Foram as primeiras músicas de hard rock americano onde cravei os dentes, por isso foi uma ideia simples e para ser bem-sucedida, tinha de ser realizada de forma rápida. Neste sentido escolher as músicas foi instantâneo e foram «Evil» dos Cactus e «Never in my Life» dos Mountain. Pegando na tua resposta tu escolheste a música de Willie Dixon, correcto? Bobby: Sim, mas escolhi a versão dos Cactus... Porque é que escolheste uma versão mais blues para estas músicas? Via as influências do


[...] se gostarem, porreiro, se não gostarem, também está tudo bem. Mark Menghi

Que se fodam se não gostarem. Que se fodam!

Bobby “Blitz” como thrash ou punk, mas não tanto blues. Bobby: Bem, acho que isso não é necessariamente verdade. Uma das coisas que fiz, no que diz respeito ao thrash, foi manter a lírica de blues na maioria das coisas que fiz. Acho que essa música dos Cactus, e aí o Mark poderá falar melhor que eu porque é um grande fã deles, era a equivalente americana dos Led Zeppelin. Têm aquela base de blues usada pelos Led Zeppelin, pelos Cactus e pelos Mountain. Este tipo de género blues influencia-te nos Overkill? Bobby: Bem não sei se é uma grande influencia, mas a verdade é que está sempre presente e podes ver músicas que fizemos no passado como a «Mean Green Killing Machine» tem uma estrutura complemente blues, por isso está no DNA.

Mark, questionei as escolhas do Bobby e pergunto-te porque é que escolheste ZZ Top e Lynyrd Skynyrd? Mark: Desculpem, acabei de acordar de uma sesta. Bobby: Estava a aborrecer-te é? (risos) Mark: O Saturday Night foi o catalisador, fez as engrenagens começarem a andar, por isso tinha de o fazer e escolher os Skynyrd. A segunda escolha, «Tres hombres» dos ZZ TOP está meu no top 5, de certeza no TOP 10 dos melhores álbuns e sabia que tinha de ter uma música dos ZZ Top só não sabia qual. Quase escolhi «Waiting for the bus» mas quando a «Beer Drinkers» começou a dar, a simplicidade musical com que abordaram a musica era um desafio. Assim deixámos o básico na mesma, os arranjos na mesma, mas adicionámos o nosso toque. E saiu aquilo que ouviste.

Bobby “Blitz”

Cada um de vocês escolheu duas ou três músicas, independentemente dos outros gostarem ou não. Enquanto músicos é difícil para vocês tocarem algo que não gostam? Bobby: Falando por mim, como te disse, transportei-me para a minha infância e estas músicas estão dentro do catálogo do que ouvia, no entanto, as escolhas do Phil Demmel, «Tattoo Vampire» e «D.O.A.» dos Van Halen para mim são músicas que nunca escolheria. Para mim foram um desafio e, como músico, e sendo este um projecto partilhado com regras, uma das regras é que não haveria protestos e tínhamos de aceitar as escolhas uns dos outros. Foi uma parte divertida do projecto «BPMD». O álbum foi lançado há algumas semanas. Como é que as pessoas estão a reagir? Mark: Uns estão a gostar e outros

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a odiar (risos). É um álbum de covers. Se as pessoas o ouvirem com essa ideia, que é um álbum de covers, e não dos Overkill ou dos Metal Allegience, e que são quatro gajos a curtir o rock e a beber cerveja, vão adorá-lo. Se o virem com algum tipo de espectativa, vão odiá-lo. Até agora, e pelas reviews que tenho lido, as pessoas estão a compreender. Conseguimos ver pelos «Garage days, Inc» dos Metallica, que ainda existe algum negativismo relativamente a este tipo de trabalhos, de versões. Estás preparado para este tipo de reacções? Mark: Bem, toda a gente tem direito à sua opinião. Mais uma vez se gostarem, porreiro, se não gostarem, também está tudo bem. Bobby: Que se fodam se não gostarem. Que se fodam! (risos) Quais as vossas expectativas relativamente à continuidade dos BPMD enquanto banda. Bobby: Não foi pensado como um projecto de apenas um álbum. Existe uma panóplia tão grande de possibilidades que podem ser exploradas. Desde o metal norte americano, ao NWBHM, o clássico heavy metal dos anos 80 que todos adoramos. Quando apresentámos o projecto à Napalm era que, caso o BMPD tivesse sucesso, o mesmo tivesse pernas para andar. Achei curioso em estúdio só terem usado uma guitarra. Como será ao vivo? Têm planos para levar este projecto para a estrada? Mark: Nunca tivemos intenção de ir para a estrada, até porque todos temos outras responsabilidades. A ideia era aparecer em alguns espectáculos, mas nunca uma digressão. Como balanceaste o facto de terem apenas uma guitarra, quando muitas das covers são de bandas que têm dois guitarristas? Bobby: esse foi o desafio. Essa questão foi levantada,

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nomeadamente relativamente às músicas dos Aerosmith e dos Skynyrd, mas a ideia foi nos reinventarmos. Fazermos isto como BPMD e não como originalmente elas são. A palavra chave é reinventar. Mantermos a integridade das músicas, mas com o nosso toque. Mark, já tinhas opinião das bandas às quais fizeram as covers? Mark: Gosto delas todas. Essa foi a ideia inicial. Prestar tributo aquelas bandas que nos marcaram. Não estava muito familiarizado com a música «Tattoo Vampire», mas conhecia a banda, claro. Para ambos. O que podemos esperar para breve dos Overkill e dos Metal Allegience Bobby: estamos a trabalhar em algumas coisas porque achamos que precisamos de alguma normalidade, dado o que se passa hoje no mundo. Há mais de três décadas que trabalho em álbuns de «Overkill» e mantenho essa normalidade. Os cinco estamos individualmente a trabalhar em ideias para quando nos encontrarmos depois deste projecto terminar. Mark: Novidades dos «Metal Allegience» provavelmente no ano 2042 (risos). Se tivessem de escolher um insulto, apenas um, para mandaram um ao outro, qual seria? Mark: Bolas, há tantos. Bobby: Tenho uma ideia melhor, que tal nós te insultarmos? (risos) O Mark é meu amigo e eu nunca insultaria, em público, a forma de ele tocar baixo. (risos) Digam uma qualidade relativamente um do outro. Bobby: O Mark é um óptimo cozinheiro. Não é algo que possamos dizer de todos (risos) Portanto não toca bem baixo, mas é um bom cozinheiro. E tu Mark? Mark: Acho que o Bobby não tem nenhum!

Vou tomar isso como um insulto (risos) Mark: Algo positivo, é que é um gajo realmente genuíno. Última questão: Qual foram as melhores partes desta experiência? Bobby: Para mim foi reviver a minha juventude. Foi uma forma para me transformar em quando era jovem, foi tão satisfatório como achava que iria ser. Mark: Apenas o divertimento de reinterpretar estas músicas. Nas gravações, tomei outro caminho que normalmente tomo para os MA. Não houve copy paste e editar e regravar, foi muito divertido. Agora, sim, a última... Que músicos, vivos ou não, escolheriam para formar uma banda? Bobby: Para a Guitarra Ritchie Blackmore, para a bateria, Vinnie Paul e no baixo Mark Menghi, mas este ainda não está morto, como os outros. Mark: Eu despedia-me e contratava o Cliff Burton, Ronnie James Dio nas vozes e nas baterias escolheria talvez Cozy Powell. Teria três guitarristas, Muddy Waters, Dimebag Darrel no ritmo e Chuck berry. Teria uma formação completamente disfuncional. Muito obrigado pelo vosso tempo. Obrigado nós. Facebook Youtube


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ANTRO DE FOLIA

Por: Carlos Filipe

Vamos começar pelo início e ver o que o wikipédia diz sobre mashup: “Um mashup ou mescla-musical é uma canção ou composição criada a partir da mistura de duas ou mais canções pré-existentes”. Ora, o wikipédia não poderia ter melhor descrição para um mashup, do que, ser uma mescla musical ou se quisermos dizer à nossa maneira lusitana, uma salganhada musical, de duas ou mais músicas, do mesmo estilo ou de estilos diametralmente opostos. Eu, há anos defini aquelas bandas que fazem uma misturada de géneros musicais, sem que o resultado fique por aí além como género “Salad Metal”, mas penso que um mashup está longe de ser isso, pelo que, logo, não aplicável. Se pesquisarmos no youtube, aparecer-nos-ão uns quantos canais dedicados aos mashups, todos focalizados na música pop e outras pimbalhadas estrangeiras ou execráveis coisas como o tik-tok – que nem quero gastar esforço a perceber o que é – excepto um, o canal do Bill McClintock. Este toca-nos a nós legião metaleira pois muito dos seus impressionantes mashups têm como base o metal, nomeadamente Slayer, Black Sabbath, Pantera, Judas Priest, Rainbow, Metallica, Iron Maiden, Motorhead e outros, que junta a musica pop e soul dos 70 e 80, havendo mesmo uma lista de reprodução no canal intitulada Soul Metal – olha mais um estilo musical que fica bem com os restantes, atrevam-se a criar uma banda de Soul Metal ou Soul Death Metal ou Black Soul Metal e por aí fora é só ter imaginação e talento. O resultado em 80% é estonteante e com alguma frequência aqui e ali mesmo genial. Quem alguma vez pensaria que Slayer e Wham! pudessem dar um dueto monumental ao som de “Everything She Wants” e “South of Heaven”? Para se chamar “Everything She Wants is South of Heaven - link” ou então “Club Tropicana” e “War Ensemble” para dar “Tropicana Death Ensemble - link”? Slayer é tão utilizado nos mashups que até tem uma lista de reprodução e a maior parte é mesmo Slayer e Wham!... Temos ainda o muito bem conseguido “Careless In The Abyss - link”, talvez a melhor do par. Mas a minha preferida com os Slayer, que até podia ser a dos SLAYER e 52s, “Raining Lobsters - link”, são mesmo a parceria musical com Edwin starr (“War (On and on South of Heaven) - link”) ou a que junta The Bangles e Slayer para nos brindar com um “Walk Like an Angel of Death” que é um fabuloso mashup de “Walk Like an Egyptian” e “Angel of Death - link”, e, ao contrário das com os Wham! E o George “Micael” são essencialmente dominadas pela música dos Slayer.

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MASHUPs Ao ouvirmos estas mesclas musicais, até parece tudo simples de tão bem conseguido é, mesmo sabendo de antemão que o software existente nos dias de hoje permite e ajuda muito este tipo de proezas, mas, técnicas de utilização à parte que são necessário dominar, a verdadeira mais valência nesta arte é mesmo saber combinar duas ou mais músicas, dois ou três universos musicais de forma a que o resultado seja coerente, audível, vulgo catchy, e espectacular. É aqui que Bill McClintok é genial, ao entrelaçar estes universos como mais ninguém e criar algo que dá mesmo vontade de ouvir, ter a percepção musical de que aquela musica mais esta vai funcionar, mesmo que por vezes uma das bandas ou música não seja do nosso agrado ou faça confusão, como o caso dos Wham! ou vermos o hino dos transformistas da Gloria Gaynor “I Will Survive” com o Senhor com S grande Ronnie James Dio para uma música épica que é “I Will Survive the Rainbow in the Dark - link”. Mas afinal quem é Bill McClintok. Um verdadeiro desconhecido que está a deixar de o sê-lo que toca guitarra à mais de 20 anos e fez estudos musicais na Universidade de Duquesne, Pittsburgh, Pensilvânia, Estados Unidos. O Youtube é o ambiente perfeito para apresentar os mashups, pois não necessita de estar a actuar em frente e um público, o canal está em crescendo mas para a projecção que tem e o nível de qualidade do trabalho que apresenta, devia ter muito mais subscritores. O segredo dos seus mashups está na escolha das músicas, de diferentes universos musicais, tais como o clássico, soul/R&B/funk e claro está, a base de tudo o heavy metal, e trabalhar-lhe-ás até conseguir que sejam coerentes umas com as outras. Para isso, as duas músicas devem estar na mesmo tom e ter o mesmo tempo ou na pior das hipóteses estar próximo. Depois é só aplicar um software para que faça o respectivo ajustamento de ambos até ficar sincronizado. Mas isto não chega. Há outro aspecto importante: o ritmo. Este deve existir quer na componente vocal, quer na componente instrumental, pois só assim é que contribui para um perfeito posicionamento entre as duas músicas. Bill utiliza o Amazing Slowdowner para ajustar o tempo e tom, Melodyne para ajustar os passos individuais e finalmente Garageband para misturar tudo. Uma vez tudo finalizado, utiliza o iMovie para editar o vídeo que lançará no seu canal de youtube. Tudo demora 5 a 10 horas a produzir mais umas horas para o vídeo, levando ao facto de que o que custa mesmo é ter a ideia de juntar esta e aquela música. Acho que é aqui que McClintok é mesmo extraordinário. E assim somos brindados com momentos musicais únicos, que ou adoramos ou rejeitamos. Eu, e até porque há muitos Mashups baseados no Metal, 80% acho excelente, acho que está muito bem conseguido, dos quais um bom punhado de músicas acho-as sublimes, como o mashup entre o “Rime of the Ancient mariner” dos Iron Maiden e Chic em “Rime of the Good Times - link” que só peca por não ter os 13 minutos e 43 segundos da música original. Um monumento! Ou então o outro monumento do Mashup de Billy Idol e Bob Marley em “With a Rebel Yell, She Cried, ‘Don’t Give Up the Fight - link”. Metallica, Megadeth e The Who fazem de “Eminence of Holy

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ANTRO DE FOLIA

Por: Carlos Filipe

Wars and Creeping Death - link” outras das minhas preferidas. Depois há aquela música que se repete, como “Billie Jean’s” do Michael Jackson, com o seu beat, talhada para estas coisas dos mashup, fazendo parceria quer com Judas Priest em “Billie Jean’s Got Another Thing Comin’ - link”, quer com Eric Clapton com “Billie Cocaine - link”. E o Ozzy também não escapa à mestria dos mashup deste rapaz com “Ain’t No Shadow Dark Enough - link” e mais 3 outros, nomeadamente Marvin Gaye/Tammi Terrell e the Four Tops. De facto só muito poucas músicas é que a meu ver o mashup não funcionou verdadeiramente como em “All I Want For Christmas is the Beautiful People - link” com Marylin Manson ou Motörhead e Bob Marley com “Killed by Exodus”. Mas os mashups são como as músicas, os filmes ou os livros, nem sempre sai bem e o que conta é a intenção. Felizmente o restante 80-90 % da obra é quatro ou cinco estrelas. O canal é Bill McClintock com 143 mil subscritores à data da escrita deste Antro e devido a possíveis problemas de copyright, que o mesmo resolve revertendo todo o dinheiro do vídeo para o artista, tem um canal de backup ( McClintock Mashups - link) caso a sua conta principal seja encerrada – Aparentemente se tiver 3 avisos de copyright durante 90 dias a conta é fechada permanentemente.

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solstício tivemos um solstício curto ao contrário dos que vivem as horas independentemente da época umas sobre as outras sem distinção uma noite curta um dia não tão longo quanto a translacção do planeta parecia permitir traídos por uma precessão própria quem sabe isto de a terra ter dois pólos acaba por influenciar os nativos de todos os signos poemas madrugadas poemas meia noite e tanto o sorriso se esvai em lágrimas como os pulsos latejam sangue pressuroso para escorrer sob as unhas dos que sem saber da estrela polar se desorientam por mais que gritem ao vento tivemos um solstício curto disso nada sabem os sãos para quem os dias e as noites e as horas e os minutos têm todos, uns atrás dos outros, para sempre, o mesmo comprimento de uma cobra que se alimenta da cauda sem princípio nem fim que começa e acaba no espectro do audível na vibração perceptível de todas as partículas menos as de si próprios que passaram a barreira do som e já só os gatos as ouvem tivemos as mãos atadas por uma guita fina chamada vontade ou falta dela tivemos as mãos libertas por uma faca romba do mesmo nome ou falta dele. eu nunca serei o cheiro da chuva no chão porque não cheguei a nuvem eu nunca serei foz porque me afoguei na nascente.

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tetema

Música do mundo «Necroscape» é definida por Anthony Pateras como: “música completamente estranha, como se fosse música de outro planeta, mas tocada por seres humanos”. No entanto, devo dizer que não percebo quando é que Mike Patton se tornou humano. Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro Foto: Aaron Chua

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Como é que estão a viver estes tempos de confinamento em termos da banda e da vossa música? Estou a aproveitar esta oportunidade para aprender o que considero que não sei. A fazer todas aquelas coisas que estão na lista que, normalmente, não são feitas: comecei a praticar piano muito mais vezes, a fazer misturas de gravações em discos rígidos, a praticar idiomas, a fazer jardinagem... e a responder a entrevistas para os tetema! O álbum recebeu muita atenção (pelo menos, na minha modesta opinião) e estou sensibilizado com a reacção positiva das pessoas. Numa entrevista anterior, acho que não tive a oportunidade de vos perguntar o significado de tetema... É uma palavra de um dos delírios de (Antonin) Artaud: significa uma ferida, duas vezes cauterizada pelo fogo. Não uma vez, mas duas vezes… :-) Esta é a nossa segunda entrevista e, nessa entrevista, comecei por perguntar porque precisaste de te fechar num ex-convento. Adoptaste a mesma abordagem para o «Necroscape»? Não, este álbum é muito mais orgânico. Acho que no último álbum comecei muito como “compositor”; com a cara na mesa, caneta e papel, e cabeça cheia de ideias. Este álbum foi mais numa perspectiva de reunir sons e, depois, moldá-los gradualmente, ao longo de vários anos. Dessa vez, também não comecei com a bateria. Esta proveio, principalmente, de samples e de arranjos de piano amplificado. Tentei manter as coisas divertidas e vivas. «Geocidal» foi gravado em todo o mundo. - Como fizeram neste álbum? Comecei em Berlim, fui à França e à Austrália. Regressei a Berlim. Depois, Suíça e Austrália, novamente. A música segue-me e eu trabalho nela onde quer que esteja. - Já tens um estúdio ou continuas a trabalhar no teu apartamento? Finalmente tenho um estúdio, após 20 anos neste ramo! Em «Necroscape», é de salientar a inclusão de outros músicos, de Will Guthrie (bateria) e Erkki Veltheim (violino/bandolim). - Qual a razão desta mudança, transformaram o duo num quarteto? Isso resultou da tentativa de colocar «Geocidal» em palco. De facto, funcionou muito bem com este quarteto e foi capaz de cobrir tudo com um elevado nível instrumental e de comunicação. - Qual foi a contribuição de cada um deles para a música? Basicamente, eles brincam com o que fiz, combinando as minhas instruções com os seus instintos. Ajudam-

me nos detalhes, porque conhecem melhor os seus instrumentos, no entanto, sou muito exigente relativamente às opções finais sobre a música. - Achas que a música se tornou mais… devo dizer… “humana” e “orgânica”? Sim. Pergunta e resposta muito simples! Queria que se sentisse que esta música é completamente estranha, como se fosse música de outro planeta, mas tocada por seres humanos. - As letras foram escritas por ti e pelo Mike. Existe algum conceito por trás de «Necroscape»? Não totalmente, mas, para mim, é vagamente baseado no Sillicon Valley, distraindo todo mundo com a Internet e as redes sociais, enquanto lentamente dominam o mundo! Desde a entrevista anterior, passaram mais de seis anos. - Porquê tanto tempo entre estes dois álbuns? Meu caro, é difícil fazer boa música. A boa música leva muito tempo a fazer. Quando se está a tentar criar uma música que não soa muito como o resto, também é muito difícil. - Entre estes álbuns, mudou alguma coisa na tua forma de fazer e pensar a música? Acho que me tornei mais sensualista, aprendi a confiar mais nos meus instintos e deixei de confiar em construções intelectuais para me guiar. Esta música é sobre o corpo, então ouvi o meu corpo. O Artwork também é uma parte importante deste álbum. Podes explicar-nos do que se trata e como está relacionado com a música? Eu sinto que a artwork vem de um lugar muito particular e honesto. Eu conheci Talitha quando morei em Sydney por um período curto, e esse lugar é, sem dúvida, uma “necroscape”. Imagina uma das cidades mais bonitas do mundo, com as melhores praias do universo, cheia de pessoas que não sabem o que é a vida, porque é tão caro lá estar que precisam estar agarradas aos seus telefones o tempo todo fazendo acordos. Esse, para mim, é o título do álbum, essa ideia de estar sensorialmente morto num lugar muito vivo. Enfim, para mim, a arte de Talitha parece resumir isso. Figuras muito exuberantes que parecem vivas, feitas de pele morta (couro). Tens de me contar um pouco mais sobre o “Funerale Di Un Contadino”, de Chico Buarque/ Ennio Morricone. A versão é um pouco diferente da original – mesmo ao meu gosto. - Porque escolheste esta música, em particular, e qual era a tua ideia para a transformar da forma que o fizeste? Apenas senti que seria uma faixa incrível com o Mike a cantar. Além disso, se ouvires o original, as vozes femininas soam como a música coral búlgara, que é uma das minhas favoritas. Isto, num contexto de bossa nova, para mim, é uma espécie de perfeição.

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Suponho que produziste, misturaste e fizeste a masterização do álbum. Neste caso, “Loudness War” – refere-se à tendência de aumentar os níveis de áudio na música gravada, o que reduz a fidelidade do áudio: - Tiveste algum cuidado especial no processo de masterização para tornar a música o mais dinâmica possível? Sim. É, essencialmente, sem masterização. Consegui que o indivíduo que fez a masterização colocasse tudo no seu equipamento analógico em tempo real. Acho que a masterização digital é muito sem vida e desencorajadora na maioria dos casos. Misturei tudo e gravei a maior parte. Penso que o áudio “plano”, sem vida e muito comprimido é uma realidade deprimente que as pessoas aceitam sem pensar. - Qual foi o álbum (de te te ma) mais difícil de produzir? Ambos foram longos e longos trabalhos de amor! A vossa música ouve-se melhor em vinil ou CD? Ambos soam muito bem. Eu certifiquei-me disso! O que podemos esperar no próximo projecto? Estou a começar a escrever peças que só podem ser executadas uma vez, num lugar único, com pessoas muito específicas, com uma acústica muito específica, com vários alto falantes; portanto, se não estiver lá, sentirá falta. Penso que o ter acesso a tudo, o tempo todo, está a tornar as pessoas preguiçosas e surpreendentemente menos envolvidas com a arte. É tudo sobre a reacção e não a contemplação.

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Queria que se sentisse que esta música é completamente estranha, como se fosse música de outro planeta, mas tocada por seres humanos.


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Um avatar do épico Na sua conversa com a Versus Magazine, Tann – mentor dos Ironsword desde sempre – revela-se um fã do épico em todos os seus estados. Entrevista: CSA & Eduardo Ramalhadeiro

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CSA – Antes de mais, gostávamos que nos falasses um pouco da banda. Tann – Ironsword começou em 1995 e somos uma banda de Heavy Metal épico na sua vertente mais tradicional e old school. Somos frequentemente rotulados como os Manilla Road europeus. Durante os primeiros anos, Ironsword era uma espécie de one man band. Esta situação deveu-se principalmente ao facto de todos os meus amigos e conhecidos que tocavam nas suas próprias bandas não estarem interessados ou não terem disponibilidade para se dedicarem a outro projeto musical. Nesse período, foram lançadas 2 demo tapes: a primeira em 1995 e a segunda em 1998. O nosso primeiro álbum foi lançado em 2002 pela editora britânica Miskatonic Foundation e nessa altura já trabalhávamos como power trio. O segundo álbum – «Return of the Warrior» – foi lançado em 2004 pela mesma editora. Em 2008, é lançado o terceiro álbum «Overlords of Chaos» e o quarto álbum «None But the Brave», em 2015, ambos pela editora americana Shadow Kingdom Records. O nosso primeiro concerto foi em 2004, na Alemanha, no festival Keep It True e desde então já tocámos em vários países com bandas de renome. Em 2019, é lançado o EP «In the Coils of Set» e, em 2020, o quinto álbum intitulado «Servants of Steel», ambos pela editora portuguesa Alma Mater Records. Ironsword já sofreu várias alterações de line up e atualmente a banda é constituída por João Monteiro (bateria), Jorge

Martins (baixo) e Tann (guitarra e voz). Eduardo – Como é que vocês, como banda, estão a viver este tempo de confinamento? Neste momento apenas estamos a fazer alguma promoção, a responder a entrevistas e pouco mais. Infelizmente, todos os concertos que nós já tínhamos agendados a partir de maio foram adiados para outras datas ainda por confirmar. Tenho aproveitado para adiantar algumas ideias para o próximo álbum e tenho estado a compor material novo. CSA – Imagino que são grandes fãs de bandas como, por exemplo, W.A.S.P. e Manowar. É verdade? Podes falar-nos um pouco das vossas influências, no estrangeiro, mas também em Portugal? Sim, somos fãs de bandas de Heavy Metal não só dos anos 80, mas bandas mais recentes como Angel Martyr, Eternal Champion, Smoulder, etc. Todos nós na banda temos gostos musicais variados, ouvimos de tudo um pouco, desde música clássica, rock psicadélico e progressivo dos anos 70 até Death Metal técnico. Obviamente, depois temos as nossas influências pessoais, umas mais diretas que outras, desde Iron Maiden, Judas Priest, Candlemass. Manowar, Omen, Running Wild. A nossa maior influência e inspiração são os Manilla Road, mas isso acho que já não é novidade para ninguém! De Portugal, sempre gostei muito das demo tapes de Alkateya e de Xeque Mate, Nzzn, Satan’s Saints, STS Paranoid, Valium, The Coven,

Sepulcro. Das bandas nacionais mais recentes gosto de Dawnrider, The Unholly, Wanderer e Lyzzard. CSA/Eduardo – Todas as letras são adaptadas das histórias de Robert E. Howard e escritas pelo Tann (por ti). - De onde vem essa paixão por este escritor e pelas temáticas dos bárbaros, feitiçarias e espadas? - Sendo assim, qual o tema central deste «Servants of Steel» e como se reflete nas letras das canções? Muito antes de saber quem era Robert E. Howard, o primeiro contacto que tive com estes temas foi através do filme “Conan, o Bárbaro”, de 1982 com o Arnold Schwarzenegger e logo de seguida com as adaptações dos contos do autor através da BD intitulada “Espada Selvagem de Conan”. Só muitos anos mais tarde é que tive oportunidade de ler os contos na sua forma original. Foi uma experiência única e claro era um nível totalmente diferente do que eu estava habituado nos comics. Quase todas as letras para este álbum são adaptações de vários contos originais de Robert E. Howard, e apesar de não ser um álbum conceptual, é uma espécie de jornada sem ser por ordem cronológica em que o tema central é o enigma do aço. O titulo do álbum – «Servants of Steel» – reflete a nossa resistência e resiliência ao longo de todos estes anos no underground, continuando fiéis ao nosso estilo e à nossa atitude. Ao mesmo tempo, algumas partes do filme do Conan de 1982 acabam por ter algumas referências nalgumas letras do álbum, no titulo

[…] somos uma banda de Heavy Metal épico na sua vertente mais tradicional e old school […] 63 / VERSUS MAGAZINE


do álbum e inclusive uma dessas cenas do filme está ilustrada na capa do «Servants of Steel». Eduardo – Decorreram cinco anos entre «None But the Brave» e este «Servants of Steel». Porquê este tempo todo? Por vezes os nossos planos não correm da forma como nós queremos! A verdade é que neste intervalo de 5 anos estivemos bastante ativos, quer a tocar em vários festivais, quer a fazer algumas datas como banda suporte, a promover o álbum «None But the Brave» em Itália, Espanha, Grécia, Alemanha e Portugal e, sempre que tínhamos oportunidade, íamos trabalhando nos temas para o novo álbum. Nunca se tratou de uma questão de falta de motivação ou inspiração, etc. Talvez o que tenha contribuído mais para o adiamento do lançamento do álbum foi termos rescindido contrato com a editora Shadow Kingdom Records, numa altura em que todos os temas já estavam compostos. Todo este processo, entre rescindirmos com a Shadow Kingdom Records e assinarmos pela Alma Mater Records, disponibilização do estúdio para gravarmos, etc. levou um pouco mais de tempo que o desejado, mas acabou por influenciar no amadurecimento das músicas novas. Eduardo – Vocês disseram que este foi o álbum mais desafiante. Em que é que «Servants of Steel» se distingue dos anteriores? Nós tentamos sempre reinventar o nosso estilo a cada lançamento, sem perder a nossa identidade e mantendo sempre o nível de qualidade. Sendo o quinto álbum de originais, houve um cuidado especial para não repetirmos a mesma fórmula utilizada em álbuns anteriores e ter uma abordagem diferente em termos de arranjos e estruturas musicais. Daí ter sido um desafio enorme compor temas novos. Por exemplo, o álbum anterior – «None But the Brave» – era mais cru, mais direto

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e mais homogéneo. O «Servants of Steel» é muito mais complexo e diverso. Até mesmo em termos de ambiente, tem um feeling muito mais obscuro do que o anterior. Talvez seja o disco mais maduro alguma vez criado por nós e creio que todos os objetivos foram cumpridos. Eduardo – Este disco conta com a contribuição de Bryan “Hellroadie” Patrick dos Manilla Road. - Como é que surgiu esta oportunidade? - O Bryan contribui com algumas ideias para os temas ou limitou-se a interpretá-los? Eu conheço pessoalmente o Bryan desde 2002, quando vi Manilla Road ao vivo pela primeira vez em Atenas. Desde essa altura, fomos mantendo contacto de uma ou outra forma e tornámo-nos grandes amigos. Ocasionalmente, as nossas bandas partilhavam o palco em alguns festivais. Como o Mark Shelton já tinha feito backing vocals no nosso terceiro álbum – «Overlords of Chaos» – achei que seria uma boa ideia convidá-lo de novo para este álbum. O convite inicial tinha sido feito ao Mark Shelton, mas, após o seu falecimento, eu achei que a única pessoa que faria sentido fazer os backing vocals seria o Bryan. Fiz-lhe o convite e ele aceitou imediatamente. Expliqueilhe mais ou menos o que é que eu pretendia, mas ao mesmo tempo dei-lhe liberdade total para fazer como ele achasse melhor. Envieilhe as músicas e as letras por mail e passado uns dias recebi os ficheiros já com as vozes do Bryan gravadas. O Bryan fez um excelente trabalho, tal e qual como eu esperava, e foi uma honra enorme contar com a sua colaboração e desta maneira partilhar connosco um pequeno e humilde tributo ao Mark Shelton. Eduardo – Gosto bastante do álbum: o instrumental está excelente, clássico, muito old school (sempre fiel às vossas raízes), com uma sonoridade

Todos nós na banda temos gostos musicais variados, ouvimos de tudo um pouco, desde música clássica, rock psicadélico e progressivo dos anos 70 até Death Metal técnico.

“crua”, muito intensa. Mas… há um “defeito” – isto, claro, baseado na minha mui humilde opinião: parece-me que as vozes estão um pouco “escondidas” pelo instrumental, gostaria de ver as vocalizações sobressaírem um pouco mais que o instrumental. Concordas com esta opinião? Obrigado pela sinceridade. Sendo eu o membro fundador e principal


compositor da banda, todo o feedback é sempre bem-vindo. Para mim a voz é tão fundamental como a parte instrumental e procuramos encontrar sempre um equilíbrio para que tudo esteja audível e nenhum instrumento ou voz se sobreponha a outro. Esse é um dos objetivos que temos em todas as produções dos nossos álbuns. Desta vez, tivemos a honra e o privilégio de trabalhar com o lendário produtor Harris Johns, que fez a mistura e masterização do álbum. Ele teve carta branca para realizar o seu trabalho da forma que queria, apenas com algumas referências minhas, mas conseguiu uma sonoridade adequada ao nosso estilo e deixou a sua imagem de marca, o cunho pessoal que o caracteriza. Para nós o mais importante é o resultado final e nesse sentido o trabalho do Harris Johns superou todas as nossas expectativas. CSA – De que forma a capa do álbum ilustra o tema central do álbum? E quem a fez? [É bem “clássica” dentro do género.] A capa do álbum foi elaborada por um grande amigo de longa data – o Victor Costa – que é responsável pelo layout gráfico de todos os nossos lançamentos e também elaborou a capa do nosso álbum anterior «None But the Brave» e do primeiro álbum. Para além disso, ele já fez capas para outras bandas como Altar Of Oblivion, Decayed. A ideia da capa foi minha e tinha como referência algumas partes do filme “Conan, o Bárbaro”, de 1982, em que o conceito recaía sobre o enigma do aço. Estou muito satisfeito com o resultado final. O Victor, uma vez mais, fez um trabalho extraordinário e certamente fará a capa do nosso próximo álbum. O Victor é uma espécie de quarto elemento da banda. CSA – Como chegaram à fala com a Alma Mater para o lançamento do vosso álbum? Que esperanças depositam na vossa atual editora?

Após o lançamento do «None But the Brave», começámos a ter alguns problemas com a nossa antiga editora Shadow Kingdom Records, nomeadamente em termos de distribuição e promoção. Isso foi decisivo para rescindirmos contracto. Claro que não nos podemos esquecer de todo o apoio e ajuda que nos deram enquanto trabalhámos juntos e eles continuam a ser uma boa editora, mas a verdade é que, a partir de certa altura, as coisas já não estavam a funcionar bem para Ironsword. Eu acho que a Alma Mater sempre acompanhou de perto o nosso percurso. Acho que sempre reconheceu o nosso empenho, dedicação e esforço. Se não vissem potencial para investir em nós, definitivamente não trabalhariam connosco, acho que é logico. Assim que a Alma Mater reuniu todas as condições, fez-nos uma proposta que para nós era irrecusável. Penso também que, pelo nosso estatuto e pelo nosso historial como banda, esta decisão iria certamente influenciar e contribuir para que a editora crescesse mais. Estamos extremamente satisfeitos com o trabalho desenvolvido até agora. Apesar de ser uma editora nova, têm demonstrado um grande profissionalismo, um enorme apoio e têm sido incansáveis connosco. Confiamos totalmente no seu trabalho e nós, enquanto banda, temos que corresponder às expetativas da editora e trabalhar muito nesse sentido. CSA – Há concertos previstos para promover este álbum? Talvez uma passagem pelo Vagos Metal Fest (onde já ouvimos Moonspell e bandas que, como Ironsword, fazem parte do catálogo da editora do Fernando Ribeiro)? [Esperemos que não tenham de cancelar o Vagos, apesar de ter lugar no início de agosto.] Até ao momento, não temos nada agendado para o Vagos Metal Fest. Claro que se surgir esse convite seria uma honra regressar, pois a última vez que tocámos

em Vagos foi em 2015 e temos boas recordações desse concerto visto ter representado o regresso da banda aos palcos ao fim de 8 anos sem tocarmos ao vivo e foi uma espécie de comemoração dos nossos 20 anos de carreira, aliado à promoção do «None But the Brave», que era a novidade da banda na altura. Aliás, isto é válido para todos os convites que surgirem para tocarmos em festivais cá em Portugal. Quanto aos restantes concertos agendados para promover o novo álbum, como respondi anteriormente, vamos aguardar. CSA – Pode-se dizer que o atual interesse pelos Vikings – em Portugal e lá fora – chama a atenção para bandas como a vossa? Qualquer pessoa fascinada pelos Vikings, Celtas, civilizações clássicas ou autores como Tolkien, Michael Moorcock, Lloyd Alexander, C.S. Lewis, George R.R. Martin, Stephan Lawhead, etc, pode ter interesse, alguma curiosidade em descobrir uma banda com uma vertente mais épica, independentemente do subgénero. De uma forma geral, tudo o que está relacionado com História, Mitologia ou o universo de fantasia e sword & sorcery. Se houver pessoas que, através desta forma, descobrem a tua banda e acabam por gostar da tua música, acho isso ótimo. Qualquer forma de divulgar a tua música é sempre importante. Já tivemos alguns casos de pessoas que desconheciam Ironsword, mas, devido a Robert E. Howard e aos comics do Conan, passaram a ser fãs da banda! Todo o reconhecimento que uma banda possa ter nunca é mérito só de uma pessoa. São vários fatores que contribuem para isso e são várias as pessoas envolvidas que ajudam nesse sentido. Por isso, para nós os fãs são muito importantes, pois têm sido eles a nossa música viva ao longo de todos estes anos. Facebook Youtube

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Revisitando a pureza Bait

Pureza e Natureza rimam e – para , uma banda alemã que recentemente assinou pela LADLO – são sinónimos. Entrevista: CSA

Saudações! Para começar, diz-nos tudo o que puderes sobre a banda. Não consegui encontrar nenhuma informação sobre a banda. Nico – Saudações. Nós somos os Bait, um trio de Würzburg, na Alemanha. Tocamos uma mistura de Black Metal, Doom, Hardcore e mais alguns géneros. Começamos, em 2013, como um quarteto e sofremos várias alterações ao longo dos anos. Agora só restam os três membros fundadores (David, Alex e Nico). Este álbum atraiu-me imediatamente por causa do seu título («Revelation of the Pure»). - O que significa ele para vocês? O álbum (principalmente no que diz respeito às letras) apresenta uma abordagem niilista, misantrópica. Joga com pensamentos como “o que aconteceria se a humanidade como a conhecemos deixasse de existir”. - De que forma a capa do álbum ilustra essa ideia? A essa pergunta é fácil de responder. A Natureza acima de tudo. Representa uma face criada pela quebra das ondas. Não podia ser mais adequado. - E quem a criou? Quando estivemos a gravar nos Ghost City Studios, conhecemos um indivíduo muito simpático chamado Giovanni Raabe que era estagiário. Travámos logo amizade e decidimos que seria agradável que a capa fosse feita por alguém que esteve connosco durante todo o processo de gravação. - Que papel desempenhou a banda na sua conceção? Tínhamos algumas ideias sobre o que deveria ser e que aspeto deveria ter. Também queríamos algo minimalista. O Giovanni ouviu-nos, começou a fazer o trabalho e fomo-lo afeiçoando juntos.

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Ouvindo a vossa música fica-se com a impressão de que os vossos “puros” são gente muito atormentada. O que pensas desta ideia? Como já referi, os “puros” correspondem à natureza. A vida para além do cimento e do fumo. Tudo o que fique afastado do que arruína o nosso belo planeta para servir interesses egoístas. Esta impressão é dada sobretudo pela voz que soa muito áspera, ansiosa, agonizante sobrepondo-se a uma camada sonora, umas vezes extrema, outras vezes melódica criada pelos outros elementos. Concordas comigo? Bem, com letras como as que fizemos para este álbum não faria muito sentido que fosse de outra maneira, sobretudo no universo do Metal. Por isso, concordo em absoluto. Queremos transmitir um sentimento específico através das melodias, das letras e da voz. Quem escreve a música e as letras para a banda? É um trabalho colaborativo? O nosso guitarrista – o David – compõe a maior parte dos riffs. Com algumas exceções, o Nico (eu) escreve as letras. Mas continua a ser um trabalho colaborativo, porque todos revemos quase tudo e esforçamo-nos para que tudo encaixe bem. Decidi entrevistar-vos por várias razões entre as quais o facto de terem assinado contrato com a LADLO. - Como está a correr o trabalho com eles? É fantástico trabalhar com eles. É super fácil e


[…] os “puros” correspondem à natureza. A vida para além do cimento e do fumo. Tudo o que fique afastado do que arruína o nosso belo planeta para servir interesses egoístas.

relaxante, apesar de eles serem muitos profissionais. Não podemos estar mais agradecidos por nos terem contratado. - Que planos tinham para este álbum antes da crise do COVID? Tínhamos pensado em fazer mais concertos e promover o álbum por toda a Europa e até mais longe. Talvez até juntarmo-nos a bandas do nosso agrado para fazer uma digressão ou algo do género, mas nada de muito especial. Gostaria mesmo de tocar em alguns festivais, assim que for possível voltar a fazê-lo. - E o que vão fazer agora para promover este longa duração? Neste momento, é muito difícil fazer promoção sem ser online. Portanto, parece-me que vamos ter de tentar tudo o que for possível para nos darmos a conhecer às pessoas que poderão ter interesse em ouvir-nos tocar, logo que estes tempos difíceis forem

ultrapassados. Por isso, agradecemos entrevistas como esta, porque é uma das poucas oportunidades que temos de entrar em contacto com pessoas que nunca tinham ouvido falar da banda. Uma última pergunta sobre um pormenor que me deixou muito curiosa: por que decidiram chamar-se Bait? Tenho a ideia de que mesmo no início, o nosso antigo baixista, o Simon, sugeriu um nome que combinava Bait com outra palavra que esqueci por completo. Nessa altura, pareceu-nos que só Bait estava muito bem e seria adequado. O facto de o substantivo poder ter um significado diferente do verbo torna-o ainda mais interessante, uma vez que ambos se adaptam à forma como nós o imaginámos. Facebook Youtube

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Manifesto anti falsidade Para Old Forest, manter vivo o espírito do Black Metal puro e cru dos anos 90 é uma verdadeira missão. Entrevista: CSA

Encontrarem-se para compor música para In The Woods deve ter sido um grande momento tanto para ti como para o Anders Kobro, visto que agora vocês são o núcleo duro da banda e também de Old Forest. Podes comentar esta afirmação? James Fogarty– Ambos tentamos manter uma diferença que se note entre In The Woods e Old Forest. In The Woods começou como uma banda de Black Metal, mas depressa se converteu em algo muito diferente e muito para além da sonoridade do Black Metal. Old Forest, por sua vez, sempre foi e sempre será sobretudo Black Metal. Apesar disto, no último álbum («Black Forests of Eternal Doom»), fizemos um esforço consciente para também

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incorporar uma sonoridade Death/ Doom característica do início dos anos 90 (especialmente dos primeiros álbuns de Paradise Lost). Vemos isto como algo essencial para completar a imagem das nossas raízes relativas a Metal obscuro e extremo. Como foi revisitar um “velho amigo”? Este trabalho obrigou-nos a regressar ao estado de espírito em que estávamos quando gravámos esse álbum. Usar o mesmo equipamento, até vestir as mesmas roupas e beber a mesma cerveja. Foi realmente muito importante para nós reencontrar a mesma aura na música. O Anders não tocou nesta gravação. Foi o baterista original – o Grond – que o fez.

A vossa editora dá ao fã curioso alguma informação sobre a forma como o álbum foi revivido. - Podes dizer-nos como organizaste a banda para gravar esta nova versão do primeiro álbum de Old Forest? Todos sabíamos as canções muito bem. Foi muito importante estarmos juntos durante 3 ou 4 dias para termos a certeza de que seguíamos todos os mesmos padrões de pensamento. - O álbum data de 1999. Por que tiveram de esperar por abril de 2020 para lançar esta “versão revisitada”? Durante os últimos três anos, quatro pequenas editoras diferentes pediram-nos para lançar novamente este álbum em vinil.


Reencaminhamo-las todas para a editora que o tinha lançado, que ignorou por completo esses pedidos. Acabámos por perceber que, por alguma razão que nos escapa, eles tinham decidido apagar as gravações do álbum. É claro que ficámos furiosos por isto ter acontecido e, por conseguinte, decidimos que a melhor maneira de recuperar o controle da música deste álbum era graválo novamente tão próximo do original quanto possível. A conduta de algumas editoras de Metal mais antigas é absolutamente reprovável, portanto quanto mais depressa desaparecerem, melhor. - Como foi possível recriar um Black Metal tão clássico depois da segunda vaga deste género? A banda foi formada para celebrar o que considerámos como a morte do verdadeiro espírito do Black Metal. Isto aconteceu em 1997, que, para nós, é o ano em que o Black Metal morreu. Houve uma série de álbuns que saíram nessa altura que nos fizeram compreender que algumas das bandas que admirávamos se tinham vendido. A nossa resposta a esta situação foi gravar no estilo que adorávamos: cru, não polido, atmosférico e completamente fora do circuito comercial. - Quais foram os maiores problemas que tiveram de enfrentar e superar? O problema mais aborrecido foi restabelecer a propriedade da música. Embora a editora que lançou o original seja proprietária da gravação, não tem direitos de propriedade relativamente às canções. Infelizmente, tivemos de recorrer a advogados, solução dispendiosa, mas que resolveu o problema. - Houve algum incidente particularmente feliz durante a criação deste álbum? Ouvir as canções prontas, dado terem captado a 100% a essência do nosso primeiro álbum. - Quem esteve envolvido nesta missão? Kobold/Beleth/Grond. - E quem estava contigo quando a primeira versão do álbum foi

gravada? Kobold/Beleth/Grond. Imagino que este álbum é uma espécie de manifesto? Que mensagem queriam transmitir ao mundo (nomeadamente à comunidade do Metal)? Por um lado, queríamos revelar o nosso compromisso com o verdadeiro espírito do fim dos anos 80 e dos anos 90 – que está quase completamente extinto. Por outro, tratava-se de mostrar que não toleramos o comportamento incompreensível de algumas editoras e de quaisquer outros tiranetes. Comparei as capas as duas versões deste álbum e pareceume que era a mesma ilustração (muito bonita e semelhante a uma gravura do século XIX). - Quem fez o artwork de 1999? O artwork da nova versão é diferente. Não sabemos quem fez o artwork original/tirou a foto, mas não gostamos dele. O novo é MUITO melhor. - Que papel desempenhaste na sua criação? O “novo” artwork é uma gravura antiga de um artista inglês pouco conhecido chamado William Hole, que foi criada no fim dos anos de

1800 para ilustrar uma coletânea de contos populares escoceses. Usámos quatro fotos diferentes para o artwork do digipack. Eu só fiz o layout. O talento evidente na imagem – aparentemente muito simples – deve-se a William Hole (7 de novembro de 1846-22 de outubro de 1917). - Alteraram a ilustração de alguma forma para a adaptar a este lançamento? Não, foi usada na sua versão original. Já está no domínio público, portanto qualquer pessoa a pode usar. Mas devemos sempre referir o artista, mesmo que esteja morto há mais de 100 anos. Outra banda vai acabar por a encontrar e usála também – mas nós fomos os primeiros a fazê-lo… Quando vamos ter um novo álbum de Old Forest? Temos quase pronto o sucessor do nosso último álbum – «Black Forests of Eternal Doom» [Duskstone, 2019] – em que voltamos a explorar o som que criámos para esse álbum. Esperamos conseguir lança-lo ainda este ano… Facebook Youtube

Este trabalho obrigou-nos a regressar ao estado de espírito em que estávamos quando gravámos esse álbum. Usar o mesmo equipamento, até vestir as mesmas roupas e beber a mesma cerveja.

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(Su)Posições - Hard N’ Heavy Por: Gabriel Sousa

O Grammy – Situações Estranhas Depois de já ter “criticado” o “RRHOF” hoje cabe dar uma “patada” noutra “grande instituição” da música, “O Prémio Grammy”. E como a Versus é uma revista de Metal/Hard Rock vou focar-me em algumas situações que aconteceram nestas categorias que eu considero no mínimo estranhas, apenas para não usar a palavra ridículas. Todos se devem lembrar que em 1989 os Metallica perderam o Grammy de “Melhor Performance Hard Rock/Metal” para os Jethro Tull, nada contra os Jethro Tull que são uma grande banda de Rock/ Folk Rock mas que nada têm a ver com o “mundo do Hard Rock/Metal” em que foram premiados. Embora haja vários exemplos de bandas que EU não considero Hard Rock ou Metal a ganhar o prémio, não vai ser neste ponto que me vou debruçar. Uma das situações no Grammy que me incomoda bastante é quando um cover ganha o prémio, nada contra covers mas quando uma música não original ganha um prémio desta importância é quase como se fosse um atestado de incompetência a quem lança músicas originais e esta situação aconteceu várias vezes: novamente os Metallica na liça, em 1991 ganharam o prémio melhor performance Metal com a música “Stone Cold Crazy” original dos Queen e em 2000 ganharam a melhor performance Hard Rock com a música “Whiskey In A Jar” original da música popular Irlandesa; os Motorhead em 2005 ganharam a melhor performance Metal com a música “Whiplash” dos Metallica, sempre os Metallica; em 2015 o duo humorístico Tenacious D, ganhou o prémio de melhor performance Metal com a música “The Last In Line” original de Dio. Curiosamente ou não, esta situação acontece sempre com bandas famosas a fazerem versões/covers de bandas tão ou mais famosas, mera coincidência de certeza. A outra situação que eu quero destacar na forma “ridícula” de dar o Grammy é quando são premiados álbuns, performances ao vivo, mais uma vez são desvalorizados aqui os trabalhos originais de estúdio, custa-me muito a acreditar que uma “melhor performance de um ano” seja algo ao vivo. Esta situação aconteceu várias vezes e todas elas na atribuição do Grammy para melhor performance Metal: Em 1994 Ozzy Osbourne ganhou com a música “I Don’t Want To Change The World” lançada em 1991; em 1996 foram os Nine Inch Nails a ganhar com a música “Happiness In Slavery” lançada em 1992; no ano 2000 foram os veteraníssimos Black Sabbath e ganhar com a música Iron Man, lançada 30 anos antes!!!!; 10 anos passaram e mais uma vez aconteceu esta situação com uma banda mítica, os Judas Priest que em 2010 ganharam o Grammy com a música “Dissident Aggression” que tinha sido lançada originalmente em 1977. Como dá para perceber nestes vários exemplos não é apenas “problema” dos fãs a não aceitação de novos trabalhos de bandas (des)conhecidas (muitas vezes as músicas mais idolatradas de bandas novas ou de bandas mais antigas menos conhecidas são covers/versões, algumas sem grande diferencial em relação ao original, “olá The Sound Of Silence”.) esta dificuldade de aceitação do novo passa muitas vezes pelos críticos e pelos fazedores de opinião o que vai truncar muitas vezes o conhecimento e o trabalho de novas bandas.

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Grêlos de Hortelã Por: Victor Alves

100 anos de opressão

Prefiro um dia de liberdade que 100 anos de opressão, ser vítima de um caso estranho do que deixar acorrentar o meu coração Prefiro um punhado de loucura do que a consciência manipuladora deste sistema Prefiro mandar foder quem não me agrada do que jogar neste tabuleiro estrategista Prefiro dizer que não e quando a guerra arrebentar, prefiro fugir em direcção à montanha e criar um novo elo de amigos entre a fauna e a flora Sei usar armas sei ser duro mas prefiro virar as costas ao meu amigo ao meu irmão Tudo isto porque no meu mundo não era preciso fardas nem um livro cheio de leis e regras Prefiro tudo isto mesmo sabendo que ainda vou enganando o meu homem Porque no dia da grande explosão, sei que o meu sangue será tão belo na parada como o sangue de quem anda convencido de que tudo tem que ser assim e está bem Prefiro continuar a ser um caso difícil, porque quem me conhece e tem a minha amizade, sabe que tenho sempre a porta de casa aberta para uma nova festa Prefiro que continues a olhar para mim como se eu fosse louco, porque afinal a loucura fica sempre melhor na vida dos outros

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PALETES Por: Carlos Filipe

Acid Mammoth - «Under Acid Hoof» (Grécia, Doom Metal) O álbum é a directa continuação do álbum de estreia, mas mais sombrio, pesado e distorcido. Cinco faixas de doom, cada uma oferecendo algo único ao Opus. A dupla pai e filho de guitarras oferece ao ouvinte uma horda de riffs no estilo Iommi, com melodias difusas acompanhadas de riffs de doom, apoiados por linhas de baixo perversas e bateria pesada. Os vocais suaves e limpos contribuem para a mistura numa experiência sublime e pesada. (All Noir) Dawn Of Solace - «Waves» (Finlândia, Melodic Doom/Death Metal) Já se passaram 13 longos anos até que o mentor dos Wolfheart / Before the Dawn, Tuomas Saukkonen, regresse com seu tão aguardado segundo álbum a solo sob a bandeira dos DAWN OF SOLACE. Depois que a comporta abriu o processo de composição, o álbum veio muito fácil e rápido, numa toada cinzenta, pesada e escura, levando-nos à mais profunda melancolia, envoltos na melhor death e hinos de destruição lenta! (All Noir) Rage Of Samedi - «Blood Ritual» (Alemanha, Doom/Sludge Metal) RAGE OF SAMEDI é uma banda alemã de Doom e Sludge Metal formada em 2012. Profundamente influenciada pelas bandas Classic Doom dos anos 70, início dos anos 80 até a cena moderna do Sludge, essa banda dá ao seu próprio doom um toque muito especial. (All Noir) Ryte - «Ryte» (Austria, Psychedelic Rock/Stoner/Doom Metal) O álbum de estréia auto-intitulado de Ryte é basicamente o resultado de um intenso processo de composição de um ano e meio. O álbum consiste em quatro longas faixas que apresentam um fluxo totalmente natural. O álbum definitivamente, ultrapassa os limites do Psych rock, pois é influenciado por inúmeros estilos de música, incluindo Doom, Prog Rock, Jazz e até World Music. O som é dominado por guitarras duplas afinadas, às vezes doomy, às vezes épicas, bateria dinâmica e jazzística, linhas de baixo distorcidas e divertidas. (All Noir) Uncommon Evolution - «Algid» (EUA, Stoner/Hard Rock) Uncommon Evolution é uma banda de loud rock que se formou na primavera de 2013. Após um primeiro EP de 5 faixas que já mostra a sua ampla gama de influências pesadas, a banda está pronta para esmagar os vossos ouvidos e mentes com as próximas músicas. As quatro peças podem parecer incomuns, mas a sua evolução será promissora! (All Noir) Zolfo - «Delusion Of Negation» (Itália, Doom/Sludge Metal) O submundo doom Italiano, é um ambiente um tanto fervoroso, onde os ZOLFO conquistaram um lugar nesse reino. Como o apelido sugere - é o italiano para “Sulphur” - a banda evoca uma criatura fumante que agradará totalmente os fãs de Iron Monkey, Ufomammut, Bongzilla e similares! Riffs enormes e amplificadores altos andam de mãos dadas com o ritmo lento e impiedoso da bateria, enquanto a apresentação vocal é dura como o inferno, às vezes mesmo não humana. Após o lançamento do seu bem recebido EP de estreia, este LP, «Delusion of Negation», e uma parede de som esmagadora que espera ser alcançada. (All Noir) Blasphemer - «The Sixth Hour» (Itália, Technical Brutal Death Metal) Terceiro álbum de BLASPHEMER, «The Sixth Hour», apresenta doze músicas de puro metal enegrecido, masterizadas no famoso estúdio Hertz, na Polônia. Fundamentalmente, um álbum conceitual, com o tema principal sendo o caminho da cruz, ou seja, o último dia de Jesus Cristo, o caminho que o levou do Getsêmani ao Gólgota. O objetivo do álbum é descrever Jesus como meramente humano, tentando transpor para a música a agonia que sentiu no último dia. (Candlelight)

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Bonded - «Rest In Violence» (Alemanha, Thrash Metal) Se há algo certo sobre as carreiras do guitarrista Bernd “Bernemann” Kost e do baterista Markus “Makka” Freiwald, é que eles são consistentes e autênticos. Activos há mais de 30 anos, ambos estão profundamente enraizados no que poderia ser considerado a origem do Thrash Metal alemão - a infame Ruhr-Area. Como a continuidade é o principal fio de sua carreira, eles não seriam quem são se não retornassem com uma nova banda após a separação com os Sodom. Os Bonded é emblemático para um vínculo criativo de músicos com a abordagem de entregar o Thrash Metal que é ao mesmo tempo fundamentado e versátil, mas ligado à sua origem, sem se tornar obsoleto. (Century Media) Dwaal - «Gospel Of The Vile» (Noruega, Sludge/Post-Metal) A areia movediça proverbial de Dwaal é uma densa e hipnótica parede de som. Riffs sombrios, atmosferas épicas, vocais desesperados e melodias minimalistas lo-fi. «Gospel of the Vile» é o primeiro álbum deste monstro de seis cabeças de Oslo. A música está definitivamente enraizada no Doom Metal, tendo também uma clara inspiração do Post-rock, do Metal tradicional e do ambiente do Black Metal - resultando num som enorme, com momentos de brutalidade e beleza. (Dark Essence Records) Pure Wrath - «The Forlorn Soldier» (Indonésia, Atmospheric Black Metal) Formados em 2014 em Java Ocidental, os PURE WRATH são o projeto a solo do multi-instrumentista Januaryo Hardy, que apresenta aqui uma emotiva exploração de três músicas e quase meia hora de eventos tando como base um incidente brutal durante o genocídio dos anos 60 na Indonésia. (Debemur Morti Productions) Seven Planets - «Explorer» (EUA, heavy rock instrumental) Os instrumentistas pesados da Virgínia Ocidental, SEVEN PLANETS, lançam seu terceiro LP, baseando-se em metal clássico, boogie pesado e blues rock. O grupo formou-se em 2007 e o seu som é ancorado em Groove. A química instrumental e a base estilística fundem os lados variados do som num conjunto psicadélico pesado e coeso, funky e totalmente próprio. (Earsplit) Atena - «Drowning Regret Lungs Filled With Water» (Noruega, metalcore) Os Atena esforçaram-se para se tornarem num dos mais notáveis artistas de metalcore da Noruega. Com uma profunda inspiração do hip hop, compositores clássicos e fascínio pela música pesada, a banda une esses elementos num som ímpar. O seu núcleo de metal obscuro e experimental deu aos Atena uma posição única na cena metálica norueguesa. (Indie Recordings) S.D.I. - «80s Metal Band» (Alemanha, Speed/Thrash Metal) 31 anos após seu último LP regular «Mistreated», os veteranos alemães de Speed Metal S.D.I. estão de volta com um novo álbum! O trio gravou 12 novas faixas, que refletem a gama da banda, desde granadas de speed metal a hinos de metal da melhor onda da velha escola. «80s Metal Band» é não apenas uma descrição com a qual os S.D.I. se sentem representados em 2020, mas também é o lema que leva o ouvinte 30 anos atrás no tempo. (MDD Records) Midnight - «Rebirth By Blasphemy» (EUA, Black/Speed Metal) «Rebirth By Blasphemy» é um renascimento, uma coleção impiedosamente cativante, onde todas as músicas, por mais cruéis que sejam, empunham o tipo de ganchos que afundam profundamente e não soltam, e isso também desde o início da banda em 2002, pois o vocalista / guitarrista / baixista / baterista Athenar sempre soube exatamente o que queria que Midnight fosse. (Metal Blade) Oceans - «The Sun And The Cold» (Internacional, Post-Metal/Metalcore) Tudo o que sabemos é apenas uma gota. O que não sabemos é um oceano. Tão poderosos quanto um tsunami e tão eternos quanto o mar profundo, os OCEANS surgiram do coração enegrecido do vazio em 2018, abraçando o desespero, a ira e as trevas. O death metal moderno misturado com os elementos nu metal dos anos 90 e o pós-rock esférico abrem caminho para uma jornada sombria ao abismo. Os OCEANS continuam a impressionar com o mix de death metal agressivo e pós-rock neste primeiro álbum. (Nuclear Blast) Abhomine - «Proselyte Parasite Plague» (EUA, Black/Death Metal) Nas últimas três décadas, Helmkamp e Grant foram os pioneiros no género underground black / Death. Eles permaneceram firmes nas suas convicções e declarações. Com «Proselyte Parasite Plague» dos ABHOMINE, os ouvintes testemunharão a sinistra profecia profética de Helmkamp. Este trabalho é um rearranjo do paradoxo que domina o subconsciente. A segunda criação de Helmkamp desaprova as normas tradicionais do black e do death metal com riffs de mudança de forma, introduzidos por batidas implacáveis. (Osmose Productions)

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Earth Rot - «Black Tides Of Obscurity» (Austrália, Death/Black Metal) Não é todo o prog que vem da terra abaixo! Earth Rot, a máquina enegrecida de death metal da Austrália, com uma corrente da velha escola e uma sensação de sulco implacável e sombrio. É um ruído odioso, prejudicial, sinistro e melancólico, moldado pelo mundo ao seu redor. Com «Black Tides Of Obscurity», EARTH ROT retrata o absurdo da vida e reflete a jornada da vida. (Season of Mist) Hyborian - «Volume II» (EUA, Stoner Metal) O metal incisivo e hino do «Vol. II» dos Hyborian é rico em riffs propulsivos, arranjos finos e infecciosos. HYBORIAN compromete-se com a sua missão de conquista sonora e este segundo álbum, «Vol. II» é nada menos que um metal de classe mundial. (Season of Mist) Svarttjern - «Shame Is Just A Word» (Noruega, Black Metal) Os SVARTTJERN voltam à frente da linha com seu quinto LP «Shame Is Just A Word»! Verdadeiro Black Metal norueguês, cheio de sabores de carne, satanás e misantropia! O novo álbum mergulha no porão de luxúria e ferrugem a que os Svarttjern nos habituaram! (Soulseller Records) Suicide Silence - «Become The Hunter» (EUA, deathcore) John Wick, the Bride, Django, Lady Vengeance, Eric Draven; os anti-heróis e vigilantes clássicos do cinema, que passaram de tragédias indescritíveis para infligir uma retribuição sangrenta àqueles que os tiraram, que os brutalizaram, que os deixaram para morrer. Nos círculos extremos da música, não há banda que represente melhor esse tema do que os SUICIDE SILENCE. Eles são o som da resiliência e perseverança. A música extrema para a determinação extrema de nunca ser vítima de ninguém. (All Noir) Godthrymm - «Reflections» (Inglaterra, Epic Doom Metal) GODTHRYMM foi forjado em 2017 por Glencross e vê a respeitada luminária de metal do Reino Unido retornar às suas raízes do doom metal. Para aumentar ainda mais o pedigree dos GODTHRYMM, está o baterista Shaun Taylor-Steels, que se tornou o núcleo da banda. GODTHRYMM são um verdadeiro trio de destruição. (Earsplit) Fluisteraars - «Bloem» (Holanda, Black Metal) Depois de mais de quatro longos anos, a enigmática banda de black metal FLUISTERAARS regressa com o seu terceiro disco, «Bloem». Desde o início, sabe-se que FLUISTERAARS experimenta influências do povo psicadélico. Em «Bloem», essa entrada é elevada a um domínio do misticismo rural do black metal. A orquestração é mínima, mas extremamente eficaz, e em algumas partes, toca num estilo de produção que lembra Lee Hazlewood. (Eisenwald) The Spirit - «Cosmic Terror» (Alemanha, Black/Death Metal) Por mais abrangentes que sejam os significados literários, filosóficos e psicológicos por trás do termo “Cosmic Terror”, para The Spirit, esse título abre um mundo próprio. Eles não querem explicar nada. Eles não querem analisar as suas letras, caracterizadas pela misantropia e pelo lado sombrio da mente humana. A banda busca apenas um objetivo simples: deixar a música falar por si. O resultado são sete hinos, consistindo de uma mistura única de black e death metal, extensas passagens instrumentais e trabalho genuíno de guitarra. (Independentes) Warped Cross - «Rumbling Chapel» (Alemanha, Doom/Sludge Metal) «Rumbling Chapel» é o terceiro álbum dos psicodélicos Doomcore Warped Cross. Em mais de 50 minutos, as 11 músicas lançam-se repletas de tristeza emocionais, sempre tocando com o pé no pedal do freio, mas celebrando uma mistura versátil de riffs impactantes, bateria de condução e vocais parcialmente patéticos numa roupagem sonora que também deve agradar aos fãs de bandas como Down ou Crowbar. (MDD Records)

Blaze Of Perdition - «The Harrowing Of Hearts» (Polónia, Black Metal) Existindo na vanguarda do movimento polonês do black metal, o Blaze Of Perdition regressam com o seu quinto LP, «The Harrowing Of Hearts». O seu trabalho mais urgente, refinado, dinâmico e realizado até hoje. (Metal Blade)

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God Dethroned - «Illuminati» (Holanda, Blackened Death Metal) God Dethroned nunca diz morrer! O poder imutável da maior banda de blackened death metal da Holanda soa verdadeiro no novo álbum, «Illuminati». Mas isso não é algo novo para a horda holandesa. Desde a sua formação na vila de Beilen, em 1991, God Dethroned acumulou um número considerável de seguidores através do lançamento de 10 álbuns. (Metal Blade) Benighted - «Obscene Repressed» (França, Brutal Death Metal/Grindcore) A loucura reina mais uma vez! BENIGHTED entrega uma nova sonoridade radical a esses tempos selvagens. «Obscene Repressed» dá uma voz musical extrema à loucura que se esconde por dentro. Deixe a sua mente ser abalada por BENIGHTED. Em caso de efeitos colaterais, consulte o cirurgião ... BENIGHTED foi gerado por membros das bandas French Death e Black Metal, que uniram forças em 1998 para apresentarem uma maneira de expressão mais brutal, pesada e moderna. (Season of Mist) Mitochondrial Sun - «S/T» (Suécia, instrumental) Depois de 15 álbuns e 30 anos como guitarrista de metal, Mitochondrial Sun é a primeira incursão pública de Sundin nos diferentes reinos musicais. Criado com o apoio do Conselho de Artes da Suécia, o álbum de estréia e auto-intitulado é uma oferta diversificada de música atmosférica e sombria, onde as músicas diferem muito em termos de expressão e estética sonora. (All Noir) Night Crowned - «Impius Viam» (Suécia, Melodic Black/Death Metal) Na parte congelada do reino mais a norte da Europa, uma nova semente rastejante apodrece no coração da cena sueca - conhecida como Night Crowned. Uma desova formada a partir de uma comunhão profana entre os membros atuais e anteriores da elite subterrânea, como Dark Funeral, Nightrage e Cipher System. Esta infestação deve crescer de uma doença para uma pandemia em grande escala. (All Noir) Apokryphon - «Subterra» (Suiça, Atmospheric Black Metal) Apokryphon é o novo projeto de Zorgh, membro fundador e baixista dos Darkspace. Essa nova banda não tem nada a ver com o Darkspace, portanto, seria inapropriado fazer qualquer tipo de comparação entre as duas. Muito pelo contrário, depois de vinte anos criando um certo tipo de música (e um certo tipo de black metal), o músico de Berna queria explorar algo diferente, e é por isso que deve-se esperar uma abordagem totalmente distante de temas e sons . (Avantgarde Music) Dzö-nga - «Thunder In The Mountains» (EUA, Atmospheric Black Metal) «Thunder In The Mountains» está em produção há quase três longos anos, período durante o qual o mentor e multi-instrumentista Cryvas se concentrou na criação de músicas e na adaptação da literatura à música. O novo álbum dos Dzö-nga é um grande avanço do ‘The Sachem’s Tales’ sob todos os aspectos, seja musicalmente, conceitualmente e em termos de produção. O resultado é uma mistura melódica e ponderada de black metal melódico e momentos folclóricos. (Avantgarde Music) Demons & Wizards - «III» (EUA, Power Metal) DEMONS & WIZARDS é uma das colaborações mais lendárias da história do heavy metal, unindo os talentos de Hansi Kürsch (Blind Guardian) e Jon Schaffer (Iced Earth), amigos por quase três décadas. Musicalmente, o grupo incorpora as marcas registradas estilísticas de ambos os músicos, que resultou até agora em dois álbuns de estúdio muito famosos. Esta na hora certa de regressar ao extremamente bem-sucedido grupo nos palcos do mundo. (Century Media) Svart Crown - «Wolves Among The Ashes» (França, Black/Death Metal) Nascimento. Vida. Morte. Renascimento. O círculo sem fim. Esta tem sido a jornada dos SVART CROWN desde que eles percorreram o sul da França em 2004. Isso não aconteceu por acaso; de facto, tornou-se a espinha dorsal de sua busca musical: nunca pare ou você irá murchar e morrer! Renasça! O primeiro brilho de vida dos lobos entre as cinzas veio com uma visão, quando o líder indiscutível da banda Jean-Baptiste Le Bail viu a cratera de gás de Darvaza no Turquemenistão, um campo de gás natural apelidado de ‘porta para o inferno’ (‘darvaza’ literalmente significa “porta” em turcomano). (Century Media)

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Death The Leveller - «II» (Irlanda, Doom Metal) O álbum de estreia da banda Irlandesa DEATH THE LEVELER, «II», combina uma ruína impenetrável e sombria com os arranjos arrebatadores do metal épico! Há um ar de melancolia inexpugnável na música irlandesa. As suas baladas, poesia, música tradicional e tradições folclóricas carregam o peso da perda de homens e mulheres que sofreram dificuldades e lutaram com tanto vigor por seu país. Portanto, não é de surpreender que o primeiro álbum, «II», seja a união perfeita entre o épico sombrio e arrebatador. (Cruz Del Sur Music) Aara - «En Ergô Einai» (Suiça, Atmospheric Black Metal) Apenas um ano após a sua estreia, os AARA da Suíça atacam enquanto o ferro ainda está quente com o lançamento de seu segundo disco, «En Ergô Einai». Inspirando-se na Era do Iluminismo na Europa do século XVIII, »En Ergô Einai» serve como um tributo à dualidade na busca da perfeição pelo homem e da futilidade nela encontrada. Com golpes de inspiração, melodias requintadas de guitarra, batidas explosivas ondulantes e gritos cortantes servem como um contraponto a atmosferas imaculadas e coros etéreos, um lembrete obstinado da natureza finita do homem e de suas criações. (Debemur Morti Productions) Dirt Woman - «The Glass Cliff» (EUA, Stoner/Doom Metal) DIRT WOMAN, lançadora de desgraças psicadélicas de Maryland, tem em «The Glass Cliff» a sua estreia com cinco faixas repletas de riffs gigantescos, ritmos estrondosos e letras que falam diretamente aos gritos da juventude de hoje. Um registro apropriadamente intitulado, com partes iguais enfurecidas e abatidas por um mundo cuja grande promessa foi dizimada pela busca do poder e da riqueza material. (Earsplit) Insect Ark - «The Vanishing» (Suécia, Psychedelic Doom Metal) Os INSECT ARK criaram paisagens sonoras desconfortáveis que parecem íntimas e frias desde 2011. Visões de filmes de terror, viagens ao espaço, as texturas foram exploradas anteriormente mas agora, algo muito maior está por vir. Prepare-se para o desaparecimento. (Earsplit) Turia - «Degen Van Licht» (Holanda, Atmospheric Black Metal) O próximo álbum dos TURIA, «Degen van Licht», é uma ode à atracção eterna das montanhas inflexíveis e uma exploração do calor sufocante. O potencial purgatório do maciço é revelado quando a morte prevalece. A bateria maníaca, os gritos atormentados e as guitarras espectrais fundem-se num som que será familiar para os seguidores de longa data da banda. (Eisenwald) Death. Void. Terror. - «To The Great Monolith II» (Suiça, Black/Doom Metal) Contemple o Grande Monólito e contemple os seus horrores e glória! Essa é a essência da busca do praticante. É neste estado que Death. Void. Terror. esforçam-se para alcançar a pureza que emana do Grande Monólito. O misterioso coletivo suíço conhecido como Death. Void. Terror. estão de volta com o seu segundo álbum «To the Great Monolith II» dois anos após o lançamento do primeiro, «To the Great Monolith I» (Independentes) Martin Templum Domini - «Martin Templum» (Espanha, Heavy/Power Metal) Martin Templum Domini é uma banda formada em Barcelona no final de 2017 sob a ideia e o conceito do virtuoso guitarrista Carlos Martin. O estilo peculiar de Martin é capturado neste álbum totalmente instrumental, onde a melodia vem da própria guitarra. Um álbum cheio de riffs furiosos e solos virtuosos com tons neoclássicos e bateria rápida e espetacular, ao longo de uma execução extremamente difícil na linha de baixo. Combinando elementos tradicionais de metal e progressivos, este é um álbum conceitual baseado na Divina Comédia de Dante. (Independentes) Thanatos - «Violent Death Rituals 2020» (Holanda, Death/Thrash Metal) Os THANATOS comemoram 35 anos de Death Fuckin Thrash Metal. É certo que eles ainda soam incrivelmente relevantes, com precisão para a cena metal actual graças ao seu material totalmente implacável. O seu novo e intransigente álbum «Violent Death Rituals» é simplesmente magnânimo. THANATOS mede a sua música para obter uma loucura feroz e máxima. (Listenable Records) Intronaut - «Fluid Existential Inversions» (EUA, progressive metal) Como progenitores de algumas das músicas mais inventivas, desinibidas e dinâmicas já gravadas, os Intronaut de Los Angeles são uma força a ser reconhecida. Essas características são expandidas ainda mais no sexta LP «Fluid Existential Inversions», que apresenta os sons mais dramáticos e épicos de sua carreira. O resultado é um álbum

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repleto de contrastes marcantes, músicas que variam do violento ao dolorosamente bonito. A banda também integrou teclados pela primeira vez, pois são fãs dos sintetizadores analógicos e mellotron, o qual agora fazem parte do som dos Intronaut. (Metal Blade) Pyramids On Mars - «Edge Of The Black (2019)» (Canadá, Progressive Metal) «Edge of the Black”», o terceiro LP dos Pyramids On Mars, oferece uma paleta auditiva de intenso rock instrumental de destruição progressiva, emocional, provocador e tridimensional. «Edge of the Black» segue os dois álbuns anteriores de Pyramids On Mars e foi escrito, composto e apresentado exclusivamente por Kevin Estrella, que cita influências de grandes nomes da música, como J.S Bach e Antonio Vivaldi, juntamente com os virtuosos da guitarra de hoje, Yngwie Malmsteen e Joe Satriani. (Independentes) Ruin Lust - «Choir Of Babel» (EUA, Black/Death Metal) Os RUIN LUST de Nova York passaram a maior parte da última década espalhando uma cortina de violência negra pelos cantos húmidos do porão do subsolo mais profundo. Completamente intransigente e bestial, «Choir Of Babel» não desperdiça tempo com sutileza, destruindo a ferocidade bárbara por meio de um ataque implacável, criado para não desaparecer em uma confusão de barulho esquecível, mas devastado com ameaça e complexidade irregulares. Seja chamado Death Metal, Black Metal, War Metal ou qualquer outra coisa, a selvageria sufocante de RUIN LUST não tem remorso pela destruição deixada no seu rastro. (Independentes) Vulcano - «Eye In Hell» (Brasil, Black/Death/Thrash Metal) Reconhecida mundialmente como pioneiros em “Metal Extremo” na América do Sul, VULCANO completou em 2016 trinta e cinco anos de carreira e trinta anos do seu mais novo álbum «Bloody Vengeance ». Alternar peso e densidade do Black Metal com rapidez e brutalidade do Death Metal, Vulcano forjou a sua identidade sonora quando esses subgéneros ainda não existiam. (Independentes) Azusa - «Loop Of Yesterdays» (Internacional, Extreme Progressive Metal) Embora tenha um alcance igualmente amplo, «Loop Of Yesterdays» considera os AZUSA a banda com mais a dizer, mas menos a provar, alcançando uma abordagem mais aerodinâmica e acessível ao seu intrincado senso de composição e estilo inerentemente técnico. Azusa procura cativar o público com a sua mistura única de sensações melódico-thrash, jazz-fusão, hardcore e riff pop dos anos 90. (Indie Recordings) Psychotic Waltz - «The God-Shaped Void» (EUA, Progressive Metal) Os renomados metalistas progressistas da Califórnia Psychotic Waltz estão de volta! Não apenas isso, mas eles retornam com todos os cinco membros dos três primeiros álbuns do grupo. Enquanto a ‘Valsa Psicótica’ levou quase uma década para chegar a «The GodShaped Void», a espera valeu a pena. Existem finas seções rítmicas no metal progressivo, mas as duas compartilham e demonstram uma profunda compreensão de sua interconexão. (InsideOut Music) Depravation - «III - Odor Mortis» (Alemanha, Black Metal) O quarteto de Hesse, na Alemanha, começa com um som bruto e poderoso. As raízes de Depravation estão entre crush, sludge, death, black metal e hardcore. «III: ODOR MORTIS» apresenta uma banda cujos interesses mudaram ainda mais para Death e Black Metal. O segundo álbum dos DEPRAVATION parece incomparavelmente mais agressivo e feroz do que os lançamentos anteriores da banda. (Lifeforce Records) Arcaine - «As Life Decays» (Suiça, Technical/Melodic Death) Fundados em 2015 em Chur, na Suíça, os Arcaine apresentam o seu álbum de estreia «As Life Decays», que tem muito a oferecer! Estilisticamente mais apegado ao Death Metal técnico e extinto com uma pitada de Death Metal melódico, os Arcaine criam um som brutal, que quebra o pescoço do ouvinte desde a primeira nota. Os suíços são implacáveis, apedrejados, mas sensuais e incrivelmente hábeis ao mesmo tempo. (MDD Records) Maraton - «Meta» (Noruega, Progressive Rock) Descrita como “descaradamente melódica”, Maraton ultrapassa os limites e mistura estilos de prog, rock e pop num som totalmente hipnotizante. Ao moldar a inspiração de vários géneros, a banda permite uma paisagem sonora distinta e icónica de bateria técnica com precisão, baixo agitado e brilhante guitarras e vocais quase sacros. (Independentes)

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Neaera - «Neaera» (Alemanha, Melodic Death Metal) Nunca diga nunca! Os NEAERA estão de volta ao mapa após cinco anos e lançam o seu novo e sétimo álbum! Um álbum que reflete 100% NEAERA, um autêntico trademark da banda, por isso é lógico e consistente escolher um álbum auto-intitulado! (Metal Blade) Marko Hietala - «Pyre Of The Black Heart» (Finlândia, hard rock/progressive rock) Depois de iniciar uma influente carreira algumas décadas atrás, poder-se-á perguntar qual seria o próximo passo mais lógico para um dos mais talentosos baixistas de heavy metal do nosso tempo (ou de sempre?)A resposta só poderia ser uma: um disco a solo. Foi exatamente o que Marko Hietala ( e leu bem, pois o seu nome de artista de sempre tem sido Marco Hietala) vem trabalhando duro há muito tempo. Com a capacidade única e excepcional que Marko tem para tocar, compor, cantar e escrever, este é um trabalho há muito esperado. (Nuclear Blast) Enepsigos - «Wrath Of Wraths» (Noruega, Black Metal) Os ENEPSIGOS foram formados em 2016 por V.I.T.H.R e Thorns, na época, para ser um projeto de estúdio. Pouco depois, Straff juntou-se às guitarras e começaram a escrever e gravar o seu primeiro álbum, «Plague Of Plagues». Imediatamente após, começaram a trabalhar no seu segundo álbum, agora para manifestar o que o ENEPSIGOS realmente é, e deve ser: sombrio, nojento, distorcido, ritualístico e violento. (Osmose Productions)

Raspberry Bulbs - «Before The Age of Mirrors» (EUA, Black Metal/Punk) RASPBERRY BULBS é uma banda underground oculta que se inspira na onda Lovecraftiana de ficção estranha. Sempre desafiando as convenções da música underground, os RASPBERRY BULBS continuam a empurrar o seu som através de sua visão subversiva do punk oculto e do black metal. Através do lirismo maníaco, rosnados de guitarra brutos canalizados através de gravações de quatro faixas e uma parede de distorção, os RASPBERRY BULBS sufocam o ouvinte a cada passo do caminho. (Relapse Records) …And Oceans - «Cosmic World Mother» (Finlândia, Symphonic Black Metal) Os vapores do black metal escandinavo envenenavam o ar e a segunda onda de black metal assumiu uma nova forma. …And Oceans surgiram nessa cena em 1995, com uma abordagem sinfónica excepcional e única da música. Nesse ponto, a banda já tinha encontrado seu caminho, moldando a música e as letras na roupagem mais comuns de black metal. … O novo álbum dos AND OCEANS, «Cosmic World Mother», vê os finlandeses retornarem a um som feroz de black metal, combinado influências industriais e sinfónicas. (Season of Mist) Barishi - «Old Smoke» (EUA, Progressive Metal) A banda norte-americana apresentou-se originalmente como um trio instrumental, pela qual eles viajaram incansavelmente. O seu estilo único de metal progressivo corajoso, foi completado com a adição do vocalista Sascha Simms em 2012. Os BARISHI fornecem ao ouvinte grooves arrebatadores e vocais selvagens nascidos nas montanhas verdejantes de Vermont. Prepare-se para bater com um metal em êxtase nas colinas antigas da Nova Inglaterra. (Season of Mist) Omega Infinity - «Solar Spectre» (Austrália, Progressive Metal) OMEGA INFINITY: duas palavras que incorporam a escuridão inimaginável além do universo conhecido, o ciclo interminável de nascimento e morte, de criação e destruição. O objetivo dos OMEGA INFINITY era servir como uma saída para a sua própria visão musical e conceiptual. Juntou-se a eles um vocalista que não apenas foi capaz de transmitir a extrema noção mas também versatilidade necessária para tal. (Season of Mist) Tulus - «Old Old Death» (Noruega, Black Metal) «Old Old Death» - o novo e sexto LP da lendária banda norueguesa de Black Metal TULUS, formada em 1991! O trio, composto por membros de Sarke e Khold, criou uma obra-prima no seu estilo próprio inimitável. Espere 10 faixas escuras, frias e groovy de Black Metal que atingirão os seus nervos como a peste negra. Estranho e único! (Soulseller Records) Wombbath - «Choirs Of The Fallen» (Suécia, Death Metal) WOMBBATH - uma das mais antigas bandas suecas do Death Metal ainda está activa! Os WOMBBATH fazem parte do nascimento da cena sueca do Death Metal e entrou em hiato após um punhado de lançamentos

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clássicos. O seu novo e quarto LP, «Choirs Of The Fallen», é o primeiro que apresenta uma formação renovada, carregado com a crueza da velha escola, com melodias assombrosas e o verdadeiro tom de guitarra de serra elétrica, «Choirs Of The Fallen» oferece Death Metal com total força! (Soulseller Records) King Dude - «Full Virgo Moon» (EUA, dark neo-folk) Nos últimos anos, KING DUDE tem sido uma das vozes mais incompreendidas na música folclórica. Ele foi acusado de tudo; para alguns é um satanista psicopata violento, para outros é um covarde inclinado à esquerda. Como é a tradição da música folclórica a sua forma original, o seu último álbum «Full Virgo Moon» representa um “tiro disparado” em muitos desses detractores, as suas músicas tornaram-se hinos pontiagudos dos teístas e ateus. (Ván Records) Bible Black Tyrant - «Encased In Iron» (EUA, Sludge/Doom Metal) O som deles fazem-no sentir as entranhas. Isso perturba a mente, mas dá calafrios ao mesmo tempo. É o apocalipse e a pura perfeição de tudo o que é pesado. «Encased in Iron», o segundo lançamento dos Bible Black Tyrant, enfoca a tortura que é a existência humana, uma maldição negra, sussurrada perversamente pelos entes queridos que cospem em nós. (All Noir) Hayvanlar Alemi - «Psychedelia In Times Of Turbolence» (Turquia, instrumental psychedelic rock) Hayvanlar Alemi é uma banda de rock folk psicadélico instrumental fundada em Ankara em 1999. Ao longo dos anos, a banda desenvolveu um estilo próprio, inspirado na inovadora herança musical da Turquia, mas também bem informado pelos estilos tradicionais e populares do mundo, misturando escalas e ritmos da Ásia, África, Oriente Médio e América do Sul com surf, dub, rock stoner e improvisação gratuita. «Psychedelia in Times of Turbulence» inclui composições mais pesadas e ênfase em composições mais lentas e progressivas. (All Noir) Lacasta - «In Aternvm» (Itália, Black Metal/Hardcore) Os laCasta, que iniciaram o seu caminho sombrio de blasfêmia em 2013, entraram no cenário extremo do metal com «Encyclia». Uma gaiola de pura violência sonora, uma explosão de raiva, tão profundamente negra e cheia de ódio como o lado mais sombrio do inferno, laCasta expressa a sua atitude niilista através de tudo que é metal extremo, com todas as suas vibrações mais sombrias, elementos hardcore e sons dissonantes. (All Noir) Last Call At Nightowls - «Ask The Dust» (Internacional, Experimental Dark Jazz) Uma jornada obscura no meio da noite para homens e mulheres, dois saxos marcam um impacto lento, entre sonho e pesadelo, perseguindo os presságios da coruja negra. Eles criaram uma linguagem musical através do compartilhamento de arquivos e improvisação que abrange ambientes sombrios, doom jazz e noir no seu álbum de estreia. (All Noir) Ruinas - «Ikonoklasta» (Espanha, Death Metal/Grindcore) Grinding Death Metal, às vezes sombrio, às vezes punk, às vezes sludgy, às vezes com uma atitude acutilante! «Ikonoklasta» é uma tempestade imprevista no Extreme Metal, criada pelas mãos e alma de Rober, membro das lendas do Death / Grind falecidas Machetazo e Angel. (All Noir) Vástígr - «Aura Aeternitatis» (Austria, Atmospheric Black Metal) Do nada vem Vástígr, o projeto de Viena do guitarrista e vocalista Þ. Sem nenhum aviso prévio, a banda one-man lançou no mundo o seu primeiro álbum de estúdio chamado «Aura Aeternitatis», é uma jornada musical de um espírito solitário e inflexível, lutando pela melancolia e desolação. As músicas longas e atmosféricas, riffs imprevisíveis e uma pitada de dissonância marcam as cinco faixas deste álbum. (Avantgarde Music)

Beneath The Massacre - «Fearmonger» (Canadá, Technical Death Metal/Deathcore) Os especialistas em Technical Death Metal do Canadá, Beneath the Massacre, voltaram! Depois de quase oito anos de hiatos, as grandes bestas do Norte estão prontos para quebrar recordes e explodir de novo com o seu quarto álbum. «Fearmonger» não é um álbum de mente única ou uma fórmula predefinida. Em vez disso, é um álbum que flui naturalmente. (Century Media) Dark Fortress - «Spectres From The Old World» (Alemanha, Progressive/Melodic Black Metal) Os poderosos DARK FORTRESS aproxima-se mais uma vez. Na hibernação cósmica de quase seis anos, os mestres da música da Baviera finalmente desceram do seu domínio empíreo para invadir as normas do black

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metal, incendiar os pilares da luz e tornar inútil a esperança. Forjados nas masmorras mais profundas e sombrias, o oitavo «Spectres From The Old World» dos DARK FORTRESS não é apenas mais um álbum de black metal mas sim um renascimento. (Century Media) Pornohelmut - «Bang Lord» (EUA, Extreme/Experimental) A banda experimental de metal extremo do Texas PORNOHELMUT lançou o seu novo álbum, «Bang Lord». PORNOHELMUT é o trabalho de Neil Barrett, anteriormente dos BLK OPS. Barrett dispara à queima-roupa em todos os cilindros, lançando uma liga debilitante de bateria / percussão explosiva, sintetizadores, vocais e muito mais. (Earsplit) Collision - «The Final Kill» (Holanda, Grindcore/Crossover) Um cruzamento rápido, frenético e agressivo entre Grindcore e Thrash Metal! Os maníacos holandeses Collision apresentam o seu mini-álbum «The Final Kill»! Em mais de 20 anos de existência, os Collision eram conhecido pela agressão expressa de gritos violentos e caos controlado nos ritmos e riffs! Músicas rápidas, frenéticas e curtas, repetidamente tocadas a uma velocidade implacável! Possivelmente mais intenso e garantido para reunir qualquer multidão de metal, grindcore e hardcore-punk. (Hammerheart Records) Autumn Tears - «The Air Below The Water» (EUA, Neoclassical/Darkwave) Após o altamente aclamado lançamento de 2019, «Colors Hidden Within the Grey», os AUTUMN TEARS não perderam tempo. «The Air Below The Water», é a sua nova oferta de 90 minutos de novas músicas. «The Air Below The Water» apresenta um conjunto clássico totalmente orquestrado, incluindo os instrumentos kamancheh, bansuri e duduk, para adicionar outra camada de diversidade ao seu som em constante evolução. (Independentes)

(InsideOut Music)

Toundra - «Das Cabinet Des Dr Caligari» (Espanha, Instrumental Atmospheric PostMetal) Os TOUNDRA de Madrid não são uma banda instrumental comum. Eles são tão influenciados pelos grandes nomes do rock progressivo quanto pelos muitos rostos do punk e rock alternativo. Essas inspirações transculturais e pan-geracionais tiveram um impacto significativo no quarteto espanhol. Agora, apenas um ano depois, lançam «Das Cabinet des Dr. Caligari», no qual o talento intrépido e mutável, aborda o desafio ousado de escrever e gravar uma banda sonora original para o silêncio alemão por excelência.

Borgne - «Y» (Suiça, Industrial Black Metal) Continuamente pressionando os seus próprios limites nas últimas duas décadas, Borgne é uma maquinaria poderosa que espalha frieza mecânica e produz energia industrial. Em constante evolução ao longo de seus oito álbuns já lançados, a banda suíça entrelaça melodias etéreas e baterias eletrónicas. Borgne vai levar a profundidades abissais, abrindo um género que ainda não estava representado: o Black Metal atmosférico industrial. (LADLO Productions) Chronus - «Idols» (Suécia, Heavy Metal) Chronus é um quarteto exaltado formado em 2015 e liderado pelo Barão. Com ambição, Chronus revitaliza o género hard rock com letras cativantes e instrumentais magnéticos. O Barão, um governante dominador, cruel e vestido de branco, encarna uma voz assustadora e poderosa. Ele é fortalecido por seus três companheiros de roupas vermelhas, Oliver, Svante e Adam. Juntos, canalizam performances energéticas cheias de melodias impressionantes, ganchos viciantes e riffs fortes. (Listenable Records) King Witch - «Body Of Light» (Inglaterra, Heavy/Doom Metal) Formados no final de 2015 numa caverna escura sob as ruas da antiga Edimburgo, uma mistura pesada de Metal da velha escola e o mais rock clássico dos anos 70 surge sob a forma de «King Witch». Erguendo a majestade das trevas, eles fazem comparações que variam de Black Sabbath e Candlemass a Mastodon e High On Fire. (Listenable Records)

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Virocracy - «Irradiation» (Alemanha, Progressive Death Metal) Os Virocracy, com sede na Alemanha do Sul, apresentam um álbum de estreia que é realmente algo especial! Os quatro cavalheiros e a dama nos vocais criam um som que só pode ser pressionado numa gaveta sob pressão. Embora o termo genérico “Progressive Death Metal” seja uma descrição aproximada do que o ouvinte pode esperar, todo o trabalho é realmente mais complexo e, ao mesmo tempo, mais impressionante. Estilisticamente, além dos elementos progressivos do Death, também existem excursões ao Thrash, por um lado, e ao Black Metal, por outro. (MDD Records) The Night Flight Orchestra - «Aeromantic» (Suécia, Hard Rock) Desta vez, eles voltaram à Terra, ou pelo menos a algum lugar a 10.000 pés acima da Terra, com uma novela no ar sobre o inevitável desgosto, o desejo sem fim, a nostalgia fútil e os momentos ocasionais de euforia. «Aeromantic» é um ataque decadente, melancólico, mas que afirma a vida a todos os seus sentidos. Os The Night Flight Orchestra expandiram-se, e este novo trabalho é um álbum que contém todos os seus prazeres, tudo desde hard rock que derrete a mente e baladas poderosas que desafiam a morte. (Nuclear Blast) Bâ’a - «Deus Qui Non Mentitur» (França, Black Metal) A entidade Bâ ‘a materializou-se no ano de 2017, no sul da França, com apenas a chama do desejo de oferecer black metal que se liga ao espírito dos anos 90. Em 2020, lançam seu primeiro LP até ao momento, «Deus Qui Non Mentitur». Bâ ‘a é composto por três indivíduos vindos da cena francesa do black metal. A sua abordagem estilística é moderna e respeitosa das linhas amplas esculpidas pelos actos essenciais do black metal, com riffs devastadores, longas atmosferas hipnóticas, passagens no meio do tempo flertando com doom e vocais franceses cantados como um sermão, a sua música é épica, melódica e melancólica. (Osmose Productions) Dool - «Summerland» (Holanda, Psychedelic Rock) Fundados em 2015 em Roterdão, na Holanda, com um nome derivado da palavra holandesa para “vagando”, os roqueiros escuros Dool embarcaram numa jornada espiritual e musical contínua que os levou longe em pouco tempo com a força de apenas um álbum . «Summerland» encapsula o significado por trás do apelido do quinteto. Expansivo e mais variado, representa a constante evolução que acompanha a busca da alma pela ascensão, resultando numa mistura deslumbrante de dark e pós-rock, floresce no Midde Eastern, psicadélica e metal. (Prophecy Productions) Verikalpa - «Tuoppitanssi» (Finlândia, Folk Metal) Espada e escudo? Mais provável cerveja e cerveja! Após o incrível álbum de estréia ‘Taistelutahto’, ‘Tuoppitanssi’ é o novo hino de batalha bêbado dos mais loucos guerreiros de folk metal de Oulu. o sexteto combina ritmos rápidos, vocais violentos e melodias brilhantes: um conjunto realmente impressionante de black, death & folk metal e elementos sinfônicos. ‘Tuoppitanssi’ é uma jornada extática pelo folclore, superstições e tradições finlandesas. (Scarlet Records) Helfró - «Helfró» (Islândia, Black Metal) Deslizando no caldeirão que é a cena islandesa do black metal, HELFRÓ surge com fúria e competência raramente vistas. Escrito por Ragnar e arranjado por Símon, o álbum de estreia foi gravado com precisão implacável e musicalidade profunda. Guitarras estridentes e batidas implacáveis criam uma paisagem sonora que raramente deixa espaço para reflexão. (Season of Mist) Nekrovault - «Totenzug Festering Peregrination» (Alemanha, Death Metal) Finalmente, os necromantes alemães NEKROVAULT exumaram a sua primeira gravação completa! E realmente foi uma «Totenzug Festering Peregrination» que tomou forma, apresentando a banda numa manifestação mais sombria e ameaçadora. Quanto menos necro a gravação parecer, mais esmagadoras e melancólicas serão as músicas de «Totenzug: Festering Peregrination». Uma melhoria necessária para (Ván Records)

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GARAGE POWER

Uma tempestade musical Daniel Laureano é a face do projecto

A Constant Storm

e, tal como indica o título, responsável pela tempestade creativa, sem limites ou géneros musicais. O Black/Death Metal de «Storm Alive» não passa, agora, de uma miragem e a evolução faz-se com novas influências e novas energias. Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro & Ivo Broncas

Eduardo & Ivo - Antes de mais espero que esteja tudo bem contigo e com aqueles que te estão mais próximos. Igualmente. Antes de mais, um enorme obrigado pelo convite e pelo interesse no projecto! E - Uma pergunta que costuma ser da praxe: Quem são os A Constant Storm? Mais do que um projecto que já leva cerca de 7 anos de história e uma presença considerável no

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nosso meio musical, A Constant Storm é uma extensão da minha própria personalidade enquanto artista – representa as diferentes facetas de mim mesmo como criador de música, fotografia, vídeo ou qualquer outro tipo de arte que vou criando e acaba por ser uma extensão da minha pessoa. Essencialmente, A Constant Storm = Daniel Laureano. E - Como é que te defines como músico e como defines a tua música? Julgo que a melhor maneira de definir a minha música é precisamente através da rejeição de limites impostos por géneros, estilos e/ou tendências. O meu objectivo primordial passa sempre por inovar o máximo possível, misturando ideias que vou buscar ao meu leque de influências, de Goth Rock a Black Metal ou de Reggae a Ambient, entre outros, e sempre visando fazer música que, antes de tudo o resto, me agrade e me pareça interessante.

Isto não quer dizer, no entanto, que eu rejeite a capacidade de enquadrar os álbuns que fiz até hoje em certos campos, uma vez que é impossível fugir a 100% das etiquetas… Em suma, diria que o objectivo passa por não permitir que os géneros musicais limitem a minha criação, mas sinto que também é importante estar ciente dos locais de onde as ideias surgem. É importante saber o que é que fui ‘roubar’ aos Rotting Christ ou à Chelsea Wolfe, até para evitar fazer rip-offs demasiado evidentes! E - Formaste os A Constant Storm em 2013 e, entretanto, já lançaste dois álbuns. Como é que está a ser o caminho desde o nascimento até 2020? Com franqueza, muito gratificante. Em 2013 tinha 18 anos de idade e criei este projecto como uma espécie de caixa de areia onde teria liberdade para explorar a música de uma maneira livre e sem amarras, agulhando o percurso por onde me parecesse bem e sem ter de


Julgo que a melhor maneira de definir a minha música é precisamente através da rejeição de limites impostos por géneros, estilos e/ou tendências.

dar satisfações a ninguém. Dá-me muito gosto verificar que hoje, ao cabo de 7 anos, dois LP’s, um EP e um Live-EP, continuo com o mesmo entusiasmo por este projecto, senão mesmo mais do que nunca. E - Julgo que ainda não tens editora – estás a desenvolver algum tipo de esforço ou contactos para que possas assinar um contracto discográfico? Efetivamente não tenho editora e é, em parte, por escolha própria, uma vez que durante a história do projecto já recebi algumas propostas, sendo que um bom número delas até surgiu na resposta a contactos que fiz antes de lançar o Lava Empire. Acabei por não aceitar nenhuma, uma vez que os negócios propostos foram todos bastante desvantajosos do ponto de vista financeiro. Além do mais, nunca consegui deixar de sentir que ao encetar relação com alguma das editoras em questão existiriam muitas pressões para que me fosse direcionando cada vez mais para um género musical mais específico e conservador. Ora, isso é o exato oposto da essência daquilo que sempre quis fazer com A Constant Storm. I - Dado as bem evidentes dificuldades em conseguir contractos discográficos, achas que é possível viver da música em Portugal? Enquadrando a questão neste

meio de música mais negra (metal/dark rock/goth, etc.) onde nos inserimos, parece-me extremamente improvável, senão mesmo virtualmente impossível. Basta verificar a distância que existe entre os Moonspell e todas as outras bandas deste universo no nosso país para nos apercebemos das extremas dificuldades em singrar financeiramente. Devo dizer que penso que isto também traz vantagens, sobretudo do ponto de vista criativo: se faço música por paixão e não dependo dela para sobreviver, posso fazer rigorosamente o que me apetecer e tomar todas as decisões exclusivamente pensando na minha satisfação artística, na vez de me preocupar com a aceitação que os meus trabalhos podem, ou não, ter. E - Conta-nos um pouco mais sobre o vosso mais recente álbum - «Lava Empire». Musicalmente e estruturalmente mudaste alguma(s) coisa(s) relativamente ao EP «Storm Born» e ao álbum «Storm Alive»? Logo à partida, o disco é bastante menos virado para o Metal do que o Storm Alive, que a meu ver cabe claramente no rótulo Black/Death Metal, com algumas influências fora da caixa mas menos do que aquilo que gostaria – é um bom disco, que me faz recordar com saudade os tempos de 2016, mas com o qual já não me identifico tanto hoje em dia.

Isto não foi tanto uma escolha consciente, contudo, senão o seguir de uma tendência que fui notando cada vez mais, uma que me parece bastante natural: ouço Metal desde os meus 11 anos de idade e foi, sem qualquer dúvida, o género que me fez apaixonar pela música e querer ser músico, mas com o passar dos anos fui descobrindo outras coisas que me fizeram crescer cada vez mais como ouvinte de música. Ao crescer cada vez mais como ouvinte de música também fui crescendo cada vez mais como criador e a exploração de novos campos tornou-se uma inevitabilidade. E - Os A Constant Storm são um projecto só teu onde tocas todos os instrumentos – porque é que (ainda) não tentaste formar uma banda com mais pessoal? Sendo A Constant Storm uma extensão de mim mesmo, sinto que não faz sentido abrir o espaço criativo a qualquer outra pessoa. Isto não significa, porém, que não seja útil ir mostrando as coisas que vou compondo a amigos e outros músicos, para escutar os seus conselhos e eventualmente fazer mudanças que melhorem os temas. Isto é, de resto, algo que gosto muito de fazer. Apesar de preferir criar música sozinho, sou um bom teamworker para todo o tipo de trabalho adjacente, como divulgação, comunicação e organização de eventos, algo que deixa em aberto a possibilidade de

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Basta verificar a distância que existe entre os Moonspell e todas as outras bandas deste universo no nosso país

para nos apercebemos das extremas dificuldades em singrar financeiramente.

um dia, se decidir dar concertos com o projecto, encontrar um grupo de pessoas que se tornem na minha banda de apoio, à imagem de algo do estilo Nick Cave & The Bad Seeds, por exemplo. Talvez A Constant Storm & The… Ensemble of Lizards? Quem sabe! Devo dizer, ainda assim, que a perspetiva de dar concertos, pelo menos por agora, não me agrada particularmente: Para mim, repetir temas ao vivo é muito menos interessante do que o próprio processo criativo. E - Na minha mui modesta e humilde opinião: gostei do que ouvi, um álbum independente, muito diversificado, energético, pesado, melódico e… inteligente… e julgo que é correcto pensar que A Constant Storm é um projecto em constante evolução. Além disso, não centras a tua música num só estilo. - Podes-nos falar um pouco das tuas influências musicais e de que forma se fazem sentir em «Lava Empire»? - Falando um pouco na tal dita evolução e, sem beliscar minimamente o teu trabalho como músico, não achas que essa evolução poderia ser diferente se tivesses a contribuição de mais músicos na banda? Ou é tua ideia manter este projecto para sempre como “one man band”? Antes de mais, muito obrigado pela avaliação elogiosa. Fico muito contente por saber que o disco continua a suscitar esse tipo de reacção positiva em quem o ouve!

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Como aludi numa das perguntas anteriores, o meu espectro de influências é enorme e está em constante expansão. Ainda assim, é inegável que tenho uma clara preferência por música mais escura e intensa: Darkwave, Goth Rock, Post-Punk, Martial Industrial, Dark Folk, mas também Black Metal, Post e Sludge, Death-Doom… Em termos de artistas costumo mencionar nomes como Dead Can Dance, Ulver, Sopor Aeternus, David Bowie, Paradise Lost ou Samael, entre muitos, muitos outros… No contexto específico do Lava Empire, juntamente com todos os que referi anteriormente, noto muito a presença de ideias que fui buscar a bandas como King Crimson, pelas texturas sonoras diferentes que tentei incluir no disco; Queen, por alguma da teatralidade presente; Fields of the Nephilim ou The Sisters of Mercy pelos piscares de olho ao rock apocalíptico de temas como a “Hollow Days”; Daemonia Nymphe, Irfan e Into the Abyss nos toques étnicos de músicas como a “Pyramid at Sunset” ou a “Babylonian Complex”; Katatonia nas harmonias vocais e Billie Eilish nos sussurros com melodia em músicas como a “Blood Moon”, entre outras. Abordando a última parte da pergunta, se penso que a evolução seria diferente se compusesse com mais pessoas? Definitivamente. Não sei é se seria algo que me agradaria, uma vez que sempre quis que a obra deste projeto construísse um mosaico daquilo

que eram as minhas influências e ideias em cada passo da minha vida – e se possível gostava de morrer ainda a criar, como o David Bowie! Em suma, penso que A Constant Storm está muito bem sem mãos externas, até porque há outras bandas e projectos nos quais poderei vir a entrar no futuro e nas quais poderei criar música juntamente com outros. E - O pináculo desta diversidade é o tema que encerra o disco – “Glory to the Sun” – não é o melhor nem o pior, é diferente. Podes falar um pouco mais sobre este tema acústico e melódico que encerra o álbum? Confesso que é um dos meus favoritos, sobretudo pela maneira como fecha o disco com chave d’Ouro, tanto musicalmente como em termos temáticos. Sem me querer alongar demasiado nesta segunda parte, uma vez que ainda vou abordar a temática lírica do disco em maior detalhe mais à frente, a “Glory To The Sun” representa o final da jornada que o explorador do império fez ao longo das 9 anteriores e, justamente, o figurativo pináculo do templo. Musicalmente tem um tom muito bright e de exaltação, em contraste direto com a “Pinnnboard”, faixa anterior e que denota o momento emocional mais negro de toda a história. Para revelar um dos easter eggs que incluí no disco, aquele gongo no final da faixa lembra-vos algo? Trata-se de uma referência direta à Bohemian Rhapsody, dos Queen - Também ela uma faixa cuja temática lírica lida com temas de aceitação pessoal e exaltação pós-dificuldades e também ela uma faixa que (virtualmente) fecha o álbum em que se insere. I - Já falamos na diversidade de estilos que a tua música abarca e nas tuas influências musicais. Ao compores as canções, há esse cuidado bem pensado e estruturado para incluíres vários estilos dentro do mesmo tema, ou isso é algo que vem naturalmente?


É uma ótima pergunta, se bem que não tenho uma resposta muito definida para dar, uma vez que acho que aquilo que acaba por acontecer é uma espécie de mistura entre pensamento e inspiração momentânea: misturar vários estilos diferentes é algo que é inerente ao projecto e, como tal, tem muita influência nas decisões que acabo por tomar, mas ao mesmo tempo todas elas nascem de exploração sem rédeas. A título de exemplo posso mencionar a faixa “Atlantis”, cuja melodia principal me veio à mente quando tentei explorar algo tão vago como ‘música que soe a água’, misturando depois alguma soundscape abstrata que representasse as ondas do oceano e pautando tudo com baixo e apontamentos rítmicos de free jazz, ou a “Pinnnboard”, que nasceu da mistura entre uma nursery rhyme infantil com riffs inspirados em Post/Sludge Metal, muito ao estilo dos Amenra – uma influência que à primeira vista pode ser menos evidente mas que está muito presente no meu imaginário musical. E - Reparei que há alguns convidados: Como é que surgiu esta ideia e oportunidade de contares com estas contribuições? Logo à partida, o convidado de luxo foi o Pedro Quelhas, um grande amigo e à data ainda companheiro de banda nos Moonshade, que tratou de todo o lado da produção, gravação e masterização do disco, mas que também fez algumas orquestrações e mapeamento de bateria adicional. A nossa colaboração nasceu da amizade e histórico de trabalho que temos como músicos, mas também da minha admiração pelo seu trabalho neste lado mais técnico da música, considerando-o mesmo um dos grandes produtores da nossa cena. Do lado da performance vocal, tive a ajuda do Ricardo Pereira e da Inês Rento, minha prima e com quem partilho uma relação praticamente fraternal, devido a termos passado grandes períodos da nossa infância

e adolescência juntos. Ela é uma cantora excelente e penso que os seus talentos ficaram bem evidentes neste disco. E - Há algum conceito subjacente às letras? A temática lírica do Lava Empire foi criada em torno de uma jornada exploratória, de altos e baixos, uma espécie de epopeia. Nela, tentei entrelaçar três aspetos fundamentais, que são a base de tudo o resto: 1. Como motivo da viagem, crise pessoal - a reflexão acerca das falhas de personalidade que fustigam cada um de nós. Isto nasceu dos períodos de bloqueio criativo com os quais me debati durante os anos que antecederam a criação do disco e que foram, de resto, a motivação principal para a sua origem; 2. Como forma da viagem, exploração de uma civilização antiga e/ou império perdido - o som quente do disco e todas as cores e texturas do seu lado visual enquadram esta jornada pelo interior da mente, paralela com a exploração das regiões do império; 3. Como referência literária, a ligação à Divina Comédia de Dante Alighieri, obra que explora também uma jornada – no seu caso através da vida após a morte –, e onde viaja pelos acontecimentos da sua vida. De notar que o número 3 – triângulo / pirâmide – é, também ele, uma peça estrutural que surge espalhada por todo o disco, nas letras, imagens e mesmo em algumas das estruturas musicais dos temas. I - Dada a ecleticidade das tuas composições, acredito que consigas agradar a vários públicos diferentes. Sentes isso? Ou desagradar vários! (risos) Num tom mais sério, sinto que o ecletismo é sempre uma espada de dois gumes no que toca à apreciação por parte do público. Se por um lado é mais fácil que algumas partes agradem a certas pessoas, o simples facto das outras partes que não lhes

agradam tanto existirem, é muitas vezes o suficiente para que essa pessoa descarte o álbum na sua totalidade. No final de contas, contudo, acredito que quem seja fã de música desafiante e diferente acabará por reconhecer o esforço que foi feito no Lava Empire, no sentido de criar um disco variado e exploratório, mas também coerente e fluído. I - És daqueles artistas que já está a pensar e a estruturar os próximos discos ou EP, ou quando a altura chegar deixas a criatividade simplesmente fluir? Geralmente ando muito ao sabor daquilo que a minha criatividade intermitente permite, sendo que nos últimos tempos ela tem sido muito minha amiga (talvez seja para compensar o martírio da seca criativa que acabou por dar luz ao Lava Empire). Nesse sentido, neste momento posso partilhar que a composição do terceiro LP de A Constant Storm já vai num estado relativamente avançado. E - Para terminar, o que podemos esperar de ti num futuro próximo? A selvajaria criativa de sempre. Diria que ainda mais do que antes até, uma vez que agora que os Moonshade já deixaram de ser uma parte do meu dia-a-dia, posso dedicar a totalidade da minha atenção a A Constant Storm, o que potencia a possibilidade de várias coisas novas, na música e além dela. Como disse anteriormente, avançar para concertos ao vivo não é algo que, em si, me atraia particularmente, a não ser que eu saiba que vou conseguir fazer deles algo especial e diferente – no fundo algo que não seja apenas subir ao palco e decalcar aquilo que já está gravado. Nesse sentido, um concerto com orquestra é algo que adorava fazer e que definitivamente me daria a motivação que neste momento não existe. Facebook Youtube

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Dodici Cilindri

(porque o barulhos dos motores também é música)

Por: Carlos Filipe

Koenigsegg Gemera Dizem que é na nossa juventude ou imediatamente à adolescência que construímos os nossos heróis, qualquer que seja a vertente, a musical, a desportiva ou material, e aqui, em particular, aquele elemento de liberdade, os automóveis. De facto, no que se refere a mim, este postulado bate certo pois são os carros do final dos 80 e primeira metade dos 90 que mais me fascinaram e continuam a fascinar, tendo de certeza lugar na minha garagem de sonho, ou se calhar, era melhor arranjar desde já um armazém mesmo. Desde então, há outros carros, bem, carros há muitos. Sendo mais específico são supercarros de outrora que hoje tal como um jogo de computador chegaram ao nível seguinte, dos hipercarros – E o carro que vos trago hoje é um desses – que igualmente desejaria ter pelo novidade e janela tecnológica mas que não têm para mim o mesmo significado emocional daqueles, daquela época da juventude, mesmo sabendo que são superiores em quase tudo. Posso citar uns quantos que saíram neste últimos 20 anos como o Ferrari Enzo e LaFerrari, o Maserati MC12, o Mercedes-Benz SLR e SLS, o McLaren P1 ou o Porsche 918, para não falar na obra de arte rolante que é o Pagani huayra. Nos últimos anos temos sido bombardeados com um sem número de hipercarros de performances que nunca passaram do papel, logo duvidosas, como os Apollo, Aspark, Brabham, Czinger, Hennessay, KTM, Piech, Puritalia ou Zenvo e ultimamente o hipercarro eléctrico ainda catapultou mais a avalanche como o novo Lotus Evija, o Hispano Suiza Boulogne, o Pinnifarina Battista ou o Rimac. Por isso, e apesar dos avanços técnicos ou beleza estética destes novos carros, super caros, super exclusivo, todos vendidos quase logo ali no salão, pouco ou nada me dizem. Provavelmente, serão para os jovens de hoje os meus supercarros daquela época se o tempo o deixar, pois com tanta “oferta” nem dá tempo de saborear – Porque é que acham que o F40 se tornou um ícone? Pois, não durou só 1-2 anos, andou por aí a fazer sonhar de 1987 a 1992 e nem o seu sucessor F50 o conseguiu ofuscar – Eu pessoalmente prefiro o F50... Uma das marcas que tem conseguido impor-se na última década e mais me tem fascinado, é a criada pelo sueco Christian von Koenigsegg em 1994 apenas com 22 anos de idade, de mesmo nome de família: Koenigsegg. Desde então, esta marca tem vindo a cimentar a sua imagem no mundo automóvel com exclusivos hipercarros construído à mão em fibra de carbono e motores desenvolvidos na casa, puxando sempre pela componente tecnológica e desenvolvimento de soluções avançadas, tornando-se mesmo uma das empresas automóvel mais à frente. A primeira vez que ouvi falar desta marca foi no programa Top Gear, na série 8 (2006), onde o Jeremy Clarkson fartou-se de brincar com o nome da marca e saiu de pista com o Koenigsegg CCX disponibilidade para ensaio, recomendando que com um aileron o comportamento do carro melhoraria muito, o que o Sr. von Koenigsegg aceitou de bom grado a sugestão. Assim, volvidos 2020, um dos mais recentes carros do Sueco que me fascina é o recentemente apresentado Koenigsegg Gemera. A notação por trás do nome Gemera é a combinação das duas palavras suecas - “ge” (dar) e “mera” (mais) significa “dar mais”, o qual é um nome adequado

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para um carro que agrega recursos e funções sem tirar nada que o torne num verdadeiro hipercarro. Ou melhor dizendo, um híper GT de quatro lugares com 1700 CV (1100 CV eléctrico + 600 CV gasolina) que atinge a estonteante velocidade de 400 Km/h. É inimaginável a proeza que pode proporcionar este Gemera, o de ir a 4 num carro a 400 km/h! O Gemera combina 3 motores eléctricos, um em cada roda traseira mais um na saída da cambota do motor térmico. Isto permite ao Koenigsegg Gemera dispensar caixa de velocidades. Sim, este carro, híbrido, só tem uma velocidade, a sétima velocidade. Dispensa todas as outras intermédias como o banal dos carros. Isto é conseguido pelo facto de um dos motor eléctrico estar à saída da cambota, praticamente no local onde estaria acoplada a caixa de velocidades. O binário instantâneo do motor eléctrico, que nos carros eléctrico permite aquelas acelerações estonteantes que podem deixar qualquer Ferrari envergonhado, é o suficiente para colocar o carro em andamento e vencer facilmente a inércia do motor a combustão, dispensando volantes bimassa, prato de embraiagem e 6 relações de caixa. É directo à sétima. O motor a combustão, um biturbo de 2000 de cilindrada 3 cilindros é outra maravilha tecnológica, repleto de inovações, sendo a principal a tecnologia freevalve™, que basicamente faz o controlo dos quatro ciclos de Otto Admissão, compressão, combustão e exaustão electronicamente, dispensando toda a parafernália de engrenagens, correias e arvores de cames que mecanicamente põem um motor a funcionar desde 1860. A acção de abrir e fechar as válvulas não é mais assegurada pela árvore de cames em rotação mas sim por um sistema pneumático alimentado por uma bomba, controlado por um actuador electrónico. Este novo sistema permite o motor ser mais compacto com menos 50 mm de altura e 70 mm de largura e uma redução de peso de 15 quilos. No final são 600 CV às 7500 r/m e 600 NM retirados de um 2.0 L de carter seco com tecnologia freevalve™, o qual lhe deram o nome de “Tiny Friendly Giant” [Pequeno gigante amigo] ou simplesmente TFG. Impressionante. O Gemera funciona em todo o seu potencial com combustível E85 (85% Etanol 15% Gasolina), podendo ocasionalmente utilizar gasolina normal ou outro qualquer combustível como álcool. O Gemera é Flexfull pelo que pode andar basicamente com que combustível houver e encontrar. Equipado com três motores eléctricos, o Gemera pode andar completamente silencioso até 300 km/h, e a poderosa bateria de 800V oferece um alcance de até 50 km em modo puro Electric Veicule (EV) ou até 1000 quilómetros de autonomia combinada. Com uma distância entre eixos de 3 metros, a sua estrutura é toda em carbono e tem a feature obrigatória dos hipercarros de hoje que é as quatro rodas direcionais, para ajudar a curvar melhor este mastodonte. Um dos ex-libris da Koenigsegg é a sua abertura das portas, as quais não têm par na industria. Nós já conhecemos as portas em gaivota, as em tesoura para o lado ou para cima e as de abertura normal, mas a Koenigsegg desenvolveu o seu próprio sistema de abertura de portas helicoidal, onde na sua abertura, a porta roda literalmente e posiciona-se na horizontal. O Gemera apresenta portas gigantes Koenigsegg Automated Twisted Synchrohelix (KATSAD™) que se abrem amplamente, ficando lado a lado com o carro. As portas são desimpedidas pela ausência de pilares B, graças a um forte monocoque de carbono. A porta abre-se para revelar um espaço impressionante de quatro lugares, com igual facilidade de acesso. Este novo Mega-GT acomoda confortavelmente quatro adultos grandes, num luxo que só o preço e exclusividade deste carro o exigem, o que significa que a experiência de hipercarro Koenigsegg pode ser compartilhada com familiares e amigos. Apesar de ser de quatro lugares, o Gemera supera facilmente a maioria dos hipercarros de dois lugares, tanto de combustão, como elétricos. O Koenigsegg Gemera tem a produção limitada a 300 carros com um preço base à saída de fábrica de 1.7M €, basicamente 1.000 € por cada CV. Um carro de sonho intangível e acessível a apenas alguns, mas que não nos custa nada imaginar, sonhar, que eu saiba ainda não paga imposto. O carro era para ser apresentado no salão de Genève de 2020, o qual devido à pandemia não teve lugar. Assim, deixo-vos com a apresentação pelo homem itself, Christian von Koenigsegg: Youtube

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Versus #57

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