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EXISTENCE: VOID

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DORDEDUH

DORDEDUH

Um vazio cheio de melodia

Como se costuma dizer agora: “Primeiro estranha-se, depois entranha-se!” É o que acontece com o nome desta banda e – já agora – também com a sua música. Os amantes de Black Metal cruzado com outras influências têm aqui uma estreia – adiada – a não perder. Esperamos onze anos, mas valeu a pena, sem dúvida nenhuma.

Entrevista: CSA | Ernesto Martins

“[O lançamento] Acabou por ser um acaso da vida, não houve qualquer decisão sobre isso. Só agora os planetas se alinharam […]

Olá, Filipe! Espero que esteja tudo bem contigo e a banda. É sempre um enorme prazer descobrir que um álbum maravilhoso é… português. E é bem verdade que o Metal já anda há uns largos anos a pôr Portugal no mapa da Europa e do mundo! Filipe: Existence: Void já existe desde 2010 e está agora a lançar o seu primeiro álbum. - Foi uma decisão da banda ou um acaso? Filipe – Acabou por ser um acaso da vida, não houve qualquer decisão sobre isso. Só agora os planetas se alinharam, haha! Acabou por ser um acontecimento refém de algumas conjeturas das nossas vidas pessoais. - O que andaram a fazer durante estes 11 anos? Filipe – Além da progressão das carreiras pessoais, surgiram os Destroyers Of All, banda em que sou mais ativo. Além disso, aceitei o convite dos Grimlet para ser o seu baterista. Além disso, participei/participo em outros projetos, além da Nox Liberatio Records, e expandi a minha magazine, a The Black Planet. O Alex tem estado ocupado com um outro projeto, que irá surgir em breve. O Diogo também tem trabalhado em composições. O João mantém-se ativo nos Terror Empire, abriu o seu estúdio – o Golden Jack Studios (Coimbra) – onde foi gravado o disco. Para alegria de alguns, o João também esteve muito ocupado a compor o segundo disco dos Antichthon. - Em que medida esse percurso influenciou a música que podemos ouvir neste álbum? Filipe – Com o passar dos anos todos evoluímos como compositores e performers, enquanto o nosso gosto musical também se foi transformando. Acredito que o tempo fez com que os temas apresentados neste disco tenham maturado bem. Algumas influências descobertas durante este período também ganharam o seu lugar na nossa música.

Falando agora deste álbum, focado no vazio existencial… - Que temas abordam nele? Alex – Não diria que nos focamos no “vazio existencial”. Não gosto dessa expressão, invoca a ideia de se “sentir vazio”. Demasiado DSBM. Diria antes que abordamos o niilismo numa perspetiva filosófica, não para o celebrar ou para rebolar nele como um porco na lama, mas sim enquanto um fenómeno inevitável. Inevitável, mas não um fatalismo. Como tal, investimo-nos na sua superação, continuando a doutrina iniciada por Nietzsche. Tanto a perspetiva ocidental do niilismo quanto a oriental são abordadas, nomeadamente na forma do budismo, mas prepondera a imagética ocidental, sendo nós ocidentais. - Na edição do Eixo do Metal em que foram entrevistados, o Alex afirmou que, apesar de se tratar de um “álbum filosófico”, criou uma narrativa para o fundamentar. Sabes dizer-nos de que fala essa narrativa? Alex – Tão simplesmente, os temas acima mencionados estão revestidos de uma narrativa ocultista e iniciática, reminiscente dos Illuminati e influenciada

pela visão estética de Stanley Kubrick. Cada música tem a sua narrativa, frequentemente incorporando referências a doutrinas filosóficas, mas também elementos tradicionais. Tomese, como exemplo, a “Old Saint”, na qual está presente uma clara alusão à lenda da “Santa Compaña”, uma procissão assombrada tradicional do Norte de Espanha e Portugal. A lenda conjuga-se com o personagem de “Assim Falava Zarathustra” homónimo da música. Convido os ouvintes a investigar o texto de cada letra, se quiserem encontrar o significado último de cada música. - Neste disco, o Alex usa vocais de um estilo mais para o gritado e não tanto o registo áspero típico do Black Metal que usou nos Antichthon. De onde veio esta ideia? Há alguma razão especial para esta abordagem diferente? Alex – Houve sim. Enquanto vocalista, acredito que cada projeto merece uma voz diferente, ainda que só ligeiramente. Cada projeto tem o seu contexto e as vozes devem adaptar-se. Não gosto da ideia de se ser um “one trick poney”. Neste caso, as músicas foram compostas pelo Diogo. Como tal, pesquisei que género de vocais prevalecia entre os projetos que o influenciaram, como Cult of Luna, e deixei-me influenciar na mesma medida. Senti também que Existence:Void quereria uma voz mais humana e não somente monstruosa. Note-se, porém, que estão as duas presentes. - Quem vos fez a capa e como a relacionam com o tema do álbum? Alex – Trata-se de um fragmento do quadro de John Martin, “The Great Day of His Wrath”, pintado em 1851. A pedra ardente que domina o céu da sua paisagem foi hipnótica para nós. É uma paisagem bíblica na qual o mundo é mastigado pelos dentes de Deus, um cenário de destruição. John Martin não calcularia, penso, que esta imagem se assemelhasse tanto à ideia contemporânea da criação do mundo, do berço vulcânico que foi em tempos o nosso planeta. Eis como se relaciona com «Anatman». Esta tempestade de fogo conjurada pelo divino é uma representação do poder que há no Universo, que existe não para o ser humano, nem por causa dele, mas apesar dele. O “cosmicismo” de H.P. Lovecraft como destruidor do solipsismo humanista. - De entrevistas anteriores, já soubemos que a banda engavetou o álbum em 2011 por não estar satisfeita com a produção e por não ter, nessa altura, as condições técnicas que permitissem obter uma gravação melhor. Mas por que razão não procuraram, na altura, as condições necessárias, eventualmente fora de Coimbra e até com um produtor externo? É que fica a ideia que tinha tudo de ser feito necessariamente no Golden Jack Studios. Porquê? Filipe – Talvez devido à falta de alguns fatores tais como conhecimento, verbas e disponibilidade. Naquela altura, o Golden Jack Studios não existia, nem estava planeado existir. Decidimos esperar até haver condições e disponibilidade, até conseguirmos atingir a qualidade que achávamos que a nossa música merecia para ser veiculada. Apressar as coisas geralmente dá mau resultado. - Face à excelente receção que o álbum está a suscitar, não vos ocorre agora que tinham uma pérola demasiado preciosa para estar escondida do mundo durante tanto tempo? Alex – Vários fatores alinharam-

“É uma regravação de tudo o que fizemos em 2011, sim. Mas as composições foram refinadas e também as letras reescritas e melhoradas.

se para, finalmente, permitir o lançamento deste trabalho. Fizemo-lo primeiramente para nós. Para o lançar para os outros, porém, foi crucial reunir as condições certas para garantir um lançamento dignamente trabalhado. Esse momento foi agora e, com o Golden Jack Studio firmemente estabelecido, novos lançamentos virão facilmente. Na altura, separados por fronteiras e diferentes projetos, simplesmente não tivemos oportunidade de o fazer. Filipe – É possível! No entanto, mais vale tarde que nunca. Quantos discos te vêm à memória que poderiam gozar de maior impacto, se tivessem uma produção em condições? Estou feliz que tenha finalmente saído, parece ser a altura certa. No entanto, também sinto que o disco está a passar ao lado de muita gente, infelizmente. - Este disco inclui todo o material que gravaram originalmente em 2011 ou ficou alguma coisa de fora? Alex – É uma regravação de tudo o que fizemos em 2011, sim. Mas as composições foram refinadas e também as letras reescritas e melhoradas. De facto, temos composições novas, mas preferimos excluí-las deste lançamento e poupá-las para um próximo, mesmo ficando este álbum com uma duração reduzida. Tudo por uma questão de consistência, visto que evoluímos nas nossas composições desde então.

Desta vez, apostaram numa combinação de editoras nacionais. Há alguma editora estrangeira que tente os Existence: Void? [Nos comentários à vossa entrevista no Eixo do Metal, alguém sugeriu a Season of Mist.] Filipe – Falou-se na Season of Mist, Transcending Obscurity e outras... Mas estamos bem como estamos. Somos muito valorizados pela Nox Liberatio e pela Gruesome.

Como veem a perspetiva de virem a fazer concertos? Alex – Estamos abertos à possibilidade. Porém não será fácil, dado que membros-chave estão separados por países diferentes. Gostaríamos que acontecesse, claro, mas procurando apostar na qualidade antes da quantidade. Pelo menos um concerto grande e memorável é o nosso objetivo próximo.

Já pensaram na hipótese de fazer algum evento em streaming, opção que muitas bandas têm adotado nestes últimos tempos? Filipe – Sim, porém acreditamos que um evento ao vivo transmite muito melhor a nossa energia e atmosfera. Novamente, mais vale tarde que nunca.

Tendo em conta que tudo o que está em «Anatman» é material “antigo”, faz sentido perguntar se já estão a trabalhar em composições novas? Como estão a sair? Alex – Sim, estamos. Posso dizer que há uma evolução, mas que, sendo o Diogo o compositor, a alma característica das suas composições mantém-se. Devo lembrar que todos nós compomos, e podemos pontualmente contribuir com uma ideia, mas as composições de cada um estão destinadas a projetos diferentes, alguns prestes a sair pelo Golden Jack Studios. Fiquem atentos. Filipe – Muito obrigado pelo vosso interesse e pelo apoio na divulgação! Um abraço a todos.

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