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CARCOLH

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MOON ORACLE

MOON ORACLE

Vida entregue ao doom

«The Life And Works Of Death» é o segundo disco dos franceses Carcolh. Começaram a trabalhar nele mal tinham acabado de lançar o primeiro, perdoem-me a rima, mas isto é um verdadeiro salto de carneiro! Aficionados pelo doom metal, alcançaram um pleno de criatividade espelhado nas músicas, letras e artwork…tudo feito entre amigos. Estivemos à conversa com Sébastien Fanton que nos falou orgulhosamente deste trabalho.

Entrevista: Emanuel Roriz

Aqui estão vocês com o vosso segundo álbum. Como tem sido a vossa história até aqui? De que forma se têm mantido activos desde o lançamento do primeiro disco «Rising Sons Of Saturn»? Sébastien Fanton: Bem, nós concentramo-nos principalmente na composição deste segundo disco. O Quentin e o Olivier apareciam sempre com ideias já muito avançadas, que nós terminávamos em conjunto na sala de ensaios. Posso-te até dizer que nos focamos quase exclusivamente na escrita deste «The Life And Works Of Death» logo após o lançamento do primeiro álbum. O «Rising Sons Of Saturn» foi muito bem recebido por uma mão-cheia de entusiastas, mas com este novo trabalho estamos prontos para conquistar o mundo! Falando a sério, alguns aspectos do primeiro álbum deixam-nos um pouco frustrados e não queríamos, de maneira nenhuma, repetir os mesmos erros no novo disco. Queríamos mais peso, mais melancolia, mais escuridão. Penso que fizemos uma dúzia de concertos, o que não é muito, todos eles organizados pela malta verdadeiramente activista das organizações Metal Is The Law/ Cabale, ou pelo pessoal da Late Heretic/Void.

Assim que comecei a ouvir o TLAWOD, fui assaltado por um sentimento que já não experienciava faz tempo. Os Carcolh dão uma enorme importância ao riff. Consideramno o cerne da vossa criatividade? Muito obrigado! Dentro da banda ouvimos muitos e variados estilos, mas como fãs de metal tradicional, um bom riff de guitarra que te faz ter vontade de partir a loiça toda, é a base de tudo. Ainda que na forma estejamos longe de uns Priest ou Savatage, por exemplo, nós temos esta cultura em nós desde a nossa infância. Portanto, sim, acredito que o riff é um componente fundamental na composição, que quando combinado com a experiência das dificuldades das

“Ainda que na forma estejamos longe de uns Priest ou Savatage, por

exemplo, nós temos esta cultura em nós desde a nossa infância.

nossas vidas, que todos temos de enfrentar, e também com uma visão extremamente pessimista da humanidade, isso resulta na música dos Carcolh.

É fácil perceber que o nome Carcolh está relacionado com uma figura do folclore francês. De onde veio esta inspiração e o que representa ela? Nós achamos que seria coerente que tivéssemos um nome relacionado com a nossa própria cultura. Então, quando o Quentin encontrou este nome bizarro de uma criatura ancerstral da nossa região, associada a toda esta mitologia obscura em torno da vila de Hastingues, nós pensamos para nós próprios: “fuck!! É perfeito”. É notória a evolução que tiveram do primeiro para o segundo disco. Parece-me haver uma abordagem mais madura ao processo de composição e à forma como colocam todas as peças juntas. Também vocês têm esta percepção? Claro que sim! O primeiro disco foi composto e gravado logo de seguida. Este segundo disco já teve um processo de composição que se estendeu por um maior período de tempo. Eu também penso que é possível perceber isso. Acredito, tentando não ser pretensioso, que todos os elementos progrediram individualmente e que temos agora uma orientação musical muito mais clara. O facto de sermos todos amigos muito próximos, ajuda bastante em termos de coesão.

A imagem e o trabalho de arte neste novo disco também apresentam uma abordagem com maior detalhe e dedicação. Quais foram as vossas preocupações neste campo? É trabalho de um amigo do Benoit, o nosso baterista. Ele criou esta belíssima pintura a óleo, com a imagem que adorna o nosso disco. Chama-se J.R. Erebe, é um verdadeiro artista que também faz esculturas…nós enviamos-lhe as músicas e as letras e este foi o resultado final. Espantoso! Até nos engasgamos quando vimos o trabalho completo. Também decidimos alterar o logo do nosso nome. Foi um outro amigo do Benoit, o Flo Brouard, que tomou conta dessa parte. Nós queríamos algo que não deixasse qualquer dúvida sobre o estilo de metal que praticamos no disco. O logo antigo fazia lembrar uma vulva ou qualquer coisa para fumadores de cachimbo de água.

As vossas canções são na sua maioria lentas, vivendo de acordo com as regras do doom metal, mas com surpreendentes mudanças de direcção, tal como podemos experienciar na secção final do tema “From Dark Ages They Came”. O conceito das vossas letras também segue a vibração das partes instrumentais? Sobre que tipo de assuntos te podemos ler enquanto ouvimos este «The Life And Works Of Death»? Normalmente, sinto-me embaraçado quando tenho de falar sobre as minhas letras, mas vou tentar. Inicialmente, a ideia era a de apresentar um disco com uma coleção de pequenas histórias em que o tema central seria a morte, a sua omnipresença. Os textos dos Carcolh são de natureza abstracta. “The Blind Godess”, por exemplo, foi escrito após um sonho em que a natureza furiosa nos varreu da superfície da terra; “Works Of Death” é uma história do fantástico, provavelmente influenciada por Edgar Allan Poe; “When The Embers Light The Way” é uma descrição de uma espécie de purgatório, com um ponto de vista de um dos seus ocupantes; “Sepulchre” já é mais difícil de explicar…é sobre o vazio, o infinito, amor…e morte. O texto de “Aftermath” é um poema de Frank Walker, ele que foi um soldado da primeira guerra mundial e é absolutamente bonito. Fala por ele próprio…

“Nós achamos que seria coerente que tivéssemos

um nome relacionado com a nossa própria cultura.

Os membros dos Carcolh são provenientes de muitos outros projectos musicais. O doom metal é aqui o denominador comum? Ah sim! De facto é um estilo musical que todos adoramos desde há muito tempo. E não nos esqueçamos do dinheiro, fama e mulheres…este é o maior denominador comum! Nós temos cerca de 500 seguidores no Facebook, o que faz de nós um fenómeno social como os Beatles no seu tempo.

A pandemia provocada pela COVID-19 atrasou ou cancelou alguns dos vossos planos? Neste momento já têm alguns planos confirmados no que toca a próximos concertos de divulgação deste novo disco? Infelizmente, não temos nada agendado de momento. Mas, tal como é, provavelmente, o caso de muitos outros músicos, tentaremos dar alguns concertos de forma a “defendermos” este novo disco em cima do palco, logo que seja possível.-

Podemos contar com uma visita vossa a Portugal em breve? Eu adoraria! Por esta altura é difícil considerar-nos como um grupo “não profissional”. Parece-me óbvio que as coisas irão mudar após a pandemia, teremos de nos adaptar, tal como temos vindo a fazer até então. Veremos! Obrigado uma vez mais por ouvirem o nosso disco e pelas vossas questões! Mantenham a fé!

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