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MISS LAVA

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RAGE

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Eduardo e Emanuel: Antes de mais, parabéns, se bem que um pouco atrasados, pela excepcionalidade de álbum. Ricardo: Obrigado, antes de mais, pelo cumprimento, nunca é tarde para sermos elogiados! (risos)

Eduardo: Ouvi várias vezes «Doom Machine» e acho que vocês deram um passo de gigante comparativamente ao álbum anterior, não que «Sonic Derbis» seja mau – nem por sombras, só acho é que este está mesmo excelente. - De um álbum para o outro o que é que mudou – se é que mudou – na vossa vossa forma de pensar e fazer música? Ricardo: Penso que em Sonic Debris, a banda procurou fazer a criação e desenvolvimento das músicas da forma mais criativa e livre que conseguia, havendo também uma enorme vontade de cada elemento de acrescentar e meter ideias no bolo geral. O disco foi feito com uma mudança na formação da banda, na forma de abordar a composição das músicas e de as gravar. Neste disco, tínhamos a ideia de criação do disco assente na experimentação instrumental e lírica, levar jams do início ao fim de cada ensaio, gravando esse exercício e escolhendo os esqueletos que gostássemos mais para depois desenvolver. Acredito que o facto de termos começado e arrancado esse processo algumas vezes, aliado a que o Johnny tenha estado muito tempo a trabalhar em Angola, o que nos deu “carta branca”, para exagerar no experimentalismo, sem que se definisse logo onde entraria a voz, versos refrão etc., e tudo junto, adicionado a um trabalho incrível de vozes, deu este Doom Machine. - Podemos considerar que «Doom Machine» é um álbum intenso e conceptual, fruto dos acontecimentos (e destes tempos pandémicos) que a banda passou (e está a passar)? Ricardo: Os tempos pandémicos não tiveram influência sobre a criação do disco, apenas na data de lançamento e plano de divulgação. Todos os acontecimentos pessoais e do ambiente que nos rodeia foram decisivamente influentes para o disco. Não sei se conceptual, contando uma narrativa do início ao fim, mas criámos definitivamente uma ideia base, para novos aditivos à nossa obra, como são os interlúdios, o psicadelismo e experimentação à volta da escrita das músicas, as letras e a própria forma como gravámos. - Esta frase, pelo Johnny Lee, intrigou-me: “Este álbum reflete como cada um de nós pode gerar um poder autodestrutivo e projetá-lo à sua volta... tornandose parte de uma máquina de destruição global.”. Que poder autodestrutivo é esse e, no fundo, o que levou o Johnny a escrever esta frase? Ricardo: Diria que a forma como o mundo é hoje um lugar de cada vez maiores extremos. Podíamos falar dos incríveis avanços tecnológicos, de consciências ecológicas e afins, mas a verdade é que prolifera com muito maior velocidade, o ódio, o egoísmo e o extremar de posições das pessoas, quanto a política, relações etc. Hoje é possível incendiar a opinião pública com um tweet e aquilo a que o Johnny se refere nessa frase específica, mas integrada um pouco por todas as letras, é que estamos numa era perigosa, em que algumas pessoas têm um poder gigante, mas que o adquirem ou desenvolvem com base nessa projeção destrutiva e de ódio.

“[...]tivemos momentos de exploração musical incríveis, onde nos “mandámos para fora de pé” e conseguimos resultados que gostamos muito de ouvir e ler.

Eduardo: “O disco carrega o calor e a alma de uma banda cheia de vigor e talvez os demónios destes tumultuosos tempos.” Agora, que já passou algum tempo sobre o lançamento do álbum, esses demónios já foram expurgados? Ricardo: Existem alguns desses demónios que tocam a banda como um grupo, mas que são muito pessoais. Sentimos esse vigor na criação do disco e tivemos momentos de exploração musical incríveis, onde nos “mandámos para fora de pé” e conseguimos resultados que gostamos muito de ouvir e ler. Os demónios e santos que acompanham os Miss Lava, estão pacientemente a aguardar para serem libertados, em palco!

Emanuel: Deixem-me começar por dizer que ouvir este «Doom Machine» deixam-me ansioso para vos poder ver em concerto! Este novo disco tem essa inspiração de música orientada para o momento ao vivo? Ricardo: Vou dar uma resposta muito pessoal. Durante alguns anos fui um dos gajos que ficam na fila da frente a cantar as músicas de Miss Lava e a levar com o suor do Johnny. Pode parecer que a música é criada, a pensar no seu efeito ao vivo. Não é! Acredito que a enorme diversidade de bandas e estilos que cada um ouve, em determinado momento, nos leva a criar um riff de guitarra ou baixo mais catchy ou não, assim como neste disco, pareceme, existir uma bonita dinâmica entre momentos muito rápidos e ferozes, e outros calmos, em que me imagino a adorar, na plateia, sentir a banda a ir muito abaixo, ouvindo-se o sussurrar da sala… Mas no real fim de contas, se pensar por 2 segundos, diria que a capacidade do Johnny para fazer refrões orelhudos muitas vezes e outras seguir a maioria dos outros 3 elementos, quando não lhe apetece ir por esse caminho, acaba por ser o detalhe que poderá fazer da música de Miss Lava soar “feita para palco”. Emanuel: A promoção do novo trabalho foi bastante apoiada pelo lançamento dos vídeos das músicas "Fourth Dimension" e "The Great Divide". Falem-nos sobre esta parte do projecto. (Realização / Equipa de Produção / Ideia / Local de gravação) Raffah: Nós sempre gostámos muito de juntar outros artistas e disciplinas ao nosso projeto, pessoas que estejam em sintonia connosco. No caso dos vídeos, esse click deu-se com o José Dinis, grande amigo e baixista do Dollar Llama. Ele é realizador e desde o primeiro vídeo que fizemos com ele para a “Black Unicorn” que a sintonia foi imediata. Quase não pedimos alterações às edições. No caso da “Fourth Dimension” quisemos ter um vídeo de performance, mostrando não só a banda após um hiato de 4 anos entre edições, mas também o vibe com que o disco tinha sido criado – fruto de jams. Em cima disso, reforçámos a mensagem da letra com um conceito narrativo baseado na “Alegoria da caverna” - muitas vezes temos de sair da caverna em que estamos, deixar de ler/ver apenas nas sombras e ver o que está lá fora por nós mesmos. Quanto ao “The Great Divide”, o Zé Dinis teve logo a ideia do vídeo e partilhou connosco como sendo uma narrativa que implicava uma produção com maior “esforço”. Desde o início acreditámos na sua ideia e o J. Garcia sugeriu filmarmos nas Minas de São Domingos, no Alentejo. O setting era mágico. Foi uma grande experiência e acredito que o vídeo passa uma visão apolítica, tal como a música, passando sempre uma mensagem de esperança.

Emanuel: Sabemos que hoje em dia com as vendas on-line é possível ultrapassar qualquer barreira, mas a presença física terá sempre a sua importância. Estando a edição do disco a cargo da editora norte-americana Small Stone, até onde vai ser possível levar este disco? Ricardo: Não conseguimos ter ideia. Claro que as vendas fisicas representam uma parte fundamental das vendas que conseguimos fazer. Isso é feito sobretudo com concertos, festivais etc. Previsões para termos isso tudo a acontecer em tempo útil de divulgação do disco? impossível prever, contudo, pelos feedbacks e reviews que têm surgido, por vezes pensamos “bem, com este disco íamos correr muitas capelinhas, de certeza!”, mas no fim do dia, vamos só aguardar, estar preparados, ensaiar, promover o disco da maneira possível, e quando surgirem oportunidades interessantes para tocar ao vivo e em segurança, vamos a correr!

Eduardo: Vocês já tocaram no mítico Whisky a Go-Go em Los Angeles e já partilharam palco com bandas como os QOTSA e… W.A.S.P. - Qual foi a sensação de tocar nessa sala e com essas bandas? Raffah: Foram todas muito diferentes. Posso dizer que no Whisky a Go-Go todo o contexto da viagem, os ensaios lá e etc tornam essas experiências inesquecíveis. Era um cartaz com muitas bandas, em que apenas tínhamos tempo para line check e à última da hora estava até a ver que uma das bandas não me emprestava o amp para tocar! No fim tudo se resolveu e até tínhamos na plateia o Dave The Snake Sabo dos Skid Row, que estava na entourage de umas das outras bandas que tocaram, os California Windfall. É engraçado olhar para trás e ver que o baixista dessa banda na altura é hoje o guitarrista e mentor dos Hippie Death Cult, excelente banda que tem estado a fazer furor na cena stoner underground a nível mundial. Quando abrimos para os QOTSA, foi no palco principal de um SBSR cheiinho. Foi aquela sensação de subires ao palco e ouvires o “rrrooooarrr” do público. Entra por todos os teus poros e dáte uma energia incrível. Quando os QOTSA chegaram ao backstage, já durante o concerto do Gary Clarke

Jr., foram supersimpáticos. O Josh então, tirou fotos e fez piadas com toda a gente. 5 estrelas. Quanto aos WASP a história é outra. Sempre adorámos os WASP e alguns de nós cresceram a ouvir a banda. Fomos muito bem tratados pela organização do festival e o concerto em si correu de forma perfeita. Mesmo sendo uma banda stoner no meio de um cartaz assumidamente mais “clássico”, a reação foi do público foi muito boa. E aquela sala – Campo Pequeno – é mágica. No fim da noite, estávamos nós no nosso camarim a beber copos, aparece o guitarrista dos WASP em tronco nu a expulsar-nos e a dizer-nos que já não devíamos estar ali e que eles eram os WASP e etc e nós nada. Ainda deve viver na ilusão que criou nos anos 80. - Como disse o Emanuel, com a edição do álbum pela Small Stone e dada a excelência do álbum, vocês sentem que, com esta pandemia, perderam de alguma forma a oportunidade de se darem a conhecer ainda mais no gigantesco mercado Norte Americano? Ricardo: Sentimos de certa forma, que este disco poderia dar-nos mais algum reconhecimento e sobretudo oportunidades de experimentar palcos, países e realidades novas para nós.

Emanuel: «Doom Machine» tem também edição em vinil. É uma edição para colecionadores? Qual o significado que tem para vocês editarem neste formato e o que é que esta edição em especial tem para oferecer ao apreciador de música? Ricardo: Eu sou bom gajo para responder a isto! Sou o único da banda que não tem gira discos! A minha coleção de vinis é a do Johnny, é lá que babo com aqueles discos todos! Diria que a compra de um album de música em formato físico é por si só, hoje em dia, um acto de colecionador. A forma como se ouve música mudou radicalmente e tanto as pessoas que nos ouvem, como as pessoas que seguem este tipo de música, valorizam o formato vinil, que acaba por ser, artisticamente, algo mais interessante do que o formato CD, embora também o façamos, porque também ainda existem algumas pessoas, como eu, que utilizam esse formato. Além de tudo isto, a banda tem uma relação íntima com a arte e criação visual dos discos e é na capa de um vinil que essa arte tem mais espaço para se evidenciar.

“[...] a banda tem uma relação íntima com a arte e criação visual dos discos e é na capa de um vinil que essa arte tem mais espaço para se evidenciar.

Emanuel: Estão anunciadas 3 músicas extra na edição em CD e Digital do disco. Qual a origem destas faixas bónus? Ricardo: São músicas que gostamos muito, tanto como as que estão no vinil, mas que dadas as limitações de tempo associadas ao vinil, tínhamos de retirar 3, que poderiam surgir como bonus no CD. Achámos que as restantes faziam um bolo mais homogêneo no vinil e que estas dariam um bom “encore” para o CD. É também uma oportunidade para quem estiver indeciso entre comprar o vinil ou o CD, de ficar com os dois formatos! (risos)

Emanuel: Neste momento é difícil fazer previsões sobre apresentações ao vivo. De qualquer forma, têm já algo idealizado sobre como pretendem mostrar o disco ao público? Ricardo: Tentar tocar o disco, se não na integra, dependendo dos tempos de set, praticamente todo, duma ponta a outra. Temos já em andamento, a preparação de gravações live para festivais e 2 concertos em festivais em Espanha a acontecer em maio e setembro.

Emanuel: Infelizmente a pandemia que enfrentamos levou a que o conceito de música ao vivo tivesse de ser adaptada. Veem com bons olhos os concertos para gente sentada e com limitações espaciais. Ou preferem aguardar até que isto melhore para que a experiência possa ser o mais intensa possível de novo? Ricardo: Não abordámos este tema em conjunto, mas no que a mim diz respeito, vejo com bons olhos permitirem aos promotores, às casas de concertos e bares, delinearem uma estratégia que os permita trabalhar, que devolva isso a toda gente envolvido na cultura e espetáculo. Se a fórmula inicial for com limitações espaciais e lugares sentados, pois que seja. Quantos espetáculos e festivais não eram já realizados com casas a “meio gás” ou lugares sentados? Claro que em estilos musicais como o de Miss Lava, o calor humano e a proximidade entre bandas e público, são fundamentais, bem como a bilheteira, para promotores, bandas e todos os envolvidos na criação do espetáculo. Ainda assim, a solução inicial deveria estar em marcha, e suponho que todos os envolvidos dirão que importa é começar por algum lado.

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