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VICKY PSARAKIS
Com ascendência grega, embora nascida e criada nos estados unidos, Vicky Psarakis dedicou a sua vida à música desde cedo. Catapultada para a fama quando agarrou sem hesitar o posto de frontwoman deixado vago por Alissa White-Gluz nos The Agonist quando esta migrou para os Arch Enemy, Psarakis fez-nos uma retrospetiva da sua vida artística e pessoal.
Entrevista: Dico | Fotos: Cedidas por Vicky Psarakis
Nasceste em Chicago [Estados Unidos] mas tens ascendência grega. Aliás, aos 10 anos foste viver para a Grécia. De que forma a cultura europeia influenciou a tua vida e o teu trabalho? Sim, com efeito mudei-me para a Grécia aos 10 anos. Inicialmente senti algum choque cultural, mas dado que era muito jovem e sabia falar grego adaptei-me sem dificuldade. Após ingressar nos The Agonist decidi regressar a Chicago para ficar próxima da banda. O maior impacto de ter vivido em dois ambientes radicalmente distintos manifestou-se em particular na forma como observo o mundo. Foi um verdadeiro abreolhos. Compreender e apreciar as diferenças culturais tornou-se algo intrínseco em mim. Estou muito grata por ter tido essa oportunidade.
Como é que a música e em particular o Metal chegaram à tua vida? Tens antecedentes familiares musicais? Não, de todo. Os meus pais não têm ouvido nenhum para a música [risos]. Não ouvem Metal, nem mesmo Rock. Apesar disso, canto
desde sempre. Comecei a fazêlo na escola, em coros de igreja, etc., mas apenas na adolescência, quando ouvi grupos de Rock e Metal pela primeira vez, senti necessidade de fazer música.
Frequentaste aulas de canto? Sim, durante dois anos, mas não me sentia confortável. Para o meu caso não era a forma certa de cantar, portanto desisti e torneime autodidata na aprendizagem de outras técnicas. O que realmente me ajudou foi ouvir outros cantores, de todos os géneros musicais, e experimentar com base nisso. Foi assim que comecei a publicar covers de voz no Youtube. Foi uma espécie de desafio que me permitiu aprender e expandir o meu conhecimento vocal. A tua carreira musical iniciou-se de forma mais séria nos E.V.E., com quem gravaste o EP autointitulado Equations Vanquish Equality. Como foi essa primeira experiência? Fiz algumas coisas antes dos E.V.E. mas sim, pode dizer-se que esse foi o meu primeiro lançamento oficial enquanto vocalista e compositora. A principal razão pela qual me juntei à banda foi a escassez de bons grupos gregos sem vocalista feminina. Sempre gostei de ouvir cantoras no Metal, mas naquela época a maioria das vocalistas atuava em grupos de Metal Gótico e Sinfónico, numa interpretação operática. Decididamente, não queria fazer isso. Integrar os E.V.E. foi uma fixe. Trabalhei com ótimos músicos que me permitiram dar vida às minhas canções. Os E.V.E. sempre foram mais um projeto de estúdio do que uma banda ao vivo, daí nunca termos chegado muito longe. Em seguida gravaste o álbum de estreia, autointitulado, dos Rage of Romance. Este registo chamou a atenção dos The Agonist quando a Alissa White-Gluzz abandonou para integrar os Arch Enemy. Como tem sido a experiência de preencher o lugar dela? Na verdade, os The Agonist descobriram-me antes o álbum ser editado, através das covers disponibilizadas no Youtube. Gravei o álbum dos Rage of Romance mas nunca fui membro permanente do projeto, que, na essência, também se circunscrevia ao estúdio. Por outro lado, não julgo ter substituído ninguém. Quando eles [The Agonist] me ofereceram o lugar de vocalista aceitei imediatamente, embora ainda não fosse fã (à exceção de «Thank You Pain» não conhecia a obra deles). Ao contrário do que possa julgar-se não fui logo ouvir o fundo de catálogo com a intenção de “copiar” a Alissa. Esta foi, isso sim, uma oportunidade para fazer música com mais quatro pessoas. Penso que esta abordagem me tem permitido manter a sanidade mental. Os fãs irão sempre comparar-nos [Vicy Psarakis e Alissa White-Gluz], é uma inevitabilidade. Estava ciente disso quando me juntei à banda. Logo, não é algo que me preocupe.
Sentiste o apoio dos fãs desde o início ou foi um longo processo? Houve alguma resistência? Sim e não. Algumas pessoas aceitaram-me de imediato, aquelas a quem podemos chamar “verdadeiros fãs” da banda. Quem seguia os The Agonist meramente por causa da Alissa não mais nos seguiu, mas esse fenómeno é-me alheio. Independentemente de quem a substituísse a reação seria a mesma, julgo. Mas, como disse, tal não me preocupa. Concentrome apenas naquilo que posso controlar. Limitei-me a dar o meu melhor e a empregar o meu estilo ao serviço da banda. O meu objetivo é tornarme constantemente uma versão melhor de mim própria. “ [Sobre aulas de canto] Para o meu caso não era Orphans chegou às lojas com chancela Rodeostar Records. Porquê esta mudança da Napalm Records para a Rodeostar? A Napalm Records poderá a forma certa de cantar, certamente responder melhor a essa pergunta. portanto desisti e tornei-me Como sabes, a edição de um disco envolve autodidata na aprendizagem múltiplos fatores e, por vezes, a indústria musical de outras técnicas. é estranha. Posso apenas dizer-te que houve quem, nos “bastidores”, tentasse impedir o lançamento deste álbum. Portanto, fizemos o que tínhamos de fazer para o editar. As préencomendas do encontram-se disponíveis no site da Napalm. Continuamos a usar os recursos e as redes sociais da editora, portanto a diferença não é muita. Enquanto artista convidada já gravaste para os Barque of Dante, Collector, Daylight Misery, Mythodea, Orion’s Reign ou Until Rain. Estas participações especiais constituem uma forma de experimentares diferentes abordagens musicais e, simultaneamente, enriqueceres a tua carreira e técnica vocal?
Sim, claro. Sinto-me lisonjeada quando outras bandas me convidam para gravar em temas seus. É impossível aceitar todas as ofertas, mas adoro música e explorar todos os géneros musicais, portanto divirto-me sempre.
Sendo tu uma mulher inserida numa indústria maioritariamente de homens, sentes que a mentalidade machista ainda se encontra muito enraizada na sociedade? Não, não creio. Somos como somos, todos temos a nossa personalidade. Existe machismo? Sem dúvida, mas julgo que, acima de tudo, tentamos cada vez menos adaptar-nos aos padrões sociais. Ao invés, procuramos as pessoas quem realmente nos sentimos bem. Já foste sexualmente assediada por fãs ou agentes da indústria musical? Existe alguma situação que desejes partilhar? Nada que não pudesse enfrentar. Obviamente que há “esquisitóides” ocasionais nos espetáculos e mensagens de stalkers nas redes sociais, mas todas as mulheres passam por isso, mais cedo ou mais tarde. A minha vantagem é estar numa banda com quatro gajos — sei que eles me protegem, independentemente da situação.
“Groupie” é um termo unicamente associado às mulheres. Na tua perspetiva faz sentido aplicá-lo aos homens? Existem “groupies masculinos”? Bem podes dizê-lo. Efetivamente, não existe um sinónimo para os homens, portanto, por que não criá-lo?
De que forma vês, atualmente, o papel das mulheres num mundo construído por homens? Entendes que existe igualdade salarial, igualdade a nível laboral e de oportunidades de carreira, por exemplo? Acho absurdo afirmar que vivemos num mundo construído por homens, em especial na atualidade. Vivemos o melhor momento histórico possível relativamente ao papel das mulheres na sociedade. É fundamental perceber que cada sexo tem as respetivas forças e fraquezas. Há determinadas profissões ou competências que “encaixam” melhor num género do que noutro. Os homens são naturalmente mais fortes do que as mulheres em termos físicos, ao passo que as mulheres são mais empáticas. Não há mal nisso. É completamente ultrapassada a preconceção de que esses padrões são inultrapassáveis, impossibilitando a prossecução de algo que não se “encaixe” num determinado género.
Como analisas as mudanças políticas que têm ocorrido na Europa ao longo da última década, com o crescente apoio aos partidos de extrema-direita em vários países do Continente? Bom, não resido na Europa desde 2013, portanto não poderei pronunciar-me da melhor forma acerca deste assunto. Na minha perspetiva, existe uma enorme diferença entre viver na pele uma situação em curso e apenas ter conhecimento dela através dos órgãos de comunicação social. Por outro lado, a política em geral é uma matéria que implica um profundo envolvimento e uma vasta pesquisa antes de formarmos e expressarmos uma opinião devidamente consolidada. Muita gente dá opiniões totalmente infundadas e eu não quero ser uma dessas pessoas.