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THERION

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OMITIR

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2020 tem sido o ano mais desafiante que alguma vez vivemos. O mundo ficou parado diante de uma pandemia, mas isso não te impediu realmente de continuar a trabalhar pois não? Poderias dizer-nos o que tepassou pela cabeça e te empurrou para a composição e lançamento de um novo álbum? Christopher Johnsson - Na verdade, nós fomos bastante produtivos. Escrevemos mais de 40 músicas e decidimos fazer 3 álbuns. Leviathan é o primeiro discos da trilogia e assim que terminamos a mistura, decidimos simplesmente continuar a gravar. Já temos mais de metade do Leviathan 2 gravado e, assim que estiver pronto vamos gravar a terceira parte. Sabes, nós não vamos entrar em digressão no futuro próximo e em vez de ficarmos em casa a olhar para as paredes e a lamentarmo-nos, porque não gravar uma vez que já temos o material composto? E a razão de termos tantas músicas compostas é porque eu e o Thomas tornamo-nos numa excelente equipa de composição. Muitas ideias que normalmente não estariam prontas, por exemplo se eu tiver dois riffs bons e uma boa melodia vocal ou orquestração e não fizer disto uma música dos Therion, eu não passo normalmente este material para mais ninguém. Fica tudo guardado no meu computador e, eventualmente, num domingo mais chuvoso volto a pegar nesse material. Desta vez, decidimos mandar tudo um ao outro. Mesmo que eu não tenho um tema pronto, mas apenas a sua ideia, eu simplesmente mandava o que tinha ao Thomas e talvez ele tivesse mais algumas ideias e pudesse continuar com a composição. E, eventualmente, chegávamos sempre à forma final da música e a um tema completo. Portanto, escrevemos bastantes músicas assim, mas o Thomas também me enviou bastante material que normalmente não entraria num álbum dos Therion. Eu dizia-lhe sempre para me mandar todo o material que tinha mesmo que ele achasse que não fazia sentido para Therion. Eu pegava depois nessas ideias e mudava-as para ficarem mais ao nosso estilo. É por isso que temos tanto material. Destas 40 músicas, o Christian (Vidal, guitarra lead) escreveu um

tema, o Nahle (Pahlsson, baixo) também escreveu um e o resto fui eu e o Thomas (risos). Talvez até desse para escrever mais material. E todo este material tem diferentes estilos: algumas músicas são mais bombásticas e épicas que decidimos colocar neste álbum. O Leviathan II vai ser mais dark e melancólico enquanto que o Leviathan III vai ser mais aventuroso e experimental. Teremos temas mais pesados e progressivos. Acho que vamos agradar a maioria dos nossos fãs mas sempre as pessoas também encontram sempre algo num álbum para criticar.

“Não quero ser daquelas bandas que vão andar à luta por um saco de batatas. Eu quero fazer digressões de qualidade e não quero andar aqui em más condições ou a tocar em clubes de que nunca ouvi falar organizado por promotores que só querem roubar a banda

Tens uma trilogia e cada um desses álbuns vai tentar apanhar uma fase diferente da carreira dos Therion. Tentaste fazer um conceito de “all-hit”. Quando é que estás a pensar lançar o restante material? A ideia é lançar o primeiro este ano. Como temos o Leviathan I cá fora, iremos ver como será com as digressões e algures em 2022 lançaremos a segunda parte, quando fizer sentido. Por isso é que decidimos gravar tudo agora para termos os três álbuns nos nossos bolsos. Assim, podemos lançar-los quando fizer mais sentido. Mas certamente que a segunda parte sairá no próximo ano enquanto que o Leviathan III sairá em 2023. Exactamente quando ainda não sei. Se esta loucura continuar assim, acho que iremos lançar o Leviathan II exactamente daqui a um ano.

Portanto, não imaginas nenhuma digressão no futuro? Para ser sincero, estou mais preocupado como as pessoas desistem dos seus direitos. É claro que o vírus existe, mas acho que as autoridades talvez estejam a exagerar. Não estou a banalizar o vírus que está, de facto, a propagar-se rapidamente. As pessoas pensam que a democracia cresce nas árvores e assumem-na como garantida. E vês negócios de gerações de famílias a serem esmagadas e tudo isto é devastador para a economia. Quando as digressões voltarem, será que as pessoas ainda vão estar assustadas e vão querer ir a concertos? Ninguém sabe e por isso os promotores estão com muito receio em relação ao que vem aí. Ainda terás depois a questão de os fãs terem sequer ainda dinheiro para concertos. Para além disso,

todo o ecossistema à volta das digressões está completamente devastado. Porque isto não é só sobre as bandas, tem os clubes de concertos e os promotores que não conseguem pagar as rendas dos escritórios e dos clubes, os montadores de palcos e roadies todos sem dinheiro. Também tens os tour-managers ou os sound-engineers. E ninguém sabe quando é que isto volta ao normal por isso é possível que muitos já tenham mudado de emprego. Vai ser bastante difícil conseguir arranjar crews para digressões ou até arranjar tourbuses. Se pensares que cada tourbus de 2 andares custa à volta de 300.000 euros e se não tiveres o dinheiro, tens que pedir um empréstimo o que significa que o tourbus tem que estar sempre a ser utilizado. Se não, terás problemas graves. Por exemplo, há uns tempos mandei um email a uma empresa de merchandising com quem trabalho há bastantes anos para fazerem material para o Leviathan. Nem sequer recebi uma resposta porque eles já não existem. Eles eram grandes e até tinham a sua própria fábrica. E a Nuclear Blast, que é a maior editora de metal na Europa, eles estão com bastantes problemas em receberem merchandising a tempo. Todo este ecossistema está lixado e quando as digressões regressarem, não será nada fácil. Todas as bandas deste mundo vão querer estar em digressão ao mesmo tempo e nem vai haver tourbuses nem clubes para todos. Portanto, isto vai ser bastante caótico e nós temos duas estratégias. Uma é juntarmo-nos a outras bandas, esquece isto de sermos todos headliners, que sejam maiores do que os Therion e nós podemos ser a banda convidada e juntamos ainda mais bandas e tentar optimizar tudo. Se isto funcionar, tudo bem. Se não, acho que deixaremos de fazer digressões e esperar que o pó assente e as coisas voltem ao normal. Não quero ser daquelas bandas que vão andar à luta por um saco de batatas. Eu quero fazer digressões de qualidade e não quero andar aqui em más condições ou a tocar em clubes de que nunca ouvi falar organizado por promotores que só querem roubar a banda (N.R – de recordar um episódio semelhante passado pela banda quando veio tocar a Lisboa há alguns anos atrás...).

Depois de teres feito quase tudo no espectro musical, desde deathmetal à exploração e fusão de mundos sinfónicos e operáticos na sua música, passando pela cena musical francesa dos anos 50 e uma ópera-rock de três discos, o que te levou a escrever este álbum? Bem, a ideia era essa mesmo. Eu fiz tudo o que tinha querido fazer e estava a tentar pensar no que me faltava conceber. Senti-me bastante vazio depois do álbum anterior porque o que haveria de escrever a seguir? Tinha acabado de realizar o meu sonho musical. Mas nós sempre acabamos por fazer aquilo que queremos fazer. As consequências eram que às vezes as vendas dos álbuns eram melhores, outras vezes piores porque as pessoas não gostavam tanto do que tínhamos lançado. Por isso, agora pareceu-nos um desafio interessante tentarmos dar aos fãs aquilo que eles querem, ou pelo menos tentar. Claro que isto parece bastante fácil do tipo pega na guitarra e escreve as tuas melhores músicas mas, na verdade, é bastante complexo. Pensamos que isto podia ser o desafio final sabes? Depois disso, podemos continuar a fazer o que estávamos a fazer antes. E sabes, Na verdade, não tenho ouvido uma única nova banda nos últimos anos que seja verdadeiramente original. E não é uma crítica, porque têm aparecido excelentes novas bandas. É mais acerca de escrever grandes canções. Nos anos 90, os Therion eram considerados uma banda inovadora e estávamos sempre nas capas das revistas. Se olhares para isto agora, nós somos uma banda que lançou alguns álbuns lendários mas sabes, o tempo apanha-te sempre. Mas isto não é só com os Therion, é com toda a indústria musical. Parece que já não há inovação, então para quê te preocupares em inovar? Dá às pessoas aquilo que elas querem. A grande parte já nem gostam de álbuns e criam playlists no Spotify com algumas músicas preferidas. Já nem começa a fazer sentido lançar álbuns e se calhar fará mais sentido começar a lançar um single novo de 2 em 2 meses. Quando lanças um single nas plataformas digitais, este acaba sempre por vender mais nas plataformas do que as restantes músicas. Quando pensas em todos os custos envolvidos, começa a ser economicamente mais viável fazer isto. Acho que muitas editoras vão começar a trabalhar assim: “Hey, escusas de lançar um álbum! Avisa-nos quando tiveres um outro single”. Eu fico mesmo triste quando penso nisto porque eu sou uma pessoa que gostas de álbuns. Cada álbum acaba por ser uma viagem, com a faixa inicial e abertura, depois com tempos diferentes e depois a conclusão. Eu adoro vinis e penso sempre nos lados A e B e quais são as melhores músicas para começar cada lado do disco. Mas acabo por aceitar que as pessoas ouvem música de maneira diferentes.

Pois, eu também sou assim. Ainda agora ando à caça das prensagens iniciais dos vossos três primeiros álbuns e tenho muitas prensagens originais de LPs vossos. Pareceme também que ainda há uma base de fãs bastante leal que pensa como nós. Sim! Nós ainda vamos lançar dois álbuns mas isto é como com os jornais digitais. É sempre melhor ler em papel. Mas claro, eu adoro a conveniência de ter colecções inteiras no meu iPod quando viajo. Eu nem sou contra este tipo de produto, só não gosto quando substitui os discos físicos. Se pensares na óptica de uma editora, já nem vale a pena fazer uma boa capa de um álbum porque um ficheiro de mp3 apenas tem o nome da banda e da música.

Chris Como é que te sentiste ao escrever o Leviathan? Eu li algures que disseste que tinhas de estar num mindset muito específico quando escreveste a opera- rock que sabes que tem de seguir um conceito musical e lírico. Como é que foi para ti escrever um álbum de hits em que podes escolher as melhores fases da vossa carreira? Foi um processo de escrita mais relaxado ou mais stressante? Foi bastante lento no início, mas assim que começamos a entrar no modo de composição já tínhamos 40 temas prontos. Como te disse, isso foi também muito graças ao Thomas, que é um excelente parceiro de escrita. E é isto que as pessoas querem sabes? E teve que ser fácil para nós. Também acabamos por escrever temas bastante espontâneos que vão estar no Leviathan III. Mas foi muito fácil de facto.

E apesar de ser um “all-hits album”, eu fiquei bastante surpreendido com a diversidade e complexidade em Leviathan e algumas influências árabes. Com tantos convidados, entre os quais o Marko Hietala e o Mats Levén, foi-te difícil conciliar este conceito com a tua habitual e constante ambição em inovar? Não, foi tudo bastante natural e até fiquei bastante surpreendido com o quão espontâneo foi. Até é por isso que temos 40 músicas prontas. É um bocado como quando estávamos na fase do Lemuria e do Sirius B. Na altura, também tínhamos material para 3 álbuns. Fomos bastante criativos também naquela época porque os irmãos Niemann contribuíram bastante para a composição do material. Quando eles entraram na banda, eu já tinha o Deggial completamente composto e depois fizemos o Secret of the Runes e eu e o Kristian estávamos sempre a compor. Mas depois, as coisas começaram-se a tornais mais confortáveis. Não sei, tudo se tornou apenas bastante fácil. Achei este conceito da “producer’s edition” bastante interessante. Podes dizer-nos o que tentaste transmitir com edição? Normalmente, quando gravamos um álbum, eu simplesmente apago estas versões alternativas dos temas finais. Mas desta vez, foi tudo gravado à distância por causa da pandemia por isso, os participantes tinham que gravar as coisas e mandar-me. E se não fosse aquilo que eu queria, eles teriam que regravar tudo outra vez. Desta vez, temos excelentes gravações de coisas que acabaram por não aparecer no álbum. Também, às vezes os vocalistas cantavam em partes diferentes das músicas ou experimentavam outras melodias. E houve bastante experimentação com a possibilidade de gravações profissionais. E achei que faria sentido partilhar todo este material uma vez que pagamos bastante dinheiro para alugar estes estúdios profissionais e os vocalistas puseram bastante tempo e esforço nestas versões alternativas, fez sentido lançar isto tudo junto.

Da última vez que falámos, na digressão do aniversário do Vovin, o teu ponto de vista sobre as plataformas de streaming não era assim tão positivo. O Marko Hietala, ao anunciar a sua saída dos Nightwish, também apontou o dedo às empresas de streaming. Será que a tua opinião em relação a este tema mudou? As plataformas de Streaming têm dois lados da medalha. De uma maneira, é bastante bom para artistas como eu que têm um catálogo bastante grande. Até somos pagos mais uma vez por coisas que já lançaste sabes? Quando alguém compra um CD em 2001 e depois vende a sua coleção e começa a ouvir música através das plataformas de streaming, acabamos por ter mais rendimento em relação aos nossos álbuns. No meu caso, que adquiri os direitos da maior parte dos nossos álbuns anteriores à Nuclear Blast, isto é bastante positivo. Mas se lanças um álbum novo, então é uma merda porque já vendes tantos discos. Precisas de cobrir custos de produção e outras coisas e as editoras começam a ver que, em alguns casos, isso vai demorar alguns anos a acontecer e acabam por diminuir o orçamento das bandas para cada disco. As editoras acabam por ser como bancos que emprestam dinheiro. Nós até temos sorte porque um contracto bastante longo e ainda temos mais quatro álbuns por isso temos bons orçamentos e não nos vamos comprometer nesse aspecto. Mas, tudo isto acaba por fazer muitos álbuns serem lançados com pouca qualidade ou a soar à mesma coisa. Porque até já podes gravar guitarras em casa com excelentes emuladores, que são coisas brilhantes, mas se todos usam os mesmos emuladores vão soar todos iguais. O mesmo se passa com sons de bateria e por aí fora. Vai soar bem, mas vai bastante mentos pessoal e único. Quando estás no estúdio, podes experimentar bastante com amplificadores diferentes e assim vai soar tudo mais plastificado. Este será o preço que o consumidor acaba por pagar quando ouve tudo em plataformas digitais. Infelizmente, as gerações mais novas não estão interessadas em álbuns e não pensam nisso por isso é o novo normal.

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