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PERENNIAL ISOLATION

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THE GREAT KAT

THE GREAT KAT

Retratos da Natureza

Será este o tema de «Portraits», o último álbum dos PERENNIAL ISOLATION, banda de Barcelona, que elegeu o outono como uma inspiração para refletir sobre alguns aspetos da vida humana. De passagem, falou-se um pouco de uma experiência de ensino associado ao Metal protagonizada pelo nosso entrevistado.

Entrevista: CSA

Saudações, Albert! Espero que estejam todos bem. A Espanha tem estado a viver momentos muitos difíceis durante esta pandemia. Albert Battle – Saudações! Antes de mais, estou muito contente por falar contigo e espero que também estejas bem. É verdade, temos vivido momentos muito duros, sobretudo na primavera e no início do verão de 2020 com um número inacreditável de mortos por dias. E depois ainda tivemos de viver momentos de grande stress durante estes últimos meses devido aos períodos de confinamento decretados pelo município. Já nem me lembro de quando foi a última vez que pudemos ensaiar. Mas nem tudo tem sido horrível em 20202021. Daqui a uns dias, o nosso novo álbum estará disponível e essa é uma grande satisfação para todos os membros da banda. O fim do ano passado foi especial com todas as novidades que surgiram. Deramnos esperança perante este período de angústia que estamos a viver.

Para começar, gostava que nos contasses o essencial sobre Perennial Isolation. Somos uma banda de Atmospheric Black Metal de Barcelona. Existimos desde 2012 e temos 4 álbuns. Fizemos várias digressões na Europa e centenas de concertos no nosso país. Partilhamos o palco com bandas como Kampfar, Incantation, Nocturnal Depression, Glorior Belli, Atra Vetosus, etc.

Quem faz o quê na banda? A banda tem quatro elementos: o Victor (bateria), o Marc (voz/ guitarra), o Iván (guitarra) e eu próprio (voz/baixo). Normalmente todas as principais linhas de composição ficam a cargo do Iván e do Marc. Eu e o Victor tratamos das nossas partes e eu também escrevo as letras. Depois, em conjunto, temos de aperfeiçoar, arranjar e juntar ambiências e efeitos de som.

Parece que o vosso quarto álbum trata do outono e do Inverno. Acertei? Completamente. Essas duas estações e especialmente a transição entre elas é a nossa principal fonte de inspiração. Adoramos a atmosfera do outono, os elementos que fazem parte dela e até a aura pagã, mística e tradicional que o rodeia. É muito inspiradora. Fornece-nos muitas ideias de que podemos falar e, além

disso, uma parte da nossa atividade de composição acontece sempre nessa altura. Penso que é uma parte de nós próprios. Contudo, os nossos temas não têm a ver apenas com a descrição dos elementos desta estação, falamos também de outros temas relacionados com esta atmosfera fúnebre como a desolação, o desespero, a frustração, a amargura e o desgosto.

Por que decidiram dar ao álbum o título de «Portraits»? O nosso novo álbum baseia-se inteiramente numa coleção de memórias de todas as paisagens que nos impressionaram ao longo destes 8 anos como banda: Alpes franceses e italianos, as cordilheiras do norte da Península Ibérica, os Pirenéus entre Aragão e a França, etc. Tudo isso teve um impacto na nossa música e nas nossas letras. Atravessamos essas paisagens várias vezes e quase sempre no outono. E é sempre uma experiência diferente, dinâmica, em permanente mudança. Não podemos considerar esta experiência como uma simples memória, porque estas imagens têm uma vida própria, contam histórias. Portanto, para nós tudo isto é como um retrato. O outono mostra a sua face amarga e cinzenta e converte-se numa fonte de inspiração de onde a música jorra. «Epiphanies of the Orphaned especial e foi por essa razão que Light» (2016) – encontrámos decidimos mimá-lo e mostrá-lo o nosso som. Tal como dizes, com a classe que ele merece. Para balançámos entre a agressividade «Portraits», optámos por não da voz e as paisagens ambientais voltar às tradicionais ilustrações criadas pelas guitarras. Neste digitais com camadas múltiplas. último álbum, especificamente, Queríamos algo mais orgânico quisemos basear-nos em dois e que refletisse a forma como conceitos: mais brutalidade e mais os retratos são apresentados. atmosfera. As canções são mais Portanto, entrámos em contacto rápidas e mais carregadas de ira com o Mark Thompson, o autor e força. Não costumávamos ter da capa. Conheço o Mark há temas assim. E trabalhámos muito muitos anos. Tinha um projeto de meticulosamente a criação do som Funeral Doom chamado Dispersed ambiental que surge em diferentes Ashes de que eu gostava muito e, partes do álbum. a partir daí, começou a mostrarme as suas fotografias e telas. É um artista incrível. Logo, para o novo álbum, eu quis que ele participasse no

“[…] Mas nem tudo tem sido horrível em 2020-2021. Daqui a uns dias, o nosso novo álbum estará disponível e essa é artwork. Comprar uma dada tela fica muito caro e demora muito tempo. Além disso, não queríamos propriamente uma tela, mas antes a sua digitalização. Portanto o Mark concedeu-nos a licença para usar uma das suas telas que estava a terminar. Penso que a capa define bem o que é Perennial Isolation, a que corresponde o nosso uma grande satisfação para nome: uma casa perdida na vastidão da natureza, todos os membros da banda. isolada. Só o indivíduo e a natureza. Até faz lembrar o confinamento em que temos vivido, não é verdade? É bastante metafórica. Reparei que as vossas capas passaram de fotos para pinturas Este é o vosso primeiro longa desde que começaram a trabalhar duração com a Non Serviam. com Non Serviam Records. Quem Que expetativas tem a banda em fez essas capas para as bandas? relação a este lançamento? Realmente gostei muito deste Ou usaram pinturas que agora Têm sido incansáveis connosco. álbum. O Black Metal é o meu estão no domínio público? Estão a levar o nosso álbum muito subgénero favorito dentro do Este ano de 2020 caracterizou-se mais longe do que esperávamos. Metal e sou uma grande fã da essencialmente por mudanças. Não podíamos estar mais versão atmosférica. Gosto muito Assinámos pela Non Serviam contentes. Desde que apostaram do balanço entre os teus rosnidos/ Records, toda a fase de mistura em nós, deram-nos mais bases para os blast beats do baterista e as do álbum feita durante a fase de expandirmos a nossa criatividade melodias criadas pelos outros confinamento e até o investimento e trabalhar lado a lado com eles instrumentos. É o vosso som no design do álbum são exemplos tem sido maravilhoso. É importante especial? claros disto. À medida que as criar estas sinergias entre a banda Penso que com «Portraits» e até semanas passavam, o álbum ia- e a sua editora, porque o benefício com o nosso álbum anterior – se convertendo em algo muito é mútuo em todos os aspetos.

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