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DODICI CILINDRI MERCEDES-BENZ SL (R129

Estamos encantados por fazermos parte da sua família e consideramos que, graças a eles, «Portraits» atingirá o lugar que merece.

Fui ver o teu blogue (Growl Experience) e reparei nas bandas que mencionas algumas das quais já entrevistei (Harakiri For the Sky, Glorior Belli, Foscor). Perennial Isolation tem a esperança de partilhar o palco com elas em breve? De facto, partilhámos o palco com todas essas bandas e temos com elas uma relação de amizade. Mais do que partilhar o palco em breve, espero que possamos tocar daqui a pouco tempo (risos). Pareceme mais provável que isso possa vir a acontecer com os Foscor, porque vivem na mesma cidade que nós. Neste momento, dadas as circunstâncias em que vivemos, não estou a ver que possamos tocar em breve, mas é verdade que estamos a falar com muitas bandas para começarmos a organizar as coisas para que isso aconteça tão cedo quanto possível. Posso referir Drawn into Descent e Nocturnal Depression.

Tu tens de facto uma voz excelente. É agressiva e clara ao mesmo tempo. Tenho amigos que acham que eu sou um bocado maluca por causa desta faceta dos meus gostos musicais. Tens uma experiência semelhante? Muito obrigado pelas tuas palavras! Trabalhamos a minha voz durante muitas horas para a levar ao nível de qualidade que quero atingir. Se partilho da tua loucura (risos) e se tenho uma experiência semelhante? Ensino canto gutural e dedico-me exclusivamente a isto há mais de 15 anos, mas ainda há dias em que os meus pais e perguntam como é que depois de o fazer durante tanto tempo ainda o faço com tanta paixão. Além disso, nunca conseguiram compreender por que se canta assim (risos)! Acredito firmemente que, se não estiveres profundamente embrenhado no Metal extremo, será muito difícil compreenderes por que se canta desta forma. Depois de 30 anos (ou mais) de Metal extremo, cantar assim já passou à categoria de tradição, faz parte de uma linguagem específica. Tem a ver com sentimentos. No Metal falamos de tudo o que as pessoas normais desprezam, ignoram ou de que preferem não ouvir falar. Mas são sentimentos e emoções que existem. Todos vamos morrer, mas ninguém quer falar da morte. Porquê? Todos sofremos (no sentido emocional do termo), mas ninguém fala do sofrimento, da tristeza ou da amargura. Porquê? Portanto, a voz que vem do fundo da garganta é um modo de dar forma a estas ideias num ambiente musical que as amplia. É uma simbiose perfeita. Não consigo conceber o Black Metal sem guturalismo (sabendo que há exceções, é claro), do mesmo modo que não se pode conceber o Punk sem gritos.

Vi que ensinas canto gutural numa academia de música extrema. - Como aconteceu isso? Em 2017, um baixista célebre de Barcelona e a sua mulher aventuraram-se a criar a primeira escola de Metal na Europa destinada a ensinar, disseminar e promover este tipo de música. É claro que o canto gutural tinha de ser uma disciplina obrigatória. Então, contactaram-me, porque há anos que me dedicava a essa arte. Adorei a proposta, que me pareceu irrecusável. - Tens alguma formação musical ou contrataram-te por causa da tua experiência como vocalista de uma banda de Black Metal? Não há estudos regulares de canto gutural. Essa é a realidade. Portanto, eles contrataram-me pelo meu trabalho individual, pelo meu conhecimento, pela minha experiência de muitos anos. - Que conselhos dás aos teus alunos sobre como cuidarem da sua voz? São semelhantes ao que é preciso fazer para manter a voz limpa: exercícios, boa hidratação, dormir as horas de que necessitamos… No que toca à voz propriamente dita, não a levantar ou gritar, trabalhar a respiração e a relaxação, beber líquidos à temperatura ambiente, nada de bebidas gasosas ou tabaco nos momentos de atividade vocal, uma boa dieta e a ingestão de infusões que favoreçam a relaxação do aparelho vocal à base de tomilho, gengibre, camomila, etc. - Todos os teus alunos são músicos (ou futuros músicos) ou também ensinas pessoas com outras profissões (por exemplo, atores ou até professores)? Há alunos de muitos tipos, mas geralmente são adolescentes ou adultos que têm as suas bandas e exercem outras profissões paralelamente. Há também pessoas que começam do zero e que não têm grandes conhecimentos sobre o Metal extremo ou não estão numa banda ou nunca fizeram nada que tivesse a ver com isto (gravar, tocar ao vivo). Portanto, não só os ensino a cantar de forma gutural, como também os educo em tudo o que diz respeito ao Metal extremo: ter uma banda, atitude no palco, trabalho a fazer antes de passar à gravação, áudio e som… - Como descobriste o teu talento para esta forma de cantar? Nunca pensei em cantar (risos). Em 2005 ou 2006, já não me lembro bem, fazia parte de uma banda de Death Metal, algo muito básico e simples, típico de principiantes. O nosso vocalista estava sempre a entalar-se e a tossir e não soava nada como devia ser. Logo, falei com os outros membros da banda, mas ninguém queria tratar do assunto. Por conseguinte, avancei eu. É verdade que estava a experimentar o terreno, mas já com algum conhecimento. Tinha aprendido canto muito, muito básico, quando tinha 5 anos, e, na juventude, fui operado para eliminar um freio lingual associado ao lábio superior e tive de fazer fisioterapia, no decurso da qual me ensinaram a mudar a minha postura corporal e várias técnicas de respiração, entre outras coisas. Limitei-me a ligar os

“O nosso novo álbum baseia-se inteiramente numa coleção de memórias de todas as paisagens que nos impressionaram ao longo destes 8 anos como banda.

pontos, combinando o que tinha aprendido sobre canto e durante a reabilitação, e resultou. Mas, como deves imaginar, não é chegar e vencer, de modo nenhum. Ficava rouco, tossia, a garganta picavame, tinha comichão, não conseguia mudar de tom, etc. Mas nunca desisti! À medida que o tempo passava, fui melhorando e passando a fazer parte de bandas de Death Metal cada vez mais maduras, mais exigentes, o que me ajudou muito a melhorar a minha voz e a crescer como músico. Nunca mais parei desde essa altura, nem tenciono fazê-lo. O canto gutural é a minha vida. Há quem diga que eu tenho um dom ou um talento especial… pode ser, mas não me fico por aí. Sigo um treino regular, que, há uns anos atrás, era muito exigente para mim (e ainda é, de certo modo). Portanto, penso que o que consigo fazer é o resultado de nunca ter desistido e de tentar sempre melhorar ao longo dos anos. - Há alguns vocalistas que vejas como uma espécie de modelos/ influências? Sim, claro! Ola Lindgren (Grave), Peter Tägtgren (Hypocrisy) ou Wrath (ex-Setherial/Naglfar) fazem parte das minhas influências. Ao longo dos anos, têm aparecido outros, mas estes três são marcos no meu percurso! Uma última curiosidade (dado que também sou professora, aliás como uma parte da equipa da Versus): gritas com os teus alunos quando eles não se portam bem? Os meus alunos não são propriamente meninos ou meninas. São adolescentes ou adultos. Gritamos juntos (risos). Torno-me muito próximo deles. Partilho uma paixão com eles: o Metal. É claro que há sempre alguma distância e limites. Mas gritamos juntos para eles compreenderem como funciona a voz gutural e como a podem usar! E eles têm o direito de gritar com o professor (risos)!

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