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FESTIVAL CAMINHOS METALICOS

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Festival Caminhos Metálicos Online (8 e 9 de maio, em www.youtube.com/caminhosmetalicos)

Nos passados dias 8 e 9 de maio realizou-se o Caminhos Metálicos Online Festival, comemorativo dos 30 anos do programa radiofónico Caminhos Metálicos (CM). De acesso gratuito, o evento foi transmitido no canal do Youtube do Caminhos Metálicos. Esperando que não seja momento único na história deste projeto criado por Carlos Guimarães (que, além de animador de rádio, podcaster e jornalista musical, foi A&R da Recital Records e agenciou bandas na Utopia Productions), mais desejamos que constitua uma antecâmara para um festival irmão ao vivo, uma vez ultrapassada a crise pandémica.

Texto: Dico - [Dia 8]/Eduardo Ramalhadeiro - [Dia 9] Imagens: Gentilmente cedidas por Carlos Guimarães

Desde que foram divulgadas as promos do evento que se percebia o grau de profissionalismo envolvido neste projeto. Quem já assistia aos podcast-videos dos programas online Eixo do Metal e Caminhos Metálicos Convida, também da responsabilidade de Carlos Guimarães, sabia o que esperar e não saiu desiludido. Muito pelo contrário. O empenho da equipa de produção superou largamente todas as expectativas. No total foram 22 bandas distribuídas pelos dois dias, bem como alguns apontamentos do projeto humorístico Laughbanging entre as atuações de alguns grupos. De ressalvar, desde logo, a intensa e calorosa participação do público em direto, com centenas de comentários no Youtube efetuados em tempo real. Em contexto de pandemia a antecipação relativamente a este evento era intensa e ficou bem patente na recetividade dos fãs. Os horários foram quase sempre rigorosamente cumpridos num evento em que a maioria das atuações foi previamente gravada nas salas de ensaio dos grupos (em alguns casos pelos próprios e, noutros, pela CG Media, responsável pelo projeto). Noutros casos, as atuações constituem excertos de espetáculos ao vivo gravados em vídeo. Posta esta introdução, passemos ao desempenho das bandas.

Os açorianos Palha D'Aço foram os primeiros a “subir” a este palco virtual, com três temas - “Existência Tangencial”, “Silêncio Frio (com a voz a fazer lembrar Adolfo Canibal nas partes mais declamadas) e “Nova Desordem”, gravados no Angra ao Vivo 2021. Híbrido de Rock e Metal alternativos com Punk e subtilezas prog, a abordagem do grupo formado em 1997 revela-se eficaz, embora a voz nem sempre corresponda às expectativas. Seguiram-se os Lilith's Revenge, com o seu Metal algo alternativo. O peso e a melodia são bem equilibrados e o empenho da vocalista Paula Teles é notório, mas afigura-se urgente a necessidade de trabalhar a sua voz "opaca", cuja audição chega a ser penosa. A margem de progressão é imensa e deve ser aproveitada. A estreia

de “Blindness” (o último tema a ser apresentado) foi o “presente” de aniversário oferecido pelos 30 anos do CM, numa atuação iniciada com “Queendom” e “Revenge”. Os açorianos Drakh foram a primeira boa surpresa da tarde. Praticantes de Death Metal melódico com influências progressivas, fazem um bom equilíbrio entre a voz limpa do guitarrista António Couto e a abordagem gutural do vocalista Luís Franco, nomes em torno dos quais o projeto se desenvolveu. Destaque para os temas “Cosmic Shadow” e “White Tree”. De ressalvar ainda o óbvio cuidado de produção, em regime de videoclip - boa captação, boa imagem, bom som, boa montagem e boa mistura com assinatura da Intercut Films. Uma banda a acompanhar.

Seguiu-se o primeiro apontamento do projeto Laughbanging, cujo reconhecimento tem merecidamente aumentado nos anos mais recentes. Os Blind the Eye, de Stª Maria da Feira, debitaram um Metalcore de bom nível. “Human Rights”, “Phoenix Rebirth” e “In Vino Veritas”, todas retiradas do EP digital “Tripolarity”, constituíram o alinhamento escolhido pelo quinteto. Por seu lado, os black metallers WinterMoonShade apresentaram também uma produção própria, mas elaborada em termos visuais, quer a nível de ambiente quer do visual envergado pelos músicos. «Eternal Haunted Shores», «Legends & Mist» (em toada Folk) e «Low Tide Ghost» foram os temas apresentados. Os WinterMoonshadeShade são uma forte promessa do Metal luso contemporâneo e devem ser acompanhados de (muito) perto. Seguiram-se os Dogma, que há muito nos habituaram a boas atuações. Fazendo incidir a atuação nos temas «Aqua Benedicta», «Serei o Teu Lúcifer» e «Deus Assassino», o coletivo praticante de Gorhic/Doom Metal foi claramente um dos melhores da tarde na qualidade e variedade musical. A voz gutural e declamada de Gonçalo Nascimento constrasta bem com o registo operático de Isabel Cristina e é bom (muito bom, mesmo) ver o baterista Luís Abreu rodar as baquetas enquanto toca, como era regra fazer-se nos anos 80. Infelizmente essa prática perdeu-se, mas Abreu não abriu mão dela. Parabéns por manter essa tradição. Em seguida, outro hilariante apontamento do duo Laughbanging, parodiando subgéneros e bandas num contexto de…lavar as mãos!

Os Sardonic Witchery apresentaram-se em modo playback, com King Demogorgon “apenas” acompanhado por três musas satânicas, que dançaram sensualmente ao longo do primeiro tema, «Círculo das Bruxas Perversas», exibindo uma coreografia muito bem ensaiada. De produção caseira simples mas eficaz, o vídeo completa-se com os temas «Licantropia» e «Misantropia». Sempre em crescendo a nível qualitativo, seguiram-se no alinhamento os Revolution Within, com quatro temas gravados no Hard Club em 2020. «Back from the Shadows” abriu uma atuação violentamente enérgica e irrepreensível a todos os níveis, mostrando um quinteto no pico da sua forma que, uma vez passado o momento pandémico, voltará num ápice a colocar de joelhos qualquer audiência. Uma autêntica máquina de guerra. Os Blame Zeus optaram por atuar no ambiente informal da Fábrica dos Ofícios, captando o verdadeiro espírito do Underground em contexto de garagem. Infelizmente, o som captado não foi o melhor e a prestação do grupo revelou-se algo morna, só aumentado o nível ao 3º («The Apprenctice») de cinco temas. Dos Serrabulho apenas se pode esperar boa disposição, festança e competência. Foi isso que o grupo de Vila Real mostrou ao longo dos quatro temas gravados na edição de 2019 do River Stone Fest, em Rio de Moinhos, Penafiel. Abrindo as “porno-hostilidades” com «Ela fez-me um grão de Bico», seguiram-se «Fecal Torpedo», «Dingle Berry Ice Cream» e o final, com «Pito Sem Penas». A participação dos Attick Demons, gravada na sala de ensaios, foi claramente prejudicada pela débil qualidade sonora. «The Contract», «Revenge of the Sailor King» e o clássico «City of Golden Gates» (que os deu a conhecer ao público mundial quando um fã alemão divulgou o tema no Youtube afirmando ser um original dos Iron Maiden) foram os temas escolhidos para uma atuação que esperávamos mais empolgante. Seguiu-se o apontamento final do primeiro dia do projeto Laughbanging, que antecedeu a participação dos cabeças-de-cartaz Xeque-mate, retirada de um concerto gravado em 2020 no Fórum da Maia. A sucessão de clássicos foi alucinante, com «Às do Volante», Vampiro da Uva», «Entornei o Molho» e «Filhos do Metal» a encerrar o primeiro dia deste evento online. No final, quem acompanhou a transmissão em direto já fazia um balanço imensamente positivo.

O dia 9 começou com uma toada mais industrial e experimental trazida pelos Empty V. A atuação da banda não se pautou por, simplesmente, transmitir aquilo que fez em estúdio. Houve cuidado nos efeitos especiais usados durante o concerto, sistema de luzes, tal e qual num concerto ao vivo. O final foi apoteótico, com a versão de “Breathe”, dos The Prodigy.

O intervalo foi curto e os Mindtaker tomaram conta da transmissão, abrindo as hostilidades com “Fuck Off”. A actuação “espartana”, pura, crua e dura, tal como se exige numa banda de Punk/Thrash, sem muitas merdas, só uma descarga furiosa de atitude. A prestação terminou como começou, com “Drink beer for thrash” e “Toxic War”. E eis senão quando, o estilo mudou radicalmente com o início da atuação dos rockers Tones of Rock – o punk cedeu lugar ao Glam/Hard-Rock melódico e lá abriram de forma bastante “ligeirinha” com “On My Way”. O ritmo continuou com “Cleopatra’s Slave” e o Groove de “Volcano”, numa transmissão algo monótona, com somente dois ângulos de câmera. E vai daí lá aparecem os “Marretas” da Laughbanging - Comédia Metaleira que, tal como Herman José escreveu na “Canção do beijinho”: “É tanta asneira, tanta asneira, tanta asneira, que p'ra tirar tanta asneira não chegam cem alicates”. Seguiram-se os Godark com o seu Death Metal Melódico ao vivo, também captado ao vivo no Festival Riverstone, em 2019. Os Penafidelenses abriram as hostilidades com “Miserable Noise”, tema que também abre o álbum de estreia, «Forward We March». Continuaram a sua enérgica atuação com “Forbbiden Words” e terminaram-na com “Repealing Silence”. Som bem captado e boa realização de imagem em mais uma atuação de qualidade neste festival online. De jarda em jarda, chega o Death Metal (não melódico) mas brutal dos Skinning. A banda da cidade-berço abriu o espetáculo com “Sadistic Butcher”, do seu mais recente álbum, «Homicidal Experimentations». O Death Metal dos Skinning é muito bem tocado, não se revelando demasiado técnico, mas afigurando-se “certinho como um relógio suíço”. Luís Barroso, baterista, toca que se desdenha. A atuação prosseguiu com “The Gravedigger”, “The Demon” e “Homicidal Experimentations”. A surpresa, ou nem por isso, ficou reservada para o final, com uma versão de “Pretty Woman” de Roy Orbison – Brutal! Falando em brutalidade seguiram-se os “cagaréus” Booby Trap, que abriram a transmissão com “No more”, numa sala de ensaio relativamente pequena para a energia que a banda costuma transmitir em palco – a captação sonora poderia ser melhor e a instalação duma câmara em frente às janelas não terá sido boa ideia. Seja como for, a descarga de Punk/Thrash/Crossover continua com mais algumas descargas enérgicas, sob a forma de “I am one”, “Find a Way”, Radiation Man” e, após uma breve paragem para uns goloss de cerveja… o fim chegou e foi o “Alcoholcalipse”. Não sabemos se pela destruição provocada pelo “Alcoholcalipse”, mas o nome de Satã foi invocado pelos IRAE na forma de “In the Name of Satan” e, assim, o Black Metal emergiu das chamas demoníacas abrindo as portas ao inferno sonoro. “Wastelands of Eternity” deu seguimento à negritude satânica que foi prolongada por “Procreation Madness” e “The Tongue of fire”. E foi “Da Brandoa com Ódio” que Satã encerrou os portões do purgatório. Mas como nem tudo tem de ser negro, eis que chega a barbárie dos Cruz de Ferro, numa atuação gravada no festival Milagre Metaleiro, em 2018. E nada melhor do que “Imortal” para iniciar esta transmissão. O verdadeiro metal épico nacional comanda agora as hostes sonoras e o “Soldado desconhecido”, caído durante a 1ª guerra mundial, tem uma mui nobre e singela homenagem. Os Cruz de Ferro terminam “Entre a espada e a parede”, só três “modinhas” que souberam a pouco.

De épico em épico, os Enchantya trouxeram-nos uma participação bastante energégica, abrindo com “Last Moon of March”. Mostraram, acima de tudo, a versatilidade vocal de Rute Fevereiro. “The Beginning” foi mais uma amostra bastante interessante retirada do catálogo dos Enchantya. Seguiram-se “Poet’s Tears”, “Once Upon a Lie” e, para fechar com chave de ouro, “From the Ashes”, que também encerra o álbum «On Light And Wrath», de 2019. Para o final estava reservada a banda da noite – é justo assim considerar: Tarantula! O concerto teve lugar no Teatro Rivoli em 2016 e, pelo menos nesta

transmissão, todos os temas tocados foram do «King of Lusitania». Obviamente que esta atuação dos Tarantula só poderia ser épica, ou não fosse o grupo dos irmãos Barros oriundo do nuorte, cargo! Brincadeiras à parte, o espetáculo dos Tarantula foi genial, desde a abertura com o super-melódico “Highway to Glory”, passando por “Empire of the Shadows”, “The Great Dragon” e, para terminar de forma absolutamente ÉPICA… “Lusitania”. Foi, sem sombra de dúvida, uma atuação soberba a demonstrar que, apesar dos quase 40 anos, os Tarantula, são e serão uma das maiores referências no Rock e Metal Nacional!

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