5 minute read

HARAKIRI FOR THE SKY

Next Article
OMITIR

OMITIR

Melodias etéreas e gritos

Entrevista: CSA

Pode parecer uma fórmula estranha, mas tem chamado a atenção dos fãs de Metal para a mensagem que os austríacos Harakiri for the Sky têm a transmitir sobre o mundo em que vivemos.

Saudações! Espero que estejam bem! Temos aqui um grande álbum. Tomei conhecimento dele devido a um single publicado no Youtube. A vossa editora informa-nos de que o álbum trata de uma personagem mítica que perturba as pessoas durante o sono. Percebi bem? De que forma é esse tópico representado nas letras do álbum? JJ – É mesmo assim. Maere é algo assim como um canibal, que se senta no teu peito e te impede de dormir. As letras que eu escrevi falam de pesadelos, que não me saem da cabeça, logo essa figura (Maere) é uma bela metáfora para exprimir essa realidade. Quase tudo o que escrevo tem uma base autobiográfica. Portanto, todas as histórias de que trato nas minhas letras são verdadeiras e, se ainda não aconteceram (como acontece em “Us Against December Skies”), hão de acontecer sem dúvida, porque são uma espécie de profecias premonitórias. Esse é um dos meus maiores talentos: prever um futuro horrível para mim próprio. Porque têm uma espécie de lobo representado na sua capa? Isso resulta de uma espécie de política da banda: sempre tivemos animais nas capas desde o nosso primeiro lançamento. Já pusemos um corvo, uma raposa morta, um veado e um mocho, portanto não sobra grande coisa dentro da gama de animais mais representativos do ponto de vista estético dentre os que circulam nas nossas florestas. Da próxima vez, terá de ser talvez um picapau ou um texugo. Voltando ao lobo, escolhemo-lo, porque ainda os perseguem nas florestas locais por comerem algumas ovelhas. O Estado devia compensar os criadores pelos seus prejuízos e manter os lobos vivos. Isso não significa que os lobos sejam mais especiais do que as ovelhas. Mas está na sua natureza caçar para comer. Nós, os humanos, invadimos

”[…] Estamos a trabalhar nessa combinação [guitarras etéreas e gritos] há já uns anos e parece-me que melhora de lançamento em lançamento.”

o seu habitat, não o inverso. Mas é também uma referência à expressão “vestir a pele do lobo”, uma metáfora que se aplica ao que andamos a fazer ao ambiente e aos animais e também ao que fazemos a nós próprios e aos que amamos.

Quem criou essa ilustração para a banda? Uma rapariga holandesa que usa o nome de Art of Maquenda.

Adoro o contraste entre as melodias etéreas produzidas pelas guitarras e os teus gritos. Realmente, provocam desassossego/ansiedade no ouvinte. Concordas comigo? Sim, espero ter produzido uns bons gritos. Estamos a trabalhar nessa combinação há já uns anos e parece-me que melhora de lançamento em lançamento.

Têm grandes artistas a colaborar convosco neste álbum. - Como tiveram a bela ideia de convidar o Neige para cantar na segunda faixa do álbum? O Neige e o Matthias estão em contacto há uns bons anos, enviam música um ao outro, falam sobre música e as digressões em curso, etc. Também o conhecemos dos concertos e festivais, portanto já nos encontrámos algumas vezes. O Neige, apesar de ser um pouco mais velho do que nós, é uma espécie de herói da infância para nós, fazendo música com Alcest e Amesoeurs, que lançou algumas das mais intensas obras de Black Metal de todos os tempos. Foi por isso que o convidámos e ele disse logo que aceitava. - Estou muito agradada por ver que convidaram o vocalista da banda portuguesa Gaerea para cantar convosco noutra faixa. Como aconteceu isso? No último ano, o Matthias passou muitas semanas em Portugal, onde conheceu o Rouven, o vocalista de Gaerea. É um sujeito muito simpático, portanto gostei logo dele. Tal como eu, é um Hardcore Kid, que ouve Converge, Modern Life Is War e outros do mesmo género o tempo todo, como eu ouço. Também gosta muito de tatuagens, portanto temos muito de que falar quando nos encontramos. E, ainda por cima, tem uma grande voz, sem dúvida. Até que ponto o confinamento contribuiu para a criação deste álbum? Não teve grande influência, uma vez que já tínhamos gravado o álbum todo. Eu gravei a voz para as últimas canções alguns dias antes de partirmos para a Rússia, no fim de janeiro. Tivemos alguns pequenos problemas com a mistura do álbum, porque não nos deixavam encontrarmo-nos no estúdio. Mas acabámos por conseguir fazê-lo e terminámos esse trabalho no fim de maio. No entanto, tivemos de adiar o lançamento de setembro para janeiro, o que foi muito aborrecido. Mas isso foi todo o prejuízo que a pandemia nos causou e ao nosso novo álbum.

A vossa editora fala de uma digressão em 2021 e sei que fazem parte do cartaz do Vagos Metal Fest, que tem lugar numa vila portuguesa que não fica longe de onde eu vivo. Pensam que isso vai mesmo concretizar-se) [Espero que sim, porque adoraria ver-vos em concerto.] A digressão já foi adiada para 2022, mas talvez ainda possamos participar no festival ao ar livre, que é só no verão. Vamos ver. Ainda é muito cedo para previsões, mas temos esperança de que tudo volte ao normal em breve.

Uma última pergunta: porque decidiram chamar à banda Harakiri for the Sky? Haha, boa pergunta. Há duas formas de o explicar. Por um lado, eu andava à procura de um termo adequado para descrever o sentimento que experimentas quando ouves Post Rock e tudo está a explodir, estás correr para um penhasco e a voar por cima do oceano. Como acontece no vídeo de Sigur Rós intitulado “Glosoli”, quando os miúdos saltam de um rochedo e, finalmente, ficam livres. Sempre procurei um termo para descrever essa sensação. Por outro lado, também me inspirei no título de uma canção de Snörras, uma banda norueguesa de Hardcore/ Noise, que eu ouvia muito em 2010/11, pouco depois de termos fundado a nossa banda, O título era: “Harakiri to the sky and the trees”. Agora, cerca de 10 anos mais tarde, pode parecer que não foi a nossa melhor decisão, mas tem uma vantagem: o nome é tão absurdo que as pessoas se lembram sempre dele.

Facebook Youtube

This article is from: