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SOEN

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OMITIR

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Em primeiro lugar, espero que esteja tudo bem com vocês, família e amigos, em relação a esta coisa do COVID... espero que sim... Sim, até agora, estamos bem…

Martin Lopez - Quando estava à procura de uma entrevista com o Joel, reparei que já te entrevistei aquando do álbum «Tellurian». Portanto, esta é a minha segunda entrevista contigo… :-) O álbum já saiu há algumas semanas. Como é que achas que as pessoas vão reagir? Acho que as pessoas que gostam de Soen vão realmente gostar deste álbum. É um álbum típico de Soen, mas melhor, não tentamos mudar muito, apenas quisemos concentrar-nos em fazer o que já sabemos fazer, mas melhor e muito bem. Acho que conseguimos isso. E também acho que “Imperial” é um óptimo álbum.

Existem algumas discussões/ opiniões/ reclamações envolvendo a mistura/ masterização, como abordaram isso em «Imperial», comparando com «Lotus»? Há mais de 20 anos que lanço música e nunca lancei nada que as pessoas não reclamassem. Existem sempre algumas pessoas que querem outra coisa: o som, a capa do álbum, as letras, etc. Só podemos ambicionar e pensar o que é o certo para a nossa música e a maneira como a fazemos. Temos de ser honestos com nós mesmos e este é o som que idealizamos e, para mim, isso é óptimo. Realmente, não consigo resolver nenhuma reclamação. Queremos, isso sim, um álbum mais orientado para a sonoridade, do que orientado para os instrumentos.

Tenho a sorte de ter ouvido «Imperial» (embora por stream... assim como, os meus vizinhos) -a até já encomendei o vinil que espero ser assinado em Dezembro. Na minha humilde opinião, esta mistura não é melhor ou pior do que «Lotus», apenas diferente. Talvez, mas, apenas talvez o baixo pudesse estar um pouco mais alto. Tenho estado a ouvir no meu amplificador Pioneer, sem qualquer tipo de equalização, mas à medida que começo a ouvir mais e mais a mistura começa a fazer mais sentido. - Concordas com minha análise e que, basicamente, as pessoas terão que se acostumar com o novo som? Não faço ideia. Sim, nós mudamos o nosso som em cada álbum porque procuramos escolher um som ou obter um som que se encaixe nas músicas que escrevemos para cada álbum? Acho que não. Será que devemos olhar para nós mesmos quando vamos escrever um álbum e pensamos que tipo de som queremos? Talvez façamos algo completamente diferente ou talvez permaneçamos igual?!... Não sei. É muito difícil saber. Penso que não devemos planear isso, devemos ouvir a música e seguir o nosso coração.

Quando ouvi «Antagonist», a primeira coisa que me passou pela cabeça foi: ah... a bateria não está comprimida. Fixe! Para mim, parecia bastante natural – é mesmo? Ou será que tenho de ir ao médico para verificar os meus ouvidos? Na verdade, eu não sei muito sobre isso, mesmo participando na mistura e tudo o resto, não posso dizer quem faz a mistura e não posso entrar nos detalhes sobre a música. Por exemplo, digamos que gostaria de ouvir mais as vozes de apoio ou o solo de guitarra

ficasse mais alto. No entanto, como não domino essa área, ou seja, o que eu sei não é suficiente para dizer a tipos como o Kane Churko ou o David Castillo, que são profissionais nisso, simplesmente, digo-lhes que ouvi, gosto do som e pouco mais…

Fizeste alguma alteração na bateria de «Lotus» para «Imperial»? Sim, alterei a bateria. No entanto, continuei com a mesma marca e modelo personalizado mas usei os timbalões um pouco mais grossos. No «Lotus» usei, penso eu, peles da Aquarian mas desta vez troquei para as Remo. E foi pouco mais que isso.

A propósito, como é que afinas a bateria? Eu apenas afino os seus elementos, nada de especial. Mas não depende só de mim, também depende do som que desejamos obter, então tenho a ajuda da produção para afinar e obter exactamente o som que queremos. A afinação é muito sobre sentar na bateria e encontrar o som de que gostas.

Ouvi todos os vossos álbuns em ordem cronológica e, para mim, se o «Lotus» foi mais melódico e directo, mas com alguns momentos pesados, acho que «Imperial» mudou para algo mais emocional e terno. – Concordas? Em caso afirmativo, houve algum motivo especial? Sim, concordo. É um pouco mais emocional. Acho que também é um pouco mais baseado em metal e um pouco menos progressivo. Relativamente ao aspecto emocional, não sei muito bem para onde vamos, mas estamos sempre à procura de emoções. É isso que amamos na nossa música e, quanto melhores escritores nos tornamos, mais emoções surgem na nossa música. – O que pretendem passar para as pessoas que ouvem «Imperial»? Como assim? No que diz respeito às letras? … De um modo geral, quando as pessoas colocam o CD, vinil ou o que quer que seja para ouvir «Imperial», o que pretendem transmitir às pessoas? Nós tentamos inspirar e dar algo às pessoas… A maioria das pessoas sente que não faz parte deste mundo, pessoas que não concordam como as coisas estão, como o mundo actual está. Tentamos unir algumas ideias: devemos ter que ser melhores e desejar que as pessoas sigam as suas vidas; as corporações e os políticos não nos estão a alimentar; não devemos valorizar a felicidade pela quantidade de dinheiro que ganhamos, mas devemos valorizar a felicidade pela quantidade de amor que temos nas nossas vidas.

Eu acredito que cada álbum é único. «Imperial» é o vosso melhor álbum? Sim! ... (risos) ... eu, realmente, acho que é.

Li algures que «Lykaia» foi gravado apenas com equipamento analógico. Adoptaram a mesma abordagem em «Imperial»? Não. Em «Imperial» usamos alguns equipamentos analógicos, algo que usamos regularmente, e alguns equipamentos digitais, pois achamos que poderia ser melhor para o álbum.

A última vez que falei com Joel, estávamos a falar sobre a música de Soen ser progressiva, ou não, e ele me disse algo como: “Já estamos muito velhos para impressionar”. – Compartilhas esta ideia? Sim! É uma ideia nossa. Não temos interesse em ser chiques ou mostrar mais habilidades técnicas. Queremos fazer música que faça sentir algo às pessoas. – Fazes música para ti ou para outras pessoas? Para mim… Não tem sentido fazer música para os outros. Procuro coisas que me façam feliz. Nunca conseguirei fazer todo o mundo feliz. É impossível. Temos que fazer as coisas para nós próprios e esperar que os outros gostem.

Tens alguma música favorita em «Imperial»? Porquê? ~ Dependendo do dia… (risos)… alguns dias, será «Fortune», hoje estou a pensar em «Lumerian».

«Illusion» é uma extensão do «Lotus»? Talvez isso te lembre de algo, é o mesmo tipo de balada de rock, típica do Joel e Cody tocando guitarra… e fui eu que a escrevi, é praticamente o mesmo tema, mas liricamente uma não é uma extensão da outra.

Além dessa coisa de masterização, há algumas outras mudanças em «Imperial», principalmente, na produção, na arte gráfica e, claro, Oleksii. – As vozes e a bateria foram produzidas por David Castillo, mas nem todos. Porquê esse tipo de abordagem? Bem, aqueles com quem trabalhamos têm estilos diferentes e tentamos trabalhar com quem consideramos que faça o nosso som melhor. Portanto, sim, nós alternamos na escolha: pensamos que algumas músicas devem ser com o David e outras com o Kane. Estamos todos no mesmo estúdio, e a escolha foi sobre a nossa intuição em cada momento em prol do melhor resultado. - … e quem produziu as restantes faixas? Iñaki Marconi – Em vez do Jens Borgen, foi o Kane Churko que misturou e masterizou o álbum. Porque escolheram o Kane e o que é que ele trouxe de novo para o álbum que fez a diferença? Kane mistura muito orientado para o som. É um indivíduo que não tem muitos sentimentos sobre todos os instrumentos ao redor; remove tudo o que está a atrapalhar a música. Conseguiu fazer com que se ouvisse a mensagem das músicas com clareza. – A arte gráfica é espectacular, pelo menos a capa do álbum. Como é que a capa, no geral,

e a cobra, me particular, se relacionam com a música? Sim, claro que se relaciona! Tens que ler nas entrelinhas, o título sendo «Imperial» e a forma como vivemos hoje, mesmo que pensemos que somos livres, temos como que um império de media social e de grandes corporações a estabelecer como devemos viver as nossas vidas. A cobra não é ninguém em particular, de alguma forma, é bonita, mas também é perigosa: tudo o que temos nesta era tecnológica e outras coisas que estão a dominar completamente a nossa sociedade, são muito confortáveis para reagir. Se odeias algo, por exemplo, para reagir, basta fazer uma publicação no Facebook.

Por falar em cobra – de quem foi a ideia de colocar aquela cobra gigante nos ombros do Joel (no vídeo clipe)? Minha... (risos)

Odeias assim tanto o Joel? Era uma cobra enorme! Realmente, ele não sabia que tamanho tinha. Apenas falei com um elemento da produção e disse-lhe que queria uma cobra com o Joel. Quando ele veio para o estúdio, eu estava a sair porque não podíamos estar no mesmo lugar e disse-lhe: “Tenho uma surpresa para ti...” e então colocaram-lhe uma piton de 5 metros e o Joel, simplesmente, pegou a cobra e fez o vídeo sem hesitar. Muito impressionante!

Tu odeias mesmo o Joel… (risos) Como descobriram o Oleksii e qual foi a sua contribuição para a música? O Oleksii? Acho que foi um amigo meu que me disse para pesquisar no Youtube, vi os vídeos e achei-o impressionante, tinha um ritmo incrível. Então, entrei em contacto com ele e disse-lhe que gostei muito do que vi e ouvi. Entretanto, conversamos, ele tocou para nós e gostámos. O resto é história!

Bem, se algum dia precisarem de um baterista, podes ligar-me

“[«Imperial»] É um pouco mais emocional. [...] é um pouco mais baseado em metal e um pouco menos progressivo.

quando quiseres... (risos) Ok... Vou adicionar-te à nossa lista... (risos)

Como sempre, as vossas letras são como poesia. Quem os escreveu e de onde foram buscar a inspiração? Joel escreveu as letras. Somos inspirados pela vida em geral, estamos a criar e a educar os nossos filhos e estamos a ter uma maior percepção de mundo em que vivemos e pensamos sobre as coisas que nos preocupam.

Dei uma olhada nos títulos das músicas em toda a vossa discografia e apenas quatro músicas têm mais de uma palavra no título (incluindo também os álbuns). Existe alguma razão especial para tal simplicidade nos nomes? Sim, é uma espécie de convite ao ouvinte para entrar e descobrir do que estamos a falar, em vez de darlhe tudo já servido.

Podemos falar um pouco sobre seus projectos paralelos e algumas das tuas sessões como artista convidado, principalmente, com Amorphis e, claro, com Moonspell português, em 1755: - Que tipo de projecto é Fifth to Infinity? Tens planos de lançar outro álbum? Não. Não faço mais parte desse projecto. Actualmente, só estou a fazer algumas coisas com Amorphis e Moonspell porque, realmente, dou-me bem com o Pedro dos Moonspell e eles precisavam de um percussionista. - O que é mais desafiador: ser percussionista ou baterista? Depende do nível que desejas. Se quiseres tocar apenas uma parte da percussão, é fácil. No entanto, se aprofundares mais e mais em qualquer um destes instrumentos, irás verificar que ambos são igualmente difíceis.

Eu vi as datas da vossa digressão e só têm dois dias na Suécia. Porque é que têm tanta dificuldade para tocar no vosso país? Não sei. A Suécia tem recintos de topo mas as pessoas estão espalhadas por um país muito grande. Esses dois recintos são os melhores para podemos dar concertos já com alguma envergadura.

O que podemos esperar de vocês em Portugal, em Dezembro? Nós fazemos o que fazemos, tocamos as nossas músicas e conectamo-nos com as pessoas e esperamos divertir-nos. Cada vez que vamos a Portugal é mágico, tanto no Porto como em Lisboa. Na maioria das cidades, as pessoas acolhem-nos bem, mas Portugal e Itália têm sido os países onde nos tornamos primeiramente conhecidos. Por isso, temos algum tempo para os nossos amigos portugueses, sempre que regressamos ao Porto.

Mas para a próxima vez que fores a Portugal e fizeres uma versão ao vivo do novo álbum tens de incluir duas músicas tocadas no Porto. Temos que incluir o quê? (Risos) - No álbum «Lykaia Revisited» têm duas canções gravadas em Lisboa. Por favor, da próxima vez, duas gravadas no Porto! Ah... Sim!!... É verdade... Vocês têm que gritar como as pessoas em Lisboa... (risos)

Obrigado pela tua paciência... Obrigado pela entrevista e vemonos no Porto. Cuida-te.

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