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T R I S T A N
T E L L
TEZ DE AMIANTO
POESIA - AFORISMOS- DESAFOROS
UM MÍSERO MÍSTICO MISSAL SÃO PAULO - 2022
Copyright © 2022 Tristan Tell sob os cuidados da Verve Editora Coordenação Editorial Tristan Tell Diagramação Verve Editora Direção Editorial Jornalismo VERVE Fotos @tristan_tell _seixas Preparação Gráfica SertãoCult (88) 9 9784.2222 1ª Edição ISBN 978-65-00-42963-3 www.vervenews.com.br
Poesia, Aforismos & Desaforos! TEZ DE AMIANTO (4 capítulos)
-Prefácio1....................................................05 -Prefácio2....................................................09 -Prefácio3....................................................11 -B ra h m s : 4 Ba l ad as - O p . 1 0 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 3 -Canalhas, arrependei-vos!.............................23 -E nqu a n t o H a j n is h i , C as t an ed ae O s h o s e vic i a v a m . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 1 -De u m t e m p o i n f el i z e h o m en s o b s t i n a d o s. . . . . . 8 9
“Para Pound, Proust, Poe e eu mesmo que vos digp: a palavra que salva, consagra!”
TRISTAN TELL
PREFÁCIO 1 Que você possa sentir da mesma forma essa rica vivência. Quando Tell, ou ainda o Tristan Tell entrou em meu estúdio para gravar suas músicas em 2016, eu soube imediatamente que ali estava uma profundidade insondável. Todos os dias nos deparamos com o raso, então o profundo acaba sempre se destacando. Esse relevo se confirmou e iluminou quando ele se pôs a cantar suas composições. Sinto que ficamos amigos instantaneamente e isso ia ficando evidente à medida em que discordávamos franca e cordialmente sobre os mais diversos assuntos. Conversa de gente que já se conhece, sabe?
E quando o Tell me pediu que escrevesse o prefácio de seu segundo livro, eu fui tomado de alegria e assombro: “E agora, o que eu poderia dizer sobre a poesia proveniente de uma alma que viveu tanta coisa, que experienciou o que talvez eu jamais tenha sequer imaginado?” Mas foi depois de ler o livro que realmente faltaram as palavras. Só consegui lhe escrever: “Estou sem palavras, Tell. Assombrado, arrebatado.” Mas não passou muito – 5 –
tempo até que a ebulição profunda causada pela poesia quisesse encontrar expressão. Poesia? Ah sim, com certeza poesia, mas antes, palavra crua e direta que te acerta a testa com um estralo e te faz ver estrelas! Não é de lirismo enfadonho e nem de feios e pesados arroubos de violência apelativa - algo tão comum hoje em dia - que é feito esse impactante “Tez de Amianto”, mas de verdade! Não é desprovido de beleza, mas contém apenas a beleza da verdade nua e crua, e para quem sabe enxergá-la. É texto que se lê sem se apegar à minúcias, pois ao ler, a realidade das experiências reais das coisas instantaneamente se faz sentir. Já na segunda página, ao ler: “Desvairadamente, este crânio se coroa de chamas em cataclismo imenso, em arrojo lacônico. Assim sendo, apesar das faíscas, um coração de odre cheio, guarnecido de álibis, aproxima-se da prancha e o salgado mãe está pela frente todos os dias, azul, azulinho, profundo, nefasto.” A identificação fulminante despertada pelo texto me faz imediatamente lembrar de meu primeiro encontro com o Tell, lá em 2016, no meu estúdio... Fico com a estranha impressão de que eu participei de alguma forma, em algum nível, das experiências que de certa forma compõem esse livro, ou que o fizeram emergir. E eis que já chegando ao final do livro, já tomado por um certo senso de descrença por ter a responsabilidade de escrever o prefácio de uma obra tão singular - e antagonicamente com uma sensação de identificação tão forte que me fez vir à mente a pergunta que o compositor faz na música “Certas Canções” (de Milton e Tunai): “Como não fui eu que fiz?” Ora, tivesse eu a capacidade de expressar de forma tão única as experiências recolhidas em uma vida igualmente única, e com certeza escreveria o mesmíssimo “Tez de – 6 –
Amianto”. Ironias à parte, não posso deixar de citar mais uma passagem que é a síntese da realidade atemporal, e ao mesmo tempo irremediavelmente atual que o Tell traz à tona em seu livro. “(...) foram ali presentes diante do fluxo da vida carregando o excesso de um mundo sem trilhos brilhantes e pontes pênsil sobre o desfiladeiro da fé fertilizadas por ‘achismos.” Ao terminar de ler o livro eu senti como que se houvesse adicionado às minhas próprias experiências de vida uma parte da rica vivência de quem o escreveu. Como se agora eu conhecesse lugares, pessoas, aflições e alegrias que na verdade não foram realmente vividas pela minha pessoa. É meu desejo que cada um dos leitores possa sentir da mesma forma essa rica vivência! Por Wilk Ottoni Azambuja @wilkazam Músico e Produtor Musical
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PREFÁCIO 2 Que não sejam as palavras contidas nessa obra apenas cuspidas ao léu. Que elas promovam o “profundismo” nas reflexão de quem as possam lê-las. Qual foi minha surpresa ao receber o convite de Tristan Tell para escrever o prefácio do seu livro “Tez de Amianto”. Parceria recente, porém, cheia de conexão que criamos graças ao mundo digital globalizado. A mesma tecnologia que por vezes nos encarcera afastando-nos de quem está por perto, nos conecta a ideais e formas de pensar de quem está há milhas e milhas. Tez de Amianto traz em forma de poesia o pensamento escancarado de quem enxerga a vida sem filtros. Oferecenos a oportunidade de um olhar mais profundo sobre o que é visto sem ser fitado, do que é discutido a partir das lentes de quem assiste do camarote. Ecoa nas palavras o que a alma grita. – 9 –
Regado a verdades sem anestesia. Despido de confetes e pompas. Diamante bruto, cuja única intenção é Ser. “De um lado e de outro um construir ruínas para tempos sombrios. O tempo não perdoa e a vida muito menos. Por ser única deve ser consumida agora, sem gelo e a seco, sem moderação alguma, pois todo o resto é curva e desolação.” Luh Mezzari Escritora e Atriz. Formação acadêmica: Marketing. Já atuou em peças teatrais e curta-metragem. Autora do blog Sendo a Mudança (sendoamudanca.com) Embaixadora da Editora Livra(a) pela qual publicou contos em dois livros e atualmente trabalha em um projeto infantil solo pela mesma Editora. Natural do Paraná, viveu em são Paulo por 15 anos antes de mudar-se para os Estados Unidos.
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PREFÁCIO 3 Neste não tão doce missal. Tristan Tell dedicou grande parte da vida à arte. Sempre em busca do profundo, do profano. Não tem pretensão de ser superficial. Ele arranca das profundezas seus versos sem pudor. Tez de Amianto traz uma crítica nada convencional, é repleto de poesia, aforismos e, sim, desaforos. As palavras de Tristan Tell o consagram como um crítico voraz e um poeta cheio de sensibilidade. Ele não expõe, ele escancara a sua percepção da realidade com um grito lancinante. “Para Pound, Proust, Poe e eu mesmo que vos digo: a palavra que salva, consagra!” Patrícia Paludo. Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2006).
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Brahms: 4 Baladas – Op.10
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Brahms: 4 Baladas – Op.10. Aturo Benedetti Michelangeli e uma vida de martelar nuvens em seu próprio piano. Aqui onde estou abrigado é só romance, mas vez ou outra em meio a incessantes denotações, minha paz enfuna-se ofuscada.
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Desvairadamente, este crânio se coroa de chamas em cataclismo imenso, em arrojo lacônico. Assim sendo, apesar das faíscas, um coração de odre cheio, guarnecido de álibis, aproxima-se da prancha e o salgado mar está pela frente todos os dias, azul, azulzinho, profundo, nefasto.
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Minha rainha que é Pallas, é Judith, é Rachel e também Argine que em uma forma única de mulher toma chá e me abre suas pernas, não seus braços, pois ela sabe o que é bom e eu fito seus pêlos sobre o monte de vênus e a luz que brilha ali é ainda mais atraente como o sol de Arles para Gogh.
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Seu peito pálido num tan-tan suave diz dizendo palavras de afeto que assim como o sol se levanta pontual tem a certeza de que não sou um pássaro, fechando a sete chaves meus planos de vôo, janelas e aqueles belos par de pernas e a vagina cujos pêlos fito iluminados como o sul da frança.
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Por entre suas pernas e delícias umedecidas, delas, do púbis nasceriam asas, mas não seriam asas negras como a asa negra da graúna a dança de shiva, auspiciosa e cósmica?
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Púbis de criação e destruição, meu morrer e meu renascer. Fato é que há sempre esta verdade que adentra o recinto calcada no divino.
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Não o obscuro, o invisível de nuvens cercado, esotérico, mas o justo encarnado, da cor da carne, revelado pelo que no início era o Verbo - epicentro de crise e de cruz, demo e deserto, bezerro de ouro em Cananéia cuja a técnica extrema na arte de enigmas combate o símbolo Vivo, o sacro estado deste homem que murmura por seio farto, afeto, teto, poesia, chocolate e lã a nutrir-se deste meio reio, veio de lida eterna.
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Para Pound, Proust, Poe e eu mesmo que vos digo: a palavra que salva, consagra!
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Canalhas, arrependei-vos!
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A canalhice é antes de tudo a arte da soberba. Soberba na gula e na fome, na alegria e na tristeza, no sexo e na abstinência. O canalha não faz esforço para ser, ele apenas é! Uma resultante de sua existência e deste lixo todo aí.
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Não é unicamente um dom dos magros como dizia Nelson Rodrigues ou uma dor como Walter Franco é coisa de sangue e pele, de hábito e vício e é notória em qualquer cretino, transeunte nestes tempos bicudos. Portanto, canalhas, arrependei-vos! É chegada sua hora, arrependei-vos já!
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Eu havia tretado um monte de porcaria por quase vinte anos para alguns canalhas e sua corja de lacaios, esta classe que usam seu my name is para impor a dominação e o tráfico de influência de geração em geração, melhor ainda se for a sua. Esta gente empolada e cheia de falsos dogmas. Eu havia tretado por um credo e não um crédito para esta gentalha minúscula e sem escrúpulo, vexatória como um pau murcho e tosco.
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Eu havia usado a gramática e a semântica para saltar e trapacear sobre seus catres, catequizando minha alma para que pudesse entrar em seus mundos vencidos e repletos de camas vazias, quadras inóspitas, hinários sorrateiros, traições encobertas com veludo e vexame.
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Eu havia tretado como um servo, um bufão também e para o mais baixo escalão. Tretei para os que viviam das migalhas ofertadas como prêmio por sua abnegação. Eu desci baixo, muito baixo mesmo.
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Quando você começa a descer não para mais até descer bem fundo - descer pode ser um hábito - ao escuro beco de prostitutas e drogados, dos vagabundos e miseráveis profissionais, de liberais iconoclastas do belo e do sacro e dos vencidos pela falta de vontade, pela preguiça e por todo tipo de política do pão e circo, de toda queda capital inexorável e sem compaixão.
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De um lado e de outro um construir ruínas para tempos sombrios. O tempo não perdoa e a vida muito menos. Por ser única deve ser consumida agora, sem gelo e a seco, sem moderação alguma, pois todo o resto é curva e desolação.
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Mas eu perdi também. Perdi tudo e todos. Perdi minha coragem, minha fúria, minha tinta e minha verdade. Perdi minha esperança e perdi dinheiro. Perdi tempo e meu verniz. Perdi para mim mesmo, como se o monstro do pântano em mim e que em todos habita cobrisse toda a extensão de forma humana - concedida pelo cosmo ou por um Deus que conclamamos sua existência e que não sabemos se está por todo sempre em tudo que vive e não vive - que me fora concedido para ser e estar nesta face da terra, neste espaço de tempo, neste tempo-espaço.
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Sobra-me apenas voltar para este expurgo expresso. Uma ida ao inferno para recuperar minha alma e colocá-la no devido lugar antes que desapareça abjeta e de nenhuma serventia seja.
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Eu havia deixado minha alma no armário, presa e enrolada num cobertor mofado e fétido. Agora eu fedia tanto quanto eles, mas sem os artifícios da perfumaria. Fedia a algo ainda mais vulgar e desprezível. Fedia como um impostor.
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Nunca que chegaria a algum lugar assim. Nunca passaria como não passo de um rascunho de projeto de vida falho e frágil e triste e grosseiro. Eu havia feito o jogo deles por tanto tempo que me perdi por inteiro.
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Aqui e agora apenas um rastejante sujeito que sequer tem direito ao próprio cigarro ou alguma bebida barata que possa entorpecer esta dor, que pulsa pura e fria assim, ardendo como que cortado à faca, como que quebrado este cerne enrijecido de tantos sonhos destripados qual bois num matadouro de vida limitada.
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Eu sabia que agora a curva estava pendendo para baixo e talvez nunca mais voltasse a proporcionar dias de fartura e prazer. Fodam-se! As forças diminuíram e os joelhos racharam pelo peso extra de palavras lavradas sem qualquer verdade.
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Eu sabia apenas assoviar algumas velhas canções que me fizeram a cabeça ainda jovem. As letras quase todas haviam desaparecido no buraco negro da memória, mas a alma delas estavam ali bem detrás daquela parafernália de impressos burgueses e inúteis, bem ao lado dos cânticos dos cânticos, sob teias de aranhas tão velhas quanto se pode crer que possam existir.
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Eu não tinha mais muito tempo a perder, precisava fazer a limpeza dos armários, precisa limpar a casa antes de partir, antes de pegar o trem das sete horas que parte da estação central subterrânea e seixista e nunca, nunca mais ou mesmo pegar meu disco voador, la nave , o escaler intergalático, a ave de Perseu, ao comando da voz vinda de um canto quântico do espaço, a voz de Major Tom. Peripécias piegas a parte, eu sabia: não tinha mais tempo.
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Daqui foram retirados todos os índios e negros autóctones, originários das primeiras lidas com a terra através do genocídio e da escravidão e logo após trouxeram seus próprios negros – nenhum índio - domesticados e viciados, corrompidos pelo trabalho serviçal e falso logro com as coisas do porvir.
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No entanto continuavam a procriar e gerar novos escravos modernos, salvos por baixos salários e um Cristo sem face nos moldes da nova ordem pentecostal, onde a prosperidade é para todos desde que se pague o ingresso com a décima parte de seu suor.
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Todos foram saciados em sua fome com o milagre da multiplicação tecnológica e midiática através da supressão da dor, da sublimação do desespero e da aceitação do seu lugar nos guetos e vielas, vencidos e dominados pela crença de que o bom comportamento e a nãoreação os levará ao palácio dos prazeres ou ainda acreditarem que façam parte do todo e não que sejam do todo a parte.
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Aqueles que se resignam são presos e estuprados física e moralmente até a morte pelo vício na droga ou pela cadeia. Ausentados de suas famílias, de suas possibilidades infinitas. Proscritos da cadeia alimentar e do livre arbítrio. Párias apenas.
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Eu não sou daqui e não sou de qualquer lugar. Não me reconheço neste tempo e a única preocupação imediata que tenho é a de como conseguir algum dinheiro para continuar a alimentar os pequenos, pagar o aluguel e os serviços básicos e, claro, tocar em frente.
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Não penso mais em por fim à vida que me resta, pois quero assistir de camarote esta droga toda pegar fogo e se arrebentar qual veículo sem condutor. Isto tudo é uma piada maldosa, uma arte de levas traquinas a adoecer o espírito antes hirto e roto.
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Tudo é há tempos um canto de escárnio e mal - dizer. A ordem natural do conhecimento foi alterada pela força da falta de senso, pela angústia da ausência de algo ou coisa que valha uma prece.
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A regra do dia é que se deve vomitar e seguir adiante até a próxima ânsia de vômito e às vias de fato. Tudo é muito tudo e nada inteiro, sequer a metade. W.Benjamim disse que dissolveria no ar tudo que é sólido. Fato.
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Nada dura uma fração, um instante, um relâmpago e toda ideia rói feito o mistério desta era de bispados e dominações. Na maioria das vezes dominados e dominadores sequer percebem a herança e legado, mas atuam por impulso no teatro de máscaras bem confeccionadas: para uns e por direito transmitido o ouro e o pão e a outros por concepção a lei e a prata da lei.
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O ateísmo não gera culpa, mas libertação.
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Enquanto Hajnishi, Castaneda e Osho se viciavam...
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Enquanto Gurdjieff, Hajnishi, Castañeda e Osho se viciavam à moda da profilaxia dos chupadores de pinto no Sacré Coeur, minha acéfala caminhada sobre cacos de vidro começara. Saiba antes: é melhor morrer que ser pobre de grana mesmo e seguir contando e recontando a ascenção do “idiotismo”.
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Nostradamus nós estamos em 2.0.1.6, outra estadia no inferno. Eles querem a Barbie nua na base do anti-age costurada a fio pela mão feminina do jovem trágico doutor fantástico acéfalo.
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Foda-se, digo eu: da calçada vê-se o desfile de oferendas e fel a mecânica quântica e a física dos corpos sob o corcovado.
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Judeus não são bonzinhos, são Judeus e são justos pro just.
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A vingança dos caçadores de relíquias era encontrar o Graal. Enquanto eu descia até a parte sul de NY por lá vi Arimatéria a recolher sangue e suor dimanado das chagas do seu Salvador.
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Elas, elas, elas e muitas elas em mim eram veras e não Helenas.
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É preciso ter culhões para peitar a ignorância alada e alheia. Bem feito! Tudo foi feito na surdina e com um beijo frio em sua mulher...
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Cohen, agora que somos marginais sem afetações e amante do amor e do amador armado, de arma na mão temos que tomar São Paulo e depois Brasília, não Berlin.
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De branco para branco, black to black, um Jobim só não basta.
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Aquilo que se chama amor é mais do medo que da coragem.
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Deu no New York Times e na Globo News: general do crime se entrega a Jesus, será? But, i shot the sheriff.
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Esconjuro: um esboço sobre o erário de mais de 500 anos de dominação cultural e estupros coletivos em massa e atrás da bananeira. Bananeira, não sei, bananeira será...
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Com olhos vendados, cerrados, fechados, vê-se o que quer, pois minha dádiva é o meu perdão e minha vingança, minha dívida.
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Como soletrar Luciano Huck e Angélica Ksyvicks às 17h? Antes ou depois do meu chá e da Yoga?
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Nem Deus nem lei, somente o Diabo lhes dariam a honra do jazz e suas fusões, né Miles e meu amigo Charles, anjo 45 descendo o morro?
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Darwin e sua “puta” razão: evolução biológica por seleção natural é um baita negócio como a sátira de viver em satélites equidistantes.
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Porto Alegre de Quintana e a São Paulo de Adoniram, tudo bamba...Aqui e ali não se inventa coisa, não se afirma inventários.
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A sarjeta me quis como amante e me teve afinco por anos a fio... Sem banho, sem água e a roupa suja pra lavar posta no quarador da vizinha junto com suas calcinhas de minie mouse.
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Ela dança, eu danço 20 anos depois como uma louca balalaica e salve-se quem souber dançar a dança louca das borboletas com estas mãos que entregam tudo, até o pau, ops, o pau ainda não!
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O Dr. do Sr. Cadeia em nível superior e seu AVC pusera sal e o sêmen nas pernas alheia e você embalou Matheus.
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Então você acha que devo ouvir seu solo, seu choro descompassado, salvo se Vik Muniz me ensinar como vender a honra e se mandar pra NY...
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6h e 2 kilômetros a pé, ida e volta todos os dias na penúria plena e meu caralho murcho e roto, pronto pra papar capim.
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As penas daquela Tiê não seriam muito branca pra ser uma crooner bem negra quanto tanto assim só seria azeviche meu dom de comer ceviche, pra ser só lirismo no cinismo caucasiano e suas armadilhas cívicas?
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Farto das calcinhas de látex e dos pomos de adão entumecidos. Farto também estou deste “lound” de esgoto e desta cocazinha.
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A coisa preta que branco quer é a coisa branca que preto quer: esta música sem sal e soul - parcela de participação na prestação do prostíbulo.
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De Porto Rico e Cuba e seu vudu à macumbaria brasileira hoje nem se eu quisesse querer se perder aqui neste lugar onde vasculho o lixo para viver do lixo.
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A falta de fé e o surgimento do “coach”coacham e não lavam o pé, enquanto a fina arte e a dominação da arte burlesca se enquadram no ipod que da febre a tara me provoca e só me fode, só me fode, só me fode.
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Quando Epicuro veio até o lixão pra ter sexo barato com senha de rei roído, Jorge Mautner cobrava a dívida dos canalhas e fitava boys do Leblon até a Consolação.
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E eu, da lama ao caos na “ferradura” do cavalo sem cabeça desta minha lenda, lenta nave louca, singrava meu corpo pelas gretas e riscava as primeiras letras do teu nome no meu braço de mar, maresia, maré, oh minha Oxum.
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Sei que elas trajam moda evangélica e nos seus apostolados oferecem nudes no instagram e eu salvo minha pele cresta antes da falência do credo em cruz e este prosecco de quinta já que eu não devo às escadaria das favelas o Brasil que desce a ladeira mas àqueles que deixaram o lodo da burguesia entrar pela suas vaginas como em um tobogã até sair do outro lado, analmente.
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As baratas não se importam mais com a trip de Kafka, mas com kafta e a trípice coroa do cristianismo. Estes ratos em sua imunda dominação estão pelo mundo nas sombras, planejando o dia D, o dia em que o rato roerá a roupa do rei de roma para sempre.
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O peso da idade na bandidagem cobra cedo os sete palmos de chão, portanto: Bacon para bundas grandes, cenouras para rabos esquálidos. E ali na surdina: a sondagem do meu soldo assiste um Brasil na TV e minha namorada branca e tão impura quanto me era imprópria me implora por um boquete, cheirando sabonete lux. Que luxo, que lixo...
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E nascem os filhos por obra da carne e nunca por obra de um Deus ou da sorte de termos Deus. Eliana Elias é loira e Diana Krall também e as albinas são quem? Quem? Quem?
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Interracial: é sempre uma escolha da mistura mística e musical e o meu traje é vermelho com dragões alados e luzes piscando direto do olho do meu cu para o cu da próxima vítima. Se der na telha, amanhã como o rabo do Mestre Luz e seus ascencionados em visita de vistoria a minha morada de hobbit, meu quintal – quinhão, terreiro e nação.
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De um tempo infeliz e homens obstinados
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Não sobra azul para a paloma ou a beleza virgem neste tempo infeliz e como é infeliz a permanência da larva nas indiferença feito bolor que impede o brilho sempre dessemelhante.
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O trauma tribal é feio um complexo de pequenêz, antítese refeita para o almoço que intensificou a cruel disputa de postos primos em violência inquisidora e pestilência com cabeças e troncos nus cozidos em óleo de baleia e algumas ervas.
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Séculos inteiros foram menos pudícos e covardes. E o meu pensar não pode ser clandestino e vil, servil e volátil, posto que é a covardia periférica apregoada ao futuro que encobriu o desvelar do que parece perdido para sempre, pendido como corpo pela forca, pela força das horas, bebidas de bronze, marcas de cruz e cama, horas a fio.
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Um ode às datas em ferro e aos bustos pétreos. Sabe-se do absurdo pelo que a história nega o luto de modo que é em si generosa não fosse fruto de Esparta. Estes homens não vieram consigo mesmo e em espécie ou bando. São fantasmas carregando nos ombros a história de mortandade servil.
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Os minutos decorriam e negros amarelaram, brancos ruborizaram, amarelos enegreceram e suas castas com craxás não diziam “entrem” mas “sou”: um erro fatal, pois não estavam em casas próprias e eram homens inteirados pelos sentidos violáceos de perda.
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Os imbecis, por que não eram bons ou generosos, sufis classificados, foram ali presentes diante do fluxo da vida carregando o excesso de um mundo sem trilhos brilhantes e pontes pênsil sobre o desfiladeiro da fé fertilizada por “achismos”. Um mundo que não caberá na ideologia das dívidas de morte mas no prescindir idéias toscas e humilhantes de ferro e fogo num cárcere que tiranos negariam a si como ser para salvar-se.
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Alguns homens sempre vão e vêm obstinados por um bem comum, mas não são homens de fato, mas uma leva traquina a adorecer o espírito e insulflar as massas.
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Estou pronto: mata-me, minha régia delonix, meu amor, meu flamboyant a sangrar pelas esquinas do mundo sempre só, solitário, sozinho numa couraça, tez de amianto, que eu chamo de vida.
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Dedicatória: Neste mundo ser feliz é complicado mesmo e bem mais fácil é sofrer como bem diz o poeta e músico gaúcho Nico Nicolaiewski, falecido em 2014 em decorrência de complicações relacionadas à Leucemia Mielóide Aguda. Ele tinha 56 anos, minha idade em que terminei de compilar, enfeixar e tentar converter, TEZ DE AMIANTO como um MISSAL com estas minhas orações principais e outras rezas que levo comigo para acompanhar-me qual cerimônia de adeus. Então dedico ao Nico, ao Galileu Arruda, ao Jerônimo Jardim, ao amigo Paulo Farret ( todos músicos e poetas gaúchos, companheiros dos meus verdes anos) que me deu guarida e afeto quando ainda éramos tão jovens em Porto Alegre, a mesma Porto Alegre que vivi e viu nevar em agosto de 1984 e me mostrou que ser feliz seria complicado, mais fácil é sofrer mesmo... Tristan Tell Abril – 2022
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Biografia Tristan Tell é Bacharel em Comunicação, habilitado em Cinema pela FAAP, turma de 1986-90, com mais de 25 anos de experiência em veículos de comunicação como TV Record, TV Bandeirantes, TVA, TV Clima Tempo, Rede Unimed, Bancos privados e diversas outras mídia impressa e digital. Dramaturgo, autor e diretor da Peça A Espinha Dorsal, Músico com várias participações em Festivais de Música pelo Brasil. Autor do livro de poesia Bastardo Bliss - Coisas que te ajudam a morrer! Atualmente é CEO na VERVE EDITORA DIGITAL e www.vervenews.com.br Jornalista acidental é pai da Bia, Bah, Beh, Bento e Maria Clara. Avô da Aurora. Casado com Adriana de Assis, companheira, amiga e amante por mais de 25 anos. @tristan_tell_seixas - www.tristantell.com.br Foto Capa: @floragiohdonatella @scarlaty.bene
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Este livro foi composto em fonte Calibri, impresso no formato 12,5 x 18 cm em offset 90 g/m2, com 102 páginas. Abril de 2022.
APÓS 25 ANOS SEM ESCREVER Q U A L Q U E R P A L AV R A , O C I N E A S TA , M Ú S I C O E P O E TA T R I S TA N T E L L NOS TRAZ SEU SEGUNDO LIVRO REPLETO DE AFORISMO, ALGUMA POESIA E MUITOS DESAFOROS...
TEZ DE AMIANTO tez/ê/substantivo feminino 1. superfície fina de qualquer coisa.epiderme, esp. a do rosto; cútis. 2.”t. morena”
O amianto, também conhecido como asbesto é uma fibra mineral natural, de textura sedosa, que é extraida de rochas cuja composição química consiste em silicatos hidratados de ferro e magnésio, que também podem conter cálcio e sódio.
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Verve Editora Digital - Ano VI