Museu de Arte Sacra de Oeiras - PI

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Museu de Arte Sacra de Oeiras, Piauí:

Diagnóstico e exercício de documentação museológica

DE FREITAS JÚNIOR

MUSEU DE ARTE SACRA DE OEIRAS, PIAUÍ: Diagnóstico e exercício de documentação museológica |

MUSEU DE ARTE SACRA DE OEIRAS, PIAUÍ: Diagnóstico e exercício de documentação museológica

Trabalho Final apresentado ao Programa de Pós-graduação em Artes, Patrimônio e Museologia, como requisito para obtenção do grau de Mestre.

Edital nº. 04/2018

4ª Turma | 2018-2020

Orientadora Prof.ª. Drª. Áurea da Paz Pinheiro

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PEDRO DIAS
Luís Correia 2020

MUSEU DE ARTE SACRA DE OEIRAS, PIAUÍ: Diagnóstico e exercício de documentação museológica

MUSEU DE ARTE SACRA DE OEIRAS, PIAUÍ: Diagnóstico e exercício de documentação museológica

Créditos:

Este é o relatório dos resultados da pesquisa-ação sob o título “MUSEU DE ARTE SACRA DE OEIRAS, PIAUÍ: Diagnóstico e exercício de documentação museológica”, desenvolvida no âmbito do Programa de Pós-graduação em Artes, Patrimônio e Museologia, Mestrado Profissional da Universidade Federal do Piauí.

Universidade Federal do Piauí | Universidade Federal do Delta do Parnaíba

Reitor da Universidade Federal do Piauí

Prof. Dr. José Arimatéia Dantas Lopes

Vice-reitora da Universidade Federal do Piauí

Profª. Drª. Nadir do Nascimento Nogueira

Pró-reitor de Ensino de Pós-graduação da Universidade Federal do Piauí

Prof. Drª. Regina Lúcia Ferreira Gomes

Reitor da Universidade Federal do Delta do Parnaíba

Prof. Dr. Alexandro Marinho Oliveira

Coordenadora do Programa de Pós-graduação em Artes, Patrimônio e Museologia

Profª. Drª. Áurea da Paz Pinheiro

Orientação

Profª. Drª. Áurea da Paz Pinheiro

Capa, projeto gráfico e editoração eletrônica

Victor Veríssimo Guimarães

Editora

Editora Educar Artes e Ofícios

S237i Freitas Júnior, Pedro Dias de. Museu de Arte de Oeiras, Piauí: diagnóstico e exercício de documentação museológica. [recurso eletrônico] / Pedro Dias de Freitas Júnior. – 2020.

108 f.: il. color

Dissertação (Mestre em Artes, Patrimônio e Museologia)Universidade Federal do Piauí, Universidade Federal do Delta, 2020

Orientação: Prof.ª Dr.ª Áurea da Paz Pinheiro.

CDD: 069.122

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| © Copyright
2020
1. Museu. 2. Arte Sacra. 3, Oeiras. 4. Piauí. I. Titulo.

MUSEU DE ARTE SACRA DE OEIRAS, PIAUÍ: Diagnóstico e exercício de documentação museológica

MUSEU DE ARTE SACRA DE OEIRAS, PIAUÍ: Diagnóstico e exercício de documentação museológica

Trabalho Final apresentado ao Programa de Pós-Graduação, Mestrado Profissional, em Artes, Patrimônio e Museologia, da Universidade Federal do Piauí, como requisito para a obtenção do título de Mestre.

Orientadora: Profa. Dra. Áurea da Paz Pinheiro

Trabalho apresentado e aprovado em: ____ de _____________ de 2020.

BANCA EXAMINADORA

Profª Drª Áurea da Paz Pinheiro (Orientadora | UFPI)

Profª. Drª . Luciana Conrado Martins - UFPI Avaliador Interno

Profª. Drª. Renata Padilha - UFSC Avaliadora Externa

Luís Correia 2020

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DECLARAÇÃO DE AUTORIA

Eu, Pedro Dias de Freitas Júnior, declaro que esta Dissertação, intitulada MUSEU DE ARTE SACRA DE OEIRAS, PIAUÍ: diagnóstico e exercício de documentação museológica, é o resultado de meus estudos e intervenções no Programa de Pós-Graduação, Mestrado Profissional, em Artes, Patrimônio e Museologia da Universidade Federal do Piauí (UFPI). O conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão devidamente mencionadas na bibliografia ou outras listagens de fontes documentais, tal como todas as citações diretas ou indiretas têm a devida indicação ao longo do trabalho segundo as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

Parnaíba (PI), 06 de agosto de 2020

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Pedro Dias de Freitas Júnior

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À minha Mãe do coração, Albina Vieira de Sousa (In memoriam).

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Agradecimentos

O ato de gratidão é um reconhecimento pela caminhada, trajeto e oportunidades que a vida nos proporcionou até aqui, pelo encontro com pessoas e projetos que transformaram nossa forma de perceber o mundo, o território e as comunidades. Assim gradeço:

Aos docentes do Programa de Mestrado em Artes, Patrimônio e Museologia da Universidade Federal do Piauí (UFPI), pela experiência e aprendizado.

Aos colegas da Turma 4, pela conivência e troca de saberes, em particular aos companheiros de jornada da “Casinha da Praia do Coqueiro”. Deixo aqui, em forma de saudade, a minha homenagem ao amigo Danilton Nóbrega (In memoriam).

À Equipe do Museu de Arte Sacra de Oeiras, pela convivência fraterna, esforço e dedicação.

Ao Instituto Histórico de Oeiras, Secretaria de Cultura e Turismo de Oeiras, e Secretaria de Estado da Cultura por serem parceiros do MAS.

À Cúria Diocesana de Oeiras e à Paróquia Nossa Senhora da Vitória, por apoiarem nossos estudos e intervenções.

Às professoras doutoras Renata Padilha e Luciana Martins, bem como à professora mestre Elenilce Mourão pelas valorosas contribuições ao trabalho.

À Profª Drª Cássia Moura, pelo incentivo, por partilhar a vida e o conhecimento.

À Profª. Drª. Áurea Pinheiro, pela inspiração, orientação e por me ajudar na desconstrução de um Pedro hoje em construção.

À minha família, em especial às minhas tias-mães: Aldenora, Francisca e Maria Laís Dias de Freitas. Obrigado, por tudo!

Ao Bom Jesus dos Passos, ícone de fé e esperança para o povo dos “Sertões de Dentro”.

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As cidades têm alma. Jeito próprio de ser e parecer. A. Tito Filho

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Resumo

Este trabalho realiza um diagnóstico do Museu de Arte Sacra de Oeiras, localizado no Sertão do Estado do Piauí, criado em 1983, como parte das celebrações dos 250 anos da Catedral de Nossa Senhora da Vitória. Considera-se também um exercício de documentação museológica do acervo desse equipamento cultural. O Museu tem sua sede no Palácio Capitão-Mor, João Nepomuceno Castelo Branco, antigo Paço Episcopal, protege um rico e complexo acervo que precisava ser documentado. A exposição de longa duração do Museu é formada por imagens de madeira policromada, séculos XVII, XVIII e XIX, castiçais e coroas de prata, mobiliário das igrejas seculares de Oeiras, e peças oriundas de colecionadores particulares. Este trabalho nasceu da necessidade de criar estratégias efetivas para salvaguardar o patrimônio sacro da cidade, sob a tutela do Museu de Arte Sacra, que não possui ainda um Plano Museológico e necessita de medidas urgentes na sua infraestrutura, vez que a situação atual do edifício põe em risco seu complexo e rico acervo. As dificuldades enfrentadas pela Instituição levantam dúvida acerca de sua existência, e de seu futuro enquanto equipamento museal. O acervo do Museu traduz uma cultura religiosa, marca de identidade do território; as memórias das pessoas que residem em Oeiras e entorno, identidades representadas no acervo sacro do Museu, que poderão perder-se caso não haja ações efetivas de reafirmação de sua missão e vocação. Diante dessa realidade, e na condição de educador a trabalhar no Museu, executamos este trabalho, por acreditar na necessidade de construirmos programas, projetos e ações que resultem na salvaguarda desse acervo museológico. Nesse contexto, o diagnóstico e o exercício de documentação museológica do Museu de Arte Sacra de Oeiras constituíram-se fundamentais para a construção futura de um Plano Museológico, que aprimore sua gestão, e promova atividades que defendam o patrimônio constituído pelo acervo. O diagnóstico auxilia na tomada de decisões, aponta alternativas, caminhos e novas formas de transformação institucional. Com trinta e cinco anos de existência, para que a função social do Museu seja efetivada, o planejamento estratégico, inicialmente caracterizado pela realização do diagnóstico e de um exercício de documentação museológica, apresenta-se como basilar à existência futura, reafirmando sua função socioeducativa e cultural como ferramentas de gestão.

Palavras-Chave: Museu de Arte Sacra. Oeiras. Piauí. Documentação Museológica.

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Abstract

In this work, we’ve made a diagnosis about Museu de Arte Sancra de Oeiras (Museum of Sacred Arts, from Oeiras) located on hinterland of the state of Piauí, founded in 1983, as part of the 250th anniversary celebrations of the Cathedral of Nossa Senhora da Vitória, as well as an exercise in museological documentation of the collection of this cultural equipment. The Museum has its own headquarters at the Capitão-Mor Palace, João Nepomuceno Castelo Branco, formerly the Episcopal Palace, protects a rich and complex collection that needed to be documented. The Museum’s long-lasting exhibition is made up of images of polychrome wood from the 17th, 18th and 19th centuries, silver candlesticks and crowns, furniture from the secular churches of Oeiras, and pieces from private collectors. This work was born from the need to create effective strategies to safeguard the sacred heritage of the city, under the tutelage of the Museum of Sacred Art, which does not yet have a Museological Plan and needs urgent measures in its infrastructure, since the current situation of the building endangers its complex and rich collection. The difficulties faced by the Institution raise doubts about its existence, and its future as a museum equipment. The Museum’s collection reflects a religious culture, a mark of the territory’s identity; the memories of the people who live in Oeiras and surroundings, identities represented in the sacred collection of the Museum, which may be lost if there are no effective actions to reaffirm its mission and vocation. In view of this reality, and as an educator working at the Museum, we performed this work, because we believe in the need to build programs, projects and actions that result in the safeguarding of this museum collection. In this context, the diagnosis and the exercise of museological documentation at the Museu de Arte Sacra de Oeiras were fundamental for the future construction of a Museological Plan that improves its management, and promotes activities that defend the heritage constituted by the collection. The diagnosis assists in decision making, points out alternatives, paths and new forms of institutional transformation. With thirty-five years of existence, in order for the Museum’s social function to be effective, strategic planning, initially characterized by carrying out the diagnosis and an exercise in museological documentation, presents itself as fundamental to future existence, reaffirming its socio-educational and cultural as management tools.

Keywords: Museum of Sacred Art. Oeiras. Piauí. Museological Documentation.

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Lista de Ilustrações

Mapa 1 .

Figura 1 .

Figura 2 .

Figura 3 .

Localização do município de Oeiras

Chegada da Procissão do Bom Jesus dos Passos à Praça das Vitórias Procissão do Fogaréu em passagem pela Catedral Lamparina a querosene típica da Procissão do Fogaréu em Oeiras, fabricada artesanalmente com bulbo de lâmpada incandescente e folhas de zinco

Figura 4 .

Figura 5 .

Figura 6 .

Figura 7 .

Figura 8 .

Figura 9 .

Figura 10 .

Figura 11 .

Figura 12 .

Figura 13 .

Figura 14 .

Figura 15 .

Figura 16 .

Figura 17 .

Figura 18 .

Figura 19 .

Figura 20 .

Figura 21 .

Figura 22 .

Figura 23 .

Figura 24 .

Figura 25 .

Figura 26 .

Figura 27 .

Figura 28 .

Figura 29 .

Figura 30 .

Figura 31 .

Figura 32 .

Procissão do Divino Espírito Santo pelas ruas do Centro Histórico de Oeiras

Missa solene de Pentecostes na Catedral de Nossa Senhora da Vitória

Saída da Procissão de Nossa Senhora da Vitória da Igreja Catedral Grupo folclórico Congos de Oeiras (Conguinhos)

Procissão de Nossa Senhora da Conceição pelas ruas do Centro Histórico

Sobrado João Nepomuceno, também denominado Palácio Episcopal, no qual funciona o Museu de Arte Sacra de Oeiras

Igreja Nossa Senhora da Vitória e Sobrado João Nepomuceno na década de 1930

Identidade visual do Museu de Arte Sacra

Sala Dom Expedito Lopes

Sala Dom Edilberto Dinkelborg

Sala Galeria Pe. Miguel de Carvalho

Sala Alina Nunes (Santos)

Sala Maria de Cota (Semana Santa)

Sala Mariana (Procissões)

Sala Alzira Reis Tapety (Divino)

Sala Júlia Nunes (Música Sacra)

Sala Capela da Imagem Primitiva de Nossa Senhora da Vitória

Loja MAS

Sala da Administração

Representação gráfica da fachada do Sobrado João Nepomuceno

Plantas e corte do Sobrado João Nepomuceno, atual Museu de Arte Sacra

Conformação atual da Praça das Vitórias

Sala Maria de Cota (Semana Santa)

Sala Maria de Cota (Semana Santa)

Loja MAS

Sala Mariana

Acesso ao pavimento superior do MAS

Detalhe da fachada do MAS (Portal central)

Banner campanha publicitária

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Figura 33 .

Figura 34 .

Figura 35 .

Figura 36 .

Figura 37 .

Figura 38 .

Figura 39 .

Figura 40 .

Figura 41 .

Figura 42 .

Figura 43 .

Figura 44 .

Figura 45 .

Figura 46 .

Figura 47 .

Figura 48 .

Figura 49 .

Figura 50 .

Figura 51 .

Figura 52 .

Figura 53 .

Figura 54 .

Figura 55 .

Figura 56 .

Figura 57 .

Figura 58 .

Figura 59 .

Figura 60 .

Primeira ficha de registro - Lado 1

Primeira ficha de registro - Lado 2

Modelo de ficha de inventário de bens móveis e integrados do IPHAN2009

Equipe MAS ao lado do idealizador do Museu, Dr. Dagoberto Carvalho

Resplendor do Divino | Marcação Alfanumérica – tripartida

Códigos de identificação – Alfanumérico tripartido

Ficha de documentação museológica

Cálice de Ouro

Cálice de Ouro com o número do registro

Custódia | Ostensório

Custódia | Ostensório com o número do registro

Crucifixo

Crucifixo com o número do registro

Resplendor do Divino Espírito Santo

Resplendor do Divino Espírito Santo com o número do registro

Painel Nossa Senhora do Rosário

Painel Nossa Senhora do Rosário com o número do registro

Crucifixo de prata

Crucifixo de prata com o número do registro

Lanterna de Prata

Lanterna de Prata com o número de registro

Vara de prata

Vara de prata com o número do registro

Castiçal de prata

Castiçal de prata com o número do registro

Imagem Primitiva de Nossa Senhora da Vitória

Imagem Primitiva de Nossa Senhora da Vitória com o número do registro

Banner da Campanha Publicitária 35 anos MAS

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Abreviaturas e Siglas

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

Instituto Brasileiro de Museus

Conselho Internacional de Museus

Instituto Federal do Piauí

Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

Instituto Histórico de Oeiras

Museu de Arte Sacra

Pastoral de Comunicação

Programa de Pós-Graduação em Artes, Patrimônio e Museologia

Universidade Estadual do Piauí

Universidade Federal do Piauí

UNESCO

Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

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CNPq IBRAM ICOM IFPI IPHAN IHO MAS PASCOM PPGAPM UESPI UFPI

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Sumário

1 INTRODUÇÃO | 23

1.1 Público Alvo

1.2 Problema

1.3 Objetivos

1.3.1 Geral

1.3.2 Específicos

1.4 Equipe

1.5 Justificativa

1.6 Produtos e serviços

2 ESTUDO DE CONTEXTO | 31

3 REVISÃO DE LITERATURA | 43

4 METODOLOGIA | 49

4.1 Tipo de pesquisa

4.2 Local de estudo

4.3 Coleta e análise de dados

4.4 Aspectos éticos

5 RISCOS | 53

6 DIAGNÓSTICO DO MUSEU DE ARTE SACRA | 55

6.1 Diagnóstico como ferramenta metodológica

6.2 O Museu de Arte Sacra de Oeiras

6.3 A salvaguarda patrimonial, a comunicação e a política de acervo

6.4 Proposta de Fichas de Documentação Museológica

7 CONCLUSÃO | 99

REFERÊNCIAS | 101

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1 I N T R O D U Ç Ã O

Existe uma série de fatores que poderíamos apontar como obstáculos, para garantir uma gestão de museus que se revele participativa e colaborativa, que permita à Equipe de trabalhadores desses equipamentos culturais refletir sobre as diversas mudanças que estão a ocorrer no campo museal, bem como sobre as necessidades e dificuldades do Museu para captar recursos financeiros e garantir sua manutenção e modernização. A falta de uma reflexão no interior dos museus, com seus diversos agentes, internos e externos, estes últimos públicos, privados e sociais, gera problemas e fragiliza esses equipamentos culturais.

Nos dias atuais, há museus tradicionais, cujo foco está no edifício, coleções, público diversificado e aqueles que se definem como equipamentos abertos aos diálogos com a comunidade local, com foco no território, nos patrimônios e nas pessoas. Ao longo desses mais de 40 anos, múltiplas têm sido as transformações do pensamento museológico; são pesquisas, intervenções e boas práticas que transformam os sentidos e significados do Museu, sua interação com as comunidades locais que habitam seu entorno, a considerar que o Museu é uma instituição gestora do patrimônio cultural, que salvaguarda formas de saber-fazer contrárias a uma perspectiva exclusivamente colecionista.

Desde 2007, o Conselho Internacional de Museus (ICOM) define Museu como:

[...] instituição permanente sem fins lucrativos, a serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público, que adquire, conserva, investiga, comunica e expõe o património material e imaterial da humanidade e do seu meio envolvente com fins de educação, estudo e deleite.

Doze anos depois, 2019, aquele Conselho promoveu um fórum de debate profissional e, ao mesmo tempo, uma plataforma digital para debates e reflexões sobre o campo museal, para discussão sobre qual seria a definição atual de Museu. O ICOM, na condição de organização mundial de pesquisadores do campo museológico, reuniu em Quioto, no Japão, diversos profissionais para apresentarem e discutirem uma definição de Museu em substituição àquela de 2007. Não houve consenso, mas no momento há o indicativo de que:

Os museus são espaços democratizantes, inclusivos e polifônicos para um diálogo crítico sobre o passado e o futuro. Reconhecendo e enfrentando os conflitos e desafios do presente, eles guardam artefatos e espécimes para a sociedade, salvaguardam diversas memórias para as futuras gerações e garantem direitos iguais e acesso igual ao patrimônio para todos os povos.

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Os museus não são lucrativos. Eles são participativos e transparentes, e trabalham em colaboração ativa com e para várias comunidades, a fim de coletar, preservar, investigar, interpretar, expor e expandir os entendimentos do mundo, com o propósito de contribuir para a dignidade humana e justiça social, para igualdade mundial e bem-estar planetário (ICOM, 2019).

Houve calorosos debates, mas não foi no Japão que se chegou a um consenso sobre a nova definição de Museu, embora a definição proposta traga questões contemporâneas recorrentes e importantes, como aquelas associadas às transformações planetárias e locais.

Sabemos que os pequenos museus são os mais frágeis, pois geralmente não possuem um plano de gestão e estão muitas vezes à deriva, dependendo da boa vontade de gestores, da piedade dos poucos visitantes ou usuários.

Defendemos que o planejamento nessas instituições garante sua reafirmação na sociedade (missão, vocação, visão), ou seja, a sobrevivência institucional. Logo, é preciso um conhecimento e reconhecimento de uma equipe multidisciplinar e profissional que estabeleça objetivos e metas, a partir de um diagnóstico, que seja possível construir um plano museológico participativo.

As mudanças no pensar e fazer museológico remontam ao fim da Segunda Guerra Mundial, avançam após 1960, e se referem a perspectivas que são relevantes para a gestão dos museus, pois orientam novas práticas, que busquem um modelo de gestão museológica de aproximação com a comunidade, de forma a permitir reflexões dos profissionais, instigando-os a manterem o Museu aberto a temas, problemas e abordagens, garantindo a presença de públicos diversos e reafirmando a sua missão de estar a serviço da sociedade (PINHEIRO, 2019). Somente por meio dessa tomada de consciência será possível ter acesso a recursos públicos, privados e sociais, e promover atividades criativas que visem gerar receita. Segundo Duarte Cândido (2013, p. 119):

Verificou-se que a questão do planejamento ganhou papel central no universo dos museus nas últimas décadas. A sociedade não é mais complacente com instituições que justificam sua existência apenas com o vago propósito da preservação da memória, e faz a crítica contundente aos museus que se excluíram dos processos de participação e de mudança.

Se fazem necessárias, portanto, mudanças no saber-fazer museológico. As instituições museais não podem ficar fechadas em suas coleções sem dialogarem com a sociedade, tratando o objeto museal como algo estéril e sem nenhum significado, como um lugar de coisas museificadas e não de experiências, de partilha e saberes, alheios ao desenvolvimento sustentável e a qualquer tipo de qualificação que faça despertar novas potencialidades.

A partir dessas questões, estamos convictos da importância de um diagnóstico museológico, com o qual é possível ter uma visão global, que nos permita identificar problemas para melhor planejar e fortalecer as instituições. Assim,

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com o uso dessa ferramenta de gestão, se faz uma espécie de radiografia do Museu, se estabelecem critérios para a formatação de uma política de acervos e de um plano museológico, oferecendo condições de existência e de permanência do Museu.

São muitos os desafios dos museus na contemporaneidade, ainda que mantendo determinadas estratégias para gerar e captar recursos, apenas continuam de portas abertas pelo esforço coletivo de seus trabalhadores ou de alguma instituição mecenas. Os recursos públicos são escassos e a balança sempre é deficitária, o que exige dos gestores uma especial atenção, provocando-os para que vejam o Museu como um espaço de vivências, aprendizado, criatividade e transformação social. A situação descrita é uma realidade no Museu de Arte Sacra de Oeiras, no sertão do Piauí

O atual estado de carência financeira que afeta os museus nacionais obriga a que se reformulem os modelos de gestão vigentes. Nesse sentido, tendo em conta as medidas de austeridade, os cortes orçamentais, as reestruturações na administração central, entre outros fatores que perturbam o setor cultural e que colocam os museus nacionais nas mais críticas condições de sobrevivência, torna-se premente que se estabeleçam linhas de atuação que os reintegrem no desenvolvimento da sua missão (RENDEIRO, 2011, p. 6).

Diante do quadro que se apresenta no Brasil, verificamos que os investimentos direcionados aos museus pelo Estado só estão orçados para sua criação e até o momento de sua abertura. Uma constante então é o fato de se abrirem museus, mas os custos para mantê-los abertos não são suficientes porque não houve um planejamento estratégico. A criação de novos museus consiste no fechamento dos antigos. Trata-se de uma realidade tão recorrente no Brasil que provoca discussões sobre a importância de uma gestão pautada em princípios éticos, planejamento cuidadoso e monitoramento de desperdícios.

Um caso recente no Brasil, no dia dois de setembro de 2018, foi o incêndio no Museu Nacional, localizado na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro, em uma antiga edificação, Palácio São Cristóvão, que serviu de residência para a família real brasileira até a Independência (1822) e a Proclamação da República (1889). O Museu foi destruído, causando prejuízo de grandes proporções. Abrigava uma exposição de História Natural, laboratórios, biblioteca e acervo de pesquisa científica. Há mais de um ano, estão em curso ações especializadas, com uma Equipe multiprofissional e interdisciplinar, para recuperar parte do acervo. Já foram recuperadas mais de 300 peças, o que inclui peças raras.

Cada Museu, mesmo com suas especificidades, poderá, com base em suas atividades educativas e culturais, estimular o debate acerca das questões relacionadas ao meio ambiente e ao futuro das gerações que estão intimamente ligadas ao futuro do Planeta. O meio ambiente no qual nos movemos, onde realizamos nossas atividades cotidianas, exerce uma ação sobre as diversas facetas da ação humana.

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A sustentabilidade social estimula os museus a um trabalho coletivo de grande valia para a comunidade que participa das ações e são corresponsáveis pela construção de ideias, sobretudo compartilhando os valores socioculturais, como forma de disseminar a cultura. É preciso fazer do Museu de Arte Sacra de Oeiras um espaço de discussões, um fórum de debates sobre as diversas questões que envolvem a comunidade, bem como refletir acerca dos diversos problemas detectados na Instituição a partir do diagnóstico museológico do exercício de documentação museológico que realizamos ao longo de 2018-2019.

Este trabalho de diagnóstico e exercício de documentação museológica é resultado de nossas percepções e desafios na condição de servidor do Museu e cidadão preocupado e participante da cultura religiosa local, da promoção de ações educativas e culturais nesse equipamento cultural, marca de identidade de Oeiras.

1.1 Público

Os públicos privilegiados neste trabalho somos nós funcionários do Museu de Arte Sacra, a saber: Pedro Dias de Freitas Júnior (historiador e professor mediador – autor deste trabalho); Zulene de Holanda Rocha (professora e mestre em História - coordenadora do MAS); Maria do Socorro Barbosa Barros (historiadora e professora mediadora); Rita Maria Barbosa Lima (assistente técnica); Antônio Pereira de Sousa (vigia); Claudeinor Pereira da Silva (vigia) e Nancy Jordânia Barbosa de Carvalho (auxiliar de serviços gerais).

Este trabalho contou com o apoio da Cúria Diocesana, Instituto Histórico de Oeiras, Secretaria Municipal de Cultura e Turismo e Secretaria de Estado da Cultura e do Programa de Pós-Graduação em Artes, Patrimônio e Museologia da Universidade Federal do Piauí.

Realizamos um trabalho técnico-sensível, cujas etapas ocorreram em parceria com as instituições supracitadas e com a Equipe do MAS. O produto final deste trabalho traz novas luzes sobre do Museu de Arte Sacra, iniciando um processo de ressignificação e construção crítica, de suma importância para a efetivação de sua missão, vocação e visão.

1.2 Problema

Os museus tradicionais (edifício + coleção + públicos) pedem socorro, principalmente aqueles localizados em cidades pequenas, com histórias singulares; com potencial, detentores de acervos valiosos, mas que estão esquecidos, não têm receitas próprias, os funcionários não possuem qualificação nem os gestores formação para ocuparem o cargo, pois quase sempre estão ligados a governos que os indicam sem nenhum critério técnico.

O Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM) organiza desde 2009 um Fórum Nacional de Museus. Trata-se de um evento bienal, de abrangência nacional,

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com o objetivo de refletir, avaliar e delinear diretrizes para a Política Nacional de Museus (PNM) e consolidar as bases para a implantação de um modelo de gestão integrada dos museus brasileiros, representado pelo Sistema Brasileiro de Museus (SBM). O objetivo da Política Nacional de Museus, conforme disposto no Caderno Política Nacional de Museus - Memória e Cidadania, é promover a valorização, a preservação e a fruição do patrimônio cultural brasileiro, considerado um dos dispositivos de inclusão social e cidadania, por meio do desenvolvimento e da revitalização das instituições museológicas existentes e pelo fomento à criação de novos processos de produção e institucionalização de memórias constitutivas da diversidade social, étnica e cultural do País. A partir dessas discussões, se realizam no Brasil atividades que envolvem os museus, com a promoção de debates. Essas discussões chegam aos menores municípios que possuem um museu, carências e necessidades, que são inúmeras e recorrentes.

Neste sentido, por meio deste trabalho de pesquisa: “Museu de Arte Sacra de Oeiras, Piauí: Diagnóstico e Exercício de Documentação Museológica”, realizado com estudo e intervenção, como Trabalho Final do Mestrado Profissional, acreditamos ser possível estabelecer critérios, traçar objetivos e metas para superar os desafios da Instituição.

O diagnóstico consiste em ferramenta importante para iniciarmos o trabalho no Museu, para tanto, identificamos que a ausência de uma atualização da documentação museológica compromete a gestão do acervo do MAS. Deste modo, questionamos: – Como realizar o diagnóstico e a documentação museológica do MAS respeitando as orientações técnicas para esta natureza de trabalho?

O trabalho foi árduo: identificar a origem dos objetos, história e relação com a comunidade, política de aquisição e descarte dos objetos, acervo e relação com a missão, vocação e visão do Museu, estudar a Museologia e a Museografia para analisar a acessibilidade dos públicos, a segurança do acervo etc.

1.3 Objetivos

1.3.1 Geral

- Realizar um diagnóstico e um exercício de documentação museológica no acervo museológico do Museu de Arte Sacra de Oeiras.

1.3.2 Específicos

- Identificar a organização e estrutura do MAS.

- Verificar lacunas no acervo museológico do MAS.

- Elaborar, editar e publicar um livro-catálogo com o diagnóstico do MAS e com as dez peças documentadas.

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Diagnóstico e exercício de documentação museológica

1.4 Equipe

As discussões para realizar um diagnóstico e documentação museológica do MAS aconteceram com a participação dos colegas funcionários do Museu de Arte Sacra. A Equipe MAS é composta por sete funcionários: Pedro Dias de Freitas Júnior (professor mediador – autor do trabalho); Zulene de Holanda Rocha (coordenadora do MAS); Maria do Socorro Barbosa Barros (professora mediadora); Rita Maria Barbosa Lima (assistente técnica); Antônio Pereira de Sousa (vigia); Claudeinor Pereira da Silva (vigia) e Nancy Jordanha Barbosa de Carvalho (auxiliar de serviços gerais).

1.5 Justificativa

O presente trabalho nasceu da necessidade de realizar um diagnóstico, de documentar e salvaguardar o patrimônio sacro da cidade de Oeiras, sob a tutela do Museu de Arte Sacra - MAS, que não tinha, até a realização deste trabalho, um diagnóstico que pudesse auxiliar na construção a médio prazo de um Plano Museológico.

A exposição de longa duração do MAS é formada por imagens de madeira policromada séculos XVII, XVIII e XIX; castiçais e coroas de prata, mobiliário das igrejas seculares de Oeiras, e peças oriundas de colecionadores particulares. Com trinta e cinco anos de existência, para que a função social do MAS seja cumprida, o planejamento estratégico – inicialmente caracterizado pela realização de um diagnóstico e de um exercício de documentação museológica – se apresenta como basilar à existência do Museu, reafirmando sua função educativa e cultural, instrumento de gestão.

A virada paradigmática, dos anos 1960 aos dias atuais, no pensar e fazer museológicos, atinge diretamente a gestão dos museus, orienta novas práticas, que buscam um modelo de gestão museológica, o que inclui a aproximação do Museu da comunidade local e gera discussões e reflexões com os profissionais que devem mantê-lo aberto, garantindo aos usuários e públicos diversos a efetiva missão de prestar serviços à sociedade. Somente através dessa tomada de consciência é possível ter acesso a recursos públicos, privados e sociais, ter o apoio da comunidade e promover projetos e ações criativas para a captação de recursos.

Verificamos que a questão do planejamento ganhou papel central no universo dos museus nas últimas quatro décadas. “A sociedade não mais é complacente com instituições que justificam sua existência apenas com o propósito de preservar a memória, há críticas aos museus que se excluíram dos processos de participação e de mudança” (DUARTE CÂNDIDO, 2013, p. 119)..

As mudanças no fazer museal estão em curso, as instituições museais não podem ficar fechadas em suas coleções sem dialogar com a comunidade onde estão inseridas, tratando o objeto museal como algo estéril, sem sentidos, sem

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significados, reforçando a concepção de que o museu é um lugar de coisas museificadas e não de experiências, de partilhas e saberes. Um equipamento alheio a qualquer tipo de qualificação que faça despertar novas potencialidades.

Discussões com os colegas do MAS, sobre a importância dos museus no mundo contemporâneo e a necessidade de formação profissional dos trabalhadores desses equipamentos culturais, foram recorrentes ao longo deste estudo. Também foi preciso explicar que o Museu não é apenas um edifício com coleções, que guarda peças importantes para a história de Oeiras e para o Estado do Piauí, mas um município em que a cultura religiosa da população está atravessada por rituais e manifestações, como novenas, procissões etc.

Em dezembro de 2017, nas comemorações que finalizaram o aniversário de 300 anos de Oeiras, o Governo do Estado, através da Secretaria de Estado da Cultura decidiu alterar a museografia do MAS. Trata-se de um projeto do arquiteto Paulo Vasconcellos, que, na sua proposta inicial, consta – além de uma nova proposta de comunicação, portanto uma nova expografia – no orçamento o restauro de peças sacras. No entanto, não foi possível todo esse trabalho pela escassez de recursos. A “nova museografia”, serviu como forma de impactar o visitante, mas não mudou a realidade que detectamos com a realização do diagnóstico. Os antigos problemas ainda persistem e ameaçam a sobrevivência do MAS. A “nova museografia” agravou, pela introdução de tecidos, madeira e instalações elétricas de alto risco, além do fechamento de portas e janelas do antigo edifício com o intuito de criar um “ambiente expográfico”. Repleto de incoerências em sua concepção e execução comprometeu a salvaguarda do acervo.

O Museu de Arte Sacra de Oeiras (PI) tem uma série de problemas a serem solucionados, desde administrativos às questões técnicas de documentação e conservação de seu acervo. A delimitação da missão, vocação e visão do Museu, bem como a criação de uma política de documentação e acervo incluem conservação, segurança etc., essenciais à gestão do equipamento público, que deve cumprir sua função social. A salvaguarda do acervo em uma edificação que também precisa ser preservada é um duplo desafio para a equipe institucional, entendidas as devidas responsabilidades à própria comunidade, o que inclui agentes políticos e sociais.

As dificuldades enfrentadas no ano celebrativo dos trinta e cinco anos do MAS (2018-2019) colocaram em risco a sua existência. Consideramos ainda que a identidade cultural também está ameaçada, e a memória da cidade representada pelo acervo sacro desse equipamento cultural são riscos reais, fruto da ausência de políticas de gestão, o que inclui, dentre muitos aspectos, a contratação de profissionais de Museologia. É preciso construir programas, projetos e ações que salvaguardem os patrimônios e as identidades dos grupos locais. “Identidades sociais são construídas no discurso durante os processos de construção de significados. É através do discurso que as pessoas constroem suas identidades sociais e se posicionam no mundo” (HALL, 1997, p. 45).

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Diagnóstico e exercício de documentação museológica

Nesse sentido, o estudo “Museu de Arte Sacra de Oeiras: diagnóstico e exercício de documentação museológica”, resultado do Mestrado Profissional em Artes, Patrimônio e Museologia da Universidade federal do Piauí (UFPI), Campus de Parnaíba, faz parte de nossa formação profissional, em que elegemos o MAS com o intuito de estabelecer critérios e traçar metas para a realização de diagnóstico e documentação museológica; um dos desafios de uma instituição precariamente assistida, com escassos recursos financeiros e com um rico acervo dos séculos XVII, XVIII e XIX. Com este trabalho e formação, podemos apontar caminhos no contexto de nosso saber-fazer museal.

Acreditamos que o diagnóstico e o exercício de documentação museológica do Museu de Arte Sacra de Oeiras são de fundamental importância, por oferecerem sentido à pesquisa como forma de aprimoramento da gestão, requalificação das atividades e salvaguarda do patrimônio constituído pelo acervo. O diagnóstico auxilia na tomada de decisões, aponta novos rumos e alternativas, caminhos e novas formas de transformação social de uma instituição dessa natureza

1.6 Produtos e serviços

Para esta Dissertação, elaboramos um livro-catálogo para socializar com a comunidade religiosa de Oeiras e usuários do Museu. O Diagnóstico e a Documentação Museológicos de dez peças do acervo MAS, inventariadas ao longo de nossos estudos e intervenções, consistiram em um trabalho de Equipe, que traduz a cadeia operativa da Museologia: pesquisa, documentação, salvaguarda e comunicação. O livro-catálogo é ilustrado com fotos das salas temáticas do Museu e das dez peças, bem como dentro do contexto das celebrações e procissões, quando as peças são utilizadas para a veneração dos fiéis católicos.

Por fim, além da 1) Introdução, esta Dissertação compõe-se de mais seis capítulos, nos quais abordamos 2) Estudo de Contexto; 3) Revisão de Literatura; 4) Metodologia; 5) Riscos; 6) Diagnóstico do Museu de Arte Sacra; 7) Conclusão; e Referências, base teórica para a construção do texto.

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2 ESTUDO DO CONTEXTO

A cidade de Oeiras, primeira capital do Piauí, a 235 km de Teresina, atual capital do Estado, surgiu a partir de expedições que entraram pelo Sul do Estado, no século XVII, em busca de terras para a criação de gado. Nasceu da prosperidade da Fazenda Cabrobó, criada pelo explorador Domingos Afonso Mafrense.

No começo era a fazenda Cabrobó, situada pelo pioneiro à margem direita do riacho Mocha, a apenas seis quilômetros de sua barra no Canindé, predestinado curso d’água que, ora tênue, ora voluptuoso, orientou, por bem dizer, definiu a penetração e ocupação dessas chapadas que só vieram dilatar as fronteiras do Sertão de Rodelas. Outros querem a origem do burgo mediterrâneo num arraial de índios domesticados por Julião Afonso Serra. Dizem que Julião aqui estabelecido com Carta de Sesmaria passada pelo Governador de Pernambuco, Dom Pedro de Almeida, em 1676, queria que os índios mansos para a defesa de suas fazendas, já então situadas na referida área. Mas, Julião era irmão de Mafrense e mesmo a história tomando sozinha o partido deste, não se pode negar que a conquista estava em casa. Afinal, achavam-se no vale do Canindé quase todas as fazendas de gado que os propostos de Garcia d’Ávila, a ferro e a fogo, aqui situaram para a glória maior de Tatuapera (CARVALHO JR, 2004, p. 41).

O estabelecimento da pecuária extensiva e a estratégia de assegurar a continuidade territorial da América Portuguesa foram as razões de conquista e ocupação deste território pelo colonizador europeu, subjugando as populações nativas que há muito tempo fizeram da terra o seu habitat. A povoação Mocha foi a primeira vila fundada nessas plagas de sertão, como forma de institucionalizar a vida social e auferir os dízimos da pecuária, trazida aos sertões por bandeirantes e vaqueiros no final do século XVII. A continuidade territorial da América Portuguesa e o controle sobre os numerosos rebanhos piauienses garantiam o abastecimento de carne à Colônia, e fizeram da capitania um território estratégico para a geopolítica pombalina. Tanto que, em 1762, a Vila da Mocha recebeu os foros de cidade, com o nome de Oeiras, sendo a terceira não-litorânea, após São Paulo (SP), e Mariana (MG), e a décima em toda a Colônia a ser contemplada com essa insígnia.

Sua história está intimamente ligada à história da Igreja Católica na região. Em 1696, foi elevada à categoria de Freguesia sob a invocação de Nossa Senhora da Vitória. Mais tarde, em 1712, a povoação Mocha foi elevada à categoria de Vila com o mesmo nome, tendo sido instalada somente em 26 de dezembro de 1717. Foi designada para ser a sede do novo Governo, obtendo o título de cidade pela Carta Régia de 19 de junho de 1761, época em que teve o nome mudado para

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Oeiras, por ato do seu primeiro governador João Pereira Caldas, em homenagem ao Conde de Oeiras Portugal, depois Marquês de Pombal, Sebastião José de Carvalho Melo, que era Ministro de Estado do Rei Dom José I.

Em 24 de janeiro de 1823, irrompeu o movimento da efetiva Adesão do Piauí ao Grito do Ipiranga. Em 1852, por injunção do presidente José Antônio Saraiva, a capital foi transferida para a Nova Vila do Poty, recebendo o nome de Teresina, em homenagem a imperatriz Teresa Cristina. Como a primeira capital do Piauí, Oeiras concentra riqueza histórica e cultura religiosa, traduzidas em seus casarões e nas manifestações de fé e religiosidade. Por seu acervo arquitetônico colonial, foi declarada Cidade Monumento Nacional através da Lei Federal nº 7745 de 30 de março de 1989. Em 2012, o Centro Histórico de Oeiras foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), como Patrimônio Cultural do Brasil.

Oeiras está situada no Estado do Piauí, mais precisamente na segunda menor região do Sudeste piauiense, na microrregião de Picos. Por ter sido a primeira capital, sua localização é estratégica, no centro do Estado. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sua população estimada em 2018 era de 36.971 habitantes. Sua extensão territorial é de 2.720 km², o que lhe confere a densidade demográfica de 12,7 hab/km². Localizada nos baixos planaltos do médio-baixo Parnaíba, mais precisamente no vale do rio Canindé, tem altitudes máximas de 300 metros, com vários morros dentro e ao redor da cidade. É perceptível a irregularidade do relevo oeirense nos bairros que variam de altitude, uns altos e outros mais baixos. As maiores altitudes são encontradas no Bairro Soizão, que praticamente fica em cima de um morro. Já as menores altitudes ficam próximos ao rio Canindé no Bairro Fomento, mais conhecido como beira-rio, conforme Mapa 1, a seguir.

A cidade de Oeiras, antiga capital do Piauí, conserva ainda parte de seus monumentos e casario do tempo colonial e início do império, quando foi o centro político, administrativo, econômico e religioso de extensa área do sertão nordestino, correspondente à bacia oriental do rio Parnaíba. A despeito de tamanha importância histórica e cultural desse território, poucas ações foram realmente levadas a cabo, para a preservação de relevante documento-vivo da história do Brasil. A manutenção de sua feição arquitetônica e urbanística tradicional, como foi edificada por nossos antepassados se deve à estagnação econômica da cidade, que não sofreu as descaracterizações que o urbanismo moderno impôs aos sítios urbanos antigos com a remodelação viária e a especulação imobiliária. Porém, pelo mesmo motivo, testemunhamos o arruinamento do seu casario pelo abandono de seus proprietários e pela falta de atuação do poder público, por meio dos órgãos de proteção do patrimônio cultural

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Mapa 1 –Localização do município de Oeiras

Fonte: Google Maps (2020); Edição: Víctor Veríssimo

O primeiro reconhecimento nacional do conjunto arquitetônico de Oeiras ocorreu com a visita do arquiteto Paulo Thedim Barreto ao Estado do Piauí, representando o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN) em 1938. Naquela ocasião, documentou a arquitetura rural e urbana tradicional piauiense e propôs os primeiros tombamentos isolados, dos quais três deles se localizam na cidade: a Igreja de Nossa Senhora da Vitória, o Sobrado João Nepomuceno (atual Museu de Arte Sacra) e a Ponte Grande do riacho Mocha.

Um hiato de quase quarenta anos separa os primeiros tombamentos isolados de um planejamento mais consistente de salvaguarda do sítio histórico. Em 1976, foi elaborado o Plano de Preservação Ambiental e Urbano de Oeiras, dentro do Programa Integrado de Reconstrução das Cidades Históricas do Nordeste (PCH-NE), vinculado à Secretaria de Planejamento da Presidência da República. Aquele trabalho tinha por objetivo principal traçar um planejamento municipal integrado, com ênfase na preservação do tecido urbano, histórico, criando condições para a sua exploração econômica. Houve um extenso estudo multidisciplinar, que embasou a definição dos perímetros de proteção rigorosa e de entorno da ambiência urbana e paisagística, a serem consideradas como áreas especiais de preservação na legislação urbana municipal, assim como a proposição de tombamento federal de algumas edificações emblemáticas para a história do território. Lamentavelmente, o plano não teve aplicação, em decorrência da extinção do contrato com a equipe técnica responsável e pela inexistência de uma estrutura administrativa adequada na Prefeitura Municipal de Oeiras, capaz de desenvolver os instrumentos de gestão e controle urbanísticos, mesmo com os esforços empreendidos por políticas públicas federais de descentralização e estímulo ao municipalismo. De efeito prático, houve apenas as

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restaurações dos principais monumentos no início da década de 1980, financiadas pelo Governo Federal.

Entretanto, o trabalho realizado pelo PCH-NE no Estado do Piauí teve como desdobramento o despertar do poder público e da sociedade para uma ação preservacionista, mesmo que ainda muito tímida, com a criação das primeiras estruturas burocráticas do campo do patrimônio histórico, artístico e cultural.

É importante salientar a lenta transformação da cultura local: de completo alheamento até os anos 1960, para um sentimento de pertença quanto ao patrimônio histórico-cultural edificado, a partir das iniciativas do poder público, referentes a acautelamentos, inventários e restaurações arquitetônicas, que se iniciaram nos anos 1970 e 1980 em Oeiras. Essa mudança do olhar foi reforçada pela declaração da cidade como Monumento Nacional, no ano de 1989. Atualmente, o Centro Histórico de Oeiras encontra-se tombado em nível federal, fato que inclui referências culturais de natureza imaterial representadas em um universo de manifestações e expressões religiosas. No Piauí, Oeiras é conhecida como a capital da fé.

A inscrição do conjunto histórico e paisagístico de Oeiras, como patrimônio cultural do Brasil, significa, com certo atraso, a afirmação da civilização do couro e o ciclo da pecuária colonial do Nordeste, que perpassaram os séculos XVII, XVIII e XIX, como estruturadores do processo de formação social, política, econômica e territorial do Brasil, no mesmo grau de importância dos ciclos econômicos que a historiografia tradicional consagrou e que tiveram seus testemunhos materiais reconhecidos e protegidos pelo Estado brasileiro.

A criação da Capitania de “São José do Piauí”, a fundação de vilas e a elevação de Oeiras a condição de cidade são um capítulo importante da História colonial, representativo do esforço metropolitano em proteger a integridade territorial de sua principal colônia, com base nos preceitos iluministas de materialização do poder real de forma evidenciada e assumida.

Oeiras é um híbrido entre o planejado e o espontâneo, evidenciando os limites de regulação estatal na hinterlândia nordestina com suas rugosidades setecentistas. Ao tempo em que a Praça das Vitórias se afirma como representação da conquista, o casario apresenta certa regularidade e padronização das fachadas, além dos becos e travessas que enquadram interessantes visuais, ruas que se abrem em largos, reservando surpresas ao observador.

Além das particularidades que conferem relevância ao seu desenho urbano, Oeiras ainda preserva um acervo ímpar de técnicas construtivas tradicionais, em parte eruditas, em parte vernaculares, desenvolvidas de modo inventivo e original, a partir da adaptação do repertório arquitetônico trazido pelo colonizador ao meio e aos materiais que encontrava em abundância: carnaúba, barro, pedra e cal. Diferentemente do litoral, das montanhas e planaltos, mais próxi-

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mos do clima temperado de Portugal, no semiárido sertanejo apareceram soluções formais peculiares.

É neste sítio urbano de significativa importância histórica e paisagística que se mantêm vivas antigas tradições e manifestações da cultura religiosa brasileira, fundindo sagrado e profano, erudito e popular: a Festa dos Vaqueiros, que entram em comitiva na cidade, reverenciando Nossa Senhora da Vitória, pedindo bênção e proteção; as procissões e celebrações católicas deixam as ruas repletas de fiéis anualmente, seja na Semana Santa, na celebração do Divino ou da Conceição, onde os ritos apostólicos romanos se amalgamam com nuances populares, renovando promessas e esperanças dos fiéis; no Largo do Rosário, bairro dos pretos, se presencia a dança do Congo, em homenagem a N. S. do Rosário e a São Benedito; o Bem e o Mal estão representados no sítio arqueológico do Pé de Deus e do Pé do Cão, que a crença popular reafirma e ressignifica ao longo do tempo.

Na cidade de Oeiras persistem manifestações culturais de tradições seculares, celebradas no seu centro histórico: procissões, costumes, lendas, danças e festividades que reforçam o gregarismo e o sentido de comunidade. A principal e mais pungente delas é o exercício de fé, comoção e penitência das comemorações da Semana Santa na cidade, fundindo catolicismo popular e ritos eclesiásticos, repletos de símbolos, metáforas, atavismos e teatralização barroca. A Semana Santa de Oeiras é a maior celebração religiosa do Estado do Piauí, antecipada das celebrações em honra a Bom Jesus dos Passos; onde milhares de pessoas acompanham em procissão a imagem secular do Bom Jesus pelas ruas do Centro Histórico. Nesse período, a cidade recebe milhares de fiéis, vestindo roxo, que vêm para orar e agradecer as graças recebidas.

A celebração dos Passos abre as solenidades da Semana Santa. Representa a religiosidade oeirense; arrebata fiéis de toda a cidade e peregrinos de municípios da região que rogam por graças, pagam promessas, desejam remir os pecados ou tão-somente louvar a Deus, na reconstituição dos episódios que marcam a Paixão de Cristo. Não há referências sobre o ano da primeira procissão realizada, porém sabe-se que a celebração acontece em Oeiras há mais de duzentos anos, visto que, em planta do início do século XIX, já estão retratadas as capelas dos passos.

A procissão do Bom Jesus dos Passos acontece sempre às sexta-feira anterior a sexta-feira da paixão. Ocorre na cidade de Oeiras desde o início do século XVIII. Na segunda metade do século XIX, a Confraria (irmandade) do Bom Jesus dos Passos de Oeiras era responsável por fazer com toda decência e da melhor forma possível a procissão do Senhor Bom Jesus dos Passos; organizava-se, pois, já naquela época, o ritual, símbolo da crença e da fé da comunidade (PINHEIRO, 2009, p. 10).

Durante a manhã da sexta-feira, os romeiros começam a chegar de ônibus, de pau-de-arara, de carro, a cavalo, e alguns a pé. Eles trajam roxo, como Bom Jesus, a cor que simboliza reflexão e penitência; trazem ex-votos, equilibram

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pesadas pedras na cabeça, carregam cruzes de madeira e andam descalços como demonstrações de sacrifício de sua fé popular. Em paralelo, as famílias tradicionais organizam a decoração das Igrejas do Rosário e da Vitória, assim como das cinco capelas dos passos, com jarros, paramentos, alfaias, cruzes e as típicas “flores de passo”, confeccionadas por artesãos da cidade (Figura 1).

Durante a Semana Santa são realizadas as tradicionais liturgias católicas, porém essas extrapolam o ambiente interno dos templos para serem celebradas ao ar livre pela multidão, transbordando o sagrado no espaço urbano. Nesse período, acontecem as celebrações religiosas mais dramáticas do exercício de fé cristã na cidade de Oeiras. Durante a Quinta-Feira Santa e a Sexta-Feira da Paixão, os sinos não dobram, os altares são desnudados e as luzes apagadas, envolvendo a velha cidade em uma atmosfera silenciosa e soturna de profundo respeito pela misericórdia de Deus com a Humanidade. Às vinte e uma horas da quinta-feira tem início a Procissão do Fogaréu, com participação exclusivamente masculina, que simula a perseguição dos soldados romanos a Jesus e o conduzem à prisão, tortura e crucificação. Levando consigo lamparinas, tochas e velas, os homens percorrem as ruas do centro histórico tombado rezando e cantando a frase “Perdão, meu Jesus”.

A procissão do Fogaréu ocorre na quinta-feira santa, às nove horas da noite, intercalando silêncio e oração, os homens de todas as idades e condição social saem em procissão pelas ruas do Centro Histórico de Oeiras, apenas iluminadas pelas lamparinas. Segundo a tradição, as mulheres devem ficar em casa rezando e não participam da procissão, ritual eminentemente masculino. Em outras localidades brasileiras, como Goiás, a procissão do Fogaréu representa um ritual de repressão em que os fiéis

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Figura 1 – Chegada da Procissão do Bom Jesus dos Passos à Praça das Vitórias Fonte: Cássia Moura (2009).

são na verdade os algozes de Jesus Cristo; em Oeiras, o ritual é marcado pela fé de bons cristãos que ao longo da procissão entoam cantos de louvor (PINHEIRO, 2009, p. 76).

Na sexta-feira, durante a Procissão do Senhor Morto, os fiéis acompanham o funeral pelas ruas históricas da cidade, portando velas e ressoando as matracas, instrumento de percussão presente nas procissões religiosas desde a Idade Média (Figuras 2 e 3).

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Figura 2– Procissão do Fogaréu em passagem pela Catedral Figura 3 – Lamparina a querosene, típica da Procissão do Fogaréu em Oeiras, fabricada artesanalmente com bulbo de lâmpada incandescente e folhas de zinco

Cinquenta dias após a Páscoa, acontece a celebração do Divino Espírito Santo. Tradição portuguesa que celebra a vinda do Espírito Santo sobre os apóstolos. Oeiras se reveste de vermelho e branco, cores que representam o fogo do Espírito Santo e a paz. Todo ano é escolhida nova morada para abrigar a imagem do Divino, representada por uma pomba de cedro e pintada com folha de ouro. A casa da família sorteada passa a ser a morada da imagem secular do Divino, por um ano; a casa se transforma em santuário doméstico, e é visitada todos os dias pelos devotos. É tradição na Cidade que a família responsável pela celebração abata um boi para alimentar o povo, como sinal de partilha.

Em agosto comemora-se Nossa Senhora da Vitória, a padroeira da cidade e do Estado Piauí, desde 1997, proclamada pela Santa Sé Apostólica, em Roma, por João Paulo II. A celebração acolhe devotos das cidades vizinhas, e transforma Oeiras em um grande centro de fé. A romaria termina aos pés do Morro do Leme, onde está a imagem da Virgem da Vitória Figuras 4, 5, 6).

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Figura 4 – Procissão do Divino Espírito Santo pelas ruas do Centro histórico de Oeiras Fonte: Arquivo Pascom Diocesana (2019).

No mês de outubro, a cidade se mobiliza para a celebração do Rosário. Durante todo o mês, os devotos do Santíssimo Rosário sobem a “Doce colina” (uma referência ao Bairro do Rosário) para rezarem a Oração do Santo Terço. No dia

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Figura 5 – Missa solene de Pentecostes na Catedral de Nossa Senhora da Vitória Figura 6 – Saída da Procissão de Nossa Senhora da Vitória da Igreja Catedral Fonte: Arquivo Pascom Diocesana (2018).

31 acontece a celebração de Nossa Senhora do Rosário, com missa, procissão e a tradicional dança dos Congos de Oeiras, uma forma de celebrar e louvar Nossa Senhora do Rosário e São Benedito; celebração trazida pelos negros que vieram do Pará, no Norte do Brasil, no início da colonização, acompanhando o primeiro governador do Piauí, João Pereira Caldas.

Esta celebração é originária do Congo, África, e ritualizada apenas por homens vestidos de saias bem rodadas, num ritmo afro-brasileiro marcado por instrumentos de percussão. A autenticidade do Congo de Oeiras está intimamente associada à história, à vivência e aos anseios da comunidade, ao culto popular dos santos de devoção negra e ao adro da Igreja do Rosário, “palco” natural da experiência mística e catártica vivida pelos congueiros. O teatral e o ritual se confundem nesta celebração, cuja encenação oscila entre as dimensões do real e do imaginário. Os homens dançam, cantam e tocam instrumentos como: atabaques, maracás, triângulos, pandeiros, agogôs e reco-recos (Figura 7).

Dezembro é o mês de celebração a Nossa Senhora da Conceição. As novenas começam no dia 29 de novembro, com peregrinação da imagem pelas casas das famílias. Durante o festejo, os fiéis participam das celebrações litúrgicas, recitação do Rosário apressado da Imaculada, Ofício de Nossa Senhora e quermesse. No dia 8, os devotos percorrem as ruas da cidade em procissão com as imagens da Imaculada Conceição e São José (Figura 8).

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Figura 7 – Grupo folclórico Congos de Oeiras (Conguinhos) Fonte: Cássia Moura (2009).

No roteiro histórico cultural da cidade está o MAS, equipamento cultural, criado nas comemorações do jubileu dos 250 anos da Igreja Catedral de Nossa Senhora da Vitória em 1983. Funciona, desde a data de sua fundação, no sobrado João Nepomuceno, construção do século XIX, que sediou a primeira escola de Oeiras do período republicano e foi também Paço Episcopal, residência dos bispos, da década de 1950 a 1977.

O Sobrado João Nepomuceno pertenceu à família Castelo Branco até o início do século XX, quando foi vendido ao Coronel Alano Beleza, intendente de Oeiras, permanecendo como residência. Posteriormente foi vendido ao Estado do Piauí, quando abrigou vários usos institucionais: Câmara de Vereadores e Tribunal do Júri.

Como Museu abriga o patrimônio eclesiástico da cidade de Oeiras. Com trinta e cinco anos de existência, mantém parceria com o Governo do Estado do Piauí (Secretaria de Estado da Cultura) e com a Prefeitura de Oeiras (Secretaria Municipal de Cultura e Turismo). O acervo é composto por imagens de madeira antigas, datadas dos séculos XVII, XVIII e XIX, objetos que pertenceram aos primeiros bispos da Diocese, mobiliário e peças em prata e ouro.

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Figura 8 – Procissão de Nossa Senhora da Conceição pelas ruas do Centro Histórico Fonte: Arquivo Pascom Diocesana (2019).
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3 REVISÃO DE LITERATURA

A Nova Museologia surgiu no final dos anos 1960, trouxe conceitos e métodos que se contrapõem à perspectiva mais tradicional de Museu: edifício, coleção, públicos; e propõe uma ressignificação do Museu em outra perspectiva, qual seja, reconhecer o espaço museal como um lugar repleto de vida, experiências, conhecimentos, que permite a salvaguarda do patrimônio cultural; espaço de sociabilidades e interlocuções, onde os públicos visitantes ocasionais ou usuários conheçam e reconheçam o valor das memórias e das histórias locais.

“A memória está nos próprios alicerces da História, confundindo-se com o documento, com o monumento e com a oralidade” (LE GOFF, 2003, p. 23). Nesse primeiro contato com uma literatura da Nova Museologia, compreendemos a necessidade de buscar mais fontes de conhecimento para o desenvolvimento da pesquisa, que tem como objeto o Museu de Arte Sacra de Oeiras.

Pensar a função social do Museu, além do aspecto tangível, é perceber toda uma imaterialidade dentro dessa dinâmica simbólica. O MAS abriga um acervo representativo do patrimônio eclesiástico da cidade de Oeiras, com peças sacras que não estão totalmente musealizadas, pois são usadas no ambiente externo do Museu, nas celebrações do calendário religioso, principalmente na Semana Santa. O acervo sacro está relacionado ao patrimônio imaterial (intangível), que compreende as expressões de vida e tradições religiosas de Oeiras, pois reforça o sentimento de pertencimento e de identidade, fortalecendo os laços comunitários. O Patrimônio Cultural Imaterial foi definido na Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Imaterial em Conferência na UNESCO, em Paris, no ano de 1989. Em seu artigo 2, lê-se a seguinte explicação:

As práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas – junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados – que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural. Este patrimônio cultural imaterial, que se transmite de geração em geração, é constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua interação com a natureza e de sua história, gerando um sentimento de identidade e continuidade e contribuindo assim para promover o respeito à diversidade cultural e à criatividade humana (UNESCO, 2006).

O Museu salvaguarda mais do que obras e objetos, mas também experiências e vivências de religiosidade, de espiritualidade, elementos da cultura religiosa, da história eclesiástica, como uma função reconhecida pela comunidade local.

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Com base na Mesa-Redonda de Santiago no Chile, em 1972, o ICOM compartilha a ideia de que os museus estão a serviço da sociedade e de seu desenvolvimento. Esse papel social dos museus tem o objetivo “[...] de aumentar a capacidade de uma coletividade de projetar seu próprio futuro e de ser sujeito ativo de sua própria história, a partir da consciência que passa a ter de si mesma” (BARBUY, 1989, p. 36). Para Santos (1993, p. 99):

Os museus são espaços de sociabilidade, de troca de saberes, de produção cultural e de encontro com a comunidade. Um lugar de participação e de ações educativas. Espaços de produção de conhecimento que favorecem a construção social da memória e a percepção crítica da sociedade. A relação entre museu e educação é intrínseca, uma vez que a instituição museu não tem como fim último apenas o armazenamento e a conservação, mas, sobretudo, o entendimento e o uso do acervo preservado, pela sociedade, para que, através da memória preservada, seja entendida e modificada a realidade do presente. Nesse sentido, a própria concepção do museu é educativa, pois, o seu objetivo maior será contribuir para o exercício da cidadania, colaborando para que o cidadão possa se apropriar e preservar o seu patrimônio, pois ele deverá ser a base para toda a transformação que virá no processo de construção e reconstrução da sociedade, sem a qual esse novo fazer será construído de forma alienante.

Diante desse contexto, é possível perceber que os museus possibilitam diferentes experiências, oferecem serviços educativos e culturais, promovem ações de mediação com os públicos. Esse diálogo com a comunidade deve “propiciar a compreensão sobre patrimônio/herança e o exercício da cidadania” (BRUNO, 1998, p. 27). De acordo com Reis (2005, p. 42):

Os museus devem ser um espaço sugestivo, lúdico e interessante onde não necessariamente as coisas devam ser explicadas como acontece na escola. E neste caso, considerar que não há uma única forma de construção do conhecimento, de aprendizagem, ele pode despertar no sujeito a afetividade instigando a emoção, o romantismo, a ação, a interação e a reflexão.

O Museu é um espaço de encontro, debates, comunicação, de participação social. Para sua gestão, se faz necessário compreender que sua função social envolve técnicas, recursos e ações socioeducativas. As atividades culturais realizadas nos museus (exposições, cursos, palestras, seminários, oficinas e outras) devem estar em consonância com as expectativas da comunidade, como organização a serviço do público. Isso reafirma o ideal da Nova Museologia, pois cumpre com o dever de salvaguardar e valorizar memórias e histórias locais. O Museu do século XXI deve celebrar a diversidade cultural, o diálogo com a comunidade e com as diversas culturas. Nesse sentido, o MAS necessita reforçar sua missão e vocação de criar laços comunitários, reafirmando sua função social.

A realização de diagnósticos tem sido uma estratégia metodológica bastante frequente no processo de avaliação e reestruturação de museus. É a partir do levantamento e análise de dados do Museu que se poderá compreender a insti-

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tuição, o seu perfil, sua missão e vocação para o trato com os objetos museológicos. O diagnóstico também aponta para a necessidade de avaliar se a instituição possui condições de fornecer salvaguarda ao acervo.

Enquanto estratégia metodológica para a avaliação e qualificação de museus, o diagnóstico museológico é compreendido como uma análise global e prospectiva da instituição que ‘objetiva a identificação e apreensão das potencialidades museológicas de um território ou de uma instituição, a fim de perceber as atividades desenvolvidas, as parcelas do patrimônio valorizadas e selecionadas para preservação e as lacunas existentes’ (DUARTE CÂNDIDO, 2010, p. 129).

Essa nova tendência contribuiu para o surgimento de novas definições como “Museu Aberto”, “Museu de Vizinhança”, “Museu Comunitário”, “Ecomuseu”. Com essa mudança de paradigmas, surgiu o Movimento da Nova Museologia.

Desta forma, o museu deixa de ser apenas um local de guarda de coleções e amplia o seu interesse do objeto para o sujeito e a sociedade a qual ele pertence, valorizando a cultura não apenas como traço de erudição, mas como marca da trajetória humana e da transformação contínua da realidade (ALMEIDA, 2013, p. 30).

Essa nova perspectiva sobre os museus e suas ações refletem também na gestão, orientando os museus a adotarem uma nova metodologia de gestão das instituições. Deste modo:

Para a qualificação do fazer e das instituições museológicas, é necessário o estabelecimento de parâmetros de gestão museológica e de avaliação, entre os quais o diagnóstico realizado regularmente. A avaliação e o planejamento, procedimentos nos quais o diagnóstico museológico está inserido, são potencialmente um processo educativo, sendo possível considerá-los como importante etapa da formação em serviço dos profissionais envolvidos. A renovação na Museologia passa por aí, pois implica renovação de mentalidades e técnicas para adequação entre teoria e prática museológica, e em qualificação dos corpos técnicos e administrativos (PRIMO, 1999, p. 36).

Nessa perspectiva, pensar o diagnóstico museológico é, antes de tudo, pensar o “Museu” pleno em suas funcionalidades embrionárias, de acordo com sua trajetória e reafirmação missionária-vocacional, a fim de que resultem não somente em sua manutenção, mas sobretudo que seja reconhecido, compreendido, valorizado e seja parte da comunidade, pela e para esta. Nesse sentido:

[...]levar a cabo um ‘diagnóstico da situação atual’ completo poderá ser uma tarefa enorme, mesmo para pequenos museus. Seria possível investigar todos os aspectos de todas as atividades a que o museu se dedica. Essa revisão detalhada de cada atividade deve ser feita periodicamente, mas provavelmente seria difícil fazer tudo de uma vez devido a considerações práticas tais como ‘quem vai fazê-la’ e ‘quanto tempo levará’? Assim sendo, provavelmente, você terá que ser seletivo a respeito de quais questões serão examinadas em detalhe (DAVIES, 1994, p. 33).

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O enunciado de Stuart Davies leva a algumas reflexões; a primeira a destacar-se é que, sendo o diagnóstico o mapeamento de uma situação presente, ou seja, o mesmo que delinear ou estabelecer um contexto atual, subentende-se que se trata de um produto perecível e com período de validade, uma vez que a realidade muda constantemente; a segunda possível é que, sendo uma atividade complexa, há disponibilidade não só de pessoal ou prazo, como sinalizou Davies, mas também de custos que influenciam diretamente em uma ação dessa natureza.

Assim, é compreensível a necessidade de objetivá-lo, estabelecendo um recorte da realidade a ser estudada ou um olhar específico sobre determinada situação. Diagnosticar é identificar questões por meio de uma série de procedimentos, para a partir de então elencar as prioridades que permitirão criar as estratégias de ação para o futuro; dessa forma, o diagnóstico também é parte dos processos avaliativos.

Em relação ao diagnóstico nos museus, Neves (2011, p. 32) afirma:

O diagnóstico é a primeira etapa para se pensar ou repensar um museu. Ela constitui-se de levantamentos e análises de dados de toda sorte, através de reuniões com a equipe do museu (caso seja para revitalização), visitas técnicas ao local ou instalações, pesquisa bibliográfica, pesquisa de público etc.

Diversos são os processos de análise de avaliação em museus, acontecem em vários níveis, desde os estudos de público, mais comumente referenciados, até as avaliações e estudos de espaços e ambientes arquitetônicos, avaliações de acervos, no tocante à documentação e à conservação, entre tantos outros.

Manuelina Duarte (2011, p. 54) afirma que o diagnóstico museológico deve ser entendido como:

[...] uma análise global e prospectiva da instituição, isto é, não se confunde com outras formas de análise ou avaliação da instituição que enfocam uma parte de suas ações mais a fundo, como a avaliação no sentido de estudos de público ou mesmo o diagnóstico de documentação do acervo.

A mesma autora aponta que existe uma dificuldade em se estabelecer um método único em função da diversidade de museus e realidades em que estão inseridos. No Brasil, desde 2009, com a promulgação da Lei Federal nº 11.904 – Estatuto dos Museus, o diagnóstico passou a ser também uma demanda no conjunto de procedimentos para a construção de planos museológicos. O que também foi reforçado no artigo nº 23 do Decreto nº 8.124/13, que regulamentou essa Lei. Sendo assim, Manuelina Duarte (2011, p. 54) conclui:

O planejamento enquanto etapa fundamental de gestão de museus, deve tomar o diagnóstico museológico como um ponto de partida para análise e identificação de pontos críticos e de potencialidades, sintetizados estes na construção de um cenário real e de outro desejável que possa ser construído em diferentes prazos longo, médio e curto, por intermédio da implantação do plano museológico, programas e projetos.

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No que concerne aos procedimentos da política de gestão de acervo, se faz necessário realizar a documentação, a conservação e a pesquisa adequada do acervo museológico, no intuito de controlá-lo, como incentivo à produção e difusão do conhecimento. É de competência da gestão de acervo: a salvaguarda das coleções, o cuidado com o bem-estar físico e de conteúdo do acervo, a segurança, o acesso ao público e a descrição das atividades realizadas pelo processo administrativo da instituição. “A política de gestão de acervo serve como um documento de orientação para os profissionais do Museu que esclarece como o Museu assume a responsabilidade de salvaguarda do seu acervo” (PADILHA, 2014, p. 27).

Para que a gestão de coleções tenha sucesso, as decisões sobre o acervo do Museu devem ser sempre tomadas de modo consistente e após consideração cuidadosa. Uma tomada de decisão eficaz fundamenta-se numa política eficaz. Por essa razão, o documento mais importante do acervo do Museu é a Política de Gestão do Acervo (LADKIN, 2004, p. 18).

O Museu como instituição colecionadora deverá utilizar-se de sua política de acervo, quando da aquisição do objeto a ser musealizado, pois “[...] são muitos os motivos que levam os museus a salvaguardarem os objetos em seu acervo: por ser raro, por sua fabricação, pelo valor científico e cultural, pela preciosidade do material ou pela sua antiguidade” (PADILHA, 2014, p. 19).

Dentro do processo de musealização do objeto, Padilha (2014, p. 19) complementa:

Todo objeto pode ser potencialmente um objeto museológico, porém o que o elevará a essa categoria é a análise que a instituição fará no momento em que ele for adquirido. Ressalta-se a necessidade de o objeto possuir semelhança com o tipo de acervo salvaguardado pelo museu e de dialogar com a sua missão e com os seus objetivos. Assim, sua aquisição será vista como autêntica ao propósito institucional [...] o objeto passa a ser descrito sob duas circunstâncias: sua vida útil antes de fazer parte do museu e depois, quando ganha novos usos e sentidos dentro do espaço de salvaguarda.

Portanto, a musealização é esse conjunto de processos pelos quais alguns objetos são revestidos de novos significados, por conseguinte, adquirem a função de documento, constituindo-se como acervo museológico.

[...] podemos concluir que o acervo museológico é composto por documentos (peças, objetos, artefatos) que intencionalmente são guardados, pois providos de um valor documental que lhes foi intencionalmente atribuído (SMIT, 2011, p. 33).

Apresentamos, a seguir, alguns apontamentos e recomendações para a construção do diagnóstico e de um exercício da documentação museológica do Museu de Arte Sacra de Oeiras, no Estado do Piauí.

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4 METODOLOGIA

A metodologia deste trabalho esteve pautada no processo de construção do diagnóstico do Museu de Arte Sacra de Oeiras, enfocando a gestão do acervo e o planejamento em museus, construindo um exercício de documentação museológica. Delimitamos o trabalho na documentação de dez peças raras, que compõem o acervo do MAS, para pesquisa, documentação, comunicação e salvaguarda do patrimônio eclesiástico. Construímos uma narrativa que destaca o risco das peças com ênfase em diversos problemas estruturais, apontados no diagnóstico. Também sugerimos a inserção das peças raras em um repositório digital, a Plataforma Tainacan.

A Plataforma Tainacan é uma ferramenta flexível para WordPress que permite a gestão e publicação de coleções digitais com a mesma facilidade de se publicar posts em blogs, mas mantendo todos os requisitos de uma plataforma profissional para repositórios. Sendo assim, o trabalho não se encerra nele mesmo, pois sugere, para o futuro, a possibilidade desse repositório digital, a elaboração de uma nova museografia e a construção participativa de um Plano Museológico.

Segundo o Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM), atualmente dez Museus da Rede Ibram já usam o Tainacan, e a previsão é que, até o final de 2019, todos os demais museus da rede disponibilizem seus acervos na plataforma. As faculdades de Museologia da Universidade de Brasília (UNB), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e da Universidade Federal do Delta do Parnaíba (UFDPar), Programa de Pós-Graduação em Artes, Patrimônio e Museologia também utilizam a plataforma como repositório de suas exposições, além da Funarte e do Museu do Índio (Funai/MJ).

Um exemplo de boas práticas de museus que usam a plataforma Tainacan é o caso do Museu de Arqueologia de Itaipu, que publicou recentemente seu acervo digital na referida plataforma. De acordo com as informações do repositório digital, o Museu de Arqueologia de Itaipu conta com acervos museológico, arquivístico e bibliográfico.

Um aspecto a destacar para a construção do diagnóstico museológico de uma instituição museal é a própria instituição e seus funcionários estarem dispostos a serem avaliados a partir dos problemas e potencialidades, de estarem abertos aos desafios de uma sociedade da comunicação e informação; estarem abertos para as diversas análises e abordagens que serão pontos indicadores da

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avaliação; considerar os pontos significativos que devem compor um diagnóstico museológico global, como a densidade do acervo na exposição e reserva técnica; recursos humanos; orçamento; estrutura espacial; conservação e restauro; reserva técnica; manuseio e uso do acervo; monitoramento e controle do ambiente; segurança; salvaguarda; expografia e estudo de público. Fazendo assim a análise dos pontos fortes e fracos, ameaças e oportunidades (análise SWOT) da instituição museal.

Em um paralelo com o que ocorre em avaliações médicas, pode-se dizer que esses são os diagnósticos de alguns especialistas, enquanto o diagnóstico museológico seria uma abordagem de ‘clínica geral’ tentando perceber a organicidade das diferentes partes e realizar uma análise do quadro geral do funcionamento. O que indica, quando for o caso, um aprofundamento da avaliação por especialistas naqueles pontos em que foram identificados os problemas que comprometem o todo (DUARTE CÂNDIDO, 2013, p. 86).

O ponto da situação concentra atividades iniciais que já foram desenvolvidas em relação ao objeto deste trabalho. Uma parte do acervo do MAS foi documentada em 1984, sob a orientação de Ana Clélia B. Correia, museóloga contratada pela Secretaria de Cultura, Desporto e Turismo do Estado do Piauí. Esse trabalho de registro durou cerca de três meses, computando um acervo de duzentas e sessenta e uma peças. Em 2009, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional-IPHAN, tendo como superintendente do Piauí a arquiteta Claudiana Cruz dos Anjos, realizou uma atualização na documentação museológica do MAS, através da empresa mineira, Aro Arquitetos Associados LTDA., sob a coordenação técnica de Andréia Zerbetto.

A documentação não contemplou todos os itens do Museu, deixando uma série de lacunas. Ainda no início deste trabalho, fomos incitados pela Profa. Dra. Áurea da Paz Pinheiro, coordenadora do PPGAPM, a fazer um artigo sobre o MAS, mostrando as necessidades, o interesse de pesquisar e desenvolver uma atividade naquele equipamento cultural. Artigo este intitulado “Museu de Arte Sacra de Oeiras, Sertão do Piauí, Nordeste do Brasil”, apresentado na 10ª edição do evento Mestres e Conselheiros, que aconteceu em agosto de 2018, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte.

A considerar um diagnóstico global, foi possível detectar pontos fortes e fracos, ameaças e oportunidades do MAS, cuja direção nos abriu as portas para uma análise crítica da instituição que necessita fazer um estudo mais técnico das questões relacionadas à conservação de acervos, segurança, documentação, avaliação de exposição, missão e perfil institucional, bem como o estudo de públicos, comunicação, salvaguarda, planejamento e gestão.

Ao longo do trabalho, mantivemos uma comunicação com nossos colegas, funcionários do Museu, com os parceiros e instituições de cultura, envolvendo todos eles no trabalho realizado, para se sentirem parte e perceberem a realidade do MAS.

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A nossa pretensão com este trabalho foi iniciar uma discussão no campo da gestão museológica, para reconhecer, defender e vivenciar o patrimônio do lugar onde vivemos.

4.1 Tipo de Pesquisa

Gestão e planejamento museológico, uma pesquisa qualitativa e participativa. Compreendemos que a pesquisa parte de um problema no âmbito das ciências sociais aplicadas, o que inclui a Museologia. Nessa etapa do trabalho buscamos referenciais no campo do planejamento e gestão de museus, de “Documentação e Conservação de Acervos Museológicos: Diretrizes”, orientadas pela Associação Cândido Portinari (ACAM, 2010); “Gestão de Museus, diagnóstico museológico e planejamento, um desafio contemporâneo”, Duarte Cândido (2013); para tratar de política de aquisição e descarte de acervo, sem perder de vista a relação do Museu de Arte Sacra com a paisagem cultural e sua relação com o patrimônio que versa com a missão Institucional e caracteriza a identificação com seu território, consultamos Ribeiro (2008).

Neste caso, a escolha tem como base o tipo e o caráter da pesquisa que realizamos sobre o Museu de Arte Sacra (MAS); porque envolvemos os funcionários. A pesquisa aconteceu entre 2018 e 2019.

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Local de estudo

O estudo foi realizado na sede do Museu de Arte Sacra de Oeiras, localizado na Praça Visconde da Parnaíba, 72, Centro Histórico.

4.3 Coleta e análise de dados

As variáveis de estudo foram coletadas em momentos distintos, através da pesquisa em documentos disponibilizados pela Coordenação do Museu, das rodas de conversas com os funcionários do MAS, do processo de diagnóstico museológico e do inventário das dez peças escolhidas a partir de uma análise do acervo existente. Fizemos a coleta das informações e iniciamos o processo da escrita. Utilizamos, dentro desse processo museológico, técnicas de coletas de dados como: mediação, observação, diário, notas de campo e análise documental.

4.4 Aspectos éticos

O trabalho foi discutido inicialmente com a Coordenação do PPGAPM da UFPI, ainda na primeira disciplina do Mestrado: Museu e Museologia, ministrada pela Profa. Dra. Áurea da Paz Pinheiro. A partir de então, fomos orientados para a construção de um artigo sobre o Museu de Arte Sacra de Oeiras-PI, apresentado no evento 10º Mestres e Conselheiros-UFMG, em Belo Horizonte (agosto de 2018). Assim, afirmamos que este trabalho está de acordo com as diretrizes estabelecidas pelo Programa de Pós-Graduação e sua relevância está inserida nos princípios da Museologia.

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Na sequência, encaminhamos o projeto de pesquisa para a Coordenação do Mestrado Profissional em Artes, Patrimônio e Museologia da UFPI, Campus Ministro Reis Veloso (Parnaíba-PI); hoje o Mestrado tem sede no Museu da Vila, Bairro Coqueiro da Praia, Luís Correia-PI. Após a análise da Coordenação e encaminhamentos, prosseguimos com a pesquisa. Solicitamos à Paróquia Nossa Senhora da Vitória e Cúria Diocesana consentimento para realizar o trabalho.

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5 RISCOS

Toda pesquisa tem riscos, apesar de, o que realizamos neste trabalho não foi algo que traga uma drástica ou arriscada intervenção no MAS. Durante a pesquisa e documentação, bem como ao longo do estudo e acesso direto às peças sacras do MAS, aconteceram contradições, constrangimentos e aborrecimentos. No entanto, tais fatos requereram de nossa parte, como pesquisador, certo equilíbrio para trabalhar com as fontes escritas, com a oralidade e com o corpo de funcionários do Museu, sem ocasionar nenhum dano à pesquisa nem aos colaboradores.

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6 DIAGNÓSTICO DO MUSEU DE ARTE SACRA DE OEIRAS

a) Edificação

O Sobrado João Nepomuceno foi erigido no primeiro Quartel do século XIX, e ainda conserva a mesma configuração arquitetônica. Funcionou posteriormente como Intendência Municipal, Grupo Escolar Costa Alvarenga e Palácio Episcopal. Em 1983, o prédio passou a abrigar o Museu de Arte Sacra de Oeiras, marco das comemorações dos 250 anos da Igreja Catedral de Nossa Senhora da Vitória.

b) Relação do Prédio com o entorno

A relação desse prédio com seu entorno é harmônica, pois sua arquitetura é condizente com os outros prédios que fazem parte da área vizinha. Arquitetura colonial, presente em todo o conjunto histórico e paisagístico do Centro Histórico de Oeiras.

c) Localização

O MAS está localizado na Praça Visconde da Parnaíba, próximo a Igreja Catedral de Nossa Senhora da Vitória, Centro Histórico de Oeiras. É um prédio emblemático que realça o conjunto histórico e paisagístico da Primeira Capital, tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), desde 2012, como patrimônio cultural do Brasil.

Nome da instituição:

Coordenadora:

Endereço:

Cidade:

E-mail:

Contato:

Horário de Funcionamento:

Museu de Arte Sacra | MAS

Zulene de Holanda Rocha

Praça Visconde da Parnaíba, 72

Oeiras | Piauí

masoeiras@gmail.com

(89) 99402-3981

8h às 12h (terça-feira a domingo)

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d) Estrutura Organizacional

O Museu de Arte Sacra de Oeiras tem a seguinte estrutura organizacional: Coordenação, uma funcionária da própria casa, dois professores cedidos pela Secretaria de Estado da Educação (SEDUC), um vigia (funcionário da Secretaria de Estado da Cultura), um vigia e uma zeladora (cedidos pela Secretaria Municipal de Cultura e Turismo | Prefeitura de Oeiras). O MAS pertence à Paróquia Nossa Senhora da Vitória, Diocese de Oeiras, há um contrato de comodato com o Governo do Estado do Piauí, através da Secretaria de Estado da Cultura (SECULT), em parceria com a Prefeitura de Oeiras, por meio da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo.

e) Acervo e origem

O acervo do Museu de Arte Sacra é oriundo das Igrejas de Nossa Senhora da Vitória, Nossa Senhora do Rosário e Nossa Senhora da Conceição. Uma parte origina-se de colecionadores que cederam seus acervos de família ou doaram peças para compor o acervo do Museu. Estão distribuídos em oito salas temáticas, a saber: Sala Dom Expedito Lopes, Sala Dom Edilberto Dinkelborg, Sala Dona Alina Nunes de Carvalho (Santos), Sala Dona Maria de Cota (Semana Santa), Sala Mariana (Procissões), Sala Dona Alzira Reis Tapety (Divino), Sala Dona Júlia de Carvalho Nunes (Música Sacra) e Sala Capela Nossa Senhora da Vitória.

f) Número de peças que compõem o acervo

O MAS possui um acervo raro e significativo, pois são peças com mais de duzentos anos que ainda saem do Museu em momentos celebrativos, cerimônias e procissões da Semana Santa. Inventariado pelo IPHAN, em 2009, temos cerca de 261 itens que fazem parte das exposições de longa duração, distribuídos em oito salas temáticas.

g) Exposições

O acervo é composto por imagens de madeira policromada séculos XVII, XVIII e XIX; varas do pálio, lanternas, crucifixos, castiçais, resplendores e coroas de prata. Além de paramentos litúrgicos e outros objetos que pertenceram aos primeiros bispos da Diocese.

h) Salvaguarda do patrimônio e inventário das peças

Durante a realização deste diagnóstico, pudemos constatar que o acervo foi catalogado inicialmente em 1984, quando o Museu abriu efetivamente suas portas à visitação pública, a partir de fichas datilografadas e arquivadas em sua sede. Em 2009, o IPHAN fez nova documentação museológica, tanto do Museu, quanto das três Igrejas seculares de Oeiras: Nossa Senhora da Vitória, Nossa Senhora do Rosário e Nossa Senhora da Conceição. Esse material encontra-se arquivado tanto na Cúria Diocesana, quanto no Museu de Arte Sacra. Algumas

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peças, como a Custódia de Ouro e a imagem primitiva de Nossa Senhora da Vitória, ficaram de fora dessa segunda documentação museológica. A primeira, por estar em Teresina, sob os cuidados de uma família oeirense; e a segunda, por estar na Caixa Forte (Cofre do MAS) e de não ter sido permitida sua catalogação pela Paróquia Nossa Senhora da Vitória, naquele período, por motivo de segurança

i) Ações educativas e culturais

O MAS realiza atividades educativas e culturais desde 2013, sempre na Semana Nacional de Museus, temporada cultural coordenada pelo Ibran, que acontece todo ano em comemoração ao Dia Internacional dos Museus, 18 de maio. A cada ano, o Conselho Internacional de Museus (ICOM) lança um tema diferente para a celebração dessa data, que é, também, o mote norteador das atividades da Semana de Museus.

As atividades acontecem na Primavera de Museus, temporada cultural também coordenada pelo Ibram que acontece todo ano no mês de setembro. Além dos períodos de celebração da cidade, como Semana Santa, Divino e Padroeira do Piauí, Nossa Senhora da Vitória.

As atividades acontecem dentro e fora do Museu, como: colóquios, seminários, exposições de curta duração, concertos sacros, bate-papos, roda de conversa nas escolas e rádios locais, oficinas, visitas mediadas, exposições itinerantes, Cine MAS e shows musicais. Todas essas atividades envolvem a comunidade e são feitas em parceria com as instituições culturais da cidade, como o Instituto Histórico de Oeiras, Confraria Eça-Dagobertiana, Conselho Municipal de Cultura, Centro Cultural Major Selemérico, bem como escolas públicas e privadas da cidade, 8ª Gerência Regional de Educação, Secretaria Municipal de Educação, IFPI, UESPI, Paróquia Nossa Senhora da Vitória – Diocese de Oeiras, Fundação Dom Edilberto Dinkelborg, Fundação Nogueira Tapety, Secretaria Municipal de Cultura e Turismo e Secretaria de Estado da Cultura.

j) Missão e visão institucional

O MAS, mesmo com fragilidades, tenta cumprir seu papel de salvaguardar peças sacras que contam a história da cidade e que estão intimamente ligadas às tradições religiosas de Oeiras. Constitui-se um espaço onde oeirenses e públicos ocasionais ou usuários percebem o acervo com peças raras que traduzem a relevância e preservação das tradições da comunidade, valorizando a identidade cultural e fomentando possibilidades de salvaguardar as práticas ancestrais do povo de Oeiras, que vive sua fé há mais de trezentos anos.

6.1 Diagnóstico como ferramenta metodológica

A utilização de diagnósticos tem sido uma ferramenta metodológica bastante utilizada no processo de avaliação e reestruturação de museus. É considerada a primeira etapa para se pensar um Museu. A partir de um levantamento e aná-

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lise de dados, poder-se-á compreender a instituição. Observe-se o diagnóstico museológico:

Constitui-se de levantamentos e análise de dados de toda a sorte: através de reuniões com a equipe do museu [caso seja para revitalização], visitas técnicas ao local ou instalações, pesquisa bibliográfica, pesquisa de público etc. Mas, fundamental é a pesquisa sobre o acervo, pois é ele que vai definir o perfil do museu em termos científicos e estruturais: é a sua vocação ou, em outros termos, a identidade do museu (DUARTE CÂNDIDO, 2013, p. 202).

É justamente a partir do levantamento e análise de dados do Museu que será possível compreendê-lo; perfil, vocação, prioridades, ameaças, oportunidades para que se planejem ações de reestruturação, requalificação e ressignificação da instituição, com base na formação e transformação de mentalidades da Equipe gestora e de seus funcionários. O diagnóstico completo da instituição pela apreciação de aspectos globais de seu funcionamento é a base para a elaboração do plano museológico, expresso no artigo terceiro da portaria normativa nº 1 / 2006 do IPHAN (DOU 11/07/2006).

Por constituir-se instrumento fundamental dentro da ação transformadora dos museus, o diagnóstico e o plano museológico “[...] ganham realce quando envolvidos em um contexto de aproximação com a produção teórica e metodológica do campo da Museologia que possa trazer novos parâmetros de avaliação” (DUARTE CÂNDIDO, 2014, p. 52).

O plano museológico auxilia no estabelecimento da missão e dos programas do Museu, tais como: gestão de pessoas, gestão dos acervos, projetos de exposições, ações educativas e culturais, elaboração e realização de pesquisas, programa arquitetônico, de segurança, estratégias de financiamento e fomento, bem como de difusão e divulgação. A criação da matriz para diagnóstico museológico, planejamento e gestão de museus está ligada às especificidades dos museus, embasados nos conceitos da museologia, além da experiência da autora no campo museal. A referida matriz associada a outras existentes “[...] aponta pontos fortes e fracos, de cada um dos aspectos mencionados no diagnóstico e baseando as tomadas de decisão que serão fundamentais na elaboração e na execução dos programas” (DUARTE CÂNDIDO, 2014, p. 54).

Quando a missão institucional não está definida, ocorre uma falta de clareza dos objetivos da instituição e sua ausência compromete a sobrevivência do museu. Isto se torna mais grave quando ocorre com o Museu tradicional que não dialoga com as novas propostas museais. Duarte Cândido (2010, p. 128) complementa:

A Museologia hoje consiste na convivência entre os museus tradicionais e as novas propostas museais. Porém o que se percebe é também um descompasso, marcado pela existência de diversas instituições que ainda seguindo modelos tradicionais sequer realizam com qualidade a gestão do seu patrimônio, a salvaguarda e a comunicação. Ao mesmo tempo em que

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a Museologia busca a experimentação de novos modelos, também desenvolve procedimentos técnico-científicos de excelência para o tratamento dos acervos e para a qualificação dos chamados museus tradicionais, mas muitos ficaram à margem deste processo ou o seguem de longe, por uma série de fatores, entre as quais se destacam deficiências de recursos humanos e financeiros ou mesmo o pequeno contato com a produção científica e os debates da área.

Com este trabalho inicial, pretendemos, como funcionário do MAS, realizar de forma participativa, a médio prazo, a construção do plano museológico desse equipamento cultural, a considerar sua importância como ferramenta poderosa na organização de um Museu. A sua implementação é algo que precisa ser pensado pela equipe do MAS, com objetivos e metas estabelecidas a partir da ordem de prioridades, cronograma de trabalho bem definido e participativo.

Essa construção inclui os atores, responsáveis por tal elaboração: Equipe do Museu, representantes da comunidade e benfeitores, bem como os moradores do entorno, que convivem diariamente com o Museu. A sua inexistência afeta o Museu, pois é fator preponderante para a organização institucional.

6.2 O Museu de Arte Sacra de Oeiras

O Museu de Arte Sacra da cidade de Oeiras é um equipamento público criado desde 1983, com o cunho de abrigar o acervo de arte sacra e religiosa daquela cidade. Encontra-se instalado desde essa data no Sobrado João Nepomuceno, denominado também de Palácio Episcopal (Figuras 9 e 10).

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Diagnóstico e exercício de documentação museológica
Figura 9 - Sobrado João Nepomuceno, também denominado Palácio Episcopal, no qual funciona o Museu de Arte Sacra de Oeiras

Em 1941, Sobrado João Nepomuceno foi doado à recém-criada Diocese de Oeiras, tornando-se Palácio Episcopal, e, desde 1983, transformado em Museu de Arte Sacra, dentro das comemorações dos 250 anos da Igreja Catedral de Nossa Senhora da Vitória. Abrindo efetivamente para visitação em 1984. No dia 26 de dezembro de 2017, no encerramento das atividades culturais dos 300 anos de Oeiras, a Secretaria de Estado da Cultura (Governo do Piauí) entregou para a comunidade oeirense a nova museografia do MAS. O Palácio Capitão-Mor João Nepomuceno possui tombamento federal, inscrito no Livro de Belas-Artes sob o nº235 e no Livro Histórico sob o nº117, ambos em 14 de janeiro de 1939.

O Museu de Arte Sacra pertence à Paróquia de Nossa Senhora da Vitória (Diocese de Oeiras) e funciona através de um contrato de comodato com o Governo do Estado do Piauí, por meio da Secretaria de Estado da Cultura e da parceria com a Prefeitura Municipal de Oeiras, com o apoio da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo. Quase todo o acervo é oriundo das três Igrejas seculares: N. S. da Vitória, N. S. do Rosário e N. S. da Conceição. Uma pequena parte advém de colecionadores. O Museu está dividido em salas temáticas, a saber: Sala Dom Expedito Lopes, Sala Dom Edilberto Dinkelborg, Sala Dona Alina Nunes de Carvalho (Santos), Sala Dona Maria de Cota (Semana Santa), Sala Mariana (Procissões), Sala Dona Alzira Reis Tapety (Divino), Sala Dona Júlia de Carvalho Nunes (Música Sacra), Sala Capela Nossa Senhora da Vitória, Sala de Exposições Pe. Miguel de Carvalho e a Loja MAS (Figura 11).

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Figura 10 - Igreja Nossa Senhora da Vitória e Sobrado João Nepomuceno na década de 1930 Fonte: Arquivo Instituto Histórico de Oeiras. Autoria desconhecida

O acervo é composto por imagens de madeira policromada séculos XVII, XVIII e XIX; varas do pálio, lanternas, crucifixos, castiçais, resplendores e coroas de prata. Além de paramentos litúrgicos e outros objetos que pertenceram aos primeiros bispos da Diocese. Algumas peças sacras ainda são utilizadas no período de celebrações religiosas. Visitar o Museu de Arte Sacra é conhecer a história de Oeiras, que está intimamente ligada à história da Igreja Católica nos “Sertões de Dentro”, através de tão expressiva arte.

Na primeira sala (térreo), Dom Expedito Lopes, primeiro bispo de Oeiras, no período de 1949 a 1954, encontram-se objetos sacros e mobílias usadas no período em que o sobrado João Nepomuceno abrigou o Paço Episcopal (de 1950 a 1977), como conjunto de cadeiras datadas da década de 40 do século XX, constando o brasão episcopal; uma pintura jesuíta do século XVIII que pertenceu ao forro de madeira da Igreja de Nossa Senhora do Rosário e o báculo, cajado do pastor, de Dom Expedito Lopes, bispo mártir que foi assassinado no dia 2 de julho de 1957, com um tiro à queima-roupa, por um padre na cidade de Garanhuns em Pernambuco, quando era bispo daquela Diocese (Figura 12).

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Diagnóstico e exercício de documentação museológica
Figura 11 - Identidade visual do Museu de Arte Sacra Fonte: Arte Edmo Campos (2014).

A sala seguinte (térreo) é uma homenagem ao clérigo alemão Dom Edilberto Dinkelborg, terceiro bispo de Oeiras, que presidiu a Diocese de 1959 a 1991. Foi quem passou mais tempo em Oeiras, e é o único que tem enterro na Igreja Catedral de Nossa Senhora da Vitória. Nesta sala é possível constatar muitos pertences dos primeiros bispos, como, por exemplo, paramentos litúrgicos, mitras, conhecidas popularmente como chapéu episcopal, e objetos pessoais que pertenceram tanto a Dom Edilberto, quanto a Dom Expedito Lopes e Dom Raimundo Castro. Finalizando a sala há uma galeria com fotos de todos os bispos, até o atual, Dom Edilson Nobre, que chegou em Oeiras no dia primeiro de abril de 2017, totalizando o sétimo bispo da Diocese de Oeiras-PI (Figuras 13).

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Figura 12 - Sala Dom Expedito Lopes Fonte: Faulkner Sá (2019).

Ainda no térreo está a Galeria Pe. Miguel de Carvalho, uma sala de exposições de curta duração e que atualmente recebe a exposição “Impressões Afetivas da Velha Urbe” de autoria do artista plástico e arquiteto Evandro Veras. O Pe. Miguel de Carvalho foi quem implantou a Freguesia e/ou Paróquia de Nossa Senhora da Vitória do Brejo da Mocha há 322 anos (Figura 14).

Alina Nunes (Santos) é nome da primeira sala do pavimento superior, é uma homenagem a essa senhora que foi diretora do Museu de Arte Sacra na década de 80 do século XX, com um legado de trabalho dedicado à cidade, através do Instituto Histórico de Oeiras, instituição cultural criada em 1972, por intelectuais da urbe e que fomenta a salvaguarda do patrimônio cultural. Há nesta sala imagens de madeira policromada século XVIII e XIX. A maior parte do acervo pertence às Igrejas seculares de Oeiras - Catedral de Nossa Senhora da Vitória, Igreja de Nossa Senhora do Rosário e Igreja de Nossa Senhora da Conceição. Ainda possui algumas imagens sacras, oriundas de colecionadores particulares; que cederam ou doaram para o MAS, no período de sua criação em 1983; além de formas de fazer hóstia, cortadores e sacrários de madeira (Figura 15).

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Figura 14 - Sala Galeria Pe. Miguel de Carvalho Fonte: Faulkner Sá (2019).

Sala Maria de Cota (Semana Santa) é a segunda sala do pavimento superior e representa a memória de uma mulher caridosa, que durante muitos anos fez trabalhos comunitários, principalmente em relação à cadeia e penitenciária local; enquanto viveu, cuidou com zelo do Passo do Rosário, a primeira capela onde o Bom Jesus dos Passos faz sua parada, remete a passagem durante a Procissão na Semana Santa. A Sala é composta por uma instalação onde o público conhece a Procissão do Fogaréu em Oeiras. Há peças importantes como a Urna Eucarística, os andores usados nas procissões da Semana Santa (andor do Bom Jesus, de Nossa Senhora das Dores e o Esquife do Senhor Morto), além da matraca que substitui os sinos a partir da Quinta-Feira Santa, fazendo memória da Paixão e Morte de Cristo (Figura 16).

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Figura 15 - Sala Alina Nunes (Santos)

Na sequência do percurso expositivo, chega-se à Sala Mariana (Procissões). É uma sala dedicada à Nossa Senhora, pois Oeiras é uma cidade mariana. As principais igrejas são dedicadas à Maria, mãe de Jesus. Nesse ambiente, está exposta a imagem processional de Nossa Senhora da Vitória (Gesso - século XX), a imagem da Imaculada Conceição do século XVIII e a imagem do Imaculado Coração de Maria (Gesso – século XX). Há ainda nessa sala o Pálio Dossel com as varas e lanternas de prata do século XVIII e XIX, a imagem do Cristo Ressuscitado de madeira, século XIX, bem como a máquina do relógio da Catedral, de 1817, que veio da Inglaterra (Figura 17).

Na sequência está a Sala Alzira Reis Tapety (Divino). Uma homenagem a uma das primeiras professoras de Artes da Escola Normal Presidente Castelo Branco, escola de formação para docentes na década de 40 do século XX. Podemos perceber na sala uma imagem do Divino (Pomba do Divino) de madeira policromada, século XVIII, vários painéis fotográficos de autoria do oeirense, Olavo Brás, que demonstram a Celebração do Divino em Oeiras, além da bandeira do Divino e de outros objetos que compõem a sala (Figura 18).

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Diagnóstico e exercício de documentação museológica
Figura 17 - Sala Mariana (Procissões) Fonte: Faulkner Sá (2019).

Ao sair da Sala Alzira Reis Tapety, seguimos para a Sala Júlia de Carvalho Nunes (Música Sacra). O MAS homenageia dona Julinha, como era conhecida, pelo incansável trabalho caritativo à frente da Arquiconfraria do Imaculado Coração de Maria, uma associação religiosa que existe há mais de um século na cidade de Oeiras. Na sala está um conjunto de anjos de madeira (arte santeira do Piauí - século XXI); os anjos músicos trazem consigo instrumentos musicais, uma louvação a Nossa Senhora e a Oeiras, por todo o traço musical da cidade, reconhecida nacionalmente como a terra dos bandolins.

As orquestras de bandolins surgiram na década de 1930, em Oeiras, mas somente em 1983, nas comemorações dos 250 anos da Igreja Catedral, despontou o grupo Bandolins de Oeiras, formado por senhoras, sempre presentes nas atividades culturais, cívicas e religiosas da comunidade. Na atualidade, a prática musical foi democratizada com inserção de crianças, adolescentes e jovens, através da Escola de Música Dona Petinha, Projeto da Secretaria de Estado da Cultura, bem como através do Projeto Núcleos de Cultura das escolas da rede municipal de Educação. Além dos anjos, a Sala possui um harmônio do século XIX, um piano do século XX e um livro de partituras de cantos sacros em latim (Figura 19).

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Figura 18 - Sala Alzira Reis Tapety (Divino) Fonte: Faulkner Sá (2019).

Na Sala Capela da Imagem Primitiva está a imagem de Nossa Senhora da Vitória (Século XVII), padroeira de Oeiras e do Piauí, entronizada em um retábulo neoclássico do século XIX, que pertenceu ao antigo hospital de Caridade de Oeiras. A imagem segundo relatos dos fiéis, chegou com os padres jesuítas, que implantaram a Freguesia, em 2 de março de 1717, considerada a primeira imagem a chegar em solo piauiense.

Durante cinquenta anos, a imagem esteve em Teresina, aos cuidados de uma família de oeirenses que foram convidados a devolver a imagem a Oeiras. Fato ocorrido no dia 14 de agosto de 2015, nas comemorações dos 1970 anos da Diocese de Oeiras.

A Sala é convidativa, possui ainda crucifixo e castiçais de prata, resplendores, coroas e outros objetos litúrgicos, usados ainda em algumas celebrações na Catedral. Além de confessionários, genuflexórios e bancos de madeira, antigo mobiliário da Igreja Catedral Figura 20).

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Figura 19 - Sala Júlia Nunes (Música Sacra) Fonte: Faulkner Sá (2019).

Ao concluir o percurso expográfico do MAS, o visitante pode conhecer a loja no pavimento superior, onde pode adquirir livros de autores oeirenses, camisetas das celebrações religiosas e outros souvenirs. Mesmo com dificuldades, a pequena loja sobrevive e favorece o Museu com uma renda extra. No andar térreo há a Sala da Administração com um banheiro, para uso dos funcionários do Museu. Os dois banheiros usados pelos públicos estão próximos à garagem da Casa Paroquial (térreo), onde há uma escada de cantaria que dá acesso à parte superior do prédio (Figuras 21 e 22).

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Figura 20 - Sala Capela da Imagem Primitiva de Nossa Senhora da Vitória Fonte: Faulkner Sá (2019). Figura 21 - Loja MAS Fonte: Faulkner Sá (2019).

Segundo manuscritos que constam no processo de tombamento, provavelmente de autoria de Paulo Thedim Barreto, o imóvel apresentava uma curiosa influência de elementos clássicos aportuguesados, e uma composição ritmada de sua fachada, em contraste com a fachada posterior, de expressão mais popular com o seu grande avarandado. O alpendre, usualmente utilizado na arquitetura rural piauiense, se configura, neste exemplar, inusitada adaptação de uma solução arquitetônica vernacular em um edifício urbano de risco erudito (Figuras 23 e 24).

Fonte: Elane Coutinho (Autoria). Acervo IPHAN-PI (2010). (Sítio eletrônico do Arquivo Noronha Santos). Disponível em: <http://www.iphan.gov.br/ans/inicial.htm>.

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Figura 22 - Sala da Administração Fonte: Faulkner Sá (2019). Figura 23 - Representação gráfica da fachada do Sobrado João Nepomuceno

O Museu de Arte Sacra de Oeiras está localizado na centralidade do Conjunto Histórico e Paisagístico de Oeiras, bem tombado pelo IPHAN desde 2012, e no Bairro Centro da própria cidade, considerada Monumento Nacional desde 1989.

O imóvel que abriga o Museu está implantado em uma área onde há a presença de importantes construções de interesse de preservação, entre elas a Igreja de Nossa Senhora da Vitória e a Casa do Visconde da Parnaíba. O Sobrado João Nepomuceno se impõe por sua volumetria robusta e pelo gabarito de dois pavimentos. O entorno conta com edifícios relevantes na composição do contexto histórico e urbanístico da cidade de Oeiras, mas muitas dessas edificações sofreram descaracterizações nas fachadas e são alvos da poluição visual, decorrente da instalação de engenhos publicitários. Apesar das alterações nas fachadas, a manutenção da volumetria e do gabarito das construções do entorno tem possibilitado a preservação da visibilidade e da ambiência (Figura 25).

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Figura 24 - Plantas e corte do Sobrado João Nepomuceno, atual Museu de Arte Sacra de Oeiras Loja MAS Fonte: Elane Coutinho (Autoria). Acervo IPHAN-PI (2010).

O imóvel que abriga o Museu é de propriedade da Diocese de Oeiras em contrato de comodato para o uso do Governo do Estado do Piauí, responsável por sua administração. Distribuído em uma edificação histórica de dois pavimentos, o acervo recebe visitação diária de terça a domingo, apenas no horário matutino. Mantém em seu quadro de funcionários um diretor; e três professores (mediadores), dois vigias e uma zeladora (serviços gerais). Cede um de seus ambientes a uma loja particular, não vinculada à administração do Museu, com venda de artigos e souvenirs com temas religiosos. O prédio possui ainda três salas utilizadas como depósitos da Paróquia Nossa Senhora da Vitória. Espaços subutilizados, que poderiam ser cedidos para a criação de uma reserva técnica e de salas para ações educativas e culturais do Museu, a fim de desafogar as salas de exposições de longa duração, contribuindo para uma expografia com menos objetos, dando mais espaço para as visitas mediadas.

O Museu, assim identificado, não se caracteriza organizacionalmente como uma instituição museológica se tentarmos enquadrá-lo nos critérios estabelecidos pelo Estatuto de Museus. Não possui decreto de criação, mas um regimento interno, criado na década de oitenta do século XX, necessitando de uma atualização. Não possui código de ética, além de outras condições mínimas para o pleno funcionamento e cumprimento da missão primordial de um Museu. O acervo está comunicado por ambientes temáticos.

Apesar de a expografia ser recente, inaugurada em dezembro de 2017, nas celebrações dos 300 anos de Oeiras, de autoria do arquiteto Paulo Vasconcellos, as questões ainda são frequentes. É possível constatar que os problemas existentes na “velha museografia” foram agravados com a implantação da nova, gerando preocupação pela quantidade de madeira, tecido, lâmpadas, problemas de instalação elétrica, causando o sufocamento do prédio com isolamento de por-

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Figura 25 - Conformação atual da Praça das Vitórias Fonte: Arquivo Iphan-PI (2007).

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tas e janelas, dando espaços a salas amontoadas e quentes. O museu não possui um sistema de refrigeração e as peças encontram-se em estado de muita insalubridade (Figuras 26 e 27).

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Figura 26 - Sala Maria de Cota (Semana Santa) Fonte: Faulkner Sá (2019). Figura 26 - Sala Maria de Cota (Semana Santa) Fonte: Faulkner Sá (2019).

O Museu não possui oficialmente instituída sua verdadeira missão, vocação e visão, por conseguinte, não alcança um dos objetivos mais importantes para um Museu exercer sua função principal de retorno social – comunicação do acervo. Restringe-se a abrigar peças importantes para a história do município de Oeiras e para o Estado do Piauí, no que concerne a fé de uma população explicitada em inúmeras manifestações.

Não há acessibilidade das informações contidas naquele inventário, realizado em 2009 pelo IPHAN, justificada pela Diocese por motivos de segurança do acervo do MAS, que não conta com sistema de segurança eletrônico, nem com vigilância armada profissional. Mantém dois vigias durante a noite e trancas e cadeados comuns nas portas (Figuras 28 e 29).

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Figura 28 - Loja MAS Fonte: Faulkner Sá (2019). Figura 29 - Sala Mariana Fonte: Faulkner Sá (2019).

O Museu não possui uma política de acervo, mas tem qualidade patrimonial do bem reconhecido pela comunidade. As peças recentes, inseridas no contexto patrimonial secular, que em nada mantêm comprometimento mais denso com a história dos objetos sob a guarda do MAS, restringem-se às relações sociais da Instituição com o doador, geralmente cumprindo papel de valorizar o autor da obra ou família doadora da peça.

Quanto aos espaços da edificação, fizemos análise arquitetônica com foco na funcionalidade do prédio e de seus ambientes em relação ao tratamento que o acervo recebe em termos de exposição, acessibilidade e comunicação.

Em sua maioria, os espaços antes arejados tornaram-se, com a nova expografia, espaços fechados e sufocantes, mas possuem entre si uma comunicação por meio de corredores e portas largas. Não há elevadores ou plataformas móveis para a acessibilidade de pessoas com deficiência, como também não são oferecidos outros suportes acessíveis, como piso podotátil nem fichas técnicas em braile. Os expositores também não conseguem proporcionar a adequada observação dos objetos, tampouco possuem qualidades de acondicionamento e fixação apropriadas. Quanto às exposições, a maior parte encontra-se no pavimento superior da edificação; e, no pavimento térreo, há um ambiente destinado à exposição de curta duração, as Salas Dom Expedito e Dom Edilberto, bem como a área administrativa (Figura 30).

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Figura 30 - Acesso ao pavimento superior do MAS Fonte: Faulkner Sá (2019).

A edificação mantém aspecto limpo externa e internamente, apesar de situar-se no Centro Histórico da cidade, defronte ao ponto de terminal de ônibus intermunicipais. O edifício passou por obra de reforma em 2010, no qual havia problemas de infiltração, infestação de cupins, fissuras nas paredes e goteiras no telhado, mas foram provisoriamente ou aparentemente resolvidos. Atualmente ainda persiste o problema da presença de cupins e, nesse sentido, a direção do MAS realiza desinfestação com aplicação de produtos químicos a cada seis meses. Os procedimentos decorrentes dessa desinfestação restringem-se à colocação do produto em aspersão nos ambientes junto ao roda-teto e ao rodapé, sem que haja qualquer documentação relativa à ação e demais demandas de proteção ou deslocamento do acervo. Paredes, portas, janelas e telhado necessitam de reparos urgentes, pois estão colocando em risco a segurança das peças (Figura 31).

Devido a esse quadro dramático do Museu de Arte Sacra, a Diocese de Oeiras e os funcionários do Museu estão promovendo uma campanha publicitária intitulada “Todos pelo MAS”, com o objetivo de arrecadar fundos para a manutenção e intervenção no prédio que sofre muitos riscos, principalmente no período das chuvas (Figura 32).

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Figura 31 - Detalhe da fachada do MAS (Portal central) Fonte: Faulkner Sá (2019).

6.3 A salvaguarda patrimonial, a comunicação e a política de acervo

O acervo do MAS, integralmente de natureza temática, que remete à religião católica, compõe-se por peças em ouro, prata, bronze e cobre, louças e porcelanas, têxteis, telas, madeira, gesso, papéis, fotografias, vidros e relíquias, datadas do século XVII, XVIII e XIX, apreciadas em mobiliário e expografia inapropriada.

Ações de preservação deste acervo limitam-se, em âmbito da higienização, não existindo quaisquer técnicas de conservação científica e/ou mais apuradas. São atividades realizadas por duas funcionárias do MAS que outrora receberam capacitação sobre conservação de peças. Contudo, não existem profissionais especializados no quadro funcional para acompanhamento e avaliação dessas atividades. Em especial, é premente a necessidade de rever o tratamento dado aos paramentos têxteis que são higienizados, utilizando-se lavagem com água e produtos branqueadores. Destacamos também o insuficiente e inapropriado conjunto de equipamentos para combate a incêndio, limitando-se a três extintores de pó químico e água, por toda a edificação.

Boa parte do acervo do MAS é utilizado durante as manifestações religiosas por todo o ano. Desta forma, verifica-se que o acervo musealizado torna-se patrimônio plenamente utilizável nas celebrações e procissões, como descrevemos ao longo deste documento, construindo, assim, um diálogo com a Nova Museologia. Convém assinalar que tentativas de produção de réplicas para se-

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Figura 32 - Banner campanha publicitária Fonte: Arte Marcos Almeida (2018).

rem usadas nas procissões e cerimônias externas fracassaram. A população e a própria Diocese insistem em utilizar-se nos mesmos objetos seculares, que, por vezes, não se encontram em estado de preservação garantido para que possam ser manuseados.

Noutro âmbito, e em parceria com o Município, por meio da Secretaria de Cultura, são realizadas atividades socioeducativas de visitas guiadas, exposições de curta duração com alunos da rede pública, lançamento de livros e concertos. São realizadas também atividades oficineiras de produção de artesanato e uma série de outras atividades, como shows, seminários, colóquios, bate-papo, roda de conversa e palestras durante a Semana e Primavera de Museus desde 2013.

Em que pese a existência de um termo de acordo de cooperação técnica, celebrado em 2013, entre o Instituto Brasileiro de Museus e o Governo do Estado do Piauí, tendo como objeto os museus piauienses instituídos e cadastrados no Ibram, este documento não obteve eficiência e eficácia em seu cumprimento, pois os museus do Estado do Piauí não seguem minimamente as normativas estabelecidas por lei, tais como: decreto de criação, regimento e política de acervo.

Ressalte-se também que não há, em nenhum Museu piauiense, o acompanhamento de um profissional de museus, dentre eles, museólogos e curadores. O cargo de diretor do MAS, por exemplo, é feito por indicação política, deixando, na maioria das vezes, a desejar pela falta de compromisso do gestor e ou de preparo técnico e intelectual.

Com base na análise do acervo, utilizamos a matriz SWOT, onde comprovamos que o Museu de Arte Sacra possui muitos problemas com a salvaguarda, conservação, segurança, exposição e política de aquisição e descarte de acervo entre outras questões.

a) Pontos Fortes

- Localização privilegiada, pois fica no Centro Histórico de Oeiras, próximo à Catedral de Nossa Senhora da Vitória.

- Museu sacro que dialoga com as tradições religiosas da cidade.

- Possui um acervo sacro dos séculos XVII, XVIII e XIX.

- Possui Facebook e Instagram que dar visibilidade comunicacional ao MAS.

- Atividades educacionais e culturais durante a Semana Nacional de Museus e Primavera de Museus.

- Parcerias (Poder Público Municipal e Estadual, Instituições Culturais e Educacionais).

- Visitas orientadas bem conduzidas pelos professores mediadores do museu.

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b) Pontos Fracos

- Falta acessibilidade (elevador e rampas).

- Expografia comprometida, provocando salas abarrotadas de objetos com pouco espaço para locomoção.

- Regimento Interno obsoleto.

- Não possui plano museológico.

- Direção do MAS (Indicação Política).

c) Oportunidades

- Parceria com os colaboradores do museu.

- Apoio na realização dos projetos pelos poderes públicos e instituições locais.

- Proximidade das escolas e entidades de cultura.

- Envolvimento da comunidade nas atividades propostas pelo MAS.

- O MAS está centrado dentro do eixo cultural da cidade.

d) Ameaças

- Ausência de uma gestão planejada e eficaz.

- Fragilidade na salvaguarda do acervo.

- Conservação do acervo.

- Falta de segurança.

- Problemas que envolvem a parte estrutural do prédio.

6.4 Proposta de fichas de documentação museológica

A documentação museológica representa um dos aspectos da gestão de acervo destinado ao tratamento da informação em todos os âmbitos, desde a entrada do objeto no Museu até a exposição. É a documentação museológica que potencializa o valor do objeto e sua relação com o contexto do museu. Ela produz um conjunto de informações sobre cada um dos objetos que compõem os acervos museais.

No museu, os objetos podem ser adquiridos por coleta, doação, legado, empréstimo, compra, transferência, permuta ou depósito. No que diz respeito ao tratamento documental, os objetos museológicos devem ser registrados individualmente e identificados nas suas múltiplas possibilidades informacionais (PADILHA, 2014, p. 18).

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Como exercício de documentação museológica, elaboramos dez fichas, considerando dez peças raras pelo valor histórico e cultural, datadas do século XVII, XVIII e XIX, que compõem o acervo do Museu de Arte Sacra. Os dez itens seguiram um padrão de escolha, por representarem as peças sacras mais antigas de Oeiras, e porque a maioria delas ainda eram utilizadas nas procissões e cerimônias da Semana Santa. A saber: Imagem Primitiva de Nossa Senhora da Vitória, Crucifixo de Prata, Crucifixo de Madeira, Vara do Pálio, Lanterna de Prata, Castiçal de Prata, Ostensório de Ouro, Cálice de Ouro, Estandarte do Divino (Resplendor) e o painel de Nossa Senhora do Rosário.

Todo esse trabalho de identificação das peças se deu a partir de nosso trabalho, realizado dentro do Museu, como funcionário, observando e pesquisando nas antigas fichas de registro da década de oitenta (século XX), bem como no registro feito em 2009, por uma empresa contratada pelo IPHAN, para realizar o trabalho de documentação museológica do MAS.

O registro do acervo feito em 1984 contou com uma Equipe formada por uma museóloga, contratada pela Secretaria de Cultura, Desporto e Turismo (Fundação Cultural) do Estado do Piauí, Ana Clélia B. Correia, que fez um trabalho de formação com as funcionárias do Museu, à época, Maria do Carmo Santana e Rita Maria Barbosa Lima, ambas assistentes técnicas do Museu e também responsáveis pela mediação cultural. Esse trabalho de registro durou cerca de três meses, computando um acervo inicial de duzentas e cinquenta e seis peças, conforme consta no livro de tombo e nas fichas (Figuras 33 e 34).

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Figura 33 - Primeira ficha de registro - Lado 1 Fonte: Arquivo MAS (2019).

Em 2009, conforme nos referimos anteriormente, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, tendo como superintendente do Piauí, a arquiteta Claudiana Cruz dos Anjos, realizou uma atualização na documentação museológica do MAS, através da empresa mineira Aro Arquitetos Associados LTDA., sob a coordenação técnica de Andréia Zerbetto, contrato nº 13/2009, processo: 1402.000082/2008_98. A empresa usou o modelo de ficha de Inventário Nacional de Bens Móveis e Integrados do IPHAN, mas as fichas antigas foram digitalizadas e anexadas aos arquivos da nova documentação. Além do acervo do Museu, as três Igrejas seculares de Oeiras: Catedral de Nossa Senhora da Vitória, Igreja de Nossa Senhora do Rosário e Igreja de Nossa Senhora da Conceição também tiveram seu acervo registrado.

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Figura 34 - Primeira ficha de registro - Lado 2 Fonte: Arquivo MAS (2019).
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Figura 35 - Modelo de ficha de inventário de bens móveis e integrados do IPHAN - 2009 Fonte: Arquivo MAS (2019).

Ao analisar os dois registros, o primeiro em 1984 e o segundo em 2009, encontramos lacunas nas fichas, bem como notamos a ausência de alguns objetos sacros que não foram documentados; o estado de cada peça sacra necessitando de restauro em sua permanência enquanto acervo do Museu, pois existem alguns itens que foram cedidos ao MAS, de propriedade de colecionadores, e fazem parte das exposições de longa duração. Depois de constatar as informações, nós e a Equipe do Mas fizemos a escolha dos dez objetos, pois o museu não possui comissão de acervo, para o exercício de uma nova documentação museológica. Esse trabalho foi realizado com a ajuda dos funcionários do Museu: Zulene de Holanda Rocha (coordenadora do MAS), Maria do Socorro Barbosa Barros (Professora mediadora), Rita Maria Barbosa Lima (assistente técnica), Antônio Pereira de Sousa (vigia), Claudionor Pereira da Silva (vigia), Nancy Jordânia Barbosa de Carvalho (serviços gerais) e Pedro Dias de Freitas Júnior (professor mediador e pesquisador), quando pudemos trocar experiências e informações acerca dos objetos raros (Figura 36).

Na etapa seguinte, fizemos a contagem do acervo, desde as peças registradas anteriormente até as que ficaram de fora, computando um total de 261 itens. Além de verificarmos o livro de tombo, documento criado para registrar todos os objetos que compõem o acervo, permitindo o controle do objeto que entra e sai, perdido ou roubado. Desta feita, podemos ter um panorama do acervo do

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Figura 36 - A equipe do MAS ao lado do idealizador do museu, Dr. Dagoberto Carvalho Fonte: Arquivo MAS (2019).

Museu a fim de propor uma nova documentação museológica baseada em dez itens iniciais. Optamos pela marcação ALFANUMÉRICA, que é a codificação elaborada a partir de letras e números, na qual a divisão pode ser feita em duas partes (bipartido) ou em três partes (tripartido). Não fizemos nenhuma intervenção nas peças, no tocante a marcação nos próprios objetos. Utilizamos uma placa com o número do registro próximo a peça, como podemos constatar a seguir, com o objetivo de não a danificar. Analisamos também algumas sugestões de marcação e, a partir de então, escolhemos a numeração tripartida. Utilizamos a sigla MAS (sigla do Museu de Arte Sacra), as barras (símbolo divisor), o 19 (ano do registro) e a numeração sequencial (001 a 010) (Figuras 37 e 38).

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MUSEU DE ARTE SACRA DE OEIRAS, PIAUÍ: Diagnóstico e exercício de documentação museológica |
Figura 37 - Resplendor do Divino | Marcação Alfanumérica – tripartida Fonte: Faulkner Sá (2019). Figura 38 - Códigos de identificação - Alfanumérico tripartido Fonte: Freitas Júnior (2019).

Quanto à descrição das informações dos objetos museológicos, utilizamos um modelo de ficha como auxílio, contendo os seguintes metadados: número do registro, outros números, título, autor, data da aquisição, forma de aquisição, localização, procedência, material, técnica, dimensões, estado de conservação, data do registro, país, registrado, descrição intrínseca e descrição extrínseca.

Esta nova ficha, por nós elaborada, para os objetos sacros do MAS, tem como objetivo mostrar a importância desse instrumento como ferramenta de trabalho, por ser a partir da documentação que extraímos as informações necessárias para o processo de salvaguarda do patrimônio.

É a etapa que visa à documentação dos objetos incorporados ao acervo do museu: vai do levantamento e identificação geral do acervo até a análise individual de cada peça. Ressalta-se a importância do reconhecimento detalhado e legítimo do acervo museológico. A documentação cuidadosa do acervo é uma ação determinante para todas as atividades desenvolvidas no museu. Por intermédio dela é que se estabelecem os caminhos

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MUSEU
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ARTE SACRA DE OEIRAS, PIAUÍ: Diagnóstico e exercício de documentação museológica Figura 39 - Ficha de Documentação Museológica Ficha de Documentação Museológica - Museu de Arte Sacra | Diocese de Oeiras-PI Fonte: : Freitas Júnior (2019); Adapatado por Víctor Veríssimo (2020)

para a utilização do acervo, seja por meio de exposições, publicações, ações educativas, atividades administrativas, interoperabilidade institucional ou de apoio para pesquisas internas e externas ao museu. Nesse contexto, serão destacados os passos para o tratamento documental, que devem ser realizados desde o momento em que o museu adquire o objeto e/ou a coleção até o seu processo de interpretação e organização (PADILHA, 2014, p. 38).

A função da documentação é promover a segurança e o controle do acervo, além de criar condições para recuperar e preservar informações sobre o bem cultural. Na catalogação das peças devem constar a identificação, a descrição detalhada de cada objeto e do seu contexto de origem, a procedência, o estado de conservação, tratamento e localização atual. Interpretar, organizar, documentar, recuperar e disponibilizar informações são etapas fundamentais para a gestão do acervo museológico. Percebendo o objeto museológico, é preciso levar em conta a informação que ele carrega consigo antes e depois de ser adquirido pelo Museu.

A documentação museológica é a área da Museologia que, por meio de um conjunto de pressupostos teóricos e procedimentos técnicos, visa à identificação, organização e contextualização das informações relativas aos objetos museológicos de acordo com as suas especificidades (ACAM, 2010, p. 30).

Documentar o acervo museológico é a forma de legitimar a informação contida no objeto que reflete a prática da instituição. São muitas as perguntas no âmbito do sentido de escolher o que documentar, levando em consideração o valor do objeto e sua história; são questionamentos que permeiam o pensamento dos profissionais dos museus. Assim, a documentação museológica vem nortear a gestão e o trabalho com o acervo.

[...] é o conjunto de informações sobre cada um dos seus itens e, por conseguinte, a representação destes por meio da palavra e da imagem (fotografia). Ao mesmo tempo, é um sistema de recuperação de informação capaz de transformar, como anteriormente visto, as coleções dos museus de fontes de informações em fontes de pesquisa científica ou em instrumentos de transmissão do conhecimento (FERREZ, 1991, p. 1).

No entanto, para que essas informações contidas na documentação museológica não caiam no esquecimento ou se percam, se faz necessário inserir o acervo em uma proposta de repositório digital, ultrapassando barreiras físicas, permitindo o acesso à pesquisa dos objetos catalogados como forma de atender novas necessidades informacionais. Assim, alguns museus vêm realizando exposições virtuais e inserindo suas coleções em plataformas digitais, como é o caso da Plataforma Tainacan, garantindo o acesso ao material catalogado, bem como salvaguardando a documentação museológica, antes arquivadas sob a tutela do Museu. Além de garantir novos públicos presentes no ciberespaço, espaço existente no mundo da comunicação e que representa a capacidade de os indivíduos se relacionarem, criando redes cada vez mais conectadas, tornando-se as fontes de informação mais acessíveis.

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DE ARTE SACRA DE OEIRAS, PIAUÍ: Diagnóstico e exercício de documentação museológica

[...] principal equipamento coletivo internacional da memória, pensamento e comunicação. Em resumo, em algumas dezenas de anos, o ciberespaço, suas comunidades virtuais, suas reservas de imagens, suas simulações interativas, sua irresistível proliferação de textos e de signos, será o mediador essencial da inteligência coletiva da humanidade. Com esse novo suporte de informação e de comunicação emergem gêneros de conhecimento inusitados, critérios de avaliação inéditos para orientar o saber, novos atores na produção e tratamento dos conhecimentos. Qualquer política de educação terá que levar isso em conta (LEVY, 1999, p. 167).

Vejamos um exercício (proposta) de documentação museológica para o Museu de Arte Sacra de Oeiras, onde escolhemos dez peças sacras, consideradas raras, que compõem o acervo e que estão em risco, por causa das condições estruturais já mencionadas e apontadas no diagnóstico. Assim temos: Imagem Primitiva de Nossa Senhora da Vitória, Crucifixo de Prata, Crucifixo de Madeira, Vara do Pálio, Lanterna de Prata, Castiçal de Prata, Ostensório de Ouro, Cálice de Ouro, Estandarte do Divino (Resplendor) e o painel de Nossa Senhora do Rosário. As mencionadas peças são oriundas das Igrejas seculares de Oeiras, e a maior parte delas ainda é utilizada nas procissões e cerimônias da Semana Santa, bem como na celebração do Divino Espírito Santo, solenidade de Corpus Christi e celebração da Padroeira, Nossa Senhora da Vitória. São peças em ouro, prata e madeira policromada dos séculos XVII, XVIII e XIX.

A seguir, pode-se ver a proposta de fichas com dez peças raras do acervo do Museu de Arte Sacra de Oeiras, Piauí, mostrando a importância de selecionar, pesquisar, interpretar, organizar, armazenar, disseminar e comunicar (Figura 40).

Nº do registro: MAS/19/001

Outros números: 84.0062

Título: Cálice de ouro

Autor: NI (Não identificado)

Data da aquisição: 13/09/1984

Forma de aquisição: (x) Doação ( ) Compra ( ) Permuta ( ) Coleta ( ) Empréstimo

Localização: Caixa Forte – Cofre (MAS)

Procedência: Igreja Catedral de Nossa Senhora da Vitória

Material: Ouro e Prata

Técnica: Cinzelada e repuxada

Dimensões: 27,5 cm altura; 13 cm largura; 12 cm profundidade

Estado de conservação: (x) Bom ( ) Regular ( ) Ruim

Data do registro: 19/06/2019

País: Brasil

Registrado por: Pedro Dias de Freitas Júnior

Fonte: Faulkner Sá (2019).

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MUSEU DE ARTE SACRA DE OEIRAS, PIAUÍ: Diagnóstico e exercício de documentação museológica
Figura 40 - Cálice de Ouro

DESCRIÇÃO INTRÍNSECA: Copo de ouro com decoração trabalhada em prata, em motivos zoomorfos e fitomorfos (florais, animais, baús e folhas estilizados). A base tem ornamentos em alto relevo, com símbolos religiosos, ramos de trigo, cacho de uvas, flechas, círculos de pérolas e folhas de acantos.

DESCRIÇÃO EXTRÍNSECA: A peça sacra é do século XIX, utilizada nas cerimônias da Semana Santa, principalmente na Quinta-Feira Santa na missa da Ceia do Senhor, bem como na celebração de Corpus Christi na Igreja Catedral de Nossa Senhora da Vitória (Figuras 41 e 42).

Nº do registro: MAS/19/002

Outros números: 84.0084

Título: Ostensório (Custódia) de ouro

Autor: NI (Não identificado)

Data da aquisição: 13/09/1984

Forma de aquisição: (x) Doação ( ) Compra ( ) Permuta ( ) Coleta ( ) Empréstimo

Localização: Caixa forte (MAS)

Procedência: Igreja Catedral de Nossa Senhora da Vitória

Material: Ouro e Pedras Preciosas

Técnica: NI (Não identificado)

Dimensões: 80 cm altura; 30 cm largura; 29 cm profundidade

Estado de conservação: (x) Bom ( ) Regular ( ) Ruim

Data do registro: 19/06/2019

País: Brasil

Registrado por: Pedro Dias de Freitas Júnior

87 MUSEU DE ARTE SACRA DE OEIRAS, PIAUÍ:
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Diagnóstico e exercício de documentação museológica
Fonte: Faulkner Sá (2019). Figura 42 - Custódia | Ostensório Fonte: Faulkner Sá (2019).

DESCRIÇÃO INTRÍNSECA: Ostensório trabalhado em alto relevo. Resplendor em forma de fata ladeado por doze cabeças de anjos alados; no alto treze pedras brancas sobre a pomba do Divino. No centro, círculo formado por trinta pedras brancas, e, por trás, pontilhada em cristal, por onde introduz a hóstia consagrada e dentro meio resplendor. Na base, trabalho em motivos florais e símbolo religioso, cobra alada, entrelaçada na cruz, trigos cruzados, espada atravessada num vácuo; possui ainda cachos de uvas e um santo com um anjo alado, segurando seu braço direito, e na mão uma espada, e sua mão esquerda passa sobre a cabeça de um rapaz que está sentado sobre seus pés, e por trás de sua perna esquerda um carneiro deitado. Na base falta um cacho de uva.

DESCRIÇÃO EXTRÍNSECA: O ostensório (Custódia) é uma peça sacra do século XVIII, fica na caixa forte do Museu de Arte Sacra; não é exposta por motivos de segurança. A peça sai uma vez por ano, durante a procissão de Corpus Christi, para a veneração dos fiéis (Figuras 43 e 44).

N° do registro: MAS/19/003

Outros números: 84.0012 | PI/09-0001-0040

Título: Crucifixo de madeira

Autor: NI (Não identificado)

Data da aquisição: 13/09/1984

Forma de aquisição: (x) Doação

( ) Compra ( ) Permuta ( ) Coleta ( ) Empréstimo

Localização: Sala Maria de Cota (Semana Santa)

Procedência: Igreja de Nossa Senhora do Rosário

Material: Madeira

Técnica: Escultura em madeira policromada

Dimensões: 88 cm altura; 30 cm largura; 26 cm profundidade

Estado de conservação: ( ) Bom (x) Regular ( ) Ruim

Data do registro: 19/06/2019

País: Brasil

Registrado por: Pedro Dias de Freitas Júnior

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MUSEU DE ARTE SACRA DE OEIRAS, PIAUÍ: Diagnóstico e exercício de documentação museológica
Figura 43 - Custódia | Ostensório com o número do registro Figura 44 - Crucifixo Fonte: Faulkner Sá (2019).

DESCRIÇÃO INTRÍNSECA: Peanha em forma de gruta, pintada de verde e marrom. No lado esquerdo, um lagarto. Na parte de trás, está inscrito em tinta vermelha “A.I.A. 13-3-67”. Cruz talhada em forma de tronco de árvore, pintada de verde, marrom e amarelo. No alto da placa branca com contorno em azul e inscrição “J.N.R.J.” da mesma cor. Cristo de cor clara, cabeça pendendo para a direita, olhos fechados, cabelos castanhos longos, ondulados, caído nas costas e sobre ombro direito. Barba castanha, curta, partida. Braços estendidos com mãos meio-fechadas e cravo nas palmas. Pernas levemente flexionadas, pés caídos – direito sobre esquerdo, caimento deixando à mostra parte do corpo. Apresenta manchas de sangue (tinta vermelha) em algumas partes do corpo. O Cristo está com os dois braços quebrados (junto ao tronco). Também recebeu uma camada de pintura sobre a original.

DESCRIÇÃO EXTRÍNSECA: Pertencia ao altar-mor da Igreja de Nossa Senhora do Rosário. Peça sacra do século XVIII. É usada na Sexta-Feira da Paixão, durante a cerimônia de adoração e beijo da Santa Cruz na Igreja Catedral, onde milhares de fiéis participam desse ritual (Figura 45 e 46).

Nº do registro: MAS/19/004

Outros números: 84.0018 | PI/09-0001-0044

Título: Resplendor | Pomba do Divino

Autor: NI (Não identificado)

Data da aquisição: 13/09/1984

Forma de aquisição: (x) Doação ( ) Compra ( ) Permuta ( ) Coleta ( ) Empréstimo

Localização: Sala Alzira Tapety (Divino)

Procedência: Igreja Catedral Nossa Senhora da Vitória

Material: Madeira Policromada

Técnica: Talha

Dimensões: 81 cm altura; 24 cm largura; 23 cm profundidade

Estado de conservação: ( ) Bom (x) Regular ( ) Ruim

Data do registro: 19/06/2019

País: Brasil

Registrado por: Pedro Dias de Freitas Júnior

89 MUSEU DE ARTE SACRA DE OEIRAS, PIAUÍ:
de documentação
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Diagnóstico e exercício
museológica
Figura 46 - Resplendor do Divino Espírito Santo Fonte: Faulkner Sá (2019).

DESCRIÇÃO INTRÍNSECA: No alto, cruz com base arredondada e extremidades em ponta. Resplendor dourado; no centro, pomba de asas abertas, branca com acabamento em dourado, bico, olhos e pernas vermelhos, apoiada sobre volutas esverdeadas. Haste iniciando com elevação trabalhada, abaixo gomo com incisões na vertical, mais estreito no alto, terminando outra elevação decorada com folhagens. Base redonda baixa, com incisões que terminam no início da haste. Apresenta grandes folhas na pintura. A base encontra-se danificada e faltam quatro raios do resplendor.

DESCRIÇÃO EXTRÍNSECA: Peça sacra do século XVIII. A peça sai ainda uma vez por ano do Museu; é utilizada para a missa solene da Celebração do Divino Espírito Santo, onde é entronizada no altar-mor da Igreja Catedral de Nossa Senhora da Vitória (Figura 47).

Nº do registro: MAS/19/005

Outros números: 84.0149 | PI/09-0001-0033

Título: Painel Nossa Senhora do Rosário

Autor: NI (Não identificado)

Data da aquisição: 13/09/1984

Forma de aquisição: (x) Doação ( ) Compra ( ) Permuta ( ) Coleta ( ) Empréstimo

Localização: Sala Dom Expedito Lopes (Bispos)

Procedência: Igreja de Nossa Senhora do Rosário

Material: Madeira

Técnica: Pintura sobre madeira

Dimensões: 1, 38 cm altura; 79 cm largura; 6 cm profundidade

Estado de conservação: (x ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim

Data do registro: 19/06/2019

País: Brasil

Registrado por: Pedro Dias de Freitas Júnior

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DE
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ARTE SACRA
OEIRAS, PIAUÍ: Diagnóstico e exercício de documentação museológica
Figura 47 - Resplendor do Divino Espírito Santo com o número do registro Figura 48 - Painel Nossa Senhora do Rosário Fonte: Faulkner Sá (2019).

DESCRIÇÃO INTRÍNSECA: Painel retangular, com a parte superior ovalada. No centro, a figura de Nossa Senhora do Rosário com o Menino Jesus. A figura apresenta vestimenta longa e de mangas compridas na cor branca. Com manto longo na cor azul escuro com a parte interna em vermelho. Cabeça ligeiramente para a direita, cabelo castanho caindo pelos ombros, véu na cor branca. Acima da cabeça auréola feita com estrelas brancas. Braços flexionados, na mão direita segura um terço de contas brancas; no braço esquerdo sustenta o Menino Jesus. Este sem vestimenta, pernas flexionadas e abertas. Na mão direita sustenta uma esfera. Cabeça ligeiramente voltada para a esquerda, cabelos castanhos e curtos, acima da cabeça um resplendor de cor branca. A figura está em pé sobre meia lua branca e nuvem estilizada na cor azul (Figuras 48 e 49).

DESCRIÇÃO EXTRÍNSECA: Painel do século XVIII, possivelmente de origem jesuítica, que pertenceu ao acervo da Igreja de Nossa Senhora do Rosário.

Figura 49 - Painel Nossa Senhora do Rosário com o número do registro

Fonte: Faulkner Sá (2019).

Nº do registro: MAS/19/006

Outros números: 84.0029 | PI/09-0001-0084

Título: Crucifixo de prata

Autor: NI (Não identificado)

Data da aquisição: 14/09/1984

Forma de aquisição: (x) Doação ( ) Compra ( ) Permuta ( ) Coleta ( ) Empréstimo

Localização: Sala Capela da Imagem Primitiva de Nossa Senhora da Vitória

Procedência: Igreja Catedral de Nossa Senhora da Vitória

Material: Prata

Técnica: Repuxado e cinzelado

Dimensões: 101 cm altura; 35 cm largura; 31 cm profundidade

Estado de conservação: (x) Bom ( ) Regular ( ) Ruim

Data do registro: 19/06/2019 | País: Portugal

Registrado por: Pedro Dias de Freitas Júnior

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MUSEU DE ARTE SACRA DE OEIRAS, PIAUÍ: Diagnóstico e exercício de documentação museológica
Figura 50 - Crucifixo de prata Fonte: Faulkner Sá (2019).

MUSEU DE ARTE SACRA DE OEIRAS, PIAUÍ: Diagnóstico e exercício de documentação museológica

DESCRIÇÃO INTRÍNSECA: Peanha arredondada com quatro pés trabalhados e parte superior mais estreita, decorada com motivos florais. Cruz com haste trabalhada com motivos florais até a altura dos pés do Cristo. Apresenta no alto e ponta dos braços acabamento trabalhado com motivos florais e um anjo alado de perfil em relevo. No alto, placa decorada nas bordas com inscrição “I.N.R.I” no centro em relevo. Resplendor dividido em quatro partes, decorado com volutas no centro, em relevo. Cristo com cabeça pendendo para a direita, olhos fechados. Cabelos longos, caídos nas costas e sobre o ombro direito. Barba curta em duas pontas. Braços estendidos com mãos meio fechadas e cravos nas palmas. Pernas levemente flexionadas, cruzada direita sobre esquerda. Pés caídos, direito sobre esquerdo, presos por cravo. Veste peristômio preso pela cintura com ponta caída no lado direito. Falta um raio do esplendor no lado direito e outro está quebrado (Figuras 50 e 51).

DESCRIÇÃO EXTRÍNSECA: É uma peça sacra do século XVIII e ainda é utilizada em algumas cerimônias na Igreja Catedral, para ornamentar o altar-mor. A saber nas celebrações: Semana Santa, Divino, Corpus Christi e da Padroeira, Nossa Senhora da Vitória.

MAS/19/007

Outros números: 84.0001 | PI/09-0001-0057

Título: Lanterna de prata

Autor: NI (Não Identificado)

Data da aquisição: 13/09/1984

Forma de aquisição: (x) Doação ( ) Compra ( ) Permuta ( ) Coleta ( ) Empréstimo

Localização: Sala Mariana (Procissões)

Procedência: Igreja Catedral de Nossa Senhora da Vitória

Material: Prata

Técnica: Batida

Dimensões: 1,90 cm altura; 26 cm largura; 25 cm profundidade

Estado de conservação: ( ) Bom (x) Regular ( ) Ruim

Data do registro: 19/06/2019

País: Portugal

Registrado por: Pedro Dias de Freitas Júnior

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Figura 51 - Crucifixo de prata com o número do registro Figura 52 - Lanterna de Prata Fonte: Faulkner Sá (2019).

DESCRIÇÃO INTRÍNSECA: Lanterna em forma triangular com parte superior em forma de pirâmide. No alto, pequena esfera. Há um anjo sobreposto num dos cantos que separam as duas partes. Um dos lados da parte inferior apresenta portinhola fechada por pequena alça com decoração igual aos outros lados, por onde é introduzida a vela. Decoração nas técnicas repuxado e cinzelado com motivos florais. Dentro da lanterna pequeno recipiente onde se encaixa a vela. Completando a peça, haste dividida em cinco partes, também em prata, sendo a primeira decorada em cinzelado, com motivos florais. São de tamanhos variados, entre 23 e 36 cm e possuem em seu interior varal de madeira (Figuras 52 e 53).

DESCRIÇÃO EXTRÍNSECA: As lanternas (em número de quatro) são ainda usadas nas Procissões do Bom Jesus dos Passos, Senhor Morto, Transladação do Santíssimo Sacramento e Procissão do Senhor Ressuscitado, durante a Semana Santa, bem como na Procissão do Divino e Corpus Christi. São usadas duas à frente e duas atrás do Pálio. São originárias de Portugal e datam do século XIX.

Figura 53 - Lanterna de Prata com o número de registro

MAS/19/008

Outros números: 84.0002 | PI/09-0001-58

Título: Vara de prata

Autor: NI (Não identificado)

Data da aquisição: 13/09/1984

Forma de aquisição: (x) Doação ( ) Compra ( ) Permuta ( ) Coleta ( ) Empréstimo

Localização: Sala Mariana (Procissões)

Procedência: Igreja Catedral de Nossa Senhora da Vitória

Material: Prata

Técnica: Prata fundida

Dimensões: 2,43 cm altura; 7 cm largura; 7 cm profundidade

Estado de conservação: ( ) Bom (x) Regular ( ) Ruim

Data do registro: 19/06/2019

País: Portugal

Registrado por: Pedro Dias de Freitas Júnior

Fonte: Faulkner Sá (2019).

Figura 54 - Vara de prata

Fonte: Faulkner Sá (2019).

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MUSEU DE ARTE SACRA DE OEIRAS, PIAUÍ: Diagnóstico e exercício de documentação museológica

DESCRIÇÃO INTRÍNSECA: Vara composta de oito partes cilíndricas ocas com acabamento nas duas extremidades. A parte superior apresenta ponta curva, uma argola é amarrada o pálio e logo abaixo inscrição de quem carregava a lanterna. A inferior tem a ponta roliça. Em cada parte, é possível se ver a marca da prata, um B coroado. No interior dos cilindros de prata, há uma vara de madeira (Figuras 54 e 55).

DESCRIÇÃO EXTRÍNSECA: As varas (em número de cinco) são usadas sustentando o Pálio Dossel, nas Procissões da Semana Santa, Procissão do Divino e Corpus Christi. Originárias de Portugal, datam possivelmente do século XIX

Fonte: Faulkner Sá (2019).

Nº do registro: MAS/19/009

Outros números: 84.0030 | | PI/09-0001-0070

Título: Castiçal de prata

Autor: NI (Não identificado)

Data da aquisição: 14/09/1984

Forma de aquisição: (x) Doação ( ) Compra ( ) Permuta ( ) Coleta ( ) Empréstimo

Localização: Sala Capela da Imagem Primitiva de Nossa Senhora da Vitória

Procedência: Igreja Catedral de Nossa Senhora da Vitória

Material: Prata

Técnica: Repuxada - Cinzelada

Dimensões: 71 cm altura; 23 cm largura; 20 cm profundidade

Estado de conservação: ( ) Bom (x) Regular ( ) Ruim

Data do registro: 19/06/2019 | País: Portugal

Registrado por: Pedro Dias de Freitas Júnior

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MUSEU DE ARTE SACRA DE OEIRAS, PIAUÍ: Diagnóstico e exercício de documentação museológica
Figura 55 - Vara de prata com o número do registro Figura 56 - Castiçal de prata Fonte: Faulkner Sá (2019).

DESCRIÇÃO INTRÍNSECA: Peanha com três pés trabalhados. Tem Três faces decoradas com motivos florais e medalhão liso em alto relevo, no centro de cada face. Acima do medalhão, uma flor. Parte superior da peanha mais estreita. Haste trabalhada com motivos florais e parte superior mais estreita. Copo castiçal arredondado, decorado com folhagens e pontos salpicados. Tem três cantos sobrepostos com ponta superior saliente. No alto, base para vela derretida, arredondada com centro elevado. Acima, base para vela, trabalhada com motivos geométricos.

DESCRIÇÃO EXTRÍNSECA: Os castiçais (em número de doze) formam um conjunto que acompanham o crucifixo de prata. Ainda são usados durante as cerimônias da Semana Santa, Divino, Corpus Christi e da Padroeira, para ornamentar o altar-mor da Igreja Catedral de Nossa Senhora da Vitória. Originária de Portugal e possivelmente do século XVIII (Figuras 56 e 57).

Nº do registro: MAS/19/010

Outros números: NP (Não possui)

Título: Imagem Primitiva de Nossa Senhora da Vitória

Autor: NI (Não identificado)

Data da aquisição: 14/08/2015

Forma de aquisição: (x) Doação ( ) Compra ( ) Permuta ( ) Coleta ( ) Empréstimo

Localização: Sala Capela da Imagem Primitiva de Nossa Senhora da Vitória

Procedência: Igreja Catedral de Nossa Senhora da Vitória

Material: Madeira

Técnica: Escultura em madeira policromada

Dimensões: 66,5 cm altura; 30 cm largura; 26 cm profundidade

Estado de conservação: (x) Bom ( ) Regular ( ) Ruim

Data do registro: 19/06/2019 | País: Brasil

Registrado por: Pedro Dias de Freitas Júnior

95 MUSEU DE
DE OEIRAS, PIAUÍ:
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ARTE SACRA
Diagnóstico e exercício de documentação museológica
Fonte: Faulkner Sá (2019). Figura 58 - Imagem Primitiva de Nossa Senhora da Vitória Fonte: Faulkner Sá (2019).

MUSEU DE ARTE SACRA DE OEIRAS, PIAUÍ: Diagnóstico e exercício de documentação museológica

DESCRIÇÃO INTRÍNSECA: Imagem esculpida em bloco único de madeira, policromada. A estrutura básica da composição é simétrica. Está disposta em torno do eixo estrutural vertical, enfatizando a simetria natural do corpo da figura humana. Esta simetria mantém figura ereta, em posição rigorosamente frontal, com peso distribuído igualmente sobre as pernas. Os pontos de interesse estão distribuídos de maneira a reforçar a simetria axial e bilateral da composição, pois se localizam na cabeça, na mão direita segurando o cetro, na mão esquerda, incluindo o Menino, e nas cabeças dos querubins que se encontram na peanha. Verifica-se na parte frontal da imagem na disposição do manto, uma assimetria o mesmo acontecendo na parte superior, visto que os cabelos caem em linhas diagonais, buscando correspondência na posição dos ombros que estão em posição diagonal. Esta assimetria vem quebrar, um pouco, a rigidez causada pela simetria, denotando um leve movimento reforçado pelas linhas sinuosas produzidas pelo caimento do manto na parte frontal. Outro tipo de simetria é notado, ainda, na parte posterior da imagem, desta vez em torno de eixos horizontais. Intuindo linhas horizontais atravessando a imagem ao nível do caimento dos cabelos, à base do manto e ao nível inferior da peanha, configura-se acima dessas linhas a forma de “U”, que se repetem, introduzindo através de semelhanças sequências rítmicas. As atitudes da Virgem e do Menino criam dois eixos opostos levemente inclinados. Sua inclinação para o seu lado esquerdo e do Menino Jesus em direção à direita ligam as duas figuras numa relação maternal. Esta conexão é realçada ainda mais pelo estreito contato da mão e braço da Virgem segurando filho. É observada no pequeno volume da cabeça, nas mãos grandes, na figura do Menino que é muito pequena, e nas cabeças grandes dos três querubins localizados na peanha que não possuem uma coerência de relacionamentos proporcionais. A fisionomia do rosto exprime um estilo duro e preciso, denotando uma quase ausência de movimento, notando-se a desproporcionalidade do conjunto das partes que compõem o rosto. Apresenta uma composição vultosa e desproporcional. Seu manto azul-escuro no exterior e vermelho na parte interna, é decorado com motivos florais estilizados, o que confere o costume adotado na pintura de imagens populares desse período. Observa-se um contorno dourado dando acabamento às bordas de suas vestes. O amarelo se faz presente nas nuvens da peanha em forma de volutas onde está assentada a imagem. A carnação das figuras de Nossa Senhora, do Menino e dos querubins de cor rosa claro. A imagem de Nossa Senhora da Vitória encontra-se classificada dentro da fase de Virgem Mãe, pois carrega consigo atributos que a identificam por esta iconografia. Representada carregando no braço esquerdo o Menino Jesus, segura com a mão direita um cetro de prata, símbolo da vitória. De sua cabeça, sobre a qual assenta uma coroa de prata, saem duas madeixas que descem onduladas até abaixo dos ombros. Apresenta-se assentada uma peanha que lhe serve de sustentação, na qual se encontram figuras de três anjos que representam a transcendência da fé na exaltação dos habitantes do Paraíso. “Trata-se de uma peça mista, por ficar entre o erudito e o popular” (MOURA REIS, 2008, p. 50). (Figura 58).

DESCRIÇÃO EXTRÍNSECA: Chegou a Oeiras trazida pelos padres Miguel e Tomé de Carvalho, vindos de Olinda-PE, que erigiram a Freguesia de Nossa Senhora da Vitória do Brejo da Mocha em 2 de março de 1697. Durante cinquenta anos morou na residência do oeirense, Leopoldo Portela, que foi pároco da catedral antes de deixar a batina e contrair matrimônio. Em 14 de agosto de 2015, depois de uma campanha para a devolução da imagem, a família do “ex-sacerdote” devolveu a imagem a Oeiras, dentro das comemorações dos setenta anos da Diocese da cidade. É possivelmente uma imagem baiana, datada do século XVII, considerada a primeira imagem sacra que chegou em solo piauiense (Figura 59).

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MUSEU DE ARTE SACRA DE OEIRAS, PIAUÍ: Diagnóstico e exercício de documentação museológica
Figura 59 - Imagem Primitiva de Nossa Senhora da Vitória com o número do registro Fonte: Faulkner Sá (2019).
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ARTE SACRA DE OEIRAS, PIAUÍ: Diagnóstico e exercício de documentação museológica

Com base no estudo realizado para compor esta Dissertação, e diante das urgências e necessidades dos museus, torna-se fundamental que se faça uma reorganização da instituição, no intuito de garantir os recursos necessários à sua manutenção, dando enfoque ao movimento da nova Museologia que teve sua primeira expressão pública e internacional em 1972, na “Mesa-Redonda de Santiago do Chile”, organizada pelo ICOM. Este movimento afirma a função social do Museu e o carácter global de suas intervenções.

As muitas discussões no campo da Museologia vêm abrindo espaço para um debate nas instituições, principalmente nos museus tradicionais, que, permeados de vícios e incoerências, são chamados a abrirem-se ao novo, na elaboração de seus diagnósticos, na construção de uma política e registro do acervo, bem como na elaboração de planos museológicos, nos quais a comunidade seja partícipe do processo. Grande parte dessas casas museais fechou-se em suas coleções de longa duração, e geralmente não promovem atividades educativas nem culturais que dinamizem o Museu. Muito menos são pontos de atração da comunidade, pois não veem nenhuma relação de suas vidas e cotidiano com a presença física e cultural do Museu.

Acontece assim uma acomodação da instituição, formada por uma equipe de funcionários que, desestimulados pela falta de recursos que garantam a manutenção, fica à mercê de investimentos escassos ou quase nenhum, e da boa vontade dos parceiros que garantem o básico, mas não suprem as necessidades. Planejar a criação de novos museus sem garantir a sobrevivência dos que já existem é um erro cada vez mais comum em nossas cidades. Uma verdadeira proliferação de memoriais e salas para enaltecerem uma elite que precisa de holofotes e de aplausos.

Os museus tradicionais pedem socorro, principalmente aqueles fincados em cidades pequenas que têm toda uma história para contar. Possuem grande potencial, mas estão esquecidos, não têm receitas próprias. Os funcionários são emprestados de outros órgãos e sequer passaram por uma qualificação para trabalhar em um Museu. Os gestores são indicações políticas e não desenvolvem nenhum tipo de plano de ação que contribua para o desenvolvimento do Museu.

O diagnóstico e o plano museológico são ferramentas de gestão necessárias para a organização interna da instituição, definindo prioridades, vendo as reais necessidades internas, na realização de projetos que visem desenvolver compe-

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7 CONCLUSÃO

tências. São ferramentas estratégicas para uma gestão organizada, dando significado a missão, vocação e visão do museu.

O Museu de Arte Sacra de Oeiras, como pudemos constatar, precisa sanar problemas que perpassam desde as questões administrativas, ante a ausência de documentos básicos para a própria existência jurídico-administrativa da instituição, às questões mais técnicas de conservação do acervo. Além da necessidade de ter, em seu quadro técnico, profissionais especializados e equipe qualificada.

A delimitação da missão museológica e da política de acervo se fazem essenciais para a gestão e gerenciamento do equipamento público, quanto este se vê cumprindo seu principal papel de retorno social do acervo ao público. A salvaguarda do acervo, em uma edificação que também necessita ser preservada, é um duplo trabalho para a Equipe institucional, estendidas as devidas responsabilidades à própria comunidade.

Entendemos que o MAS de Oeiras, para tornar-se uma instituição museológica de fato, precisará adequar-se a um conjunto de instrumentos legais e técnicos, e sobretudo traçar metas a partir do diagnóstico e exercício de documentação museológica, realizado através deste trabalho, como conclusão de Mestrado, por meio do Programa de Pós-Graduação em Artes, Patrimônio e Museologia da UFPI, e a médio prazo, na construção do plano museológico participativo.

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Figura 60 - Banner da Campanha Publicitária 35 anos MAS Fonte: Arte Marcos Almeida, 2018.

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